Cristiano Dias Pires. A Gestão Ambiental e os seus Benefícios. Econômico-Financeiros



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Transcrição:

Cristiano Dias Pires A Gestão Ambiental e os seus Benefícios Econômico-Financeiros Monografia apresentada para obtenção do Certificado de Especialização pelo Curso de Pós Graduação MBA em Gerência Financeira e Controladoria do Departamento de Economia, Contabilidade, Administração e Secretariado ECASE da Universidade de Taubaté. Área de Concentração: MBA em Gerência Financeira e Controladoria Orientador: Prof. Mestre Mario Celso de Felippe Co-Orientador: Prof. Dr. Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira Taubaté SP 2003

2 CRISTIANO DIAS PIRES A GESTÃO AMBIENTAL E OS SEUS BENEFÍCIOS ECONÔMICO-FINANCEIROS UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ, TAUBATÉ, SP. Data: Resultado: COMISSÃO JULGADORA Prof. Mestre Mario Celso de Felippe - UNITAU Assinatura: Prof. Dr. Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira - UNITAU Assinatura: Prof. Mestre Norio Ishisaki-UNIP Assinatura:

Dedico este trabalho à minha esposa e filho, pela compreensão dos inúmeros momentos que não foi possível dedicarlhes atenção. 3

4 Agradecimentos Primeiramente a Deus, por dar-me a vida, saúde e coragem para ingressar na difícil busca por conhecimentos. Ao Prof. Mestre Mario Celso de Felippe, que aceitou o desafio de orientar e conduzirme com seus conhecimentos e paciência na formação de mais uma etapa da minha existência. Meu eterno agradecimento. Ao Prof. Dr. Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira que me deu a oportunidade de ingressar neste MBA, e me co-orientou na realização desta Monografia. Meu reconhecimento eterno. Um agradecimento especial à minha família que, mesmo não atuante, sempre me deu forças para continuar no caminho dos estudos e desta forma concluir mais uma etapa da minha formação. Este trabalho representa os esforços de pessoas que, direta ou indiretamente, muito contribuíram para a sua realização. A todos sou imensamente grato.

5 PIRES, Cristiano Dias. A Gestão Ambiental e os seus Benefícios Econômico- Financeiros. 2003. 65 p. Monografia (Especialização, MBA - Gerência Financeira e Controladoria) - Departamento de Economia, Contabilidade, Administração e Secretariado - ECASE, Universidade de Taubaté, Taubaté. Resumo A globalização da economia, a legislação ambiental e a conscientização da sociedade estão, atualmente, forçando as empresas a adotarem uma postura responsável perante o meio ambiente, ou seja, produzir sem degradar à natureza. Para isto, elas estão investindo na Gestão Ambiental de acordo com as normas da série ISO 14000. Com a Gestão Ambiental muitas empresas perceberam que esse investimento vai além das pressões externas e sim poderá trazer vários benefícios, pois o retorno na área ambiental pode ser maior do que outros investimentos. Através de três exemplos de empresas que investiram em projetos de proteção ambiental foi possível verificar que a sua TIR (Taxa Interna de Retorno) é superior a taxa Selic e a remuneração da poupança. Este é o objetivo desta pesquisa que pretende discutir a respeito da Gestão Ambiental e os seus benefícios econômico-financeiros para as empresas que nela investem. O trabalho foi desenvolvido através de uma pesquisa exploratória em revistas especializadas, periódicos, livros, internet e outras publicações relacionadas ao tema. Palavra chave: Gestão Ambiental, Benefícios Econômico-financeiros, Taxa Interna de Retorno.

6 PIRES, Cristiano Dias. The Environment Management and its Benefits Economic- Financial. 2003. 65 p. Monographic (Specialization, MBA Financiered Management and Controller) - Department of Economic, Accountability, Administration and Secretariat - ECASE, Universities in Taubaté, Taubaté. Abstract The globalization of the economy, the legislation and the society awareness are actually madding the companies to be more responsible for the environment so as to produce without degrades the nature. They are investing in environment management to agree with ISO 14000 rules. Many organizations realized that this investment would go throw external pressures and could bring out many benefits and also the return in this area could be bigger than other one. With three examples of companies that have invested in protecting environment projects was possible to verify that their TIR is higher than Selic tax and savings bank. This research has for objective to discuss about the environment management and its benefits economic-financial to the companies that has invested on it. The work was developed throw an explorer research on especial magazines, periodicals, books, Internet and others publications related to the theme. Keywords: Environment Management, Economic-Financial Benefits, Return Over Investment.

7 Sumário Resumo...5 Abstract...6 Sumário...7 Lista de Tabelas...8 Lista de Figuras...9 Lista de Quadros...10 1 - INTRODUÇÃO...11 2 - EVOLUÇÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL...17 2.1 - HISTÓRICO DAS RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA E MEIO AMBIENTE.19 2.2 - A POLÍTICA E A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA...20 2.3 A QUESTÃO AMBIENTAL: UM ENFOQUE ECONÔMICO...26 3 GESTÃO AMBIENTAL...28 3.1 - DEFINIÇÕES DA GESTÃO AMBIENTAL...32 3.2 - OBJETIVOS E FINALIDADES DA GESTÃO AMBIENTAL...33 3.3 - TAREFAS E ATRIBUIÇÕES DA GESTÃO AMBIENTAL...35 3.4 CERTIFICAÇÃO ISO 14000...36 3.5 SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA) ISO 14001...40 3.5.1 - O ATUAL ESTÁGIO DE CERTIFICAÇÃO SGA ISO-14001...43 4 - BENEFÍCIOS OBTIDOS COM A SGA ISO-14001...45 4.1 BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS...47 4.1.2 - AS INTITUIÇÕES FINANCEIRAS FRENTE A GESTÃO AMBIENTAL...49 4.1.3 - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS NA GESTÃO AMBIENTAL...52 4.1.3.1 - RECICLAGEM...52 4.1.3.2 - ÀGUA...53 4.1.3.3 NOVAS TECNOLOGIAS...54 4.1.3.4 - VANTAGENS COMPETITIVAS...55 4.1.3.5 - NOVOS MERCADOS...56 4.2 - O EXEMPLO DA VOLKSWAGEN...57 4.3 - O EXEMPLO DA BAHIA SUL...60 4.4 - O EXEMPLO DA CIA. IGUAÇU DE CAFÉ SOLUVEL...61 4.5 ANÁLISE DE DADOS...62 5 CONCLUSÃO...64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...66

8 Lista de Tabelas Tabela 1: Relação TIR x Selic...63

9 Lista de Figuras Figura 1: : Mudanças na Empresa através da conscientização Ambiental...29 Figura 2: Ciclo PDCA para o Sistema de Gestão Ambiental ISO-14001...41 Figura 3: Quantidade de certificações ISO-14001 na América Latina...44 Figura 4: Impacto Ambiental...48 Figura 5: Benefício da Prevenção...48

10 Lista de Quadros Quadro 1: Esquema simplificado da representação organizacional do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA)...22 Quadro 2: Benefícios da Gestão Ambiental...30 Quadro 3: : Lista de normas da série ISO-14000...39 Quadro 4: Os 17 elementos da ISO-14001...42

11 1 - INTRODUÇÃO Sabe-se que a gestão ambiental vem ganhando importância no meio empresarial. O desenvolvimento da consciência ecológica em diferentes camadas e setores da sociedade mundial acaba por envolver também o setor empresarial. Ainda assim, não se pode afirmar que todos os setores já estão conscientizados da importância da gestão dos recursos naturais. Entretanto, segundo alguns autores, existem indicativos de que tem crescido o nível de preocupação com as questões ambientais no setor empresarial brasileiro, mas a incorporação da variável ambiental por parte de alguns empresários ainda se limita às exigências da legislação relativa ao meio ambiente e da fiscalização do poder público. A introdução da variável ambiental na gestão das empresas tem estado sujeita ainda a muitos fatores de ordem política e conjuntural. Segundo alguns autores as contradições geradas pelos inúmeros desníveis da sociedade brasileira, bem como a imposta inserção no processo de globalização, faz da variável ambiental um fator determinante em alguns setores, mas não em outros (FARIA, 2000). Isto significa que alguns setores empresariais têm motivos mais determinantes para realizarem investimentos em gestão ambiental. Pode-se afirmar que a maior parte das empresas instaladas no Brasil, e ligadas ao mercado internacional, têm como demanda competitiva ou até mesmo de sobrevivência a adoção de algum tipo de gestão ambiental. E por terem razões mercadológicas mais fortes para investirem nessa área acabam sendo pioneiras. Uma vez que existem fatores conjunturais, macroeconômicos e políticos que determinam a adoção de Sistemas de Gestão Ambiental, seja de que espécie for, pelo segmento empresarial, a mudança destes fatores interfere no número de empresas que investem em gestão ambiental. Mas, ainda que alguns setores não estejam atentos às demandas do mercado, a tendência de maiores investimentos por parte do setor empresarial em gestão ambiental é dada pela própria conscientização crescente por parte de consumidores, governos, empresas, organizações não governamentais, ou seja, por parte de toda sociedade a respeito dessa questão. Muitas vezes os investimentos em gestão ambiental são direcionados por fatores competitivos, mas existem fatores diversos que determinam a realização de investimento em gestão ambiental por parte das empresas, dependendo de sua realidade.

12 O setor empresarial brasileiro despertou para importância e necessidade de produzir adequando-se à preservação ambiental, quando: Houve a criação de normas internacionais para a mensuração da qualidade ambiental, aliada à grande concorrência internacional exigindo a adequação ambiental das empresas multinacionais e de empresas exportadoras; Ocorreu uma modificação na legislação ambiental, que se tornou mais restritiva, ao mesmo tempo em que se intensificou a fiscalização; Tornou-se visível o grande mercado vinculado à proteção ambiental incluindo oportunidades de negócios como: produtos e equipamentos antipoluentes, equipamentos ligados a energias renováveis, equipamentos de saneamento básico, produtos rurais ligados à agricultura orgânica, setores que exportam para o primeiro mundo, reciclagem de materiais industriais e resíduos sólidos, entre outros (FARIA, 2000). Os investimentos em gestão ambiental são crescentes e os Sistemas de Gestão Ambiental são cada vez mais adotados por empresas nacionais e multinacionais. O número de organizações que já implantaram o sistema de Gestão Ambiental no Brasil vem aumentando principalmente com as certificadas pela Norma ISO14000. Existe, então, na realidade um macro investimento em gestão ambiental. Estes investimentos crescentes podem ser explicados por vários fatores, entre os quais pode-se citar: maior conscientização da sociedade exigindo uma postura responsável do setor produtivo; legislação mais restritiva; competitividade e novas oportunidades com a abertura de novos mercados. Na verdade o desenvolvimento da questão ambiental e da conscientização das pessoas a respeito da escassez de recursos naturais leva a uma maior preocupação com as questões ambientais. Assim, empresários e até mesmo investidores que antes viam a gestão ambiental como mais um fator de aumento de custos do processo produtivo, se deparam com vantagens competitivas e oportunidades econômicas de uma gestão responsável dos recursos naturais. Modelos econômicos, métodos e princípios em outras áreas têm sido desenvolvidos para que se possa realizar uma análise econômica do meio ambiente,

13 porém são ainda pouco empregados, mesmo quando se tem uma urgência em utilizá-los, quando existe a consciência de que o desenvolvimento econômico deve ser sustentável. A maior preocupação ambiental visualizada atualmente é conseqüência de problemas concreì Á9 ø äá

14 bjbjýïýïäêÿ Ÿ ÿö Ëÿÿÿÿ ÿÿl 888ÔüH whwhwx xì Á9 ø äá

15 bjbjýïýïäêÿ Ÿ ÿö Ëÿÿÿÿ ÿÿl 888ÔüH whwhwx xre crescente. A situação atual do nível de conservação dos recursos naturais e as previsões para o futuro próximo não são positivas. Organizações como a ONU já apontaram, diversas vezes, números a este respeito. Pode-se citar, por exemplo, dados relacionados às reservas de água do Planeta: Dentro de 25 anos, aproximadamente, um terço da população mundial enfrentará graves desabastecimentos de água informou a Organização das Nações Unidas (RIBEIRO, 2000). Mudanças são necessárias para que estas previsões não se efetuem. Ainda que as mudanças envolvam toda a sociedade, o setor produtivo tem em suas mãos grandes responsabilidades que com a maior conscientização dos consumidores, serão cada vez mais exigidas deste setor, seja através de leis ou de mecanismos do próprio mercado. Torna-se claro que a mudança de consciência é necessária para que as sociedades atuais atinjam um desenvolvimento sustentável, e a grande responsabilidade a respeito deste desenvolvimento se encontra nas mãos do setor produtivo. Para as empresas que estão iniciando, por motivos diversos, a inclusão da variável ambiental em suas atividades, através da Gestão Ambiental, persistem algumas dúvidas. Este trabalho tem por objetivo discutir a respeito da Gestão Ambiental nas empresas industriais e os seus benefícios econômico-financeiros. Pretende, também, responder a algumas indagações referentes à gestão ambiental, entre as quais pode-se citar: A gestão ambiental traz resultados econômicos positivos aos empresários que nela investem? Como os resultados dos investimentos em gestão ambiental podem ser percebidos? O trabalho partiu de uma pesquisa exploratória, buscando embasamento teórico na literatura especializada com o intuito de responder a seguinte questão: como as empresas estão investindo em gestão ambiental e quais os seus benefícios?

16 O primeiro capítulo aborda a introdução do trabalho, bem como a importância tema, o objetivo da pesquisa e a metodologia aplicada. No segundo capítulo se trata a respeito da questão ambiental, a política e legislação ambiental brasileira, como também se dá um enfoque econômico a questão. O terceiro capítulo se refere à discussão a respeito da Gestão Ambiental, e se aborda os seus conceitos, objetivos, atribuições e definições. Também estão sendo tratadas as normas ISO 14000 e o Sistema de Gestão Ambiental, bem como o número atual de empresas certificadas pela ISO 14001. No quarto capítulo o trabalho mostra os benefícios alcançados com os investimentos em gerenciamento ambiental, dentre os quais se destacam os benefícios econômico-financeiros. Neste capitulo também se analisa os dados obtidos através de exemplos de três empresas que obtiveram retornos através desses investimentos. E, finalmente, o quinto capítulo apresenta a conclusão do trabalho.

17 2 - EVOLUÇÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL A partir da revolução industrial, ampliaram-se as possibilidades para as demandas humanas por bens e serviços, ao mesmo tempo em que o seu atendimento foi acelerado. Houve, então, uma maior disputa por recursos ambientais, quer pela sua aplicação na transformação em bem de consumo, quer pela sua utilização como corpo receptor dos resíduos de industrialização. Isso, associado ao crescimento populacional, fez com que se acentuasse a percepção da escassez e, conseqüentemente, a geração de conflitos. Tal situação adquiriu relevância mundial principalmente na segunda metade do século 20. Até a década de 1950, a preocupação com os impactos ambientais causados pelas diferentes atividades humanas era manifestada em textos isolados de alguns cientistas. A partir da década de 1960 a questão ambiental começa a ser discutida de forma mais ampla por outros segmentos da sociedade através do surgimento de movimentos ambientalistas, divulgação de casos de poluição contínua e de acidentes ambientais, preocupação na busca da qualidade ambiental formalizada em políticas de países industrialmente avançados, entre outras. Em 1968, a Conferência sobre Biosfera, realizada em Paris, marcou o início da conscientização ambiental no mundo, assim como a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em junho de 1972, colocou a questão ambiental nas agendas oficiais de seus países participantes. Na Conferência de Estocolmo popularizou-se, então, a frase da primeira ministra da Índia, Indira Gandhi: A pobreza é a maior das poluições (BARBOSA, 2002). Foi nesse contexto que os países do hemisfério sul defenderam que a solução dos problemas relativos à poluição não era a de brecar o desenvolvimento para preservar o meio ambiente, bem como os recursos não-renováveis. As recomendações da Conferência sobre Biosfera foram tomadas por base para a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992. Os documentos resultantes da Rio 92 foram a Carta da Terra (rebatizada de Declaração do Rio) e a Agenda 21 (BARBOSA, 2002). A Declaração do Rio visa promover acordos internacionais que respeitem os interesses de todos, protejam a integridade do meio ambiente, principalmente, promova o desenvolvimento sustentável. A Agenda 21 procura discutir soluções para os problemas atuais a fim de preparar o mundo para o próximo século tendo por objetivos

18 frear o processo de degradação ambiental através da implementação de programas, ações, bem como transformar em realidade os princípios da Declaração do Rio. Mas, para a implantação das premissas da Agenda 21, é necessário o comprometimento e a responsabilidade das empresas, principalmente as transnacionais, como também, dos governantes dos países periféricos ou dominantes, desta forma, é necessário que todos participem. Uma das prioridades de qualquer organização, na atualidade, é a preservação do meio ambiente. Este compromisso está descrito na Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável aprovada no âmbito da Câmara de Comércio. A referida carta considera que as grandes organizações devem ser a força propulsora do desenvolvimento sustentável, assim como fonte da capacidade de gestão dos recursos técnicos, financeiros, objetivo comum entre desenvolvimento e preservação ambiental, tanto para o momento presente como para as gerações futuras. Em 2002 foi realizada uma nova reunião, a da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), sendo realizada em Johannesburgo, na África do Sul, entre 26 de agosto a 4 de setembro. Esta reunião, durante sessão especial da Assembléia Geral das Nações Unidas, percebeu existirem diversas lacunas nos resultados da Agenda 21 como também a necessidade de ratificar e implementar, de forma mais eficiente, as convenções, acordos internacionais referentes ao meio ambiente e o desenvolvimento, sobretudo em relação aos temas eqüidade social e a redução da pobreza. Teve por objetivo renovar compromissos políticos, revelar áreas da Agenda 21 que necessitavam de revisão e identificar novos problemas surgidos nos últimos 10 anos e, portanto, não previstos na Rio 92. Como resultados do processo negociador entre 193 países, obteve-se: Uma declaração política expressando novos compromissos e os rumos para a implementação do desenvolvimento sustentável; Um programa de ação, denominado Plano de Implementação, negociado para orientar a concretização dos compromissos assumidos pelos governos. O Plano de Implementação consiste num documento de 65 páginas, com o seguinte conteúdo temático:

19 I Introdução; II Erradicação da Pobreza; III Mudança de Padrões Insustentáveis de Produção e Consumo; IV Proteção e Gestão de Recursos Naturais com Base no Desenvolvimento Econômico e Social; V Desenvolvimento Sustentável no Mundo Globalizado; VI Saúde e Desenvolvimento Sustentável; VII Desenvolvimento Sustentável e Economias Menores; VIII Desenvolvimento Sustentável para a África; VII Outras Iniciativas Regionais; IX Meios de Implementação; e X Governança. Este conjunto de temas deu origem a um conjunto de 152 parágrafos de recomendações, sendo que nesta reunião foram elaborados planos e metas para que os países e suas empresas busquem um desenvolvimento econômico sem que haja uma destruição dos recursos naturais e assim o desenvolvimento sustentável se torne uma realidade. Alguns países já se adiantaram incentivando mudanças em seus produtos, serviços e processos produtivos, adequando-os às necessidades do meio ambiente. Desta forma, fica evidenciada a preocupação dos governantes, agentes econômicos, e da sociedade como um todo, em preservar o planeta em que vivem e dele tiram os recursos necessários para a sobrevivência. 2.1 - HISTÓRICO DAS RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA E MEIO AMBIENTE As constantes e múltiplas necessidades da humanidade são ilimitadas. Os bens da natureza são, por sua vez, limitados. A satisfação dessas necessidades e a disputa pelos bens da natureza definem a essência da questão ambiental que se intensifica gradativamente em relação à economia. A relativa abundância dos bens naturais, incluídos os mais básicos, como a água, o ar e o solo adiou por bastante tempo a noção de sua limitação. Quando os recursos são limitados, o problema da conciliação do interesse individual com o interesse coletivo fica salientado. O mesmo acontece no plano internacional, em relação a interesses nacionais e interesses de todos os Estados. Desde a revolução industrial até os anos 90 estes interesses foram marcados por revisões, avaliações do desempenho ambiental das

20 organizações e a introdução dos conceitos de auditoria ambiental, sistema de gestão ambiental e certificação. Segundo BORGER (apud FARIA, 2000): A teoria da economia do desenvolvimento e o meio ambiente foram elaboradas nos últimos 20 anos por vários economistas, como Baumol e Oates (The Theory of Environmental Policy, 1985), Pearce (Environmental Economics, 1976). Eles atualizaram as contribuições históricas realizadas desde o início do século, como o conceito de economias externas, por Marshall; o conceito de poluição como externalidade desenvolvido por Arthur Pigou, na década de 20; os estudos analíticos sobre a depreciação das reservas de carvão e metal como recursos exauríveis, e também a análise acerca dos limites do crescimento e a consciência de que o crescimento econômico não traz somente bem-estar, já que a industrialização afeta a qualidade de vida das pessoas, preocupação levantada por John Stuart Mill em 1900. Entre as causas da degradação ambiental estão as distorções econômicas decorrentes da não incorporação dos valores ambientais nas decisões econômicas. A avaliação econômica do meio ambiente surgiu com o propósito de incorporar os custos e benefícios proporcionados por ele, para que o preço de mercado reflita a escassez real de um bem e, também, para compreender os custos e benefícios dos projetos, obter uma melhor alocação dos recursos disponíveis e demonstrar que o meio ambiente é importante para a economia e o bem-estar das pessoas (BORGER, apud FARIA, 2000). Neste contexto econômico, a gestão ambiental foi se impondo gradativamente, procurando conciliar a demanda de recursos ambientais e a sua conservação. No Brasil, sua evolução é função não só dos momentos políticos nacionais, como também das manifestações internacionais (governamentais, técnicas e empresariais) com relação ao meio ambiente. 2.2 - A POLÍTICA E A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA A Política Nacional e a legislação do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação estão dispostos em lei específica, (lei federal no 6.938/81 e regulamento no decreto no 88.351/83 com alteração no decreto 99274/90). Ela tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando a assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

21 Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; Controle e zoneamento das atividades, potencial ou efetivamente poluidoras; Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; Acompanhamento do estado da qualidade ambiental; Recuperação de áreas degradadas; Proteção de áreas ameaçadas de degradação; e Educação ambiental em todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente. Como mecanismo de formulação da Política Nacional de Meio Ambiente, a lei 6.938/81 constituiu o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), instância decisória colegiada, presidida pelo Ministro de Estado do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA) e integrada por representantes dos demais Ministérios Setoriais, Governos Estaduais, Distrito Federal, Confederações Nacionais de Trabalhadores na Indústria, no Comércio e na Agricultura, dentre outros. Para aplicação da política, instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), composto pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e pelas fundações, instituídas pelo Poder Público, responsável pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, tendo como seu Órgão Superior o Conselho Nacional do Meio Ambiente. A partir de alterações introduzidas pela lei 8028/90, foi estabelecida a estrutura de funcionamento do Sistema Nacional de Meio Ambiente de acordo com as seguintes definições: Órgão Superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República, na formulação da política nacional;

22 Órgão Consultivo e Deliberativo: o Conselho Nacional de Meio Ambiente, com a finalidade de assessorar, estudar e propor, ao conselho de governo, diretrizes para a política e deliberar sobre normas e padrões; Órgão Central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República (SEMAM); com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), com a finalidade de executar e fazer executar, as políticas ambientais; Órgãos Setoriais: órgãos da administração federal direta e indireta com atividades associadas a proteção ambiental ou ao disciplinamento do uso de recursos naturais; Órgãos Seccionais: órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e controle do meio ambiente; e Órgãos Locais: órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização destas atividades em suas jurisdição. Pode-se ilustrar melhor a estrutura do SISNAMA com seus órgãos deliberativos (Conselhos) e Executivos (Fundações ou empresas públicas) nos níveis Federal e Estadual pelo Quadro 1, utilizando como exemplo o Estado de Minas Gerais. Quadro 1: Esquema simplificado da representação organizacional do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) ÓRGÃOS NÍVEL FEDERAL NÍVEL ESTADUAL -GERENCIADORES OU COORDENADORES Ministério do Meio Ambiente Secretaria Estadual de Meio Ambiente -CONSULTIVOS E DELIBERATIVOS -EXECUTIVOS Fonte: SANTOS, 2001 CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) COPAM (Conselho Estadual de Política Ambiental) FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente) Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a regionalização das medidas emanadas do SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e complementares, compreendendo fixação de parâmetros de emissão, ejeção e emanação de agentes poluidores, observada a legislação federal.

23 São considerados como instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente: o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; o zoneamento ambiental; a avaliação de impactos ambientais; o licenciamento e as revisões de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras; os incentivos à produção e instalações de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia; a implantação de reservas, parques ecológicos e áreas de proteção ambiental pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal; o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; o cadastro técnico federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental; e as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. Em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, introduziu-se, pela primeira vez na história do País, um capítulo específico sobre meio ambiente, considerando-o como um bem comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo ao Poder Público e à coletividade o dever de preservá-lo para as gerações presentes e futuras. A Constituição Federal de 1988 também cita em seu artigo 225 que incumbe ao Poder Público exigir, na forma da lei, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dar publicidade, para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente. Os Estados têm competência para legislar sobre a matéria desde que limitada às normas gerais estabelecidas no plano federal, quando estas existirem. Desta forma, cada Estado tem sua legislação ambiental, compatível com a federal, a partir de sua própria Constituição estadual. A avaliação de impacto ambiental constitui um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, que instituiu no quadro da legislação ambiental brasileira a obrigatoriedade de realização de estudos prévios objetivando compatibilizar o desenvolvimento de atividades econômicas ou sociais com a proteção do meio ambiente. Assim, a construção, instalação, ampliação e funcionamento de atividades que utilizam recursos ambientais, bem como aquelas potencialmente poluidoras ou capazes de causar qualquer degradação ambiental passam a depender do licenciamento do órgão público competente, concedido mediante apresentação e aprovação de EIA (Estudos de Impacto Ambiental) e respectivo RIMA (Relatório de Impacto Ambiental). Esta matéria

24 foi regulamentada somente em 1986 através da Resolução 01 do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Em decorrência da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 1992) foi criada, por decreto presidencial, a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 (CPDS), tendo como principais objetivos promover a compatibilização entre os principais capítulos e programas da Agenda 21 e assessorar o Presidente da República na tomada de decisões sobre as estratégias e políticas nacionais necessárias ao desenvolvimento sustentável, de acordo com a Agenda, e coordenar o processo de elaboração e implementação da Agenda 21 Brasileira. Para o Ministério das Relações Exteriores, no Brasil, a questão ambiental está mudando de patamar, ultrapassando a sua fase heróica e resistente, quando o meio ambiente e o desenvolvimento econômico eram tidos como adversários. Nesse sentido, a internalização dos atuais conceitos de desenvolvimento sustentado iniciou um novo ciclo, baseado na formulação e na implantação de políticas ambientais, assim como na busca da negociação e do entendimento entre a preservação ambiental e os processos de produção. Entretanto, cabe lembrar que, a par de um quadro legal e institucional relativamente moderno, há um aspecto que merece atenção no meio social e empresarial. Trata-se da tendência do governo tornar obrigatória por meio de diplomas legais, as normas técnicas ou instrumentos de gestão ambiental que atualmente são voluntários, como no caso de auditorias, rotulagens, certificações, entre outros. A própria origem e a finalidade das normas técnicas, quais sejam, as regras de mercado e a necessidade de atendimento a exigências do consumidor, vão contra mecanismos impostos que geram procedimentos burocráticos, aumentam prazos e custos e inviabilizam as pequenas e médias empresas exportadoras. O licenciamento ambiental definido pela Lei 6.938 de 1981 constitui-se importante requisito legal para o setor industrial. Segundo esta lei aquelas atividades cujo potencial poluidor não é considerado desprezível (segundo critérios estabelecidos pelos órgãos estaduais responsáveis) são objeto de Licença Ambiental, fornecida pelos órgãos estaduais do meio ambiente ou pelo IBAMA. A resolução do CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1.997 estabelece em seu art. 2 º parágrafo 1º os empreendimentos e atividades sujeitas ao licenciamento ambiental.