ASSOCIAÇÃO DO CARAGUEJO-UÇÁ Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) COM OS BOSQUES DE MANGUE E ANÁLISE DO SEU POTENCIAL EXTRATIVO NO MUNÍCIPIO DE VISEU- PARÁ

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Transcrição:

i Universidade Federal do Pará Campus Universitário de Bragança Instituto de Estudos Costeiros Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental Mestrado em Ecologia de Ecossistemas Costeiros e Estuarinos ASSOCIAÇÃO DO CARAGUEJO-UÇÁ Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) COM OS BOSQUES DE MANGUE E ANÁLISE DO SEU POTENCIAL EXTRATIVO NO MUNÍCIPIO DE VISEU- PARÁ PAULO RODOLFO FERREIRA CUNHA Dr. MARCUS EMANUEL B. FERNANDES (Orientador) BRAGANÇA- PARÁ 2016

ii PAULO RODOLFO FERREIRA CUNHA ASSOCIAÇÃO DO CARAGUEJO-UÇÁ Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) COM OS BOSQUES DE MANGUE E ANÁLISE DO SEU POTENCIAL EXTRATIVO NO MUNÍCIPIO DE VISEU- PARÁ Dissertação de Mestrado, apresentado ao Programa de Pós-graduação em Biologia Ambiental, Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança, como requisito necessário para a obtenção do título de Mestre em Biologia Ambiental. Orientador: Dr. Marcus Emanuel B. Fernandes BRAGANÇA- PARÁ 2016

iii PAULO RODOLFO FERREIRA CUNHA ASSOCIAÇÃO DO CARAGUEJO-UÇÁ Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) COM OS BOSQUES DE MANGUE E ANÁLISE DO SEU POTENCIAL EXTRATIVO NO MUNÍCIPIO DE VISEU- PARÁ Dissertação de Mestrado, apresentado ao Programa de Pós-graduação em Biologia Ambiental, Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança, como requisito necessário para a obtenção do título de Mestre em Biologia Ambiental. Orientador: Dr. Marcus Emanuel B. Fernandes Banca Examinadora: Dr. Marcus Emanuel Barroncas Fernandes (Orientador) UFPA Campus de Bragança Dra. Claudia Nunes-Santos UFPA Campus de Bragança Dr. Cleidson Paiva Gomes (Titular) IFPA Campus de Bragança Dr. Darlan de Jesus de Brito Simith (Titular) UFPA Campus de Bragança

iv EPÍGRAFE Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar os seus semelhantes Albert Schwaltzer

v DEDICATÓRIA Dedico esta dissertação a todos meus familiares e amigos que de qualquer forma me incentivaram a realização desse sonho e em especial minha mãe e minha avô que no auge dos seus 87 anos, ainda pergunta se eu estou estudando como deveria.

vi AGRADECIMENTOS Agradecer com palavras é algo pouco para pessoas que fizeram e que fazem muito por mim. Desde os principais até aqueles que sem querer me incentivaram a continuar nesse plano de mestrado. Agradecer somente as pessoas e entidades que me ajudaram a concluir este trabalho, torna esta escrita ainda mais difícil. Agradeço primeiramente à Deus por está concluindo mais esta etapa da minha vida. Ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental pela oportunidade À Universidade Federal do Pará pelo apoio técnico. Ao meu orientador professor Marcus Emanuel B. Fernandes por ter cedido o Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA) para que eu pudesse realizar minha pesquisa, pelo incentivo de seguir em frente, por ter repassado inúmeros conhecimentos e pelo companheirismo no LAMA. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará FAPESPA/VALE (ICAAF No.068/2011) pelo suporte financeiro, através da concessão de bolsa de estudo e de ter financiado todas as minhas coletas, sendo assim essencial à execução deste trabalho. Ao Fundo Amazônia BNDES pelo apoio logístico (Projeto No.3052). Aos meus amigos do laboratório que sempre me ensinaram e me ajudaram nos momentos difíceis no mesmo. Aos professores do PPGBA pelo repasse excessivo de conhecimentos. À minha família, minha mãe Maria de Fátima, meu padrasto Antônio Aciole, minha avó Rita de Cássia, minha irmã Stela e meus tios João e Bruno pelo apoio constante em toda a minha vida e por serem meus maiores incentivadores, onde mesmo nas críticas tentaram me repassar a importância do estudo em minha vida. A minha esposa Josana e meu filho Paulo Gabriel que me ajudaram nos momentos difíceis do meu trabalho, cuidando e me dando carinho. Aos amigos da turma de mestrado 2012: Adam Rick, Neidson Gilliard, Fabricia Nogueira Rafaela Simão, Rafael Simão, Isaac Lopes, Diego, onde passamos muitos momentos divertidos e vários perrengues nas disciplinas, guardarei vocês para sempre em minha vida.

vii À minha amiga Suzane Serrano que disponibilizou um pouco do seu tempo para me ajudar nas minhas análises, desejo todo sucesso que você merece. Aos poucos amigos que fiz no município de Viseu-PA em especial ao Raimundo que me conduziu até os catadores para que eu pudesse sugar informações e contratá-los para ajudar nas minhas coletas, sem vocês não teria realizado o meu trabalho no município. Aos catadores seu Pretinho, seu Toninho e seu Bibiu pela ajuda nas coletas e informações prestadas ao trabalho, pelas horas que se disponibilizaram em prol desse trabalho. Pessoas humildes que lembrarei pra sempre de tê-los conhecidos.

viii Sumário EPÍGRAFE... DEDICATÓRIA... AGRADECIMENTOS... SUMÁRIO... LISTA DE FIGURAS... LISTA DE TABELAS... RESUMO... ABSTRACT... iv v vi viii x xi xii xiii 1. INTRODUÇÃO... 1 1.1. OS MANGUEZAIS... 1 1. 2. IMPORTÂNCIA ECOLOGICA E SÓCIO-ECONÔMICA... 3 1. 3. CARANGUEJO-UÇÁ... 4 2. HIPÓTESES E OBJETIVOS... 7 2.1. HIPÓTESE 1... 7 2.1.1. OBJETIVOS... 7 2.2. HIPÓTESE 2... 7 2. 2.1. OBJETIVO... 7 3. MATERIAL E METODOS... 8 3.1. AREA DE ESTUDO...... 8 3.2. PONTOS DE COLETA... 8 3.2.1. VEGETAÇÃO... 11 3.2.2. CARANGUEJO-UÇÁ... 12 3.3 ANÁLISE DE DADOS... 14 3.3.1. VEGETAÇÃO... 14

ix 3.3.2. CARANGUEJO-UÇÁ... 15 3.4. ASSOCIAÇÃO DO CARANGUEJO COM A VEGETAÇÃO DE MANGUE.... 15 4. RESULTADOS...... 15 4.1. VEGETAÇÃO... 15 4.2. CARANGUEJO Ucides cordatus... 21 4.3. ASSOCIAÇÃO DO CARANGUEJO-UÇÁ COM A VEGETAÇÃO DE MANGUE... 26 5. DISCUSSÃO... 27 5.1. VEGETAÇÃO... 27 5.2. CARANGUEJO-UÇÁ... 28 5.3. ASSOCIAÇÃO DO CARANGUEJO-UÇÁ COM A VEGETAÇÃO DE MANGUE... 31 6. CONCLUSÕES... 32 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.... 34

x LISTA DE FIGURAS Figura 1. Mapa da localização da área de estudo... 10 Figura 2. Desenho esquemático da distribuição das parcelas de 20x20 m, estrutura de bosque... Figura 3. Desenho esquemático da distribuição das 16 subparcelas de 5x5 m, dentro de uma parcela de vegetação para sorteio das 5 subparcelas, para estudo do caranguejo... Figura 4. Mapa dos pontos para cada espécie arbórea, mostrando as dominâncias... Figura 5. Distribuição das espécies botânicas Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa, em classes de altura para os nove pontos de coleta... Figura 6. Distribuição das espécies botânicas Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa, em classes de DAP para os nove pontos de coleta... Figura 7. Densidade média de galerias com desvio padrão das galerias nos nove pontos de coleta... Figura 8. Distribuição em classes da largura da carapaça de ambos os sexos de Ucides cordatus por ponto de coleta no município de Viseu-PA... Figura 9. Mapa da largura da carapaça do caranguejo-uçá com a dominância das espécies arbóreas... Figura 10. Mapa da densidade do caranguejo-uçá com a dominância das espécies arbóreas... 11 13 18 19 20 21 23 25 26

xi LISTA DE TABELAS Tabela 1. Valores médios da estrutura dos bosques encontrados no presente estudo... 17 Tabela 2. Dados referentes a largura de Ucides cordatus machos e fêmeas capturados nos nove pontos de coleta no município de Viseu-PA... 24

xii RESUMO O presente estudo focalizou a relação entre o caranguejo-uçá e a distribuição das espécies vegetais arbóreas que formam os bosques de mangue no município de Viseu- Pará, dandose ênfase ao potencial extrativo desse recurso para os extrativistas estuarino-costeiros dessa região. Nove pontos de coleta foram escolhidos através de entrevistas aplicadas aos pescadores de caranguejos locais. Os pontos foram georreferenciados e inseridos em uma base cartográfica para elaboração de mapas temáticos da distribuição espacial das espécies arbóreas de mangue e da largura da carapaça e densidade do caranguejo-uçá. O estudo botânico foi realizado em três transecções de 100 m paralelas e com intervalos de 20 m. Em cada transecção foram abertas cinco parcelas contíguas de 20x20 m (400 m 2 ). De todas as árvores de mangue foram medidos DAP (cm) e Altura Total (m). Dos caranguejos foram medidos a Largura da carapaça (cm) e Peso (g), enquanto a Densidade foi estimada pelos métodos de contagem de galerias (CG; galerias. m -2 ) e contagem dos indivíduos (CI; ind. m -2 ). A análises de variância foram realizadas para os atributos da vegetação e do caranguejo-uçá em separado, bem como correlação entre esses atributos. Do total de 4545 registros, R. mangle obteve 2587 (56,9%), A. germinans 1625 (35,7% e L. racemosa 333 (7,3%). Avicennia germinans foi a espécie mais dominante em 70% dos pontos de coleta que foram considerados em desenvolvimento e o restante maduros. O método de contagem que melhor representou a densidade de Ucides cordatus foi o CG. Nesses bosques o solo tende a ser menos inconsolidado, tornando mais difícil o processo de extração do caranguejo-uçá pelo método do braceamento, o que, no caso do presente estudo, ambos poderiam ter contribuído para essa discrepância na proporção sexual. Os bosque de L. racemosa são pouco procurado pelos pescadores, pois para esses pescadores a baixa densidade e o menor tamanho dos caranguejos fazem com que esses bosques sejam raramente procurados para essa atividade. Palavras-chave: Ucides cordatus, potencial extrativo, florestas de mangue, município de Viseu, Pará.

xiii ABSTRACT This study focused on the relationship between mangrove crab and the distribution of tree species that make up the mangrove forests in the municipality of Viseu- Pará, giving emphasis to the extractive potential of this resource for estuarine-coastal extrative community of the region. Nine sites were selected via interviews applied to local crab fishermen. The points were georeferenced and inserted into a basemap for preparation of thematic maps of the spatial distribution of tree species of mangrove and carapace width and density of mangrove crab. The botanical study was conducted in three parallel transects of 100m in length with 20 m intervals. In each transect were opened five contiguous plots of 20x20 m (400 m 2 ). All mangrove trees were measured: DBH (cm) and Total Height (m). From crabs were measured Carapace Width (cm) Weight (g), while the galleries density was estimated by counting borrows (CB; borrows. m -2 ) and counting individual (CI; ind. m -2 ). The analyzes of variance were performed for the vegetation and mangrove crab attributes separately, as well as correlation between these attributes. Of the total 4545 records, R. mangle obtained 2587 (56.9%), A. germinans 1625 (35.7%), and L. racemosa 333 (7.3%). Avicennia germinans was the most dominant species in 70% of collection points that were considered developing and the other 30% mature. The counting method that best represented Ucides. cordatus density was the CG. In these forests the soil tends to be less unconsolidated, making more difficult the extraction process of mangrove crab by the method locally called braceamento that, in the case of the present study, both may have contributed to this sexual proportion discrepancy. The L. racemosa stands are little sought by fishermen, since these stands, according to fishermen, present lower density and smaller size of crabs making these stands unsuitable for this activity. Keywords: Ucides cordatus, extractive potential, mangrove forests, municipality of Viseu, Pará.

1 1. INTRODUÇÃO 1.1. OS MANGUEZAIS Segundo Spalding et al. (2010), existem cerca de162.000 km 2 de manguezais ao redor do mundo. Os mesmos autores apontam o Brasil como o segundo maior país em extensão de áreas de manguezal do mundo com 13.000 km², tendo a Indonésia o primeiro lugar com 31.894 km². A palavra manguezal é usada para se referir ao ecossistema. Por outro lado, o termo mangue é usado para designar um grupo floristicamente diverso de arbustos e árvores tropicais pertencentes às famílias não relacionadas, que partilham de adaptações e características fisiológicas especiais, possibilitando sua permanência em áreas alagadas, salinas de substratos siltosos, inconsolidados e com baixo teor de oxigênio (SCHAEFFER- NOVELLI et al., 2000). Nos trópicos úmidos, onde as condições climáticas são favoráveis ao rápido crescimento vegetal, os manguezais apresentam, normalmente, uma alta produtividade (CLOUGH et al., 1997). O manguezal é considerado um ecossistema aberto, no que diz respeito à energia e matéria orgânica. Além disso, o transporte dessa matéria orgânica para dentro do sistema, sua reciclagem e consequente exportação são controlados por fatores físicos (ex. marés, chuva) e biológicos (ex. queda de folha, decomposição) (NASCIMENTO, 1993). De acordo com Schaeffer-Novelli (1995), os manguezais formam um ecossistema de transição entre os sistemas terrestre e marinho, característicos de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos ao regime das diferentes marés. Esses autores também afirmam que essa floresta costeira é constituída de espécies vegetais lenhosas típicas, além de micro e macroalgas, adaptadas à flutuação de salinidade e caracterizada por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigênio. Também ressaltam que as florestas de mangue são importantes transformadores de nutrientes em matéria orgânica e geradoras de bens e serviços, formando um ambiente costeiro intertropical, conhecido pelo seu importante papel ecológico e alta produtividade primária. As florestas de mangue formam um sistema muito dinâmico e podem rapidamente expandir ou encolher em resposta à topografia regional ou às mudanças climáticas, sendo

2 consideradas altamente sensíveis às inundações diante de um cenário de aumento do nível do mar (GORNITZ, 1991; BOORMAN, 1999). Os manguezais produzem bastante biomassa, o que é essencial para o processo de decomposição e ciclagem de nutrientes, os quais podem sofrer variações em função da composição dos bosques, do material trazido pelos rios de áreas adjacentes, da exportação de detritos pelas marés, e de seu consumo pela macrofauna (ALONGI 1997; SHERMAN et al., 2003). No geral, as folhas e frutos das árvores de mangue são os componentes principais da serapilheira (CLOUGH et al., 2000; ALMEIDA, 2005). As florestas de mangue podem crescer algumas dezenas de metros em altura, sendo registradas árvores com mais de 60 metros de altura, localizadas no litoral do Equador, onde se encontram os manguezais mais altos do mundo (VANNUCCI, 2002). Em geral, a vegetação é composta por diversas espécies, o que de acordo com Duke (1998), há registro de 28 gêneros, sendo 17 exclusivos e 70 espécies distribuídas por todo o mundo.entre essas espécies destacam-se as do gênero Rhizophora (mangue vermelho), Avicennia (Siriúba) e Laguncularia (mangue branco) cuja distribuição é influenciada pela maior ou menor tolerância à salinidade, ao aporte de água doce, à preferência por determinados tipos de sedimentos, à frequência de inundações e às declividades dos terrenos (NASCIMENTO, 1984). O litoral brasileiro, por sua vez, possui a maior região de manguezal contínua do planeta (SOUZA FILHO, 2005). Herz (1991) relata que no Brasil os manguezais ocorrem desde o Estado do Amapá até Santa Catarina. Os mais exuberantes são encontrados no norte do Brasil, onde características geomorfológicas similares causaram o desenvolvimento de unidades biológicas semelhantes, com fauna e flora comuns, além dos recursos naturais com padrões análogos de exploração (FERNANDES, 2003). A costa norte tem uma área de aproximadamente 8000 km² de manguezais (SOUZA FILHO, 2005). Herz (1991) constatou que ao longo da costa dos estados do Pará e Maranhão, manguezais formam um cinturão contínuo de cerca de 700 mil ha, ou seja, quase 85% de todos os manguezais brasileiros. Souza Filho (2005) também descreve que o Estado do Pará possui cerca de 600 km de linha de costa, onde os manguezais constituem-se na formação vegetal dominante. Tendo o regime de macromarés semidiurnas (> 4 m), os manguezais paraenses encontram-se muito bem conservados, relativamente bem

3 protegidos por restingas e abrigados no interior dos estuários, apresentando maior permanência de condições de desenvolvimento no tempo e no espaço (MENDES, 2005). No litoral amazônico brasileiro, as florestas de mangue apresentam como espécies exclusivas: Rhizophora mangle (L.), Rhizophora racemosa G.F.W. Mayer, Rhizophora harrisonii Leechman, Avicennia germinans (L.) L., Avicennia schaueriana Stapf. E Lechmane x Mold., Laguncularia racemosa (L.) c.f. Gaertn., além de várias espécies associadas, como o chamado mangue-de-botão, Conocarpus erectus L. (MENEZES et al., 2008). 1.2. IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA E SOCIOECONÔMICA O manguezal é um ecossistema que proporciona diversas e contínuas atividades pesqueiras por abrigarem muitas espécies de peixes, moluscos e crustáceos, beneficiando, desta forma, as comunidades ribeirinhas que se utilizam destes recursos para consumo e/ou comercialização (SCHAEFFER-NOVELLI, 1983; 1989). As regiões estuarinas abrigam diferentes ecossistemas como, por exemplo, as marismas que são dominadas por vegetação herbácea e as largas faixas de manguezais, as quais são típicas de regiões tropicais e subtropicais (SCHAEFFER-NOVELLI et al., 2000). Segundo Hogarth (2007), o manguezal é um verdadeiro berçário, promovendo microhabitats para a proteção, alimentação e reprodução de diversas espécies de répteis, anfíbios, peixes e mamíferos. Esse ecossistema apresenta relevantes funções biológicas, tais como: a) retenção da erosão da linha de costa; b) formação de barreira diminuindo efeitos de catástrofes como maremotos e tsunamis e c) redução da contaminação por substâncias tóxicas (ex. metais pesados), funcionando como filtro natural (FERNANDES E OLIVEIRA, 2008). Os manguezais, assim como as florestas tropicais úmidas e os recifes, encontram-se sob ameaça. Contudo, especialistas advertem que os manguezais despertam menor consideração e suscitam menos iniciativas visando sua conservação, em comparação aos outros ecossistemas (VALIELA et al., 2001) A pesca de crustáceos equivale a aproximadamente 30% da pesca de alto valor comercial no mundo (SMITH E ADDISON, 2003), sendo uma atividade importante para diversos países e considerada como uma das mais valiosas do planeta (TULLY, 2003).

4 Nos municípios litorâneos do Pará, as transformações técnico-econômicas impulsionaram migrações e o investimento de muitas famílias rurais nas atividades pesqueiras, dentre as quais a captura e o beneficiamento de caranguejos (MANESCHY, 2005). O litoral do estado do Pará, é caracterizado pela presença de elevado número de rios e estuários, que possuem grande influência na dinâmica dos fatores físicos e oceanográficos, bem como na ecologia da biota da região (CAMARGO E ISSAC, 2003). Assim, os manguezais tornam-se verdadeiras fontes de renda e alimentação de muitas famílias que vivem no entorno desse ecossistema, existindo uma forte relação entre o homem e esse ambiente. Portanto, o manguezal tem uma grande importância socioeconômica, gerando condições favoráveis à instalação de várias atividades, que normalmente visam atender aos interesses comuns das populações humanas no seu entorno (FERNANDES E OLIVEIRA, 2008). 1.3. CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) Entre os crustáceos de valor comercial, o caranguejo-uçá (U. cordatus) destaca-se pelo grande número de extratores que dependem de suas capturas (IVO E GESTEIRA, 1999). Esta espécie vive nos manguezais e habita galerias por ele mesmo construídas, sendo um importante elo da cadeia trófica, permitindo a transferência de energia desde a partícula de detrito até os carnívoros (KOCH, 1999). A disponibilidade de alimento nos manguezais permite que estes ambientes sejam utilizados por uma grande quantidade de organismos. As raízes e os troncos das árvores são intensamente colonizados por algas, que abrigam uma infinidade de pequenos invertebrados marinhos. Várias espécies de animais passam toda ou parte de sua vida nos manguezais: muitas espécies de crustáceos (caranguejos, siris, camarões) e moluscos (ostra, sururu, massunim), utilizando os diversos hábitats para a sua alimentação, reprodução, crescimento e também proteção contra predadores (LANDIM, 2003). Contudo, o caranguejo-uçá representa o principal componente da macrofauna dos manguezais da costa brasileira, com influência notória sobre o processamento da serapilheira e fluxo energético desse ecossistema (KOCH, 1999). O crescimento de U. cordatus é muito lento (cerca de 8 anos para atingir o tamanho comercial) (PINHEIRO et al., 2005), o que inviabiliza sua criação em cativeiro. Por este motivo,

5 é imprescindível que sejam elaborados planos de manejo em áreas de manguezal para preservar esse recurso. O caranguejo-uçá está amplamente distribuído na costa do Atlântico Ocidental, entre as coordenadas 25ºN e 27ºS (MELO, 1996). Em relação ao seu tamanho é o segundo maior crustáceo encontrado no manguezal, constituindo a espécie mais explorada para o consumo humano. Suas tocas pontilham todo o solo das florestas de mangue, onde se alimentam das folhas e propágulos caídos (OLMOS E SILVA, 2003). O caranguejo-uçá, um dos maiores crustáceos dos nossos manguezais, habita galerias situadas na zona entremarés, permanecendo escondido durante as marés de sizígia, saindo no início das marés de quadratura para a captura de alimentos e limpeza das tocas (FERNANDES E CARVALHO, 2007). Entre os crustáceos de valor comercial, o caranguejo-uçá destaca-se pelo grande número de extrativistas que dependem de suas capturas. A captura (cata) do caranguejo-uçá é uma das atividades mais antigas de extrativismo nos manguezais brasileiros, sendo ainda praticada por muitas comunidades tradicionais estuarino-costeiras que vivem da sua comercialização (IBAMA, 1994). Em todas as regiões que possuem manguezal, ao longo da costa brasileira, existem pessoas que vivem da captura do caranguejo-uçá para a venda desse recurso aos bares e restaurantes ou aos atravessadores, os quais os comercializam nos grandes centros (BARBIERI E MENDONÇA, 2010). A espécie em questão apresenta maior densidade em florestas de Avicennia, o que pode estar relacionado à presença de pneumatóforos, que são característicos dessa espécie arbórea, dificultando a coleta pelos pescadores de caranguejos (HATTORI, 2006), o mesmo autor realizou seus estudos na região sudeste do Brasil. Com relação ao hábito alimentar, também já foi descrito que o caranguejo-uçá tem maior preferência por folhas de Avicennia e Rhizophora, que são mais nutritivas, quando comparadas às folhas de Laguncularia (CHRISTOFOLETTI, 2005). Essa espécie possui distribuição agregada nos manguezais, estando associada às raízes das árvores (OLIVEIRA, 2005). O caranguejo-uçá alimenta-se principalmente de serapilheira que é colhida e consumida diariamente ou armazenada nas tocas (NASCIMENTO, 1993). Hattori (2006) descreve que nos bosques de Avicennia e Rhizophora encontram-se os maiores caranguejos, sendo que nesses bosques são encontradas as árvores mais desenvolvidas, quando comparadas às árvores de Laguncularia.

6 Ucides cordatus pode ser um importante biomonitor de áreas críticas, pois além de ser encontrado em grande parte do litoral brasileiro, demonstra sensibilidade a diversos poluentes (SANTOS, 2002). O mesmo autor cita que o benzeno (hidrocarboneto aromático monocíclico), por exemplo, é largamente utilizado como solvente industrial para tintas, resinas, corantes e pesticidas, sendo uma fonte em potencial de contaminação em áreas de manguezal. Na tentativa de se estimar o número de indivíduos de U. cordatus retirados da natureza anualmente, algumas pesquisas foram desenvolvidas na região Norte do Brasil. Levantamentos efetuados em manguezais do estuário de Caeté, 200 km a sudeste do delta do rio Amazonas, estimaram que em 1997 foram capturados 22 milhões de indivíduos, cerca de 3.300 t de caranguejo-uçá (WOLFF et al., 2000). Os estados do Maranhão e do Pará, locais de maior extensão em ecossistemas de manguezais do litoral brasileiro, contribuíram com cerca de 50% na produção total contabilizada de caranguejo-uçá em toda a região norte e nordeste nos anos de 1998 e 1999, cujos valores médios foram da ordem de 9.700 t de caranguejo-uçá (IBAMA, 2002). Glaser (2003), estudando as comunidades rurais do estuário do rio Caeté, Bragança - Pará, verificou que 83% da população têm sua renda ligada às atividades de subsistência. Nessa pesquisa, a dependência da extração de recursos do mangue mostrou-se bastante expressiva, sendo adotada por 68% das pessoas pesquisadas, das quais 42% realizavam a cata de U. cordatus. Segundo a mesma autora, o caranguejo-uçá é a espécie mais importante economicamente para a região, haja vista ter se mostrado como a principal fonte de renda para 38% dos pescadores pesquisados. Nesse contexto, o presente estudo buscou enfrentar as problemáticas de poucas literaturas de estudos científicos realizados no município de Viseu- Pará, focalizando a vasta área de costa daquela região e seu imenso potencial extrativista do caranguejo-uçá. Haja vista o estudo fez uma relação entre o caranguejo-uçá e a distribuição das espécies vegetais arbóreas que formam os bosques de mangue no município, dando-se ênfase ao potencial extrativo desse recurso para os extrativistas estuarino-costeiros dessa região.

7 2. HIPÓTESES E OBJETIVOS 2.1. HIPÓTESE 1 Partindo-se do pressuposto de que existe uma associação dos maiores indivíduos de U. cordatus ocorrer em bosques dominados por mangues vermelhos (Rhizophora spp.), assume-se a hipótese de que o gradiente de intensidade do potencial extrativo do caranguejouçá corresponda ao gradiente de intensidade de dominância dessa espécie de mangue na região de Viseu. 2.1.1. Objetivos - Mapear o gradiente de dominância dos bosques de mangue com base na dominância das espécies, no município de Viseu-PA; - Correlacionar os parâmetros do caranguejo-uçá com os atributos estruturais das espécies arbóreas de mangue. 2.2. HIPÓTESE 2 Sabe-se que as relações entre tamanho e densidade dos indivíduos de U. cordatus tendem a ser inversamente proporcionais, em função da alta territorialidade apresentada por essa espécie. A partir dessa informação, assume-se que onde os indivíduos de caranguejouçá são mais desenvolvidos representa a zona de maior potencial extrativo desse recurso. 2.2.1. Objetivos - Verificar a relação entre os parâmetros largura da carapaça e densidade do caranguejo-uçá; - Mapear o gradiente do tamanho do caranguejo, expressando a intensidade do potencial extrativo do caranguejo-uçá no município de Viseu Pará.

8 2. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. ÁREA DE ESTUDO O trabalho de campo foi realizado no município de Viseu, Estado do Pará. Esse município encontra-se situado a 26 metros de altitude, sendo suas coordenadas geográficas: latitude - 1º 11`37 Sul e longitude - 46º 8`22 Oeste. O mesmo localiza-se às margens do rio Gurupi, na fronteira com o Estado do Maranhão, onde possui uma área de 4915 km² (IBGE, 2010). De acordo com o documento de estatística municipal (SEPOF, 2007), a cobertura vegetal dominante em Viseu é a vegetação de terra firme, correspondente à Floresta Secundária Latifoliada. A Floresta Aluvial também se encontra presente como vegetação típica de várzeas estuarinas. Nesse mesmo documento, nas áreas flúvio-litorâneas desse município ocorre o domínio do ecossistema de manguezal (Figura 1). A topografia do município de Viseu-PA apresenta poucas variações, resultantes das condições geológicas locais, onde há sedimentos quaternários e terciários, apesar de inexpressiva mancha de terrenos Pré-Cambrianos. No município, há ocorrência de rochas cristalinas metamórficas e metassedimentares, pertencentes ao grupo Gurupi, de idade Pré cambriana, cortadas por veios de quartzo auríferos, e por cristais de rochas, além de rochas sedimentares recentes de idades terciárias e quaternárias refletindo sua constituição geológica, seu relevo apresenta algumas formas mais movimentadas, fazendo parte do planalto rebaixado da zona Bragantina e do Litoral de rias e lençóis Maranhenses. Apresenta pequenos morros e colinas, áreas aplainadas que constituem os pediplanos, além de alguns terraços nas áreas sedimentares e interpenetrações de influências litorâneas (PORTAL AMAZÔNIA, 2016). 3.2. PONTOS DE COLETA Os pontos de coleta foram escolhidos através de entrevistas semiestruturadas aplicadas ao grupo dos caranguejeiros locais, além das visitas-piloto nos locais indicados por essas pessoas. Ao todo foram selecionados nove pontos de coleta, os quais foram georreferenciados com o auxílio de um GPS (Etrex-Garmin). Os pontos obtidos foram inseridos em uma base cartográfica digitalizada e georreferenciada para elaboração de mapas temáticos, referentes à distribuição espacial das espécies arbóreas de mangue e da largura da carapaça e densidade do caranguejo-uçá. Foram mensurados a salinidade de cada ponto

9 de coleta, sendo que foi coletado água na borda de cada ponto para análise em refratômetro de mão. O estudo foi realizado entre os meses de outubro de 2012 a março de 2013, mais precisamente os quatro primeiros pontos foram realizados coletas nos meses de outubro a dezembro de 2012 e os últimos cincos pontos nos meses de janeiro a março de 2013, sendo que para a região local os primeiros três meses de coletas é conhecido como período seco devido à baixa incidência de chuva e os período das cinco ultimas coletas foram no chamado período chuvoso com alta incidência de chuva na região.

Figura 1: Mapa de localização da área de estudo. A) Estado do Pará (área hachurada) e sua zona costeira (moldura preta); B) Município de Viseu (área hachurada) e sua zona costeira (moldura preta); C) Localização dos pontos de coleta (n=9) no município de Viseu (área hachurada). 10

20 m 11 3.2.1.Vegetação Para determinar a estrutura dos bosques de mangue foi aplicado métodos descritos por Cintrón e Schaeffer-Novelli (1984). Ao longo de cada transecção de 100 m (n=3) foram abertas cinco parcelas contíguas de 20x20 m (400 m 2 ). As transeções foram abertas em intervalos de 20 m de distância uma da outra, perfazendo um total de 15 parcelas (Figura 2). 100 m 20 m 20 m 20 m 20 m 20 m 1ª parcela 1ª parcela 1ª parcela 2ª parcela 2ª parcela 2ª parcela 100 m 3ª parcela 3ª parcela 3ª parcela 4ª parcela 4ª parcela 4ª parcela 5ª parcela 5ª parcela 5ª parcela Figura 2: Desenho esquemático da distribuição das parcelas (n=15) de 20x20 m para o estudo da estrutura de bosque nos manguezais do município de Viseu - Pará. Foram identificadas todas as árvores dentro das parcelas. De todas as árvores foram retiradas a Circunferência à Altura do Peito (CAP; cm), tendo-se como base 1,30 m à altura do peito e a Altura Total da árvore (AT; m). Das árvores mortas foi medido o CAP e o indivíduo identificado em nível de espécie. Após a realização das etapas de campo, os dados foram utilizados para estimar os parâmetros estruturais abaixo:

12 i) Diâmetro à Altura do Peito (DAP: cm) a partir dos valores obtidos de CAP foi calculado o DAP para os gêneros Avicennia, Laguncularia e Rhizophora, sendo que para este último a medida do CAP foi obtida acima da última raiz escora. Para este cálculo foi utilizada a seguinte fórmula: DAP =CAP/ ii) Frequência Relativa (Fr;) é o registro da presença de uma determinada espécie em uma dada parcela calculada em termos percentuais. iii) Densidade Relativa (DeR) é o número de indivíduos por unidade de área (parcela de 400 m 2 ) calculada em termos percentuais. iv) Dominância Relativa (DoR) é soma da área basal ocupada por todas as árvores de uma espécie em uma determinada área (parcela de 400 m 2 ), calculado em termos percentuais. v) Valor de Importância (VI) soma dos valores percentuais da Frequência Relativa, Densidade Relativa e Dominância Relativa. Os valores referentes à Altura Total e ao DAP dos indivíduos de cada ponto de coleta foram divididos em classes para análises comparativas. 3.2.2. Caranguejo-uçá A população de caranguejo-uçá foi caracterizada nas mesmas parcelas utilizadas para o estudo dos atributos estruturais da vegetação, no intuito de possibilitar comparações futuras entre esses dois grupos de variáveis. Assim, em cada parcela do estudo da vegetação foram divididas 16 subparcelas de 5x5 m (25 m²), sendo sorteadas cinco dessas subparcelas para a realização da amostragem populacional de U. cordatus (Figura 3). A densidade dos caranguejos foi estimada por dois métodos: i) Contagem das Galerias (CG) contagem do número de galerias contidas em cada parcela (galerias. m -2 ) e ii) Captura dos Indivíduos (CI) captura dos indivíduos existentes em cada galeria existente por parcela (ind. m -2 ).

13 5 m 5 m 5 m 5 m 5 m a b c d 5 m e f g h 5 m I j k l 5 m m n o p Figura 3: Desenho esquemático da distribuição das 16 subparcelas de 5x5 m (25 m 2 ) dentro de uma parcela de vegetação de 20x20 m. A subparcela hachurada (n) exemplifica o sorteio da subparcela utilizada para o estudo do caranguejo. Para minimização do erro amostral, as galerias de U. cordatus foram identificadas pela posição oblíqua que sua abertura apresenta em relação à superfície do sedimento e formato interno (COSTA, 1972), o que as diferencia daquelas escavadas por outros caranguejos (ex. espécimes do gênero Uca). As galerias identificadas foram classificadas em quatro categorias: 1) Fechadas (FEC) galerias que apresentam a abertura oclusas por um tampão de sedimento úmido ou que possuem abertura não evidente, neste caso, a galeria foi reconhecida pela elevação e textura diferenciada do sedimento, sendo confirmada por escavação; 2) Abertas com Atividade Biogênica (AAB) galerias que apresentam na proximidade da abertura lama fluida, fezes e/ou rastros; 3) Abertas com Dupla Abertura (ADA) galerias confirmadas por escavação e consideradas como sendo uma única galeria para efeito de análise e 4) Abandonadas (ABA), galerias que não possuem qualquer atividade biogênica ao seu redor. A estimativa da densidade utilizando-se o método de contagem das galerias (CG) (galerias. m -2 ) foi realizada pela soma do número de galerias do tipo AAB, FEC e ADA. As

14 galerias que foram encontradas abandonadas não foram consideradas para efeito de análise. Já a estimativa da densidade através do método de contagem dos indivíduos (CI; ind. m -2 ) foi realizada a partir dos caranguejos retirados das galerias somados aos indivíduos não capturados, mas determinados como presentes no interior das galerias, através de indícios diretos (toque) e indiretos (atividade biogênica). O sexo dos caranguejos foi determinado através do dimorfismo sexual externo (LC; cm) (COSTA, 1972), utilizando-se um paquímetro com 0,05 mm de precisão (Mitutoyo). O tamanho dos caranguejos foi definido pela largura da carapaça, sendo a medida feita de uma extremidade a outra no eixo de maior dimensão da mesma. Também foi mensurado o comprimento da carapaça (cm). O peso (P; g) de cada exemplar foi obtido com o auxílio de balança do tipo dinamômetro de 500 g (Pesola). A produtividade do caranguejo-uçá foi estimada multiplicando-se o valor do peso médio de caranguejos (g) pelo estoque de caranguejos, o que representa o valor da biomassa, expressa em t. ha -1, sendo que o número médio de indivíduos por área representa o estoque, expresso em ind. ha -1, estimado a partir dos valores de densidade. 3.3. ANÁLISE DE DADOS Os dados da vegetação e do caranguejo-uçá foram testados quanto à normalidade e homocedasticidade através do teste de Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente. Nos casos de ausência dessas premissas, os dados foram transformados para alcançar a homogeneização das variâncias, sendo também utilizados testes estatísticos nãoparamétricos equivalentes a cada análise paramétrica proposta (AYRES et al., 2007). 3.3.1. Vegetação Foram comparados os valores estruturais das árvores vivas e mortas por espécies arbóreas de mangue entre os pontos de coleta através da análise de variância (ANOVA-um fator), sendo todas as médias comparadas pelo método post hoc de Tukey. A regressão linear simples foi utilizada para analisar a arquitetura do bosque através da relação entre os valores de (DAP), altura total (AT) e densidade (De). As análises foram realizadas no programa BioEstat 5.0 (AYRES et al., 2007).

15 3.3.2. Caranguejo-uçá Os dados de densidade (dos métodos CG e CI), biomassa (t. ha -1 ), comprimento (cm) e peso (g) das populações de caranguejo-uçá foram comparados entre os pontos de coleta, através da análise de variância (ANOVA - um fator), sendo todas as médias comparadas pelo método post hoc de Tukey. Para determinar a proporção sexual em cada ponto de coleta foi utilizado o teste do Qui-quadrado (χ 2 ). O potencial extrativo de U. cordatus foi estimado para cada um dos pontos de coleta com base e referência no tamanho mínimo de 6,0 cm que é o tamanho mínimo de captura estipulado pela Portaria IBAMA Nº 034/03-N, de 24/06/2003, a qual define o período do defeso pesqueiro do recurso caranguejo-uçá para as regiões Norte e Nordeste do Brasil. 3.4. ASSOCIAÇÃO DO CARANGUEJO-UÇÁ COM A VEGETAÇÃO DE MANGUE Os dados de densidade e largura de carapaça de U. cordatus foram relacionados aos dados de atributos da vegetação arbórea (densidade, dominância, altura e DAP) dos manguezais de cada ponto de coleta através de uma análise de correlação linear (ZAR, 1999), no intuito de avaliar a associação entre esses dois grupos de variáveis. 4. RESULTADOS 4.1. VEGETAÇÃO Nos nove pontos de coleta foram registrados três espécies arbóreas de mangues. Do total de 4545 registros, R. mangle obteve 2587 (56,9%), A. germinans 1625 (35,7% e L. racemosa 333 (7,3%). As espécies A. geminans e R. mangle foram registradas em todos os nove pontos de coleta, enquanto a espécie L. racemosa só não foi registrada nos pontos #01, #04 e #08. Os atributos estruturais das três espécies arbóreas de mangue foram comparadas entre os pontos de coleta (Tabela 1). A altura total dos indivíduos de R. mangle variou de 4,8 a 8,9 m, sendo registrada uma variação para A. germinans de 6,1 a 18,3 m, enquanto L. racemosa variou de 4,6 a 7,1 m. Para as espécies R. mangle e A. germinans o ponto de coleta que as árvores apresentaram menor altura foi o #06, enquanto para L. racemosa foi o ponto #05. Em oito dos nove pontos a espécie com maior média de altura foi A. germinans, com exceção do ponto #06 cujas árvores de L. racemosa alcançaram maior valor.

16 A média do atributo estrutural Diâmetro à Altura do Peito (DAP) para a espécie R. mangle ficou entre 9,0 e 18,9 cm com a menor média para o ponto #06 e maior para o ponto #05. Os valores registrados para a espécime A. germinans variou de 9,0 e 56,2 cm o menor valor foi observado no ponto #06 e o maior no ponto #01, enquanto as médias encontradas para L. racemosa variaram entre 7,0 e 15,4 cm, sendo que o ponto #02 apresentou a menor média e o #03 a maior média para essa espécie (Tabela 1). A Tabela 1 apresenta os valores de Densidade (De). Para a espécime R. mangle, a média ficou entre 9,93 e 28,4 ind. m - ² ficando os pontos #02 como menor média e o ponto #07 maior média, enquanto que para A. germinans a menor média foi no ponto #08 com 1,6 ind. m - ² e o ponto de maior média foi o ponto #06 com 42,4 ind. m - ². Para L. racemosa a média variou entre 1,0 e 9,8 ind. m - ², ficando entre os pontos #07 e #02 respectivamente. Com o atributo Dominância (Do) a espécie R. mangle teve uma média entre 0,11 e 0,81 (m 2. ha -1 ), sendo os pontos #09, #08 e #05 os que apresentaram maior dominância e os de menor dominância principalmente os pontos #04, #03 e #01 (Tabela 1; Figura 4A). Para a espécie A. germinans, a menor média foi registrada no ponto #09, 0,11 m 2. ha -1 e a maior no ponto #01, 0,60 m 2. ha -1 (Tabela 1; Figura 4B), enquanto o menor valor médio para L. racemosa foi de 0,024 m 2. ha -1 registrado no ponto #07 e o maior foi 0,046 m 2. ha -1 no ponto #02 (Tabela 1; Figura 4C). No atributo Valor de Importância (VI) observou-se uma média entre 70 e 205 na espécie R. mangle, onde o ponto #06 foi o menor e o #01 foi o maior ponto dentre os nove. Avicennia germinans apresentou média variando entre 69,1 e 140,7 nos pontos #05 e #04, respectivamente. A espécie L. racemosa apresentou valores de 39,8 e 95,0 nos pontos #03 e #02, respectivamente (Tabela 1). Os resultados da análise comparativa das três espécies com relação aos atributos estruturais foram todos significativamente diferentes (Tabela 1). No entanto, quando a análise foi realizada considerando os pontos de coleta, algumas espécies não apresentaram diferenças significativas, dependendo do atributo analisado. Para a variável Altura, por exemplo, A. germinans não apresentou diferença significativa (ANOVA, F= 1,3960; gl= 8; p>0,05). O mesmo resultado foi obtido para A. germinans com relação à Densidade (ANOVA, F= 0,1261; gl= 8; p>0,05). Já para o DAP, ambas as espécies A. germinans e R. mangle não apresentaram diferença significativa (ANOVA, F= 1,1871; gl= 8; p>0,05) e (ANOVA, F= 0,1657; gl= 8; p>0,05), respectivamente.

17 Tabela 1. Valores médios±desvio padrão da estrutura de bosque das espécies arbóreas Rhizophora mangle (Rh), Avicennia germinans (Av) e Laguncularia racemosa (La) nos nove pontos de coleta no município de Viseu PA. DAP= Diâmetro à Altura do Peito, Fr R= Frequência Relativa, De= Densidade, DeR= Densidade Relativa, Do= Dominância, DoR= Dominância Reltiva p=nível de significância; n.s.= não significativo, n.a. = não aplicável. ALTURA (m) DAP (cm) FREQUENCIA Fr R (%) De (m²) DeR (%) Do (m 2. ha -1 ) DoR (%) Sitio Rh Av La Rh Av La Rh Av La Rh Av La Rh Av La Rh Av La Rh Av La Rh Av La Rh Av La #1 7,4±4,2 18,3±5,8 -- 10,8±9,7 56,2±26,2 -- 1 1 -- 50,0 50,0 -- 19±8,1 2±1,6 -- 90,4 9,5 -- 0,34±0,1 0,60±0,5 -- 36,2 63,8 -- 205,5 94,5 -- #2 8,3±4,5 11,3±5,5 5,1±2,2 16,5±12,6 25,6±24,9 7,0±3,4 1 1 1 33,3 33,3 33,3 9,9±5,6 4,2±3,8 9,8±8,6 41,4 17,5 41,1 0,36±0,22 0,41±0,49 0,04±0,03 44 50,4 5,6 122,4 82,6 95 #3 6,2±2,5 7,8±3,2 6,6±1,8 11,8±7,0 18,0±10,6 15,4±4,6 1 1 1 33,3 33,3 33,3 18,1±8,0 12,7±6,4 1,0±2,1 56,9 40 3,1 0,26±0,10 0,43±0,26 0,02±0,18 36,7 59,6 3,6 136,9 123,2 39,8 #4 6,5±2,5 11,0±2,5 -- 10,6±4,7 15,4±9,5 -- 1 1 -- 50,0 50,0 -- 25,1±5,2 14,7±4,4 -- 63 37 -- 0,26±0,12 0,54±0,30 -- 32,6 67,4 -- 159,3 140,7 -- #5 8,4±3,8 10,3±4,8 4,6±1,2 18,9±8,8 23,1±10,8 12,1±5,4 1 1 1 33,3 33,3 33,3 23,8±8,2 5,0±3,6 2,0±2,7 77,3 16,2 6,5 0,81±0,45 0,25±0,28 0,02±0,04 74,3 23,2 2,4 187 69,1 43,9 #6 4,9±2,7 6,1±2,6 7,1±4,2 9,0±7,6 9,0±6,2 8,7±4,2 1 1 1 33,3 33,3 33,3 10,8±6,2 42,4±24,8 5,5±4,3 18,4 72,2 9,4 0,11±0,16 0,39±0,13 0,04±0,04 20,8 71,7 7,4 70,2 177,9 51,9 #7 5,8±3,0 6,5±3,8 5,0±2,4 9,2±5,1 11,2±7,2 11,2±6,8 1 1 1 33,3 33,3 33,3 28,4±12,1 22,1±13,6 1,8±2,8 54,3 42,3 3,4 0,25±0,27 0,31±0,20 0,02±0,06 43,3 52,6 4,1 136,9 122,5 40,6 #8 7,9±6,1 14,3±8,5 -- 14,3±11,2 31,3±26,4 -- 1 1 -- 50,0 50,0 -- 20±9,1 1,6±1,8 -- 92,6 7,4 -- 0,51±0,17 0,20±0,27 -- 71,4 28,5 -- 227,7 72,3 -- #9 7,4±3,9 8,3±4,9 5,0±10,1 16,5±9,3 18,5±10,1 11,9±6,9 1 1 1 33,3 33,3 33,3 17,3±9,4 3,4±2,9 1,9±2,3 76 15,4 8,6 0,48±0,27 0,11±0,11 0,02±0,04 76,7 18,6 4,6 152,5 32,7 47,6 Média 7,0±1,2 10,4±3,9 5,5±1,0 13,0±3,6 23,7±13,9 11,0±3,4 1 1 1 38.9±8.338.9±8.333.3±0.0 19,1±5,7 12,0±12,5 2,4±3,07 63,3±28,8 28,5±21,0 12±14,4 0,3±0,2 0,3±0,1 0,02±0,01 48,5±20,4 48,4±20,0 3,1±1,7 155 101,7 53 p (Pontos) < 0,05 n.s. < 0,01 n.s. n.s. < 0,05 n.a. n.a. n.a. na na na < 0,01 n.s. < 0,01 na na na < 0,01 <0,05 < 0,01 na na na < 0,05 < 0,01 n.s. p (Espécie) < 0,01 < 0,05 n.a. ns <0,05 ns <0,05 ns < 0,01 VALOR DE IMPORTÂNCIA

Figura 4: Mapa dos pontos para cada espécie arbórea, mostrando a dominância percentual de cada uma conforme a intensidade das cores, no município de Viseu-PA. 18

19 Todas as espécies arbóreas foram agrupadas em classes de Altura e de DAP. Sendo que para variável altura a classe de 5 10 metros foi a que mais registrou espécies em todos os pontos de coletas, incluindo todas os três gêneros encontrados, contudo a R. mangle foi a que mais obteve registros em todas as classes de altura, portanto, dominando em quase todas elas. O ponto #02 obteve um maior número de L. racemosa nas duas primeiras classes (0-5 e 5 10 metros), sendo essa espécime a mais abundante somente nesse ponto. Outro ponto que não foi dominado por R. mangle foi o ponto #06, onde a espécie A. germinans apresentou valores muito superiores (Figura 5). Figura 5: Distribuição do número de indivíduos de Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa em classes de altura (m) para os nove pontos de coleta do município de Viseu Pará.

20 Para o atributo DAP (cm) as classes com maior ocorrência foram (1 10 e 10-20 cm), com a espécie R. mangle dominando essas classes em quase todos pontos de coleta com exceção do ponto #02 que foi observado maior ocorrência da espécie L. racemosa indicando um bosque com variações de dominâncias de DAP. No ponto #06 a predominância foi da espécie A. germinans em todas as classes onde houve registro de espécime, sendo um bosque extremamente dominado por essa espécie no que diz respeito a essa variação. Os outros pontos foram mistos ou dominados pela espécie R. mangle com variações entre as classes (Figura 6). Figura 6: Distribuição do número de indivíduos de Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa em classes de DAP para os nove pontos de coleta do município de Viseu Pará.

21 4.2. CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus Foram registradas 3465 galerias nos nove pontos de coleta e computados 1802 caranguejos, sendo que desse total apenas 783 indivíduos foram capturados e mensurados. No geral, a densidade de galerias foi de aproximadamente 1,02 galerias. m -2, sendo que a menor e a maior densidade foi registrada nos pontos #06 e #08 com 0,54 e 1,60 galerias. m -2 (Figura 7). A análise de variância mostrou que houve diferença significativa na densidade de galerias entre os nove pontos de coleta (ANOVA, F=10,58; gl= 8; p<0,0001). Figura 7: Densidade média de galerias com desvio padrão das galerias de Ucides cordatus nos nove pontos de coleta no município de Viseu Pará. Médias seguidas da mesma letra não diferiram significativamente, através da análise de variância (ANOVA-um critério). Cada tipo diferente de galeria registrado foi comparado entre os pontos de coleta. A análise de variância mostrou que as galerias i) fechadas (F), ii) aberta com atividade biogênica (AAB) e iii) aberta com dupla abertura (ADA) apresentaram diferença significativa (ANOVA, F=5,4; gl=8; p<0,001 F= 12,6; gl= 8; p<0,001 F= 4,9; gl= 8; p<0.001, respectivamente). A única que não obteve resultado significativo foram as galerias abandonadas (AB ANOVA, F= 1,4; gl=8; p=0,18). Adicionalmente, a análise comparativa entre o número médio de galerias e

22 o número médio de caranguejos para os nove pontos de coleta mostrou-se significativa (ANOVA, F=50,3; gl=1; p<0,001). Por outro lado, a relação desses mesmos atributos (densidade do caranguejo-uçá e galerias) não apresentou correlação (Pearson) alta nem significativa (r²=0,07; p=0,4). A análise comparativa dos atributos biométricos do caranguejo-uçá i) comprimento da carapaça (CC), ii) Largura da Carapaça (LC), iii) densidade (CI) e iv) peso entre os nove pontos de coleta apresentou diferença significativa para todas essas variáveis (ANOVA, F=36,7; gl=8; p<0,001 ANOVA, F=66,4; gl=8; p<0,001 ANOVA, F=10,0; gl=8; p<0,001 ANOVA, F=21,3; gl=8; p<0,001, respectivamente). Do total de indivíduos capturados (n=783), a quantidade de machos foi de 660 (84,3%) e de fêmeas 123 (15,7%), sendo a razão sexual M:F de aproximadamente 5:1. Para o teste do Qui-quadrado apenas a partição 04 que inclui do ponto #02 ao ponto #05 e a partição 06, que relaciona do ponto #02 ao ponto #07, foram ambos significativos com (p<0,05), enquanto que a partição 07, que engloba do ponto #02 ao ponto #08, mostrou resultado não significativo (p=0,058). Em relação aos pontos de pesquisa para macho e fêmea o ponto #06 foi o que obteve menor proporção sexual sendo 73,3% dos indivíduos machos e 26,7% fêmeas, a maior proporção foi observada no ponto #02 onde os machos ficaram com 95,7% e as fêmeas apenas com 4,3% das espécimes encontradas. A distribuição da largura da carapaça entre as classes de tamanho de U. cordatus, considerando ambos os sexos, o menor percentual (12,7%) representou os indivíduos menores de 6 cm, enquanto os indivíduos maiores do que 6 cm apresentaram o maior percentual (87,2%) (Figura 8).

23 Figura 8: Distribuição do tamanho dos indivíduos de ambos os sexos de Ucides cordatus em classes de acordo com largura da carapaça (cm) em cada ponto de coleta, no município de Viseu Pará. Os valores da Largura da carapaça mostraram que os indivíduos machos são em média sempre maiores do que as fêmeas, variando entre 3,9 a 8,8 cm e média de 6,6 cm. A análise comparativa mostrou diferença bastante significativa (ANOVA, F=51,0557; gl=8; p<0,0001), com o menor valor médio para o ponto#06 e o maior para o ponto#08. As fêmeas também variaram em tamanhos entre os pontos de coleta de 3,4 a 7,1 cm, com média de 5,8 cm, sendo o menor valor médio no ponto#06 e o maior no ponto#05. Para as fêmeas também foi registrada diferença significativa entre os nove pontos (ANOVA, F=9.4795; gl=8; p<0,0001) (Tabela 2).

24 Tabela 2: Dados referentes à Largura de Carapaça (cm) de Ucides cordatus para Machos (M) e Fêmeas (F), capturados nos nove pontos de coleta no munícipio de Viseu PA.DP = Desvio Padrão, CV% = Coeficiente de Variação Percentual). Ponto Sexo Mínimo Máximo Média ± DP CV% M 4,5 8,0 6,1 ± 0,70 11,4 #01 F 4,8 7,1 5,7 ± 0,68 11,9 #02 #03 #04 #05 #06 #07 #08 #09 M 5,8 8,1 6,9 ± 0,51 7,3 F 5,5 6,3 5,7 ± 0,39 6,8 M 4,7 8,4 6,6 ± 0,64 9,7 F 4,9 6,6 5,8 ± 0,56 9,6 M 4,5 8,0 6,8 ± 0,65 9,5 F 5,2 6,9 6,1 ± 0,49 8,0 M 6,3 8,2 7,2 ± 0,41 5,6 F 6,3 6,9 6,6 ± 0,23 3,4 M 3,7 5,5 4,5 ± 0,66 14,6 F 3,4 4,5 3,8 ± 0,46 12,1 M 6,0 8,8 7,3 ± 0,62 8,4 F 6,3 6,6 6,3 ± 0,11 1,7 M 6,3 8,6 7,4 ± 0,51 6,8 F 6,1 6,4 6,0 ± 0,32 5,3 M 5,6 8,6 7,2 ± 0,60 8,3 F 5,2 6,9 6,3 ± 0,43 6,8 A distribuição espacial da largura da carapaça do caranguejo-uçá nos pontos de coleta dominados pelas espécies arbóreas de mangue R. mangle e A. germinans está apresentada na Figura 9. Nos pontos onde R. mangle foi dominante (Figura 9A), os maiores caranguejos foram registrados nos pontos #07 com média 7,5 cm e ponto #08 com média de 7,4 cm e os menores principalmente nos pontos #06 e #01 com média de 3,7 cm e 6,2 cm respectivamente. Já o mapa de distribuição dominados por A. germinans (Figura 9B), os pontos com os maiores caranguejos foram #05 e #09 com média de 7,7 cm e 7,5 cm respectivamente, sendo para os menores caranguejos a média foi de 3,8 cm no ponto #06 e 6,1 cm no ponto #01.