EXERCÍCIO DE RITMO DE LEITURA PARA AQUISIÇÃO DE LEITURA PROFICIENTE EM UM ADULTO Nilzabeth Leite Coêlho Curso de Psicologia, Universidade Federal do Pará. Bolsista PIBIC/ CNPq Bolsista PIPES 999-2000, PROINT 2000-200, PIBIC/UFPA, 200-2004. E-mail: nlc@cpgp.ufpa.br Solange Calcagno e Olavo de Faria Galvão () Departamento de Psicologia Experimental, Universidade Federal do Pará. () Pesquisador C CNPq. E-mail: scg@cpgp.ufpa.br / ofg@cpgp.ufpa.br RESUMO O projeto Implantação de Unidades de Iniciação à Leitura para Escolares de Risco tem desenvolvido formas de apoio informatizado à alfabetização de adultos, partindo do pressuposto de que aprender a ler implica em uma série de habilidades. Como o programa básico utilizado ensina a leitura de palavras isoladas, outros projetos foram planejados no intuito de estender o ensino para a leitura de textos. Este estudo relata um desses projetos, de ensino de ritmo de leitura, desenvolvido para um participante que, por falta de uma leitura ritmada, conseguia ler as palavras isoladamente, mas não compreendia o significado da frase que elas formavam. Para o procedimento de ensino foi criado um aplicativo próprio no qual podia-se graduar o tempo para
Ritmo de Leitura e Alfabetização 2 apresentação de cada palavra. O tempo de leitura de cada palavra, bem como da frase inteira eram registrados. Numa outra etapa de ensino, a participante tinha que ler frases escritas em cartões e executar as tarefas por elas designadas. O número de palavras em cada frase foi aumentado até chegar a frases formadas por cinco palavras ou mais. Essa metodologia serviu para exercitar a fluência na leitura de frases com o objetivo de produzir leitura com função comunicativa. O tempo gasto na leitura do texto diminuiu gradativamente. O desempenho de leitura e execução da participante melhorou gradualmente à medida que foram apresentados novos conjuntos de frases. ABSTRACT The project Installing Units of Literacy for Students at Risk has developed alternatives to give automated support for adults literacy, departing from the understanding that learning to read implies the acquisition of a number of skills. Because the basic software used teaches reading of words, other projects extend teaching to reading phrases. This study reports one of these projects, developed for a participant who could read each word only at a very low speed thus not reaching phrase reading with comprehension. A customized software was developed to adjust the time lapse of word presentation. Reading time of words and phrases was recorded. Afterwards the participant had to read phrases written in cards and execute what was demanded. The number of words per phrase was increased from one to five and more. Word reading speed evolved. Phrase reading fluency and execution gradually improved as exercises with new sets of phrases were executed. INTRODUÇÃO Ser um leitor funcional implica em um repertório muito mais amplo que o de ler ou compreender apenas o significado das palavras que formam uma frase ou um texto. O ensino de leitura de palavras pode ser uma etapa deste processo de aprendizagem mas, é um procedimento ineficaz para, sozinho, garantir uma leitura com compreensão de textos inteiros. O Projeto de Implantação de Unidades de Iniciação à Leitura para Escolares de Risco tem desenvolvido tecnologia para alfabetização de adultos com dificuldades de aprendizagem em Belém. O procedimento básico de ensino utiliza-se de um programa de computador desenvolvido
Ritmo de Leitura e Alfabetização 3 na Universidade Federal de São Carlos, para uso com crianças com dificuldades de aprendizagem de leitura. Esse programa ensina ao estudante relações entre palavras inteiras escritas, as figuras e as palavras faladas correspondentes, em diferentes combinações programadas conforme a o grau de dificuldade do estudante. Originalmente a aplicação do programa pressupunha que a criança estivesse freqüentando a escola, por isso o programa visa o apoio à alfabetização, na medida em que a criança volta a acompanhar o ritmo da escola após passar pelo programa. O programa de exercícios usado com os adultos em Belém, com pequenas adaptações, foi o mesmo usado em São Carlos com as crianças. Esses exercícios estão divididos em duas partes: o Leitura, composto de 27 passos, no qual é ensinada, a cada passo, a leitura de três palavras simples, sem dificuldades da língua, em geral dissílabos compostos por consoante e vogal, e o Prog 2, composto por 79 passos de ensino de leitura de palavras com dificuldades ortográficas como rr, ch, nh, etc. Como os adultos não freqüentam a escola, o laboratório tem que assumir além do apoio à alfabetização, o papel da escola, de ambiente em que a leitura e a escrita são ensinadas e praticadas. À medida que a leitura das palavras vai sendo aprendida, o participante avança para outro passo no qual mais palavras vão sendo acrescentadas, e eventualmente, testes verificam a capacidade de leitura de palavras não ensinadas, formadas a partir da recombinação de sílabas daquelas palavras ensinadas (Souza, de Rose, de Rose, Fonseca, Galvão, Calcagno, e Hanna, 999; Matos, Hübner, Serra, Basaglia, & Avanzi, 2002). A leitura de palavras com compreensão pode ser caracterizada como a nomeação de palavras acompanhada da formação de classes de equivalência envolvendo a palavra impressa e falada e a correspondente figura (de Rose, Souza, Rossito, e de Rose, 989). Alguns de nossos participantes têm nos mostrado, entretanto, que, mesmo que uma pessoa seja capaz de ler compreendendo o significado de várias palavras apresentadas individualmente, ela nem sempre mostra leitura com compreensão quando estas mesmas palavras são apresentadas unidas e formando uma frase completa, confirmando de Rose, Souza, Rossito, e de Rose (989): a leitura com compreensão de um conjunto de palavras diretamente ensinadas não é suficiente para uma leitura proficiente. Sendo assim, o programa de ensino de palavras isoladas mostrou a necessidade de projetos complementares.
Ritmo de Leitura e Alfabetização 4 Rego (995), aplicou pré-testes de memória verbal, consciência fonológica e consciência sintática a escolares que estavam no início de uma classe de alfabetização por método tradicional, e verificou uma relação complexa entre essas medidas e medidas posteriores de leitura e compreensão. Apesar dos testes serem individuais, as análises apresentadas são de grupo, perdendo-se a possibilidade de verificar a evolução dos repertórios individuais. A autora descreve algumas hipóteses sobre as dificuldades de leitura de leitores principiantes, apontando para os bons resultados dos leitores eficientes nas habilidades metalingüísticas. Para a autora, a ênfase no treino sistemático de correspondências som-grafia incentiva a criança a ler de forma mecânica. (p.53), o que aponta a necessidade de exercícios para desenvolver consciência fonológica e sintática (contextual), durante a alfabetização. Ainda que possa ser válida a crítica do ensino das correspondências grafofonéticas como mecânico, o domínio dessas correspondências é necessário para o leitor eficiente; o que torna o ensino mecânico é a falta de diálogo na interação ensino-aprendizagem, quando essas correspondências são praticadas. Para o aprendiz, o acesso à leitura funcional deve estar presente a cada exercício, com a escrita exercendo seu papel de apoio à comunicação. O presente trabalho foi planejado levando em consideração que aprender a ler implica em uma série de habilidades distintas e que ler uma frase com compreensão envolve também uma leitura com um ritmo apropriado, que se aproxime do ritmo da expressão oral em situação de conversação, o que torna o indivíduo capaz de ler a palavra seguinte sem esquecer da palavra lida anteriormente e compreender o significado da frase por inteiro. O objetivo específico do procedimento planejado e aplicado foi o de resolver as dificuldades de uma participante que, por falta de uma leitura ritmada, conseguia ler as palavras isoladamente, mas tinha dificuldade de desenvolver leitura fluente e com compreensão. METODOLOGIA Participante Participou deste estudo uma senhora de 60 anos, voluntária, que terminou os dois programas de ensino de leitura por computador na Unidade de Iniciação de Leitura de Belém e cuja demora para a leitura de frases e textos se manteve alta e estável após o término dos dois programas automatizados (Leitura e Prog. 2).
Ritmo de Leitura e Alfabetização 5 Equipamento e Material Foi utilizado o aplicativo ProgramaRitmo criado especialmente para desenvolvimento de leitura ritmada de frases, com graduação do tempo para a apresentação de cada palavra, tempo esse proporcional ao número de letras da palavra anterior. Também foi utilizado um gravador para registro de leitura do participante e cronômetro para medir o tempo de leitura. Folhas de papel branco com frases impressas em letras grandes (Times New Roman 6). Ambiente Experimental As sessões de ensino e de teste foram realizadas no Laboratório de Controle de Estímulo no Laboratório de Psicologia Experimental da Universidade Federal do Pará, que consiste em uma sala de aproximadamente 2 m2, equipada com mesas, cadeiras, três computadores e armários. Procedimento Pré-teste I Consistiu da leitura de um texto impresso em papel branco, com letras grandes (Times New Roman, 6). O experimentador, com a ajuda de um gravador, registrou o tempo gasto na leitura de cada palavra e o tempo total gasto na leitura do texto. Após o término da leitura, foram feitas três perguntas sobre o texto para verificar se a participante leu com compreensão. Pré-teste II Consistiu da leitura do mesmo texto do pré-teste I, só que agora no computador, usandose o programa Power Point. A participante deveria ler o texto no ritmo em que as palavras eram apresentadas na tela do computador. O computador apresentava o texto com o aparecimento ritmado das palavras, uma a uma. Exercícios de ritmo de leitura utilizando-se o aplicativo ProgramaRitmo para o aparecimento ritmado das palavras Inicialmente foram utilizadas frases que continham duas palavras sem dificuldades da língua, como ditongos, encontros consonantais, etc. As frases eram apresentadas gradualmente, uma palavra de cada vez, e cada frase deveria ser lida pela participante no tempo previsto pelo
Ritmo de Leitura e Alfabetização 6 experimentador e controlado pelo computador. Ao final deste tempo, a frase desaparecia da tela. Foram construídos 3 conjuntos de 0 frases. Foi exercitado um conjunto de cada vez com diferentes tempos de apresentação de cada palavra. Cada frase era inicialmente apresentada no ritmo de 45 décimos de segundos por sílaba (ds/sil); o ritmo era aumentado gradualmente para 30, 24, 8 e 2 ds/sil. O ritmo de 2 ds/sil foi escolhido como indicador de leitura ritmada, por corresponder ao ritmo aproximado da leitura fluente. Nos ritmos de 45 até 8 ds/sil eram apresentadas apenas oito das dez frases de cada bloco, e no bloco de 2 ds/sil eram apresentadas as oito frases, as duas outras frases (como novidade para o participante). Essas duas frases serviram como sondas de generalização do desempenho de leitura ritmada. A complexidade das frases formadas por palavras com ou sem dificuldades da língua foi progressivamente aumentada à medida que a participante apresentava desempenho satisfatório na leitura ritmada. Exercícios de compreensão de leitura utilizando-se cartões de leitura Nesta etapa de ensino, a participante tinha que ler uma frase escrita em um cartão e executar a tarefa por ela designada, como por exemplo, sorria ou levante a mão. A apresentação das frases foi feita de forma gradual, iniciando-se com frases formadas por uma palavra até chegar a frases formadas por cinco palavras ou mais. Nesta etapa, utilizou-se um cronômetro para registrar o tempo gasto na leitura de cada frase. Pós-teste O pós-teste consistiu na leitura do mesmo texto do pré-teste após finalização do procedimento de ensino. RESULTADOS E DISCUSSÃO No Pré-teste II, de leitura da do texto no computador, a participante demorou 30 minutos para ler o texto inteiro formado por 0 palavras. Após a leitura, foram feitas três perguntas relacionadas ao texto, e a participante respondeu corretamente a apenas uma delas. No Pré-teste II, de leitura de palavras no computador, a participante tinha que ler o mesmo texto do pré-teste I no ritmo em que era apresentado. O computador apresentava palavra por palavra. Neste Préteste, de 0 palavras, a participante leu apenas 3 palavras no tempo previsto: não, eu e meu.
Ritmo de Leitura e Alfabetização 7 Após essa fase de Pré-testes iniciou-se o ensino de ritmo de leitura utilizando um aplicativo próprio desenvolvido especialmente para o projeto. No aplicativo podia-se controlar o tempo de apresentação de cada palavra para mais lento ou mais rápido, tempo esse, sempre múltiplo do número de letras da palavra anterior. Foram treinados treze conjuntos de frases (oito, formados por duas palavras simples e cinco, formados por uma palavra simples e uma com dificuldades da língua). O Conjunto fez parte de um estudo piloto onde os ajustes necessários ainda estavam sendo feitos. A aplicação do ensino propriamente dito iniciou-se a partir do Conjunto 2. Como se observa no gráfico A, a proporção de frases lidas do Conjunto 2 se mantém acima de, mesmo com o gradual aumento na velocidade de apresentação das palavras. A participante não conseguiu fazer a leitura das palavras de generalização. O gráfico B apresenta a proporção de frases lidas do conjunto 3. Pode-se observar que o desempenho do participante vai melhorando à medida que as frases vão sendo apresentadas em tempos diferentes. No tempo de 2 ds/sil, o tempo considerado o mais próximo da leitura fluente, a proporção de acertos foi de 0. As frases de generalização deste conjunto também não foram lidas. Na leitura das frases do conjunto 4, mostrada no gráfico C, o desempenho do participante mantém-se em 90% de frases lidas, sendo que no tempo de 30 ds/sil, o participante alcança 00% de acertos. O desempenho com relação às palavras de generalização também melhorou, pois o participante conseguiu ler uma das duas frases novas apresentadas.
Ritmo de Leitura e Alfabetização 8 O gráfico D mostra uma acentuada melhora de desempenho. A proporção de frases lidas do conjunto 5 foi alta, atingindo 00% no tempo de 2 ds/sil. Nas palavras de generalização, a proporção de acertos também foi de 00%. 0 45 30 45 30 24 8 2 TG A 0 45 30 24 8 2 TG G B H 0 45 30 24 8 2 TG 0 45 30 24 8 2 TG 0 45 30 24 8 2 TG C 0 45 30 24 8 2 TG I 0 45 30 24 8 2 TG D 0 45 30 24 8 2 TG J 0 45 30 24 8 2 TG E 0 45 30 24 8 2 TG K 0 45 30 24 8 2 TG F 0 45 30 24 8 2 TG Décimos de segundo por sílaba Figura. Proporção de frases lidas à medida em que o ritmo de apresentação das palavras aumentava e no Teste de Generalização. Cada gráfico corresponde a um Conjunto de palavras.
Ritmo de Leitura e Alfabetização 9 O gráfico E mostra a proporção de frases lidas do conjunto 6 que foi de 0 nos tempos de 45 ds/sil, 0.90 no tempo de 30 ds/sil e nos tempos de 24, 28 e 2 ds/sil. A participante, entretanto, leu apenas uma das duas palavras de generalização. Essa queda de desempenho pode ser devida a um erro do experimentador que, ao arranjar as frases, acabou por incluir uma frase onde uma das palavras continha uma dificuldade da língua. Foi justamente essa frase que a participante não conseguiu ler. Nas frases do conjunto 7 (gráfico F), a proporção de frases lidas ficou entre 0.90 e, sendo que nas palavras de generalização a proporção de frases lidas foi de. O gráfico G mostra o desempenho da participante na leitura de frases do conjunto 8. A proporção de acertos foi de em todos os tempos de apresentação e inclusive na leitura de palavras de generalização. Com esses dados, resolveu-se aumentar a complexidade das frases treinadas. Assim, foram criados novos conjuntos de frases formados por duas palavras: uma simples e outra com dificuldades da língua. Como observa-se no gráfico H, o desempenho da participante caiu, não obtendo acerto total em nenhum tempo de apresentação. A proporção de acertos foi de 0.75 no tempo de 45 ds/sil, de 8 nos tempos de 30, 24, 8 e 2 ds/sil e nas frases de generalização, o seu percentual de acertos foi de 0.50. O gráfico I mostra o desempenho da participante oscilando entre a proporção de 0.75 de acerto nos tempos de 45 e 8 ds/sil e acertou todas nos tempos de 24 e 2 ds/sil; a participante leu as duas frases de generalização. No tempo de 30 ds/sil, a proporção de acertos foi de 8. O gráfico J, referente ao conjunto, mostra uma queda na proporção de acertos da participante e 0.50 na leitura das frases de generalização. O gráfico K mostra que a proporção de acertos aumenta de 25 nos tempos de 45 e 30 ds/sil para 0.75 no tempo de 24 ds/sil e depois para 8 no tempo de 8 ds/sil. Após isso, no tempo de 2 ds/sil, cai para 0.75. Nas palavras de generalização, entretanto, a paticipante acertou todas. O desempenho da participante na leitura das frases do conjunto 3 vai crescendo no decorrer das sessões, como observa-se no gráfico L. No tempo de 45 ds/sil, a proporção de acertos é de 0.50. Esse percentual aumenta para 8 nos tempos de 30 e 24 ds/sil, chegando a,
Ritmo de Leitura e Alfabetização 0 nos tempos de 8 e 2 ds/sil. A participante foi bem sucedida na leitura das frases de generalização. 40 00 30 20 0 A D 0 2 3 4 5 6 7 8 9 0 2 0 2 3 4 5 6 7 8 9 023 50 40 30 20 0 0 2 3 4 5 6 7 8 9 0 B 50 40 30 20 0 0 2 3 4 E 70 60 50 40 30 20 0 0 2 3 4 5 6 7 8 9 0 2 3 C 00 0 2 3 4 5 6 7 F Figura 2. Tempo de leitura de frases para cada conjunto de cartões. De forma geral, o desempenho da participante melhorou gradualmente no decorrer das sessões, apesar de uma maior dificuldade nos conjuntos em que uma das palavras da frase era com dificuldades da língua. Como a participante se queixou que o procedimento com o computador estava gerando ansiedade, decidiu-se por iniciar um treino de leitura com compreensão utilizando outro tipo de atividade. Assim, iniciou-se o treino de leitura de frases em
Ritmo de Leitura e Alfabetização cartões. O desempenho da participante neste tipo de atividade está demonstrado conforme os gráficos na Figura 2. Como observa-se no gráfico A, referente aos dados do primeiro conjunto de frases formadas por apenas uma palavra, a participante demora em média 6 segundos para ler cada frase, sendo que o seu menor tempo de leitura foi de 3 segundos na frase e o seu maior tempo foi de 36 segundos na frase 9. Como mostra o gráfico B, nesse conjunto de frases formadas por duas palavras, a participante não leu duas frases propostas (frases e 2). O tempo médio de leitura foi de 24s (média por palavra = 2s), sendo o menor tempo de 9s na frase 0 e o maior tempo de 44s na frase 3. No primeiro conjunto de frases formadas por três palavras, a participante não conseguiu ler uma das frases (frase 0), demorou em média 26 segundos para ler as frases (média por palavra = 8,6s), o seu menor tempo de leitura foi de s na frase 6 e o maior tempo foi de minuto e 7 segundos na frase 4 (gráfico C). Com relação ao segundo conjunto de frases formadas por três palavras, a participante leu todas frases propostas num tempo médio de 28 segundos (média por palavra = 9,4s). O seu menor tempo de leitura foi de 0 segundos na frase 3 e o seu maior tempo foi de 54 s na frase 8, como mostra o gráfico D. No gráfico E pode-se observar os dados referentes à leitura das frases formadas por quatro palavras. Neste conjunto, o tempo médio de leitura da participante foi de 36s (média por palavra = 9s), sendo que o menor tempo foi de 3s e o maior tempo foi de 4s. O gráfico F, referente ao último conjunto de frases, formadas por cinco ou mais palavras mostra que o maior tempo de leitura da participante foi de m 34s, sendo que o menor tempo foi de 26s e o tempo médio de leitura foi de 54s (média por palavra = 0,3s). Estes dados revelam uma melhora da participante no que diz respeito à leitura com compreensão, pois de todas as 57 frases propostas para leitura ao longo do estudo, a participante deixou de ler apenas 3 frases. Pode-se notar que o tempo médio de leitura das frases aumentava na medida em que os conjuntos tinham mais palavras, mas o tempo de leitura por palavra ficou
Ritmo de Leitura e Alfabetização 2 entre 8 e 2s. A participante conseguiu ler as frases e executar as tarefas descritas em cada uma, indicando uma leitura com compreensão. Após essas duas etapas de ensino, aplicou-se duas novas leituras, no papel, do texto utilizado no Pré-teste. Uma leitura após o término da ª etapa de ensino (no computador) chamado Pós-teste I e outra após a aplicação da 2ª etapa de ensino (nos cartões) chamado Pósteste II. No Pós-teste I, foi realizada apenas a leitura do texto e no Pós-teste II, além da leitura foram feitas três perguntas a respeito do texto para verificar a compreensão do mesmo (mesmo procedimento utilizado no pré-teste). No Pós-teste I, a participante demorou 6 minutos e 54 segundos para ler o texto inteiro. Comparando-se esse tempo com o do Pré-teste, nota-se uma diminuição no tempo de leitura, que no Pré-teste foi de 30 minutos. No Pós-teste II, o tempo total de leitura foi de 8 minutos, o que se mostra um tempo também menor que o tempo gasto na leitura do texto antes da exposição ao procedimento. Além disso, no que diz respeito à compreensão do texto, no Pré-teste, a participante respondeu a apenas uma das três perguntas sobre o texto, enquanto que no Pós-teste II, a participante respondeu corretamente a duas perguntas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se concluir que o procedimento levou à melhora no ritmo de leitura da participante e que os exercícios de ritmo foram importantes para aumentar seu grau de compreensão na leitura de frases com função comunicativa. Procedimentos alternativos automatizados como o de construção de palavras (Hanna, Souza, De Rose, Quinteiro, Campos, Alves & Siqueira, 2002), usados para o ensino de escrita, poderiam ser usados para verificar se a melhora no ritmo de leitura se refletiria em melhora no ritmo da escrita por construção, seja cópia, ditado, ou nomeação de figura. Algumas dificuldades que impedem uma leitura com compreensão perfeita ainda estão presentes, como por exemplo, aquelas relativas à pontuação. Alguns passos são ainda necessários para torná-la um leitor funcional, mas alguns itens de repertório, básicos para a leitura com compreensão, já foram desenvolvidos.
Ritmo de Leitura e Alfabetização 3 A análise de cada etapa dos exercícios foi necessária para tomar as decisões sobre os exercícios subsequentes. Essa atividade é imprescindível no ensino, e demanda assistência individualizada. Os indivíduos que, por diferentes razões, não acompanham as atividades escolares, dependem de procedimentos especiais de ensino que, basicamente, envolvem avaliação contínua do desempenho e planejamento de novos exercícios para obter a evolução almejada. Este trabalho é um exemplo de uma abordagem de apoio ao ensino que indica que a ação dos educadores ao tentar recuperar um estudante com problemas de aprendizagem desce ao grau de detalhes como a análise do desempenho e dos exercícios para possibilitar um planejamento adequado de atividades de recuperação desses indivíduos que perderam a oportunidade de avançar nas atividades de ensino coletivas de sala de aula. PALAVRAS-CHAVES / KEYWORDS Alfabetização, leitura ritmada, leitura com compreensão. / Literacy, reading speed, functional reading. AGRADECIMENTOS Agradecimentos especiais à participante, tão preciosa neste projeto, pela força de vontade e pela imensa vontade de aprender. À Solange e Olavo pela primorosa orientação, ensinando-me pacientemente os caminhos de se fazer pesquisa. Obrigada por tudo. Projeto financiado pelos programas PROINT/UFPA, PRONEX-2, e PNOPG/CNPq. REFERÊNCIAS Filho, A. B. R., Souza, D. G., de Rose, J. C., Fonseca, M. L. & Hanna, E. S. ( 998). Programa de leitura: Software para ensino de habilidades básicas de leitura e escrita. Manual do Usuário. São Carlos (SP): Universidade Federal de São Carlos. De Rose, J. C., Souza, D. G., Rossito, A. L. & De Rose, T. M. (989). Aquisição de leitura após história de fracasso escolar: Equivalência de estímulos e generalização. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 5, 325-346.
Ritmo de Leitura e Alfabetização 4 Hanna, E. S., Souza, D. G., De Rose, J. C., Quinteiro, R. S., Campos, S. N. M., Alves, M. & Siqueira, A. (2002). Aprendizagem de construção de palavras e seus efeitos sobre o desempenho em ditado: importância do repertório de entrada. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 54, 255-273. Matos, M. A., Hübner, M. M., Serra, V. R. B. P., Basaglia, A. E. & Avanzi, A. L. (2002). Arquivos Brasileiros de Psicologia, 54, 284-303. Rego, L. L. B. (995). Diferenças individuais na aprendizagem inicial da leitura: papel desempenhado por fatores metalingüísticos. Psicologia: Teoria e Pesquisa,, 5-60. Souza, D. G., de Rose, J. C. C., de Rose, T. M. S., Fonseca, M. L., Galvão, O. F., Calcagno, S. & Hanna, E. S. (999). Unidade de Iniciação à leitura para atendimentos a escolares de risco. Projeto de Pesquisa.