ANÁLISE SETORIAL DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA SOB A ÓTICA DO MODELO ESTRUTURA- CONDUTA-DESEMPENHO (ECD) Clezia de Souza Santos (UFS) clezia.souza@gmail.com Este trabalho tem como objetivo estudar o setor automobilístico a partir do paradigma Estrutura-Conduta-Desempenho (ECD), verificando a relação existente entre concentração, eficiência e desempenho do setor. A análise veio confirmar a eficiiência do paradigma ECD demonstrando que a estrutura de mercado afeta a conduta e determina o desempenho dos mercados. Concluiu-se que indústria automobilística e altamente concentrada, tendo uma estrutura oligopolista, dispondo de uma conduta marcada pela inovação, pela marca e pela diferenciação de seu produto, proporcionando desempenhos altamente satisfatórios para a indústria. Palavras-chaves: Indústria automobilística; Estrutura de mercado; Oligopólio
1. Introdução A Economia Industrial busca estudar as relações entre empresas, mercados, instituições e processos. A criação de grandes empresas fabris modernas no final do século XIX e inicio do século XX criou um cenário propício para o surgimento da Organização Industrial, de onde surgiram vários estudos sobre indústrias específicas. Dentre estes estudos, surgiu o paradigma Estrutura-Conduta-Desempenho (ECD), que teve origem na obra de Joe Bain como ferramenta básica de análise que argumenta que o desempenho é resultado da conduta das firmas, que por sua vez é determinada pelas características da estrutura de mercado. Segundo Bain, a explicação da performance das empresas é explicada com prioridade pela estrutura do mercado a qual pertence, expressa na tríade concentração-barreiras à entrada-lucratividade. (POSSAS, 1990) O paradigma ECD postula que a forma da estrutura de mercado (grau de concentração, barreiras de entrada, grau de diferenciação dos produtos, nível de integração vertical, dentre outros) afeta a conduta (estratégias de preços, marketing, níveis de investimento, variedade dos produtos, P&D, dentre outros) e determina o desempenho (lucratividade das firmas, eficiência alocativa, níveis de bem-estar econômico, etc) dos mercados. Assim, este trabalho tem como objetivo verificar a relação existente entre concentração, eficiência e desempenho da indústria automobilística brasileira, valendo-se do paradigma ECD pertencente a Teoria da Economia Industrial, que busca entender como se dá o funcionamento dos mercados. 2. Uma abordagem a cerca do setor automobilístico no Brasil 2.1 A importância do setor automobilístico na economia brasileira A indústria automobilista é de grande importância para a economia brasileira, obtendo um faturamento da ordem de US$ 86,5 bilhões em 2008. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores Anfavea, em 2009, esse complexo industrial possuía capacidade para produzir 4 milhões de veículos e 105 mil máquinas agrícolas por ano nas 49 fábricas localizadas em oito estados brasileiros. Ao longo do tempo, com o aumento da produção e do mercado interno, o País tornouse o sexto maior produtor de autoveículos do mundo e o quinto maior mercado consumidor. A importância do setor automobilístico para a economia brasileira pode ser comprovada pela participação no PIB, que, em 2008, representou 5,5%. Em relação ao PIB industrial, essa indústria representou 23,3%. De acordo com estatísticas da Anfavea (2009), o setor empregou, direta e indiretamente, 1,5 milhão de pessoas em 2008. No que tange ao comércio exterior, em 2008 as exportações totalizaram 24 bilhões de dólares, apresentando um superávit de 2,4 bilhões. 2.2 Produtos do mercado automobilístico Segundo a Anfavea (2009), o setor automobilístico compreende os automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. 2
A produção das montadoras pode ser classificada em dois grupos: os autoveículos e máquinas agrícolas automotrizes. Os autoveículos são, por sua vez, subdivididos em automóvel (automóvel de passageiro e de uso misto), comercial leve (camioneta de uso misto, de carga e utilitário); e comercial pesado (caminhão e ônibus). 2.3 Cadeia produtiva da indústria automobilística O setor automobilístico é a cadeia produtiva que mais gera renda, emprego e investimentos industriais. Nele estão os fornecedores de matéria-prima (setores químico, eletrônico e siderúrgico), as empresas de comunicação, de transportes, as concessionárias, os agentes de financiamentos, as oficinas, etc. Além disso, possui impacto em diversos outros setores, como na produção de máquinas, equipamentos e insumos, e nos serviços de distribuição, comercialização e manutenção. Dentre as empresas que compõem esta cadeia, destacam-se a indústria de autopeças, as montadoras e as concessionárias. Em 2009, operavam, no Brasil, 25 fabricantes de veículos e máquinas agrícolas, 500 fabricantes de autopeças e 4.269 concessionárias (Anfavea, 2009). Atualmente, no setor automobilístico, a relação entre montadoras e fornecedoras guarda uma tendência ao modelo japonês. Neste modelo muitos fornecedores passam a vender subconjuntos completos aos seus clientes, e não mais itens independentes, isto implica em redução do número de fornecedores diretos das montadoras. O mercado de autopeças apresenta significante expansão, conforme mostram os dados do gráfico 01. Segundo o Sindipeças (2010), em 2008 o setor obteve um faturamento de R$ 75.171 milhões, registrando um crescimento de aproximadamente 38,5% em relação a 2004. Fonte: Sindipeças (2010). Elaboração própria Gráfico 01 Faturamento do Setor de Autopeças Segundo Dias (1999), existem três categorias de empresas de autopeças no Brasil: as empresas multinacionais ou nacionais grandes (com alto padrão tecnológico e poder de concorrência em qualquer mercado); as empresas que tentam concorrer com os itens importados (e que, para isto, estão se capacitando); e as pequenas e médias empresas (que concorrem via preços). As empresas que se enquadram nas duas últimas categorias são as que 3
mais encontram dificuldades no mercado como fornecedor direto das montadoras, em virtude da abertura das importações, ocasionando a entrada de novos fornecedores internacionais e, ainda, a pressão por elevados níveis de qualidade e redução nos custos. Ainda assim, verifica-se que, na distribuição por destino da produção de autopeças, demonstrada através do gráfico 02, prevalece a produção com destino as montadoras, os quais respondem por cerca de 66% da demanda total pelos produtos. Fonte: Sindipeças (2010). Elaboração própria Gráfico 02 Distribuição da Produção por Destino na Indústria de Autopeças Outro elo da cadeia produtiva da indústria automobilística de extrema importância são as concessionárias de veículos. São elas que estão em contato com os clientes, tendo condições de avaliar as necessidades dos consumidores. Assim, no relacionamento entre montadoras, concessionárias e clientes, as informações se dão basicamente a dados relativos a encomendas de veículos, distribuição, percepção das necessidades dos clientes, serviços de venda e pósvenda, etc. Para tanto as montadoras utilizam estratégias de integração com as concessionárias utilizando sistemas de informação e comunicação. 2.4 O impacto ambiental A partir do momento em que se percebeu a necessidade de conciliar a atividade econômica com a preservação do meio ambiente, surgiu o chamado desenvolvimento sustentável. Surgido a partir de estudos iniciados na I Conferência Internacional do Meio Ambiente realizada em Estocolmo no ano de 1972 e que resultou no relatório Brundtland na década de 80, no qual desenvolvimento sustentável é concebido como aquele que permite satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. No que tante ao setor automobilístico, coube o despertar da conscientização sobre as questões ambientais associadas a ele, como o consumo de combustível, a poluição do ar, ruído, destino das sucatas, carcaças de veículos que não podem ser mais úteis, peças usadas e resíduos diversos. Questões que necessitavam de soluções urgentes, e que, a partir de diversos debates na sociedade sobre o tema, inclusive com leis cada vez mais rigorosas, geraram consumidores cada vez mais exigentes, forçando as montadoras, fornecedores, fábricas de autopeças a inovarem tecnologicamente para atingir desempenhos ambientais cada vez melhores (ALMEIDA, 2002). 4
Assim, nasceu o Sistema de Gestão Ambiental (SGA), que se trata de uma estrutura organizacional que permite à empresa avaliar e controlar os impactos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços. Possui diretrizes adaptadas para a implementação de uma política ambiental numa determinada empresa especificando competências, comportamentos, procedimentos e exigências a fim de avaliar e controlar os impactos ambientais de suas atividades. Desta forma o SGA pode ser considerado uma estratégia inovadora de promoção do desenvolvimento sustentável, que sincroniza o crescimento econômico com o crescimento do bem estar social e com o uso correto do meio ambiente tornando-se possível melhorar a qualidade de vida das pessoas e a conquista de modos de produção mais sustentáveis no setor automotivo (ALMEIDA, 2002). A gestão ambiental na indústria automotiva passou por transformações, em função de uma maior penetração das informações nos diversos segmentos da sociedade, de legislações mais severa, de incentivos governamentais para preservação do meio ambiente e da criação de políticas para o desenvolvimento sustentável no setor automobilístico brasileiro. A partir da implantação dos Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) criaram-se as auditorias ambientais para avaliar a preservação ambiental e o crescimento sustentável, e que começaram a ser divulgados no balanço social das empresas, tornando-se o veiculo de comunicação da corporação transparente (ALMEIDA, 2002). O ajustamento das montadoras para atender a normas e procedimentos ambientais vigentes que promovam a produção limpa tem conduzido ao desenvolvimento de tecnologias que reduzam o impacto ambiental gerado pela emissão de poluentes. E esse é um aspecto cada vez mais importante. 3 Estrutura de Mercado da Indústria Automobilística Brasileira Uma análise de estrutura de mercado de uma indústria consiste em avaliar como esta indústria esta posicionada no mercado, determinando suas características organizacionais. Essa analise é a base fundamental do modelo proposto por Michael Porter (2004). Segundo ele, a estrutura industrial tem forte influência na determinação das regras competitivas. Neste sentido, para analisar a estrutura do setor automobilístico brasileiro utilizou-se medidas de mensuração para avaliar o grau de concentração das empresas que compõem o setor e ainda o ambiente competitivo em que convivem. 3.1 Grau de Concentração (CR4) do Mercado A concentração de mercado é análise importante para se conhecer a estrutura de mercado de uma determinada indústria. A mensuração do grau de concentração industrial é geralmente realizada por meio de dois tipos de indicadores: taxas de concentração e índices sumários. As medidas de concentração permitem indicar a concorrência existente em determinado mercado, nos mostrando que, quanto maior o valor da concentração, menor o grau de concorrência entre as empresas e mais concentrado está o poder de mercado da indústria. O índice mais utilizado pela literatura é o CR k, em que a concentração é medida pelo somatório das parcelas de mercado das k-ésimas maiores firmas. Nesse estudo será analisado o CR 4 (grau de concentração das 4 maiores empresas), sendo que a fórmula empregada para seu cálculo é: 5
4 (CR 4 ) = S i (1) i=1 Onde S i é parcela de mercado da i-enésima firma. Quanto maior o valor do índice, maior o poder de mercado potencial das quatro maiores empresas. Já o índice sumário mais utilizado é o índice de Hirschman-Herfindahl (HHI), calculado pela soma dos quadrados das parcelas de mercado de cada empresa. Assim, a fórmula empregada é expressa da seguinte forma: N HHI = S i 2 i=1 (2) Onde S i é a parcela decimal de mercado de cada uma das firmas do mercado estudado; e N é o número total de empresas. O índice HHI varia de zero a 1. No caso de monopólio, a parcela de mercado da única firma é igual a 1 e, portanto, o HHI também é igual a 1. À medida que mais firmas dividem o mercado, menor tende a ser o HHI. No caso de N firmas iguais, o HHI é dado por 1/N, aproximando-se de zero à medida que o número de firmas aumenta. Apesar do número de montadoras no Brasil ser considerável, quando se analisa a estrutura do mercado de autoveículos percebe-se que há grande concentração de mercado em poucas empresas. O valor do CR4 nas vendas de automóveis e comerciais leves no mercado interno brasileiro, por exemplo, foi, em 2008, de 81,88% e 83,45% respectivamente. Já o índice de Hirschman-Herfindahl Index (HHI) atingiu valores de 0,1985 para automóveis e 0,1966 para comerciais leves. Apesar de o número ser próximo a 0, isso não significa que há desconcentração. Essa informação, junto ao CR4, só vem a confirmar que o Brasil tem um grande número de montadoras, porém o mercado é concentrado em 4 empresas. Essa concentração ocorre nas empresas Volkswagen, Ford, Fiat e General Motors (GM), conforme mostra a tabela 01. Automóveis Comerciais leves Marcas Vendas Participação Vendas Participação relativa (%) relativa (%) Fiat 542.079 27,6 100.254 29,81 Volks 487.705 27,6 24,9 58.717 17,46 GM 414.908 21,1 66.812 19,87 Ford 161.665 8,2 54.812 16,30 Honda 108.208 5,5 - - Peugeot 105.804 5,4 3.610 1,07 Renault 93.170 4,7 4.155 1,24 Toyota 48.359 2,5 8 0,00 Mercedes 5 2,5 - - - Mitsubichi 5 - - 33.627 10,00 Hyundai - - 9.868 2,93 Nissan - - 2.353 0,70 Iveco - - 1.972 0,59 Agrale - - 72 0,02 6
Total 1.961.903 Fonte: Anuário ANFAVEA 1.961.903 (2009). 100 100 336.260 100,00 Tabela 01 Vendas de Automóveis e Comerciais Leves no Mercado Nacional por Empresa (2008) No gráfico 3 encontra-se a evolução do CR4 e HHI nas vendas de automóveis no Brasil. Nela, constatamos que há uma elevada razão de concentração no segmento automobilístico brasileiro, caracterizando um setor oligopolizado, mas que vai diminuindo na medida em que novas empresas entram no setor, e que, gradativamente, vão aumentando sua quantidade de produção e, conseqüentemente, sua parcela de vendas no mercado. Fonte: Dados da ANFAVEA. Elaboração própria. Gráfico 3: Evolução do CR4 e HHI. Vendas de automóveis no Brasil Podemos dizer que, além de ser muito concentrado, há neste setor fortes barreiras à entrada de novos competidores, por se tratar de uma indústria que demanda altos investimentos de capital inicial, depende de alta tecnologia, inovações e ganhos de escala. Assim, necessitam de altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e publicidade para se manterem competitivos. Silva (2008) destaca: Nota-se ainda, que a disputa por esse mercado nacional encontra-se calcada no crescimento da demanda, a qual é conquistada não somente pelo preço, mas também a diferenciação e inovação do produto. As principais barreiras à entrada nesse mercado referem-se à escala técnica, em função do volume mínimo necessário para que um novo concorrente tenha preços competitivos, diferenciação do produto, características técnicas criadas principalmente pelo mercado automotivo. Em consonância com o pensamento de Silva (2008), a literatura atualizada afirma que o setor automobilístico caracteriza-se como um oligopólio concentrado e diferenciado, uma 7
vez que é representado por poucos grupos empresariais, com alto volume de capital, e uma elevada gama de produtos diferenciados. 3.2 O ambiente competitivo A análise estrutural nos fornece uma base para a compreensão das forças competitivas operando em uma indústria e que são decisivas para o desenvolvimento da estratégia competitiva. Toda empresa está inserida num ambiente composto por um conjunto de forças competitivas que determinam o seu nível de retomo ou rentabilidade, sendo que a intensidade dessas forças varia de negócio para negócio (Porter, 2004). Entrantes Potenciais Fornecedores Concorrentes na Indústria Rivalidade entre empresas existentes Compradores Substitutos Fonte: Porter, 2004. Quadro 01 Forças que determinam a competição em uma indústria O modelo proposto por Porter (2004) consegue quantificar a potencialidade da indústria quanto à lucratividade e permite identificar oportunidades e ameaças no setor. De acordo com ele, as principais forças competitivas de um negócio são: entrantes potenciais; poder dos fornecedores; poder dos compradores; substitutos; e concorrentes (Quadro 01). Assim, a relação de cada força competitiva com o setor automobilístico ocorre da seguinte forma: 3.2.1 Entrantes Potenciais A ameaça de entrada em uma indústria depende das barreiras de entrada existentes, em conjunto com a reação que o novo concorrente pode esperar da parte dos concorrentes já existentes. Se as barreiras são altas, o recém-chegado pode esperar retaliação acirrada dos concorrentes na defensiva; a ameaça de entrada é pequena. (Porter, 2004) 8
Aplicando o modelo de Porter (2004) ao setor automobilístico brasileiro pode-se afirmar que este segmento possui baixa ameaça de entrada. Nesse sentido, as principais barreiras à entrada são de escala técnica, diferenciação do produto e altas necessidades de capital. 3.2.2 Poder dos Fornecedores A literatura contemporânea versa que fornecedores podem ter poder de barganha aumentando preços ou diminuindo a qualidade de bens auferidos pela indústria. Assim, fornecedores poderosos podem afetar a rentabilidade de uma indústria, impossibilitando a mesma de tornar-se competitiva, posto que a mesma perde a capacidade de recuperar os preços anteriormente praticados, em virtude de aumentos de custo. 3.2.3 Poder dos Compradores Observa-se que os compradores também apresentam forte poder de barganha, posto que podem forçar tanto quedas de preços quanto exigir melhor qualidade dos produtos ofertados. Estas estratégias provocam guerras de preço e qualidade entre os concorrentes. 3.2.4 Substitutos de Produtos De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2010), bem substituto é aquele que pode ser adquirido/consumido em substituição a outrem. Nesse sentido, é difícil entrar no mercado automobilístico, um produto com capacidade para substituir o automóvel, nas mesmas condições. Observa-se que, hoje, os meios de transporte alternativo comportam apenas duas pessoas, a exemplo das motos e bicicletas; visando o mesmo fim, existem ainda os transportes coletivos, tais como o ônibus, avião, trem e metrô. 3.2.5 Concorrentes A concorrência pode ser definida como o grau de competitividade existente entre empresas que ofertam produtos similares, competindo entre si no mercado. Diante disso, a rivalidade entre os concorrentes caracteriza-se pelas estratégias para alcançarem determinada posição competitiva, utilizando-se de meios como concorrência de preço, produtos inovadores e campanhas publicitárias, visando atrair os consumidores. 4. Estratégias Competitivas Após uma análise sobre os fatos (forças) que afetam sua indústria, o estrategista pode identificar os pontos fortes e fracos. A conduta da empresa frente a cada força competitiva determina suas forças, fragilidades, suas deficiências e fatores de solidez. 4.1 Estratégias ou padrão de crescimento Na visão neoschumpteriana o elemento propulsor da competitividade é a inovação. A inovação é a característica típica e a grande faceta das empresas oligopolistas do setor automobilístico para o enfrentamento da concorrência, posto que para este grupo não há 9
concorrência por meio de ajustes de preços, o que se configura uma situação de não concorrência via preços entre as empresas do grupo. Nesse ponto, o Brasil vem se destacando quanto à inovação. Diferencia-se do restante do mundo, posto que em seu grande passo tecnológico, faz uso de combustíveis alternativos ao petróleo, a exemplo do álcool. A partir de 2003, dentre as inovações da indústria automotiva, tem-se a inserção no mercado de motores flexíveis, conhecidos como bicombustíveis ou flex fuel (Casotti e Goldenstein, 2008). Esses motores funcionam tanto a álcool como a gasolina, de acordo com a opção do proprietário do veículo. As inovações estimularam novos estudos e pesquisas que referendam a ação das montadoras, visando a descoberta e instauração de alternativas tecnológicas que possibilitem a diferenciação de seus produtos para garantir competitividade de mercado. Como estratégia, pode-se observar ainda a expressiva participação dos bancos financiando montadoras e os clientes que almejam adquirirem seus veículos. Eles tornaram-se responsáveis pela gama dos empréstimos concedidos, buscando sempre agilizar as operações e reduzir os custos de crédito. Acrescenta-se, também, a participação das montadoras em companhias de seguros automotivos, possibilitando a concessão de bônus e demais atrativos para o consumidor no ato da venda. 4.2 Estratégias de venda Marca do produto e serviços pós-venda A marca, por distinguir o produto ou a empresa, torna-se um dos mais importantes patrimônios. À medida que retrata o diferencial do produto gera competitividade de mercado frente à concorrencia, posto que o consumidor associa a imagem a qualidade do produto. Esta realidade torna a marca importante instrumento de publicidade. Quando o produto publicizado apresenta características que referenda a marca, ganha confiabilidade no mercado que gera lucros constantes por meio de exploração direta ou indireta. Assim como no mercado global, para o setor automobilístico a marca é um laivo indelével utilizada pela estratégia de venda que garante lucros exorbitantes. Ainda, fazendo parte da estratégia de comercialização, os serviços pós-venda conquistam os consumidores na medida em que os deixam tranqüilos pela garantia de revisão e manutenção dos produtos ofertados por um determinado período de tempo. 5. Indicadores de Desempenho do Setor Automobilístico Os indicadores de desempenho são índices de crucial importância para a mensuração do desempenho físico e financeiro de determinado setor. No setor automobilístico, estes indicadores expressam a significante participação do segmento na economia nacional. Nesse sentido, os lucros apresentados pelo segmento foram significativos e resultaram de um faturamento equivalente a US$ 86,5 bilhões, em 2008. Já a participação no mercado representou 23,3 % do PIB industrial, mostrando a amplitude dessa industria. Para o alcance dos resultados auferidos na indústria referenciada fez-se necessário um investimento de cerca de US$ 43,3 bilhões durante o período compreendido entre os anos de 1994 a 2008. 10
Todos os dados apresentados em relação desempenho da indústria automobilística reforçam a teoria existente a cerca da estrutura oligopolista. Esta versa que a lucratividade de uma indústria é positivamente correlacionada com o grau de concentração; a fonte do lucro em estruturas de mercado concentradas reside no processo de inovação; e que, se uma indústria apresenta lucro permanente, é porque existe alguma restrição a mobilidade do capital. 11
6. Conclusões A indústria automobilística, conforme foi comprovado neste estudo representa papel fundamental no desenvolvimento econômico do país. O montante de recursos que este setor movimenta é extraordinário, pois é o setor que possui a maior cadeia produtiva, composta por fornecedores, montadoras, concessionárias, agentes de financiamento, oficinas, etc., impactando na geração de emprego e renda. Até a década de 90, a indústria automobilística nacional permanecia praticamente estagnada, sendo dominada por quatro grandes montadoras. A partir daí, com a abertura do mercado nacional, esse número aumentou consideravelmente, pressionada pela entrada dos concorrentes estrangeiros. E cada uma delas vem aumentando gradativamente sua participação no mercado. Esse movimento fez com que ocorresse uma redução do grau de concentração do mercado, entretanto, apesar de atualmente existir um grande número de montadoras no país, ainda há elevada concentração somente em quatro grandes empresas. Este trabalho teve como objetivo estudar o setor automobilístico a partir do paradigma Estrutura-Conduta-Desempenho (ECD), verificando a relação existente entre concentração, eficiência e desempenho do setor. Percebe-se que a análise da indústria automobilística brasileira realizada vem corroborar com o paradigma ECD. Este afirma que a forma da estrutura de mercado afeta a conduta e determina o desempenho dos mercados. Assim, o desempenho satisfatório expresso nos dados e resultados do setor em evidência, é fruto da estrutura oligopolista na qual está inserido e de uma conduta marcada pela inovação, pela marca e pela diferenciação de seu produto. 12
Referências Bibliográficas ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,2002. ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Anuário da Indústria Automobilística Brasileira. São Paulo, 2009. CASOTTI, Bruna Pretti; GOLDENSTEIN, Marcelo. Panorama do Setor Automotivo: As mudanças estruturais da indústria e as perspectivas para o Brasil. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 28, p. 147-188, set. 2008. DIAS, Ana Valéria C.; GALINA, Simone V.; SILVA, Flavio D Angelo. Análise Contemporânea da Cadeia Produtiva do Setor Automobilístico: Aspectos relativos à Capacitação Tecnológica. Encontro Nacional de Engenharia de Produção - ENEGEP 1999 PINDYCK, Robert S; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. São Paulo: Prentice Hall, 2010. PORTER, Michael E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2004. POSSAS, Mário Luiz. Estruturas de Mercado em Oligopólio. São Paulo: Editora Hucitec, 1990. SILVA, Wesley Vieira da, et al. Análise do grau de concentração da indústria automobilística brasileira e sua relação com a participação no mercado. Revista de Negócios, Blumenau, v13, n. 1, p. 93 107, Janeiro/março 2008. SINDIPEÇAS - Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores. Desempenho do Setor de Autopeças. São Paulo, 2010. 13