Introdução Geral Nosso verdadeiro estudo é o da condição humana. Rousseau

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Transcrição:

Introdução Geral Nosso verdadeiro estudo é o da condição humana. Rousseau A temática desta dissertação surgiu com o objetivo de delinear as possibilidades de um diálogo transdisciplinar, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, tendo a Cultura Religiosa como pano de fundo desse diálogo. A tarefa da Cultura Religiosa será então a de unir a vivência dos valores evangélicos aos conhecimentos teóricos indispensáveis e próprios de uma universidade. Toda orientação acadêmica para o ensino em uma universidade deve acontecer por meio de projetos pedagógicos. Cada projeto, em si, tem por detrás uma postura adotada. Ele pode permanecer no nível da informação, no nível do aprendizado, no nível do treinamento e no nível da mera reprodução. Ou, o que nessa dissertação muito nos interessa, numa postura mais abrangente, pode contribuir para a formação do ser humano. Um ser humano histórico, crítico, criativo, capaz de criticar a ordem vigente e imaginar o novo. A Cultura Religiosa deverá mediar projetos que atendam à última postura em nome de sua missão específica: aplicar as reflexões do saber teológico, atenta aos sinais dos tempos, no meio acadêmico. No seio dessa missão específica seu magistério deve ser ao mesmo tempo profissional e ministerial. A transdisciplinaridade oferece à Universidade a ocasião e os meios para que a aprendizagem seja mais construtiva, capaz de atingir o ser humano, objetiva e subjetivamente, ou melhor, trans-subjetivamente. Será capaz de dar possibilidades aos nossos alunos de tornarem-se responsáveis e parceiros de uma verdadeira mudança nas relações pessoais, sociais, econômicas e políticas de nossa estrutura presente. A transdisciplinaridade será o tema do nosso primeiro capítulo nesta dissertação. Abordaremos nesse capítulo a contribuição do teórico Américo Sommerman sobre a evolução do saber na história da humanidade. Num primeiro item analisaremos o saber multidimensional que se torna visível pelo paradigma da epistemologia tradicional. Nele o saber se dava de forma relacional levando o ser humano à contemplação de suas descobertas. O cientista era ao mesmo tempo o matemático, o físico, o filósofo, o teólogo, etc. O saber era uma mística de vida. Num segundo item, abordaremos o saber denominado bidimensional que é marcado pela entrada da razão e que introduz a

12 dicotomia entre razão e fé. Os fenômenos físicos já não eram mais entendidos como divinos. A física passa a ser a mais completa de todas as ciências. A modernidade passa a ser conhecida com o modelo mecanicista no conhecimento do universo. O dualismo cartesiano espírito/matéria passou a abordar os problemas humanos de forma racional, o que implicou, e muito, na evangelização universitária. Um terceiro item abordará o saber unidimensional marcado pelo paradigma da epistemologia empirista, conhecimento que marcou o século XVIII e XIX. Por fim, no quarto item, entraremos numa nova etapa de um conhecimento transdisciplinar marcada pela urgência da nova física e pela visão holística de mundo. A nova forma relacional de entender o mundo e os seres humanos nos leva ao ponto crucial de nossa dissertação. Terá a ciência teológica condições de se abrir a esse novo conhecimento e, sem abrir mão de sua verdade, dialogar com as demais ciências no meio acadêmico? Essa reflexão terá em vista uma melhor evangelização do jovem universitário que chega a nós com valores culturais, ideológicos, espirituais influenciados pelos saberes oriundos de uma modernidade ainda marcada pelo saber unidimensional: racional empirista. Diante dos desafios deixados pela modernidade e sentindo a necessidade de enfrentá-los, abrimos margem para um segundo capítulo partindo daquilo que é próprio à nossa função nessa Universidade. Fazer teologia a partir de nossa experiência pedagógica nessa Universidade Católica significa, colocar em prática as reflexões teológicas mais atuais de modo a dialogar com as outras ciências, no exercício da transdisciplinaridade. Utilizaremos para isso a contribuição do teólogo belga, Adolfo Gesché 1 que aborda a especificidade da teologia num mundo marcado por uma pósmodernidade que esconde a fé. Adolfo Gesché afirma que o discurso teológico sobre o ser humano, na fé, é um discurso específico que tem o direito de ser ouvido. Cabe à teologia resgatar esse discurso que as outras ciências do ser humano não tornam 1 Adolphe Gesché: nasceu em Bruxelas, na Bélgica em 1928, padre da diocese de Malines e Bruxelas, doutor em teologia, licenciado em Filosofia e Letras, professor na Faculdade de teologia da Universidade Católica de Lovaina. É um interessado especialmente com o diálogo no nãocrentes. Membro da comissão Religião e Teologia no Fundo Nacional da Pesquisa Científica na Bélgica, da Associação Européia da Teologia Católica, em Tubingen e da Comissão Teológica Internacional, em Roma na Itália.

13 compreensível. Uma teologia antropológica, que fala do ser-humano-que-falade-deus-na-fé. A teologia como conhecimento toma seu embalo a partir daquilo que lhe é dada aqui na terra, (...) o homem falando de Deus. (...) é um discurso sobre Deus no qual o ser humano é constitutivo e inseparavelmente compreendido numa relação. (...). 2 Nesse segundo capítulo, abordaremos a importância de a ciência teológica se abrir à complexidade de pensamentos num diálogo transdisciplinar. A linguagem teológica deverá ser capaz de dizer algo a mais aos nossos universitários. Interpelada pelas indagações científicas atuais, a ciência teológica deve dizer algo específico sobre a Criação, sobre Deus e sobre o ser humano. Deverá apresentar respostas às indagações que afligem nossos jovens: qual a origem da vida? Quem é Deus? O que é Ser Humano? Escolhemos algumas questões teológicas que julgamos mais relevantes para esse capítulo. A primeira questão para nós importante em nossa missão na CRE é a teologia da Revelação. Por quê? Porque nossos jovens universitários questionam a revelação de Deus em Jesus Cristo. Sentem dificuldade em aceitar a revelação de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. Procuramos então aprofundar esse tema sob a ótica transdisciplinar para abordar linguagens mais eficazes para tal desafio. A segunda questão também desafiante em nossa missão é a da teologia da Criação. Nas demais visões científicas são vastas as pesquisa nesse campo. Articular a criação bíblica com as descobertas científicas, isto é, articular fé e ciência ainda apresenta dificuldades. Pensa-se nelas apenas antagonicamente. Uma terceira questão é a da própria ciência teológica, ou melhor, de sua linguagem ainda defasada com os avanços no campo do saber. Sendo seu objeto de estudo transcendental dificuldades aparecem num mundo ainda marcado pelo saber bidimensional e/ou unidimensional assinalados no primeiro capítulo. Não pretendemos esgotar as reflexões a esse respeito, nem mesmo dar receitas prontas. Apenas desejamos alertar quanto ao desafio que nos é apresentado num contexto pós-moderno. Contando ainda com uma pesquisa qualitativa em parceria com o CERIS 3, para uma melhor compreensão de nossos jovens universitários, e assim avançarmos em nossa missão, partimos para o nosso terceiro capítulo. Ela nos 2 GESCHÉ, Adolphe. O Ser Humano, São Paulo: Paulinas, 2003, p. 29-52. 3 CERIS: Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais. Fundado em 1962 pela CNBB para dar suporte técnico, sociológico aos trabalhos da Igreja, o CERIS, hoje, é uma instituição que tem como marca a avaliação de projetos, pesquisa e assessoria a movimentos sociais e eclesiais. Reúne uma equipe multidisciplinar de profissionais.

14 apresenta dados relevantes sobre nossos jovens tais como: identidade, religião, participação cívica, tolerância religiosa, cultura, ética e moral. Será fundamental para o núcleo central deste trabalho falar teologicamente ao jovem universitário sobre o verdadeiro significado de ser humano conforme Jesus Cristo. Nossa juventude é ainda marcada por um individualismo ambíguo, que ora valoriza a autonomia, ora a dependência do mercado; ora uma responsabilidade exagerada, ora uma tremenda falta de vontade; ora ser dono de si, ora deixar a vida levar. Nesse rápido movimento fica impossível atingir a realização plena. Em relação à especificidade da missão da Cultura Religiosa nos vêm algumas inquietações: como anunciar os valores evangélicos como, por exemplo, amar ao próximo como a si mesmo? Como incentivar a defesa da dignidade humana? Na certeza de que, o que o homem faz o homem pode desfazer, podemos avançar, conforme Edgard Morin 4, na compreensão de que só seremos autônomos a partir de uma dependência original em relação à cultura, em relação a uma língua, em relação a um saber 5 e que as noções de indivíduo e sujeito não são antagônicas, mas, complementares 6 inscrevendo o ser humano num projeto de liberdade criadora. A missão da Cultura Religiosa possui uma dimensão profética que perpassa o exercício da função teológica em dupla dimensão. Enquanto ad intra, deve salvaguardar o sentido da fé. Ao mesmo tempo, a ad extra, salvaguardar o que a fé cristã tem a dizer sobre o ser humano e ao ser humano. Mais. Justificar o conteúdo da fé ao discurso sobre o ser humano. 7 Essa missão profética permitirá compreender uma juventude marcada pela arte, pelo desejo, pelo prazer e pela racionalidade. 4 Edgar Morin: sociólogo, francês, autor da célebre coleção O Método. Embora seja estudioso da complexidade crescente do conhecimento científico e suas interações com as questões humanas, sociais e políticas, recusam-se ser enquadrada na Sociologia e prefere abarcar um campo de conhecimentos mais vastos: filosofia, economia, política, ecologia e até biologia, pois, para ele, não há pensamento que corresponda à nova era planetária. Dentre suas muitas obras, citamos algumas referências importantes para esta pesquisa: A religação dos saberes. O desafio do século XXI. São Paulo: Bertrand do Brasil, 2001; A cabeça bem feita. Repensar a reforma e reformar o pensamento. São Paulo: Bertrand do Brasil, 2004. 5 MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita. Repensar a reforma. Reformar o pensamento, 10ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2004, p. 118. 6 Cf.ibid., p. 119. 7 Cf. GESCHÉ, Adolphe. O Ser Humano, p. 40-52.

15 Nesse processo, o jovem universitário poderá murmurar como Santo Agostinho: Tornei-me uma grande questão para mim mesmo, 8 e encontrará na CRE um discurso teológico numa linguagem transcendente e transdisciplinar, isto é, uma linguagem dinâmica, progressiva, que vai do Ser Humano a Deus e de Deus ao Ser Humano. 8 SANTO AGOSTINHO, Sermão 15 sobre o Cântico.