ALUNOS COM DÉFICIT INTELECTUAL: O PROCESSO DE INCLUSÃO NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Ana Paula da Silveira¹; Gislaine Aparecida Marutti¹; Greice Cristina Scatambulo¹; Leila Maria Romão¹; Lorena Serconek Boccato¹; Thalita Crocetta Batistella¹; Yara Cristina Romano Silva². RESUMO: O projeto teve início no ano letivo de 2007 e contou com a colaboração de seis estagiárias do quinto ano de Psicologia do Cesumar - Estágio Supervisionado de Psicologia Escolar, dando seguimento no ano letivo de 2008, com um novo grupo de seis estagiárias. O objetivo foi promover a inclusão de alunos com déficit intelectual (APAE de Maringá) nas séries iniciais do ensino fundamental, através do estabelecimento de parcerias com escolas públicas e privadas e contribuir para formação de professores e a equipe técnica pedagógica das escolas parceiras para enfrentar o desafio da inclusão no contexto educacional. Adotamos como referencial teórico o documento preliminar de 2006 sobre as diretrizes curriculares da educação especial para a construção de currículos inclusivos, que indica a prática da inclusão responsável como um desafio a ser enfrentado pelas instituições especializadas e as escolas regulares, como uma nova forma de repensar e reestruturar as estratégias educativas e criar oportunidades efetivas de acesso para alunos com déficit intelectual às salas do ensino comum, garantindo as condições indispensáveis para que possam manter-se na escola e aprender. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica referente ao tema inclusão, em conjunto com, observações no contexto escolar e intervenções práticas com professores, equipe técnico pedagógica, alunos e pais. Buscamos conhecer como se processa a aceitação desses alunos, tanto por parte de professores, colegas de classe, coordenadores pedagógicos e outros elementos que fazem parte do contexto escolar. O projeto encontra-se em andamento, portanto os resultados são parciais. Palavras-Chave: Inclusão; Alunos; Contexto Escolar. 1 INTRODUÇÃO Segundo dados do documento preliminar (2006) sobre as Diretrizes Curriculares da Educação Especial Para a Construção de Currículos Inclusivos, considera-se a existência de pelo menos, três tendências sobre o modo de pensar e praticar o processo de inclusão, nos sistemas educacionais, que diferem em natureza, princípios e formas de concretização: (1) A inclusão condicional, (2) A inclusão total ou radical e (3) A inclusão responsável. 1 Discente do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Maringá - CESUMAR. g_marutti@yahoo.com.br; greice.scatambulo@bol.com.br; leila.romao@hotmail.com; lorenasboccato@hotmail.com; paula_carioca@hotmail.com; thalitacrocetta@gmail.com; ²Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Maringá - CESUMAR- Maringá - PR. Supervisora do Estágio Supervisionado de Psicologia Escolar. yararomano@cesumar.br.
Na inclusão responsável, o desafio é enfrentado como uma nova forma de repensar e reestruturar políticas e estratégias educativas, de maneira a não apenas criar oportunidades efetivas de acesso para crianças e adolescentes com necessidades educacionais especiais, mas, sobretudo, garantir condições indispensáveis para que possam manter-se na escola e aprender. Adota-se como referencial filosófico dessa política a idéia de que a Inclusão Educacional é mais que a presença física, é muito mais que a acessibilidade arquitetônica, é muito mais que matricular alunos com deficiência nas salas de aula do ensino regular, é bem mais que um movimento da educação especial, pois se impõem como um movimento responsável que não pode abrir mão de uma rede de ajuda e apoio aos educadores, alunos e familiares. (EDLER CARVALHO, 2004). Em consonância com esses princípios é que as acadêmicas do Estágio Supervisionado de Psicologia Escolar se propuseram a dar continuidade em 2008, às ações desenvolvidas no projeto de inclusão responsável, já iniciado no ano letivo de 2007, com o objetivo de promover a inclusão de alunos da APAE nas séries iniciais do ensino fundamental através do estabelecimento de parcerias com escolas estaduais, municipais e privadas e contribuir para a formação de professores e equipe técnica-pedagógica das escolas parceiras para enfrentar o desafio da inclusão no contexto educacional. Esse projeto visou proporcionar a compreensão do papel da escola especial, bem como do ensino regular nos fenômenos inclusivos de alunos com déficit intelectual; promover o debate a respeito das dificuldades da escola, dos professores, dos alunos e de seus familiares sobre as implicações emergentes do processo inclusivo; se propôs a investigar como esses alunos vêm sendo aceitos na comunidade escolar e propor alternativas e intervenções coletivas para melhorar a prática docente, a relação professor aluno diante do processo inclusivo. Entendemos que uma inclusão responsável requer a constante avaliação da qualidade dos serviços prestados, seja em escolas comuns, seja em escolas especiais. Acreditamos que os profissionais de ambos os contextos de ensino possuem experiência acumulada em suas áreas de atuação que devem ser mutuamente valorizadas. Dessa forma, estamos propondo um trabalho conjunto e interligado que se concretize interdisciplinarmente. Assim como a SEED/DEEIN (Secretária do Estado e da Educação do Paraná/Departamento de Educação Inclusiva), acreditamos que a inclusão responsável, gradual e assessorada, respeita o direito constitucional da pessoal com necessidades educacionais especiais e de sua família, na escolha da forma de educação que melhor se ajuste às suas necessidades, circunstâncias e aspirações, promovendo, assim, um processo de inclusão responsável e cidadã (MATISKEI, 2004). Em março do corrente ano, enviamos ofício informando a chefia NRE/SEDUC sobre a parceria firmada entre a Escola de Educação Especial Diogo Zuliani Sede e o Colégio Estadual Theobaldo Miranda Santos, com relação ao desenvolvimento do projeto de inclusão responsável de alunos com déficit intelectual nas series iniciais do ensino fundamental. Ho je, reportamonos para informar sobre os resultados alcançados ao final do ano letivo de 2007. Ressaltamos que alguns alunos por iniciativa de suas famílias, já haviam buscado a inclusão de seus filhos em escolas estaduais e/ou municipais próximas de sua residência e que acabaram sendo beneficiadas e inseridas no
projeto. Alguns Centros Municipais de Educação Infantil acabaram inseridos no projeto, apesar de que de longa data já atendiam crianças na faixa etária de 0 a 6 anos e sempre receberam apoio e orientações quando se fez necessário, sendo uma parceria que proporcionou avanços no desenvolvimento dos alunos beneficiados. METODOLOGIA O Projeto de Inclusão Responsável ocorreu de março a novembro de 2008, assessorando duas escolas estaduais; duas escolas particulares. Foram acompanhados 10 (dez) alunos, destes 7 (sete) encaminhados para o Projeto de Inclusão através do conselho de classe realizado em novembro de 2007, e 3 (três) por iniciativa da família. Estes alunos freqüentam um período na escola especial, recebendo atendimento educacional na sala de apoio com professor especializado, e no contra-turno a escola regular, na classe comum nas séries iniciais do ensino fundamental. Inicialmente foi realizado um levantamento de dados de cada aluno nas pastas individuais dos setores: pedagógico, psicológico, social, médico, fonoaudiológico e fisioterápico. Realizaram-se observações nos dois contextos escolares onde os alunos estavam inseridos APAE e ensino regular utilizando-se dos referenciais dos protocolos de observação e análise indicados por Eulália Bassedas e cols (2000); entrevistas com professores de ambos os contextos; participação em reuniões de conselho de classe na instituição especializada; participação em reuniões com escolas municipais e estaduais, e escolas particulares para apresentação das ações a serem praticadas no projeto; encontros para troca de experiências e orientações com a presença das professoras das duas escolas; reavaliação psicoeducacional dos alunos participantes do projeto para auxiliar nas discussões e encaminhamentos que serão dados no conselho de classe que ocorrerá em dezembro, traçando possibilidades educacionais para o ano letivo de 2009. O trabalho de encontros com as famílias dos alunos participantes do projeto, não ocorreu conforme o planejado durante o estágio, porém, haverá um encontro de orientação aos pais após a finalização do conselho de classe da escola especial em dezembro. RESULTADOS E DISCUSSÃO A intenção das ações elaboradas no projeto de inclusão, era promover o assessoramento às escolas municipais, estaduais e particulares através de encontros mensais de orientação e troca de experiências entre os professores e as equipes técnica-pedagógica do ensino regular e especial, no entanto, a parceria somente ocorreu com escolas estaduais e particulares, pois as municipais dependiam de um aval da SEDUC (Secretária Municipal de Educação), dificultando a realização dos encontros. Inicialmente, eram 32 (trinta e duas) escolas, 28 (vinte e oito) municipais, 4 (quatro) estaduais, 3 (três) particulares, destas foram tivemos a possibilidade de assessorar de forma mais direta as relacionadas abaixo: Série Nº alunos incluídos Escolas Parceiras *Resultados Parciais 1ª 2 particular A definir 2ª 4 estadual A definir
3ª 4 estadual A definir *Os resultados indicativos para o ano letivo de 2009 serão discutidos pelas equipes da APAE e das escolas envolvidas, em um conselho de classe que ocorrerá em dezembro. Há evidências de que os alunos serão promovidos para séries posteriores, uma vez que, apesar das dificuldades pedagógicas, apresentam condições de dar continuidade ao processo educacional, desde que lhes sejam oferecidos os apoios e as adaptações que atendam as suas necessidades educacionais. Stainback (1999) afirma que não basta reconhecer que existem pessoas com necessidades especiais e que elas têm direitos de ter acesso à escola. É necessário que sejam aceitas e que a escola se modifique, que busque caminhos para responder às necessidades educativas de todos os alunos. Questiona-se, porém, como elas vêm sendo aceitas na comunidade escolar. Foi buscando conhecer como são percebidas e aceitas no contexto escolar, que desenvolvemos uma investigação. Em relação à forma como os professores procedem com os alunos inclusos, eles enfocaram em suas respostas os vários tipos de alunos que apresentam deficiências e dificuldades de aprendizagem e, não apenas os alunos oriundos da APAE. Verificou-se que os professores procedem com esses alunos de forma similar a como agem com os demais alunos, utilizando-se das mesmas situações de ensino - aprendizagem, dos mesmos recursos pedagógicos, não realizando adaptações curriculares para atender as necessidades educativas especiais dos alunos participantes do projeto. Observou-se que as maiorias dos professores envolvidos no projeto, não buscam dedicar mais tempo e atenção aos alunos inclusos, apenas procuraram desenvolver com eles os mesmos trabalhos oferecidos aos demais, não atendendo as dificuldades específicas de cada um. Em muitos momentos das observações os alunos inclusos foram vistos nos corredores, saíam com freqüência da sala de aula sem serem notados, e na sala de aula, mantinham-se ocupados com jogos e brinquedos que não faziam parte da atividade escolar do momento, não havendo qualquer tipo de intervenção por parte das professoras. Contudo, a impressão que os professores quiseram passar é de que aceitam, de que estão dispostos a colaborar e concordam com o processo inclusivo, e que tratam os alunos de forma igualitária, porém, nas observações identificou-se que o discurso é um, mas não é coerente com a sua atuação na sala de aula. Em relação à aceitação dos alunos inclusos, existem atitudes positivas, por conviverem no mesmo contexto, e muitas vezes se processa de forma natural e sem discriminação, mas as observações revelaram que os alunos inclusos se relacionam com maior freqüência entre si, nas atividades grupais, no recreio, em função de que constantemente eles são expostos às situações de rejeição, exclusão, discriminação e preconceito, através de comentários, bilhetes recebidos dos outros alunos, apelidos denegrindo a imagem dos mesmos (como: bobos da APAE ). Em geral, os outros alunos se aproximam dos inclusos, motivados pela curiosidade de saberem sobre a APAE e a diferença que eles apresentam se comparados aos demais. Notou-se que as escolas particulares se diferenciam na maneira como lidam com os alunos inclusos, em termos de metodologia, relacionamento, acolhimento, aceitação, o que indicou que estão em melhores condições físicas, materiais e humanas para recebê-los, se comparadas as escolas públicas. No entanto, ressalta-se que a clientela de inclusão tem menos
condições sócio-econômicas de terem acesso a esse contexto. Observou-se que em vários momentos do desenvolvimento do estágio, ocorreram diversas situações envolvendo os alunos inclusos, e a atitude da escola regular foi a de se reportar a APAE, para que esta realizasse as intervenções necessárias, inclusive deixando claro que os alunos apesar de estarem inseridos neste contexto, continuam sendo alunos da APAE, não assumindo a responsabilidade de os terem como alunos, exatamente como os demais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluiu-se que a inclusão responsável é uma proposta viável para fazer a transição de alunos inseridos nas instituições especializadas no contexto do ensino regular, dando a eles a oportunidade de darem prosseguimento a sua vida escolar, diferentemente do que defende o MEC, através da inclusão radical, não levando em consideração as dificuldades de adaptação do aluno e da escola, os aspectos emocionais e psicológicos dos alunos que serão de forma abrupta e sem possibilidade de escolha, inclusos no contexto regular, se a proposta do governo for implantada de forma efetiva. É inegável a necessidade de ambos os contextos, especial e regular, promoverem trocas de experiências que possam favorecer quanto ao planejamento das atividades e intervenções necessárias para que o aluno especial se adapte as exigências do ensino regular, e que seja garantida a sua efetiva aprendizagem. A prática no contexto escolar proporcionou um contato direto com a realidade da inclusão e a necessidade da atuação de um profissional da psicologia para mediar o processo inclusivo junta à equipe, professores, alunos e outros segmentos da escola, com o intuito de desenvolver atitudes mais assertivas, adequadas e efetivas que promovam a ressignificação e humanização da concepção da comunidade escolar em relação aos alunos com necessidades educativas especiais. Contudo, um longo caminho foi percorrido nas várias escolas envolvidas no projeto, porém, existem barreiras e preconceitos requerendo um maior investimento na atuação da comunidade escolar, o que mostra que a inclusão tem ainda muito a avançar. REFERÊNCIAS STAINBACK, Susan Stainback, William. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed, 1999. CARVALHO, Rosita Edler. Removendo Barreiras para a Aprendizagem. Porto Alegre: Mediação, 2004 MATISKEI, Angelina Carmela R. Mattar. Diretrizes curriculares da Educação Especial para construção de currículos inclusive.paraná 2004. BASSEDAS, Eulália e cols. Intervenção Educativa e diagnóstico psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed,2000.