Estudo do efeito borda em fragmentos da vegetação nativa na bacia hidrográfica do Córrego do Jacu Queimado (SP) Effect of study border fragments of native vegetation in the basin of Córrego do Jacu Queimado (SP) Leticia Tondato Arantes 1 Bruno Henrique Tondato Arantes 2 João Paulo Nazarethe Avila de Araujo 3 Resumo Com as perturbações antrópicas que ocorrem nos ecossistemas, tem-se aumentado cada vez mais as fragmentações dos ecossistemas naturais, gerando problemas com a fauna e a flora da região, por meio do efeito borda. Contudo, foi realizada uma classificada da área de estudo e posteriormente alguns cálculos com a cobertura vegetal nativa classificada, utilizando a ferramenta Patch Analyst/Spatial Statistics, para analisar se determinado fragmento vegetal sofre ou não o efeito borda. Palavra chave: antrópico, fragmentos, efeito borda. 1 Introdução Atualmente um dos maiores desafios do século é a conservação da biodiversidade, em função do elevado nível de perturbações antrópicas dos ecossistemas naturais que vem ocorrendo com uma maior freqüência. Uma das principais conseqüências dessa exploração é a fragmentação de ecossistemas naturais, definidas como áreas de vegetações naturais interrompidas por barreiras antrópicas ou naturais, sendo capazes de diminuir, expressivamente, os parâmetros demográficos de diferentes espécies e, portanto, a estrutura e dinâmica de ecossistemas. Quaisquer que seja a forma ou o tamanho do fragmento, o mesmo sobre algum tipo de efeito borda, sendo ele maior quanto menor e mais alongados forem os fragmentos de vegetação nativa. O efeito borda é definido como sendo mudanças abióticas (maior exposição a ventos, altas 1 Graduanda em Engenharia de Agrimensura e Cartográfica Universidade Federal de Uberlândia UFU. E- mail:letondato@gmail.com 2 Graduando em Engenharia de Agrimensura e Cartográfica Universidade Federal de Uberlândia UFU. E-mail: bhtondato@gmail.com 3 Graduando em Engenharia de Agrimensura e Cartográfica Universidade Federal de Uberlândia UFU. E-mail: joao_pauloavila@hotmail.com
temperaturas e baixa umidade), que de certa forma contribuem para a extinção ou mesmo a diminuição do número de espécies em locais que sofrem com este problema. Os estudos das conseqüências da fragmentação florestal sobre a conservação da biodiversidade têm aumentando significativamente nos últimos anos, em que a maior parte da biodiversidade se encontra atualmente localizada em pequenos fragmentos. Diante da necessidade desses estudos as ferramentas de Sistema de Informação Geográfica e os dados de Sensoriamento Remoto vêm se tornando cada vez mais fundamentais, proporcionando uma maior facilidade a elaboração de mapas temáticos, possuindo um papel relevante para a análise do meio ambiente. Sendo assim é estritamente importante que os resultados obtidos sejam empregados de tal forma que possa fundamentar e colocar em evidencia a necessidade de preservação dos fragmentos de florestas que não estão protegidos por nenhum tipo de unidade de conservação, assim contribuindo com o planejamento ambiental, proporcionando novas informações que possam contribuir com os estudos, ajudando assim, assegurar de forma efetiva a biodiversidade de uma determinada região. Devido a tal importância do desenvolvimento de estudos para a determinação dos fragmentos presentes em uma determinada área, foi selecionada a Bacia do Córrego Jacu Queimado, a partir da qual foram realizados alguns cálculos, sendo por meio deste a verificação da possível situação da fauna e da flora da região com relação ao efeito borda dos fragmentos de mata nativa. 1.1 Localização A área de estudo está inserida na porção noroeste do Estado de São Paulo, abrangendo parte dos municípios de Rubinéia, Santa Fé do Sul e Três Fronteiras, conforme Figura 1. É composto pela bacia do córrego Jacu Queimado, com área de aproximada de 4997, 57385 hectares.
Figura 1- Localização da área de estudo Fonte: Dados da pesquisa 2.Metodologia Primeiramente, neste presente trabalho, foi realizada a escolha da bacia hidrográfica na qual seria realizado um estudo dos fragmentos de vegetação nativa que nela poderia ser encontrada. A bacia foi denominada bacia hidrográfica do córrego Jacu Queimado, localizada nos municípios de Rubinéia, Santa Fé do Sul e Três Fronteiras, Estado de São Paulo. Como o objetivo do trabalho era o estudo das possíveis classificações da vegetação nativa encontrada dentro da bacia do Córrego Jacu Queimada, foi utilizada a imagem do Satélite Landsat oito para se realizar a classificação. No processo de classificação, a última foi realizada no ArcMap, de maneira que todos os elementos fossem classificados, sendo selecionado posteriormente somente os fragmentos de vegetação nativa encontrado. Para a classificação dos restos de cobertura vegetal no ArcMap foi utilizada a ferramenta conhecida como Image Classification. Após a classificação, foram realizados alguns cálculos com a cobertura vegetal nativa mapeada, utilizando a ferramenta Patch Analyst/Spatial Statistics.
Deve-se salientar que os principais cálculos e aqueles que serão mostrados nos resultados, são: Índice de área (CA - Área de todas as manchas da classe), Índices de densidade e tamanho (MPS - Tamanho médio da mancha, NUMP - Número de manchas, PSSD - Desvio padrão do tamanho da mancha, PSCoV - Coeficiente de variação do tamanho da mancha), Índice de borda (TE- Total de bordas, ED - Densidade de borda), Índice de forma (MSI - Índice de forma médio, AWMSI - Índice de forma de área média ponderada, MPFD - Dimensão fractal da mancha média). Porém antes da realização dos cálculos, cada fragmento de mata nativa foi classificado segundo o seu tamanho, denominados de muito pequeno (MP), pequeno (P), médio (M), grande (G). Muito pequeno para áreas menores que cinco ha, pequeno para áreas entre cinco e dez ha, médio para áreas entre dez e cem ha e grande para áreas maiores que cem ha. 3. Resultados Percebe-se que na bacia do córrego Jacu Queimado, apresenta somente alguns fragmentos de cobertura vegetal nativa, sendo a maior parte deles localizados no município de Santa Fé do Sul, conforme Figura 2. Um dos motivos da área de trabalho apresentar uma pequena parcela de mata nativa é devido à maior parte da área urbana de Santa Fé do Sul e parte Três Fronteiras estar localizada dentro da bacia. Os maiores fragmentos e a maior parte deles estão localizados mais próximos ao rio Paraná, rio que dá origem ao córrego Jacu Queimada.
Figura 2 Mapa dos fragmentos florestais da bacia do córrego Jacu Queimado Fonte:Dados de pesquisa Em seguida foi realizado um conjunto de cálculos, sendo cada um deles especificados na metodologia. Percebe-se que os cálculos foram realizados de acordo com o tamanho de cada fragmento, ou seja, foi feito um agrupamento dos fragmentos de acordo com seu tamanho e criado quatro classes (MP, P, M, G), de maneira que os cálculos foram realizados para cada uma destas classes. Abaixo temos a tabela com os cálculos. Tabela 1 - Cálculo dos índices descritivos CLASS AWMSI MSI NumP MPFD MPS TE ED MP 1, 3218 1, 2924 10 1, 2979 2, 593 7401, 0721 21, 3433 M 1, 5928 1, 6568 8 1, 2907 17, 831 19071, 3172 54, 9982 P 1, 3822 1, 3581 8 1, 2818 6, 482 9857, 0719 28, 4260 G 1, 5089 1, 5089 1 1, 2387 126, 318 6011, 9978 17, 3375 Fonte:Dados de pesquisa
Tabela 2 - Cálculo dos índices descritivos Fonte:Dados de pesquisa Através da tabela é possível notar que o número de fragmentos de mata nativa na bacia do córrego Jacu Queimado, aumenta quanto menor for o tamanho destes fragmentos, existindo apena um com mais de cem hectares. Portanto pode-se afirmar que, devido à maior existência de fragmentos menores, há um maior número de espécies sujeito a risco de extinção, uma vez que o último é menor quanto maior for à área de preservação da mata nativa. Através do índice de borda, que são os totais de borda (TE) e densidade da borda (ED), pode-se afirma que os fragmentos médios (MP) são aqueles que possuem os maiores números dentro do índice de borda, influenciando negativamente na preservação do meio ambiente e da fauna, uma vez que o efeito borda é maior (fatores que também influência na taxa de morte dos animais). Todavia os índices de borda são menores quanto maior forem os fragmentos de mata nativa, preservando assim a fauna e a flora (Tabela 1 e Tabela 2). Os índices de forma, bem como os índices de densidade e tamanho, também influenciam no efeito borda do local de análise. Com relação à forma, uma área circular tem menos efeito borda do que áreas em outros formatos. Alguns insetos, aves e mamíferos, por exemplo, evitam as bordas, uma vez que se tem um aumento maior na taxa de morte das árvores nestes locais (nas bordas) aumentando de forma indireta a temperatura, a claridade, o vento, além de alterar a umidade do local. Na tabela, com relação aos índices de forma, mostra que tanto os fragmentos menores, quanto os maiores e os médios, tem-se valores próximos, já que todos possuem formas um pouco tanto diferentes da forma arredondada. CLASS PSCOV PSSD CA MP 24, 874 0, 645 25, 932 M 41, 398 7, 381 142, 651 P 16, 567 1, 073 51, 859 G 0 0 126, 318 Os índices de densidade e tamanho na tabela indicam que há uma maior variação de tamanho entre as manchas médias em relação às outras, uma vez que o desvio padrão é maior, porém
elas proporcionam uma sobrevivência mais fácil aos seres vivos do que os fragmentos pequenos e muito pequenos. Além disso, algo que através da tabela que não se pode notar, mas quando os dados estão geo-espacializados é possível perceber, é que os fragmentos de certa forma não estão tão distantes uns dos outros, sendo este um fator importante, já que estando as matas nativas mais próximas uma das outras, diminui um pouco o impacto do efeito borda, uma vez que os seres vivos podem migrar de um fragmento para o outro. 4. Conclusão Por meio dos resultados dos cálculos realizados e com a ajuda das referências bibliográficas consultadas, percebe-se que a bacia do córrego Jacu Queimando sofre uma grande influência do efeito borda em seus fragmentos de mata nativa, uma vez que apresenta grandes quantidades de fragmentos alongados (menor é o efeito borda, quanto mais arredondado for o fragmento). Com isto, através dos cálculos aqui realizados é possível de forma aproximada estimar as chances de vidas das espécies de animais nestas regiões (taxa de extinção), para que de certa forma providencias possam ser tomadas a favor da preservação da fauna e da flora. Além disso, é possível afirmar através das imagens de satélites estudadas na região de análise (Bacia do Córrego Jacu Queimado), e juntamente com a classificação da vegetação nativa remanescente realizada, que a área urbana é o principal fator que influenciou na quantidade de mata nativa dentro da bacia do córrego Jacu Queimado, uma vez que os locais localizados dentro e bem próximos as estes centros urbano não possuem nenhum fragmento de mata nativa, estando estes localizados em grande quantidade longe das áreas urbanas. Referências GUIRÃO, A, G.; FILHO, J, T. Preservação de um Fragmento Florestal Urbano Estudo de Caso: A Arie Mata de Santa Genebra, Campinas-SP. São Paulo: Geousp, v. 29, 2011. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/geousp/article/viewfile/74193/77836>. Acesso em: 26 jun. 2015. SANTOS, A, R.; LOUZADA, F, L, R, O.; EUGENIO, F, C. ArcGIS 9.3: Aplicações para dados espaciais. Alegre-ES. CAUFES, 2010.
SOUZA, J, R.; REIS, L, N, G.; PEDROSA, A, S. Caracterização e susceptibilidade ecológica dos fragmentos nas bacias do Ribeirão Douradinho e Ribeirão Estiva Minas Gerais. Caminhos de Geografia, Uberlândia-MG, v. 15, n.51, p. 85-94. 2014. VIANA, V. M.; PINHEIRO, L. A. F. V.; Conservação da biodiversidade em fragmentos florestais. Série Técnica - Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, v. 12, p. 25, 1998.