IDENTIFICAÇÃO DE ÁRVORES NATIVAS DA T.I. DE MANGUEIRINHA/PR POR MEIO DE SABERES TRADICIONAIS KAINGANG

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ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções) ( ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( X ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE ( ) TECNOLOGIA E PRODUÇÃO ( ) TRABALHO 1 IDENTIFICAÇÃO DE ÁRVORES NATIVAS DA T.I. DE MANGUEIRINHA/PR POR MEIO DE SABERES TRADICIONAIS KAINGANG Joel Anastacio 1 Letícia Fraga 2 Resumo: O presente texto refere-se a uma ação extensionista de um projeto em andamento que tem como objetivo fazer um levantamento das árvores nativas da terra indígena de Mangueirinha, utilizando técnicas tradicionais de identificação de árvores que vêm sendo utilizadas há muitos anos pelos moradores Kaingang dessa comunidade. Sabendo da grande importância que tem a biodiversidade do local, manter esses costumes e técnicas para os indígenas é uma questão cultural e de manutenção de costumes que são passados de geração a geração, que permite a eles não só identificar as árvores, mas também ajuda na hora de fazer a escolha de qual árvore é a certa considerando a finalidade para qual ela se destinará. Dessa forma, conhecendo essas técnicas, a comunidade indígena não agredirá a floresta derrubando árvores de forma desnecessária. Este trabalho insere-se no âmbito das atividades do CEAI. Palavras-chave: T.I. Mangueirinha. Árvores nativas. Conhecimento Kaingang. Preservação ambiental. INTRODUÇÃO Com a invasão dos povos europeus nas terras que hoje chamamos de Brasil, nas quais já existiam povos nativos, os quais passaram a ser chamados de índios pelos invasores, as florestas nativas passaram a sofrer muito com os desmatamentos que ocorrem até os dias atuais. As florestas foram e são exploradas para gerar riquezas e, como consequência, a derrubada de árvores nativas trouxe um grande desequilíbrio em razão de alterar a biodiversidade e o clima. Os indígenas que aqui já habitavam e ainda continuam habitando vivem em pequenas áreas demarcadas ou em processo de demarcação. Esses povos preservam muito bem suas florestas, pois sabem da grande importância que a natureza tem para sua sobrevivência e procuram sempre estar em harmonia com ela. Os indígenas sempre souberam e compartilharam da ideia de que o espaço em que vivem faz parte de um grande círculo em que estão inseridos árvores, animais, terra (solo), rios, peixes, pássaros etc. Cada elemento depende do outro para se complementar, ou seja, para que possamos viver bem, tudo deve estar em harmonia e em perfeito equilíbrio ecológico de acordo com Ribeiro (2016, p.25): "O 1 Membro de execução do projeto; UEPG; Agronomia; joelanastacio22@gmail.com. 2 Coordenadora do projeto; UEPG; Letras; leticiafraga@gmail.com.

equilíbrio ecológico representa a harmonia necessária à vida humana e à natureza, condição ideal e indispensável à própria existência do homem." As florestas não são importantes para os indígenas apenas porque estes podem se beneficiar delas, retirando alimentos para sua sobrevivência. A natureza é mais do que isso, serve como fonte de inspiração e de conhecimento, social e cultural que será repassado para as gerações seguintes, sendo ela também uma fonte de vida. Na aldeia indígena de Mangueirinha, PR, a relação entre os povos originários é positiva no que se refere à preservação e permanência das florestas. Para os indígenas, cada árvore ou planta, que serve de alimento, remédio, produção de artesanatos, arco ou é usada para a ponta de flecha tem sua história e origem. Essas histórias eram passadas de forma harmoniosa pelos indígenas mais velhos para os mais novos como conhecimento da origem das plantas, o que agora vem se perdendo dia após dia, mês após mês, ano após ano. Para Carneiro Junior et al. (2005), essas histórias, lendas e mitos: 2 São fenômenos da psique, dos dados individuais e coletivos, da trajetória épica, trágica ou cômica, dos seres humanos. Através dos mitos e das lendas pode-se penetrar nos meandros psicológicos dos homens, investigar seus desejos e suas leituras da terra e de si mesmos; o que é, num certo sentido, conhecer a própria história (CARNEIRO JÚNIOR et al., 2005, p. 12). Para as comunidades indígenas, essas histórias têm um valor inigualável, pois é através desses relatos que o indígena conta um pouco da sua história de resistência, de suas lutas e de sua sobrevivência. Portanto, este trabalho será de grande importância uma vez que tem o objetivo de resgatar e registrar os métodos naturais e tradicionais de identificação de árvores nativas utilizados pelos indígenas e poderá contribuir para que esses costumes não se percam e continuem sendo repassados aos mais novos, inclusive na escola. OBJETIVOS O presente trabalho tem como objetivo a realização de um levantamento das espécies de árvores nativas que existem na terra indígena de Mangueirinha, utilizando as técnicas tradicionais e naturais que os povos indígenas dominam há muitos anos, as quais usam para identificar e diferenciar uma planta das outras, bem como fazer um levantamento e registrar por escrito os nomes das arvores em português e Kaingang de forma didática, a fim de que este levantamento possa contribuir para a produção de material a ser encaminhado para escolas indígenas no sentido de possibilitar a produção de material didáticos específicos.

METODOLOGIA O local escolhido para realização desse trabalho foi a terra indígena de Mangueirinha, que se localiza na região sudoeste do Paraná. Optamos por essa reserva porque um dos autores do trabalho é acadêmico indígena, graduando em Agronomia e extensionista. Faz parte dessa comunidade e pertence à etnia Kaingang, uma das que compõem a reserva. A reserva indígena é composta por duas etnias: Kaingang e Guarani, cujos costume, crença e língua são totalmente diferente. Esse trabalho foi desenvolvido em duas etapas. A primeira etapa do levantamento dos dados foi realizada em julho de 2017. Fizemos uma viagem até a comunidade para aprender como e quais métodos os indígenas utilizam para identificar uma planta, juntamente com a colaboração de um indígena mais velho, chamado Pedro Anastácio, também da etnia Kaingang, pertencente à comunidade. Pedro Anastacio é dotado de grande conhecimento sobre as árvores desse local e nesta primeira etapa repassou, de forma oral, um pouco do seu conhecimento, mais especificamente de como ele identifica e diferencia uma árvore da outra, sem usar termos acadêmicos, mas a terminologia que é dominada pelo povo Kaingang. Segundo Pedro, os métodos utilizados na identificação se baseiam em conhecer primeiramente a topografia e o clima do local e o microclima formado pela vegetação da área. Conhecendo esses fatores, já se tem ideia de quais plantas se encontrão nesse local: se uma planta que pertence a outro lugar está ali no local que não é da sua origem, temos que nos preocupar, pois nesse local já está havendo uma mudança do clima da área. Isso pode ocorrer naturalmente, mas também com a ajuda do homem que pratica queimadas, desmatamento, uso de veneno. Tudo isso contribui para que se acelere esse processo (Pedro Anastácio, 2017). Foram feitas saídas de campo a em locais diferentes da comunidade para se fazer o reconhecimento das plantas. Pedro explicou que ele procura observar características bem visíveis a partir das quais possa diferenciar as árvores. A primeira parte que ele olha nas árvores é o tronco, tipo de casca que a cobre. Em seguida, analisa folhas, flor, cor da flor, frutos, cheiro, formato da árvore, tipo de copa, se ela tem espinhos ou não, liberação de líquido ao ser cortada, se a madeira e dura ou não, cor da madeira, qual o seu cheiro e sabor. Hoje se sabe que essas características que são usadas há muitos anos pelos povos indígenas na caracterização de plantas se encaixam dentro das metodologias científicas de identificação utilizados por pesquisadores acadêmicos que trabalham nessa área. Uma área na qual esses caracteres são muito utilizados é a da dendrologia que, segundo OLIVEIRA (2018), significa estudo da árvore. Em sentido amplo, abrange a identificação e 3

classificação das árvores, a confecção de coleções, a distribuição geográfica, ecologia e descrição das suas características, além de indicar o emprego delas. A segunda parte desse trabalho será registrar todas as árvores identificadas por métodos naturais tradicionais e identificá-las todas por nomes comum, científico e principalmente fazer o levantamento dos nomes em Kaingang, para que esses dados possam subsidiar a elaboração de materiais didático que possam contribuir com as escolas indígenas. A importância de se preservar a natureza, para os indígenas não é apenas uma questão de sobrevivência e, sim, uma questão de princípio, social, cultural e de gratidão com o meio ambiente 4 RESULTADOS Abaixo, tabela com o levantamento inicial das espécies encontradas. Tabela 1 Tabela contendo nome comum, científico e as características de identificação de acordo com conhecimento indígena Nome comum Nomes científicos Caracteres usada na identificação das árvores Angico Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan Cor da madeira e consistência (madeira dura com presença de cerne) Maria preta Diatenopteryx sorbifolia Radlk. Tipo do tronco, raízes na superfície da terra Capororoca Myrsine ferruginea (Ruiz et Pav.) Spreng. Tipo da casca presente no tronco, presença e musgo, cor, fruto. Bracatinga Mimosa scabrella Benth Árvore comprida, geralmente com tronco fino, de folhas pequenas Pinheiro Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze Erva Mate Ilex paraguariensis A. St.-Hil Tipo de folha e sabor, para diferenciar de outras Ovaia Eugenia pyriformis Fruto, tronco liso, madeira dura Pitanga Eugenia uniflora L. Fruto, sabor das folhas, cheiro, tipo de caule. Cerejeira Eugenia involucrata DC. Caule, cheiro e sabor das folhas Guabirobeira Campomanesia xanthocarpa O. Berg Fruto, tronco, as cascas se soltam facilmente, cheiro e sabor de folhas Araçá Psidium cattleyanum Sabine Caule liso, sabor e cheiro das folhas Carne de vaca Clethra scabra Persoon Cor, madeira é leve quando seca, quando é verde é mole para cortar Taruma Vitex megapotamica Fruto pequeno de cor roxo bem escuro Mamica de porca Zanthoxylum riedelianum Engl Presença de acúleo Bugrero Lithraea brasiliensis Marchand Presença de acúleo, caule com a casca tipo rachado Camboatã Cupania vernalis Cambess Frutos com partes alaranjadas Imbuia Ocotea porosa (Nees & C. Mart.) Barroso Libera cheiro ao ser cortado, casca com cor avermelhada ao cortar Fumo bravo Aegiphyla sellowiana Cham. Folhas ásperas, tronco fácil de quebrar Canela-Imbuia Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez Cheiro desagradável quando corta (também conhecida como canela bosta) Pau-De-Andrade Persea major (Nees) Kopp Tronco com casca cheio de estria, ao cortar a casca é internamente avermelhada Guamirim Gomidesia palustris (DC.) Kaus. Tronco tipo liso, meio branco, avermelhado e madeira bem dura Ariticum (imbira) Rollinia sylvatia (St. Hil.) Mart Fruto, caule com casca de cor escura, que se

desprende fácil do tronco Leiteiro Sapium glandulatum (Vell.) Pax Folhas, madeira leve, libera um líquido ao cortar Cedro Cedrela fissilis Vell Tronco com bastantes cicatrizes na casca, folha de um lado para outro nos galhos Fonte: Elaborada pelo autor. 5 Fotos de algumas árvores nativas encontradas e caracterizadas de acordo com conhecimento dos indígenas da reserva indígena de Mangueirinha, conforme as figuras. Figura 1: Imbuia Figura 2: Guabirobeira Figura 3: Angico Hoje em dia, com a invasão dos centros urbanos essa ponte que liga as terras indígenas com as cidades tem ficado cada vez menor trazendo riscos ao meio ambiente. Segundo Peralta et al. (2014) Os riscos ambientais são o resultado da maneira como o ser humano tem realizado as suas intervenções no meio ambiente; são consequências da forma como o homem se apropria e utiliza o espaço da natureza e os seus recursos (PERALTA, 2014) O resgate dessas técnicas em identificar as árvores juntamente com os materiais didáticos que serão elaborados estará levando para as comunidades que se beneficiaram desse projeto a ideia de dar mais forças às crianças, jovens e adultos do quanto é importante manter nossos costumes e tradições, que por muito anos foram defendidos por nossos antepassados com a própria vida. Se não retomarmos nossa cultura, a morte de muitos terá sido em vão. Sabemos que as lutas pela preservação do meio em que vivemos será constante, pois a ideia de se produzir mais e mais leva aos indígenas a entrar em conflito com grandes empresários do agronegócio que só pensam em explorar as terras de maneira incontrolável,

pois só pensam no benefício que podem tirar da natureza, gerando degradação ambiental, social e cultural 6 APOIO: PROEX/UEPG, a quem registramos nossos agradecimentos. REFERÊNCIAS CARNEIRO JR. Renato Augusto et al. Lendas e Contos Populares do Paraná. Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura, 2005. Disponível em:< https://www.cidadao.pr.gov.br/arquivos/file/parana/livro_lendas.pdf>. Acesso em: 30. mar. 2018. OLIVEIRA. R. D. M. Dendrologia e Identificação de Árvores para o Meio Urbano Ênfase no Bioma Cerrado. Disponível em:< https://sag.fucamp.com.br/assets/professor/material_apoio/7750dendrologia.pdf. Acesso em 30 mar. 2018 PERALTA. E. C. et al. Direito e justiça ambiental: diálogos interdisciplinares sobre a crise ecológica. Caxias do Sul, RS: Educs, 2014. Disponível em: < https://sag.fucamp.com.br/assets/professor/material_apoio/7750dendrologia.pdf> Acesso em: 30 mar. 2018. RIBEIRO, S. C. A Política Nacional do Meio Ambiente e as Desigualdades Sociais: O Elo Entre a Teoria e a Prática na Difícil Missão de Implantar o Conceito de Sustentabilidade como Estilo de Vida na Sociedade Brasileira. 2016. Disponível em:<https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/52242/r%20-%20e%20- %20CARMEN%20SILVIA%20RIBEIRO.pdf?sequence=1>.Acesso em: 01 abr. 2018. SAUERESSIG D. et al. SIDOL Sistema de Identificação Dendrológica On-Line. Disponível em:< https://revistas.unicentro.br/index.php/ambiencia/article/view/233/305>. Acesso em: 31 mar. 2018 SCHALLENBERGER. S. L. MACHADO. O. G Inventário da Arborização na Região Central Do Município de Mangueirinha PR. Disponível em:<http://www.revsbau.esalq.usp.br/artigos_cientificos/artigo233-publicacao.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2018. Manual de Identificação de Mudas de Espécies Florestais 2ª Edição. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4975980/4130120/manualdemudas2internet.pdf MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTRUÇÃO NORMATIVA No 6, DE 23 DE SETEMBRO DE 2008. Disponível em:<http://www.mma.gov.br/estruturas/179/_arquivos/179_05122008033615.pdf>.acesso em: 01 abr. 2018.