Classe/Assunto: Procedimento Ordinário - Dano Moral - Último Nível / Direito Civil Autor: ELIANE DE VASCONCELLOS SANTOS DA COSTA Réu: HUMBERTO CAIRO



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Transcrição:

Fls. Processo: 0025140-77.2009.8.19.0208 (2009.208.029750-4) Classe/Assunto: Procedimento Ordinário - Dano Moral - Último Nível / Direito Civil Autor: ELIANE DE VASCONCELLOS SANTOS DA COSTA Réu: HUMBERTO CAIRO Nesta data, faço os autos conclusos ao MM. Dr. Juiz Andre Fernandes Arruda Em 30/09/2015 Sentença Cuida-se de ação de responsabilidade civil por danos morais decorrentes de ato ilícito praticado pelo réu. Afirma a autora que durante campanha eleitoral em que disputou o cargo de presidente da 55ª Subseção da OAB-Méier para o triênio 2007/2009, passou a ser vítima de diversas agressões verbais e constrangimentos causados pelo réu e adversário no pleito em questão. Em um desses episódios, afirma que, no dia 17/11/2006, o réu, panfletando sua candidatura nos corredores da galeria do prédio onde funcionava a sede da OAB-Méier, e também onde se localiza o escritório de advocacia da autora, passou a proferir, com dedo apontado e diante de lojistas, empregados, passantes, advogados, estagiários e demais pessoas, as seguintes palavras: "Essa é a mulher que prendeu a minha amiga que é advogada! Foi essa mulher que fez a minha amiga passar vexame, se mancomunando com Juiz para prender advogada! Vejam bem a cara dela, essa vigarista não pode continuar na OAB! Vou botar ela pra fora, na terça feira esse ninho vai acabar..."; "...essa senhora usa o dinheiro da OAB..." (sic) Assevera que o réu prosseguiu com as agressões dizendo que a campanha da autora estava sendo financiada pelo PDT e que o partido político havia lhe dado R$ 50.000,00 para gastar. Continuou dizendo o seguinte: "Presta bem atenção, sua vigarista, se você ganhar essa eleição não vai levar, juro que você não toma posse, entendeu?" (sic). Por entender que o episódio narrado constitui ato ilícito, e sentindo-se violada em sua honra, ante as injúrias perpetradas pelo réu, pretende seja ele condenado a lhe pagar indenização pelos danos morais experimentados. Gratuidade de justiça deferida na fl. 59; Contestação do réu apresentada tempestivamente e juntada nas fls. 67/79, onde afirma que os fatos narrados pela autora na inicial já foram objeto de apuração na esfera criminal, a qual, após finalizada a instrução processual, acabou por absolvê-lo das imputações por ausência de crime. Assevera que na referida ação criminal ficou registrado na sentença não existir na conduta narrada, imputada ao réu, a vontade de atingir a honra da autora e que os fatos ocorreram durante

acirrado processo eleitoral, e durante o calor de debates na disputa política, inexistindo a configuração do dolo necessário a comprovação do crime. Por isso, não há como prosperar a pretensão de recebimento de indenização por injúria se já houve reconhecimento judicial da inexistência de crime na conduta imputada, asseverando que os fatos narrados aqui são exatamente os que foram objeto da queixa-crime ajuizada pela autora contra o réu. Insiste na tese que não restou comprovada a intenção do réu de achacar contra a honra da autora, não havendo, portanto, ato ilícito a indenizar. Lembra que a jurisprudência já se encontra consolidada no sentido de que o mero aborrecimento não gera danos morais, sendo esse apenas mais um argumento contrário à pretensão da autora. Chama atenção para o tempo decorrido desde o dia em que os fatos ocorreram e o dia da propositura da ação, mais uma prova de que não há o ventilado abalo emocional, caso contrário, a autora não teria esperado quase três anos para ajuizar a presente ação. Por todo o exposto, pugna pela improcedência da pretensão autoral. Réplica juntada nas fls. 145/148 em que a autora basicamente reitera seus argumentos e o pedido de condenação do réu. Em provas na fl. 150; Audiência de conciliação do art. 331 do CPC na fl. 155, sem acordo; Saneador na fl. 156; Audiência de Instrução e Julgamento na fl. 186; Segunda Audiência de Instrução e Julgamento na fl. 249 e termos de depoimentos de testemunhas juntados nas fls. 250/261 e 264/265; Memoriais da autora juntado nas fls. 266/271; Memoriais do réu juntado nas fls. 272/286; É O RELATÓRIO. DECIDO. Cuida-se de ação de indenização por danos morais em razão de ofensas e ameaças dirigidas à Autora durante a companha eleitoral para Presidente da Subseção Méier da Ordem dos Advogados do Brasil. Inicialmente, após a leitura por diversas vezes do conteúdo dos autos, não posso deixar de registrar que redijo a presente sentença com profunda consternação, pois ambos os advogados que figuram como partes na lide são pessoas conhecidas e que exercem o seu múnus com eficiência e dedicação. Feita essa consideração passo ao cerne da quaestio. Antes de adentrar ao mérito, há necessidade de se tecer alguns comentários sobre a absolvição do réu no processo criminal.

É de curial sabença que as esferas cível e criminal são independentes e só em algumas hipóteses a sentença criminal faz coisa julgada para o processo civil. No caso dos autos o Réu foi absolvido com base no artigo 386, III, do Código de Processo Penal, sob o fundamento de não constituir o fato infração penal, pois as ofensas foram proferidas no calor do debate político. Nessa hipótese a sentença criminal não constitui qualquer óbice ao prosseguimento e julgamento do fato na seara civil, conforme estabelece o artigo 67, III, do Código de Processo Penal. Portanto, a absolvição do réu no processo criminal não repercute de qualquer forma no julgamento do presente feito. No mérito propriamente dito, analisando-se todas as provas coligidas, entendo que o réu efetivamente dirigiu à Autora impropérios e a acusou de aldravices com a pecúnia da Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil, tudo presenciado por uma verdadeira claque formada por frequentadores do condomínio e pelos próprios condôminos. A ação do Réu foi confirmada por diversas testemunhas que declararam textualmente: "... que se recorda claramente de que o réu disse que a Autora pegava dinheiro da OAB..." (fl. 250); "... que o réu dizia que a Autora era uma ladra, roubava dinheiro da OAB e mandava prender advogados" (fls. 251); "... que viu o réu dizendo em alto e bom som que a autora estava roubando a OAB e que era para marcar a cara dela" (fl. 256). As testemunhas do Réu, em sua maioria, não presenciaram aquele momento e apenas a testemunha de fls. 260/261 informa que estava na galeria, mas nada ouviu, apenas viu o réu ser conduzido por um policial militar chamado pela Autora, o que em nenhum momento infirma o depoimento firma e preciso das demais testemunhas. Dessa forma tenho como existentes os xingamentos realizados pelo Réu em desfavor da Autora, o que foi até reconhecido na sentença criminal juntada aos autos, que usou como justificativa para a absolvição o frenesi da disputa política para o cargo de Presidente de subseção da OAB. Apesar de todo o acatamento que merece a brilhante sentença proferida pela insigne magistrada criminal, entendo que a solução dos fatos na esfera cível deve ser diversa. A disputa política por votos para qualquer cargo eletivo, seja ele público ou privado, não pode servir de manto inexpugnável para legitimar condutas contrárias ao direito ou que ferem direito subjetivo alheio. A atitude atrabiliária do réu atingiu diretamente a honra e o bom nome da Autora em seu ambiente de trabalho, nas proximidades de seu escritório de advocacia. Os pressupostos da obrigação de indenizar, como se sabe, são o dano (o prejuízo), o ato ilícito (podendo a lei exigir ou não a culpa do agente) e o nexo de causalidade. O Código Civil protege aquele que sofre ato ilícito, alcançando o dano e a violação de direitos, fazendo com que o autor do ato ilícito tenha o dever de responder pelos danos que causou. Determina o art.186, do referido diploma legal, que: "Aquele que, por

ação ou omissão, voluntária, negligência ou imprudência, violar o direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". Por sua vez, o art.927, do CC, determina que "Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo". Tendo a autora comprovado o fato, o dano e o nexo causal e, por outro lado, não tendo o réu produzido qualquer prova capaz de diluir a sua responsabilidade, emerge a obrigação de indenizar. Assim, caracterizada a responsabilidade civil do réu, impõe-se apreciar a pretensão indenizatória da Autora. É indene de dúvida que a conduta do réu foi suficiente a atingir direito de personalidade da Autora, que teve a sua honra subjetiva e objetiva abalada em razão do ato ilícito perpetrado pelo réu. indenizado. quantificação. Sendo assim, entendo caracterizado o dano moral a ser Reconhecida a existência do dano moral passemos à sua Com relação à matéria, vale transcrever alguns arestos de casos assemelhados em que a indenização foi fixada em limites bastante razoáveis, verbis: "AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. OFENSAS PERPETRADAS PELO RÉU. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. COMPROVAÇÃO ATRAVÉS DE PROVA TESTEMUNHAL. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. - O depoimento testemunhal de fl. 109 é taxativa no sentido Fe que o autor foi vítima de ofensa verbal perpetrada pelo réu quando as partes litigantes aguardavam a homologação de acordo celebrado perante a Justiça do Trabalho. Destacou a testemunha que o réu foi advertido pelo magistrado que presidia a audiência naquela ocasião. Fato confirmado pelo próprio réu quando da apresentação de seu recurso de apelação, tendo o demandado, naquela oportunidade, negado ter xingado o demandante.- Restou maculada a honra do autor, sua imagem, na medida em que o xingamento proferido pelo réu se deu em tom elevado, capaz de ser ouvido por várias pessoas que ocupavam a sala de audiências naquele momento, inclusive, o magistrado, que o advertiu verbalmente, conforme depoimento testemunhal de fl. 109.- Danos morais configurados e arbitrados na quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais), com base nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.provimento DO RECURSO" (DES. CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA - Julgamento: 28/02/2012 - NONA CAMARA CIVEL - 0015731-52.2009.8.19.0087 - APELACAO). Nesse desiderato, tomando por base a razoabilidade, a proporcionalidade e as ponderações acima expostas, fixo o valor dos danos morais em R$ 8.000,00. Com relação ao mencionado panfleto com informações aleivosas sobre a Autora, entendo que tal documento não foi juntado aos autos e não há qualquer elemento que indicie a participação do réu em sua elaboração ou distribuição, o que impede a sua responsabilização por esse fato. As demais condutas imputadas ao réu acerca de impedimento para entrada na OAB e outras ameaças à Autora não foram devidamente comprovadas, pautando a presente condenação apenas no fato acima no fato acima delineado. Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO

PARA CONDENAR O RÉU a pagar à Autora a quantia de R$ 8.000,00 (oito mil reais), como compensação pecuniária pelos danos morais sofridos, com correção monetária feita com base nos índices oficiais da Corregedoria-Geral da Justiça, a contar da publicação da presente até o pagamento efetivo. Os juros legais moratórios contarão da data do evento (Súmula 54 do E. STJ), no valor de 1% ao mês. Condeno o Réu, outrossim, no pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) do valor total da condenação. P.R.I. Rio de Janeiro, 30/09/2015. Andre Fernandes Arruda - Juiz Titular Autos recebidos do MM. Dr. Juiz Andre Fernandes Arruda Em / / Código de Autenticação: 457E.FRWH.CIA3.G777 Este código pode ser verificado em: http://www4.tjrj.jus.br/certidaocnj/validacao.do Øþ