III-215 - APLICAÇÃO DO SOFTWARE SIMGERE PARA AVALIAÇÃO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES DO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS/SP



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Transcrição:

III-215 - APLICAÇÃO DO SOFTWARE SIMGERE PARA AVALIAÇÃO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES DO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS/SP Luciana Miyoko Massukado (1) Engenheira Civil pela Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Engenharia Urbana pela Universidade Federal de São Carlos. Especialista em Educação Ambiental pelo Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA/USP). Doutoranda em Ciências da Engenharia Ambiental no Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada EESC/USP. Viviana Maria Zanta (2) Engenheira Civil pela Universidade Federal de São Carlos. Doutora em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Docente do Departamento de Engenharia Ambiental, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Docente do Programa de Pós Graduação em Engenharia Urbana Ambiental/UFBa. Endereço (1) : Rua Sete de setembro, 2053 - Centro São Carlos - SP - CEP: 13560-180 Brasil - Tel: +55 (16) 3376-1535 - e-mail: lumiyoko@sc.usp.br RESUMO A gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos domiciliares (RSD) apresenta-se como um dos grandes desafios a serem enfrentados não só pelas administrações municipais como também por toda a comunidade geradora de resíduos. Atualmente, a maioria dos municípios brasileiros, trata a gestão dos resíduos sólidos domiciliares segundo modelo reducionista de Descartes e Newton que se caracteriza pela separação e análise de partes do sistema. O resultado desta forma de gestão é notado pelas tomadas de decisão isoladas e pontuais. Aspectos, como a carência de capacitação técnica e de recursos financeiros, contribuem para a permanência deste cenário. Ciente desta problemática o presente trabalho teve como objetivo aplicar o software SIMGERE Simulação para Gestão de Resíduos - para avaliar a situação atual e futura da gestão dos resíduos sólidos domiciliares de São Carlos/SP. O SIMGERE permite que os gestores testem diferentes opções de gestão, como por exemplo, a introdução da coleta seletiva, e então verifiquem o efeito desta decisão na vida útil do aterro sanitário. No entanto é imprescindível salientar que o processo de simulação fornece os resultados das estratégias adotadas, mas é o gestor quem irá analisar os resultados provenientes destas estratégias e selecionar aquela que considere mais adequado para a realidade do município. A aplicação do SIMGERE para São Carlos/SP foi realizada tendo em vista que a equipe responsável pela gestão destes resíduos não dispunha de nenhuma ferramenta que avaliasse os efeitos ambientais decorrente de diferentes estratégias adotadas. Os resultados da simulação mostraram que a vida útil para o aterro sanitário municipal de São Carlos será de aproximadamente mais dois anos, o qual foi coerente com o valor esperado pelo gestor. Entretanto, a simulação econômica precisa ser revisada para melhor refletir o modelo atual de gestão dos resíduos sólidos domiciliares desta cidade. PALAVRAS-CHAVE: Gestão de resíduos sólidos, resíduos domiciliares, simulação, SIMGERE. INTRODUÇÃO Até recentemente acreditava-se que os impactos provenientes das atividades humanas tinham repercussão somente no âmbito local, e em alguns casos no regional. Entretanto, hoje, caminha-se para a visão de que a ação antrópica pode ser tão extensa e complexa que é capaz de gerar uma série de eventos não planejados e, portanto, difíceis de serem administrados. Dentre estes acontecimentos destaca-se a geração crescente de resíduos sólidos impulsionado principalmente pelas necessidades de consumo de uma sociedade que não pára de crescer. Uma vez gerado, o manejo e destinação do resíduo sólido demanda por soluções adequadas de forma a alterar o mínimo possível o meio ambiente. Neste contexto, a busca pela solução adequada para gerenciar os resíduos sólidos deve ocorrer em todos os municípios. No entanto, não se pode ignorar as diferenças fundamentais de capacidade econômica, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

disponibilidade de qualificação técnica e características ambientais existentes entre as grandes cidades e os municípios de pequeno e médio porte (FERREIRA, 2000). No Brasil, 68,5% dos resíduos sólidos gerados em municípios com até 20 mil habitantes são depositados em locais inadequados. Esta situação torna-se relevante, pois esta parcela de municípios corresponde a 73% da população brasileira total (JUCA, 2003). E, de uma forma geral, estes municípios vêm se deparando com problemas que envolvem aspectos sociais, econômicos, sanitários, ambientais e de saúde pública decorrentes da gestão inadequada dos seus resíduos sólidos domiciliares. Gestão esta caracterizada pela: Ausência ou deficiência de planejamento, que a partir de um diagnóstico da situação estabeleça princípios, metas e prioridades; Baixa qualificação do corpo técnico para realizar o planejamento das etapas de gestão de modo a atender satisfatoriamente as necessidades urbanas; Inexistência de histórico e de banco de dados que forneça subsídios para as tomadas de decisão; Insuficiência de recursos financeiros para cobertura dos investimentos e custeio das atividades do sistema de limpeza urbana. Acrescenta-se ainda a este quadro a diminuição, em alguns municípios, de locais adequados para a disposição final dos resíduos sólidos e que tem como causas, o aumento do custo de implantação, a rejeição dos moradores quanto ao local, e imposições ambientais mais restritas relativas à localização e operação dos aterros. Salienta-se que apesar do aterro sanitário ser a forma de disposição mais recomendada, do ponto de vista do confinamento dos resíduos, utilizar apenas o aterro sanitário significa estar tornando inacessíveis diversos materiais necessários para diferentes atividades econômicas e que no longo prazo, podem se tornar escassos (MILANEZ, 2002). No Brasil, a competência pela gestão dos resíduos sólidos domiciliares cabe as Prefeituras Municipais, as quais defrontam-se, freqüentemente, com o dilema - a decisão de como, onde e quando aplicar os seus recursos. Acrescenta-se a este dilema o fato de que o processo de tomada de decisão está envolto de incertezas, relacionadas, por exemplo, com a situação econômica futura do país, a descontinuidade da lei de oferta e demanda para os recicláveis e a indefinição de políticas públicas para o setor. Para facilitar as tomadas de decisão estão surgindo vários estudos de modelagem e programação no âmbito da gestão dos resíduos sólidos, que são importantes para otimizar a análise de diferentes alternativas de gestão, uma vez que diminui o tempo despedido com os cálculos. Dentre estes programas escolheu-se o software SIMGERE simulação da gestão de resíduos para avaliar a situação atual e futura da gestão dos resíduos sólidos domiciliares de São Carlos/SP. O SOFTWARE O SIMGERE é um software que foi desenvolvido para auxiliar as administrações públicas municipais na gestão de seus resíduos sólidos domiciliares utilizando para tanto a simulação de cenários (MASSUKADO, 2004). O software foi desenvolvido para engenheiros, técnicos e administradores que sejam responsáveis pela gestão de resíduos sólidos de municípios de pequeno e médio porte. Professores, alunos e pesquisadores podem utilizar o software como forma de aprendizagem ou então como objeto para desenvolver novos estudos. No programa o usuário deve entrar com alguns dados como produção de resíduos, existência ou não de coleta seletiva, custo para coleta e transporte dos resíduos, custo para disposição, entre outros. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

Os resultados fornecidos pelo programa são: projeção do crescimento da população, projeção da produção de resíduos, projeção anual do volume ocupado no aterro sanitário, estimativa da vida útil do aterro sanitário, estimativas dos custos operacionais e da receita obtida com a venda dos resíduos recicláveis. No programa está disponível também a composição gravimétrica de aproximadamente 40 municípios brasileiros, que se encontram distribuídos por região e estado. Portanto, o município que não dispuser dos dados referentes à composição dos seus resíduos domiciliares pode utilizar como base o valor da composição de outra localidade que possua características, por exemplo, número de habitantes semelhante ao seu (MASSUKADO, 2004). A Tabela 1 mostra as combinações que podem ser analisadas pelo SIMGERE. Tabela 1: Combinações possíveis MÓDULO CENÁRIO ATUAL NOVA ALTERNATIVA CENÁRIO FUTURO (SUB MÓDULO) 1 CC + AS - não - CTB - CTB + UC - CS + CTB - CS + CTB + UC a) CC + AS b) CC + CTB + AS c) CC + CTB + UC + AS d) CC + CS + CTB + AS e) CC + CS + CTB + UC + AS Legenda: CC coleta convencional, AS aterro sanitário, CTB central de triagem e beneficiamento, UC usina de compostagem, CS coleta seletiva. O cenário atual corresponde à forma como os resíduos sólidos domiciliares são manejados no município. Já o cenário futuro corresponde ao cenário para o qual se deseja evoluir mediante a introdução ou não de uma nova alternativa de gestão. O módulo 1 cujo cenário atual é CC+AS (coleta convencional + aterro sanitário) corresponde a situação em que todo o resíduo sólido domiciliar é recolhido pela coleta convencional (misturada) e encaminhado para o aterro sanitário. As novas alternativas referem-se a introdução ou não de um novo componente à gestão dos resíduos sólidos domiciliares. Caso for escolhido a opção não, significa dizer que todo o resíduo continuará sendo recolhido misturado e encaminhado para o aterro. Outras alternativas são: CTB (Central de Triagem e Beneficiamento): Neste caso há um desvio na rota do caminhão coletor, que ao invés de encaminhar o resíduo coletado para o aterro, leva-o para a central de triagem e beneficiamento. Nesta situação, ocorre o desvio de parte dos resíduos secos. CTB+UC (Central de Triagem e Beneficiamento + Usina de compostagem): Neste caso a central de triagem e beneficiamento coexiste com a usina de compostagem, provocando um desvio na rota do caminhão coletor, que ao invés de encaminhar o resíduo coletado para o aterro, leva-o para a central de triagem e beneficiamento, e posteriormente a fração orgânica para a usina de compostagem. CS+CTB (Coleta seletiva + Central de Triagem e Beneficiamento): Neste caso, a coleta seletiva é introduzida com o objetivo de melhorar o desempenho da central de triagem e beneficiamento. A coleta convencional continua e os resíduos são encaminhados para o aterro. Os resíduos provenientes da coleta seletiva são levados para a central de triagem e beneficiamento. CS+CTB+UC (Coleta seletiva + Central de Triagem e Beneficiamento + Usina de compostagem): Neste caso, a coleta seletiva é introduzida com o objetivo de melhorar o desempenho da central de triagem e beneficiamento. A coleta convencional continua e os resíduos são encaminhados para a usina de compostagem. Os rejeitos são encaminhados para o aterro sanitário. Existe uma outra possibilidade de simulação que o usuário pode testar indiretamente. Esta possibilidade corresponde à situação em que o cenário atual do município seja CC+CS+CTB+AS (coleta convencional + coleta seletiva + central de triagem e beneficiamento + aterro sanitário) que corresponde à situação em que os resíduos da coleta seletiva são encaminhados para a central de triagem e beneficiamento e os recolhidos pela coleta convencional vão para o aterro sanitário. Este cenário poderá ser testado selecionando o módulo 1 (CC+AS) e acrescentando como alternativa a opção CS+CTB. Mas para que se torne correspondente ao ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

cenário atual é necessário introduzir a alternativa imediatamente, ou seja, digitar o valor zero no campo em que é requerido inserir a informação sobre após quantos anos será introduzida a nova alternativa. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia utilizada para aplicar o SIMGERE consistiu primeiramente na coleta de dados referentes à gestão dos resíduos sólidos domiciliares no município de São Carlos/SP. Para tanto, houve a colaboração da Prefeitura Municipal por meio da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia Os dados necessários para alimentar o software estão divididos em três blocos, o primeiro correspondente aos dados gerais (ano atual, geração de resíduo, composição gravimétrica dos resíduos, volume do aterro, índice de compactação e volume de cobertura). O segundo bloco do SIMGERE refere-se aos dados de simulação (para quanto tempo será realizada a simulação, taxa de crescimento da população, variação da geração per capita, porcentagem de resíduos desviada pela coleta seletiva, quando houver). E, por último, os dados necessários para realizar a simulação econômica (custo da coleta e transporte de resíduos, custo de disposição, custo de operação da coleta seletiva e preço médio de comercialização dos resíduos recicláveis). Mediante a posse destes dados partiu-se para a entrada dos dados coletados no programa. Por fim, realizou-se a análise do resultado, obtido pela simulação, juntamente com o grupo gestor da Secretaria a fim de verificar a coerência dos valores obtidos. Esta aplicação teve dois objetivos principais, primeiro o de verificar se as funções do sistema estavam de acordo com o planejado e se todos os elementos do sistema combinavam-se adequadamente. Desta forma seria possível verificar a coerência dos resultados obtidos pela simulação com a situação real. O segundo objetivo foi de analisar a usabilidade deste software. APLICAÇÃO DO SIMGERE A aplicação do software SIMGERE foi realizada pelo responsável pela gestão dos resíduos sólidos de São Carlos em outubro de 2004. São Carlos está situada na parte centro-oriental do estado de São Paulo. A Figura 1 mostra a localização de São Carlos no Estado de São Paulo. Figura 1: Localização de São Carlos ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

De acordo com os dados fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia da Prefeitura Municipal de São Carlos, a gestão dos resíduos sólidos urbanos domiciliares na cidade de São Carlos compete à Prefeitura Municipal que terceirizou parte dos serviços a Vega Engenharia Ambiental S/A, que hoje é responsável pela coleta convencional, transporte, tratamento e destinação final dos RSD. Os resíduos coletados são destinados diretamente ao Aterro Sanitário, o qual necessitará de ampliação em curto espaço de tempo. A produção de RSD em São Carlos está em torno de 4100 t/mês, ou seja, cerca de 137 t/dia. Deste total, aproximadamente 100 t/mês são recolhidos pela coleta seletiva e o restante, 4000 t/mês pela coleta convencional. Para uma população de 200.000 habitantes a produção per capita de resíduos fica em torno de 0,700 kg/hab.dia. O serviço de coleta convencional beneficia 100% da área urbanizada. A freqüência desta coleta varia de acordo com a região e a produção de resíduos, podendo ser diária e de até três vezes por semana. O município está dividido em quinze setores de coleta. Já os RSD recolhidos pela coleta seletiva são encaminhados para três centrais de triagem e beneficiamento onde os resíduos são separados por tipos, prensados, armazenados para depois serem comercializados. A coleta seletiva teve início em junho de 2002, com o projeto piloto no bairro Vila Nery numa iniciativa conjunta da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia com o Fórum Comunitário do Lixo. Desde então a coleta seletiva vem se expandindo e hoje 50 bairros são atendidos. A realização da coleta seletiva é feita por três cooperativas (Ecoativa, Cooletiva e Coopervida), sendo que uma delas é constituída exclusivamente por mulheres. A forma de disposição final dos resíduos sólidos domiciliares em São Carlos é o aterro sanitário, que está localizado na Fazenda Guaporé, zona rural do município, e está distante da sede municipal cerca de 12 km. O aterro está localizado sobre o aqüífero Botucatu Pirambóia e pertence à bacia hidrográfica do Tietê Médio Inferior Tietê Jacaré. O acesso é feito através da Rodovia Washington Luis. A estrutura do aterro ocupa uma área de 180 mil m2, sendo 95 m2 destinados para as edificações existentes e o restante da área (179.905 m2) está direcionado para a disposição final de resíduos domiciliares e para os acessos e circulação. RESULTADOS DO SIMGERE O gestor poderá realizar quantas simulações desejar e analisar o resultado (impacto) de cada uma delas provoca com relação a vida útil do aterro sanitário. Para cada simulação o programa emite três relatórios. O relatório é dividido em quatro partes: Parte I: referente aos dados gerais, ou seja, à caracterização do município e dados sobre a gestão integrada dos resíduos sólidos domiciliares (Figura 2); Parte II: referente aos critérios de simulação do cenário (Figura 3); Parte III e IV: referente às planilhas de cálculo, uma com relação à vida útil do aterro sanitário e a outra referente à simulação econômica simplificada (Figura 4 e 5). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

Figura 2: Relatório dos dados gerais do município e da gestão dos resíduos sólidos domiciliares ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6

Figura 3: Relatório referente aos critérios de simulação do cenário Figura 4: Planilha de cálculo da vida útil do aterro sanitário ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7

Figura 4: Planilha de cálculo da simulação econômica simplificada RESULTADO QUANTO À USABILIDADE Com relação à usabilidade do SIMGERE notou-se uma pequena dificuldade do usuário em se adaptar ao software. Parte desta dificuldade pode ser atribuída à falta do Manual do Usuário, que no momento da aplicação não estava disponível. O esquema de abas utilizado para o preenchimento das telas não se mostrou muito eficiente, pois ambos os usuários apresentavam a tendência de clicar nos botões e não nas abas propriamente dita. O botão informativo, caracterizado pelo ponto de interrogação, era pouco acessado. Mesmo o usuário tendo dúvidas com relação a alguma etapa do preenchimento ele não clicava neste botão. Com relação ao tempo de de processamento dos cálculos não houve reclamação. De forma geral, o programa foi considerado uma ferramenta útil e interessante pelos gestores. RESULTADO QUANTO À COERÊNCIA Quanto aos resultados obtidos pela simulação, dois merecem destaques: a previsão da vida útil do aterro sanitário e a simulação econômica simplificada do modelo operacional empregado. Com relação ao resultado da vida útil do aterro sanitário, chegou-se ao valor de 1 ano e 8 meses, que é compatível ao estimado pelos gestores que seria de 1 anos e 6 meses. Quanto à simulação econômica, houve uma ressalva, pois na contabilização dos custos/benefícios a parcela referente à venda dos resíduos recicláveis foi contabilizada no balanço como receita para a Prefeitura, situação esta que na realidade não ocorre uma vez que a receita obtida é dividida entre os funcionários da cooperativa. Portanto, o resultado da vida útil do aterro sanitário gerado pela simulação dos cenários foi coerente com a situação atual, porém o mesmo não pode ser afirmado para a simulação econômica, indicando que o software deve ser adaptado para casos específicos como o de São Carlos. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Durante a simulação da gestão dos resíduos sólidos domiciliares de São Carlos conclui-se que a partir da mudança dos critérios de simulação diversos cenários podem ser testados, armazenados e comparados entre si de forma satisfatória. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8

Verificou-se que há carência por instrumentos que apóiem a tomada de decisão não somente para situações a longo prazo mas, principalmente, a curto prazo. Esta carência foi verificada pela tendência de se atribuir prazos pequenos para a simulação (2 e 6 anos). A utilização do software pelo gestor obteve ótimo desempenho, pois durante o acompanhamento do processo de simulação, observou-se que conforme novas telas surgiam para serem preenchidas o gestor se questionava sobre qual valor colocar e porquê. Neste momento, verificou-se que o sistema desenvolvido poderia sim atuar como ferramenta de apoio à decisões estratégicas. Por exemplo, para preencher o campo sobre a variação ou não da produção per capita dos RS, o gestor se perguntou: quero que a produção per capita do município decresça. (pausa) Mas para isso vou ter muito trabalho, pois terei que atuar diretamente com os geradores num processo de conscientização. Num segundo momento, outra possibilidade foi levantada, quando o gestor afirmou (...) pode ser também que ocorra um aumento da variação da produção per capita devido aos padrões de consumo cada vez mais altos... então... neste caso irei variar a produção per capita aumentando 0,5% a.a.. Ressalta-se que para o melhor aproveitamento do potencial de simulação do SIMGERE é fundamental que o usuário utilize sua experiência profissional para a seleção das informações relevantes na proposição de cenários a serem estudados e interpretação das respostas obtidas. Deste modo o SIMGERE pode ser uma ferramenta bastante útil e eficaz para subsidiar as tomadas de decisão quanto à gestão dos RSD do município. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. FERREIRA, J.A. Resíduos Sólidos: Perspectivas Atuais. In: SISINNO, C.L.S.; OLIVEIRA, R.M. Resíduos sólidos, ambiente e saúde: uma visão multidisciplinar. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2000. p. 19-40. 2. JUCA, J.F.T. Disposição final dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. Anais... In: 5º Congresso Brasileiro de Geotécnica Ambiental. Porto Alegre, RS. 2003. 3. MASSUKADO, L.M. Sistema de Apoio à Decisão: Avaliando cenários de gestão integrada de resíduos sólidos urbanos domiciliares. 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) - Programa de Pós- Graduação em Engenharia Urbana, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP. 4. MILANEZ, B. Resíduos Sólidos e Sustentabilidade: princípios, indicadores e instrumentos de ação. 2002. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP. 5. PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CARLOS. Contato pessoal. 2004. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9