A INTERFERÊNCIA NO SISTEMA HIDROLÓGICO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CANOAS COM A AÇÃO ANTRÓPICA THE INTERFERENCE IN HYDROLOGICAL OF THE RIVER BASIN OF CANOAS RIVER SYSTEM WITH ACTION ANTHROPOGENIC Sessão temática: Desenvolvimento Local e Regional. BERTELLI, Célio (Uni-FACEF). Pós-doutorando (Uni-FACEF). profbertelli@hotmail.com CAVALCANTI-BANDOS, Melissa Franchini (Uni-FACEF). Doutora em Administração (FEA-USP). melissafcb@gmail.com Resumo O artigo em tela tem como objetivo analisar a interferência antrópica no sistema hidrológico da bacia hidrográfica do Rio Canoas. O uso e a ocupação dos solos exercem influência marcante no escoamento superficial e aporte de sedimentos no leito dos mananciais, podendo alterar o sistema hidrológico de uma bacia hidrográfica. Com isto se objetivou com o presente artigo, verificar a influência do uso e ocupação dos solos sobre os recursos hídricos da bacia hidrográfica do Rio Canoas, localizada nos municípios de Franca-SP, Cristais Paulista-SP, Pedregulho-SP, Ibiraci-MG e Claraval-MG e propor uma reflexão a partir da abordagem sistêmica sobre o contexto. Para constatar esta influência, realizou-se uma análise de comparação entre os parâmetros de escoamento e disponibilidade de água e do uso e ocupação do solo, cujos dados foram calculados através dos métodos de cálculos de vazões máximas, médias e mínimas em bacias hidrográficas de acordo com o professor Kokei Uehara. Concluiu-se que as áreas ocupadas pela malha urbana, agricultura e a pecuaria favoreceram aumento da disponibilidade das águas pluviais e o aumento da velocidade do escoamento na área de contribuição da Bacia Hidrográfica. De maneira geral, as áreas habitadas, agricultadas e as matas degradadas, sofrem com o aumento das inundações em épocas de chuva e escassez de água no período de estiagem. Palavras-chave: Bacia hidrográfica, sistema hidrológico, Rio Canoas. Abstract The article in screen aims to analyze the anthropogenic interference with the hydrological system of the basin of the Rio Canoas. The use and land use exert remarkable influence on runoff and sediment delivery in the bed of water sources, altering the hydrological system of a watershed. With this is aimed with this work was to verify the influence of use and land use on water resources of the basin of the Canoas River, located in the municipalities of Franca- SP, Cristais Paulistas-SP, Pedregulho-SP, Ibiraci-MG and Claraval-MG. To observe this effect, we carried out a comparative analysis of the flow parameters and availability of water by analyzing the use and occupation, whose data were calculated using the methods of calculations of maximum flows, average and minimum in watersheds in São Paulo teacher Kokei Uehara. It was concluded that the areas occupied by the urban fabric and agriculture helped reduce water availability and increased flow velocity in the area of the Basin. Overall, the inhabited areas, Cropped and degraded forests, suffered from increased flooding in the
rainy season and water shortages Keywords: Watershed, hydrological system, Rio Canoas. 1. INTRODUÇÃO A mudança da paisagem da região da Bacia Hidrográfica do Rio Canoas está totalmente interligada com o desenvolvimento socioeconômico da mesma. Assim os ciclos de atividades econômicas como urbanização, mineração, agricultura e pecuária estão ligadas com o fato da região estar no trajeto que se convencionou a chamar Caminho ou Estrada dos Goiases, assim como sua forte influência no desenvolvimento da região, desde os bandeirantes até a chegada das ferrovias. A fixação populacional, formada no início por muitos mineiros que vinham de zonas de garimpo e acabavam permanecendo na região se dedicando a criação de gado, passaram a compor a região da bacia hidrográfica, criando demandas sociais e econômicas que impactavam diretamente no uso do solo, seja pela agricultura de subsistência ou as extensas plantações de café. Franca tem experimentado no último século a diversificação do parque industrial, como as indústrias de confecções, de fundição, de joias e diamantes, metalúrgicas, de alimentos e bebidas, de cosméticos, de móveis assim como no setor agrário, como centro de uma das mais importantes regiões produtoras de café do Brasil e do mundo. A cidade é também um dos maiores polos de lapidação de diamantes do mundo é um importante centro na região de difusão e produção de conhecimento tecnológico. O crescimento demográfico e o desenvolvimento socioeconômico que vem ocorrendo desde a chegada dos bandeirantes em 1607 a região, intensificaram-se na segunda metade do século XX impulsionados por fortes aumentos na demanda de água no setor agrícola, objetivando aumentos na produção de alimentos para atender as necessidades da população, fatores esses compreendidos como entradas (ou inputs) desse sistema. Para tanto, duas alternativas foram consideradas, a partir da retroalimentação do sistema com o passar do tempo: aumentar a área explorada ou utilizar tecnologias que assegurassem esta finalidade, como a irrigação. E também o uso de insumos como fertilizantes e defensivos que, se não manejados seguramente, estimulam os riscos de degradação ambiental, especialmente dos recursos hídricos. Os resultados, saídas (ou outputs) desse sistema são o carreamento de longas quantidades de solo, matéria orgânica e materiais agrícolas para leito dos cursos d água nas épocas chuvosas, colaborando intensamente com o aumento da acumulação de sólidos e nutrientes na água dos mananciais. Da mesma forma, os coliformes podem ser deslocados até o leito, conforme Gonçalves et al. (2005) Em retorno a essas ações antrópicas, temos o assoreamento como novo input do sistema que, gera como output a alteração ou deterioração da qualidade da água, da flora e da fauna, fomenta a diminuição de água no período de estiagem e a velocidade da água resultando também nas enchentes e erosões comprometendo os recursos hídricos e a qualidade de vida. Portanto, o presente artigo teve como objetivo verificar a interferência do uso e ocupação dos solos sobre a dinâmica do sistema hidroflorestal da Bacia Hidrográfica do Rio Canoas e oferecer uma reflexão a partir da abordagem sistêmica
2. SISTEMA HIDROLÓGICO 2.1. Conceito de ciclo hidrológico O ciclo hidrológico é o caso global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, fomentado principalmente pela energia solar ligada à gravidade e à rotação terrestre. Em meio aos fatores que auxiliam para que haja uma alta variabilidade nas demonstrações do ciclo hidrológico, nos mais variados pontos do globo terrestre, pode-se listar: a desuniformidade com que a energia solar atinge os diversos locais, o diferente comportamento térmico nos continentes em relação aos oceanos, a quantidade de vapor de água, CO2 e ozônio na atmosfera, a variabilidade espacial de solos e coberturas vegetais, e a influência da rotação e inclinação do eixo terrestre na circulação atmosférica, sendo esta última a razão da existência das estações do ano. (TUCCI, 2007) Figura 1: Ciclo hidrológico Fonte: Wladimir, 2012. 2.2. Conceito de balanço hídrico A compreensão do balanço hídrico é um dos amparos mais importantes para entender os efeitos antrópicos, ou seja, entender a presença do homem como input do sistema hidrológico sobre o meio natural, acessibilidade hídrica e sustentabilidade ambiental. O balanço hídrico pode ser empreendido para uma camada de solo, para uma extensão de rio ou por uma bacia hidrográfica. O entendimento destes elementos depende
de diversos fatores como: precipitação, evapotranspiração potencial, condições do solo e uso do solo e outros. A bacia hidrográfica é o melhor espaço de avaliação do comportamento hídrico, pois tem definido o espaço de entrada, a bacia e o local de saída a seção de rio que define a bacia hidrográfica (TUCCI, 2007). Em pequena escala, o balanço hídrico se completa na bacia hidrográfica (unidade geomorfológica). Qualquer parte da superfície integra uma bacia hidrográfica. A partir dos menores vales até a grande bacia amazônica, sempre existe uma discreta área de terreno que capta a água da chuva, dissipando água por evaporação, e produzindo o restante como deflúvio ou escoamento superficial. (LIMA, 2008, p.40) Figura 2: O balanço hídrico local no uso e ocupação do solo. Fonte: FISRWG, 2001, apud CARDOSO, 2008. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este trabalho foi conduzido na Bacia Hidrográfica do Rio Canoas, está situada nos
Municípios de Franca-SP, Pedregulho-SP, Cristais Paulista-SP, Ibiraci-MG e Claraval-MG, divisa do Estado de São Paulo e Minas Gerais. No UTM N=7.742.000m e E=258.000 a oeste de Greewinch. Com uma área de aproximadamente 662,95 km2, e perímetro de 135 km desaguando no Rio Grande. O presente trabalho é caracterizado como uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa. A pesquisa exploratória tem como propósito, em geral provocar o esclarecimento de uma situação para a tomada de consciência. (ANJOS, 2006) A metodologia aderida se pautou na pesquisa qualitativa e se aplicou a técnica de comparação entre a vegetação natural do século XVII e o uso e ocupação do solo em 2014 na Bacia Hidrográfica. Em busca de diagnosticar a interferência no uso e ocupação do solo no deflúvio da região, como entrada do sistema e consequentemente avaliar a interferência na dinâmica hidroflorestal no sistema hidrológico, verificando o feedback ou retroalimentação do sistema, bem como sua modificação ao longo do século. 3.1. Método Prof. Kokei Uehara O método utilizado foi uma readaptação do Método de Snyder para as condições nacionais, podendo ser empregada em bacias com áreas de drenagem entre 100 e 600 km². Snyder apresentou um grupo de equações baseadas em observações de rios nas regiões montanhosas de Apalaches. Linsley demonstrou, em 1943, que as equações de Snyder poderiam ser empregadas em outras regiões do Brasil modificando algumas constantes. A área de contribuição, divisor de águas, comprimento do talvegue e o centro de gravidade da bacia hidrográfica foram determinados através de software CAD. Segue abaixo o estudo hidrológico para aferir as vazões máxima, média e mínima da bacia do Rio Canoas comparando o uso e ocupação do solo nos anos 1607 e 2014. Vazão (Qmáx, Qméd ou Q7/10), ou volume escoado por unidade de tempo, é a principal grandeza que caracteriza um escoamento superficial em Hidrologia (rios, canais, bacias hidrográficas, de drenagem, etc), normalmente expressas em m³/seg ou litros/seg. Esta vazão varia ao longo do ano devido as estações de chuva e de seca, e são medidas por dispositivos de vários tipos, chamados medidores de vazão, que devem registrar os seus valores máximos, médios e mínimos em intervalos de tempo como hora, dia, mês e ano. (MATTOS; VILLELA, 1975) 1) Tempo de retardamento da bacia tr= 0,75.Ct. ( L. Lo)^0,3 Onde: tr= tempo de retardamento da bacia em horas L=Comprimento do talvegue em km Lo=Distância da seção de estudo até a projeção do centro de Gravidade da bacia no talvegue em km Ct = Coeficiente numérico que depende da forma da bacia, que varia entre 1,8 e 2,2 com
uma média de 2,0 para as áreas estudadas por Snyder. Para as condições brasileiras, esse coeficiente varia entre 0,8 e 2,0 com uma média de 1,4 para as áreas estudadas pelo prof. Kokei Uehara. Adotaremos neste estudo o coeficiente 1,4. tr= 0,75.(1,4). ( 58,44. 26,38)^0,3 tr= 9,49696415 h ou 569,817849 min 2) Definição da chuva de projeto td= tr/4,0 Onde: td = duração da chuva em horas tr = tempo de retardamento em horas td= = 2,374241038 h ou 142,4544623 min 3) Determinação da altura de precipitação utilizando a "equação de chuvas intensas anos. Foi utilizada a equação de Serrana-SP e considera-se o Período de Retorno de 100 I = 39,8213 (td + 25) -0,8987 +9,1245 (td + 15) -0,8658 [-0,4786 0,9085 ln ln (TR/TR-1)] I = 39,8213 (142,4544623 + 25) -0,8987 + 9,1245 (142,4544623 + 15) -0,8658 [-0,4786 0,9085 ln ln (100/99)] I = 0,822336276 mm/min ou 49,34017656 mm/h 4) Determinação do coeficiente de Distribuição Espacial da Chuva, em Função da área de drenagem e da duração da chuva, sendo A=km² e td=horas. Entrando na abscissa com área da bacia em km² e interpolando o tempo de duração da chuva, achamos o valor de K em fração que varia de 0 a 1,0.
Figura 3: Ábaco para determinação do Coeficiente de distribuição espacial da chuva K em função da área da bacia e do tempo de duração da chuva. O cruzamento dos dados revelou o valor de K = 0,78. 5) Determinação da altura da chuva h1 h1 = ( td ). (I) h1 = (2,374241038 ). (49,34017656) h1 = 117,145472 mm 6) Determinação da chuva uniforme na bacia h1 h= K x h1 h= 0,78 x 117,145472 h = 91,37346816 mm 7) Determinação da declividade equivalente do talvegue (Ieq)
Tabela 1: Dedividade equivalente do Talvegue Tabela Para Cálculo de Declividade Equivalente do Talvegue Cota (m) h (m) L (comprimento do trecho) (km) i (declividade do trecho)(m/m) j^0,5 (m/m) L(trecho)/j^0,5 1030 - - - - - 1020 10 0,1296484 12,96484 3,600672159 0,036006722 1000 20 1,0615200 53,076 7,285327721 0,145706554 980 20 0,6068936 30,34468 5,508600548 0,110172011 960 20 1,7126261 85,631305 9,253718442 0,185074369 940 20 3,2322751 161,613755 12,71273987 0,254254797 920 20 0,8844511 44,222555 6,650004135 0,133000083 900 20 0,9623814 48,11907 6,936791045 0,138735821 880 20 0,2125941 10,629705 3,260322837 0,065206457 860 20 0,7917792 39,58896 6,291975842 0,125839517 840 20 2,2421895 112,109475 10,58817619 0,211763524 820 20 1,5929815 79,649075 8,924633046 0,178492661 800 20 0,8910603 44,553015 6,674804492 0,13349609 780 20 1,0061700 50,3085 7,092848511 0,14185697 760 20 1,9142908 95,71454 9,783380806 0,195667616 740 20 3,2664479 163,322395 12,77976506 0,255595301 720 20 3,5849523 179,247615 13,38833877 0,267766775 700 20 5,4477256 272,38628 16,50412918 0,330082584 680 20 6,4133405 320,667025 17,90717803 0,358143561 660 20 19,5236752 976,18376 31,24393957 0,624878791 640 20 2,1710298 108,55149 10,41880463 0,208376093 622,5 17,5 0,7887275 39,436375 6,279838772 0,125596775 TOTAL 407,5 58,44 4,225713072 Ieq = = Ieq = = 191,237143 mm/km 8) Determinação do tempo de concentração (tc) tc= 57 x (L^2/ Ieq) 0,385 tc= 57 x (58,44^2/ 191,237143) ^0,385 tc = 172,9091034 min ou 2,88 h 9) Determinação do tempo de base (tb) tb= 3tc ou 3,5 tc Adotaremos tb = 3tc tb = (3). (2,88) tb = 8,64 A seguir os cálculos de vazão máxima, serão relativos ao ano de 2014.
Tabela 2: Vazões máximos e mínimos. Fonte: DAEE, 2005. Adotaremos o Coeficiente de Runoff de acordo com tabela do DAEE (2005), que leva em consideração o tipo de uso e ocupação do solo para o ano de 2014 C =0,35. 10) Determinação da chuva excendente (hexd) hexc= C. h hexc= 0,35. 91,37346816 hexc= 31,98071386 mm 11) Determinação do volume de escoamento direto (Vesd) Vesd= A (km2) x100x10000x(hexc/1000) Vesd= 657 x100x10000x(31,98071386 /1000) Vesd= 21011329,01 m³ 12) Determinação da Vazão de Cheia (Q) Q= (2.Vesd)/ (tb x 3600) Q= (2. 21011329,01)/ (8,64 x 3600) Q= 1351,04 m³/s 13) Determinação da vazão máxima de projeto Qmáx= 0,10. Q Qmáx= 0,10. 1351,04 Qmáx= 1486,14 m³/s A seguir os cálculos de vazão máxima serão relativos ao ano de 1607. Adotaremos o Coeficiente de Runoff de acordo com a tabela do DAEE (2005), que leva em consideração o tipo de uso e ocupação do solo para o ano de 1607 C =0,20. 14) Determinação da chuva excendente (hexd) hexc= C. h hexc= 0,20. 91,37346816 hexc= 18,27469363 mm 15) Determinação do volume de escoamento direto (Vesd) Vesd= A (km2) x100x10000x(hexc/1000) Vesd= 657 x100x10000x(18,27469363 /1000)
Vesd= 12006473,71 m³ 16) Determinação da Vazão de Cheia (Q) Q= (2.Vesd)/ (tb x 3600) Q= (2. 12006473,71)/ (8,64 x 3600) Q= 772,02 m³/s 17) Determinação da vazão máxima de projeto Qmáx= 0,10. Q Qmáx= 0,10. 772,02 Qmáx= 849,22 m³/s 18) Determinação da Vazão média de Longo Período para ambas épocas estudadas Os coeficientes de a, b e p (pluviometria) são fornecidos pela tabela de parâmetros regionais constante no manual de vazões do DAEE do ano de 1994. Q esp = a + b p Q méd = Q esp Ad Q esp = -26,23 + 0,0278 1500 Q méd = 15,47 657 Q esp = 15,47 Q méd = 10163,79 l/s ou 10,16 m³/s 19) Determinação da Vazão Mínima, menor média de 10 anos para ambas épocas estudadas ( Q7,10 ) Os coeficientes de C7,m, XT, A e B são fornecidos pela tabela de parâmetros regionais constante no manual de vazões do DAEE do ano de 1994. Q7,10 = C7,m x XT x ( A + B ) x Qmed Q7,10 = 0,8 x 0,689 x ( 0,3559 + 0,0312) x 10163,79 l/s Q7,10 = 2168,64 l/s ou 2,17 m³/s
Mapa e legenda 1. Simulação da vegetação nativa da Bacia Hidrográfica do Rio Canoas em 1607. FONTE: BERTELLI; NETO, 2015.
Mapa e legenda 2: Uso e ocupação da Bacia Hidrográfica do Rio Canoas FONTE: BERTELLI; FADEL, 2015.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação às classes mapeadas, a simulação da vegetação nativa à época das primeiras bandeiras que entraram em contato com os índios Caiapós (1607), evidencia que dentre as vegetações da bacia hidrográfica, o Cerrado (Savana) e a vegetação da floresta estacional semidecidual foram às classes de maiores ocorrências na área, com 25.931,31 ha (39,00%) e 40.363,93 ha (61,00%), respectivamente. Entendendo-se os biomas da mata atlântica e cerrado como predominantes à época em que a interferência humana na região da bacia era irrisória, nota-se a alta degradação sofrida pela vegetação secundária da floresta estacional semidecidual em comparação com a vegetação atual, não tirando a importância também do bioma do cerrado, que por desconhecimento sobre sua importância e falta de uma legislação específica de proteção, pereceu frente às diversas formas de ocupação humana e uso do solo. Nota-se que a degradação da bacia do Rio Canoas é um processo histórico visto as alterações nas matas ciliares em grande parte substituídas por atividades agrícolas, preferencialmente as culturas de café, pastagens, conhecidas como atividades tradicionais na região e consideradas como um dos maiores polos produtores de café do Brasil. Nos municípios de Pedregulho-SP e Ibiraci-MG, observa-se a pouca existência de matas ciliares, as quais deveriam auxiliar e proteger o equilíbrio dinâmico dessa bacia hidrográfica. Esse aspecto mostra o conflito entre o uso e ocupação do solo e a preservação ambiental, pois as margens dos rios são consideradas como Áreas de Preservação Permanente (APP s) em decorrência da ocupação do solo e alterações das vegetações nativas. O impacto causado pelo pela malha urbana, maiormente sobre a bacia hidrográfica nos municípios de Franca-SP e Cristais Paulista-SP, na qual o intenso crescimento da população humana e o seu adensamento em núcleos urbanos desde o final do século XIX, elevou crescimento das cidades e consequentemente os impactos ambientais, constituído, entre outros, por processos não ecológicos de ocupação territorial e urbanização. Diante das análises, observa-se que a bacia hidrográfica do Rio Canoas, enquanto sistema analisado exibe um elevado grau de alteração, devido à dinâmica socioeconômica da região, marcada pelas atividades agropastoris e de silvicultura ao decorrer do tempo, atuando como entradas. Presentemente o desmatamento ocorre para o plantio de novas culturas de café, e principalmente, a inserção de grandes cultivos de cana-de-açúcar e eucalipto. Em decorrência, como saídas do sistema ocorre o aumento de problemas ambientais, tais como a ocorrência de processos erosivos laminares e acelerados, assoreamento dos corpos d água, desequilíbrios nos ecossistemas fluviais e nas matas ciliares, entre outros, gerando feedbacks para o sistema, ampliando os impactos negativos no ambiente. As modificações nas margens também são provocadas pela adição de novos aglomerados urbanos e o crescimento de áreas já estabelecidas (entradas do sistema), propiciando a poluição hídrica (saída) devido à falta de saneamento ambiental. Com base nos dados históricos e no levantamento realizado sobre a interferência no sistema hidrológico da bacia hidrográfica do Rio Canoas com a ação antrópica, pode-se concluir: De modo geral, a alteração no sistema hidrológico da bacia hidrográfica do Rio Canoas deve-se uso e ocupação do solo caracterizado por 8.267,32 ha de café (12,471%), 4.711,64 ha de cana (7,107%), 343,29 ha de eucalipto (0,518), 28,53 ha de laranja (0,043%), 17,32 ha de milho (0,026%), 28.802,56 ha de pastagem (43,446%), 17.688,67 ha
de vegetação nativa (26,682%), 3.479,61 ha de estradas (5,249%) e 2.956,06 ha de área urbanizada. Esse montante resulta na área total da bacia de 66.295,00 ha de uso e ocupação do solo onde ocorre esse cenário socioeconômico da bacia hidrográfica. Os resultados dos estudos hidrológicos no período do século XVII, onde não tinha atividade antrópica degradante, demonstrou as razões, respectivamente, de Qmáx=849,22 m³/s, Qméd=10,16 m³/s e Q7/10=2,17 m³/s. No ano de 2014 com as interferências de uso e ocupação através da urbanização, agricultura e pecuária, o estudo apresentou respectivamente os valores, Qmáx=1486,14 m³/s, Qméd=10,16 m³/s e Q7/10=2,17m³/s. Portanto, detectamos as vazões médias e mínimas se mantiveram nos cálculos hasteados no método do professor Kokei Uehara. Entretanto, a mesma concordância em relação a vazão máxima não ocorreu, dado que o deflúvio (escoamento superficial), foi maior em função da impermeabilização de solo e a retirada da cobertura vegetal natural, propiciando a uma vazão máxima com diferença de 636,92 m³/seg. Embora as vazões mínimas e médias sejam iguais nos mesmos períodos estudados, há uma deficiência de infiltração de água no solo em função da impermeabilização pela ação antrópica, contribuindo ao excesso de deflúvio, sendo assim, nos períodos de estiagem ocorre o rebaixamento do lençol freático reduzindo significativamente as vazões das nascentes. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estabelecimento de parcerias entre as Prefeituras Municipais, as universidades públicas e particulares, e as empresas privadas e estatais, sindicatos de classe rural com sede nos cinco municípios da bacia hidrográfica do Rio Canoas, devem suscitar ações visando recuperar, conservar e proteger os corpos d água, matas ciliares e preservar suas nascentes dentro do principio do desenvolvimento sustentável, preconizado nas políticas públicas de uso múltiplos dos recursos hídricos. Atuarão como entradas positivas nesse sistema, buscando saídas positivas. Assim, esta parceria deve ser um plano operacional que relacione a participação de cada ator envolvido de forma a assegurar os recursos financeiros e humanos necessários às ações ambientais planejadas (LIMAb, 2003, p.89). O fórum destes atores é o comitê de bacia hidrográfica federal do Rio Grande e o comitê de bacia hidrográfica Sapucaí Mirim/Grande. As áreas naturais da Bacia Hidrográfica do Rio Canoas do século XVII, formadas por cerrado e florestas estacionais semi-deciduais favoreciam o aumento da vazão mínima no período de estiagem das nascentes, como também reduziam a vazão máxima no período chuvoso mantendo o sistema hidroflorestal em uma dinâmica harmônica. As áreas antropizadas da Bacia Hidrográfica do Rio Canoas no ano de 2015, ocupadas pela urbanização, agricultura, pecuária e um pequeno remanescente de cobertura vegetal natural não possibilita a infiltração das águas pluviais favorecendo assim, um maior escoamento superficial e consequentemente reduzindo a vazão das nascentes de maneira significativa no período de estiagem. No período chuvoso o escoamento das águas pluviais são mais intensas em função do uso e ocupação do solo de maneira degradadora, possibilitando assim, uma vazão máxima bem superior ao período do século XVII, demonstrando através das enchentes e
erosões em grandes proporções devido a intervenção do homem no sistema hidrológico da bacia hidrográfica do Rio Canoas. REFERÊNCIAS ANJOS, Gilney Christierny Barros dos. Pesquisa qualitativa em estudos sobre Terceiro Setor: uma análisenos artigos apresentados no Semead. IV SEGeT Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. São Paulo, 2006. ARAUJO, Gustavo Henrique de Sousa. Gestão ambiental de áreas degradadas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. BERTELLI, Célio; FADEL, Barbara. Vegetação da bacia hidrográfica do Rio Canoas: mapa de caracterização do uso e ocupação da bacia hidrográfica do Rio Canoas. Franca: Uni-FACEF, 2015. Color. Escala: 1:50.000. BERTELLI, Célio; NETO, Silvio Carvalho. Vegetação da bacia hidrográfica do Rio Canoas: mapa de caracterização de vegetação nativa. Franca: Uni-FACEF, 2015. Color. Escala: 1:50.000. CARDOSO, A.S., 2008, Desenvolvimento de Metodologia para Avaliação de Alternativas de Intervenção em Cursos de Água em Áreas Urbanas. 183 f. Dissertação de M.Sc. - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. Disponível em: <http://cadastrocthidro.ana.gov.br/arquivos/dissertao.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2010. DAEE. Guia prático para projetos de pequenas obras hidráulicas. São Paulo, DAEE, 2005. FERREIRA, Wladimir Jansen. Ciclo hidrológico, chuva e nuvem. Blogspot, 2012. GONÇALVES, C. S.; RHEINHEIMEr, D. dos S.; PELLEGRINI, J. B. R.; KIRST, S. L. Qualidade da água numa microbacia hidrográfica de cabeceira situada em região produtora de fumo. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.9, n.3, p.391-399, 2005. LIMA, Walter de Paula. Hidrologia florestal aplicada ao manejo de bacias hidrográficas. Editora: USP. Piracicaba-SP, 2008. LIMAb, Roberto Teixeira de. Percepção ambiental e participação pública na gestão dos recursos hídricos: perfil dos moradores da cidade de São Carlos, SP (Bacia hidrográfica do rio Monjolinho). São Carlos, 2003. SILVA, D. D.; Pruski, F. F.; SCHAEFER, C. E. G. R.; AMORIM, R. S. S.; PAIVA, K. W. N. Efeito da cobertura nas perdas de solo em um Argissolo Vermelho-Amarelo utilizando simulador de chuva. Engenharia Agrícola, v.25, n.2, p.409-419, 2005. MATTOS, Arthur; VILLELA, Swami. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1975.
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