INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO IVOTI ISEI CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ELAINE BEATRÍS WOLF OS LAÇOS E OS NÓS DO TRABALHO PEDAGÓGICO COM OS BEBÊS IVOTI 2009
ELAINE BEATRÍS WOLF OS LAÇOS E OS NÓS DO TRABALHO PEDAGÓGICO COM OS BEBÊS Monografia apresentada ao Instituto Superior de Educação Ivoti, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Coordenação Pedagógica e Orientação Educacional. Orientadora: Drª. Luciana Facchini IVOTI 2009
SUBSTITUIR PELA FOLHA DE APROVAÇÃO
Marcelo Leonardo Ao meu filho Marcelo Felipe, meu eterno bebê; ao meu sobrinho Leonardo, fonte inspiradora desta pesquisa e ao Eduardo; que surgiu de forma inesperada em minha vida durante a elaboração destes escritos.
AGRADECIMENTOS Foram tantos que colaboraram na realização deste trabalho, meus mais sinceros agradecimentos... à minha orientadora, professora Dra. Lucciana Facchini, pela compreensão nos meus momentos de dificuldades e pela parceria ao longo de todos os tropeços e acertos desta caminhada; aos participantes da pesquisa: bebês e educadoras da instituição, pela disponibilidade e colaboração; à minha amiga Élen, pelo apoio e principalmente por não ter em seu vocabulário a palavra não, por estar a disposição independente da razão; e finalmente à minha família, pela compreensão nos momentos de ausência.
É preciso perceber a criança como co-construtora ativa da aprendizagem, Em vez de um vaso vazio esperando enriquecimento, desde o início da vida, a criança pequena é uma rica criança, ativamente engajada com o mundo; ela nasceu equipada para aprender e não pede nem necessita da permissão do adulto para começar a aprender. Dahlberg, Moss e Pence (2003, p.72)
RESUMO O estudo sobre Os laços e os nós do trabalho pedagógico com os bebês teve como objetivos observar e analisar o trabalho pedagógico realizado no berçário e verificar qual a função e o envolvimento dos professores no trabalho pedagógico com bebês. A metodologia de trabalho se constituiu através de um estudo teórico sobre a Educação Infantil no mundo e no Brasil, bem como se buscou embasamento teórico sobre as ações cuidar, educar e brincar, e sobre o papel e a formação do educador infantil. Posteriormente, realizou-se a observação do trabalho pedagógico dos docentes da escola. Paralelamente às observações, foram disponibilizadas às professoras questões contendo pontos relativos a atividades docentes desempenhadas na instituição e, por fim, realizou-se a análise reflexiva entre as observações, o questionário e a pesquisa teórica. Apesar da mudança de visão sobre a criança, infelizmente, ainda tem-se o predomínio de ações voltadas ao assistencialismo resumindo a educação das creches a um simples espaço de cuidado, voltado ao suprimento das necessidades básicas. A falta de formação específica dos docentes que atuam com as crianças pequenas é um fato alarmante, considerando que o período de zero a três anos é fundamental na estruturação pessoal e cognitiva da criança. Na análise realizada, observou-se que os educadores não têm consciência da importância do trabalho pedagógico com os bebês, faltando-lhes informação e formação para atuar como professoras de berçários. Ao que parece, para os participantes da pesquisa, basta cuidar bem das crianças e propor brincadeiras. O trabalho da coordenação pedagógica resume-se em sanar questões técnicas referentes à saúde e primeiros socorros. Sabe-se que os bebês aproveitam o que lhes é proporcionado, cabendo a creche transformar-se em um espaço em que as ações relativas ao cuidar, ao educar e brincar se realizem de forma integrada e plenas de significado. E os responsáveis por esta mudança de pensamento e a pelas concretizações de ações realmente educativas, são os profissionais que labutam na instituição. Assim, faz-se necessária uma mudança na formação básica e continuada dos professores de Educação Infantil a fim de tornar a ação pedagógica em todos e quaisquer espaços. Palavras-chave: Educação Infantil - Intervenção pedagógica com bebês - Rotina - Educador.
ABSTRACT The study about The laces and knots of the pedagogical work with babies aims to observe and analyze the pedagogical work that is done in the nursery and verify the function and the evolvement of the teachers in the pedagogical work with the babies. The work methodology was based on a theoretical research about children education around the world and in Brazil. Theoretical background about the actions of taking care, educating, playing and about the paper and formation of the children educators was also used. Lately, the pedagogical work of the teachers of the school was observed. On that period, questions about issues concerning teaching activities developed in the day-care center were given to the teachers. Finally, an analysis between the observations, the questions and the theoretical research was done. Although the concept about children has changed, most of the actions in the day-care center focus just in taking care, unfortunately. The day-care center ends up in a space used just for supplying the children s basic needs. The lack of a specific formation for the teachers that work with little children is worth worrying. The first three years of life are essential to the personal and cognitive formation of a child. In the analysis made in this paper the statement that the teachers are not aware of their importance of their pedagogical work with the babies was noticed. They need information and formation to be nursery teachers. It seems that, for those who have participated in the research, it is enough just to take care and propose games to the children. The work of the pedagogical coordination sums up in solving technical issues related to health and first aid. babies join the things that are offered to them. The day-care center should be changed into a place where the actions related to babysitting, educating and playing should be integrated and full of meaning. The professionals that work in that place should be responsible for changing that thought about children care. So, it is necessary to change the basic formation for the teachers of little children in order to turn pedagogical everyone and everyplace. Keywords: Children education - Pedagogical intervention with babies Routine - Educator.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Fotografia 1 - Indiferença na Vestimenta...20 Figura 2 - Roda dos expostos...28 Figura 3 - Questão de Vagas...37 Figura 4 - Crianças felizes?...42 Figura 5 - Pulando Etapas...47 Figura 6 - Fotografia 2 - Crianças na Fila...52 Figura 7 - Fotografia 3 - Brincando com os Blocos de Encaixes...62 Figura 8 - Fotografia 4 - Alimentação dos Bebês...66 Figura 9 - Fotografia 5 - Bebês nos Carrinhos...69 Gráfico 1 - Formação dos Docentes no Ensino Médio...73 Gráfico 2 - Formação dos Docentes no Ensino Superior...73 Gráfico 3 - Experiência dos Docentes com Bebês...74 Gráfico 4 - Existência dos Documentos Referenciais...77
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...11 2 METODOLOGIA...14 2.1 PONTO DE PARTIDA...14 2.2 DELINEANDO A PESQUISA...15 3 A EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNDO...19 4 OS PRIMEIROS PASSOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL...28 5 CRECHE: UM ESPAÇO DE CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR...37 5.1 CUIDAR E EDUCAR...40 5.2 BRINCAR E EDUCAR...44 6 O EDUCADOR INFANTIL...49 6.1 O EDUCADOR INFANTIL E A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA...55 7 O FAZER PEDAGÓGICO...59 7.1 AS AÇÕES CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR COM OS BEBÊS...59 7.2 OS ESPAÇOS, O AMBIENTE E A ROTINA DOS BEBÊS...64 7.3 BRINQUEDOS E MATERIAIS DISPONÍVEIS NO BERÇÁRIO...68 8 REFLETINDO SOBRE A FORMAÇÃO E AS CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES PARTICIPANTES...72 8.1 FORMAÇÃO DOS EDUCADORES...72 8.2 A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA...76 8.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DE TRABALHAR COM BERÇÁRIOS...78 8.4 OBJETIVOS E PLANEJAMENTO NOS BERÇÁRIOS...79 9 INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO BERÇÁRIO? MAS, PARA QUE? OS ALUNOS SÃO TÃO PEQUENOS...84 REFERÊNCIAS...90 APÊNDICE A: ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO POR TURMA...94 APÊNDICE B: QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELOS PROFISSIONAIS PARTICIPANTES DA PESQUISA...95
11 1 INTRODUÇÃO Sabendo da importância da Educação Infantil e da complexidade que é o trabalho com os bebês, faz-se necessário uma análise profunda e reflexiva do contexto em que se dão as ações práticas com os mesmos. Segundo Santos: [...] no interior da maioria das creches, o atendimento da criança de zero a três anos tem se pautado por concepções antigas, onde predomina a função assistencialista, cujos objetivos são voltados para a saúde, higiene e alimentação, e a função educativa é deixada de lado. (2008, p.10) No passado, os sentimentos dos adultos em relação às crianças eram muitas vezes desconsiderados. Atualmente, as pessoas que trabalham com bebês cada vez mais têm noção da importância de desenvolver um trabalho qualitativo, suprindo e entendendo as fases do desenvolvimento das crianças e assim ordenar as atividades específicas de cada nível. Com a necessidade de compreender melhor as crianças, seus sentimentos, suas necessidades, exige-se um profissional mais comprometimento com a educação e consequentemente com o desenvolvimento das crianças. Para que isto aconteça é necessário também pensar cuidadosamente sobre os ambientes, a rotina, os cuidados básicos como sono, higiene e alimentação, além das atividades desafiadoras e exploratórias para cada faixa etária. É de suma importância observar, questionar e analisar o papel do educador, sua função perante as crianças e a forma de contextualização das ações cuidar, educar e brincar, considerando principalmente o bem estar dos pequeninos. Os bebês estão em constante desenvolvimento, interagindo com as crianças de sua turma e de outras de diferentes agrupamentos e idades, bem como com os adultos responsáveis por vários setores da creche. Vale ressaltar, então, que não são somente os adultos que proporcionam as descobertas, mas sim todo o contexto da instituição. Isto porque: Todos os espaços das instituições de educação infantil são educadores e promovem aprendizagens na medida em que, devido às suas potencialidades, promovem o desenvolvimento das múltiplas linguagens infantis. (BARBOSA e HORN, 2008, p.51) O presente texto procura fazer uma abordagem sobre o trabalho realizado na Educação Infantil, mais especificamente nos berçários, compreendendo a faixa etária do zero aos três 11
12 anos. Como se pode perceber, esse capítulo introduz o leitor a temática. A estrutura da pesquisa apresenta-se a seguir. O capítulo 2 aponta a metodologia utilizada para a realização desse trabalho. No capítulo 3 apresenta-se a evolução da Educação Infantil no mundo, compreendendo um pouco melhor a trajetória histórica e as mudanças ocorridas em relação às crianças. Enfoca-se desde o momento em que as crianças eram percebidas como adultos em miniaturas, passa-se ao aparecimento das creches nos séculos XVII e XVIII, chegando à valorização da criança como centro do interesse educativo, ganhando espaço na família e na sociedade nos séculos XVIII e XIX. No capítulo 4, há uma semelhança ao capítulo anterior, visto que se faz um passeio pelo histórico da Educação Infantil no Brasil, ressaltando o aparecimento dos jardins-deinfância e as mudanças ocorridas nos centros urbanos devido à industrialização que trouxe consigo outra mudança, o aumento da mão de obra feminina que acarretou a instalação de outros meios de cuidados das crianças, além do núcleo familiar. A partir da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e da aprovação da Lei 9394/96 que consolidou a Educação Infantil como etapa importante para o processo de desenvolvimento humano, mudanças aconteceram rompendo com concepções assistencialistas predominantes, mas que persistem até os dias atuais. Capítulo 5 aborda as questões que envolvem o cuidar, brincar e o educar, suas concepções e seus efeitos no trabalho com as crianças pequenas e o capítulo 6 faz uma reflexão sobre a formação do educador que atua em creches e a importância da mesma levando em consideração as necessidades das faixas etárias. Além de considerar a relação entre educador e coordenação pedagógica. O sétimo capítulo mostra a análise da prática diária de uma instituição localizada em um município da micro-região da Encosta da Serra gaúcha. Durante as visitas pôde-se acompanhar o fazer pedagógico, observando como se dão as ações cuidar, educar e brincar no contexto da instituição que atende os bebês, além de voltar o olhar para os aspectos como espaço, ambiente, rotina, observando também os tipos de brinquedos e materiais disponibilizados para as crianças nessa faixa etária. O capítulo 8 apresenta as características dos participantes da pesquisa e as concepções dos mesmos, expressas através de um questionário respondido pelos participantes que continha perguntas abertas relativas ao envolvimento e a função da Coordenação Pedagógica, 12
13 as vantagens e desvantagens de trabalhar com os berçários, bem como os objetivos e planejamento de trabalho com os berçários. E para finalizar, no capitulo 9, é realizada uma análise geral de todos os aspectos abordados nos estudos teóricos, nas observações e nas questões investigadas. Sabe-se que as crianças não são mais seres passivos, paralisadas para receber as instruções. Rosseau já considerava inadequada a maneira como as informações eram transmitidas às crianças a mais de dois séculos. É preciso superar a tendência adultocêntrica, em que os professores centrados em sua forma de pensar e entender o mundo consideram a criança [...] um ser passivo, simples receptáculo das informações transmitidas (CERIZARA, 2008, p.107). Atualmente, com todas as mudanças ocorridas no contexto da Educação Infantil faz-se necessário um trabalho sério e consciente nas creches, porque Quando planejamos a dieta de um bebê, damos grande atenção ao menu, oferecendo uma variedade de alimentos de qualidade que é essencial para a sua nutrição diária e seu rápido crescimento. E quanto à sua dieta mental, que nutre sua capacidade em processo de desenvolvimento de usar os olhos, as mãos e a boca em atividades concentradas? (GOLDSCHMIED e JACKSON, 2006, p.115) pensadores. Utilizo esse pensamento para dar início a busca das respostas levantadas por esses 13
14 2 METODOLOGIA Os pais cada vez mais sentem a necessidade de deixar os seus filhos aos cuidados de terceiros, o que fez aumentar significativamente a procura por vagas em instituições de Educação Infantil. Aliado a isto está à questão de valorização da criança nos contextos sociais, familiares e educativos. Pautada nessas indicações surgiu a inquietação sobre como acontece o trabalho pedagógico realizado nessas instituições. A questão é: as instituições, sejam elas nomeadas de creche, escola ou Centro de Educação Infantil, estão preparadas e conscientes do tipo de trabalho que realizam com as crianças? 2.1 PONTO DE PARTIDA Os bebês merecem atenção igual às crianças maiores, por isto cabe aos educadores das instituições de Educação Infantil propor também a esses, desafios e estímulos. Isto porque o simples amadurecimento do sistema nervoso não garante o desenvolvimento de habilidades intelectuais mais complexas [...]. (WALON apud GALVÃO, 1995, p. 41). Ou seja, os pequenos vão adquirindo algumas habilidades, alguns esquemas naturalmente com o crescimento, mas para que isso aconteça da melhor forma possível é necessária a organização das interações com os adultos, o que está profundamente relacionado com as intervenções pedagógicas: gerenciamento do tempo, do espaço, da rotina, da fala, dos gestos, enfim todos os movimentos, as ações e intervenções que são possíveis de serem realizados no contexto educativo. O estudo sobre Os laços e os nós do trabalho pedagógico com os bebês teve como objetivos observar e analisar o trabalho pedagógico realizado no berçário e verificar qual a função e o envolvimento dos professores no trabalho pedagógico com bebês. Em decorrência dos objetivos maiores explicitados, estabeleceu-se os seguintes objetivos específicos: observar os grupos etários de zero a três anos; analisar as ações cuidar, brincar e educar; verificar quais ações pedagógicas dos educadores e identificar a função e o envolvimento da Coordenação Pedagógica com as turmas de berçário. A partir dessa perspectiva surgiu o seguinte problema do estudo: Como se dão as ações cuidar, educar e brincar no trabalho com os bebês e qual o envolvimento dos 14
15 educadores nessas ações. Com isso se faz necessária uma análise da formação dos educadores, sua atuação e prática pedagógica diária com os bebês. Levando em consideração não só os cuidados básicos como higiene, sono e alimentação, mas também a ações pedagógicas como a organização do espaço e do tempo, as rotinas, o currículo, os conteúdos e as dinâmicas que são realizadas nessas faixas etárias, considerando o trabalho de orientação e conscientização por parte do coordenador pedagógico. A pesquisa foi realizada com turmas de berçários de uma creche localizada em um município da micro-região da Encosta da Serra e foi baseado na tríade: revisão bibliográfica, técnica de observação e como instrumento de pesquisa um questionário para respostas abertas. Levando em consideração que ao pesquisar tem-se [...] por objetivo descobrir, explicar e compreender os fatos que estão inseridos ou que compõem uma determinada realidade (BARROS e LEHFELD, 1990, p.30). 2.2 DELINEANDO A PESQUISA Inicialmente, foi realizada a pesquisa bibliográfica, através de leituras em livros e periódicos com intuito de procurar novas informações sobre o tema da pesquisa. Para fazer a parte do estudo teórico sobre a história da Educação Infantil no mundo e no Brasil, a pesquisa foi apoiada em alguns teóricos, tais como: Áries (1981), Oliveira (2005), Kuhlmann (2000 e 2004), Haddad (1991), Craidy e Kaercher (2001), Kramer (1994), entre outros na qual se pode efetuar uma viagem pela evolução da Educação Infantil no mundo compreendendo um pouco melhor a trajetória histórica e as mudanças ocorridas em relação às crianças. Enfocando a questão da dependência das crianças, a visão dos adultos em miniaturas ao aparecimento das creches nos séculos XVII e XVIII. A valorização da criança passando a ser o centro do interesse educativo, ganhando espaço na família e na sociedade nos séculos XVIII e XIX. Em relação ao Brasil, podem-se destacar as mudanças ocorridas nos centros urbanos em decorrência da industrialização, que acarretou o aumento da mão de obra feminina, gerando a necessidade da instalação de outros meios de cuidados das crianças, além do núcleo familiar. A partir da aprovação das leis trabalhistas e da consolidação da lei 9394/96, a Educação Infantil passa a ser uma etapa importante para o processo de desenvolvimento 15
16 humano, com o intuito de romper as concepções assistencialistas predominantes até os dias atuais. Também foi necessário fazer um estudo sobre as ações cuidar, educar e brincar. Esses aspectos foram sendo entendidos através das concepções teóricas de diversos autores: Cerizara (2008), Craidy e Kaercher (2001), Dias e Nicolau (2003), Dahlberg (2003), Barbosa e Horn (2008), Silva (2007), Souza (2009), Oliveira (2008), Moyles (2002), Gooldschmied e Jackson (2006), Bondioli e Mantovani (1998); que delinearam o estudo. Em se tratando de creche é de suma importância observar que nas relações educativas as funções cuidar e educar são indissociáveis e associada a essas duas ações está o brincar. Os responsáveis pelos bebês devem ter em mente que o cuidar é - e sempre será - necessário, porém associado a ele devem estar dois outros grandes fatores: o educar e o brincar, esses devem estar interligados num trabalho conjunto entre educadores e Coordenação Pedagógica valorizando assim os cuidados, a maneira de ensinar e o brincar num contexto participativo e estimulador. Isso requer um olhar sobre as tarefas de cuidar e educar como sendo básicas. Os cuidados nela ministrados não devem se reduzir a suprir necessidades físicas da criança, como sono, fome, sede e higiene, e sim proporcionar um ambiente seguro fisicamente e psicologicamente, no qual possam ter oportunidade de explorar, experimentar e construir aprendizagens. Além das concepções anteriores foi necessário fazer um estudo aprofundado sobre o educador infantil. Esse estudo foi constituído nas ideias de: Horn (2004), Gooldschmied e Jackson (2006), Bassedas (1999), Edwards (1999), Haeussler e Rodríguez (2005), Pantoni e Ferreira (1998), Leite (1998), Almeida e Placco (2007), Vasconcellos (2008), Bondioli e Mantovani (1998). Para os educadores que trabalham em creches é primordial uma boa formação levando em consideração as necessidades das faixas etárias. Além de considerar a relação entre educador e Coordenação Pedagógica. A revisão bibliográfica foi enriquecida com observações para obter-se conhecimento contextual mais claro e preciso sobre o fenômeno estudado. Através da modalidade de observação direta não participante obtiveram-se mais informações sobre os fatos estudados que serão posteriormente apresentados e analisados. A observação direta foi realizada de forma sistemática, no período de fevereiro a junho do ano de 2009 e teve como principal 16
17 objetivo acompanhar o trabalho pedagógico dos docentes da instituição que trabalham com os berçários. O trabalho de observação foi pautado por um protocolo, contendo os aspectos a serem analisados em todas as turmas. O processo de coleta de informações envolveu noventa horas de atividades, sendo que sessenta delas foram a classes de berçário. E os itens observados na ação pedagógica dos professores participantes da pesquisa foram: as ações cuidar, educar e brincar; o espaço físico, o ambiente de trabalho e a rotina de trabalho; os materiais e objetos de trabalho e os brinquedos oferecidos. O protocolo usado para pautar as observações encontra-se no Apêndice A. Paralelamente as observações, realizadas no período de noventa dias, foi disponibilizado para as professoras um questionário contendo pontos relativos as atividades docentes realizadas na creche. O questionário foi estruturado com perguntas abertas e fechadas. Segundo Barros e Lehfeld (1990) nas questões abertas a liberdade de resposta é total, enquanto que as questões fechadas restringem a liberdade de resposta do pesquisado. Assim, utilizaram-se as respostas fechadas apenas para indagar-se a formação e tempo de experiência dos participantes na pesquisa. O protocolo do questionário encontra-se no Apêndice B. É importante ressaltar que o grupo de docentes participantes foi composto por seis profissionais da Educação Infantil. Anteriormente, previa-se um grupo de oito integrantes, porém duas delas não se interessaram em responder ao questionário. As respostas às questões foram transcritas, lidas, analisadas e sistematizadas. Inicialmente, foi realizada a análise vertical, em que as respostas foram colocadas literalmente, apontando tema, palavra-chave ou frase. Após, ocorreu a análise horizontal, onde cada pergunta é analisada com todas as respostas dos participantes, proporcionado uma visão ampla de todas as ideais com seus aspectos comuns ou não. Desta forma, foram mapeadas algumas questões norteadoras entre as quais pode-se destacar: formação dos docentes, o envolvimento e a função da Coordenação Pedagógica, dando enfoque as vantagens e desvantagens de trabalhar com os berçários, bem como os objetivos e planejamento de trabalho com os berçários. Cabe ressaltar que a abordagem empregada na análise de conteúdo caracterizou-se como indutiva-construtiva (LINCOLN e GUBA, 1985), uma vez que partiu dos dados para a 17
18 construção das categorias iniciais. A análise dos dados obtidos deu-se em dois sentidos: a análise vertical e a análise horizontal seguindo-se as orientações de Bardin (1977). O relatório de pesquisa foi construído a partir do processo de triangulação dos dados, com o cruzamento das minhas ideias, das observações, das questões norteadoras e dos pensamentos de diversos autores citados durante a elaboração dos escritos. Para Barros e Lehfeld analisar significa buscar o sentido mais explicativo dos resultados da pesquisa (1990, p.87). 18
19 3 A EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNDO Atualmente, um assunto muito citado e comentado nos meios educacionais e na sociedade é a necessidade de uma Educação Infantil de qualidade. Com isso se faz necessário a realização de uma análise reflexiva sobre a criança, os processos sociais e suas concepções. No Dicionário Prático da Língua Portuguesa (1998), a palavra Criança é definida como um ser humano no começo da existência. A partir desse conceito, esse estudo procura compreender um pouco melhor a trajetória histórica e as mudanças ocorridas na Educação Infantil em todo o mundo no decorrer do tempo. Ao longo dos séculos a tarefa de cuidar e educar as crianças pequenas eram de responsabilidade familiar, mais especificamente da mãe. A infância estava relacionada à dependência, o bebê era notado somente como um ser com necessidades de alimentação e higiene [...] assim que a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais dele. (ARIÈS, 1981, p.99). Também nessa etapa ocorria a mudança do ambiente familiar, ou seja, as crianças eram enviadas a outras famílias e nesse período todos os conhecimentos, experiências práticas e valores eram transmitidos através do serviço doméstico. Na Idade Média, segundo Ariès (1981) não existia distinção entre a roupa das crianças e dos adultos, ou seja, vestiam-se indiferentemente todas as classes de idades, preocupavamse apenas em manter visível através da roupa os degraus da hierarquia social. A criança não tinha espaço significativo na família e na sociedade, para os adultos ela não possuía uma ideia própria, era apenas mais um elemento no grupo familiar que necessitava da função de guarda e educação da primeira infância. A foto a seguir demonstra a indiferença em relação a vestimenta dos adultos e das crianças. 19
20 FIGURA 1 - FONTE - FOTOGRAFIA 1 - INDIFERENÇA NA VESTIMENTA ARQUIVO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO Para as crianças pequenas, pobres ou indesejadas o destino não era muito feliz, pois muitas vezes eram colocados na roda para o recolhimento dos expostos ou em lares substitutos. As rodas eram cilindros ocos de madeira, giratórios, construídos em muros de igrejas ou hospitais de caridade que permitiam que bebês fossem neles deixados sem que a identidade de quem os trazia precisasse ser identificada [...]. (OLIVEIRA, 2005, p.59). Através desses cilindros era solucionado um problema de aparência social para a mãe, porém não eram levadas em consideração as possíveis consequências desse abandono para as crianças. Outro fato importante segundo Kuhlmann (1998) é que nos séculos XVII e XVIII, na França e em outros países, muitas famílias passaram por dificuldades econômicas, consequentemente viviam em condições precárias, em casas pequenas e superlotadas, havia um alto risco de mortes no parto e de recém-nascidos, sendo que apenas 50% das crianças sobreviviam até os dez anos de idade. 20
21 Ainda conforme Kuhlmann (1998) a instituição creche surgiu como um meio assistencialista dentro de um contexto amplamente moralista dos séculos em questão, uma vez que a creche apareceu como solução para cuidar dos filhos de viúvas ou de mulheres abandonadas que tinham que trabalhar e não tinham como cuidar de seus filhos. Oliveira (2005) menciona que a expressão francesa creche equivale à manjedoura, presépio e a palavra em italiano asilo nido, indica um ninho que abriga. Ao analisar esses termos percebe-se que estão ligados ao ato de abrigar e confortar, o que são ações naturalmente maternas, uma vez que nesses espaços a função limitava-se a reproduzir aquilo que se idealizava que a família faria [...] (HADDAD, 1991, p.24), repetindo os mesmos tipos de cuidados. Gradativamente, surgiram arranjos mais formais para atendimento de crianças fora do ambiente familiar, em instituições de caráter filantrópico, especialmente delineado para o desenvolvimento infantil, segundo a forma como o destino social da criança atendida era pensado. Crianças pequenas de dois ou três anos eram incluídas nas escolas de movimentos religiosos da época. Ou seja, o ensino era voltado para instrução e para o desenvolvimento de bons hábitos de comportamento, a internalização de regras morais e de valores religiosos. Pode-se perceber claramente a intenção social que estava por trás destas atuações, pois a ação de domesticar crianças pequenas gerava consequentemente adultos alienados. Também nessa época muitas teorias estavam interessadas em descrever as crianças, sua natureza moral, suas inclinações boas ou más. Defendiam ideias de que proporcionar educação era, em alguns casos, uma forma de proteger a criança das influências negativas do seu meio e preservar-lhe a inocência. Desta forma tinham por objetivo [...] eliminar a suas inclinações para a preguiça, a vagabundagem, que eram consideradas características das crianças pobres [...] consequentemente, [...] uma ameaça ao progresso social. (CRAIDY e KAERCHER, 2001, p.14-15). Com isto, as crianças tinham uma rotina fundada na ideia de autodisciplina, independente da faixa etária. Ariès (1981), por sua vez, salienta que os mestres ensinavam principalmente os bons costumes, incluindo a maneira de comer, beber, falar e caminhar, toda a educação transmitida era palpada em manuais (livros de regras), que deveriam de ser seguidos independente da situação social. Todos eram submetidos ao mesmo tipo de treinamento de regras, sem distinção perceptíveis das necessidades etárias ou sociais. 21
22 Um exemplo comum de escola da época eram as escolas de tricô (knitting schools) que foram criadas no final do século XVIII, na qual as mulheres da comunidade tomavam conta de grupos de crianças pobres pequenas e ensinavam a ler a Bíblia e a tricotar. Com isto pode-se entender que os bebês somente recebiam atenção para os cuidados básicos de higiene e alimentação, uma vez que esses não teriam condição de participar nas ações citadas. Para as camadas sociais mais pobres, os objetivos da educação e a forma de efetivá-la não eram consensuais, pois as crianças menos favorecidas deveriam ser educadas apenas para o aprendizado de uma ocupação e da piedade, como se o destino delas já estivesse préestabelecido. O básico a ser ensinado aos filhos dos operários era o ensino da obediência, da moralidade, da devoção e do valor do trabalho, sendo comuns turmas grandes com cerca de 200 crianças ao comando de adultos dados por aptos. Com as transformações de uma sociedade agrário-mercantil em urbano-manufatureira ocorreram mudanças sociais, econômicas e políticas. Entre elas podem-se destacar a incorporação das mulheres à força de trabalho assalariado, a organização familiar e a posição da mulher na relação entre os sexos. Nesse contexto de mudanças, destacam-se as creches e pré-escolas que se identificam com um conjunto de ideias novas sobre a infância, sobre o papel da criança na sociedade e de como torná-la, através da educação, um indivíduo produtivo e ajustado às exigências desse conjunto social. Nos séculos XVIII e XIX enfatizou-se a importância para o desenvolvimento social e com isto a criança passou a ser o centro do interesse educativo dos adultos, Redin (2003) menciona que a criança ganhou espaço na família, a qual passou a se preocupar com a educação, a carreira e o futuro dos filhos. Percebe-se que a ênfase não era tanto nas necessidades específicas de cada idade, mas sim a preparação para o que viria a ser, o que estava ligado ao mundo escolar. Tal ideia sustenta-se até a atualidade - ainda hoje a principal função da escola é preparar a criança para entrar no mundo adulto. Alguns autores como Comênius, Rousseau, Pestalozzi e Froebel estabeleceram as bases para um sistema de ensino mais centrado na criança, embora com ênfases diferentes entre si. As propostas desses autores reconheciam que as crianças tinham e tem - necessidades próprias e características diferenciadas dos adultos. Oliveira (2005) indica que educar crianças menores de seis anos, de diferentes condições sociais, era uma questão tratada por Comênius, que elaborou em 1637 um plano de escola maternal em que recomendava o uso de materiais audiovisuais, como livros de 22