INFORMATIVO AS ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL A EMPREGADOS DOMÉSTICOS. Flavio Aldred Ramacciotti W W W. M F R A. C O M. B R

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PERGUNTAS E RESPOSTAS

Transcrição:

INFORMATIVO AS ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL A EMPREGADOS DOMÉSTICOS Flavio Aldred Ramacciotti W W W. M F R A. C O M. B R

ÍNDICE INTRODUÇÃO... 3 OS NOVOS DIREITOS... 4 DIREITOS DE EFICÁCIA IMEDIATA... 5 Garantia de salário mínimo... 5 Pagamento do salário em dia... 5 Jornada de trabalho e horas extras... 5 Normas de saúde, higiene e segurança... 8 Convenções e acordos coletivos de trabalho... 9 Proibição de discriminação... 9 Empregados domésticos menores de 18 anos... 10 DIREITOS QUE DEPENDERÃO DE REGULAMENTAÇÃO... 11 FGTS e seguro-desemprego... 11 Trabalho noturno... 11 Salário-família... 12 Assistência a filhos e dependentes... 12 Acidentes de trabalho... 13 CONCLUSÃO: COMO SE COMPORTAR... 14 2

INTRODUÇÃO A notícia da ampliação dos direitos dos empregados domésticos tem recebido grande repercussão por conta da aprovação do Projeto de Emenda Constitucional (PEC) nº 66/2009. O Projeto de Emenda Constitucional deu origem à Emenda Constitucional (EC) nº 72, que foi promulgada no último dia 2 de abril e publicada ontem no Diário Oficial da União. A nosso ver, a pior face da nova legislação foi o acirramento de uma relação que deve se basear principalmente na mútua confiança e na cumplicidade. Não há lados antagônicos na relação entre o empregador e o empregado doméstico e, na prática, o dia a dia da relação sofrerá poucos sobressaltos, com aumento do custo menor do que muitos imaginam. Assim, a primeira coisa que o empregador deve fazer é ter uma conversa franca com o seu empregado doméstico, explicando os novos direitos e as novas obrigações, tentando, assim, amainar todos os ânimos. Mais formalismo na relação é recomendável, mas não obrigatório. Seria interessante, portanto, que a partir de agora fossem feitos contratos escritos de trabalho, recibos relativos a todos os pagamentos efetuados, acordos para compensação de jornada, etc. 3

OS NOVOS DIREITOS A Emenda Constitucional aprovada na semana passada apenas acresceu alguns direitos que, antes, somente eram devidos aos empregados das empresas (regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho CLT). O artigo 7º da Constituição Federal prevê uma série de direitos aos empregados das empresas (regidos pela CLT), os quais estão listados ao longo dos trinta e seis incisos desse artigo. Os direitos dos empregados domésticos estavam determinados no parágrafo único desse mesmo artigo 7º, elencando, dentre os direitos do empregado (regido pela CLT), aqueles que seriam aplicáveis para os domésticos. A alteração constitucional, portanto, somente acresceu alguns direitos anteriormente não previstos. A redação era a seguinte: Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integração à previdência social. A partir da publicação da emenda constitucional, os direitos que serão agora reconhecidos para os domésticos passarão a ser os seguintes: Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XVIII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. (em destaque os direitos acrescidos) 4

DIREITOS DE EFICÁCIA IMEDIATA GARANTIA DE SALÁRIO MÍNIMO VII garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável Comentário: Na prática, esse novo direito não deve causar grandes transtornos, pois, nas grandes cidades é comum o pagamento de, pelo menos, um salário mínimo para o empregado doméstico. Como agir: Se o empregador pagar menos do que o salário mínimo, terá que aumentar o valor do salário do empregado. Será uma boa oportunidade para negociar com o empregado doméstico para que ele trabalhe 44 horas semanais. Também é possível pagar menos que o salário mínimo, se a jornada semanal for inferior a 44 horas semanais, mas é fundamental que essa condição conste expressamente em contrato de trabalho. PAGAMENTO DO SALÁRIO EM DIA X proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa Comentário: Em tese, o empregador que fizer retenção dolosa do salário do empregado doméstico poderá ser processado criminalmente. Infelizmente, como a relação com o empregado doméstico é muito pessoal e personalizada ocorrem casos de significativos atrasos no pagamento de salários, o que não se justifica. Como agir: pagar o salário do empregado doméstico em dia. JORNADA DE TRABALHO E HORAS EXTRAS XIII duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho 5

XVI remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal Comentário: Talvez esse seja o direito que trará maior controvérsia e preocupação. O empregado doméstico deverá trabalhar 44 horas durante a semana. Ele tem assegurado um descanso semanal remunerado, portanto, essas 44 horas devem ser distribuídas ao longo de seis dias de trabalho. Isso daria uma jornada diária de 7 horas e 20 minutos. Todavia, a distribuição do horário nos dias da semana, normalmente, ocorre da seguinte forma: de 2ª a 6ª, por oito horas diárias e aos sábados, por 04 horas diárias, totalizando a jornada semanal de 44 horas. É possível fazer um acordo (necessariamente escrito e chamado acordo de compensação ) com o empregado doméstico, para que as 04 horas de trabalho do sábado sejam distribuídas ao longo dos dias da semana, de forma que o empregado trabalhará mais do que 08h de 2ª a 6ª e não trabalhará aos sábados. Vale lembrar, ainda, que o intervalo para refeição (mínimo de 1h e máximo de 2h) não é considerado nessa jornada de trabalho. Assim, exemplificativamente, é possível estipular as seguintes jornadas de trabalho: 6

Também é possível se determinar que em determinado dia da semana o trabalho se inicie às 08h e em outro dia comece mais tarde ou mais cedo, mas sendo importante ajustar o horário do término da jornada. O mesmo se aplica ao intervalo que pode ser de até 2h. Atenção: Se a jornada de trabalho for de até 06 horas diárias, o intervalo para refeição e descanso poderá ser de 15 minutos. a. Como fazer o controle dessa jornada: Apesar de não haver obrigação legal do empregador com menos de 10 empregados manter qualquer tipo de controle formal de jornada de trabalho (CLT, artigo 74, 2º), por conta de todos os questionamentos que estão sendo feitos, a melhor postura seria ter anotações da jornada. Este controle pode ser feito sem grandes formalidades, sendo, porém, muito importante a correta anotação do início do trabalho, o tempo de intervalo e o término do trabalho. O mais prático seria comprar os cartões de ponto que são vendidos em papelarias, os quais já possuem os espaços para anotação de cada horário. Esta anotação não pode conter rasuras e deve refletir a realidade, ou seja, se o doméstico começou a trabalhar às 08:27h, é esse o horário que deve ser anotado e não 08:30h. b. Como apurar as horas extras? Em primeiro lugar, deve-se estabelecer como será a jornada de trabalho do empregado doméstico, observados os limites de 44 horas semanais ou 08 horas diárias para a semana e 04 horas para os sábados, e a possibilidade de estender essas 08 horas mediante o acordo de compensação. A partir dessa jornada, deve-se verificar, dia a dia, se o empregado extrapolou a jornada de trabalho diária. Se positivo, o que excedeu deve ser pago como hora extra. Para efetuar o cálculo dessa hora extra, inicialmente, deve-se apurar o valor do salário-hora do doméstico, o que é feito dividindo-se o salário mensal por 220 (para os empregados cuja jornada semanal seja de 44 horas). Obtido o valor do salário-hora, temos que acrescer 50% desse valor e, após, multiplicar pelo número de horas extras mensais. 7

Exemplo: Para um empregado que tem salário de R$1.500,00 mensais e realizou 10 horas extras no mês, a conta ficará a seguinte: 1.500,00 220 = R$6,82 este é o valor do salário-hora 6,82 + 50% = R$10,23 este é o valor do salário-hora já com o adicional de hora-extra de 50%, ou o valor de 01 hora extra 10,23 x 10 = R$102,30 este é o valor das 10 horas extras c. É possível descontar valores com faltas e atrasos? Sim, é possível para as faltas injustificadas. Se o empregado apresentar atestado médico dispensando-o do trabalho, o empregador é obrigado a aceitar o atestado e não pode fazer qualquer desconto. No caso de faltas, o empregador deve escrever no cartão de ponto falta justificada ou falta. Se a falta for justificada, não haverá desconto, enquanto que, no segundo caso, a falta injustificada poderá ser descontada do salário mensal. Também é possível desconto com relação aos atrasos, o que será observado no próprio cartão de ponto. É importante explicar para o empregado doméstico que faltas e atrasos não justificados podem ensejar o desconto do valor do descanso semanal remunerado (DSR). Isso quer dizer o seguinte: o salário pago de forma mensal já inclui além dos dias efetivamente trabalhados, os dias de descanso (o chamado descanso semanal remunerado). Nos termos do artigo 6º da Lei nº 605/49, não é devida a remuneração do DSR se o empregado não cumprir integralmente a sua jornada ao longo da semana. Para fazer este desconto, todavia, é imprescindível a existência e anotação do cartão de ponto. NORMAS DE SAÚDE, HIGIENE E SEGURANÇA XXII redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança 8

Comentário: Esta questão precisará de melhores explicações ou alguma lei para regulamentá-la. Existem várias obrigações, procedimentos e documentos que uma empresa precisa adotar com relação à saúde e à segurança de seus empregados, mas não parece razoável se exigir isso tudo do empregador doméstico. Como agir: aguardar futura regulamentação ou explicação do Poder Público quanto a esse direito. CONVENÇÕES E ACORDOS COLETIVOS DE TRABALHO XXVI reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; Comentário: Na prática, haverá o reconhecimento dos sindicatos de empregados domésticos e dos sindicatos dos empregadores domésticos, que serão os personagens que elaborarão as convenções coletivas. Também existirá a possibilidade do empregador negociar com o sindicato dos empregados domésticos algumas condições específicas de trabalho, como por exemplo, a criação de banco de horas. Como agir: aguardar futura regulamentação ou explicação do Poder Público quanto a esse direito. PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO XXX proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; XXXI proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; Comentário: Esses incisos vedam qualquer discriminação quanto à contratação, ao serviço e o pagamento de salários para o empregado doméstico, por motivo de sexo, idade, cor, estado civil ou se o doméstico é portador de alguma deficiência. Como agir: não discriminar. 9

EMPREGADOS DOMÉSTICOS MENORES DE 18 ANOS XXXIII proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; Comentário: Este inciso proíbe a contratação de qualquer empregado doméstico menor de 14 anos. Como não entendemos possível a contratação de aprendizes pelo empregador doméstico, exceto se forem criados cursos técnicos para empregados domésticos, a rigor, o inciso acabará proibindo a contratação de domésticos menores de 16 anos. Como agir: Contratar domésticos maiores de 18 anos ou, se contratar menor entre 16 e 18 anos, não permitir o trabalho após às 22h. 10

DIREITOS QUE DEPENDERÃO DE REGULAMENTAÇÃO FGTS E SEGURO-DESEMPREGO I relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos; II seguro desemprego, em caso de desemprego involuntário; III fundo de garantia do tempo de serviço; Comentário: Estes três incisos devem ser entendidos em conjunto. Na prática, assim que for publicada regulamentação sobre a matéria, o recolhimento do FGTS será obrigatório pelo empregador e, em caso de demissão sem justa causa do empregado doméstico, o empregador terá que pagar uma multa no valor de 40% sobre o saldo da conta do FGTS do empregado doméstico. Com o recolhimento mensal do FGTS, o empregado doméstico fará jus ao seguro desemprego, o qual será pago pelo Governo Federal, não importando, assim, o seguro desemprego em aumento de custo ao empregador. O FGTS, sim, importará em um acréscimo no custo do empregador e será calculado em 8% sobre o valor do salário, das horas extras, do 13º salário e das férias gozadas pelos domésticos (valor das férias + 1/3). Deverá ser recolhido mensalmente e, não poderá haver desconto algum do doméstico. Estes recolhimentos ainda serão objeto de regulamentação pelo Poder Público. Como agir: Aguardar futura regulamentação pelo Poder Público. TRABALHO NOTURNO IX remuneração do trabalho noturno superior à do diurno Comentário: Se o trabalho do doméstico ocorrer após às 22h, o valor da hora será maior do que o valor da hora durante o dia de trabalho normal. É nessa situação que 11

se encaixarão os empregados domésticos que dormem na residência do empregador (empregadas, babás, acompanhantes, etc.). Em princípio, o trabalho a ser executado também não poderá extrapolar o limite de 44 horas semanais e 08 diárias para 05 dias e 04 horas para os sábados, conforme acima já explicado. Se extrapolar, será devido o pagamento das horas extras. Digo em princípio, pois provavelmente haverá alguma regulamentação do Poder Público sobre este assunto. Como agir: Aguardar futura regulamentação pelo Poder Público. SALÁRIO-FAMÍLIA XII salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; Comentário: O empregado doméstico cujo salário seja de até R$971,78 e tenha filhos de até 14 anos ou algum filho inválido (de qualquer idade) terá direito a receber este benefício, a ser pago pelo empregador. O valor deste benefício, por filho, é atualizado anualmente e em 2013 é de R$31,22 para quem tem salário de até R$608,80 e de R$22,00 para quem tem salário entre R$608, 81 e R$971,78. Como agir: aguardar futura regulamentação pelo Poder Público. ASSISTÊNCIA A FILHOS E DEPENDENTES XXV assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; Comentário: Em tese, os empregados domésticos que têm filhos de até 05 anos receberão um valor para o custeio das despesas com creche e pré-escola. Como agir: aguardar futura regulamentação pelo Poder Público. 12

ACIDENTES DE TRABALHO XXVIII seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; Comentário: Este inciso poderá acarretar duas consequências: (a) dependendo da regulamentação, o empregador poderá que ter que recolher 1% a mais da sua contribuição previdenciária, a título de seguro de acidentes de trabalho (SAT); e (b) se o empregado doméstico sofrer algum acidente de trabalho, o empregador poderá ter que indenizá-lo se ficar provado que incorreu em culpa ou dolo. Como agir: Aguardar futura regulamentação pelo Poder Público. 13

CONCLUSÃO: COMO SE COMPORTAR Possivelmente outra grande dúvida prende-se ao que fazer nesse momento em que as alterações começarão a vigorar. Em primeiro lugar, é preciso ter bom senso, como em qualquer relação. Apesar de ter sido gerado um clima de animosidade entre o empregador e o empregado doméstico, este clima não deve prevalecer e todas essas questões devem ser bem conversadas e explicadas. É aconselhável colocar por escrito quais são as condições de trabalho que o empregado doméstico vem desenvolvendo ao longo da relação e adequá-las, se for necessário. Para os empregados domésticos que já trabalham, é desaconselhável alterar as condições do trabalho, como por exemplo, se o doméstico vem trabalhando normalmente por 07 horas diárias, não é por conta dos novos direitos que se poderá exigir trabalho por 08 horas sem alteração do salário. Para os domésticos que serão contratados após a publicação da Emenda Constitucional, é aconselhável decidir e estipular, desde o início, a jornada de trabalho de 44 horas semanais. Em resumo: 1. Assinar a carteira de trabalho e anotar as alterações de salário e períodos de férias; 2. Fazer contrato de trabalho com o empregado doméstico; 3. Fazer recibos de todos os pagamentos efetuados; 4. Comprar cartões de ponto vendidos em papelaria e que serão preenchidos à mão pela empregada, de acordo com os horários efetivamente trabalhados; 5. Caso não pretenda que o trabalho seja feito em sábados, elaborar acordo escrito para que o horário dos sábados seja distribuído (e acrescido) ao trabalho ao longo da semana; e 6. Sempre, sempre mesmo, conversar com o empregado para esclarecer estas questões e resolver os pequenos mal entendidos que poderão surgir. 14

RIO DE JANEIRO SÃO PAULO Avenida Almirante Barroso 52-5º Andar Alameda Santos, 2335-10º, 11º e 12º andares Centro - Rio de Janeiro - RJ CEP: 20031-000 Cerqueira César - São Paulo - SP CEP: 01419-002 Tel.: +55 (21) 2533-2200 3257-2200 Tel.: +55 (11) 3082-9398 2192-9300 Fax: +55 (21) 2262-2459 Fax: +55 (11) 3082-3272 W W W. M F R A. C O M. B R 15