DISPOSIÇÃO DE REJEITOS UM DESAFIO PARA A INDÚSTRIA MINEIRA

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Transcrição:

Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015 DISPOSIÇÃO DE REJEITOS UM DESAFIO PARA A INDÚSTRIA MINEIRA MARQUES, M.S. 1, LARA, J.L.M. 2, ALMORA, J.P. 3 1 Golder Associates, Peru (Golder), e-mail: mmarques@golder.com.br 2 Golder Associates, Peru (Golder), e-mail: jlara@golder.com.pe 3 Golder Associates, Peru (Golder), e-mail: juan_almora@golder.com.pe RESUMO Nas últimas décadas, em função das crescentes restrições e reguladores ambientais, vêm sendo intensificadas as pressões para licenciamento e implantação de novas operações mineiras e fiscalização de descargas de efluentes por operações existentes. Associado a esses fatores está o esgotamento de grandes reservas de alto teor, que leva à exploração de recursos minerais de baixo teor, que, para serem rentáveis, requerem o aumento de escala de produção e, consequentemente, geram maior quantidade de rejeitos. Estes fatores vêm motivando a indústria mineira a buscar novas soluções para melhoria de seus sistemas de disposição de rejeitos, com reduções de riscos ambientais e sociais em longo prazo, que sejam técnica e economicamente viáveis. As tecnologias, voltadas ao adensamento de rejeitos, principalmente espessamento e filtração, apresentamse como atrativas e a aplicação destas vem crescendo significativamente ao redor do mundo. A aplicação dessas tecnologias oferece oportunidade para gerenciar sólidos e água em separado, possibilitando reduzir área impactada, aumentar a recuperação de água na planta e reduzir consumo de energia elétrica para bombear água para a planta. PALAVRAS-CHAVE: disposição; adensamento; rejeitos; recuperação de água. ABSTRACT Globally in the last decades, mining environmental regulators are under increasing pressure to apply restrictions to implement mining operations and to existing operations for effluents discharges. Complicating this is the depletion of large reserves of high grade that leading to exploit low grade mineral resources, once thought improbable. As a result is a need by mining industry to search for stepchanges in long-term solutions for tailings and water management aligned with operational, environmental, technical, financial, risk and social issues. The dewatering technologies, thickening and filtration become attractive and its application has been growing significantly around the world. The application of these technologies offers opportunity to manage solids and water separately, and it makes possible to reduce impacted area for tailings disposal and to increase water recovery in the plant. Consequently, reduces water volume to be reclaimed from the dam and electric power required for pumping this water to the concentrator. Therefore, offer a more secure operation in terms of social and environmental impact, highly important condition for sustainability and company's reputation. KEYWORDS: tailings disposal; water recovered; densified tailings.

Marques, M.S.; Lara, J.L.M.; Almora, J.P. 1. INTRODUÇÃO As exigências impostas pela legislação ambiental, incluindo restrições no uso de água e as crescentes pressões socioambientais, vêm criando cada dia mais dificuldades para a obtenção de licenças para a indústria mineira, tanto para operações novas como para as existentes. Associado a este cenário está o esgotamento de grandes reservas com alto teor, que leva à necessidade de explorar depósitos de baixo teor, antes considerados improváveis. A exploração rentável desses depósitos requer aumento de escala de produção e eficiência operacional o que, consequentemente, gera maior quantidade de rejeitos destinados à disposição. Adicionalmente a este cenário da mineração está a probabilidade de ocorrência de situações adversas decorrentes de variações climáticas, provocando situações que fogem ao controle e requerem estabelecimento de um plano de ação de emergência para continuidade de atividades operacionais. Este ano, o Sudeste brasileiro sofreu forte ação de mudanças climáticas decorrentes de longos períodos de estiagem que provocaram o rebaixamento dos níveis d água, chegando a 5,2%, atingindo assim um volume próximo do nível morto, que é a porção abaixo do nível de captação (1). A recente Deliberação Normativa 49/2015, publicada em 26/03/2015, no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, define diretrizes de controle para mananciais de superfície e estabelece um quadro de restrição no uso de água com base nas novas medições de mananciais e rios, para orientar a redução de outorgas e até racionamento de água. Se continuarem as estiagens, todos os usuários da bacia terão de reduzir sua captação em 20% no caso de consumo humano e animal. Os índices são de 25% a menos para mineração e 30% para a área industrial. Nesta situação, os três parâmetros que vão pautar ações da Semad (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Sustentável) são (2) : Estado de Atenção: estado de vazão que antecede a situação crítica de escassez hídrica e seu Estado de Alerta, no qual não haverá restrição de uso para captações de água e o usuário de recursos hídricos deverá ficar atento para eventuais alterações do respectivo estado de vazões; Estado de Alerta: estado de risco de escassez hídrica, que antecede ao estado de restrição de uso, caracterizado pelo período de tempo em que o estado de vazão ou o estado de armazenamento dos reservatórios indicarem a adoção de ações de alerta para restrição de uso para captações de águas superficiais, no qual o usuário de recursos hídricos deverá tomar medidas de atenção e se atentar às eventuais alterações do respectivo estado de vazões; Estado de Restrição de Uso: estado de escassez hídrica caracterizado pelo período de tempo em que o estado de vazão ou o estado de armazenamento dos reservatórios indicarem restrições do uso da água em uma porção hidrográfica. Esta situação vem preocupando e motivando a indústria mineira na busca de soluções que permitam gerenciar a emissão de seus efluentes e otimizar o consumo

Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015. de água, em atenção às exigências da política socioambiental. A aplicação de tecnologia de desaguamento de rejeitos se apresenta como alternativa técnica e economicamente viável para gerenciar em separado sólido e água, permitindo à empresa desenvolver seu plano estratégico e elaborar o plano de investimento de capital que servirá de base para a tomada de decisão pela Alta Gerência. 2. ESPESSAMENTO E/OU FILTRAÇÃO DE REJEITOS As tecnologias de desaguamento, tais como espessamento e filtração, oferecem oportunidades para o gerenciamento de sólidos e água e sua aplicação a nível global vem crescendo significativamente. A seleção da tecnologia deverá estar associada ao programa de sustentabilidade e com enfoque na relação custobenefício de maneira a atender às necessidades de cada empresa em conformidade com sua estrutura, métodos de lavra, processo praticado, condições locais e política fiscal. No atual cenário da mineração, as tecnologias de espessamento e filtração vem se tornando atrativas em função das crescentes pressões impostas ao uso de água (2). Adicionalmente, os benefícios advindos da aplicação dessas tecnologias, apresentados a seguir, permitirão uma operação mais segura em termos de impacto socioambiental, condição altamente importante para a sustentabilidade e reputação da empresa. Dispor rejeitos adensados e menos permeáveis minimizando as dimensões das barragens e reduzindo área impactada. Reduzir água contida nos rejeitos transferidos para a barragem: Minimizando risco de passivos ambientais e financeiros por ruptura. Maximizar a recuperação de água de processo a partir dos rejeitos, antes de sua descarga na barragem: Minimizando o consumo de água fresca. Reduzir o manejo de água a partir da barragem de rejeitos: Reduzindo o consumo de energia elétrica para bombeamento de água da barragem para a planta. Tipicamente a aplicação de técnicas de desaguamento (espessamento e/ou filtração) possibilita obter polpa de rejeitos com diferentes graus de desaguamento / consistência de rejeitos, que é compatível com o tipo de equipamentos empregado, conforme ilustrado na Figura 1 a seguir. Figura 1. Consistência versus Equipamento. (3)

Marques, M.S.; Lara, J.L.M.; Almora, J.P. 2.1. Rejeitos espessados A aplicação da tecnologia de espessamento poderá produzir uma polpa espessada, que em função das diferentes consistências são classificadas como: Polpa segregável; Polpa não segregável; Pasta. Em geral, a polpa espessada segregável e a não segregável são destinadas à disposição em superfície e à pasta em subsolo. No entanto, dependendo de fatores operacionais e requerimentos da empresa, a pasta poderá ser depositada em subsolo e em superfície. A seleção da consistência de polpa deverá ser fundamentada em resultados de testes em laboratório. O principal objetivo do programa de testes de laboratório é a determinação das características físico-química, reológica e geotécnica dos rejeitos, visando avaliar a aplicabilidade das técnicas de adensamento e conhecer condições de fluxo e comportamento do material na área de disposição (4). Com base no conhecimento de características dos rejeitos, será possível determinar um sistema de transporte que possibilite eliminar sedimentação na tubulação e reduzir condições de segregação de partícula na área de disposição, favorecendo melhoria das instalações de disposição de rejeitos e redução de impactos ambientais em longo prazo. O dimensionamento de um sistema de disposição de rejeito deverá ter em consideração dois critérios: Implantar e operar um sistema seguro e ambientalmente responsável, associado a um custo mínimo e com base nas características de transporte e de deposição dos rejeitos; Selecionar uma consistência de polpa, fundamentada na relação custo e benefício, que permita projetar um sistema para minimizar riscos ambientais, reduzir consumo de energia requerida para o bombeamento de água, e que possibilite alcançar a maior inclinação. A água contida na polpa de rejeitos favorece o transporte de sólidos a longas distâncias. Portanto, a quantidade de água na polpa de rejeitos é uma condição que aumenta o risco de ruptura, situação que, se ocorre, além de ser custosa afeta sobremaneira a reputação da empresa. A diminuição ou eliminação da água nas barragens é a solução mais eficaz para reduzir riscos de ruptura. A Tabela 1 a seguir mostra exemplos típicos de conteúdo de água em função do grau de desaguamento da polpa de rejeitos.

Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015. Tabela 1. Consistência de polpa versus Concentração de sólidos. Consistência de polpa Concentração de sólidos (% Volume de água por tonelada de Sólidos) rejeitos (m 3 /t) Polpa Espessada Segregável 30 2.3 Polpa Espessada Não- Segregáve 65 0.5 Pasta 75 0.3 Torta Filtrada 85 0.2 O espessador tipo high rate (HRT) produz uma polpa espessada segregável, o uso de espessadores tipo high compressor (HCT o DCT) permite obter uma polpa espessada não-segregável ou de alta densidade ou pasta. A seleção do sistema se transporte da polpa adensada, por bombas centrifugas ou por bomba de deslocamento positivo ou de pistão, está associado ao grau de adensamento e a seleção depende da variação de yield stress (resistência ao deslocamento) que pode ser <20, entre 20 e 100Pa ou acima se 100Pa. 2.2. Rejeito filtrados Em geral a filtração é indicada para caso onde há restrições para uso de área para a disposição de rejeitos, escassez de água e/ou locais de média e alta sismicidade e sua aplicação requer uma etapa prévia de espessamento (5). 3. SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS O sistema de disposição a ser selecionado, seja para a disposição de polpa espessada ou torta filtrada, deverá ter em consideração as condições climáticas, parâmetros operacionais da planta e hidrologia local. O sistema de disposição de rejeitos deve incorporar todos os componentes para permitir gerenciamento das instalações, incluindo diques de contenção e sedimentação de finos, e sistema de gestão e recuperação de água (captação, canais de desvio, bombeamento de água até a planta etc.), assim como as condições futuras para fechamento das operações mineiras (5). 3.1. Disposição de rejeitos espessados Rejeito espessado, segregável ou não-segregável, pode ser transferido para a área de disposição por bombeamento ou, em função da topografia, por gravidade, utilizando canaletas e/ou tubulação. Em geral, os depósitos de rejeitos em polpa segregável requerem longos períodos de secagem para alcançar resistência e consolidação final, e a secagem está associada ao deslocamento do espelho d água que é formado na barragem. O gerenciamento da operação do sistema de disposição de rejeitos espessados não-segregável possibilita adotar uma estratégia de disposição em camadas alternadas, o que permite aproveitar o potencial de evaporação para facilitar secagem e consolidação dos rejeitos, formando um depósito mais resistente.

Marques, M.S.; Lara, J.L.M.; Almora, J.P. O aumento da densidade da polpa reduz as perdas de água por infiltração e evaporação. O espelho de água formado na barragem é significativamente menor, o que reduz a disponibilidade de área superficial e, consequentemente, as perdas por evaporação (3). 3.2. Disposição de rejeitos filtrados O transporte de rejeitos filtrados pode ser por caminhões de 30 40 t ou por transportadores de correia. Para o transporte por caminhões deve-se considerar, por questões de segurança e impacto ambiental, o fator de liquefação induzida pelo movimento, de maneira a evitar derrames durante o percurso entre planta de filtrados e área de disposição. O transporte por correias é uma opção a ser avaliada em função da capacidade de produção e relação custo-benefício. Os rejeitos filtrados são descarregados em células, que são espalhados em camadas, espessura entre 30-50 cm, com auxílio de retroescavadeira para favorecer a dessecação de acordo com as condições climáticas locais. Em alguns casos, em função das condições de estabilidade, é possível que se requeira obtenção de uma torta filtrada com umidade ótima para favorecer a compactação e ganho de resistência. 4. APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA DE DESAGUAMENTO 4.1. Rejeitos espessados Na Figura 2, a seguir, ilustra-se a aplicação da tecnologia de espessamento para a gestão integrada de rejeitos e água. Na Tabela 2 está exemplificada aplicação em escala industrial na América do Sul. Figura 2. Depósito de Rejeitos Espessados Seção Típica.

Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015. Tabela 2. Rejeitos Espessados: Operações Mineiras na América do Sul. (6) Projeto País Status Mineral Produção (ktpd) Chungar Peru Em Operação Zn, Pb, Cu y Ag 4 Toromocho Peru Em Operação Cu 117 Antapacay Peru Em Operação Cu 70 El Brocal Peru Em Operação Zb, Pb,Cu y Ag 18 Esperanza Chile Em Operação Cu 90 Las Cenizas Chile Em Operação Cu 2.5 4.2. Rejeitos filtrados Na Figura 3, a seguir, ilustra-se a aplicação da tecnologia de filtrados para a gestão integrada de rejeitos e água. Na Tabela 3 está exemplificada aplicação em escala industrial na América do Sul. Figura 3. Depósito Rejeitos Filtrados Seção Típica. Tabela 3. Rejeitos Filtrados: Operações Mineiras na América do Sul. Projeto País Status Mineral Produção (ktpd) Cerro Lindo Peru Em Operação Zn-Pb-Cu 15 Cobriza Peru Em Operação Cu, Ag 10 La Coipa Chile Em Operação Au, Ag 18 Manto Verde Chile Em Operação Cu 15 El Peñon Chile Em Operação Au 3 Toqui Chile Em Operação Zn 1.8 5. CONCLUSÕES A seleção da tecnologia de desaguamento associada ao método de disposição deverá estar alinhada com o programa de sustentabilidade e enfocada na relação custo-benefício de maneira a atender às necessidades de cada cliente em conformidade com a estrutura da empresa, métodos de lavra, processo praticado, características físico-química, reológica e geotécnica dos rejeitos, condições locais e política fiscal; A disposição de polpa não-segregável permite melhorar o gerenciamento de água, redução significativa na construção da barragem e permite o fechamento progressivo, simultâneo com deposição; A disposição de rejeitos espessados e filtrados oferece oportunidade para:

Marques, M.S.; Lara, J.L.M.; Almora, J.P. o Minimizar a liberação de água na área de disposição a partir dos rejeitos; o Reduzir ou eliminar a construção de pond para conter a água liberada a partir dos rejeitos depositados, exceto aqueles requeridos para o manejo de água superficial e infiltrações; o Minimizar ou eliminar segregação resultante de pouca ou nenhuma separação sólido / líquido na área do depósito de rejeitos, permitindo: Depósitos mais densos e menos permeáveis: reduz a geração de poeiras; Erosão reduzida; Menor volume para armazenamento; Menor ingresso de oxigênio: reduzir taxa de oxidação e geração de drenagem ácida; Fechamento progressivo; reduzindo impacto ambiental. A estratégia de avaliação para seleção do sistema de disposição deverá estar fundamentada em uma comparação entre custos de implantação de um sistema de disposição convencional e de polpa espessada não-segregável, tendo os custos-benefícios mensuráveis tais como: o Custos de capital para sistemas de contenções versus planta de desaguamento; o Custos associados ao sistema de retorno de água recuperada bombas e tubulações; o Custos operacionais; o Impacto da redução de riscos e pagamento de penalidades associadas; o Licenciamento, operação ambientalmente segura e aceitação social, em conformidade com as práticas BAT - Best Available Technology; o Custo de fechamento. 6. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Golder Associates Peru e aos colegas que apoiaram na obtenção de informações, revisão e edição deste artigo. 7. REFERÊNCIAS (6) Banco de dados de projeto da Golder. (2) CERH - Conselho Estadual de Recursos Hídricos- CERH MG. Deliberação Normativa CERH/MG N.º 49, de 25 de março de 2015. (1) http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/03/26/interna_gerais,631450/usode-agua-no-subsolo-tambem-sera-fiscalizada-em-minas-gerais.shtml. (3) IIMP Instituto de Ingenieros de Minas del Perú - Jlara 2013 http://www.iimp.org.pe/pptjm/jm20131017_relaves.pdf.

Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015. (5) Paste 2011 14th International Seminar on Paste and Thickened Tailings Design and operational experience of the Cerro Lindo filtered tailings deposit J.Lara. (4) Paste 2011 14th International Seminar on Paste and Thickened Tailings Rheology for tickened tailings asd paste F.Sofrá.