TEATRO E CONTRA-HEGEMONIA: UM ESTUDO SOBRE O CAMPO DAS ARTES CÊNICAS NO BRASIL DO SÉCULO XXI

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Transcrição:

TEATRO E CONTRA-HEGEMONIA: UM ESTUDO SOBRE O CAMPO DAS ARTES CÊNICAS NO BRASIL DO SÉCULO XXI Vicente Carlos Pereira Júnior Vicente Carlos Pereira Júnior Doutorado Linha de Pesquisa PMC Orientador Prof Dr José da Costa Doutorando em Artes Cênicas pela Unirio (2017-2020). Mestre em Teatro (Dramaturgia e Texto) pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2008). Especialista em Gestão e Políticas Culturais pela Universidade de Girona. Bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Londrina (2004), com habilitação em Interpretação Teatral. Atua como Assessor Técnico em Artes Cênicas no Departamento Nacional do Sesc, desde 2012. Tem experiência com pesquisa e produção cultural, teoria de teatro, terceiro setor, educação, dramaturgia, encenação, arte e periferia. XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 97-101 97

TEATRO E CONTRA-HEGEMONIA: UM ESTUDO SOBRE O CAMPO DAS ARTES CÊNICAS NO BRASIL DO SÉCULO XXI Vicente Carlos Pereira Júnior Prof. Dr. José da Costa Orientador A relação entre teatro e política no Brasil ficou muito marcada pela atuação de grupos teatrais dos anos sessenta do século passado, em especial aqueles que marcaram posição contrária e combativa com relação à ditadura militar, tendo sido perseguidos e até mesmo extintos por ela. As contribuições de tais grupos para a popularização dos temas e das formas teatrais, para o pensamento crítico nas artes cênicas, para a nacionalização dos textos e para a expressão cultural de extratos sociais subalternos - especialmente quando comparados ao teatro de cunho mais elitizado e europeizado em vigor nas capitais culturais do Brasil na década anterior repercutem ainda hoje em boa parte do que assistimos nos palcos do país. Nesta segunda década do século XXI, em um contexto de instabilidade política, de ocupação das ruas por grandes protestos, sempre reprimido por força policial de truculência superior a eles, momento de acirramento de binarismos e de afloramento de posições conservadoras na sociedade, a cena teatral vem a ser ocupada, em inúmeros exemplos, pela crítica do sistema político na sua totalidade ou ainda por reivindicações de variadas vertentes, passando pela melhoria dos serviços públicos, justiça social e cumprimento dos direitos humanos (civis, econômicos, culturais). Nesse contexto, alguns coletivos de teatro e de dança são constituídos em sua maioria (quando não exclusivamente) por representantes diretos de grupos sociais marginalizados, tais como indivíduos residentes nas periferias, negros, homossexuais. São artistas que, na maior parte das vezes, assumem o desafio e as dificuldades de fazer cumprir na prática o lema arte para todos, mas que também reivindicam, através de suas obras, o direito à expressão cultural da identidade. Esses grupos perseguem em suas obras maior espaço de visibilidade social e a o ato de fazer teatro, nesses casos, XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 97-101 98

já constitui um ato político. Grupos como Teatro da Laje, Cia. Marginal e Cia. Abraço da Paz, no Rio de Janeiro; Treme Terra, Coletivo Negro, Os Crespos, Teatro de Narradores, Coletivo Legítima Defesa, em São Paulo; Coletivo As Travestidas, no Ceará, são alguns exemplos. O pensamento do italiano Antonio Gramsci torna-se aqui relevante por ser um dos mais destacados no âmbito do materialismo histórico a tratar da relação entre a dominação política e econômica e as expressões culturais e intelectuais das diferentes classes sociais. Para ele, a produção artística e cultural não hegemônica pode abrigar inovações criadoras e progressivas que revelam as formas e condições de vida em desenvolvimento, diferenciando-se da moral e dos valores das classes sociais dominantes ou mesmo contradizendo esses últimos (GRAMSCI, 2011). Esta pesquisa parte do pressuposto de que as artes cênicas no Brasil constituem um campo nos termos da sociologia de Pierre Bourdieu. Em primeiro lugar, porque as artes cênicas estabelecem códigos bastante específicos no que tange à análise e ao juízo crítico de seus artefatos, códigos esses que não são facilmente decifrados pelo público leigo. Esta linguagem específica denota fronteiras simbólicas, que delimitam territórios, agentes, recompensas e mecanismos de ingresso e de exclusão (BARROS, 2003). Entendo por campo das artes cênicas, o espaço social ocupado por agentes que possuem interesses comuns, mas que dispõem de diferentes capitais econômico, cultural e social. Neste campo, os indivíduos dotados de maior capital contam com maior número e variedade de recursos para conservar posições de liderança, acabando por definir regras para a participação. Néstor Garcia Canclini (1984), em artigo no qual reflete sobre a aproximação entre os estilos de análise de Antonio Gramsci e Pierre Bourdieu destaca a relevância do conceito de hegemonia, o qual trata do vínculo entre as classes sociais menos pelo viés da violência do que pelo contrato, espécie de acordos provisórios que dirigentes e subalternos estabelecem na negociação sobre posições de dominação e participação em determinados campos sociais. Esta compreensão permite entender as classes populares para além da condição de submissas, mas como indivíduos que encontram XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 97-101 99

na ação hegemônica certa utilidade para suas necessidades e que conseguem realizar práticas independentes, sem com isso contribuir para a manutenção do sistema. Os coletivos aqui enfocados, em seus processos de criação, transportam elementos da realidade política, social, econômica e cultural brasileira, seja através dos temas, seja por meio de uma trajetória artística continuada que representa uma reversão de algumas estruturas históricas. Minha hipótese é que as trajetórias de tais grupos trazem contribuições importantes para a ética do trabalho coletivo, para a construção dramatúrgica, para a encenação e para o trabalho do ator. Trata-se, portanto, de investigar, registrar e de comparar essas contribuições, as quais já vêm ocorrendo há bastante tempo na cena brasileira. Acredito que o contexto político ainda conturbado e pouco discernível do pós-junho de 2013 esteja impactando de algum modo os trabalhos cênicos contra-hegemônicos e consequentemente, aquilo que chamamos aqui de campo das artes cênicas no Brasil. Por isso, o interesse em acompanhar os processos de coletivos que estejam atuantes no presente. A pesquisa possui natureza teórico-prática, envolvendo estudos sobre teatro de grupo e criação coletiva, estudos em ciência política, sociologia, sociologia da cultura, pesquisa documental em arquivos públicos e privados (gravações de espetáculos, publicações, anotações pessoais de artistas, arquivos de grupos etc.), pesquisa na internet, além de entrevistas com artistas, observação direta de reuniões de grupos e processos criativos. O desenvolvimento da pesquisa determinará um recorte sobre a amostragem de grupos aqui apresentada. Se não o procedo já de imediato é porque considero pertinente ter em vista um horizonte mais amplo da cena contra-hegemônica brasileira contemporânea antes de imergir num estudo mais focado. O ideal será trabalhar mais detidamente com no mínimo três coletivos, o que permitirá dar conta minimamente da pluralidade de questões e demandas sociais e culturais envolvidas. Isso não excluirá, no entanto, os demais grupos e outros ainda a ser mapeados das análises de caráter mais geral. XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 97-101 100

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS, Clóvis de. A sociologia de Pierre Bourdieu e o campo da comunicação: uma proposta de investigação teórica sobre a obra de Pierre Bourdieu e suas ligações conceituais e metodologias com o campo da comunicação. Tese de doutorado. São Paulo: Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, 2003. CANCLINI, Néstor Garcia. Gramsci con Bourdieu. Hegemonía, consumo y nuevas formas de organización popular. Buenos Aires: Revista Nueva Sociedad nº 71, marzo-abril 1984, pp. 69-78. GRAMSCI, Antonio. O leitor de Gramsci: escritos escolhidos 1916-1935. Carlos Nelson Coutinho (org). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 97-101 101