Revista Ciência Agronômica ISSN: 0045-6888 ccarev@ufc.br Universidade Federal do Ceará Brasil

Documentos relacionados
XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

CARACTERIZAÇÃO BROMATOLÓGICA DO RESÍDUO DA PRODUÇÃO DE SUCO IN NATURA¹

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS E COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE CASCAS E SEMENTES DE MAMÃO RESUMO

ANÁLISE DO RENDIMENTO DE FRUTOS DE CAJÁ-MANGA SUBMETIDOS AO PROCESSO DE DESIDRATAÇÃO OSMÓTICA SEGUIDA DE SECAGEM EM ESTUFA

ANÁLISE COMPARATIVA DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE SARDINHAS ENLATADAS EM ÓLEO COMESTÍVEL, MOLHO DE TOMATE E AO NATURAL 1

PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DA RAIZ DE MANDIOCABA

REDUÇÃO DA ATIVIDADE DE ÁGUA EM MAÇÃS FUJI COMERCIAL E INDUSTRIAL OSMO-DESIDRATADAS

Obtenção de extrato de tomate em pó por diferentes processos: trocador de calor e concentrador a vácuo por coluna barométrica

PALAVRAS-CHAVE Panificação. Alimentos. Subprodutos. Introdução

Armazenamento de Grãos de Café (coffea arabica L.) em dois tipos de Embalagens e dois tipos de Processamento RESUMO

Bebida constituída de frutos de açaí e café: Uma alternativa viável

DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICO DOS REFRIGERANTES

Efeito da adição de ferro nas características sensoriais de bebidas elaboradas com polpa de frutos tropicais e soro lácteo.

Mamão Hawai uma análise de preços e comercialização no Estado do Ceará.

Boletim Goiano de Geografia E-ISSN: Universidade Federal de Goiás Brasil

Caracterização dos méis de Apis melífera de diferentes floradas comparado com méis de abelhas indígena Meliponeae

Portaria nº 795 de 15/12/93 D. O. U. 29/12/93 NORMA DE IDENTIDADE, QUALIDADE, EMBALAGEM, MARCAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO FARELO DE SOJA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO OPERACIONAL DE UM EQUIPAMENTO ITINERANTE PARA DESCASCAMENTO DE FRUTOS DE MAMONA DA CULTIVAR BRS PARAGUAÇU

DESEMPENHO DE MUDAS CHRYSOPOGON ZIZANIOIDES (VETIVER) EM SUBSTRATO DE ESTÉRIL E DE REJEITO DA MINERAÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO

Pesquisa da EPAMIG garante produção de azeitonas

Avaliação de espécies de banana verde para produção de biomassa

EFEITO DA UTILIZAÇÃO DE PRÓBIÓTICOS EM DIETAS PARA BOVINOS NELORE TERMINADOS EM CONFINAMENTO INTRODUÇÃO

Universidade Federal do Pampa. Cadeia Produtiva da Laranja

FÁBRICA DE OPORTUNIDADES OFICINA SOBRE PROCESSOS PARA CONSERVAÇÃO DE FRUTAS" Parte III- PRODUÇÃO DE FRUTAS DESIDRATADAS

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS PARA O TRATAMENTO DOS EFLUENTES DO TRANSPORTE HIDRÁULICO DAS CINZAS PESADAS DA USINA TERMELÉTRICA CHARQUEADAS

AMOSTRAGEM AMOSTRAGEM

SECAGEM DE GRÃOS. Disciplina: Armazenamento de Grãos

Banco de Boas Práticas Ambientais. Estudo de Caso. Reaproveitamento de Rejeitos na Mineração - Projeto Areia Industrial

ESTUDO DA SECAGEM DE MAMÃO FORMOSA DESIDRATADO OSMOTICAMENTE.

VALOR NUTRITIVO E COMPOSIÇÃO FITOQUÍMICA DE VARIEDADES DE MAÇÃ DE ALCOBAÇA

MODELAGEM MATEMÁTICA DA ABSORÇÃO DE ÁGUA EM SEMENTES DE FEIJÃO DURANTE O PROCESSAMENTO DE ENLATADOS.

Avaliação da qualidade de suco tropical de maracujá adoçado: caracterização físico-química e rotulagem 1

TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

3.1 Determinação do Teor de Ácido Ascórbico e de Ácido Cítrico no

TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

Processamento do Iogurte Gordo Sólido

QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE MAMÃO PAPAIA COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE ARACAJU

Caracterização Físico-química de mel de abelha sem ferrão proveniente do Alto São Francisco

Universidade Federal do Paraná Departamento de Zootecnia Centro de Pesquisa em Forragicultura (CPFOR)

CARACTERIZAÇÃO COMERCIAL DE MARGARINA, HALVARINA E CREME VEGETAL: PARÂMETROS DA LEGISLAÇÃO

FONTES E DOSES DE RESÍDUOS ORGÂNICOS NA RECUPERAÇÃO DE SOLO DEGRADADO SOB PASTAGENS DE Brachiaria brizantha cv. MARANDÚ

1. DETERMINAÇÃO DE UMIDADE PELO MÉTODO DO AQUECIMENTO DIRETO- TÉCNICA GRAVIMÉTRICA COM EMPREGO DO CALOR

MEIOS DE CULTURA DESENVOLVIMENTO OU PRODUÇÃO DE MEIOS DE CULTURA. Necessidade Bactérias Leveduras

Milho: Produção, Armazenamento e sua utilização na elaboração de ração para Aves

I - alimento embalado: é todo alimento contido em uma embalagem pronta para ser oferecida ao consumidor;

RECICLAGEM DE ALUMÍNIO: PREPARAÇÃO DA SUCATA PARA REFUSÃO

SEGURANÇA MICROBIOLÓGICA DE RESÍDUO DA INDUSTRIALIZAÇÃO DE BATATA

Acta Scientiarum. Human and Social Sciences ISSN: Universidade Estadual de Maringá Brasil

FORMULÁRIO PADRÃO PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS ENSINO INOVADOR

Nesse sistema de aquecimento,

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

UTILIZAÇÃO DE BANANA VERDE COMO INGREDIENTE NA FORMULAÇÃO DE BRIGADEIRO

Anais da 3ª Jornada Científica da UEMS/Naviraí

IX Congresso Brasileiro de Análise Térmica e Calorimetria 09 a 12 de novembro de 2014 Serra Negra SP - Brasil

Rem: Revista Escola de Minas ISSN: Escola de Minas Brasil

III PRODUÇÃO DE COMPOSTO ORGÂNICO A PARTIR DE FOLHAS DE CAJUEIRO E MANGUEIRA

GSC EXPLICA SÉRIE EXPERTISE VETERINÁRIA

MAPA DE PREFERÊNCIA INTERNO DE GELEIAS MISTAS DE MAMÃO COM ARAÇÁ-BOI

2. Resíduos sólidos: definição e características

A1-206 Avaliação da qualidade fisiológica de sementes de milho variedade (Zea mays) armazenadas em garrafas PET.

"PANORAMA DA COLETA SELETIVA DE LIXO NO BRASIL"

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

INCENTIVANDO O CONSUMO DE PESCADO À REDE EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE SOLÂNEA - PARAÍBA

Universidade do Pampa campus Dom Pedrito Seminários Prof. Alicia Ruiz. Soja. Acadêmicos:Quelem Martins, Ricardo Carneiro, Renan Régio

Palavras-chave: Beterraba, Betalaínas, Atividade antioxidante.

Relatório Parcial SÃO PAULO, Av. Afrânio Peixoto, São Paulo (SP) - Brasil Tel/Fax (55) (11)

DIVERSIDADE DE CLIMAS = DIVERSIDADE DE VEGETAÇÕES

DA INDÚSTRIA NOS ESTADOS

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CÂMPUS DE JABOTICABAL FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS. Departamento de Patologia Veterinária

ALIMENTOS PARA CÃES E GATOS VISÃO GERAL

ANALISE DA CONCENTRAÇÃO DE CLORO ATIVO EM ÁGUAS SANITÁRIAS COMERCIALIZADAS EM PARÁ DE MINAS SUBMETIDAS A DIFERENTES FORMAS DE ARMAZENAMENTO.

ENERGIAS RENOVÁVEIS NA AMAZÔNIA Como Conciliar Desenvolvimento e Sustentabilidade

Logística Reversa: destinação dos resíduos de poliestireno expandido (isopor ) pós-consumo de uma indústria i catarinense

Estudo da linha de produção de uma fábrica de ração

RESÍDUOS COMO ALTERNATIVA DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO SÓCIO-AMBIENTAL

DECANTAÇÃO DO RESÍDUO DA LAVAGEM DE BATATAS DA LINHA DE BATATAS-FRITAS

VEGESOY FIBER. Fibra de soja: extrato insolúvel de soja em pó. Informações Técnicas

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 888

RAÍZES E CAULES DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

Efeito da colhedora, velocidade e ponto de coleta na qualidade física de sementes de milho

Análise sensorial de diferentes formulações de Smoothie

O manipulador de alimentos tem que conferir todas as informações do rótulo?

COMPORTAMENTO GERMINATIVO DE DIFERENTES CULTIVARES DE GIRASSOL SUBMETIDAS NO REGIME DE SEQUEIRO

JUSTIFICATIVA OBJETIV OS:

EMBALAGENS DE ALIMENTOS COM FIBRA DE COCO VERDE Gilberto Alves Rodrigues

AVALIAÇÃO DE SUBPRODUTOS AGRÍCOLAS COMO CONDICIONADORES DE SUBSTRATOS E/OU FERTILIZANTES ORGÂNICOS PARA MUDAS

PORTUCEL SOPORCEL. INVESTIGAÇÃO NAS ÁREAS DA FLORESTA E DO PAPEL Uma renovação de raiz EMPRESA

TÍTULO: ACEITABILIDADE DE REFRIGERANTE COM FIBRA COMPARADO COM MARCA LÍDER DE MERCADO E MARCA REGIONAL DA CIDADE DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Desenvolvimento e aceitabilidade de bisnaguinha enriquecida com farinhas de arroz integral e cenoura

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

TRATAMENTO QUÍMICO DE RESÍDUOS AGRÍCOLAS COM SOLUÇÃO DE URÉIA NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

PROF. KELTON WADSON OLIMPÍADA 8º SÉRIE ASSUNTO: TRANSFORMAÇÕES DE ESTADOS DA MATÉRIA.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) definiu a classificação do porte, com base no número de empregados de cada estabelecimento.

ESTUDOS COMPARATIVOS NO PROCESSO INDUSTRIAL DE PRODUÇÃO DE BIOETANOL A PARTIR DO MELAÇO E CALDO DE CANA-DE-AÇÚCAR

Comparação entre Variáveis Meteorológicas das Cidades de Fortaleza (CE) e Patos (PB)

Transcrição:

Revista Ciência Agronômica ISSN: 0045-6888 ccarev@ufc.br Universidade Federal do Ceará Brasil Correia da Costa, José Maria; Milô de Freitas Felipe, Érica; Arraes Maia, Geraldo; Montenegro Brasil, Isabella; Herreyra Hernandez, Fernando Felipe Comparação dos parâmetros físico-químicos e químicos de pós alimentícios obtidos de resíduos de abacaxi Revista Ciência Agronômica, vol. 38, núm. 2, 2007, pp. 228-232 Universidade Federal do Ceará Ceará, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=195317449017 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Revista Ciência Agronômica, v.38, n.2, p.228-232, 2007 Centro de Ciências Agrárias - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE www.ccarevista.ufc.br ISSN 0045-6888 Comparação dos parâmetros físico-químicos e químicos de pós alimentícios obtidos de resíduos de abacaxi 1 Comparasion of physicochemical and chemical parameters of food powders obtained by pineapple residues José Maria Correia da Costa 2, Érica Milô de Freitas Felipe 3, Geraldo Arraes Maia 4, Isabella Montenegro Brasil 5 e Fernando Felipe Herreyra Hernandez 6 Resumo - Este trabalho teve como objetivo transformar os resíduos de casca e bagaço do abacaxi proveniente da industrialização deste fruto em pós alimentícios no intuito de efetuar uma análise comparativa dos seus parâmetros físico-químicos e químicos. Os bagaços e cascas do abacaxi foram obtidos de uma indústria local logo após o processamento da polpa congelada e em seguida transportados para o Laboratório de Frutos e Hortaliças da Universidade Federal do Ceará. As cascas e bagaços foram cortados e desidratados em estufa à vácuo, a temperatura de 60ºC e trituradas usando um liquidificador durante 10 minutos; posteriormente, foram peneirados para obter pós de 0,5 a 1 mm de diâmetro. O acondicionamento dos pós alimentícios foi realizado em recipientes de vidro envolvido em papel alumínio e em filme de PVC. Os valores médios dos parâmetros físico-químicos foram, respectivamente, para os pós de casca e bagaço de abacaxi de: umidade (9,92% e 8,05%); proteína (3,27% e 3,18%); lipídeos (1,60% e 0,72%); fibras (7,52% e 5,89%); cinzas (2,03% e 2,15%); ph (3,98 e 3,66); acidez (2,53% e 2,98%); sólidos solúveis (60,38 Brix e 60,71 Brix); açúcares redutores (18,95% e 32,94%); açúcares não redutores (18,38% e 3,11%); açúcares totais (37,33% e 36,05%) e vitamina C (27,07 mg/100g e 18,61 mg/100g). Os valores do teor de fibra, lipídeos, açúcares redutores, açúcares não redutores e vitamina C da casca e do bagaço de abacaxi diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade segundo o Teste de Tukey. Termos para indexação: abacaxi, resíduos, pós alimentícios. Abstract - The aim of this work was to use pineapple rinds and bagasses obtained from frozen pulp fruit processing to produce fruit powders in order to compare the physicochemical and chemical parameters. The pineapple rinds and bagasses were obtained from a local industry afterwards frozen fruit pulp processing and transported to the Fruit and Vegetable Laboratory of the Federal University of Ceará State. The rinds and bagasses were cut, dehydrated under vacuum at 65ºC, homogenized using a blender during 10min. and screened to obtain powders from 0.50mm to 1.0mm in diameter. The fruit powders were stored in glass containers and covered with aluminium and PVC films. The physicochemical data were as follows: moisture (9.92 and 8.05%), protein (3.27 and 3.18%), lipid (1.60 and 0.72%), fibers (7.52 and 5,89%), ashes (2.03 and 2.15%), ph (3.98 and 3.66%), acidity (2.53 and 2.98%), soluble solids (60.38 and 60.71 Brix), reducing sugar (18.95 and 32,94%), non reducing sugars (18.38 and 3.11%), total sugars (37.33 and 36.05%) and ascorbic acid (27.07 and 18.61mg/100g). Fibers, lipids, reducing sugars, non reducing sugars, and vitamin C values from rind and bagasses differed at the 5% level, according to the Tukey test. Index terms: pineapple, residues, food powders. 1 Recebido para publicação em 11/04/2006; aprovado em 15/02/2007. Parte da dissertação de mestrado apresentada ao Dep. de Tec. de Alimentos, CCA/UFC, CE 2 Eng. Químico, D.Sc., Biotecnologia e Ind. de Alimentos, Prof. Dep. Tec. de Alimentos, CCA/UFC, Campus do Pici, Fortaleza, CE, CEP: 60356-000, correia@ufc.br. 3 Eng. Alimentos. Mestre em Tecnologia de Alimentos, CCA/UFC, correia@ufc.br. 4 Eng. Agrônomo, D.Sc., Prof. do Dep. de Tec. de Alimentos, CCA/UFC, gmaia@secrel.com.br. 5 Eng. Alimento, D.Sc., Profa. do Dep. de Tec. de Alimentos, CCA/UFC, isabela@ufc.br. 6 Eng. Agrônomo, D.Sc., Prof. do Dep. de Ciências do Solo, CCA/UFC, ferrey@ufc.br.

Comparação dos parâmetros físico-químicos e químicos de pós alimentícios obtidos de resíduos de abacaxi Introdução O Brasil, graças a sua localização geográfica e dimensão territorial, é um dos maiores repositórios de espécies nativas do mundo, possuindo importantes centros de diversidade genética tanto de plantas nativas como de cultivadas (Furtunato, 2002). Este País é um dos três maiores produtores mundiais de frutas, com uma produção que supera os 34 milhões de toneladas (Instituto Brasileiro de Fruticultura, 2004). Porém, segundo Martins & Farias (2002), os prejuízos decorrentes dos desperdícios de frutas e hortaliças, encontram-se ao redor de 30 a 40% da produção. O abacaxi é uma fruta muito apreciada em muitos países do mundo, não só por suas características peculiares, como pelo reconhecimento de suas notáveis qualidades nutritivas (Piedade & Canniatti - Brazaca, 2003). É uma planta originária da América tropical e subtropical, muito provavelmente do Brasil sendo extensivamente cultivado nos trópicos (Montenegro, 1987 apud Piedade & Canniatti - Brazaca, 2003). A produção brasileira de abacaxi está distribuída por todas as regiões e Unidades da Federação. As variedades mais cultivadas são a Pérola e a Smooth Cayenne, com predominância da primeira (Souza & Souza, 2000). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2003), a quantidade produzida de abacaxi em 2003 no Brasil foi de 1.440.013 toneladas, 564.270 toneladas na região Nordeste e 922 toneladas no Estado do Ceará. Este fruto tropical é muito utilizado como matériaprima para a fabricação de diversos produtos alimentícios, destacando-se recentemente a polpa de fruta congelada onde, nesse processo, são gerados resíduos que quando não aproveitados podem se tornar em fonte de poluição. A desidratação de alimentos é um processo combinado de transferência de calor e massa, no qual a disponibilidade de água no alimento é reduzida, dificultando a atividade enzimática, deteriorações de origem físico-químicas e crescimento microbiano (Baruffaldi & Oliveira, 1998; Coelho & Harnby, 1978). Os produtos alimentícios em pó são atualmente cada vez mais utilizados pela indústria nacional de alimentos, tendo em vista que tais produtos reduzem significativamente os custos de certas operações, tais como: embalagem, transporte, armazenamento e conservação, elevando o valor agregado dos mesmos e prolongando sua vida de prateleira (Costa et al., 2003). Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo elaborar pós alimentícios obtidos de casca e de bagaço de abacaxi, comparar os mesmos em termos físico-químicos e químicos, para posterior aproveitamento no desenvolvimento de novos produtos alimentícios. Material e Métodos Como matéria-prima para a realização deste estudo foram selecionados cascas e bagaços de abacaxi, obtidos em uma indústria processadora de polpa de fruta congelada, localizada na cidade de Fortaleza, CE. Os resíduos coletados, logo após o processamento, foram transportados para o Laboratório de Frutas e Hortaliças da Universidade Federal do Ceará, onde foram cortados e colocados em placas de Petri de 9 cm de diâmetro. Em seguida, foram desidratados em estufa a vácuo sob temperatura de 65 C. Após a desidratação, foram triturados com o auxilio de um processador (marca Walita) por 10 minutos e peneirados para se obter produtos com granulometria variável entre 0,50 mm a 1,00 mm. Estes produtos foram armazenados em recipientes de vidro, devidamente identificados, sendo que estes recipientes foram envolvidos em papel alumínio (para diminuir a entrada de luz) e em filme PVC (para diminuir a entrada de oxigênio e umidade) e, finalmente, mantidos sob temperatura ambiente de 25ºC. As análises físico-químicas e químicas foram realizadas no Laboratório de Frutos e Hortaliças da Universidade Federal do Ceará, em triplicatas, através dos seguintes métodos: (a) umidade, através de uma estufa a 105 C (Instituto Adolfo Lutz, 1985); (b) os lipídeos e fibras bruta, extraídos com o auxilio de um aparelho de Soxhlet (Instituto Adolfo Lutz, 1985); (c) cinzas, utilizando uma mufla a 550 C até peso constante e, proteínas, através da técnica de micro-kjeldahl (AOAC, 1995); (d) acidez total titulável, foi realizada titulando-se as amostras com solução de NaOH 0,1N; ph, determinado através da leitura em phmêtro; sólidos solúveis ( Brix), determinados em refratômetro e os resultados corrigidos para 20 C (Instituto Adolfo Lutz, 1985); (e) açúcares redutores, com valores expresso em % de glicose; açúcares não redutores, obtidos da inversão ácida dos açúcares redutores e com valores expressos em % de sacarose; açúcares totais, obtido através do somatório dos açúcares redutores e não redutores (Instituto Adolfo Lutz, 1985); (f) teor de vitamina C, determinado por titulação com 2,6-diclorofenolindofenol sódio (Pearson, 1976). Os resultados obtidos dos parâmetros químicos e físico-químicos foram submetidos a uma análise de variância ao nível de 5% de probabilidade pelo Teste de 229

J. M. C. da Costa et al. Tukey, visando detectar-se uma possível semelhança na comparação das médias (Fonseca & Martins, 1982). Resultados e Discussão A Tabela 1 apresenta os resultados das análises químicas realizadas nos pós alimentícios obtidos de cascas e de bagaços de abacaxi. Observa-se que o pó alimentício obtido da casca de abacaxi apresentou maiores concentrações de umidade, lipídeos, fibras e proteína quando comparada com o pó alimentício obtido do bagaço desta mesma fruta. Se compararmos os teores de umidade encontrados nos pós alimentícios obtidos das cascas e dos bagaços de abacaxi com o valor observado para a polpa in natura desta mesma fruta, segundo a USDA (2006), que é de 86,46%, verificaremos uma redução no teor de umidade, após o processo de secagem, na ordem média de 76,54% e 78,41% respectivamente para os pós obtidos da casca e do bagaço de abacaxi respectivamente. Pode-se verificar ainda que, o pó obtido dos bagaços de abacaxi apresentou umidade inferior ao encontrado para o pó obtido das cascas, apesar de na casca encontrarmos uma maior concentração de constituintes sólidos como, por exemplo, minerais, fibras, proteínas, lipídeos. Este fato pode estar relacionado com o processamento, pois o bagaço de abacaxi ao ser esmagado para a retirada da polpa perde umidade e as cascas do fruto não passam por nenhum outro processamento a não ser a sua própria remoção do fruto. Em relação aos teores observados de proteínas, pode-se dizer que devido à desidratação obtivemos percentuais bastante elevados, pois comparando-os com o estudo realizado por Gondim et al. (2005), sobre a composição centesimal e de minerais em cascas de frutas, onde observou um teor 1,45 g/100g de amostra in natura das Tabela 1 - Parâmetros químicos dos pós alimentícios obtidos de casca e bagaço de abacaxi. Parâmetros (% em base seca) Obtido da casca de abacaxi Pós alimentícios cascas de frutas, pode-se inferir que encontramos, aproximadamente o dobro deste teor. De acordo com os resultados observados e, comparando com a literatura, pode-se dizer que tanto o bagaço quanto as cascas de abacaxi em pó podem ser classificadas como produtos com bons teores de lipídeos. Isto pode ser justificado com os resultados de Lima (2001), que em seu estudo sobre aproveitamento de bagaço de frutas tropicais, observou um teor de 0,17% de lipídeos que representa apenas 23,61% do teor encontrado para o bagaço de abacaxi em pó. Já em relação à concentração presente nas cascas de abacaxi em pó, pode-se inferir que encontramos um teor de 2,91 vezes maior ao encontrado por Gondim et al., (2005). Sendo os valores observados para os pós obtidos das cascas e dos bagaços de abacaxi, diferente significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade. De acordo com os valores observados para a análise de fibras, 7,52% para o pó obtido das cascas de abacaxi e 5,89% para o pó obtido dos bagaços da mesma fruta, estes pós, apresentaram uma boa quantidade desse constituinte. Sendo os resultados observados diferentes significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade, segundo o teste de Tukey. Em relação aos teores de cinzas, os resultados não diferiram entre si ao nível de 5% de probabilidade, contudo, o pó obtido do bagaço de abacaxi apresentou um valor um pouco mais elevado que o obtido das cascas da mesma fruta e, isto, provavelmente estar relacionado à presença de minerais nessas partes do fruto. Na Tabela 2, são apresentados os resultados da caracterização físico-química dos pós alimentícios obtidos de cascas e bagaços de abacaxi. Pode-se observar que, semelhante à caracterização química, o pó alimentício obtido das cascas de abacaxi apresentou os maiores valores de ph, sólidos solúveis, açúcares totais e vitamina C. Através dos resultados observados para o parâmetro de ph, pode-se dizer que, os pós alimentícios Obtido do bagaço de abacaxi Umidade (%) 9,92 a + 0,54 8,05 a + 0,25 Proteína (%N x 6,25) 3,27 a + 0,13 3,18 a + 0,25 Lipídeos (%) 1,60ª + 0,47 0,72 b + 0,16 Fibras (%) 7,52ª + 0,89 5,89 b + 1,00 Cinzas (%) 2,03ª + 0,32 2,15ª + 0,06 Valores médios numa mesma linha com letras minúsculas iguais, não diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey. obtidos das cascas e dos bagaços de abacaxi podem ser classificados como produtos ácidos e, por conseguinte, pós de difícil ataque microbiano. A acidez é um parâmetro importante na apreciação do estado de conservação de um produto alimentício. Os resultados observados para este parâmetro foram de 2,53% para o pó obtido das cascas de abacaxi e 2,98% para o pó alimentí- 230

Comparação dos parâmetros físico-químicos e químicos de pós alimentícios obtidos de resíduos de abacaxi Tabela 2 - Parâmetros Físico-químicos dos pós alimentícios obtidos das cascas e dos bagaços de abacaxi. Pós alimentícios Parâmetros (% em base seca) Casca de abacaxi cio obtido dos bagaços da mesma fruta sendo, estes resultados, diferentes entre si ao nível de 5% de probabilidade segundo o Teste de Tukey. Os teores de sólidos solúveis presentes nos pós alimentícios obtidos das cascas e dos bagaços de abacaxi foram, respectivamente, de 60,38% e 60,71%. Estes resultados eram previstos, uma vez que a concentração de sólidos solúveis nos frutos corresponde praticamente aos açúcares presentes nos mesmos. Normalmente, as frutas são bastante ricas em açúcares redutores (glicose e frutose), cuja determinação é importante para se avaliar a potencialidade de fermentação do produto. Pode-se observar na Tabela 2, os pós alimentícios obtidos das cascas e dos bagaços de abacaxi apresentaram quantidades elevadas destes açúcares, sendo que a maior concentração observada foi encontrada no pó obtido dos bagaços de abacaxi (32,94%); no pó obtido das cascas de abacaxi encontramos um percentual de 18,95%. Em relação aos açúcares não redutores, encontramos valores de 18,38% para o pó obtido das cascas de abacaxi e 3,11% para o pó alimentício obtido dos bagaços da mesma fruta. Os resultados observados para a análise de açúcares totais foram de 37,33% para o pó obtido das cascas de abacaxi e 36,05% para o pó dos bagaços da mesma fruta. As análises de açúcares redutores, não redutores e totais, apresentaram diferença significativa entre si, ao nível de 5% de probabilidade segundo o Teste de Tukey. Um outro fator de grande importância para um alimento é o teor de vitamina C, pois com um consumidor que a cada dia se torna mais exigente na busca de uma melhor qualidade de vida, consumindo produtos ricos em vitaminas. Observando-se a Tabela 2 pode-se inferir que esses pós alimentícios são ricos em vitamina C. Pode-se Bagaço de abacaxi ph 03,98 a + 0,02 03,66 b + 0,02 Acidez (% de ác. cítrico) 02,53 a + 0,06 02,98 b + 0,04 Sólidos Solúveis ( Brix a 20 C) 60,38 a + 0,00 60,71 b + 0,00 Açúcares redutores (% glicose) 18,95 a + 1,06 32,94 b + 0,63 Açúcares não redutores (% sacarose) 18,38 a + 1,41 03,11 b + 0,42 Açúcares Totais (%) 37,33 a + 0,35 36,05 b + 0,21 Vitamina C (mg/100g) 27,07 a + 0,10 18,61 b + 0,25 Valores médios numa mesma linha com letras minúsculas iguais, não diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey. dizer que o valor de 27,07 mg/100g encontrado nas cascas de abacaxi em pó, representa um percentual de 45,11% da ingestão diária recomendada para adultos e, o percentual de 18,61 mg/100g presente no pó obtido dos bagaços da mesma fruta representa 31,16% dessa recomendação, segundo Brasil (1998). Conclusões 1. Os pós alimentícios obtidos das cascas e dos bagaços de abacaxi apresentaram baixas concentrações de umidade e, devido a esse fato, podem permanecer em boas condições por um longo período de tempo; 2. Em relação aos teores de fibras observados, os pós alimentícios analisados podem ser considerados como ricos neste constituinte; 3. Os pós alimentícios obtidos das cascas e dos bagaços de abacaxi apresentaram boas quantidades de proteínas, porém, quando utilizados na elaboração de um novo produto alimentício, os mesmos têm a necessidade de uma complementação protéica; 4. Encontraram-se concentrações de vitamina C elevadas nos produtos mostrando que os dois pós podem ser utilizados como fonte de enriquecimento dessa vitamina; 5. Os resultados encontrados neste trabalho apontam para um melhor aproveitamento dos resíduos de abacaxi. Assim, pode-se dizer que é viável a utilização desses pós como enriquecimento em um novo produto alimentício, ou sendo utilizados na elaboração de produtos de panificação, ou ainda adaptando-os para serem comercializados na forma de pó. Referências Bibliográficas AOAC - Official methods of analysis of the association of analytical chemistry. 16. ed. Arlington, 1995. v.2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Vigilância Sanitária. Portaria n 33, de 13 de janeiro de 1998, adota valores para a ingestão diária recomendada (IDR) de vitaminas, minerais e proteínas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, de 16 de janeiro de 1998. Disponível em: <http:/ /www.anvisa.gov.br>. Acesso em: 27 fev. 2005. BARUFFALDI, R.; OLIVEIRA, M. N. Fundamentos de Tecnologia de Alimentos. Vol. 3. Ed. Atheneu. São Paulo, 1998. 317p. COELHO, M. C.; HARNBY,M. The effect of humidity on the from of water retention in powder. Powder Technology, Lausanne, v.20, p.197-200. 1978. 231

J. M. C. da Costa et al. COSTA, J. M. C; MEDEIROS, M. F. D.; MATA, A. L. M. L. Isotermas de adsorção de pós de beterraba (Beta vulgaris L.), abóbora (Cucurbita moschata) e cenoura (Daucus carota) obtidos pelo processo de secagem em leito de jorro: estudo comparativo. Revista Ciência Agronômica. v.34, n.1, p.5-9, 2003. FONSECA, J. S.; MARTINS, G. A. Curso de Estatística. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1982. FURTUNATO, A. A. Estudo da cinética de inativação térmica da pectinerase e da peroxidase presentes na polpa de cajá (Spondias Lútea). 2002. 78f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. IBGE. Produção agrícola municipal. Disponível em: <www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 7 ago. 2004. GONDIM, J. A. M.; MOURA, M. F. V.; DANTAS, A. S.; MEDEIROS, R. L. S.; SANTOS, K. M. Composição centesimal e de minerais em cascas de frutas. Ciência e Tecnologia de Alimentos. v.25, n.4, 2005. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos químicos e físicos para análise de alimentos. 3. ed. São Paulo, 1985, v.1. 553p. INSTITUTO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA. Fruticultura: síntese. Disponível em: <http://www.ibraf.org.br/x-es/festa.html>. Acesso em: 29 ago. 2004. LIMA, L.M.O. Estudo do aproveitamento de bagaço de frutas tropicais, visando a extração de fibras. 2001. 108f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. MARTINS, C. R.; FARIAS, R. M. Produção de alimentos X desperdícios: tipos, causas e como reduzir perdas na produção agrícola - Revisão. Revista da Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia. v.9, n.1, p.83-93, 2002. PEARSON, D. Técnicas de laboratório para el análises de alimentos. Zaragoza. Acríbia, 1976. 331p. PIEDADE, J.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Comparação entre o efeito do resíduo do abacaxizeiro (caules e folhas) e da pectina cítrica de alta metoxilação no nível de colesterol sangüíneo em ratos. Ciência e Tecnologia de Alimentos. v.23, n.2, 2003. SOUZA, L. F. da S.; SOUZA, J. da S. É possível exportar abacaxi pérola? Disponível em: <http://www.agrosite.com.br> - Acesso em: 27 jul. 2004. 232