O conceito de espírito como a esfera autorreferente do indivíduo Um momento da noção hegeliana de subjetividade



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Transcrição:

O conceito de espírito como a esfera autorreferente do indivíduo Um momento da noção hegeliana de subjetividade Fábio C. Malaguti, M.A., doutorando ( Centro de Pesquisa de Filosofia Clássica Alemã Ruhr-Universität Bochum; GT Hegel) *Resumo: O indivíduo concreto é espírito. Na filosofia do espírito subjetivo, especificamente na seção Psicologia, investiga-se como o objeto dessa disciplina o eu, a inteligência determina-se como um dos momentos do espírito. O objeto do artigo não é, porém, o eu ou inteligência em sua inteireza, mas retém-se à esfera na qual considerações sobre o indivíduo concreto, no âmbito determinado da subjetividade do espírito, tornam-se possíveis. *Palavras-chave: espírito; eu; inteligência; autorreferência; subjetividade. A constelação cultural que constitui o pensamento clássico alemão move-se nao exclusivamente, mas decisivamente na reelaboração do conceito de subjetividade. A investigação aqui realizada localiza-se nessa reelaboração, focando-se no sistema de Hegel. A noção de subjetividade possui aí mais de um sentido. Eles sao observados nos diferentes momentos do sistema. O presente trabalho concentra-se, porém, no exposto na Filosofia do Espírito Subjetivo, mais especificamente na Psicologia, porque seu objetivo é delinear os principais argumentos relativos à uma esfera do indivíduo concreto, que fosse só a ele acessível. Tal ideia parece fora de lugar em um texto, cuja análise foca-se no sistema hegeliano. Contrariando a essa impressao, que, desejo, permanecerá somente uma primeira impressao, gostaria de questionar o estatuto do mentalmente privado no contexto da teoria especulativa da Psicologia, melhor dito, da Filosofia do Espírito. Questionar isso implica examinar a concepcao mesma de subjetividade que Hegel tem e o papel que a singularidade desempenha. No que concerne ao interesse desta investigação, destacam-se duas categorias do pensamento: a autorreferencialidade e a interioridade. Nao por acaso sao elas características da

subjetividade. No sistema de Hegel, contudo, essas qualidades nao estao remetidas somente à subjetividade, se isso é entendido como uma esfera só, isolada, interna e avessa à verdade; se ela é só entendida, seja em termos de linguagem, seja em termos de matéria cinzenta e sinapses. Nao é exclusividade por parte da especulacao hegeliana almejar, construir e efetivar uma compreensão da subjetividade que ultrapasse, que suprassuma os limites comportados de um pensar estanque e dual. Identifica-se tal pulsao na Filosofia Clássica Alemã como um todo. No que toca ao sistema hegeliano, entretanto, tais traços idealistas assumem proporções absolutas. Apreciando os escritos de juventude e principalmente os de Jena pode-se observar tensão experienciada por Hegel, no que se relaciona à busca de uma concepção de razão e sistema que superasse àquelas de Fichte e Schelling, consideradas por Hegel como as mais próximas ao verdadeiro idealismo. Destacadamente, nos dois esboços de sistema, a saber, no manuscrito de 1803/04 e 1804/05, Hegel esforça-se para encontrar uma solução para os impasses relativos à abstracao do princípio de identidade fichte-schellinguiano; problema este que toca na questão da contradição, na reformulação da Lógica e sua relação com a Metafísica, e na reformulação do conceito de absoluto. Nos manuscritos sobre Lógica e Metafísica de 1804/05, Hegel torna-se capaz de consistentemente esbocar pela primeira uma teoria, na qual as deficiências experimentadas até então, encontrassem uma solução. O novo estado de coisas, que nesse semestre de inverno incipientemente configura-se, encarna-se em um conceito: o conceito de espírito. No manuscrito sobre Metafísica, no qual o conceito fichte-schellinguiano de eu é criticado, Hegel argumenta que somente a partir de um conceito cuja necessidade não resida na separação e no isolamento do ser e do pensamento, categorias analisadas na respectiva Lógica desse semestre, mas sim que se constitua como articulação ainda não imanente em sua completude, tal como apresentado no sistema maduro destes extremos. Em torno do conceito de autorreferencialidade: Faz-se necessário um conceito que dê conta da totalidade da razão, se o investimento filosófico feito é o de pensar imanente e holisticamente; e é elaborando o conceito de espírito que tal investimento é passível de concretização. Sobre o conceito de interioridade: Diante da aposta pela imanência que caracteriza os sistemas idealistas em questão, a diferença entre o exterior e o interior ganha outros contornos. Hegelianamente, tal cisão nao é somente negada, como também afirmada. Sinal disso é, já no contexto do sistema maduro, a divisão organizacional entre Lógica Objetiva e Lógica

Subjetiva, tal como àquela entre Filosofia do Espírito Subjetivo e Filosofia do Espírito Objetivo. Que as disciplinas do sistema não se reduzam a estas duas esferas Subjetividade e Objetividade, dando ainda ensejo às esferas do absoluto, divisao tripartite que na Metafísica da Subjetividade de 1804/05 já se faz presente, indica que uma fixação em exlusivamente um momento da razao é especulativamente fraco, permanecendo nos níveis de um idealismo subjetivo ou objetivo. 1 O conceito de espírito é, porém, absoluto e, sendo-o, não encontra mais a negatividade e a diferenca fora de si, como um não-eu e um choque, mas abarca-as como partes de si mesmo. 2 Na Ciência da Lógica, instância na qual o espírito encontra-se como pura forma, como conceito e ideia, tanto o movimento da autorreferência quanto a instância da interioridade ocupam um lugar de destaque. A experiência que o pensamento a ideia tem (é) na Ciência da Lógica possibilita compreender o objeto, a substância mesma desta idaia: ela mesma. A enunciação de uma metafísica da subjetividade já preconizava, com a afirmação ainda para nós, para empregar a dualidade dialética que a partir do terceiro esboço do sistema em 1805/06 se sobressai e que na Fenomenologia do espírito vem a desempenhar um importante papel na própria formação da exposição da absolutidade do espírito, que a solução para o desenvolvimento de uma teoria especulativa da razão com outros acentos para as noções de objetividade e subjetividade encontra-se na imanência da substância, com o diferencial de que a substância é semovente, o que implica dizer, pelo menos aos olhos de Hegel, que a substância é sujeito: espírito. Como atividade desta substância, o conceito de espírito de 1804/05 ainda exposto formalmente terá de se articular de uma tal forma, que se compreenda como absoluto; absolutamente imanente. O desenvolvimento deste conceito é a tarefa do terceiro ciclo de escrito em Jena (1805/06), no qual traços do que vem a ser a Fenomenonologia do espírito já podem ser vistos. Por meio da retomada do exame e elaboração do conceito de consciência, procura-se compreender como um conceito como o de espírito pode mover-se em um plano de onde ele nao decole, ou seja, onde o regresso ao infinito da cadeia lógica da necessidade seja evitado e, em conexão com isso, onde a autorreferencialidade seja possível, sem incorrer em impossibilidades lógicas o que é o caso, já que nesse momento ainda falta a Hegel elementos que lhe permitam configurar um sistema lógica que dê conta de tais contradições. 1 Ver Differenz-Schrift. 2 O lugar da natureza no sistema de Hegel nao é investigada no presente texto, porém deve-se deixar indicado que ela para o espírito nao está fora do absoluto.

É apenas na Ciência da Lógica que os instrumentos para uma lógica especulativa nos moldes daquela Metafísica da Subjetividade tornam-se finalmente disponíveis. Com o desenvolvimento desta lógica, o pensamento move-se de forma auto-suficiente, contendo em si sua própria auto-diferenciação, a partir da força do negativo. A autorreferencialidade da razão é construída na especulação. Ela o faz, na medida em que construir já é desenvolverse, desdobrar-se. Tanto a teoria do conceito quanto a da ideia são dois momentos previlegiados na Ciência da Lógica para conferir o método desenvolvido por Hegel para lidar com as contradições as quais são para o entendimento pura negatividade e o choque do negativo. A razao demanda o trabalho do negativo, a fim de encontrar a desejada compleicao do pensamento e a instauração de um sistema livre, ou seja, um sistema que nao dependa de elementos exteriores a ele para se realizar. A esfera da interiodade equivale na lógica especulativa à totalidade mesma do que a configura. Tal interioridade se transforma em outra, de acordo com a relação na qual ela está inserida. Se a Doutrina do Ser e a Doutrina da Essência formam a Lógica Objetiva e a Doutrina do Conceito a Lógica Subjetiva, essa mesma Lógica Subjetiva desdobra-se em instâncias objetivas e subjetivas. Da mesma forma, ao contemplar o sistema como um todo, a Lógica pode ser interpretada como a subjetividade, enquanto a Filosofia da Natureza pode ser considerada o objetivo; ou seja, um limite do que seja objetivo e subjetivo não é dado de uma vez por todas. A estrutura da Lógica indica, porém, que a subjetividade encontra-se em um nível mais elevado do que a objetividade, na medida em que o que é, o é para mim. Este ser para mim, no entanto, é inteiramente dependente da objetividade, que oferece as determinacoes lógicas que elaboradas engendram as determinacoes da subjetividade. Um lugar subjetivo por excelência, quer dizer, uma instância na qual a experiência subjetiva esteja elevada à última potência, prescendindo de toda objetividade é sim um momento dialético: um momento de negatividade absoluta. Tal momento é, no entanto, transformado posteriormente, e a negatividade absoluta vem a ser outra coisa. Interioridade como sinônimo de subjetividade pode ser uma ideia ainda sustentada, mas para logo ser substituída pela maturação mesma do interior, que vem, entao, a ser exteriorizado para ser novamente interiorizado. Na Filosofia do Espírito, a dicotomia entre subjetividade e objetividade é novamente apresentada para ser suprassumida no absoluto da especulação. A disciplina especulativa da

Psicologia, que pertence à subjetividade do espírito, dedica-se ao exame do conceito de eu ou inteligência. Como aí o movimento de autorreferencialidade se nutre e que estatuto a esfera da interioridade tem, é o objeto da investigação daqui por diante. Bibliografia: FICHTE, J.G. (1794 1795) Grundlage der gesammten Wissenschaftslehre. -----. (1796-1797) Grundlage des Naturrechts nach Principien der Wissenschaftslehre. HEGEL, G.W.F. Gesammelte Werke. FULDA, H.F. (2003) Hegel. München: Beck'sche Reihe: Denker. HORSTMANN, R.-P. (1968) Hegels vorphänomenologische Entwürfe zu einer Philosophie der Subjektivität in Beziehung auf die Kritik an den Prinzipien der Reflexionsphilosophie. Diss. Heidelberg. -----. (1980) Kritische Darstellung der Metaphysik. Eine Diskussion zu Hegels 'Logik'. (Zusammen mit H.F. Fulda und M. Theunissen). Frankfurt. -----. (1984) Ontologie und Relationen. Hegel, Bradley, Russell und die Kontroverse über interne und externe Beziehungen. Königstein/Ts. -----. (1990) Wahrheit aus dem Begriff. Eine Einführung in Hegel. Frankfurt. -----. (2004) Die Grenzen der Vernunft. Eine Untersuchung zu Zielen und Motiven des Deutschen Idealismus. Frankfurt. JACOBI, F.H. (1819) Über die Lehre des Spinoza in Briefen an den Herrn Moses Mendelssohn. Breslau. JAESCHKE, W. (2003) Hegel-Handbuch. Leben - Werk - Wirkung. Stuttgart: J.B. Metzler. JAESCHKE, W.; Arndt, A. (2012) Die Klassische Deutsche Philosophie nach Kant, C.H. Beck. QUANTE, M. (2011) Die Wirklichkeit des Geistes - Studien zu Hegel. Suhrkamp. SCHELLING, F.W.J. (1795) Vom Ich als Princip der Philosophie oder über das Unbedingte im menschlichen Wissen.

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