Capítulo VI Direção da Faculdade de Medicina



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Transcrição:

Capítulo VI Direção da Faculdade de Medicina Carlos Chagas Filho SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros CHAGAS FILHO, C. Um aprendiz de ciência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2000. 279 p. ISBN 85-209-1082-3. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

Direção da Faculdade de Medicina Na década de sessenta fui obrigado a dar uma descontinuidade, ainda que pouco acentuada, à minha atividade de diretor do Instituto de Biofísica. Ε que a congregação da Faculdade de Medicina resolveu propor meu nome para diretor da mesma, como disse anteriormente. Aceito pelo presidente João Goulart poucos dias antes de sua deposição pela revolução vitoriosa de 1964, solicitei, em conseqüência, uma nova votação que, mais uma vez, me colocou em primeiro lugar na lista tríplice. Confirmada minha nomeação pelo presidente Castello Branco, assumi o posto com a expectativa de poder trazer sensíveis modificações ao funcionamento da velha instituição. Já em direções anteriores, particularmente por ocasião da direção de Fróes da Fonseca, procurara eu mexer um pouco em algumas das antigas normas da casa. Consegui, então, que a biblioteca da faculdade, extremamente rica no período de sua fundação até a década de vinte, fosse transferida para a Praia Vermelha. Fróes da Fonseca fez erigir mais um andar, para o qual foram transferidos os livros mal guardados e cheios de umidade, depositados no Instituto Anatômico, na rua Santa Luzia. Nessa tarefa fui auxiliado pela extraordinária competência de Emilia Bustamante, que, na ocasião, trabalhava na biblioteca do Instituto Oswaldo Cruz, cujo diretor permitiu o seu longo estágio na Praia Vermelha. Tive, ainda, o auxílio do bibliotecário Mário Filho, também de Manguinhos. O problema das bibliotecas é um dos que perturbam, de forma mais aguda, a vida de uma instituição científica no Brasil. Orçamentos pobres, as

mais das vezes retardados, impedem a pronta assinatura de publicações que, no correr deste século, tornaram-se, no campo das ciências, o verdadeiro âmago de uma biblioteca científica. Quando mais tarde vim a ser decano do Centro de Ciências da Saúde da universidade, procurei dar todo o apoio à Biblioteca Central daquele centro, instalado na Ilha do Fundão desde 1972. Tarefa mais do que difícil, não só pelo preço vertiginoso da assinatura de revistas e dos livros científicos ligados ao crescimento da indústria de publicações, como também pela teimosia de cada chefe de departamento, que desejava ter, para uso exclusivo do seu grupo, um certo número de publicações gerais ou especializadas. Estas deveriam estar presentes em um centro rotativo, do qual participassem todos os interessados em seu próprio aperfeiçoamento intelectual. Para a biblioteca do Centro de Ciências da Saúde obtive verba excepcional, o que a colocou em dia. A condição da Finep Financiadora de Estudos e Projetos para a concessão desse auxílio foi a de que a universidade mantivesse a biblioteca funcionando até as vinte horas, inicialmente, e no momento em que o Fundão se tornasse mais freqüentado, até a meianoite. Devo a um amigo, Virgílio Costa, de uma dedicação inigualável, a organização da biblioteca do Centro de Ciências da Saúde. A primeira tarefa que me coube na direção da Faculdade de Medicina foi a de refazer o regimento interno, com numerosíssimos artigos, muitos dos quais até mesmo contraditórios. Isto foi feito com uma certa facilidade, dado o apoio que tive dos meus companheiros, entre os quais desejo citar Lauro Sollero, Clementino Fraga Filho e Carlos Cruz Lima. Esse enxugamento do regulamento permitiu-me nomear, como diretores associados, Antônio Paes de Carvalho, para o setor de ensino, e Luiz Carlos Lobo, para o de planejamento. Coube-me, também, uma tarefa extremamente contundente: a de aplicar um novo parágrafo da reformulação do ensino, o qual determinava que os professores com mais de sessenta anos deveriam ser aposentados, a não ser que dois terços dos professores titulares os mantivessem na função. Sabia eu que algumas das faculdades da universidade haviam tentado pôr esse artigo em prática. Nelas, a votação de cada caso em separado fora substituída pela votação maciça de uma lista que incluía todos aqueles atingidos pelo novo regulamento. Telefonei para Raimundo Moniz de Aragão, então ministro da Educação, perguntando se o artigo deveria ser cumprido ou esquecido.

A reação do ministro foi positiva, isto é, o regulamento era para ser cumprido. Isto me dava suporte para uma eventual disputa sobre a questão. Assim sendo, convoquei a congregação para uma sessão especial, tendo como assunto único na pauta a votação da solicitação de aposentadoria para quatro professores que haviam atingido a idade limite. A congregação eliminou dois dos professores citados. Com o maior constrangimento aceitei a votação, que eliminava do nosso convívio o irmão de um amigo fraterno e um dos grandes pesquisadores da casa, famoso por seus trabalhos sobre endocrinologia. A atividade na direção da Faculdade de Medicina correu sem grandes percalços. Tive sorte, porque foi um período em que os estudantes estavam muito calmos e várias vezes mantive, com seus líderes, entendimentos extremamente úteis. Sou dos que pensam que o desassossego dos alunos resultava do desencontro entre ao que, na sua juventude, aspiravam da faculdade, e as reais condições de ensino que esta podia oferecer. Na ocasião, por exemplo, o curso clínico-médico-cirúrgico estava distribuído entre seis hospitais do Rio de Janeiro, obrigando o aluno a se locomover de lá para cá, em uma cidade de transporte precário. Assim, procurei dar às clínicas o maior apoio. Quase no fim do meu mandato tomei uma iniciativa que me pareceu ser de extrema utilidade. É que se tentava acabar a construção do Hospital das Clínicas, na Ilha do Fundão. Fui, então, ao prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Negrão de Lima, e solicitei-lhe que pusesse à disposição da faculdade o Hospital Moncorvo Filho. Seria ele o centro de preparação operacional do novo e grande hospital, incluindo-se nessa proposta, principalmente, o treinamento de pessoal auxiliar. Negrão de Lima acedeu de imediato ao meu pedido, mesmo porque vários dos nossos serviços hospitalares já estavam sendo feitos no Moncorvo Filho. Outra iniciativa que tomei foi a de solicitar a transferência do escritório chefe das obras do hospital do Fundão para a sede da faculdade. A medida teve grande êxito, pois facilitou o intercâmbio entre os nossos professores e os engenheiros do chamado Etub (Escritório Técnico da Universidade do Brasil), localizado numa das alas do Ministério da Fazenda, no Centro, ocupada pelo Dasp. Tentei, em vão, demover Pedro Calmon e seus assessores de transferir a universidade para a ilha do Fundão. Várias razões me levaram a isto. Em primeiro lugar, a dificuldade de condução para alunos e mestres, principalmente para

aqueles. A idéia falaciosa de que o Fundão correspondia ao centro geométrico da cidade, que punha os alunos da região norte e os alunos da região sul aproximadamente eqüidistantes do centro da universidade, não me parecia válida. Além do mais, a mudança para o Fundão não era, de modo algum, a meu ver, o mecanismo mais fácil e eficaz para estabelecer traços de ligação espiritual e material entre as várias unidades da universidade, mesmo porque as distancias existentes na ilha criada, ou quase criada, no fundo da baía, eram grandes. Quando eu trabalhava na Praia Vermelha, a Escola de Química, por exemplo, estava muito mais próxima do que a distancia que a separa do Instituto de Biofísica, hoje, no Fundão. Algum tempo mais tarde, pretendi implantar na Ilha o Dia da Árvore, para o que obtive dezoito mil pequenos arbustos doados pelo professor Marques Porto, diretor do Jardim Botânico, e que deveriam ser plantados pelos próprios alunos, no dia dedicado à árvore, 19 de novembro. Infelizmente, parte da alta direção da instituição não se interessou pelo projeto, que teria dado uma nova e encantadora feição ao árido terreno que a universidade ocupava. Nesse período em que fui diretor da faculdade (1964-1966), na Praia Vermelha, e no qual recebi a melhor solidariedade de meus colegas, uma das minhas iniciativas foi a de abrigar, no restaurante desativado, todos aqueles que haviam perdido suas casas e seus pertences, em conseqüência dos terríveis temporais que desabaram sobre o Rio de Janeiro, em 1966. Contei com a ajuda de minha mulher, que, com muita acuidade, solicitou o apoio dos militares da Escola Superior de Guerra, os quais deram uma estrutura perfeita àqueles que se alimentavam e dormiam no local improvisado. Uma impressão que guardo dessa época é a solidariedade da sociedade, face a um cataclismo como aquele que estávamos sofrendo. Bastou um pequeno apelo nos jornais para que nos chegassem toneladas de alimentos, o que permitiu o serviço de alimentação e proteção contra a intempérie aos mais de duzentos desabrigados então socorridos. Outra iniciativa que tomei foi a da criação de um vestibular único para estudantes das faculdades de medicina da cidade do Rio de Janeiro. Contei, para isso, com a colaboração de Luiz Carlos Lobo e a compreensão de Américo Piquet Carneiro, diretor da Faculdade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Uerj, e do general-médico,

doutor Meirelles, diretor da Faculdade Hanemaniana, hoje incorporada à Uni- Rio. Foi um empreendimento cheio de riscos, que não podia falhar. Pedro Calmon emprestou-me um vasto edifício onde havia sido instalada a tipografia da universidade, situado ao lado da sede da mesma, na avenida Pasteur, e que se encontrava desocupado. Ajudou-me de maneira particularmente elogiosa um dos funcionários da faculdade, Michel Jourdan. Felizmente, tudo correu às maravilhas, sem nenhuma reclamação. Serviu essa iniciativa, provavelmente, como exemplo para a criação, em proporções muito mais largas, do Cesgranrio. Mais uma iniciativa que considero importante nasceu da concepção que partilho com um sem-número de colegas e amigos, de que há, na formação de algumas doenças, um componente ligado às condições de vida e de família do paciente. Para isso, fiz um projeto de levar os alunos do segundo ano de medicina a conhecer a vida familiar dos habitantes do Rio. Escolhi, para tanto, a Ilha do Governador e, para dirigir o projeto, o professor Roberto Santos, da Bahia, que se interessou pela iniciativa. Obtive, também, para realizá-la, um auxílio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Com seus dirigentes discuti o projeto, considerado por alguns dos conselheiros como "comunizante". Durante todo o ano funcionou perfeitamente, com grupos de dez alunos acompanhados de um assistente visitando famílias da Ilha. Infelizmente, o projeto não teve continuidade depois que deixei a direção da faculdade. Devo dizer, aliás, que inicialmente alguns alunos não o apreciaram devidamente, mas, aos poucos, foram se adaptando à idéia, até chegar ao ponto de me congratularem por ele.