SILAGEM CONSORCIADA DE MILHO COM GIRASSOL: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E DEGRADABILIDADE 1

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SILAGEM CONSORCIADA DE MILHO COM GIRASSOL: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E DEGRADABILIDADE 1 RESUMO: Objetivou-se avaliar a composição química e degradabilidade ruminal da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN), da silagem consorciada de milho com girassol; testaram-se dois tratamentos: SMG1 - silagem do milho sem espiga (milho verde) consorciado com girassol e SMG2 - silagem do milho com espiga (grão) consorciado com girassol. Utilizaram-se 4 vacas secas fistuladas no rúmen. Obtiveram-se silagens com teores de VERA LÚCIA BANYS 2 IGOR M.E.V. VON TIESENHAUSEN 3 PAULO CÉSAR DE AGUIAR PAIVA 4 CARLOS ALBERTO PEREIRA DE REZENDE 4 ANTONIO ILSON GOMES DE OLIVEIRA 4 CRISTINA MARIA PACHECO BARBOSA 5 LUCIANO DE CASTRO ALVARENGA 5 MS de 21,25 e 30,28 %; PB de 7,23 e 7,61 % e FDN de 63,93 e 65,98 %. A degradabilidade potencial foi 67,39 e 69,72 % para MS; 79,85 e 82,98 % para PB; 54,85 e 61,38 % para FDN e degradabilidade efetiva de 46,79 e 50,13 % para MS; 61,75 e 71,96 % para PB e 32,51 e 34,93% para FDN, respectivamente para SMG1 e SMG2. A silagem de milho consorciado com girassol proporciona alimento de degradabilidade próxima à silagem de milho. TERMOS PARA INDEXAÇÃO: degradabilidade, girassol, milho, silagem consorciada. INTERCROPPED SILAGE OF CORN WITH SUNFLOWER: CHEMICAL COMPOSITION AND DEGRADABILITY ABSTRACT - In order to evaluate the chemical composition and ruminal degradability of dry matter (DM), crude protein (CP) and neutral detergent fiber (NDF) of the corn-sunflower intercropped and its silage, two treatments were tested: SCS1 - silage of corn without main ear ( green corn ) intercropped with sunflower and SCS2 - silage of corn with main ear (grain) intercropped with sunflower. Four rumen cannulated non lactating dairy cows were used. It was INDEX TERMS: corn, degradability, intercropped silage, sunflower. obtained silages with dry matter levels of 21.25 and 30.28 %; 7.23 and 7.61 % CP and 63.93 and 65.98 % NDF. It was also observed a potential degradability of 67.39 and 69.72 % for DM; 79.85 and 82.98 % for CP and 54.85 and 61.38 % for NDF and an effective degradability of 46.79 and 50.13 % for DM; 61.75 and 71.96 % for CP and 32.51 and 34.93 % for NDF. Silage of corn intercropped with sunflower provides feed with degradability close to corn silage. INTRODUÇÃO A silagem de milho (Zea mays L.) é tida como padrão, devido aos teores de carboidratos solúveis encontrados na planta, que levam a uma fermentação adequada, proporcionando a conservação de um alimento de alto valor nutritivo com grande produção de massa verde, fácil de ser preparado e de grande aceitação pelos animais. O girassol (Helianthus annuus L.) apesar de ter sido introduzido no Brasil na época da colonização, como oleaginosa, há bem pouco tempo tem sido estudado como forrageira alternativa. Entretanto, autores como McGuffey e Schingoethe (1980) relatam que o girassol presta-se à prática da ensilagem tanto em sistema de monocultivo quanto consorciado a outras culturas, inclusive o milho, sem reduzir a qualidade desta silagem. Hoje, as tabelas internacionais de requerimentos trabalham em termos de nutrientes degradados ou não 1. Parte da dissertação apresentada a UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) pelo primeiro autor. 2. DSc. em Zootecnia/ UFLA, Caixa Postal 37 37.200-000 - Lavras, MG, Bolsista da CAPES. 3. Orientador, Engenheiro Agrônomo, MSc. e produtor rural. 4. Professores/UFLA. 5. Bolsista de Iniciação Científica da FAPEMIG e aluno no Departamento de Zootecnia/UFLA.

734 no rúmen, a fim de atender com maior precisão às exigências da microbiota ruminal, bem como as do próprio animal hospedeiro. Isso traz a necessidade de avaliar a degradabilidade dos alimentos produzidos em condições tropicais. Quando se utiliza o consórcio do milho com girassol, aliam-se culturas com exigências climáticas comparáveis e que se complementam em termos nutritivos, em que o milho fornecerá o maior percentual de energia, e o girassol, de proteína (Mir, Mir e Bittman 1992). Além disso, o girassol possui como características grande capacidade de adaptação e alta capacidade de crescimento inicial, devido à elevada taxa de assimilação aparente e elevada resistência a condições de deficiências hídricas (Robinson, 1978), o que vêm conferir ao consórcio uma maior eficiência (Machado, Fleck e Souza, 1987) e um menor risco para a exploração. Recomenda-se ensilar uma planta forrageira quando seu teor de matéria seca (MS) estiver entre 30 e 35 %. Teores abaixo de 30 % de MS podem provocar perdas por lixiviação de até 8% de nutrientes na silagem, além de favorecer as fermentações acética e butírica. Teores acima de 35% dificultam a compactação do material a ser ensilado, permitindo respiração intensa da forragem picada, levando à ocorrência da fermentação alcoólica ou doce (Consentino, 1978). O teor de proteína bruta é considerado bom índice do valor nutritivo de uma forrageira (Edwards, Harper e Henderson 1978). As proteínas possuem poder tampão, e em face da proteólise que sofrem no processo de ensilagem, são as mais prejudicadas quando ocorre má fermentação (Andriguetto et al., 1982). Para a silagem mista de milho com girassol em duas épocas de corte, Mir, Mir e Bittman (1992) encontraram 22,5 % de MS; 9,7 % de PB e 37,8 % de FDN aos 130 dias do plantio e 27,2% de MS; 10,3 % de PB e 36,4 % de FDN aos 145 dias do plantio. A técnica da degradabilidade in situ tem sido usada desde 1938 para medir o desaparecimento dos constituintes do alimento contido em sacos de náilon (Mehrez e Orskov, 1977). Após incubação desses sacos na cavidade ruminal por vários períodos de tempo, obtém-se, por diferença de peso, o desaparecimento de parte da amostra, e assume-se que esse desaparecimento seja sinônimo de degradação (Castillo Arias, 1992). Objetivou-se com este trabalho avaliar a composição química e a degradabilidade da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN), das plantas em consórcio e ensiladas em dois momentos de corte. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras - UFLA, MG. O plantio do milho consorciado com girassol foi realizado manualmente na mesma linha, em sulcos espaçados de 0,80 m, a uma profundidade de 0,04 m, numa relação de duas plantas de milho para uma de girassol (nove plantas/metro linear). A adubação de plantio por hectare consistiu de 200 kg da formulação 4:14:8 sob a forma de sulfato de amônio, superfosfato simples e cloreto de potássio, 1 kg de bórax e 3 kg de sulfato de zinco. Foram espalhados 50 kg de cama de frango/ha entre os sulcos, e na adubação em cobertura, usaram-se 20 kg de nitrogênio/ha na forma de uréia e 13 kg de K 2 O/ha na forma de cloreto de potássio. O corte do consórcio quando a espiga atingiu estado de milho verde, correspondeu a 120 dias do plantio, e o segundo totalizou 140 dias, quando o milho apresentou espiga em estado de grão duro. No ensaio de degradabilidade, foram utilizadas quatro vacas secas, duas HPB e duas Jersey, providas de fístulas ruminais permanentes de látex, com peso médio de 400 kg, alimentadas com capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.) picado e 2 kg de concentrado/animal/dia. A composição do concentrado fornecido foi: 77 % fubá de milho; 16 % farelo de algodão (38 % PB); 5 % farelo de trigo; 1 % sal comum; 0,5 % uréia e 0,5 % suplemento mineral-vitamínico Nutrianfós. Dois tratamentos foram testados utilizando-se a técnica do saco de náilon incubado no rúmen, proposta por Ørskov e McDonald (1979), seguindo algumas modificações citadas por Nocek (1988). Os tratamentos constituíram-se de SMG1: silagem do milho sem espiga em estado de milho verde consorciado com girassol (1º corte - 120 dias) e SMG2: silagem do milho com espiga em ponto de grão consorciado com girassol (2º corte - 140 dias). Os sacos de náilon foram colocados em uma sacola depositada na porção ventral do rúmen por 0; 1; 4; 8; 12; 24; 36 e 72 horas em ordem seqüencial. Após a incubação, os sacos foram lavados conforme apresentado por De Boer, Murphy e Kennelly (1987). As amostras residuais foram analisadas quanto aos teores de matéria seca (MS) e proteína bruta (PB), segundo a Association of Official Analytical Chemists - AOAC (1979), enquanto a fibra em detergente neutro (FDN) seguiu a metodologia de Goering e Van Soest, descrita por Silva (1990). Os dados obtidos foram ajustados para a equação proposta por Ørskov e McDonald (1979), utilizando-se o procedimento de regressão não linear proposto por Gauss-Newton, e contido no pacote computacional SAEG - Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas, descrito por Euclydes (1983). Y = a + b (1 - e -ct ) A degradabilidade efetiva foi calculada aplicando as constantes à equação proposta por Ørskov e McDonald (1979):

735 P = a + b * c c + k Em que k é a taxa de passagem ruminal do alimento (5 %/hora), segundo estimativa média citada por Ørskov e McDonald (1979). RESULTADOS E DISCUSSÃO A composição química das silagens encontra-se na Tabela 1. O teor de 21,25 % de MS da silagem no primeiro corte (SMG1), é semelhante ao descrito por Fisher et al. (1991), que mencionam que a silagem mista de milho e girassol tem menor teor de MS do que a do milho ensilado puro, devido à redução do número de espigas e, conseqüentemente, de grãos dessas silagens, Pozar (1989). Os teores de PB - 7,23 e 7,61 %, de FDN 63,93 e 65,98 % e o ph - 4,00 e 3,95 das silagens obtidas com o material cortado aos 120 e 140 dias, respectivamente, estão dentro de faixas aceitáveis, quando comparados à silagem de milho puro. Entretanto, se comparada a uma silagem pura de girassol, esses valores estão baixos para PB e altos para FDN. Isso se deve à característica da própria planta do girassol, que é mais rica em PB (Robinson, 1978). Os valores da degradabilidade potencial e efetiva da MS dos tratamentos podem ser observados na Tabela 2. A degradabilidade efetiva encontrada para o material ensilado proveniente do segundo corte foi menor do que a do primeiro corte. A maior taxa de degradabilidade (c) encontrada para a silagem do material do primeiro corte (4,55 %) pode indicar que este material sofre maior degradação da fração b do que o material do segundo corte (3,03 %) num mesmo intervalo de tempo. TABELA 1 - Composição química da silagens de milho consorciado com girassol ao primeiro e segundo corte e do concentrado ( C ) fornecido aos animais, em %. Amostra MS PB FDN FDA ph SMG1 21,25 7,23 63,93 48,34 4,00 SMG2 30,28 7,61 65,98 54,51 3,95 C 88,85 11,41 41,30 - - TABELA 2 - Valores médios de degradabilidade potencial e efetiva e dos coeficientes a, b e c das equações para MS, PB e FDN e respectivos coeficientes de determinação (R 2 ) das silagens de milho consorciado com girassol ao primeiro e segundo corte (SMG1 e SMG2). Tratamento Nutriente Coeficientes Potencial Efetiva a b c R 2 SMG1 MS 67,39 50,13 34,57 32,82 0,0455 0,93 SMG2 69,72 46,79 33,09 36,63 0,0303 0,96 SMG1 PB 82,98 71,96 59,35 23,62 0,0640 0,90 SMG2 79,85 61,75 51,55 28,30 0,0302 0,92 SMG1 FDN 54,85 34,93 19,12 35,73 0,0399 0,91 SMG2 61,38 32,51 16,60 44,77 0,0288 0,96

736 Na Figura 1, visualizam-se semelhanças entre os dados observados nos dois tratamentos até as primeiras 8 horas de incubação, mostrando, porém, superioridade do primeiro corte (SMG1) a partir das 12 horas, o que pode sugerir que o menor teor de FDN do tratamento SMG1 favorece o ataque microbiano inicial mais rápido, resultando maior degradabilidade nos menores tempos de incubação. Para a degradabilidade potencial da PB, os valores encontrados foram similares nos dois tratamentos. Nota-se que a fração solúvel (a) do primeiro corte foi maior que a do segundo, e a fração insolúvel (b) foi maior para o segundo corte em relação ao primeiro corte (Tabela 2). Como a degradabilidade potencial é medida pelo somatório dos coeficientes a e b, justificase a similaridade dos dois tratamentos. O aumento na fração solúvel (a) pode ser devido a maior produção de nitrogênio não protéico no processo de ensilagem do material do primeiro corte (Barnett, citado por Danley e Vetter, 1973). Paralelamente, a redução da fração insolúvel degradável (b) pode ter ocorrido, provavelmente, devido à perda de proteína por proteólise no processo fermentativo na produção da silagem, em decorrência do seu baixo teor de MS, observado já no material in natura (Petit e Tremblay, 1992). Isso justificaria a obtenção de um mesmo teor protéico (proteína bruta) dos dois materiais, porém com partição diferenciada na degradação protéica e com diferentes taxas de degradação, alterando o comportamento da curva de degradabilidade da fração protéica como um todo. Na Figura 2 visualiza-se que a silagem proveniente do primeiro corte apresentou degradabilidade protéica superior. A maior degradabilidade efetiva do FDN foi encontrada para a silagem proveniente do primeiro corte (34,93 %). Essa superioridade deve-se à mais alta taxa de degradação de b (3,99%) observada para este material (Figura 3). As diferenças encontradas nos teores de FDA podem explicar a menor degradação dos componentes da parede celular do tratamento SMG2, uma vez que esta fração é considerada como indigerível (Van Soest, 1967) e encontra-se em maior percentual neste material, em relação ao tratamento SMG1. Normalmente, o corte mais tardio de plantas forrageiras leva à obtenção de produtos mais fibrosos, ou com nutrientes mais lignificados, característica fisiológica própria dos vegetais. SMG1 - Y = 34,57+32,82(1-e -0,0455t ) R 2 =92,71 SMG2 - Y = 33,09+36,63(1-e -0,0303t ) R 2 =95,88 75 70 65 60 55 50 45 40 Dispersã o(xy) 5 SMG1 Dispersã o(xy) 7 SMG2 35 30 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60 64 68 72 Tempo (hora) FIGURA 1 - Degradabilidade estimada para a matéria seca das silagens do milho consorciado com girassol ao primeiro e segundo corte (SMG1 e SMG2).

737 SMG1 - Y = 59,35+23,62(1-e - 0, 0 6 4 0 t ) R 2 =91,01 SMG2 - Y = 51,55+28,30(1-e - 0, 0 3 0 2 t ) R 2 =91,65 85 80 75 70 65 60 55 50 45 (XY) 5 SMG1 (XY) 7 SMG2 40 35 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60 64 68 72 Tempo (hora) FIGURA 2 - Degradabilidade estimada para a proteína bruta das silagens de milho consorciado com girassol ao primeiro e segundo corte (SMG1 e SMG2). SMG1 - Y = 19,12+35,73(1-e - 0, 0 3 9 9 t ) R 2 =91,40 SMG2 - Y = 16,60+44,77(1-e - 0, 0 2 8 8 t ) R 2 =96,16 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60 64 68 72 Tempo (hora) (XY) 5 SMG1 (XY) 7 SMG2 FIGURA 3 - Degradabilidade estimada para a fibra em detergente neutro das silagens de milho consorciado com girassol ao primeiro e segundo corte (SMG1 e SMG2).

738 CONCLUSÃO As silagens de milho consorciado com girassol deste trabalho proporcionaram alimento de degradabilidade próxima à silagem padrão de milho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRIGUETTO, J.M.; PERLY, L.; MINARDI, I. et al. Nutrição animal. Curitiba: Nobel, 1982. v.1, 395p. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. Official methods of analysis of the Association of Official Analytical Chemists. 13. ed. Washington, 1979. 1018 p. CASTILLO ARIAS, A.M. Avaliação da degradabilidade ruminal e da digestibilidade intestinal de vários alimentos, utilizando-se a técnica do saco de náilon móvel. Viçosa: UFV, 1992. 108p. (Tese Mestrado em Zootecnia). CONSENTINO, J.R. Fermentações da silagem. Zootecnia, Nova Odessa, v. 16, n. 1, p. 57-61, jan./mar. 1978. DANLEY, M.M.; VETTER, R.L. Changes in carbohydrate and nitrogen fractions and digestibility of forages: maturity and ensiling. Journal of Animal Science, Champaign, v.37, n.4, p.994-999, Oct. 1973. DE BOER, G.; MURPHY, J.J.; KENNELLY, J.J. A modified method for determination of in situ rumen degradation of feedstuffs. Canadinan Journal of Animal Science, Ottawa, v.67, n.1, p.93-102, Mar. 1987. EDWARDS, R.A.; HARPER, F.; HENDERSON, A.R. et al. The potencial of sunflower as a crop for ensilagem. Journal of the Science of Food and Agriculture, London, v.29, n.4, p.332-338, Apr. 1978. EUCLYDES, R.F. Manual de utilização do programa SAEG (Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas). Viçosa: UFV, 1983. 59p. FISHER, L.J.; BITTMAN, S.; MIR, P. et al. Sunflower-corn silage as a forage for lactating cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v.74, p.148, 1991. (Supplement) McGUFFEY, R.K.; SCHINGOETHE, D.J. Feeding value of a high oil variety of sunflowers as silage to lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v.63, n.7, p.1109-1113, July 1980. MACHADO, C.M.N.; FLECK, N.G.; SOUZA, R.S. de. Eficiência na utilização da terra, rendimento e componentes do rendimento de culturas em consórcio. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.22, n.11/12, p.1167-1183, nov/dez. 1987. MEHREZ, A.Z.; ORSKOV, E.R. A study of the artificial fiber bag technique for determining the digestibility of feeds in the rumen. Journal of Agricultural Science, Tokyo, v.88, n.3, p.645-650, June 1977. MIR, Z.; MIR, P.S.; BITTMAN, S. et al. Ruminal degradation characteristics of corn and cornsunflower intercropped silages prepared at two stages of maturity. Canadian Journal of Animal Science, Ottawa, v.72, n.4, p.881-889, Dec. 1992. NOCEK, J.E. In situ and other methods to estimate ruminal protein and energy digestibility: a review. Journal of Dairy Science, Champaign, v.71, n.8, p.2051-2069, Aug. 1988. ØRSKOV, E.R.; McDONALD, T. The estimation of protein degradability in the rumen from incubation measurements weighted according to rate of passage. Journal of Agricultural Science, Tokyo, v.92, n.2, p.499-503, Apr. 1979. PETIT, H.V.; TREMBLAY, G.F. In situ degradability of fresh grass and grass conserved under different harvesting methods. Journal of Dairy Science, Champaign, v.75, n.3, p.774-781, Mar. 1992. POZAR, G. Silagem de milho. Jornal Agroceres, São Paulo, v.18, n.188, p.45, 1989. ROBINSON, R.G. Production and culture. In: CARTER, J.F. (ed.) Sunflower: science and technology. Madison: American Society of Agronomy, 1978. Cap. 4, p. 89-120. (Agronomy, a series of monographs,19). SILVA, D.J. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa: UFV, 1990. 166p. VAN SOEST, P.J. Development of a comprehensive system of feed analyses and its application to forages. Journal of Animal Science, Champaing, v. 6, n. 1, p. 119-128, Jan. 1967.