LEVANTAMENTO DAS PATOLOGIAS DAS ÁREAS INTERNAS DAS EDIFICAÇÕES DO SETOR ADMINISTRATIVO DA UFJF: ESTUDO DE CASO Thaís Mayra de Oliveira (1) ; Janezete Aparecida Purgato Marques (2) ; Fábio Martins Brum (3) ; Antônio Eduardo Polisseni (4) (1) Universidade Federal de Juiz de Fora, e-mail: thaismayra@yahoo.com.br (2) Universidade Federal de Juiz de Fora, e-mail: janezete.marques@ufjf.edu.br (3) Universidade Federal de Juiz de Fora, e-mail: fabiombrum@yahoo.com.br (4) Universidade Federal de Juiz de Fora, e-mail: aepoli@terra.com.br Resumo Fatores agressivos ambientais associados com o mau uso da edificação acarretam a perda de seu desempenho com o passar do tempo. Diante disso, várias intervenções periódicas são necessárias a fim de assegurar o desempenho como: recuperação estrutural, manutenção de instalações prediais, de impermeabilização, troca de revestimentos danificados e muitas outras. Com o intuito de padronizar o conjunto de princípios e procedimentos destinados a gestão de manutenção patrimonial do Campus da UFJF, compreendendo o seu registro, controle e levantamento de patologias, foi elaborada a ação III do Projeto de Desenvolvimento das ações de Infraestrutura. A metodologia empregada se baseia na elaboração do diagnóstico da situação encontrada e identificação das patologias para planejamento de manutenções e/ou previsão de melhorias a serem realizadas. Desta forma, o presente trabalho tem o obetivo de apresentar uma analise das patologias ocorridas nas áreas internas dos edifícios que compõem o setor Administrativo da UFJF, a saber: Reitoria, Biblioteca Central e Pró-Reitoria de Infra-estrutura. Com base em relatórios técnicos e vistorias realizadas foram identificadas as principais patologias procurando identificar suas causas e estabelecer sua origem, se na fase de projeto, execução ou uso inadequado. Associadas a falhas encontradas pode-se explicar os problemas precoces de infiltrações, fissuras, patologias mais freqüentemente relacionadas. Palavras-chave: Patologia, Manutenção, Vistoria. Abstract Aggressive environmental factors associated with the misuse of the building leads to loss of performance over time. Thus, several periodic interventions are necessary to ensure the performance as structural repair, maintenance of building facilities, waterproofing, exchange of damaged coatings and many others. In order to standardize the set of principles and procedures for asset maintenance management UFJF Campus, including your registration, survey and control of diseases, the action was elaborated III Project Development Infrastructure shares. The methodology is based on making the diagnosis of the situation and identification of diseases found to plan maintenance and / or prediction of improvement to be made. Thus, this study has obetivo to present an analysis of the pathologies that occur in the internal areas of buildings that comprise the Administrative UFJF sector, namely: Rectorate, Central Library and Dean of Infrastructure. Based on technical reports and surveys the main pathologies identified were trying to identify their causes and to establish their origin, whether in the design phase, implementation or improper use. Associated with faults found can explain the early problems of leaks, cracks, most often related pathologies. Keywords: Pathology, Maintenance, Inspections. 2288
1. INTRODUÇÃO De acordo com a NBR 5674 (1999), a manutenção de edifícios trata-se de um conjunto de intervenções realizadas para recuperar ou conservar a funcionalidade de uma edificação ou de suas partes, a fim de atender a segurança e as necessidades de seus usuários. Para Souza e Ripper (1998), manutenção de uma estrutura pode ser entendida como um conjunto de atividades necessárias à garantia de seu desempenho satisfatório ao longo do tempo, ou seja, o conjunto de rotinas que tenham por finalidade o prolongamento da vida útil da obra, a um custo compensador. O desenvolvimento de medidas de prevenção e manutenção das edificações está diretamente relacionado ao estudo das incidências patológicas e das etapas do processo construtivo que contribuíram para (re)ocorrência dessas. Neste sentido, o diagnóstico das patologias consiste em identificar as manifestações e o indício das falhas, suas procedências e mecanismos de formação, para, posteriormente, efetuar-se o planejamento das atividades de reparo, recuperação, restauração, etc. (LADEIRA (2011)). Conforme Canovas (1988), a Patologia das Construções não é uma ciência moderna, mesmo que tenha se ganhado proeminência recentemente. A presença de problemas nas edificações nas primeiras casas construídas rusticamente pelo homem primitivo já eram relatadas. Segundo Verçoza (1991), quando se conhece os problemas ou defeitos que uma construção pode vir a apresentar e suas causas, a chance de se cometer erros reduz muito. Afirma ainda que as características construtivas modernas favorecem muito o aparecimento de patologias nas edificações. Hoje, sempre se está à procura de construções que sejam realizadas com o máximo de economia, reduzindo assim o excesso de segurança, em função do conhecimento mais aperfeiçoado e aprofundado dos materiais e métodos construtivos. Porém, o mínimo erro pode gerar diversas patologias. O assunto a respeito de patologias em edificações torna-se bastante extenso, complexo e abrangente envolvendo praticamente todas as etapas do processo construtivo, iniciando pela fase de elaboração de projetos. Sabe-se que as patologias que hoje se observam só poderão ser ultrapassadas com um significativo investimento na fase de projeto, em particular no esforço de compatibilização de materiais e sub-sistemas construtivos. Para Ianssen e Torrescasana (2003), quaisquer erros ou imperfeições no projeto e na execução das diversas etapas da construção exigem, como conseqüência, adaptações não previstas no orçamento, consertos com custos complementares e até necessidade de reconstruções completas, muito dispendiosas, e mesmo, ás vezes, prejuízos que aparecem bem mais tarde, resultando até mesmo numa pericia judicial. Kondo (2003) afirma que uma das causas das manifestações patológicas é a falta de planejamento e sistematização das atividades de trabalho, onde cada etapa deve estar inserida em um contexto global. (KONDO, 2003). As obras públicas não fogem a regra, por isso devem-se programar os serviços de manutenção da edificação buscando obter medidas que visam garantir condições adequadas e oferecer um desempenho satisfatório aos seus usuários, definindo-se os serviços como: preventivo e corretivo. (LADEIRA (2011)). O presente trabalho irá apresentar uma analise das patologias ocorridas nas áreas internas do setor administrativo da UFJF, a saber: Reitoria, Biblioteca Central e Pró-Reitoria de Infraestrutura. Com base em relatórios técnicos e vistorias realizadas foram identificadas as principais patologias procurando identificar suas causas e estabelecer sua origem, se na fase 2289
de projeto, execução ou uso inadequado. 2. PATOLOGIAS E PROCESSOS CONSTRUTIVOS De modo a entender a incidência de patologias nas edificações deve-se dividir os processos construtivos em 5 etapas: planejamento; projeto; materiais e componentes; execução; uso e manutenção. Romano (2003) afirma que o processo de projeto de uma edificação é decomposto em três macrofases. A pré-projetação que corresponde ao planejamento do empreendimento, a projetação que envolve a elaboração de projetos incluindo a produção, e por fim, a pósprojetação consiste no acompanhamento da construção e do uso, conforme ilustrado na Figura 1. Figura 1 As macrofases do processo de projeto Fonte: (ROMANO, 2003) O processo produtivo é a transformação de insumos em produtos, no entanto o resultado final nem sempre é igual ao que foi projetado. Isso ocorre porque, em todo processo produtivo, existe uma série de condições necessárias para o alcance das características especificadas, as quais podem variar desde temperaturas, umidade, especificações de matérias-primas, tempo de processamento, tipo de equipamento, qualidade da mão-de-obra, entre outras, até o fornecimento em tempo hábil destas condições. (PEREIRA FILHO et al (2004)). Planejar a produção pode ser entendido como a antecipação de todos os fatores que concorrem à transformação intencional de insumos em produtos, assim como das conseqüências deste processo. Segundo Ladeira (2011) a fase de planejamento e projeto é muito importante para obter a qualidade do produto final, pois nesta fase definem as características do produto e a forma para atender as necessidades dos usuários. Já Helene (2009) salienta que as origens dos problemas patológicos estão diretamente relacionadas às etapas de processo de projeto. Diversos estudos demonstram que a causa mais frequente da destruição precoce das edificações é o projeto inadequado. Com relação aos materiais e componentes, Souza e Ripper (1998) afirmam que os casos mais comuns de utilização incorreta dos materiais de construção são: utilização de concreto com 2290
resistência característica inferior ao especificado; utilização de agregados contaminados, potencializando reações expansivas no concreto; utilização inadequada de aditivos. Para Verçoza (1991) com o conhecimento preciso de que até que ponto pode se confiar e utilizar um material tem-se a redução do seu consumo, porém, o mínimo erro pode gerar diversas patologias. Salienta-se ainda a má qualidade da mão-de-obra como favorecimento do surgimento de patologias no processo de execução. Além da falta de condições de trabalho e fiscalização ineficiente. Finalmente, na fase de uso e manutenção para Ladeira (2011) a maioria dos problemas patológicos encontrados é: adaptações da edificação, sem um projeto adequado; utilização imprópria da edificação; falta de informação ao usuário em relação à limitação da obra; falta de manutenção periódica; falta de um responsável técnico no momento da manutenção do edifício. 3. METODOLOGIA O Campus da UFJF possui atualmente 202.783,81m² de área construída, distribuídas em várias edificações, construídas em épocas distintas, datando algumas do início da década de 1970. O trabalho consiste em um diagnóstico de patologias e análise de desempenho das edificações do Campus da UFJF para elaboração e desenvolvimento de pesquisa para diagnóstico de patologias das edificações no Setor Administrativo do Campus da UFJF. Nestes levantamentos foram observadas as principais características dos ambientes internos das diversas unidades que compõem o Setor Administrativo do Campus. Foram observados procedimentos para registro, controle e levantamento de patologias. As edificações que apresentavam problemas patológicos foram vistoriadas de forma detalhada e bem planejada de forma a determinar as condições da edificação e avaliar as patologias existentes, suas causas e providências a serem tomadas. Os levantamentos de patologias foram realizados através de planilhas de coleta de dados e vistorias realizadas nos ambientes internos dos edifícios da Reitoria, Biblioteca Central e Pró- Reitoria de Infra-estrutura da UFJF. Os levantamentos e análise dos dados ocorreram em um período de seis meses, onde se empregou o modelo de check-list elaborado pela equipe de pesquisa e ilustrada na Figura 2. Este levantamento revela a legítima situação do imóvel, direcionando os dados encontrados para a busca de pesquisa científica relacionada ao assunto. A identificação das patologias encontradas por deterioração das edificações contribuiu para o diagnóstico da situação atual de modo a se embasar um diagnóstico com maior riqueza de detalhes técnicos. 2291
Figura 2 - Check-list utilizado nos levantamentos do Setor Administrativo TIPOS DE PATOLOGIAS SALAS A B C D T P A B C D T P A B C D T P UMIDADE REVESTIMEN TO FISSURAS CORROSÃO Ascensional (Capilaridade) Acidental (Má vedação de esquadrias, telhados, tubulações danificadas, etc.) Condensação (Vapor d água) Bolor (Fungos) Falta de azulejo em torno de pias e lavatórios Umidade Externa (Umidade Atmosférica) Descolamento de argamassa Empolamento (Bolhas na pintura) Puverulência Danificados por má utilização Desgaste do piso Azulejos danificados ou descolados Falta de Vergas e Contra-vergas Horizontal Vertical Diagonal União de Dois materiais distintos União de Dois materiais de idades diferentes Acidental (oriunda de reparos mal executados) Recalque Retração Corrosão de armadura PORTAS E JANELAS Onde: Falta de pintura ou corrosão Vidros quebrados A; B; C e D paredes T teto P piso Estado de conservação: B bom; Re regular; R - ruim 4. RESULTADOS E ANÁLISES Como os edifícios do Campus datam de diversas épocas de construção, foram variáveis os tipos de patologias encontradas, observando-se que as anomalias se repetem conforme o sistema construtivo da época. Na etapa de inspeção das edificações analisadas foram determinadas as condições técnicas e funcionais, com o objetivo de avaliar as patologias encontradas. Através da pesquisa de campo, buscou-se caracterizar as patologias encontradas no interior das edificações, avaliando-se o desempenho dos revestimentos pela observação das manifestações patológicas observadas. Como resultado dos levantamentos efetuados, foram gerados gráficos representando as principais patologias encontradas no Setor Administrativo. A partir dessas informações, realizou-se a sistematização e análise dos dados coletados, reunindo-os em gráfico (Figura 3), apresentando as principais patologias encontradas no Setor Administrativo. Figura 3 Patologias de maior ocorrência no Setor Administrativo 2292
PATOLOGIAS - SETOR ADMINISTRATIVO Fissura s na interseção de dois materia is distintos Fissura s verticais no revestimento Fissura s horizontais no revestimento Fissura s por ausência de vergas e contra-vergas Revestimento danificado pormá utiliza ção Empolamento no revestimento (Bolhasna pintura) Deslocamento de arga massa de revestimento 0 20 40 60 80 100 120 Número de Ocorrências Observa-se o empolamento no revestimento, constituído de bolhas na pintura, seguido do deslocamento de argamassa de revestimento sao as patologias de maior ocorrência. Na maioria dos casos, essas anomalias ocorrem devido a falta de qualificação da mão-de-obra, ou seja falhas de execução, escolha inadequada de materiais em decorrência da modificação de uso das instalações e da ausência de planejamento de manutenção das áreas. Se juntarmos os tipos de fissuras em apenas um item, estas irão compor a maioria das anomalias. Tal fato se justifica devido a erros de projeto. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com o levantamento apresentado acima pode-se concluir que: Na maioria dos casos de edificações públicas, a modificação no uso e a deficiência de manutenção preventiva e corretiva acarretam patologias com recorrência em todos os setores; As fissuras estão em primeiro lugar no que se refere a patologias nas edificações que constituem o setor administrativo da UFJF. Grande parte das patologias ocorrem devido a ausência de detalhes construtivos nos projetos. Na etapa de execução anomalias como empolamento no revestimento (bolhas na pintura) e destacamento de argamassa de revestimento são as de maior incidência. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5674: Manutenção de Edifícios: procedimentos. Rio de Janeiro, 1999. CANOVÁS, M. F. Patologia e terapia do concreto armado. São Paulo: Pini, 1988. HELENE, P.R.L. Manual prático para reparo e reforço de estruturas de concreto. São Paulo, PINI, 2009. IANSSEN, Daniel; TORRESCASANA, C.E. Análise das patologias das edificações de Chapecó. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) Curso de Graduação em Engenharia Civil, Unochapecó, Chapecó, 2003. KONDO, S. T. Subsídios para seleção dos principais revestimentos de fachada de edifícios. São Paulo, 2003. LADEIRA, R. V. M. Unidade de atenção primária a saúde x patologias: realidade e perspectivas. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) Curso de Graduação em Engenharia Civil, UFJF, Juiz de Fora, 2011. 2293
PEREIRA FILHO et al. Planejamento e controle da produção na construção civil para gerenciamento de custos. In: XXIV Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) - Florianópolis, SC, 2004. ROMANO, F. V. Modelo de referência para o gerenciamento do processo de projeto integrado de edificações. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. SOUZA, V.C.M., RIPPER,T. (1998). Patologia, Recuperação e Reforço de Estruturas de Concreto. São Paulo, PINI. VERÇOZA, E. J. Patologia das Edificações. Porto Alegre, Ed. Sagra, 1991. 2294