DENTES SUPRANUMERÁRIOS E SUAS POSIÇÕES NO ARCO DENTAL NO MUNICÍPIO DE CURITIBA, PARANÁ, BRASIL PREVALÊNCIA EM UMA PESQUISA DE 3000 ORTOPANTOMOGRAFIAS



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Transcrição:

37 DENTES SUPRANUMERÁRIOS E SUAS POSIÇÕES NO ARCO DENTAL NO MUNICÍPIO DE CURITIBA, PARANÁ, BRASIL - PREVALÊNCIA EM UMA PESQUISA DE 3000 ORTOPANTOMOGRAFIAS * SUPERNUMERARY TEETH AND YOUR POSITIONS IN THE DENTAL ARCH IN THE DISTRICT OF CURITIBA, PARANÁ, BRAZIL - 3000 PANORAMIC RADIOGRAPHIC RESEARCH PREVALENCE Andresa Borges SOARES ** Ulisses Genari FERREIRA-FILHO *** Clóvis MARZOLA **** João Lopes TOLEDO-FILHO ***** José Lucas BARBOSA ****** Ivonete Barreto HAAGSMA ******* * Monografia apresentada para conclusão do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial da APCD regional de Bauru 2007. ** Professora doutora em Patologia da Faculdade de Ciências Médicas UNICAMP e orientadora da monografia. *** Autor da monografia e Concluinte do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial e Autora da monografia. **** Professor Titular de Cirurgia aposentado da USP de Bauru. Professor do Curso de Especialização da APCD Regional de Bauru. ***** Professor Titular de Anatomia da USP de Bauru. Professor do Curso de Especialização da APCD Regional de Bauru. ****** Especialista em Ortodontia e Radiologia e proprietário da Clínica All Doc de Radiologia Odontológica em Curitiba, PR, Brasil. ******* Especialista em Radiologia e proprietária da Clínica All Doc de Radiologia Odontológica em Curitiba, PR, Brasil.

38 RESUMO Os dentes supranumerários são dentes formados em excesso, ou seja, os que excedem os 20 elementos decíduos ou os 32 elementos permanentes. O objetivo deste trabalho foi avaliar a presença de dentes supranumerários e suas características quanto ao gênero, localização, forma, situação no arco dentário e idade do paciente, comparando os dados deste trabalho com os da literatura. Foram utilizadas 3000 radiografias panorâmicas ortopantomográficas. Foram encontrados 61 dentes supranumerários, em 40 pacientes, sendo a região posterior da mandíbula a de maior ocorrência, apresentando 19 (32,15%) do total de casos de dentes supranumerários, com prevalência de dentes suplementares e retidos. ABSTRACT This study reports a radiographic review of 3000 panoramic radiographs from the archives of Clinic of Radiology All Doc, of the city of Curitiba-Pr, Brazil, with the purpose of evaluating the presence of supernumerary teeth and their characteristics such as gender prevalence, location, morphology, situation in dental arch and age of the patients. The purpose this study was to analyze the prevalence of supernumerary teeth in our population, comparatively to the literature. Sixty one (61) supernumerary teeth were founded in 40 patients, with the posterior mandibular region having highest occurrence showing 19 (32,15%) of the total of the cases studied with supernumerary teeth; prevalence of supplemental an impacted teeth. The results found in the present study are not in accordance to what is shown in the literature. Unitermos: Supranumerário; Radiografia panorâmica; Dente retido. Uniterms: Supernumerary; Panoramic Radiographs; Teeth Impacted. INTRODUÇÃO Os dentes supranumerários são alterações de desenvolvimento quanto ao número de dentes, na qual há formação de um ou mais dentes em número maior do que o normal. Estes dentes podem estar localizados na maxila ou mandíbula, ser uni ou bilateral, encontrando-se em sua maior parte retidos (SOUZA, 1997). Denominam-se dentes retidos aqueles que, uma vez chegada época normal que deveriam iruir, ficam encerrados parcial ou totalmente no interior do osso, com a manutenção ou não da integridade do saco pericoronário (MARZOLA, 2005). Podem também ser denominados de hiperdontia, dente acessório, erupção ectópica, dente extranumerário, dentículos, paramolares, distomolares, mesiodentes, superdentição, dentes hiperplásicos, aberrantes e, ainda, por alguns autores são tratados como dentes da 3ª dentição (CONTADOR; MACHADO; ACETOZE, 1975; AMARAL; SANTOS, 1996 e CAMPOS; SILVA; IMPARATO et al., 2002). Os dentes supranumerários podem apresentar as mais diferentes formas e, quando é semelhante a um dente natural recebe o nome do mesmo, por exemplo, canino supranumerário. Caso contrário, quando sua morfologia é

39 anormal, indica-se apenas como dente supranumerário localizado em determinada região. Já os que aparecem em região distal aos terceiros molares são chamados de quartos molares, aqueles que surgem entre os incisivos superiores de mesiodens, mas podem, também, estar localizados ate entre os caninos e incisivos laterais (MCDONALD; AVERY, 1991). Ocorrem com menor freqüência na dentição decídua, sendo mais comum na região dos incisivos superiores. Na dentição permanente, o mais freqüente é o mesiodens, em sua maioria pequeno, dismorfo, conóide e, às vezes duplo ou mesmo tríplice (STAFNE, 1932). O diagnóstico é comumente feito por exames radiográficos de rotina (CHEVITARESE; TAVARES; PRIMO, 2003). Sua presença pode levar a condições patológicas como apinhamentos, reabsorções ou danos aos dentes adjacentes, irrompimentos ectópicos e formações de cistos dentígeros (OLIVEIRA; PRIMO; BARCELOS et al., 2002). Pode-se, também, aproveitálos com boas possibilidades de sucesso para o transplante, tanto autógeno quanto homógeno e, principalmente sob a forma de germe (ANDREASEN, 1988 e MARZOLA, 2005). O objetivo deste estudo é avaliar a prevalência radiográfica de dentes supranumerários em 3000 radiografias ortopantomográficas, classificando estes dentes quanto a sua localização, forma, idade e gênero dos pacientes. A importância do estudo com finalidade da saúde oral de nossos pacientes, assim como a escassez de trabalhos na literatura especializada nos levou à pesquisa. REVISTA DA LITERATURA Os dentes supranumerários são considerados alterações de desenvolvimento quanto ao número de dentes, na qual há um aumento no número de dentes presentes na dentição, excedendo o número normal (TIMOCIN; YALCIN; OZGEN et al., 1994). O primeiro relato de dente supranumerário apareceu entre 23 e 79 a.c, desde então vários termos têm sido usados para descrever dentes supranumerários, tais como: hiperdontia, dente acessório, erupção ectópica, dente extranumerário, dentículos (ZHU; MARCUSHAMER; KING et al., 1996). Além disso, estes dentes podem receber outras denominações dependendo de sua localização. Um dente na região de incisivos superiores é chamado de mesiodens e, aqueles que aparecem em região distal aos terceiros molares são chamados de quartos molares (LANGLAND; LANGLAIS, 2002). A chamada terceira dentição pós-permanente também representa, na grande maioria dos casos, a erupção ativa ou passiva (por reabsorção alveolar) de dentes supranumerários retidos, após a remoção da dentição permanente (KING, 1993). Alguns autores acreditam que se trate de uma verdadeira terceira dentição, mas não foram encontradas bases científicas para sua comprovação (SILVA; SILVA, 1985). A etiologia do aparecimento de um dente supranumerário ainda é obscura, entretanto várias hipóteses são citadas para explicá-la. A formação deste dente pode ocorrer devido a: hiperplasia da dentição, hereditariedade, ou até causas locais como inflamação, trauma, pressão

40 anormal ou distúrbios relacionados à odontogênese (MILLES, 1954 e ATTERBURY; VAZIRANI, 1958). Outros acreditam no fator hereditariedade, devido à ocorrência de mesiodens ser mais elevada em indivíduos que relatam casos na família (WEBER, 1964 e SHAFER; HINE; LEVY, 1985). A presença de dentes supranumerários também pode estar relacionada às fissuras labiais e/ou palatinas, displasia ectodérmica e disostose cleidocraniana (PROFITT; SARVER; WHITE, 2003). A presença de mesiodens pode estar relacionada a uma predisposição genética, como a ocorrência de desordens em períodos precoces do desenvolvimento do germe dentário, acarretando um aumento excessivo de células durante os estágios de iniciação e proliferação (MARZOLA, 1969 e MARZOLA, 1997 e PROFITT; SARVER; WHITE, 2003). A teoria da hiperatividade da lâmina dental tem sido relatada como formadora de novos germes dentários, explicando assim a formação dos supranumerários (KING, 1993; TIMOCIN; YALCIN; OZGEN et al., 1994; TROTMAN, 1994; TASAR, 1995; KAYALIBAY, 1996; ZHU; MARCUSHAMER; KING et al., 1996 e REGEZI; SCIUBBA, 2000). O atavismo, teoria que levanta a possibilidade de ancestrais humanos terem maior número de dentes, também é relatado por alguns autores (KING, 1993; TIMOCIN; YALCIN; OZGEN et al., 1994 e ZHU; MARCUSHAMER; KING et al., 1996). A combinação entre fatores genéticos e fatores ambientais também tem sido relatada podendo gerar dentes supranumerários, hipótese sugerida pela dicotonia do germe dentário, aliada ao fator morfogenético no processo de odontogênese (MASON; AZAM; HOLT, 2000). A relação entre dentes supranumerários e síndromes é descrita por vários autores, destacando-se a síndrome de Gardner (CHADWICK, 1993; TROTMAN, 1994 e ZHU; MARCUSHAMER; KING et al., 1996), a Displasia ou Disostose Cleidocraniana (CHADWICK, 1993; KING, 1993; TIMOCIN; YALCIN; OZGEN et al., 1994; TROTMAN, 1994; TASAR, 1995 e RAJAB; HAMDAN, 2002), o palato e/ou lábio fendido (CHADWICK, 1993), a síndrome de Nance- Horan (TROTMAN, 1994) e, a síndrome de Teachers Collins (ANIL, 1995) que são algumas das síndromes mais citadas na literatura. Os dentes supranumerários podem ser classificados de acordo com a sua morfologia e posição. Na dentição decídua, a morfologia é geralmente normal ou cônica, enquanto na dentição permanente é mais variável. A classificação mais utilizada é aquela que separa estes dentes de acordo com a sua morfologia em quatro tipos, os cônicos (pequenos, coniformes e com a raiz em desenvolvimento normal), os tuberculares (multicuspídeos, pequenos e, com raiz rudimentar), os suplementares (iguais aos dentes da série), e os odontomas (sem formato regular) (RAJAB; HAMDAN, 2002 e KOO; SALVADOR; CIUFFI et al., 2002). Os dentes supranumerários podem irromper regularmente na cavidade bucal ou permanecerem retidos nos maxilares. A freqüência da irrupção relatada pode variar entre 15 e 34% na dentição permanente e, aproximadamente 67% na decídua. A localização é descrita de forma

41 variável na literatura, sendo que a maioria dos estudos concorda que a maxila anterior é o local mais freqüentemente acometido, com uma prevalência de 89-96%, seguida pelos quartos molares, pré-molares e caninos (ESCODA; AYTES, 1999; EHSAN; TU; CAMARATA, 2000; LANGLAND; LANGLAIS, 2002; REGEZI; ESCIUBBA, 2000; NEVILLE, 2002; RAJAB; HAMDAN, 2002; CHEVITARESE; TAVARES; PRIMO, 2003; KOKTEN; BALCIOGLU; BUYUKERTAN, 2003 e PROFF; FANGHANEL; ALLEGRINI et al., 2005). Relatos apontam a existência de quartos, quintos, sextos e sétimos molares (DESAI; SHAH, 1998; WILLIAMS, 1998; EHSAN; TU; CAMARATA, 2000; PETERSON; ELLIS; HUPP et al., 2000; KOO; SALVADOR; CIUFFI et al., 2002 e KOKTEN; BALCIOGLU; BUYUKERTAN, 2003). Foi observada a presença de dentes supranumerários nas cavidades nasais, órbita, seio maxilar, ovários, palato mole, sutura incisiva, concha oftálmica, sutura esfenomaxilar, tuberosidade maxilar e entre a órbita e o cérebro (ZHU; MARCUSHAMER; KING et al., 1996). Em relação ao gênero, os homens são mais acometidos que as mulheres, na proporção de 2 para 1 (AMARAL; SANTOS, 1996; SEGURA; NEZ-RUBIO, 1998; DESAI; SHAN, 1998; EHSEAN; TU; CAMARATA, 2000; CUNHA-FILHO; PURICELLI; HENNIGEN et al., 2002 e FERNANDEZ; CASTELLON; AYTÉS et al., 2006). O diagnóstico por imagem iniciou-se tão logo os raios-x foram descobertos por Wilhelm Conrad Roentgen, em 1895, tornando-se instrumento de importância fundamental como meio auxiliar de diagnóstico (WUEHRMANN; MANSON-HING, 1977). Dentre as técnicas radiográficas utilizadas para detecção da hiperdontia encontram-se a oclusal, a lateral de crânio e a ortopantomografia e, para estabelecer sua localização no sentido vestíbulo-palatino realiza-se a periapical com variação no ângulo horizontal (técnica de Clarck) (TOMMASI, 2002). O diagnóstico de dentes supranumerários ocorre de forma mais satisfatória unindo exame clínico com exames radiográficos, porém a maioria pode ser encontrada somente por meio de radiografias (NEVILLE, 2002 e TOMMASI, 2002). As manifestações clínicas dos dentes supranumerários podem ser de maior ou menor gravidade dependendo do número de dentes, localização e das patologias associadas (LELLIS; LEITE; MARIANO, 1991). Na maioria dos casos, os dentes supranumerários são assintomáticos, no entanto podem estar associados à dor, bem como à pericoronarite (DESAI; SHAH, 1998; ESCODA; AYTÉS, 1999; KOO; SALVADOR; CIUFFI et al., 2002 e NEVILLE, 2002). Ausência de dentes permanentes na arcada dentária, no período cronologicamente devido, pode estar associada a dentes supranumerários, mas não deve ser descartada a possibilidade do traumatismo na dentição decídua, acarretando a dilaceração coronoradicular (PURICELLI, CLOSS, BERTHOLD, 1991). As reabsorções das dentições decídua e permanente foram relatadas na presença de quadros de hiperdontia, não limitando este fator

42 como única causa do processo patológico, podendo surgir de forma coadjuvante a outros fatores (GELLIN, 1984; BLANK; OGG; LEVY, 1985; ATKINS-JUNIOR; MOURINO, 1986 e HOU; TSAI, 1989). Na maioria dos casos, os dentes supranumerários são assintomáticos, no entanto podem estar associados à dor, bem como à pericoronarite (DESAI; SHAH, 1998; ESCODA; AYTÉS, 1999; KOO; SALVADOR; CIUFFI et al., 2002 e NEVILLE, 2002). Os efeitos causados pela presença sobressalente variam desde a não irrupção de dentes da série normal, mau posicionamento, diastemas, desenvolvimento de cisto dentígero, cefaléia, parestesia, distúrbios locais e reabsorção dos dentes adjacentes (LELLIS; LEITE; MARIANO, 1991 e PROFF; FANGHANEL; ALLEGRINI et al., 2005). Podem também causar várias alterações no desenvolvimento da oclusão, entre estas complicações destacam-se o apinhamento dentário, impacções de dentes permanentes, reabsorções radiculares, diastemas na linha média, irrupção na cavidade nasal além da formação de cisto periapical ou folicular (ALMEIDA; MARTINS; RAMOS et al., 1997). Algumas patologias são relacionadas aos dentes supranumerários, como a presença de cistos dentígeros, cistos periapicais, doença periodontal e cárie no dente adjacente (HOU; TSAI, 1989 e ZHU; MARCUSHAMER; KING et al., 1996). As formas de tratamento variam conforme o caso e, também de acordo com a condição do paciente, podendo ser poli-especializado (BLANK; OGG; LEVY, 1985), exodontia (HOU; TSAI, 1989), redução do tamanho pelo desgaste seletivo e tratamento endodôntico (GOLDBERG; GROSS; RANKON, 1985), além da hemissecção com restauração composta (STILWELL; COKE, 1986). Visando, portanto minimizar estas conseqüências deve-se realizar uma intervenção o mais precocemente possível, realizando-se um diagnóstico preciso através de um exame clinico e radiográfico criterioso (URENA; HARFIN, 2001). O tratamento cirúrgico de extração dos dentes supranumerários é na maioria das vezes o tratamento de escolha, devendo ser realizado o mais cedo possível, com idade preferencial entre oito e 10 anos (YAMAOKA; FURUSAWA; OKAMOTO, 1995; KOKTEN; BALCIOGLU; BUYUKERTAN, 2003 e FERNANDEZ; CASTELLON; AYTÉS et al., 2006). Os quarto molares são removidos usualmente no mesmo tempo cirúrgico em que se removem os terceiros molares retidos. Caso os superiores estejam marcadamente altos, podem ser extraídos em segundo estágio, ou pode-se optar pela realização desse procedimento em ambiente hospitalar, sob anestesia geral (ESCODA; AYTÉS, 1999 e MARZOLA, 2000 e 2005). O tratamento cirúrgico pode gerar algumas conseqüências, como o rompimento de estruturas nobres como o feixe vásculo-nervoso do dente adjacente e parestesias (KING, 1993 e EHSAN; TU; CAMARATA, 2000). O transplante tanto autógeno como homógeno pode ser uma alternativa de tratamento cirúrgico, principalmente se este dente estiver sob

43 a forma de germe, podendo solucionar uma ausência dental, aproveitandose o dente supranumerário que está em desuso, de forma a ocupar o espaço do dente ausente, limitando este procedimento a alguns fatores como habilidade do profissional, idade do paciente, condição do dente a ser transplantado dentre outros (ANDREASEN, 1988 e MARZOLA 1997). Sendo o transplante dental possível e necessário, deve ser realizado num mesmo tempo cirúrgico (MARZOLA, 1969 e 2005). Em alguns casos, o julgamento clínico ou a resistência do paciente podem contra-indicar a remoção cirúrgica e, nestas circunstâncias, o controle radiográfico regular é obrigatório, como prevenção das complicações (GARVEY; BARRY; BLAKE, 1999 e NEVILLE, 2002). MATERIAL E MÉTODO Foi realizado um estudo radiográfico retrospectivo utilizando radiografias panorâmicas dos arquivos da Clinica de Radiologia All Doc da cidade de Curitiba, Paraná, Brasil, bem como fotos intra-orais em perfis normo-lateral, frontal e oclusal. Todos os dados recolhidos foram mantidos em sigilo e disponíveis somente aos pesquisadores. Nenhuma tomada radiográfica foi realizada com o objetivo de ser incluída nesta pesquisa. No grupo de estudos foram avaliadas 3000 radiografias panorâmicas de diferentes pacientes, como também fotos intra-orais em perfis normo-lateral, frontal e oclusal. Foram incluídas nesta pesquisa pacientes que apresentavam radiografias panorâmicas com boa nitidez, sem distorção, permitindo visualizar os elementos dentais, mesmo que estes se encontrassem retidos. Porém radiografias que apresentavam distorção e/ou pacientes desdentados totais foram excluídas da pesquisa. Os dados clínicos oferecidos pela clinica radiológica referem-se ao gênero e faixa etária dos pacientes, onde foram agrupados em masculino e feminino e, divididos segundo sua faixa etária. As imagens radiográficas foram obtidas de fotos digitalizadas das mesmas, sendo analisadas por dois observadores (UGFF e ABS) através das quais foram observadas a forma, quantidade, posição e localização do dente supranumerário nas arcadas dentárias. Segundo a forma, os supranumerários foram divididos em cônicos (pequenos, coniformes e com raiz em desenvolvimento normal), tuberculares (multicuspídeos, pequenos e com raiz rudimentar), suplementares (iguais aos dentes da série), além dos odontomas (sem formato regular). Quanto à localização, os dentes supranumerários foram divididos em regiões de Linha Média Maxilar (entre os incisivos centrais superiores), Pré- Maxilar (localizado entre distal a distal de caninos superiores, exceto quando estava presente na linha média maxilar interincisivos centrais), Pré-Molares Superiores (região de mesial de primeiros pré-molares a distal de segundo prémolares superiores), Molares superiores (mesial de primeiros molares superiores a região distal de terceiros molares, incluindo a região de tuberosidade maxilar), Pré-Mandibular (distal a distal de caninos inferiores, englobando toda a região de mento), Pré-Molares Inferiores (mesial de primeiros pré-molares a distal de segundos pré-molares inferiores), além de região de Molares Inferiores (mesial

44 de primeiros molares inferiores a distal de terceiros molares inferiores, incluindo região do trigono retro-molar). Foi avaliado o número presente de dentes supranumerários na cavidade bucal, mesmo que estes dentes encontravam-se retidos, sendo adotada a análise descritiva dos resultados obtidos. RESULTADOS Após analise dos materiais de arquivo pesquisados, sendo estes compostos por radiografias ortopantomográficas e fotos intra-orais de 3000 pacientes, foram excluídos desta pesquisa 63 (2,1%) arquivos de pacientes, pois estes apresentavam ausência de todos os elementos dentários e/ou distorção das imagens impedindo sua utilização nesta pesquisa, restando 2.937 (97,9%) arquivos que foram utilizados nesta pesquisa. Desses 2.937 arquivos, foi observada a presença de dentes supranumerários em 40 arquivos. Foram encontrados 61 dentes supranumerários, sendo 27 (44,26%) no gênero masculino e, 34 (55,74%) no gênero feminino. A faixa etária variou de 09 a 68 anos de idade, sendo a média de 26 anos. Em 60 casos (98,36%) os supranumerários encontravam-se retidos, e, apenas um caso (1,64%) achou-se irrompido na cavidade bucal. Dentre as arcadas dentárias, aquela que mais apresentou a prevalência de supranumerários foi a mandíbula com 35 casos (57,38%) e, em 26 casos (42,62%) na maxila. O hemiarco inferior direito com 21 casos (34,43%) foi onde ocorreu a maior prevalência de supranumerários, seguido do hemiarco superior esquerdo com 15 casos (24,59%), hemiarco inferior esquerdo com 14 casos (22,95%), hemiarco superior direito com nove casos (14,75%) e, na linha média superior foram observados dois casos (3,28%) (Gráfico 01). número de supranumerários 25 20 15 10 5 21 14 9 15 hemiarco inferior direito hemiarco inferior esquerdo hemiarco superior direito hemiarco superior esquerdo linha média maxilar 2 0 região na arcada dentária Gráfico 01 - Prevalência de dentes supranumerários presentes em cada uma das hemiarcadas dentárias.

45 A forma mais freqüente dos supranumerários foi a suplementar com 30 casos (49,18%), seguida da cônica em 15 casos (24,59%), odontoma em 14 casos (22,95%) e, sob o formato tubercular em dois casos (3,28%) (Gráfico 02). 50% 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 49,18% suplementar cônico odontoma tubercular 24,59% 22,95% 3,28% suplementar cônico odontoma tubercular Gráfico 02 - Prevalência de dentes supranumerários encontrados conforme a forma. A região com maior prevalência foi a de molares inferiores com 19 casos (31,15%) encontrados, seguido da região de molares superiores com 15 casos (24,49%), 13 casos (21,31%) na região de pré-molares inferiores, seis casos (9,83%) na região pré-maxilar, três casos (4,91%) na região dos pré-molares superiores, três casos (4,91%) na região pré-mandibular e, com 02 casos (3,28%) na linha média maxilar (Gráfico 03). número de supranumerários 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 6 3 15 2 3 13 19 pré-maxilar pré-molares superiores molares superiores linha média maxilar pré-mandibular pré-molares inferiores molares inferiores 0 região na arcada dentária Gráfico 03 - Prevalência de dentes supranumerários encontrados conforme a região de incidência nas arcadas dentárias.

46 Segundo a forma habitual dos dentes e sua disposição na arcada dentária, os supranumerários foram encontrados nos achados radiográficos e classificados em 18 casos (29,51%) como quartos molares, 16 casos (26,23%) como pré-molares supranumerários, 15 casos (24,59%) como molares, 5 casos (8,19%) como caninos, 6 casos (9,84%) como incisivos e 1 caso (1,64%) como quinto molar (Gráfico 04). 30% 25% 20% 15% 26,23% 24,59% 29,51% incisivos caninos pré-molares molares quarto-molares quinto-molares 10% 9,84% 8,19% 5% 1,64% 0% molares incisivos caninos prémolares quartomolares quintomolares Gráfico 04 - Prevalência de dentes supranumerários conforme a forma habitual dos dentes e disposição na arcada dentária. DISCUSSÃO Os dentes supranumerários representam uma importante causa da retenção dentária. A necessidade de um diagnóstico precoce pelos profissionais é de extrema importância. Portanto, a realização de exames radiográficos panorâmicos da face e outros exames de imagens devem ser solicitados, quando o irrompimento de um ou mais dentes estiver cronologicamente alterado ou a historia médica odontológica indicar (CUNHA-FILHO; PURICELLI; HENNIGEN et al., 2002). Alguns autores indicam a necessidade da realização de exames panorâmicos periódicos em crianças a partir dos seis anos de idade (PEREIRA; PURICELLI, 1981; PURICELLI; CLOSS; BERTHOLD, 1991 e AMARAL; SANTOS, 1996), enquanto que outros autores afirmam da necessidade eminente da realização de tomografia computadorizada nos casos de supranumerários para elucidar o diagnóstico, plano de tratamento e conduta (BERTOLLO; BATISTA; CANÇADO et al., 2000). No presente trabalho a maioria dos casos foi diagnosticado somente com exames radiográficos, comprovando que este tipo de exame por ser suficiente para detecção dos supranumerários, devendo-se ressaltar que não se deva irradiar um paciente sem critérios prévios, sendo que em alguns casos há necessidade de se realizar um exame de tomografia computadorizada para verificar sua posição precisa, além, também da proximidade com estruturas nobres.

47 A incidência da presença de dentes supranumerários na arcada dental é bastante variada, tendo sido avaliados 48.550 pacientes, observando-se uma incidência variando de 0,8 a 3,3% (STAFNE, 1932). A freqüência de dentes supranumerários foi também avaliada em 848 pacientes, relatando uma incidência de 6,4% (CUNHA-FILHO; PURICELLI; HENNIGEN et al., 2002). Em uma pesquisa de materiais de arquivo de 1991 a 2003, foi também avaliada a freqüência de supranumerários em 36.057 pacientes, onde se constatou a incidência de 0,5 a 3,8% (FERNANDEZ; CASTELLON; AYTÉS et al., 2006). Nesta pesquisa verificou-se uma incidência de 1,36%, dentre as 3000 ortopantomografias observadas, estando somente em desacordo com as pesquisas realizadas no sul do país (CUNHA-FILHO; PURICELLI; HENNIGEN et al., 2002). Quanto ao número de supranumerários em cada paciente há concordância entre os autores, sendo que em 68,6% dos casos o dente supranumerário apresentava-se isoladamente e, em 31,4% apresentava mais de um elemento supranumerário (STAFNE, 1932). Em outro estudo pode-se observar que em 72,4% haviam casos isolados e, em 27,6% havia mais de um supranumerário (CUNHA-FILHO; PURICELLI; HENNIGEN et al., 2002). Na atual pesquisa os achados concordam com os achados da literatura, onde foi observada maior prevalência de apenas um caso de supranumerário por paciente, onde as taxas do atual trabalho igualam-se aos achados (FERNANDEZ; CASTELLON; AYTÉS et al., 2006), com 77,5% de incidência de apenas um dentre supranumerário e, com 22,5% com mais de um elemento dental por paciente. Em relação ao gênero, houve concordância quanto aos resultados obtidos neste trabalho com os demais estudados. A literatura relata uma leve predileção do gênero masculino (CUNHA-FILHO; PURICELLI; HENNIGEN; et al., 2002; RAJAB; HAMDAN, 2002 e FERNANDEZ; CASTELLÓN; AYTÉS; et al., 2006), o que também foi observado nesta pesquisa, com uma incidência de 1,52% para o gênero masculino e 1,24% para o gênero feminino. Nossos resultados concordam com os achados da literatura, onde se observa que os supranumerários apresentam-se em sua maioria retidos (80%) (TIMOCIN; YALCIN; OZGEN et al., 1994 e ZHU; MARCUSHAMER; KING et al., 1996), enquanto outra divulgação afirma que em 98,4% dos casos de supranumerários ocorria o fenômeno da retenção (CUNHA-FILHO; PURICELLI; HENNIGEN; et al., 2002). Neste estudo foi observada a incidência de 98,36% de supranumerários retidos. Num estudo com 48.550 adultos realizado na Filadélfia, foi constatada a presença de 500 supranumerários, sendo que 90% destes estavam presentes na maxila (STAFNE, 1932). Em Tókio foram incluídos numa pesquisa 480 pacientes, sendo constatada a incidência de 85,3% dos supranumerários presentes na maxila (TIMOCIN; YALCIN; OZGEN et al., 1994). Em Birmingham um estudo longitudinal 90% dos supranumerários encontravam-se na região da maxila (ZHU; MARCUSHAMER; KING et al., 1996). Em Porto Alegre também foi realizado um estudo com 848 pacientes, sendo constatada a incidência de 85,9% dos supranumerários na maxila (CUNHA-FILHO; PURICELLI; HENNIGEN et al., 2002). Contrariando estes achados, na atual pesquisa observou-se uma incidência de supranumerários na região maxilar (57,38%) e, uma possível explicação para esta discordância talvez seja por todos

48 os trabalhos acima citados pertencerem a entidades de estudos, onde há uma concentração de pacientes para disciplina de Cirurgia Bucal, visto que na sua maioria os dentes supranumerários que mais apareceram foram os mesiodens e, como este trabalho foi realizado com material de arquivo de uma clinica de radiologia, provavelmente estes dentes podem já terem sido extraídos. A prevalência de supranumerários descrita na literatura cientifica odontológica, afirma que os dentes com maior incidência são os mesio-dens (ESCODA; AYTÉS, 1999; EHSAN; TU; CAMARATA, 2000; REGEZI; SCIUBBA, 2000; LANGLAND; LANGLAIS, 2002; NEVILLE, 2002; RAJAB; HAMDAN, 2002 e FERNANDEZ; CASTELLÓN; AYTÉS et al., 2006), porém no atual estudo foram observados os quartos molares em maior número. A classificação da forma dos dentes supranumerários varia conforme o autor, não havendo uma unanimidade quanto a uma classificação que se poderia dizer universal (CHEVITARESE; TAVARES; PRIMO, 2003). Os supranumerários foram classificados em mesiodens (com uma incidência de 53,7%), suplementares (27,5%), cônicos (10,4%) e heterotópicos (8,4%) (STAFNE, 1932). Por outro lado os supranumerários foram concluídos da seguinte forma em, conóides (cônicos e unirradiculares) e multirradiculares (sem formato regular, geralmente multicuspídeos e odontoma), sendo que para estes autores os conóides apresentaram 90,6% de incidência, enquanto os multirradiculares tiveram a incidência de 9,4% (CUNHA-FILHO; PURICELLI; HENNIGEN et al., 2002). Uma classificação mais detalhada foi apresentada baseando-se na forma destes dentes, sendo divididos em cônicos (com uma incidência de 35,7%), suplementares (34,9%), odontomas (25,2%) e tuberculares (4,11%) (RAJAB; HAMDAN, 2002). Outra classificação sugerida e sua respectiva incidência, em cônicos (60%), eumórficos (24,2%), molariformes (13,7%) e odontomas (2,1%) (FERNANDEZ; CASTELLÓN; AYTÉS et al., 2006). Dentre as varias classificações, embora a maioria delas venha apresentar muitas semelhanças, foi optado nesta pesquisa adotar-se uma classificação para o estudo final (RAJAB; HAMDAN, 2002), sendo que a maior incidência neste trabalho ocorreu entre os suplementares (49,18%), seguido dos cônicos (24,59%), odontomas (22,95%) e os tuberculares (3,28%). CONCLUSÕES Com base nos resultados desta pesquisa, pode-se concluir que: 1. A incidência de pacientes com dentes supranumerários foi de 40 casos (1,33%), dentre as 3000 ortopantomografias avaliadas. 2. A incidência de dentes supranumerários foi de 61 dentes. 3. A região mais acometida pela presença de supranumerários foi a de molares inferiores (31,15%), seguida de molares superiores (24,49%), prémolares inferiores (21,31%), pré-maxilares (9,83%), pré-molares superiores (4,92%), pré-mandibulares (4,92%) e, na linha média maxilar (3,27%), respectivamente. 4. A retenção ocorreu em 60 casos (98,36%) e, em apenas 01 caso observou-se o supranumerário irrompido (1,64%). 5. A forma mais encontrada foi a suplementar, seguida da cônica, do odontoma e da tubercular, respectivamente.

49 6. A faixa etária variou de 09 a 68 anos de idade, sendo a média de 26 anos. 7. O gênero mais acometido foi o feminino com 34 (55,74%) casos, sendo que no masculino foram vistos 27 (44,26%) casos. REFERÊNCIAS * ALMEIDA, R. R.; MARTINS, C. M. B.I.; RAMOS, A. L. et al., Supranumerários Implicações e Procedimentos Clínicos. Rev. Dent. Press Ortod. Ortop. Max., Maringá, v. 2, n. 6, p. 91-7. 1997. AMARAL, M. A. T.; SANTOS, M. E. O. Maloclusão causada por dentes extranumerários relato de caso clínico. Rev. bras. Odontol., Rio de Janeiro, v. 53, n. 1, p. 2-4, jan.,/fev., 1996. ANDREASEN, J. O. Damage of the Hertwig s epithelial root sheath upon root growth after autotransplantation of teeth in monkeys. Endod. dent. Traumatol., Cambrigde, v. 4, n. 4, p. 145-151, aug., 1988. ANIL, S. Mandibulofacial disostosis: case report. Aust. dent. J., Sydney, v. 40, n. 1, p. 39-42, mar., 1995. ATKINS-JUNIOR, C.O.; MOURINO, A. P. Management of a supernumerary tooth fused to a permanent maxillary central incisor. Oral Surg., Virginia, v. 61, n. 2, p. 146-8, feb., 1986. ATTERBURY, R. A.; VAZIRANI, S. J. Multiple Impacted unerupted supernumerary teeth. Oral Surg., St. Louis, v. 11, n. 2, p. 141-5, feb., 1958. BERTOLLO, R. M.; BATISTA, P. S.; CANÇADO, R.P. et al., Dente supranumerário - tomografia computadorizada - método de localização: relato de caso clinico. Rev. Odonto Ciência, Porto Alegre, v. 15, n. 30, p. 97-109, ago., 2000. BLANK, B.S.; OGG, R. R; LEVY, A. R. A fused central incisor. Periodontal considerations in comprehensive treatment. J. Periodontol., Virginia, v. 56, n. 1, p. 21-4, jan., 1985. CAMPOS, L. M.; SILVA, S. R.; IMPARATO, J. C. P. et al., Dente supranumerário rudimentar relato de caso clínico. J. bras. Clin. Odontol. Int., Curitiba, v. 6, n. 32, p. 129-32, mar.,/abr., 2002. CHADWICK, S. M. Late development of supernumerary teeth: a report of two cases. Int. J. Pediatr. Dent., Oxford, v. 3, n.10, p. 205-10, may., 1993. CHEVITARESE, A. B. A.; TAVARES, C. M.; PRIMO, L. Clinical complications associates with supernumerary teeth: report of two cases. J. Clin. Pediat. Dent., St. Louis, v. 28, n. 1, p. 27-31, jan., 2003. CONTADOR, R. J.; MACHADO, J. A. C.; ACETOZE, P. A. Considerações sobre dentes supranumerários. Rev. Farm. Odont., Rio de Janeiro, v. 42, n. 414, p. 9-15, ago., 1975. CUNHA-FILHO, J. J.; PURICELLI, E.; HENNIGEN, T. et al., Ocorrência de dentes supranumerários em pacientes do serviço de cirurgia e traumatologia bucomaxilo facial, Faculdade de Odontologia da UFRGS, no período de 1998 a 2001. Rev. Fac. Odontol., Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 27-34, dez., 2002. * De acordo com as normas da ABNT/2002.

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