ser feliz É TUDO QUE SE QUER (ideias sobre o bem viver) Filosofia para ler no parque, no ônibus, na cama, na rede

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Transcrição:

ser feliz É TUDO QUE SE QUER (ideias sobre o bem viver) Filosofia para ler no parque, no ônibus, na cama, na rede

Juremir Machado da Silva ser feliz É TUDO QUE SE QUER (ideias sobre o bem viver) Filosofia para ler no parque, no ônibus, na cama, na rede

Copyright Juremir Machado da Silva, 2019 Capa: Like Conteúdo Editoração: Vânia Möller Revisão: Vânia Möller Editor: Luis Antonio Paim Gomes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Bibliotecária Responsável: Denise Mari de Andrade Souza CRB 10/960 S586s Silva, Juremir Machado da. Ser feliz é tudo que se quer (ideias sobreo bem viver): filosofia para ler no parque, no ônibus, na cama, na rede / Juremir Machado da Silva Porto Alegre: Sulina, 2019. 159 p. ISBN: 978-85-205-0838-1 1. Literatura Brasileira Crônicas. 2. Crônicas Brasileiras. I. Título. CDU: 869.0(81)-34 CDD: B869.4 Todos os direitos desta edição reservados à Editora Meridional Ltda. Rua Leopoldo Bier, 644, 4 andar Santana CEP: 90620-100 Porto Alegre, RS Brasil Tel: (0xx51) 3110-9801 www.editorasulina.com.br e-mail: sulina@editorasulina.com.br [ Janeiro/2019] IMPRESSO NO BRASIL/PRINTED IN BRAZIL

Sumário Ser feliz é tudo que se quer / 7 Confúcio, disciplina o teu comportamento / 9 Sócrates, conhece-te a ti mesmo / 13 Platão, usa a tua razão / 19 Aristóteles, busca o êxito / 23 Pirro, Epicuro, Zenão, tranquiliza a tua alma, domina os teus instintos e não corras atrás de todos os teus desejos / 27 Diógenes, ser livre como um vira-latas / 31 Sêneca, Cícero e Marco Aurélio, saiba envelhecer, ou sofro, logo existo? / 35 Santo Agostinho, crê e serás feliz / 40 Pascal, cuidado com a vaidade / 46 La Rochefoucauld, domina o teu orgulho / 52 Nicolas Chamfort, mantém os pés no chão / 56 La Bruyère, torna-te necessário / 59 Jean-Jacques Rousseau, viver naturalmente / 63 Jeremy Bentham, felicidade se calcula / 67 John Stuart Mill, tenta ser útil e livre / 71 Kant, ousa saber / 75

Arthur Schopenhaeur, enfrenta as dores do mundo / 79 Nietzsche, torna-te quem tu és / 83 Henry David Thoreau, busca os prazeres da natureza / 87 Emerson, segue os teus valores / 91 Søren Kierkegaard, aprende com tua angústia / 95 Alain, a felicidade em pedaços / 99 Martin Heidegger, a essência da felicidade / 103 Johan Huizinga, nunca deixes de brincar / 108 Cioran, descobre as virtudes da indiferença / 112 Bertrand Russel, felicidade se conquista / 116 Jean-Paul Sartre, faz a ti mesmo / 120 Albert Camus, uma atitude existencial / 124 Guy Debord, faz da tua vida uma obra de arte / 128 Edgar Morin, descobre a beleza da generosidade / 132 Jean-François Lyotard e Paul Feyerabend, vive e deixa viver / 136 Jean Baudrillard, não te tornes um objeto de consumo / 141 Zygmunt Bauman, a felicidade líquida / 145 Michel Maffesoli, o ideal da convivência / 149 Gilles Lipovetsky, paradoxos da felicidade / 153 O que é a felicidade? / 157

Ser feliz é tudo que se quer Você só quer ser feliz. Por que não? É seu direito. Houve um tempo em que não era assim. Antes de ser feliz, o importante era cumprir o seu dever. Ou simplesmente sobreviver. Como pensar em felicidade quando se tinha de trabalhar 16 horas por dia para realizar a acumulação primitiva do capital dos donos das fábricas? A humanidade já se pautou pelo sacrifício, pelo dever, por ideologias e outras ficções desse tipo. Cada época com o seu imaginário. O imaginário é uma ficção coletiva vivida como uma realidade objetiva. Morrer pela pátria ou por uma causa era uma honra. Quantos estrebucharam em guerras loucas e genocidas em nome do civismo? Ser feliz, como diz a música de Kleiton e Kledir, é tudo que se quer. Os filósofos, ao longo dos séculos, antes de serem esterilizados por normas acadêmicas e obrigações de produtividade quantitativa, tratavam era disso, do bem viver, do belo, do bem, do verdadeiro, da felicidade, do cotidiano, dos dilemas éticos e morais. Ser feliz já foi utopia. Tornou-se meta. Virou obsessão. A felicidade pode doer. Onde ela está? No conhecimento? No ser? No ter? No parecer? Na religião? Na liberdade? Na realização ou na negação dos desejos? No autocontrole? No pensamento positivo? Na autoconfiança? Como alcançá-la? De que é feita? Qual o seu tempo de duração? Pode-se ser feliz sempre? Qual o preço da felicidade? 7

Ousemos: o principal tema da filosofia é a felicidade. Kant perguntou: o que podemos saber? O que devemos fazer? O que temos direito de esperar? O que é o homem? Cabe acrescentar: o que é a felicidade? Nenhuma questão é tão importante atualmente quanto esta. A vida é curta. Mas, na infelicidade, pode ser longa. O que podemos saber sobre a felicidade? O que devemos fazer pela felicidade? O que temos direito de esperar em termos de felicidade? O que significa o homem feliz? Uma filosofia digna desse nome deve impor a questão da felicidade como uma ética. A história da humanidade tem sido a história da luta entre duas classes antagônicas e complementares, a dos felizes e a dos infelizes. Podemos sonhar com a utopia de uma sociedade com felicidade para todos em algum momento? Na maior parte do tempo? Quais podem ser os obstáculos à felicidade geral? A doença? A morte? O amor não correspondido? A dor? A sociedade de consumo tem oferecido a compra e posse de objetos e de bens imateriais como parâmetro de felicidade. Ser feliz seria consumir o máximo possível. Basta? Funciona? Até que ponto? O produtivismo exige consumidores insaciáveis. A engrenagem não pode parar. E se a felicidade estiver, em algum momento, em ter menos? Em retornar para a natureza, para a família, para o local, para o simples? Você abriria mão de que para ser feliz? Se eu fosse filósofo, pautaria o meu pensamento por três eixos clássicos: como sei que sei? Como provo que provo? Como posso ser feliz? Nenhuma questão é tão importante quanto a da felicidade. É possível ser feliz? É uma ilusão? A felicidade pode conviver com a infelicidade? Chega de preconceito: pensar a felicidade é uma questão filosófica maior. 8