CRIAÇÃO MANUAL DE FILHOTES DE CORUJA SUINDARA (Tyto furcata) NO SERVIÇO DE ATENDIMENTO A ANIMAIS SELVAGENS SAAS/UNICENTRO Área Temática: Meio Ambiente Autores: Gislane de Almeida 1 (UNICENTRO), Pamela Rafhaela de Paula Bryk 2 (PIBEX Fundação Araucária), João Gustavo Simão 3 (UNICENTRO), Maria Eduarda Galvan 4 (UNICENTRO), Roberta dos Anjos Marcondes 5 (UNICENTRO), Rodrigo Antonio Martins de Souza 6 (UNICENTRO), Adriano Torres de Oliveira Carrasco 7 (Orientador). RESUMO: O presente estudo relata o caso de dois filhotes de corujas suindara (Tyto furcata) recebidos pelo Serviço de Atendimento a Animais Selvagens- SAAS da UNICENTRO no projeto de extensão universitária. Foram realizados os cuidados básicos diários, fornecida alimentação correta, acompanhamento de ganho de massa corpórea e preparo dos animais para soltura. Após aproximadamente três meses os animais puderam ser reintroduzidos na natureza. É de suma importância o atendimento a animais selvagens prestados à população, visto que há demanda e necessidade desse tipo serviço. PALAVRAS-CHAVE: aves; fauna; manejo alimentar. 1. INTRODUÇÃO O Serviço de Atendimento a Animais Selvagens (SAAS - UNICENTRO) foi inaugurado em 2006 com o intuito de prestar atendimento médico veterinário aos animais que são encaminhados via IAP (Instituto Ambiental do Paraná) SESA (Secretaria de Saúde do Estado do Paraná) e Força Verde (Polícia Ambiental do Paraná). Os animais chegam quase sempre debilitados e precisam de um período de recuperação e adaptação ao cativeiro relativamente longo. Ademais, o atendimento emergencial e o acompanhamento da recuperação se faz necessário para que os animais tenham uma chance maior de sobreviverem a um evento estressor, e que possa ter um destino correto, na tentativa de reabilitá-los a natureza ou introduzi-los em programas de reprodução. 1 Pós-graduanda do Programa de Aprimoramento em Medicina Veterinária da UNICENTRO-PR. gislanealmeida@hotmail.com 2 Acadêmica do Terceiro ano do curso de graduação em Medicina Veterinária da UNICENTRO-PR. brykpamela@gmail.com 3 joaogustavosimao1997@gmail.com 4 dudagalvan@yahoo.com.br 5 Acadêmica do Quarto ano do curso de graduação em Medicina Veterinária da UNICENTRO-PR. roberta.dos.anjos@hotmail.com 6 rodrigo.unicentro@gmail.com 7 Professor do Departamento de Medicina Veterinária da UNICENTRO-PR. adriano.carrasco@gmail.com
O SAAS possui um papel muito importante na recuperação destes animais que sofreram com a perda de habitat de áreas de crescimento urbano e também de animais de comércio ilegal. Dentre os animais silvestres que sofrem diretamente com estes impactos em seu meio ambiente, as aves são as grandes afetadas. A situação se agrava quando percebemos que a destruição do ambiente é mais acelerada que o avanço dos estudos sobre biologia e ecologia in situ ou sobre a reprodução em cativeiro das espécies, o que nos gera preocupações, pois, é possível reduzir tanto essa área que não seja mais possível reintroduzir animais (PRIMACK; RODRIGUES, 2001). Dentre as aves, algumas possuem como hábito alimentar a ingestão de proteína de origem animal. Neste grupo, encontramos os rapinantes, os quais pertencem à ordem Strigiforme. São representadas pelas corujas, mochos e caburés, sendo que estas apresentam hábito preferencialmente noturno. Esses animais podem ser encontrados em cativeiros ou em vida livre e as afecções mais comuns de serem encontradas pelos Médicos Veterinários da área são traumas, aves debilitadas e os filhotes órfãos (JOPPERT, 2014). Quando a população encontra filhotes órfãos, necessitam de um local habilitado para o encaminhamento desses animais para os devidos cuidados especializados. O Serviço de Atendimento a Animais Selvagens- SAAS da UNICENTRO disponibiliza para o público esse serviço além dos cuidados clínico/cirúrgico com animais selvagens no geral. 2. MATERIAL E MÉTODOS No dia 21 de novembro de 2015 foram entregues ao Batalhão de Polícia Ambiental do Paraná, duas filhotes de corujas suindara (Tyto furcata) que haviam sofrido uma queda do ninho próximo a uma propriedade em Guarapuava-PR. Quem as entregou relatou que os pais não retornaram para alimentá-las, nesse caso não teriam condições de sobrevirem sozinhas. Elas receberam, inicialmente, terapia de suporte e alimentação forçada com carne bovina mais carbonato de cálcio. Entretanto, foram perdendo peso devido à adaptação e estresse de manter-se em cativeiro. As corujas foram alojadas em recinto forrado com feno, onde era trocado todos os dias. Na primeira semana permaneceram juntas, mas pelo fato de começarem a bicar uma a outra foi necessário separá-las de recinto. Desde o primeiro dia em que os animais chegaram foram feitas pesagens para o acompanhamento de ganho de massa corpórea diária com o intuito de averiguar se o tanto de alimento ofertado estava suprindo suas necessidades. No momento da chegada a coruja 1 pesou 350 gramas e a coruja 2 pesou 250 gramas. Após uma semana de utilização de alimentação forçada com carne bovina, foi introduzido o fornecimento de presas vivas, uma pela manhã e uma à tarde, objetivando que o animal tivesse seus instintos de predadores ativados e, a partir deste momento, pudessem ser reintroduzidos em vida livre posteriormente. Com esta metodologia, os animais começaram a apresentar um desenvolvimento satisfatório, ganharam peso e retomaram seus instintos de predadores. Duas vezes na semana os animais eram soltos no ambulatório para treinarem voo tendo em vista uma possível soltura. Ainda, esses animais tinham o mínimo de contato com pessoas ou outros animais a fim de evitar acostumar-se com estes e serem presas fáceis ou sofrerem maus tratos na natureza.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO É de grande valia o atendimento especializado desses pacientes, pois é preciso ter o conhecimento de suas necessidades fisiológicas para manutenção da vida. Ainda, por se tratar de animais selvagens, podem oferecer riscos à saúde pública, nessa questão a importância das pessoas no geral não tratá-los em seus domicílios. Na Figura 1 são apresentados os dados com relação às pesagens durante o período de permanência no SAAS, até o momento da soltura. E na Figura 2 apresenta os animais em seu segundo dia após a sua chegada ao SAAS. É possível notar que elas eram animais jovens, atentando que ainda não apresentavam penas, apenas uma plumagem característica de filhotes. Já a Figura 3 mostra a uma das corujas, uma semana antes da soltura em seu habitat. É perceptível que o animal se encontra com agressividade de um animal de vida livre e com empenamento típico de um animal adulto da sua espécie. Figura 1 Representação gráfica do ganho de massa corpórea em gramas com relação há dias intercalados dos filhotes de coruja suindara (Tyto furcata) No dia 16 de fevereiro de 2016 as duas corujas já se apresentavam com empenamento completo, adquiriram uma considerável massa corpórea, sendo que neste dia a coruja 1 pesou 496 gramas, com um ganho de 146 gramas desde a chegada ao SAAS e a coruja 2 pesou 375 gramas, com um ganho de 125 gramas no período de criação manual. Encontravam-se ativas, responsivas a estímulos inclusive de caça, voando e com comportamento de animais de vida livre. Esses animais foram considerados aptos para a soltura e foram reintroduzidas nesse dia no habitat pela Polícia Ambiental do Paraná.
Figura 2 Exemplares de corujas suindara (Tyto furcata), no segundo dia após o recebimento no SAAS/UNCENTRO. Figura 3 Exemplar de coruja suindara (Tyto furcata), no ambulatório do SAAS- UNICENTRO, na semana anterior a soltura.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através do cuidado intensivo dos filhotes, suprindo suas necessidades fisiológicas foi possível com sucesso reintroduzi-los na natureza. Os serviços de atendimentos a animais selvagens prestados a comunidade por intermédio do SAAS-UNICENTRO demonstram serem de extrema importância, pois asseguram sempre que possível o tratamento e destino correto dos animais, tendo em vista o bem-estar animal e da população. REFERÊNCIAS ELABRAS, R. B. Operações de repressão aos crimes ambientais: procedimentos e resultados. In: GIOVANINI, D. Animais silvestres. p. 75-88, 2002. JOPPERT, A. M. Accipitriformes, Falconiformes e Strigiformes (Gaviões, Águias, Falcões e Corujas). In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens: Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2014. p. 893, 894. PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da Conservação. Londrina: E. Rodrigues, 2001.