Desafios do Ministério Público na promoção da igualdade de gênero institucional

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Transcrição:

Desafios do Ministério Público na promoção da igualdade de gênero institucional Mariana SEIFERT BAZZO 1 Caroline MACIEL 2 Maria Gabriela Prado MANSSUR TRABULSI 3 I. Exposição De acordo com diversos estudos, principalmente a Pesquisa Cenários de Gênero, desenvolvida pela Comissão de Planejamento Estratégico do Conselho Nacional do Ministério Público, há evidência numérica de que, em que pese 40 por cento dos integrantes do Ministério Público brasileiro sejam mulheres, há percentual muito inferior das agentes ministeriais em cargos de poder, gestão, liderança e tomada de decisão nos órgãos das Procuradorias-Gerais bem como nas diretorias das Escolas, diretorias e presidências de associações de classe. Ademais, há baixa representatividade feminina no Ministério Público brasileiro em bancas de concurso, cursos, congressos e eventos em geral, grupos de trabalho e estudo, debates, reuniões, comissões, posses, e destaques em sites institucionais. A possibilidade de correção da desigualdade de gênero institucional é tema de debate em diversas esferas de poder, sendo necessário destacar que no âmbito do Poder Judiciário brasileiro, já houve, no mês de setembro de 2018, a expedição da Resolução 255 do Conselho Nacional de Justiça, determinando a instituição de uma Política Nacional de Incentivo à Participação Feminina no Poder Judiciário. No âmbito do Ministério Público da América Latina, na XXIV Reunión Especializada de Ministerios Públicos del MERCOSUR, Procuradores y Fiscales Generales de la Región y Representantes de Ministerios Públicos del MERCOSUR deliberaram, no ultimo mês de novembro de 2018, que são necessárias iniciativas de promoção da igualdade de gênero no âmbito institucional e fomentar a participação feminina igualitária em eventos e foros internacionais. Por ocasião da I Conferência das Procuradoras da República, realizada pela Procuradoria-Geral da República e pela Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU) em 16 e 17 de junho do corrente ano foram aprovadas as seguintes propostas sobre o tema objeto da presente tese: 1 Deve haver representatividade feminina nos cargos de gestão e de liderança na carreira, nas atividades meio e fim, construindo-se critérios para garantia de alternância entre homens e mulheres nesses postos. 2 Deve haver equidade de representação de gênero nos eventos internos do MPF. Os órgãos do MPF devem orientar os membros a solicitar informações sobre a representatividade feminina em palestras e eventos externos antes de confirmar a participação. 3 A PGR expedirá orientações para observância da equidade de gênero nas indicações para participação em grupos de trabalho, forças-tarefas, eventos, coordenações, nos diversos órgãos do MPF, em suas distintas temáticas. 4 Deve ser garantida a equidade na participação de mulheres e homens na condição de discentes e docentes da ESMPU, bem como na corregedoria, nas Câmaras de Coordenação e Revisão, nos Núcleos de Apoio Operacional da PFDC, com alternância nas chefias. 1 Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná. Pós-Graduada em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito de Coimbra. Mestranda em Estudos Sobre Mulheres pela Universidade Aberta de Portugal. Vice-Coordenadora do Movimento Nacional de Mulheres do Ministério Público. 2 Procuradora da República no Rio Grande do Norte. Procuradora-Chefe da Procuradoria da República no RN. Procuradora Regional dos Direitos da Cidadã e do Cidadão no RN. Diretora da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Membra da Comissão de Gênero da ANPR. Coordenadora de Prerrogativas do Movimento Nacional de Mulheres do Ministério Público. 3 Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo. Mestranda em Direito Político e Econômico pelo Mackenzie-SP. Especialista em Direitos das Mulheres pela Universitá di Roma. Membra da COPEVID Comissão Nacional dos Promotores de Justiça que atuam no Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do GNDH. Diretora da Mulher da Associação Paulista do Ministério Publico. Membra da Comissão da Mulher da CONAMP. Coordenadora-Geral do Movimento Nacional de Mulheres do Ministério Público.

5 Os/as coordenadores/as das Câmaras de Coordenação e Revisão e a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão observarão a equidade de gênero para a participação nas atividades de comissões, grupos de apoio, grupos de trabalho, curso, entre outras. 6 O MPF deve assumir compromisso formal com a equidade de gênero, criando medidas concretas e estrutura para garantir a participação de mulheres em coordenação, chefia, assessoria e outras que confiram visibilidade, monitorando a presença feminina em todas as instâncias da Instituição. No evento Perspectivas de Gênero e não discriminação étnico-racial no Ministério Público do Trabalho, ocorrido nos dias 18 e 19 de outubro de 2018 e promovido pelo Ministério Público do Trabalho em parceria com a ESMPU, membros e membras do MPT aprovaram propostas no sentido de democratizar o espaço e estimular o acesso das Procuradoras aos cargos de PGT, Coordenadora Nacional, Conselheira do CSMPT e do CNMP, Presidência da ANPT, dentre outros, bem como no sentido de garantir a representatividade feminina e a equidade de gênero nas mesas dos eventos e na qualidade de palestrantes, nos grupos de trabalho, forças-tarefa, comissões, cargos de gestão e de liderança na carreira, nas atividades meio e fim, construindo-se critérios para garantia de alternância entre homens e mulheres. Seguindo a mesma linha, durante o XXXV Encontro Nacional dos procuradores e procuradoras da República, ocorrido entre os dias 31 de outubro e 4 de novembro de 2018, que teve como tema O papel do Ministério Público Federal na promoção da equidade de gênero, constou da Carta de Trancoso, dentre outros, os seguintes destaques: uma das formas de trabalhar a equidade no Ministério Público é por meio da promoção da simetria e criação de iguais oportunidades de liderança em todos os níveis de tomada de decisão e é imperioso garantir-se a participação equânime das mulheres em palestras, conferências e foros, nacionais ou internacionais, forças-tarefa, grupos de trabalho, assessorias jurídicas e administrativas, chefias, comissões e coordenações, em nome da instituição e daassociação Nacional dos Procuradores da República, para evitar o viés de grupo. Diante de tal quadro, vislumbra-se como urgente a necessidade de debate sobre garantia de maior Participação Feminina no Ministério Público no Brasil. II. Justificativa A Lei nº 11.340 de 2016, Lei Maria da Penha, determina que toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, crença, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhes asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. A igualdade de gênero constitui expressão da cidadania e dignidade humana, princípios fundamentais da República Federativa do Brasil e valores do Estado Democrático de Direito e está prevista como direito fundamental no art. 5º, I, da Constituição Federal de 1988. A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher adotada e aberta à assinatura, ratificação e adesão pela Resolução 34/180, da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 18 de dezembro de 1979 e ratificada pelo Brasil no Decreto 4.377, de 13 de setembro de 2002, declara: Artigo 5º Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para: a) modificar os esquemas e padrões de comportamento sócio-cultural de homens e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação dos preconceitos e práticas consuetudinárias, ou de qualquer outro tipo, que estejam baseados na idéia de inferioridade ou superioridade de qualquer dos sexos ou em papéis estereotipados de homens e mulheres; Artigo 7º Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra as mulheres na vida política e pública do país e, em particular, garantirão, em condições de igualdade com os homens, o direito: a) de votar em todas as eleições e em todos os referendos públicos e de ser elegível para todos os órgãos cujos integrantes sejam publicamente eleitos; b) de participar da formulação da política do Estado e na sua execução, de ocupar empregos públicos e de exercer todos os cargos públicos em todos os níveis de governo; c) de participar em organizações e associações não-governamentais que se ocupem da vida pública e política do

país. Artigo 11º 1. Os Estados Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra as mulheres na esfera do emprego, objetivando assegurar, em condições de igualdade entre homens e mulheres, os mesmos direitos, em particular: a) o direito ao trabalho como direito inalienável de todo ser humano; b) o direito às mesmas oportunidades de emprego, incluindo a aplicação dos mesmos critérios de seleção em matéria de emprego; c) o direito de escolher livremente profissão e emprego, o direito à promoção, à estabilidade no emprego e a todos os benefícios e outras condições de trabalho, e o direito à formação e à reciclagem profissionais, incluindo a aprendizagem, o aperfeiçoamento profissional e a formação permanente; d) o direito à igualdade de remuneração, incluindo benefícios, e à igualdade de tratamento relativa a um trabalho de igual valor, assim como igualdade de tratamento com respeito à avaliação da qualidade do trabalho; e) o direito à previdência social, especialmente em casos de aposentadoria, desemprego, doença, invalidez, velhice ou relativas a qualquer outra incapacidade para trabalhar, assim como o direito a férias pagas; f) o direito à proteção da saúde e à segurança nas condições de trabalho, inclusive a salvaguarda da função de reprodução. A Declaração de Pequim de 1995 também traz como essencial o fortalecimento e plena participação das mulheres, em condições de igualdade, nos processos de decisão e acesso ao poder para alcance de paz e desenvolvimento, sendo destacável: Conquanto as mulheres constituam pelo menos a metade do eleitorado de quase todos os países e tenham adquirido o direito de votar e desempenhar cargos públicos em quase todos os Estados-Membros das Nações Unidas, elas continuam sendo grandemente subrepresentadas. (...) As mulheres que ocupam postos políticos e de tomada de decisões nos governos e órgãos legislativos contribuem para a redefinição das prioridades políticas e para a inclusão nos programas governamentais de novos tópicos, que refletem suas preocupações específicas, seus valores e experiências, e instilam novas perspectivas na corrente principal da temática política 4 De igual modo, a ratificação da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, pelo Decreto n. 1973/1996, obriga o Brasil a promover a igualdade de gênero, tal como se vê do disposto de seu art. 4º, alíneas f e j, onde se garante às mulheres o direito de igual proteção perante a lei e da lei, bem como o de igualdade de acesso às funções públicas de seu país. A pesquisa Mais Mulheres na Política feita ainda em 2013 pelo Instituto Patrícia Galvão e pelo Ibope, mostrou que 74% dos entrevistados acreditavam que só há democracia de fato com a presença de mais mulheres nos espaços de poder e de tomada de decisão e 71% demonstravam apoio à reforma política para garantir maior participação feminina. Ainda, 80% consideraram que as leis deveriam mudar para garantir o mesmo número de mulheres e homens em todos os cargos políticos eletivos. 5 A participação política das mulheres é importante por potencializar pautas de interesse das mulheres em diferentes áreas, além de contribuir decisivamente para maior produtividade, uma vez que a diversidade deve ser observada em todas as tomadas de decisões, com impacto positivo inclusive na economia global. O último Global Gender Gap Report 2017, emitido pelo Fórum Econômico Mundial que analisa a igualdade entre homens e mulheres em 144 países, mostra que o Brasil se encontra na 90ª posição desse ranking e pode demorar mais de cem anos para alcançar a igualdade de gênero nos critérios de participação econômica e oportunidades, acesso à educação, saúde, sobrevivência e participação política. A desigualdade de gênero em todos os setores públicos e privados continua sendo um desafio fundamental e o enfrentamento dessa questão está em compasso com um dos Princípios do Desenvolvimento 4 Declaração de Pequim, encontrável em http://www.onumulheres.org.br/wpcontent/uploads/2014/02/declaracao_pequim.pdf, item 182, p. 215. 5 Encontrável em https://agenciapatriciagalvao.org.br/wp-content/uploads/2013/07/mais_mulheres_politica.pdf

Sustentável da Agenda 20130 da Organização das Nações Unidas, de número 5.5.: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas, garantindo a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis e tomada de decisão na vida politica, econômica e pública 6. Há a necessidade de adotar políticas de empoderamento da mulher não só para garantir o acesso das Promotoras e Procuradoras de Justiça aos cargos de direção e liderança estruturais, mas também desenvolver ações institucionais afirmativas para atrair mais mulheres para carreira do Ministério Público de todo o Brasil, em um ambiente favorável e democrático. As mulheres ainda são a minoria de membros no Ministério Público brasileiro, com representatividade e participação reduzidas na medida em que avançam na carreira, havendo a necessidade de verificação da existência do teto de vidro : Entre as manifestações da segregação de gênero no mercado de trabalho está a segregação hierárquica (ou vertical). Conhecido na literatura como teto de vidro, este fenômeno caracteriza-se pela menor velocidade com que as mulheres ascendem na carreira, o que resulta em sua sub-representação nos cargos de comando das organizações e, consequentemente, nas altas esferas do poder, do prestígio e das remunerações. É observado mesmo quando as mulheres são dotadas de características produtivas idênticas ou superiores às de seus congêneres do sexo masculino. No Brasil, de fato, ainda são raras as mulheres em altos cargos corporativos. Entre os funcionários e dirigentes de uma amostra de organizações extraída do grupo das 500 maiores empresas no país, por exemplo, observa-se um afunilamento hierárquico, ou seja, a incidência de menos mulheres quanto mais elevada é a instância de poder, ainda que o grau de instrução feminino seja superior ao masculino em todos os níveis considerados. Assim, se elas representavam 35% dos funcionários sem atribuições de comando, em 2007, no quadro executivo (presidente, vice-presidentes e diretores) esse percentual reduzia-se a 11,5% (Ethos, 2007) 7. Apesar da complexidade do fenômeno, contudo, pouco ainda se discutiu sobre essa problemática internamente no Ministério Público: Sabe-se que todos os ramos do Ministério Público têm empreendido esforços para a efetivação de políticas públicas voltadas à igualdade de gênero. Porém, é necessário que as mesmas reflexões se estendam à organização interna da instituição. Também é preciso discutir temas como assédio moral e sexual, oportunidades de acesso aos cargos de prestígio e reconhecimento da legitimidade de fala das mulheres 8. Há referências teóricas e pesquisas sobre representatividade de mulheres e sua atuação no Direito. No âmbito do Ministério Público é importante citar a obra de Carlos Francisco Bandeira Lins: Mulheres no Ministério Público: o conflito entre realização profissional, realização familiar visto a partir de dados demográficos e a tese jurídica aprovada por unanimidade no XXI Congresso Nacional do Ministério Público, a primeira nesse tema: Santo de Casa Não Faz Milagre? de Maria Clara Costa Pinheiro de Azevedo (MPMG), Daniela Campos de Abreu Serra (MPMG), Hosana Regina Andrade de Freitas (MPMG), Maria Carolina Silveira Beraldo (MPMG), Monica Louise de Azevedo (MPPR) e Ana Teresa Silva de Freitas (MPMA), ambas evidenciando a falta de representatividade feminina, sobretudo em cargos que definem os rumos das instituições. Finalmente, importante avanço em tais referências teóricas e de pesquisa foi promovido pelo Conselho Nacional do Ministério Público, por meio da Comissão de Planejamento Estratégico (CPE/CNMP), a qual apresentou no estudo Cenários, em junho de 2018, dados objetivos coletados junto às Administrações superiores e que demonstram a desigualdade de gênero no Ministério Público brasileiro, composto, até o final do ano de 2017, por 5219 promotoras e procuradoras e 7802 promotores e procuradores, na proporção de 40% de 6 Encontrável em http://www.agenda2030.com.br/. 7 VAZ, Daniela Verzola. O teto de vidro nas organizações públicas: evidências para o Brasil. Economia e Sociedade, [S.l.], v. 22, n. 3, dez. 2015. ISSN 1982-3533. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8642183/9665>. Acesso em: 17 nov. 2018, p. 02. 8 SIGNORINI, Terezinha. Ofício n 47/2018 CAOP CFTS. Ref: Representatividade feminina em eventos jurídicos. Encaminhado em 04 de outubro de 2018 à Procuradoria-Geral da República.

mulheres para 60% de homens no total. Quanto aos cargos de decisão e poder, extrai-se: ( ) Conforme os dados colhidos no projeto, desde a Constituição de 1988, 52 mulheres e 240 homens ocuparam cargos de procurador-geral, o que representa cerca de 18% de lideranças femininas versus 82% de lideranças masculinas no MP. O cenário dissonante não se modifica no que tange aos cargos de confiança de chefe de gabinete, secretário-geral e assessor de procurador-geral, correspondentes aos últimos dois mandatos, em relação aos quais se verificou a prevalência na escolha de profissionais do sexo masculino. Há uma distorção na proporção de 76% para 24% nos cargos de secretários-gerais; 70% para 30% nos cargos de chefes de gabinete; e 70% para 30% entre assessores. ( ) No CNMP, em 13 anos de existência, foram 11 mandatos de mulheres, enquanto que o número de mandatos de homens já chega a 86. Nesse período, só uma mulher chefiou a Corregedoria Nacional do Ministério Público. Atualmente, no Conselho, as mulheres representam 24% dos membros auxiliares e 39% dos membros colaboradores 9. A mesma desigualdade de gênero foi encontrada por dados coletados no âmbito do Poder Judiciário Brasileiro, constatação que fundamentou que o Conselho Nacional de Justiça emitisse no mês de setembro de 2018 a Resolução 255, a qual prevê: Art. 1º Instituir a Política Nacional de Incentivo à Participação Feminina no Poder Judiciário. Art. 2º Todos os ramos e unidades do Poder Judiciário deverão adotar medidas tendentes a assegurar a igualdade de gênero no ambiente institucional, propondo diretrizes e mecanismos que orientem os órgãos judiciais a atuar para incentivar a participação de mulheres nos cargos de chefia e assessoramento, em bancas de concurso e como expositoras em eventos institucionais. Art. 3º A Política Nacional de Incentivo à Participação Feminina no Poder Judiciário deverá ser implementada pelo Conselho Nacional de Justiça por meio da criação de grupo de trabalho, responsável pela elaboração de estudos, análise de cenários, eventos de capacitação e diálogo com os Tribunais sobre o cumprimento desta Resolução, sob a supervisão de Conselheiro e de Juiz Auxiliar da Presidência do Conselho Nacional de Justiça, indicados pela sua Presidência. No âmbito do Ministério Público da América Latina, na XXIV Reunión Especializada de Ministerios Públicos del MERCOSUR, Procuradores y Fiscales Generales de la Región y Representantes de Ministerios Públicos del MERCOSUR deliberaram, no ultimo mês de novembro de 2018, que são necessárias as seguintes iniciativas: 1. Promover la igualdad de género en el ámbito institucional, proponiendo directrices y mecanismos que orienten a los Ministerios Públicos y a sus integrantes para una efectiva igualdad sustantiva en todos los espacios de trabajo y en todos los ámbitos de la vida funcional, incluyendo en los órganos de mando y de decisión. 2. Fomentar la participación igualitaria de mujeres en eventos y foros internacionales en que participen los Ministerios Públicos, incluyendo en las Comisiones y Subcomisiones en ámbito Mercosur 10. No cenário específico do Ministério Público nacionalmente, em foi criado o Movimento Nacional de Mulheres do Ministério Público, reunindo aproximadamente 500 Promotoras e Procuradoras de Justiça, com o objetivo de promover a igualdade de gênero institucional e maior representatividade feminina em todos os ramos do Ministério Público Brasileiro. Especificamente sobre representatividade feminina institucional, no mês de agosto, o MNMMP expediu ofício subscrito por 358 (trezentos e cinquenta e oito) mulheres do todos os ramos do Ministério Público e 71 (setenta e um) apoiadores (promotores e procuradores), com requerimento dirigidos aos Procuradores(as)-Gerais, Diretores(as) de Escolha Superior do Ministério Público e Presidentes de Associações de Classe para que, ao realizar eventos, garantam, na programação, proporcionalmente, a presença 9 Estudo encontrável em http://www.cnmp.mp.br/portal/images/20180625_cenarios_de_genero_v.final_3.1_1.pdf 10 Encontrável em http://www.rempm.org/

de promotoras, e procuradoras como expositoras, palestrantes, mediadoras e integrantes de mesa de abertura. Juntamente com a criação do Movimento Nacional de Mulheres do Ministério Público, no início de 2018, foram realizadas diversas ações visando ao enfrentamento da desigualdade de gênero institucional, dentre as quais se destacam: o lançamento da campanha contra assédio sexual no trabalho pelo MPSP, em 12 de julho de 2018; a I Reunião das Mulheres do MPBA em julho de 2018; a I Conferência Nacional das Procuradoras da República, que aprovou propostas de promoção de equidade de gênero no MPF, em 18 de junho 2018; a apresentação, pelo CNMP dos dados relativos à desigualdade de gênero no Ministério Público, em 21 de junho de 2018 com o Projeto Cenários; o I Encontro de Mulheres do MP nos Estados do Espirito Santo, Bahia, Pará, São Paulo, Rio Grande do Norte, Paraíba; a Criação da Comissão Nacional de Mulheres na Conamp; o Grupo de Estudos Interinstitucional sobre Igualdade de Gênero do Paraná; o evento Liderança Feminina no MPT no início do mês, entre outros. No próximo dia 20/8, o STF sediará o Seminário Elas por Elas: Mulher no Poder Estatal e na Sociedade e no dia 22/8 Magistradas de todo Brasil realizam o evento Justiça, Gênero e Arte 11. Institucionalmente, em abril de 2018, foi apresentada proposta de recomendação a ser apreciada pelo CNMP, cujo teor integral consiste em determinar "a instituição de Programas e Ações sobre Equidade de Gênero no âmbito do Ministério Público da União e dos Estados" 12. Em 17 de outubro de 2018, a partir de procedimento instaurado pela Comissão de Defesa dos Direitos Fundamentais (CDDF) do Conselho Nacional do Ministério Público, foi realizada a audiência pública que debateu a representatividade das mulheres em eventos jurídicos do MP como palestrantes, conferencistas, debatedoras e congêneres. Também ocorre debate institucional sobre da proposta de Recomendação em trâmite no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), com vistas a recomendar a todos os ramos e as unidades do Ministério Público brasileiro que efetivem a igualdade de gênero no âmbito institucional, assegurando percentual mínimo de participação feminina nos cargos de mando, decisão, chefia e assessoramento, bem como, em eventos institucionais. A recomendação traça princípios, diretrizes, mecanismos e ações que asseguram o percentual mínimo de participação em órgãos de tomadas de decisões, funções de chefia e assessoramento bem como em eventos institucionais e recomenda que os ramos do Ministério Público deverão, preferencialmente, desenvolver as seguintes ações garantidoras da participação equitativa de mulheres e de homens, em percentuais que não superem 60%, nem sejam inferiores a 40%: I Observância de percentual mínimo de participação feminina nos órgãos da administração superior do Ministério Público; II Observância de percentual mínimo de participação feminina nas bancas de concurso, especialmente naquelas formadas para ingresso nas carreiras do Ministério Público; e III Observância de percentual mínimo de participação feminina, na qualidade de expositora, nos painéis de seminários, congressos e outros eventos institucionais. Ressalta-se que a proposição se baseia no Projeto de Lei nº 4828 de 2016, que autoriza o Poder Executivo a Promover o Pacto Federativo de Igualdade entre Homens e Mulheres. Apesar das diversas ações, multiplicadas de forma exponencial no último ano, fato é que, até o presente momento, não foi ainda emitida qualquer normativa ou concluída qualquer medida concreta que vise ao estabelecimento de uma verdadeira Política Nacional de Incentivo à Participação Feminina no Ministério Público brasileiro. III. Conclusão Feitas as considerações acima, em consonância com a Resolução 255/2018 do Conselho Nacional de Justiça, e sendo o Ministério Público instituição que tem como dever constitucional a defesa dos direitos fundamentais, entre eles, a igualdade entre homens e mulheres, necessário e salutar que desenvolva internamente uma verdadeira Política Nacional de Igualdade de Gênero institucional, determinando que todos as unidades e ramos do Ministério Público adotem medidas tendentes a assegurar a igualdade de gênero no ambiente institucional, propondo diretrizes e mecanismos para incentivar e garantir a participação de mulheres nos cargos de chefia e assessoramento, em bancas de concurso e como expositoras em eventos institucionais. 11 Igualdade na Lei e nos Fatos - Artigo publicado pelo Movimento Nacional de Mulheres do Ministério Público encontrável em https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/igualdade-na-lei-e-nos-fatos/ 12 Encontrável em http://www.cnmp.mp.br/portal/images/recomenda%c3%a7%c3%a3o_- _Programa_de_Equidade_de_Genero.pdf.