RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NA REDE DE DRENAGEM DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO MEIO, FLORIANÓPOLIS/SC



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Transcrição:

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NA REDE DE DRENAGEM DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO MEIO, FLORIANÓPOLIS/SC Taiana Gava 1 & Alexandra Rodrigues Finotti 2 * Resumo A rede de drenagem urbana está entre as principais responsáveis pela veiculação de cargas poluidoras, a identificação destas fontes de contaminação torna-se importante para avaliar corretamente seu potencial poluidor. Nesse sentido, esta pesquisa objetivou avaliar as principais características que influenciam no surgimento dos resíduos sólidos na rede de drenagem da Bacia do Rio do Meio, Florianópolis/SC. Estimou-se que aproximadamente 0,27kg/ha de resíduos são veiculados na rede por ano, sendo a maioria composta por plásticos e materiais de construção. A quantidade de microlixo encontrados e a periculosidade de alguns resíduos também chamaram a atenção. Com a análise dos dados e visitas a campo contatou-se que os resíduos veiculados na rede são devido a focos de mau acondicionamento localizados na Universidade Federal de Santa Catarina e também pela falta de varrição em alguns pontos da bacia. Verificou-se ainda que o total de precipitação é diretamente proporcional ao surgimento dos resíduos sólidos e que as características da bacia hidrográfica não influenciam, como esperado. Com a descoberta destes fatores concluiu-se que a falta de uma gestão integrada entre os componentes do saneamento deixam passar despercebido medidas estruturais simples que diminuiriam a quantidade de resíduos sólidos drenados, em especial na Bacia do Rio do Meio. Palavras-Chave drenagem urbana, resíduos sólidos, gestão integrada. SOLID WASTE IN DRAINAGE NETWORK OF RIO DO MEIO WATERSHED, FLORIANÓPOLIS/SC Abstract The urban drainage network is among the main pollution transport load factors. Researches have been considered the importance to identify the source of contamination to correctly evaluate the potential of its pollution. In this paper, we analyze the main characteristics that influence the presence of solid wastes in the drainage network of the Rio do Meio basin, Florianópolis/SC, Brazil. The results showed that about 0.27 kg/ha-year of waste, whose highest amount consists of plastics and building materials, are carried in the drainage network. It was possible to verify that the presence of waste in the drainage network is due to the bad packaging waste in region of Federal University of Santa Catarina and due to the lack of cleaning in some regions of the basin. It was also found that the total precipitation is directly proportional to the appearance of solid waste. It was concluded that the lack of an integrated system between the sanitary processes present simple structural measures that could decrease the amount of solid waste in the drainage basin and eliminate the source of pollution, especially in the Rio do Meio basin. Keywords urban drainage, solid waste, integrated system. INTODUÇÃO A rede de drenagem urbana está entre as principais responsáveis pela veiculação de cargas poluidoras, constituindo-se em um importante fator de degradação dos corpos hídricos (Tucci, 2002). Esta poluição é considerada difusa, uma vez que provém de diferentes atividades que depositam poluentes de forma distribuída sobre a área de contribuição da bacia hidrográfica. Os resíduos sólidos urbanos (RSU), conforme Tucci et al. (1995) são os principais responsáveis pela 1 Universidade Federal de Santa Catarina; taianagava@gmail.com 2 Universidade Federal de Santa Catarina; finotti@ens.com.br *Alexandra Rodrigues Finotti. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

produção de material sólido em uma bacia hidrográfica urbana de ocupação consolidada. Dentre os principais efeitos dos resíduos sólidos sobre o sistema de drenagem pode-se citar: obstrução dos canais, aumento da frequência de inundações e contaminação das águas. A identificação de fontes geradoras de poluição e estudos referentes à quantificação e classificação dos resíduos transportados na rede de drenagem torna-se importante para a avaliação correta do seu potencial poluidor, dos impactos gerados e também para fomentar o gerenciamento integrado dos recursos hídricos no meio urbano (Brites, 2005). Neste sentido, este trabalho teve como objetivo analisar as principais característicasv de uma bacia hidrográfica que influenciam no surgimento dos RSU na rede de drenagem. Foi avaliada a Bacia do Rio do Meio em Florianópolis/SC, através de sua caracterização física e monitoramento dos resíduos veiculados no curso d água. MATERIAIS E MÉTODOS A bacia de estudo, localizada entre as coordenadas 27 36 0.64 S e 48 30 33.38 O e 27 37 39.60 S e 48 31 39.38 O, esta inserida na Bacia do Rio do Meio. Possui aproximadamente 2,44km² e 68% da área urbanizada com característica de usos comercial, de serviço público e residencial. Seu principal curso d água possui 3,59 km de extensão e se divide em dois intervalos distintos: um trecho superior íngreme (0,154 m/m) com aproximadamente 2,85km de extensão, constituído por trechos naturais, e trechos modificados na porção mais próxima da parte urbanizada. Já o seu trecho inferior, dentro da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é caracterizado por uma baixa declividade (0,013 m/m); o canal passa a ter uma seção retangular, revestida de alvenaria em pedra. A seção de monitoramento dos resíduos sólidos drenados (RSDre) foi instalada na parte retificada do Rio do Meio. Sua estrutura foi composta de tela de aço de 3 mm de espessura e abertura de 2,0 x 10 cm (base x altura), fixada nas laterais e no fundo do canal (Figura 1). A tela foi posta até uma altura de 1,25 m, deixando o restante, 0,50 m, como extravasor, para ocorrência de possíveis cheias. Entre o fundo do canal e a tela de aço foi instalada uma tela maleável, com menor abertura, visando melhorar a eficiência de retenção. Figura 1 Estrutura de monitoramento dos resíduos sólidos drenados. Fonte: Adaptado Gava (2012) A coleta dos RSDre foi realizada após cada evento de precipitação, entre os dias 18 de janeiro a 07 de fevereiro de 2012. Os resíduos retidos na tela foram transportados até o Laboratório de Pesquisa em Resíduos Sólidos da UFSC e posteriormente classificados, pesados e contados após estarem secos. A secagem foi realizada em estufa plástica a temperaturas de até 55 C. A caracterização adotada para os RSDre foi uma adaptação da proposta de Armitage e Rooseboom (2000) e Brites,(2005), apresentando as categorias constantes da Tabela 1. A matéria orgânica não foi contabilizada, por fazer parte da drenagem natural dos cursos de água. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

Segundo Silva (2010), a produção de RSDre deve possuir uma causa preponderante ou um conjunto de causas, seguindo esta premissa foi analisado um conjunto de possíveis causas para o surgimento dos RSDre com a finalidade de verificar quais delas tiveram maior influência no seu surgimento. Os elementos analisados estão sintetizados na Tabela 2. Tabela 1. Categorias utilizadas na caracterização dos resíduos sólidos drenados Categoria Materiais Plástico Sacolas, embalagens, recipientes, garrafas, papel de salgadinho, etc Papel Embalagens, jornais, folhetos, embalagens de comida e bebida, papelão, embalagens Tetra Pak, etc. Metal Latas, garrafas, tampas de metal, etc. Vidro Garrafas, pedaços quebrados, lâmpadas, etc Materiais de construção Janelas, tábuas, escoras, tijolos quebrados, pregos, etc. Outros Roupas velhas, sapatos, panos, tocos de cigarros, isopor Fonte: Os autores, a partir de Armitage e Rooseboom (2000) Tabela 2. Fatores pesquisados que podem interferir na presença de RSDre Fatores Elementos de análise Método de obtenção dos dados Características Área Geoprocessamento da bacia Uso e ocupação do solo Geoprocessamento Gerenciamento Acondicionamento dos resíduos sólidos COMCAP*, UFSC, observação direta dos resíduos Frequência de varrição COMCAP, UFSC sólidos Limpeza de bocas de lobo e canais COMCAP, UFSC Precipitação Intensidade de precipitação LEPTEN** Número de dias secos antecedentes LEPTEN * Companhia Melhoramentos da Capital ** Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia da UFSC RESULTADOS Foram contabilizados 5 eventos de precipitação, os quais corresponderam a 5 amostras de RSDre, totalizando 3,68 kg de RS e 200 itens. Os valores obtidos no monitoramento são apresentados no gráfico da Figura 2. A partir destes dados chegou-se a composição gravimétrica dos RSDre acumulados e a porcentagem do número de itens apresentados na Figura 3. Figura 2 Caracterização dos RSDre por evento de precipitação. Fonte: Gava (2012) XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

Figura 3 Composição gravimétrica e porcentagem de itens dos RSDre na totalidade dos eventos. Fonte: Gava (2012) A categoria materiais de construção representa 43% do total retido pela tela, os quais eram compostos na grande maioria de madeira processada. Silva (2010) encontrou cerca de 18,7% de madeira processada, ficando atrás apenas da categoria plástico, com 43,6%. O que contribuiu para que essa categoria aparecesse em primeiro lugar, contrariando outros trabalhos, foram as barras de aço retidas no segundo evento, as quais tinham elevada massa. Confrontando a composição gravimétrica com o número de itens encontrados, tem-se que a categoria materiais de construção aparece com 8%, menor que as categorias outros e plástico, com 45% e 38% respectivamente. O plástico apareceu como terceira categoria mais encontrada na drenagem. Os plásticos ocorreram de forma bastante variada como garrafas de plástico rígido, sacolas, papéis de bala, dentre outros, não se destacando nenhum tipo específico. Na maior parte dos estudos os plásticos representam a principal categoria dos RSDre. No trabalho de Brites (2005) foram encontrados 52,8% de plásticos na a Bacia Cancela e 75,2% na Bacia Alto da Colina. Devido ao número elevado de pontas de cigarros retidos na tela, a categoria outros apareceu em primeiro lugar no número de itens. Estas ficavam retidas na tela devido à barreira que as folhas criavam ao ficarem presas também. Foram contabilizadas mais de 50 pontas de cigarro, além de pedaços de panos e isopor, porém estes em quantidades e frequência não expressivas. Levando em consideração a abertura da tela, e que ainda assim ficou retido um número significativo de pontas de cigarro, pode-se inferir que há uma quantidade muito grande deste material veiculado na rede de drenagem, chamando a atenção para a questão do microlixo. A categoria vidro representou 10% na composição gravimétrica, destaca-se a lâmpada fluorescente retida na tela no primeiro evento. Lâmpadas fluorescentes são classificadas como resíduos Classe I, Perigosos (ABNT, 2004) devendo ser gerenciadas como lixo tóxico. A categoria papel compôs 2% do material quantificado, não sendo sua representação significativa, provavelmente por se decompor em contato com a água. A categoria metal também não apresentou valores significativos, sendo representado principalmente pelas latas de bebidas. No quarto evento foi retida uma lata spray de tinta acrílica para superfícies metálicas, que contem em sua composição elementos classificados também como resíduo perigoso. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Análise entre as características da bacia e o surgimento dos RSDre O uso e ocupação do solo constituem um importante fator a relacionar com as variações na quantidade de RSDre, devido às interferências proporcionadas pela urbanização. Na Tabela 3 foram compilados alguns resultados de trabalhos realizados anteriormente e colocados em ordem XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4

decrescente de urbanização. Pode-se perceber que a quantidade de resíduos decresce juntamente com o decréscimo da urbanização, ou seja, tendem a ser diretamente proporcionais. Tabela 3 Relação entre uso e ocupação do solo e a quantidade de RSDre. Descrição do Massa Fonte uso e ocupação [kg/ha.ano] Silva (2010) 100% Urbana 12,3 Bacia Esperança, Santa Maria/RS Neves e Tucci (2008a) 100% Urbana 6 Melbourne, Austrália Neves (2006) 100% Urbana 2,25 Sub-bacia CB12, Porto Alegre/RS 68% Urbana 0,27 Bacia de Estudo Brites e Gastaldini (2007) 56 % Urbana 1,47 Bacia Cancela, Santa Maria/RS Brites e Gastaldini (2007) 22% Urbana 0,91 Bacia Alto da Colina, Santa Maria/RS O resultado desta pesquisa não se enquadrou com a tendência descrita acima, demonstrando não ser este o fator preponderante sobre o surgimento dos RSDre nesta bacia. Este resultado pode ser reflexo do curto período de monitoramento realizado na Bacia do Rio do Meio, comparado com o das outras pesquisas, as quais superam 4 meses. Análise entre os elementos de gestão dos resíduos sólidos e o surgimento dos RSDre A gestão dos resíduos sólidos dentro da bacia divide-se entre dois órgãos: Prefeitura Universitária, responsável pela área da universidade; e COMCAP, responsável pelo restante da bacia. A Figura 4 ilustra esta subdivisão. Local Figura 4 Localização das áreas sobre responsabilidade da Prefeitura Universitária da UFSC e COMCAP. Fonte: Gava (2012) Limpeza de bocas de lobo e canais - A limpeza dos canais dentro da UFSC é realizada duas ou três vezes ao ano. Segundo a Prefeitura Universitária, a última limpeza foi realizada na metade do ano de 2011. No restante da bacia não são realizadas limpezas, provavelmente devido às características naturais do leito e também sua declividade, que não é propensa ao depósito de sedimentos. A limpeza de bocas de lobo é realizada pela Secretaria de Obras da Prefeitura de Florianópolis, a qual informou que não houve limpeza na área de estudo, ou seja, não houve remoção de materiais na rede de drenagem, não influenciando, portanto no surgimento dos RSDre. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

Varrição - O campus da UFSC é varrido diariamente e os resíduos são acondicionados e dispostos em locais pré-estabelecidos, para posterior coleta. A varrição é realizada por uma equipe terceirizada coordenada pela Prefeitura Universitária. No restante da bacia, segundo a COMCAP, o serviço de varrição atende somente as ruas de maior circulação de pessoas, no caso a Rua Deputado Edu Vieira e a Avenida Cesar Ceara (Figura 4), uma ou duas vezes na semana. Unindo as informações sobre a varrição tem-se que apenas 16,8% da bacia é contemplada com este tipo de serviço, sendo a extensão varrida pela COMCAP pouco significativa, se comparado com a prestação de serviço realizada pela UFSC, porém não menos importante. Segundo Neves (2006), nas áreas comerciais, onde há um grande número de pessoas, a probabilidade de se encontrar resíduos nas sarjetas é maior, sendo essencial o serviço de varrição. Na saída a campo foi constatado que dentro do Campus Universitário havia uma pequena quantidade de resíduos pelas ruas e nas margens do rio, em sua maioria sacolas e copos plásticos, demonstrando que apesar da área ser varrida diariamente, esta não cobre a totalidade da superfície. Acondicionamento e coleta dos resíduos sólidos - Dentro do campus a coleta é realizada de maneira conjunta entre a COMCAP e a Prefeitura da UFSC. Existem pontos dentro da universidade que são próprios para o armazenamento dos resíduos gerados. Uma equipe de limpeza da Prefeitura Universitária passa diariamente por estes pontos coletando a maioria dos resíduos e os leva até um container localizado atualmente no estacionamento do Centro de Ciências da Saúde. A coleta realizada diariamente pela COMCAP recolhe, no período da noite, o restante dos resíduos deixados pela equipe da Prefeitura e aqueles contidos no container. Observou-se, na saída a campo, que existem dois pontos de armazenamento inadequados de resíduos nas margens do Rio do Meio, dentro da universidade. Em um deles nota-se uma grande quantidade de resíduos espalhados pelo chão, sem nenhuma forma de acondicionamento, propensos a serem carreados com a chuva ou mesmo levados com o vento até o canal. Outro ponto de armazenamento de resíduos, localizado a montante da tela de monitoramento, continha lâmpadas fluorescentes, algumas quebradas, jogadas no chão e outras dentro do leito do rio. Lembrando que no primeiro evento ficou retida uma lâmpada fluorescente. Não foram encontrados focos de depósito de resíduos da construção civil ao longo da bacia. No restante da bacia, onde a coleta domiciliar é feita diretamente nas casas, não foram encontrados locais de armazenamento ou depósito inadequado de resíduos sólidos. A coleta nesta área é atendida por dois roteiros diferentes, um atende as ruas três vezes por semana no período vespertino e o outro, diariamente no período da noite. Ressalva-se que a regularidade da coleta é um fator que contribui para evitar pontos irregulares, pois a população quando habituada com a coleta e não joga os resíduos em qualquer local. Há uma tendência então, de que os resíduos que foram retidos na estrutura de monitoramento sejam originados no Campus Universitário, e grande parte pelo acondicionamento inadequado destes, porém é difícil saber a sua magnitude de contribuição, cabendo apenas afirmar que este elemento contribui para o surgimento dos RSDre. Análise entre a precipitação e o surgimento dos resíduos sólidos drenados O gráfico da Figura 5 apresenta a correlação realizada entre a quantidade de resíduos sólidos retidos na estrutura de monitoramento e a precipitação total para cada evento. A quantidade total de RSDre apresentou tendência crescente com o aumento da precipitação, porém, como afirma Brites (2005), para uma melhor análise seriam necessários mais eventos com características semelhantes, possibilitando uma correlação múltipla entre os parâmetros, pois o transporte de resíduos sólidos pela drenagem está relacionado a mais de um parâmetro, como intensidade máxima de precipitação, volume escoado e disponibilidade de resíduos sobre a superfície da bacia. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6

Figura 5 Gráfico da correlação entre resíduos sólidos drenados e a precipitação total. Fonte: Gava (2012) Ao analisar outros trabalhos verifica-se que todos apresentaram proporcionalidade direta entre a precipitação e o total de RSDre. A Tabela 4 mostra os resultados dos trabalhos de Brites (2005), Silva (2010) e desse presente artigo. Estes dois trabalhos foram selecionados para esta análise por apresentarem características semelhantes na estrutura e metodologia de monitoramento. Nota-se que a Bacia do Rio do Meio apresentou o valor de R² mais próximo a um, indicando que o total de precipitação pode ser um dos principais fatores contribuintes para surgimento dos RSDre. Tabela 4 Comparação entre os coeficientes de determinação para a correlação entre precipitação e quantidade de RSDre. Bacia Coeficiente de determinação Fonte Cancela R² = 0,409 Brites (2005) Alto da Colina R² = 0,131 Brites (2005) Esperança R² = 0,734 Silva (2010) Rio do Meio R² = 0,742 Fonte: Gava (2012) Conforme a Tabela 5 observou-se que a quantidade de dias secos antecedentes aos eventos não apresentou relação de proporcionalidade com a quantidade de resíduos sólidos retidos na estrutura de monitoramento. Brites (2005) obteve o mesmo resultado em sua pesquisa. Tabela 5 Relação entre os dias secos antecedentes ao evento e a quantidade de RSDre. Evento Número de dias secos antecedentes ao evento RSDre[kg] 1 5 1,93 2 0 0,629 3 0 0 4 8 0,55 5 0 0,57 CONSIDERAÇÕES FINAIS A quantificação dos resíduos sólidos drenados na Bacia do Rio do Meio apresentou as categorias: plástico, materiais de construção e outros, como as categorias mais significativas, representando mais de 83% do total em massa e 91% do total em número de itens. As categorias metal, vidro e papel resultaram em 17% de massa e 9% em número de itens. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7

Embora as categorias plástico e materiais de construção tenham aparecido entre os mais quantificados, um dos grandes problemas encontrados na bacia é a questão do microlixo, presente na categoria outros. Outro problema apontado pelos resultados esta na periculosidade dos resíduos encontrados, e não na sua quantidade, como constatado. Ao confrontar o resultado desta pesquisa com outros trabalhos verificou-se que o uso e ocupação do solo não são fatores que influenciam no surgimento dos RSDre; ou seja, as características da bacia analisadas neste trabalho não influenciam no surgimento dos RSDre. Dentre os elementos de gestão dos resíduos sólidos analisados a limpeza de bocas de lobo e de canais não influenciou o surgimento dos RSDre. Já o acondicionamento dos resíduos apresentou ser um dos componentes que influencia no surgimento dos RSDre. O serviço de varrição é um componente fundamental na remoção dos resíduos sólidos. Apesar de não quantificado o total de resíduos removido pela varrição, conclui-se que os resíduos são originados parte pela área da bacia que não é contemplada pelo serviço e parte pela baixa frequência de varrição nas ruas de grande movimento. Dentro da UFSC, os resíduos que contribuíram foram àqueles encontrados ao longo das margens do canal e provenientes dos focos verificados em campo. O total de precipitação também resultou ser um fator que influencia no surgimento dos resíduos sólidos, através dos resultados constatou-se que há uma proporcionalidade direta entre a quantidade de resíduos sólidos e o total precipitado para a Bacia do Rio do Meio; seguindo a tendência de outros trabalhos. Com a descoberta dos fatores que influenciam no surgimento dos RSDre verificou-se que a falta de uma gestão integrada entre os componentes do saneamento deixam passar despercebido medidas estruturais simples que acabam por diminuir a quantidade de resíduos sólidos drenados, ou seja, os problemas encontrados por este trabalho são reflexos de uma gestão não integrada entre os resíduos sólidos e a drenagem, principalmente dentro da Universidade. Lembrando que a drenagem faz parte da infraestrutura urbana, portanto deve ser planejada com os outros sistemas, principalmente o esgotamento sanitário, disposição de materiais e tráfego (Tucci, 2002). REFERÊNCIAS Armitage, N. & Rooseboom, S. (2000) The Removal of Litter from Stormwater Conduits and Streams: Paper 1 The Quantities Involved and Catchment Litter Management Options. Water S.A., 26(2), 181-187. ABNT (2004). NBR 10004: Resíduos sólidos: classificação. 2. ed. Rio de Janeiro (RJ): ABNT. Brites, A. P. Z e Gastaldini, M. do C. C. (2007). Avaliação da carga poluente no sistema de drenagem de duas bacias hidrográficas urbanas. Rev.Bras. Rec. Hídricos, 12(4), 211-221. Brites, A. P. Z. (2005). Avaliação da qualidade da água e dos resíduos sólidos no sistema de drenagem urbana. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. Gava, T. (2012). Análise das características que influenciam no surgimento dos resíduos sólidos urbanos na rede de drenagem da bacia hidrográfica do Rio do Meio, município de Florianópolis/SC. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia (LEPTEN). Laboratório de Energia Solar. Estações on-line: Florianópolis. Recuperado em 25 abr. 2012, de http://www.lepten.ufsc.br/estacoes/florianopolis.html. Neves, M. G. F. P. das. (2006). Quantificação de resíduos sólidos na drenagem urbana. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Neves, M. G. F. P. das e Tucci, C. E. M. (2008a). Resíduos Sólidos na Drenagem Urbana: Aspectos Conceituais. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, 13(3) 125-135. Silva, A. S. da. (2010). Resíduos sólidos drenados em sub-bacia hidrográfica urbana em Santa Maria - RS. Dissertação, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. Tucci, C E. M.; Porto, R.la L. & Barros, M. T. de. (1995). Drenagem urbana. Porto Alegre: ABRH. Tucci, C. E. M. Gerenciamento da Drenagem Urbana. (2002).Rev. Bras. Rec. Hídricos, 7(2) 5-27. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8