A IMPORTÂNCIA DO CONSÓRCIO DE EXPORTAÇÃO



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Transcrição:

A IMPORTÂNCIA DO CONSÓRCIO DE EXPORTAÇÃO NA CONSOLIDAÇÃO DE CLUSTERS GRAZIELA ZANIBONI CURSO DE ADMINISTRAÇÃO E COMERCIO EXT ER I OR - UNI VERSI DADE DE RIBEIRÃO PR ET O- UNAER P- R I BEI R ÃO PR E T O, SÃO PAU L O, BRASI L PR OF.A DR.A R OS AL I NDA CHEDI AN PI MENT EL CURSO DE ADMINISTRAÇÃO E COMERCIO EXT ER I OR - UNI VERSI DADE DE RIBEIRÃO PR ET O- UNAER P- R I BEI R ÃO PR E T O, SÃO PAU L O, BRASI L

Resumo Os Clusters são concentrações geográficas de empresas e instituições inter-relacionadas de um setor específico e uma dinâmica econômica própria. Consórcios de exportação são associações de empresas com o objetivo de atuar conjuntamente em mercados internacionais. A experiência brasileira de clusters e incentivo governamental de apoio a formação de consórcio de exportação mostram que estes desempenham papel fundamental na consolidação daqueles por que aliam a busca conjunta pela competitividade internacional minimizando os conflitos resultantes da concorrência no mercado domestico. Palavras-chave: clusters, exportação. Abstract Clusters are local concentrations of companies and interrelated institutions of one specific economic sector with an specific economic dynamic. Export Consortiums are associations of companies with one aim of acting together in international markets. The Brazilian clusters experience associated with governmental benefits to supporting the export consortiums reveal that ones role is fundamental for consolidation of those ones because it aggregate the common search for international competitiveness minimizing the conflicts among companies because the domestic market competition. Key-words: clusters, Exporting

A IMPORTÂNCIA DO CONSÓRCIO DE EXPORTAÇÃO Introdução NA CONSOLIDAÇÃO DE CLUSTERS As feiras, surgidas na Idade Média, foram a primeira manifestação econômica dos comerciantes para satisfazer as necessidades dos consumidores dos burgos. Nascia o mercado que, nesse momento, era um local físico de concentração de vendedores de bens e consumidores que deles necessitavam. A produção de bens nessa época era feita por meio das corporações de ofício cujos mestres e artesãos faziam determinado bem do início ao fim. O avanço tecnológico mas, sobretudo, a forma de administração da produção, com o surgimento da divisão do trabalho, resultou na chamada Revolução Industrial que incrementou a produção das firmas ampliando assim a oferta de bens industrializados. A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, em 1750, no setor têxtil. A indústria de algodão floresceu e continuou a ser, em sua maior parte um complexo de firmas altamente especializadas de médio porte (muitas vezes altamente localizadas) com mercadores de vários tipos, fabricantes de fios, tecelões, tintureiros acabadores, decoradores, estampadores e assim por diante. Muitas vezes, especializados até mesmo em seus respectivos setores e ligados uns aos outros por meio de um conjunto complexo de transações individuais no mercado. Esse tipo de estrutura comercial apresentava a vantagem de flexibilidade e prestava-se uma rápida expansão inicial e difusão. 1 A localização das indústrias no advento da Revolução Industrial deu-se por vários motivos. Os principais foram às condições físicas locais, tais como natureza, clima e solo, fácil acesso ao mar, facilidades para o comércio ou, ainda, a proximidade da fonte de uma matériaprima essencial, como é o caso da das indústrias metalúrgica inglesas que se localizaram próximas as minas e em regiões que o combustível era mais barato. Alfred Marshall, economista neoclássico, foi o primeiro autor a conceituar as empresas geograficamente concentradas. Segundo ele, a principal vantagem da localização 1 HOBSBAWN, E. Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. São Paulo: Forense-Universitária,1968, p.61.

concentrada era o fato de uma região poder oferecer um mercado constante para a mão-de-obra especializada cuja reprodução de dava de pai para filho, tal como nas corporações de ofício em que os mestres formavam os seus futuros artesãos. Ainda segundo Marshall, a localização elementar das empresas preparou gradualmente o caminho para muitos dos modernos avanços da divisão do trabalho nas artes mecânicas e na tarefa de administração de empresas. Atualmente Michael E. Porter é o autor mais conceituado no estudo das concentrações de empresas locais, que têm várias denominações: clusters (Estados Unidos), aglomerados locais, agrupamentos industriais, distritos industriais (Itália), keiretsu (Japão) cooperação entre empresas. Em qualquer denominação, o fator concentração local de empresas de um mesmo setor econômico é essencial para definir o termo. De acordo com Porter, as concentrações geográficas, ou clusters, incrementam a vantagem competitiva das empresas porque são não somente uma opção que apresenta menor custo, face à proximidade dos fornecedores de insumos, tecnologia, logística e mão-de-obra mas, principalmente, porque é uma opção estratégica que possibilita a cooperação entre empresas correlatas, nas áreas em que a troca de informações entre empresas não inviabiliza a concorrência no mercado doméstico, como Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), sobretudo de novos materiais, design e exportação. Embora tenham surgido com a Revolução Industrial e conceituada por Marshall em 1849, foi somente na década de 90 do século XX, com as idéias de Porter, que os clusters se difundiram globalmente como um sistema econômico e opção estratégica de empresas, principalmente das pequenas e médias, que se aproveitam da sinergia da economia local para ganhar vantagens competitivas que as possibilitam competir com grandes empresas. O motivo desse interesse recente advém do sucesso das empresas localizadas em algumas regiões do mundo que ganharam competitividade global, mesmo produzindo, em alguns casos, produtos de baixo valor agregado como confecções, móveis e artesanato e máquinasferramenta ligadas a estes setores. Exemplos típicos dessas experiências são algumas regiões da Europa (centro, norte e leste da Itália; Baden-Wurttemberg, no sul da Alemanha; Jutland, na Dinamarca e Portugal), nos Estados Unidos (Vale do Silício) e no Japão. Este trabalho aborda a inter-relação entre os consórcios de exportação e a consolidação de um cluster, baseado na experiência brasileira.

A Definição de Cluster Segundo Michael Porter, clusters são concentrações geográficas de empresas e instituições inter-relacionadas de um setor específico. 2 Sob esta visão pode-se afirmar que para haver a formação de clusters, as empresas devem estar localizadas próximas umas das outras e participarem de um mesmo setor industrial, interligadas por dois tipos de relações: 1. verticais: são aquelas que ligam de forma direta e permanente o comprador aos seus respectivos fornecedores. Para haver essa ligação, essas empresas devem estar localizadas em uma mesma região e apresentarem algum tipo de comprometimento, de médio e longo prazo, entre elas; 2. horizontais: as empresas devem participar de um mesmo setor econômico. Por essa razão concorrem pelos mesmos clientes, possuem acesso e tecnologias similares e os mesmos tipos de canais de acesso ao mercado. A estrutura de um cluster de calçados localizado na Itália, na cidade de Firenze, em que se pode observar com clareza a ação destes dois tipos de relações. Nele, as empresas participantes do cluster atuam direta e indiretamente de todo a cadeia produtiva, desde o processo de fornecimento, ao design, à produção e à logística de entrega dos bens aos consumidores. A essência dessa ligação entre as empresas deste cluster calçadista, e de outros clusters italianos, é adquirida por meio da cooperação existente entre elas, que lhes confere eficiência coletiva, independentemente do porte da empresa, e garante ao cluster uma dinâmica econômica que empresas localizadas fora do cluster não atingem. Se as relações verticais e horizontais inter-firmas dentro de um cluster são a base da sua eficiência e dinâmica econômicas, como afirma Porter, do ponto de vista estratégico e organizacional, segundo Humphrey e Schmitz 3, a necessidade da existência dos seguintes elementos facilitadores: 2 PORTER, Michel E. Clusters and the New Economics of Competition. Harvard Business Review Nov- Dec 1998, p. 78. 3 HUMPHREY, J.;e SCHMITZ, H. Trust and inter-firm relations in developing and Transition economies. UD: IDS-Univ. of Sussex, 1998.

1. Divisão do trabalho e da especialização entre produtores A especialização e a divisão do trabalho entre as empresas são requisitos importantes para o funcionamento de um cluster. Em cada etapa do processo de formação do produto principal do cluster, deve haver uma seqüência, desde da compra da matéria-prima até a produção a venda ao consumidor. 2. Fixação da especialidade de cada produtor As empresas devem ter bem definidas suas atividades dentro de um cluster. As empresas que atuavam sozinhas no mercado, geralmente não apresentavam um ramo de atividade definido. Quando as empresas fazem parte de um cluster, elas devem ter uma função especializada definida dentro da cadeia produtiva do produto principal. Essa função deve ser fixada de acordo com o que a empresa faz de melhor. 3. Surgimento de fornecedores de matéria-prima e de máquinas Geralmente os clusters são formados em regiões nas quais a matéria-prima é encontrada facilmente. Como conseqüência há disponibilidade de acesso a fornecedores e com isso seus respectivos complementos, como máquinas e equipamentos. 4. Surgimento de agentes que vendem para mercados distantes Os agentes de exportação cuidam da divulgação, da venda, e da consolidação do produto no mercado externo. Em geral, há empresas especializadas no comércio exterior que gerenciam as vendas internacionais e a sua logística, podendo fazer operações de compra e venda (trading companies 4 ) ou apenas administração terceirizada de exportações (export management companies 5 ). 4 Trading companies são empresas que compram no mercado doméstico e revendem os produtos no mercado internacional 5 Export Management Companies são empresas que atuam como departamento de exportação terceirizado para pequenas e médias empresas.

5.Surgimento de empresas especialistas em serviços tecnológicos, financeiros e contábeis Há necessidade de empresas prestadoras de serviços, tanto em trâmites burocráticos quanto no alcance de novas tecnologias. 6.Surgimento de uma classe de trabalhadores assalariados com qualificações e habilidades especificas De acordo com Marshall 6, os clusters favorecem a classe de trabalhadores tanto no surgimento de novos empregos, quanto na especialização do trabalho. 7.Surgimento de associações para a realização de lobby e de tarefas específicas para o conjunto de seus membros Muitos clusters incluem órgãos governamentais e/ou outras instituições tais como, universidades, agências de padronização, think tanks 7, escolas técnicas e associações de classe que promovem treinamento, educação, informação, pesquisa e suporte técnico. Estes fatores organizacionais são fundamentais na consolidação de um cluster porque são eles que permitem que as empresas participantes tenham, além da sinergia econômica gerada pela localização comum e das suas inter-relações verticais e horizontais, cooperação e troca de informações de uma forma institucionalizada, mitigando os conflitos gerados pela competição no mercado doméstico. Nos clusters, como em qualquer ambiente empresarial, existe a competição que, em alguns casos pode ser levada até ao nível pessoal dos atores econômicos mas, nele, o conflito é institucionalizado de forma a gerar uma dinâmica econômica própria que beneficia a todos, independentemente da atuação individual. Neste sentido, trabalho analisa a importância dos consórcios de exportação em empresas participantes de clusters porque, neles, existe a possibilidade potencial de associação de empresas visando à conquista de mercados externos, ainda que, nos mercados internos, as 6 MARSHALL, A. Princípios da Economia. Trad. Rômulo Almeida. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 320. 7 Think Tanks são empresas que produzem idéias e inovações podendo ser consultorias, institutos de pesquisa, ou universidades públicas ou privadas.

empresas sejam concorrentes em virtude dos potenciais conflitos estarem mediatizados pelas relações e instituições do cluster. A Definição de Consórcios de Exportação Consórcios de exportação são associações de empresas com o objetivo de atuar conjuntamente em mercados internacionais. 8 Vender no mercado externo, principalmente nas pequenas e médias empresas, é um objetivo de longo prazo muito difícil de ser alcançado porque a maioria dessas empresas não dispõe de estrutura financeira, para dispor de um departamento próprio de exportação. Por esta razão, as empresas que se agregam em consórcios de exportação apresentam, regra geral, as seguintes características: 1. São micro, pequenas e médias empresas, por quaisquer critérios de medição do porte adotados; 2. Estão interessadas em cooperarem entre si, com políticas de exportação comuns, apesar de serem concorrentes no mercado doméstico; 3. Pertencem ao mesmo setor econômico, apresentando canais de distribuição semelhantes; 4. Respeitam o compromisso comercial definido entre eles. Os consórcios de exportação podem ser classificados em dois tipos, conforme o critério escolhido, explicados a seguir. 9 1. De acordo com o produto com os quais operam: 1.1 consórcios horizontais: as empresas fabricam uma mesma linha de produtos com diferenciação mínima. Por exemplo: consórcio brasileiro de cachaça. 8 MACIEL, Graccho M.; e LIMA, Leila M. M. Consórcio de Exportação, São Paulo: Aduaneiras, 2002, p. 53. 9 MACIEL, Graccho M.; e LIMA, Leila M. M. Consórcio de Exportação, São Paulo: Aduaneiras, 2002, p. 54.

1.2 consórcios verticais: as empresas exportam indiretamente porque há uma aliança entre fornecedores e fabricantes. Por exemplo: indústria automobilística quando a montadora exporta o veículo desmontado em partes e peças fabricadas pelos seus fornecedores. 2. De acordo com a sua finalidade: 2.1 consórcios de promoção comercial: o consórcio apenas promova o marketing internacional de forma conjunta mas, cada empresa, separadamente, efetiva as suas operações internacionais. Por exemplo: Consórcio de produtos médicohospitalares de Ribeirão Preto. 2.2 consórcios de comercialização: o consórcio não apenas promove como também realiza as operações comerciais, atuando como cooperativas de produtores. Por exemplo: cooperativa dos exportadores de café. Barreiras para a formação do consórcio de exportação De acordo com Nicola Minervine há vários fatores que inviabilizam a criação de um consórcio de exportação, na qual são: 1.Considerar a exportação uma atividade de curto prazo e exigir resultados imediatos. 2. Falta de conhecimento e treinamento de exportadores potenciais (sócios do consórcio) em toda a gama de atividades necessárias para a exportação. 3. Investimento feito sem um plano de ação concreto. 4. O consórcio é visto como uma saída de crise (quando a crise termina, o consórcio termina também). 5. Falta de profissionalismo do gerente do consórcio. 6. Estruturas inadequadas. 7. Insuficiente dimensão dos recursos financeiros. 8. A comunicação do consórcio não segue as regras fundamentais do marketing internacional.

9. Demasiada heterogeneidade no tamanho das empresas participantes (equivale a diferentes interesses e atividades). 10. Não são levadas em conta as diferenças culturais. Segundo Minervine uma das principais causas de fracasso das tentativas de constituição de um consórcio é o extremo individualismo e preocupação de que o outro vai ter mais proveito do que você. Vantagens dos Consórcios de Exportação participantes: Os consórcios de exportação apresentam as seguintes vantagens aos seus 1. Identificação das oportunidades de mercado externo Os consórcios de exportação auxiliam as empresas na captação de clientes externos, por meio de estudos aprofundados dos países e seus respectivos mercados cujos custos são rateados. 2. Analise das necessidades da empresa e definição conjunta do perfil adequado dos potenciais parceiros externos A gerência do consórcio de exportação está habilitada a analisar o potencial exportador das empresas e como elas podem colaborar para a estrutura organizacional do consórcio. Esta análise comum das necessidades das empresas do consorcio de exportação tem o intuito de facilitar a busca de novos parceiros.

3. Identificação dos potenciais parceiros nos mercados internacionais de interesse Pesquisas realizadas pela empresa Export Manager Ltda. 10 sobre o perfil exportador de empresas pertencentes a setores econômicos brasileiros organizados em consórcios de exportação revela que a busca de clientes no mercado externo é a maior dificuldade dos exportadores ou empresas que querem exportar. 4. Assistência à empresa participantes nos pontos críticos da exportação Os consórcios de exportação acompanham todo o processo de exportação, da negociação á efetivação dos embarques visando minimizar eventuais erros que comprometam os negócios internacionais. Além disso, os consórcios de exportação formam uma estrutura que auxiliam a alavancagem das vendas no mercado internacional para pequenas e médias empresas. Por meio dos consórcios de exportação, as empresas tendem à cooperação mútua, mesmo levando em consideração que no mercado nacional elas são concorrentes, haja vista que no mercado externo elas atuam em conjunto. Essa vantagem dos consórcios de exportação, quando organizados setorialmente e num determinado local, podem facilitar a consolidação de um cluster. Clusters e Consórcios de Exportação no Brasil As iniciativas governamentais em andamento nos últimos anos visam não apenas aumentar as exportações mas, sobretudo, ampliar a base de empresas exportadoras, principalmente entre as pequenas e médias empresas, e formar uma cultura exportadora no país. Para concretizar estes objetivos, foi criada, em 1998, a Agência de Promoção de Exportações do Brasil ( APEX ) com a missão de ser uma organização flexível, ágil e capaz de responder às demandas de promoção comercial com ênfase nas pequenas empresas. O principal instrumento da APEX para cumprir a sua missão foram, inicialmente, os chamados Projetos de Formação de Consórcios (PFC) que visam estimular a associação de 10 Na região de Ribeirão preto a pesquisa foi realizada junto ao setor de produtos médico-hospitalares que estão organizados no consórcio chamado BHP (Brazilian Health Products) e da qual o autor deste artigo participou como pesquisador.

empresas com interesse voltado para a exportação e as ações de promoção de exportação dos produtos das empresas consorciadas. 11 No entanto, a experiência demonstrou que apenas a formação de consórcios e o financiamento da promoção comercial dos seus participantes por meio de missões comerciais e feiras no exterior não atingiam o objetivo pleno. Por esta razão, o enfoque passou a ser os chamados Projetos Setoriais Integrados (PSI) cujo objetivo é fortalecer um setor, localizado em uma determinada região ou cidade que estivesse organizado em consórcios de exportação. Tal mudança de perspectiva deu-se por conta da ampliação do conceito de promoção comercial que passou a atingir não apenas o esforço de vendas externo mas também o preparo da empresa e do produto e do setor econômico-alvo ás exigências da competição internacional. Em outras palavras, os consórcios de exportação financiados pela APEX demonstraram que a inserção internacional eficiente exigia a consolidação do cluster onde estivessem localizadas as empresas. Em outras palavras, os consórcios de exportação demonstraram ser um atrativo para a formação da dinâmica empresarial típica de um cluster. Um exemplo típico desse fenômeno é o consórcio de exportação de produtos médicohospitalares de Ribeirão preto, chamado de Brazilian Health Products (BHP). Inicialmente, surgiu como um Projeto de Formação de Consórcio com financiamento da APEX ara participação em feiras e marketing internacional. A dificuldades do mercado externo revelaram que as empresas participantes precisavam adquirir maior competitividade e uma dinâmica econômica típica de um cluster. Por esta razão, recentemente o PFC foi transformado em um Projeto Setorial Integrado com o objetivo de consolidar, em Ribeirão Preto, um cluster médico-hospitalar exportador, tendo em vista que a cidade possui todas as características necessárias como mão-deobra qualificada, forte rede hospitalar e de formação de profissionais do setor de saúde sendo uma referência nacional neste setor econômico. Conclusão 11 AGÊNCIA DE PROMOÇÃO DE EXPORTAÇÕES DO BRASIL. Produtos. Disponível em: http//www.apexbrasil.com.br/produtos.html Acesso em: 07 abr. 2003.

Artigo intitulado Os Tigres brasileiros 12, publicado pela Revista Veja, mostra que algumas regiões do país já atingiram o grau de competitividade econômica que lhes permite competir com sucesso no comércio internacional (ver tabela 1). Tabela 1. Os clusters brasileiros das regiões altamente competitivas pelos padrões internacionais Cidades Clusters Petrolina (PE) Frutas para exportações Rio Verde (GO) Grãos e pecuária São José dos Campos (SP) Aviões ABC Paulista (SP) Automóveis Rio de Janeiro (RJ) Petróleo Concórdia (SC) Industria Agropecuária Novo Hamburgo (SC) Calçados Joinvile (SC) Software Fonte: LIMA, João Gabriel. Os tigres brasileiros. Revista Veja: Economia e Negócios, São Paulo, ed. 1.801, 07/05/03. Eles têm em comum, em primeiro lugar, o fato de serem clusters, conforme a definição que este artigo abordou, isto é, empresas concentradas em uma localidade ou região que operam em um único setor econômico e possuem uma mesma dinâmica empresarial. Em segundo lugar, eles têm em comum o fato de serem altamente competitivos internacionalmente vendendo ao exterior de forma isolada ou consorciada. Finalmente, eles têm em comum o fato, como aborda a Revista Veja de terem consolidado esta competitividade e essa dinâmica econômica quando começaram a atuar conjuntamente para ganhar mercados externos. No caso do cluster de Petrolina, em Pernambuco, as empresas, com o apoio do Sebrae e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desenvolveram tecnologias capazes de induzir a floração, concentrando a colheita em períodos específicos, como o da entressafra no Hemisfério Norte e, dessa forma, terem um diferencial de mercado internacional ao eliminar a sazonalidade deste setor. Um outro exemplo que demonstra o papel dos consórcios de exportação na consolidação de clusters é a experiência recente dos projetos da APEX. Inicialmente, voltadas ao incentivo à formação de consórcios, chegou-se à conclusão que a promoção comercial se inicia 12 LIMA, João Gabriel. Os tigres brasileiros. Revista Veja: Economia e Negócios, São Paulo, ed. 1.801, 07/05/03.

muito antes da venda e termina muito depois dela e, por esta razão, é importante investir no cluster que, em última instância, irá promover a competitividade dos seus participantes. Neste sentido, pode-se afirmar que os consórcios de exportação representam um dos fatores de alavancagem e da estabilidade do cluster porque, pois além de amenizarem a concorrência que ocorre no mercado interno, induzem à formação de uma dinâmica econômica comum a todas as empresas pertencentes ao cluster. Referências Bibliográficas AGÊNCIA DE PROMOÇÃO DE EXPORTAÇÕES DO BRASIL. Produtos. Disponível em: http//www.apexbrasil.com.br/produtos.html Acesso em: 07 abr. 2003. CASAROTO FILHO, N. Rede de Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento Local, São Paulo: Atlas, 1999. HOBSBAWN, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Forense-Universitária, 1968. HUMPHREY, J.;e SCHMITZ, H. Trust and inter-firm relations in developing and Transition economies. UD: IDS-Univ. of Sussex, 1998. LIMA, João Gabriel. Os tigres brasileiros. Revista Veja: Economia e Negócios, São Paulo, ed. 1.801, 07/05/03. MACIEL, Graccho M.; e LIMA, Leila M. M. Consórcio de Exportação, São Paulo: Aduaneiras, 2002, p. 53. MARSHALL, A. Princípios da Economia. Trad. Rômulo Almeida. São Paulo: Nova Cultural, 1996. MINERVINI, Nicola. Exportar: Competitividade e Internacionalização. São Paulo: Makron Books, 1997. NETO, João. A. Redes de Cooperação produtiva e Cluster Regional. Atlas, 2000. PORTER, Michael E. Clusters and the New Economics of Competition. Harvard Business Review Nov-Dec 1998. PORTER, Michael.E. Vantagem Competitiva das Nações, Trad. Waltensir Dutra, Rio de Janeiro: Campus, 1993.