AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO-ESPECIFICADO. CONTRATO DE PARCIPAÇÃO FINANCEIRA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DETERMINAÇÃO DE QUE SEJA EXCLUÍDA DO CÁLCULO DA DÍVIDA A PARCELA REFERENTE AOS JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO. I - Art. 475-B, 3, do CPC. A remessa dos autos ao contador do juízo, quando o cálculo, aparentemente, se apresentar excessivo, constitui mera faculdade do Magistrado, e não obrigação. Logo, não se configura a alegada violação ao referido dispositivo. II Acórdão exeqüendo que condenou a agravada ao pagamento de dividendos. Ainda que não estejam expressamente contemplados no título executivo, os juros sobre capital próprio são devidos, pois decorrem do próprio direito às ações que foram sonegadas ao acionista. Precedentes. Agravo de instrumento provido, à unanimidade. AGRAVO DE INSTRUMENTO DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE PORTO ALEGRE ELIZABETE BORGES MONTANDON BRASIL TELECOM / OI AGRAVANTE AGRAVADA A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento ao agravo de instrumento. Custas na forma da lei. m 1
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES.ª ANA MARIA NEDEL SCALZILLI E DES. ERGIO ROQUE MENINE. Porto Alegre, 15 de julho de 2010. DES. MARCO AURÉLIO DOS SANTOS CAMINHA, Relator. R E L A T Ó R I O DES. MARCO AURÉLIO DOS SANTOS CAMINHA (RELATOR) Elizabete Borges Montandon interpôs agravo de instrumento contra decisão que, em sede de cumprimento de sentença proposto em face de Brasil Telecom/Oi, determinou que a agravante exclua do cálculo a parcela relativa aos juros sobre capital próprio. Aduz que o ato judicial agravado viola o art. 475-B, 3, do CPC, pois quando o Juiz considerar que a memória apresentada pelo credor, aparentemente, excede os limites da decisão exeqüenda, poderá valer-se do contador do juízo. Assim, deveria Magistrado a quo remeter os autos à Contadoria Judicial, e não determinar a exclusão de determinada parcela do cálculo, através de emenda ao pedido de cumprimento de sentença. Outrossim, sendo os juros sobre capital próprio espécie de dividendos, acessórios das ações postuladas e deferidas, são igualmente devidos, independentemente de determinação no título executivo. Pugna pelo provimento do recurso. Concedi efeito suspensivo ao recurso. Com as contra-razões, vieram-me conclusos. É o relatório. m 2
V O T O S DES. MARCO AURÉLIO DOS SANTOS CAMINHA (RELATOR) O presente agravo é tempestivo e contém o comprovante de recolhimento do preparo. Portanto, o recurso merece ser conhecido, pois atendidos seus pressupostos de admissibilidade. Reza o art. 475-B, 3, do CPC, que: 3. Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda e, ainda, nos casos de assistência judiciária. Pela leitura do dispositivo mencionado, percebe-se que a remessa dos autos à Contadoria Judiciária, quando o cálculo parecer excessivo, constitui faculdade do Magistrado, e não obrigação. Logo, não me deparo com violação ao art. 475-B, 3, do CPC, por parte do juízo. Superada a questão, a decisão agravada, efetivamente, está a merecer reforma. Ocorre que o acórdão exeqüendo condenou a recorrida à subscrição das ações faltantes, tendo por conta o valor patrimonial apurado na data da integralização e não de balanço posterior, inclusive as relativas, à época, à Celular CRT (nos termos da determinação acima conversão em valor) e devida indenização relativa aos dividendos referentes às ações, acrescidos tais valores de correção monetária pelo IGP-M desde a data em que deveriam ter sido subscritas as ações e juros de mora à razão de 1% ao mês desde a citação, a teor do disposto no art. 406, do CCB, combinado com o art. 161, 1, do CTN (fl. 64) (grifei). Como se pode verificar, a condenação da agravante não contemplou os juros sobre capital próprio, mas apenas os dividendos. Nãoobstante, revendo meu posicionamento anterior, considero que devem m 3
constar no cálculo da dívida, pois tanto os dividendos como os juros sobre capital próprio decorrem da própria condenação à complementação das ações sonegadas, sendo acessórios destas, assomando-se desnecessário que seu pedido conste na inicial. Por conseguinte, mostrou-se correta a inserção, no cálculo da dívida, do valor a título de juros sobre capital próprio. Sobre o tema, cito precedentes desta Corte: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. BRASIL TELECOM S/A. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. 1. VALOR PATRIMONIAL DA AÇÃO. (...) Configurando os juros de capital próprio e os dividendos parcela acessória, seguem o principal, sendo desnecessário pedido específico da parte para seu recebimento, tampouco previsão expressa no título executivo judicial. 4. DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS. TERMO INICIAL. O art. 205 da Lei n.º 6.404/76 estabelece que o termo inicial para o cômputo dos dividendos relativos a Brasil Telecom S/A deve corresponder ao exercício social em que houve o aporte do capital. Para a Celular CRT a percepção de dividendos teve início na data da cisão. Em ambos os casos os dividendos são devidos 60 dias após a data da primeira assembléia geral que discutiu o pagamento. Sobre esse valor deve incidir correção monetária e juros moratórios. 5. MULTA DO ART. 475-J DO CPC É lícita a incidência da multa prevista no art. 475-J, quando transitada em julgado a sentença condenatória, não sendo necessário que a parte vencida seja intimada, pessoalmente ou por seu procurador, para cumpri-la. 6. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Cabimento na fase do cumprimento da sentença. Correta a decisão no tocante ao quantum arbitrado. 7. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ (ART. 17 DO CPC). ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA (ART. 600 DO CPC). Inocorrência. A impugnação é o meio de defesa legalmente previsto ao devedor. AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70031850969, Segunda Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Fernando Flores Cabral Junior, Julgado em 30/09/2009) (grifo aposto). m 4
AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. BRASIL TELECOM S/A. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. Valor patrimonial da ação. O valor patrimonial da ação deve corresponder ao critério estabelecido pelo título transitado em julgado, sob pena de afronta à coisa julgada. In casu, o valor patrimonial da ação deve guardar consonância ao fixado na assembléia geral ordinária imediatamente anterior à data da integralização, daí por que descabido falar em adoção do valor patrimonial da ação de acordo com balancete mensal. Dividendos. São devidos independentemente de pedido expresso, porquanto decorrentes das ações que deixaram de ser subscritas ao acionista. (...) (Agravo de Instrumento Nº 70032064099, Segunda Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lúcia de Fátima Cerveira, Julgado em 28/10/2009) (grifo aposto). Pelo exposto, dou provimento ao agravo de instrumento, para desconstituir a decisão agravada. É o voto. DES.ª ANA MARIA NEDEL SCALZILLI - De acordo com o Relator. DES. ERGIO ROQUE MENINE - De acordo com o Relator. DES. MARCO AURÉLIO DOS SANTOS CAMINHA - Presidente - Agravo de Instrumento nº 70036729242, Comarca de Porto Alegre: "DERAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: FERNANDO ANTONIO JARDIM PORTO m 5