PROJETO IURUPARI GRUPO DE TEATRO: A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO FAZER TEATRAL

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Transcrição:

PROJETO IURUPARI GRUPO DE TEATRO: A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO FAZER TEATRAL Área temática: Cultura Giulia Sara Diana Neves Silva¹; Larissa Cristiane Araujo Monteiro²; Leandro Pansonato Cazula³ Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA); ¹Estudante do Curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciências das Águas BICTA giulianeves.infoed@gmail.com; ²Estudante do Curso de Bacharelado em Arqueologia ICS larissa17monteito@gmail.com; ³Professor Assistente Geografia leandrocazula@gmail.com Resumo: A proposta do Projeto Iurupari Grupo de Teatro Núcleo de Crianças e Adolescentes ocorre nas dependências da Universidade Federal do Oeste do Pará UFOPA Campus de Santarém no ano de 2016, e objetiva promover a inserção da universidade no processo de desenvolvimento cultural dos participantes com a elaboração de oficinas e jogos teatrais. A junção de crianças e adolescentes, por meio de ações teatrais no âmbito acadêmico, viabiliza uma melhor interação da universidade com a comunidade externa proporcionando as crianças um aprendizado que as ajuda a desenvolver sua liberdade pessoal, criatividade, melhor comunicação com a sociedade e habilidades pessoais necessárias para o jogo. A formação de um grupo de pessoas, no caso crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos, dispostas ao fazer cênico, trás para a rotina delas uma vontade de exercer o fazer teatral entre si e futuramente se empenharem para apresentações teatrais. As atividades exercidas ajudam os participantes tanto no fazer teatral quanto em sua função social, melhorando seus relacionamentos com as pessoas de seu ciclo social, com o espaço que ocupam e uma desenvoltura para expressar suas próprias idéias e ideais. Palavras chave: Artes cênicas, formação, teatro

1. Introdução IU-RU-PARI: colocar uma máscara no próprio rosto. Conta-se em um antigo mito Tupi que Jurupari, tradução em nheengatu de Iurupari, é um deus da cultura dos povos indígenas, centrado nas proximidades do Rio Negro Amazonas, descrito como demônio e espírito mau. Segundo Constant Tastevin (1880-1958, apud: FAULHABER, 2011), o nome Jurupari pode corresponder ao nome próprio de um antigo legislador índio, de quem conservam ainda os usos, leis e tradições lembradas nas danças mascaradas de Jurupari. O nome, segundo esse autor, parece significar máscara, pari, da boca ou do rosto: IU-RU-PARI: meter um pari no próprio rosto. Neste sentido, o Projeto Iurupari Grupo de Teatro UFOPA Santarém pretende que seus integrantes compreendam a essência teatral de literalmente colocarem a máscara em seus rostos. O projeto existe desde 2015, e neste ano de 2016 possui dois Núcleos Formativos, um de Crianças e Adolescentes (10 a 15 Anos) e outro de Jovens e Adultos (acima de 16 anos), aberto gratuitamente aos interessados, internos e externos a Instituição de Ensino Superior IES. A proposta promove a inserção da universidade no processo de desenvolvimento cultural dos participantes com a elaboração de oficinas e jogos teatrais direcionadas à integração dos mesmos à produção artístico-cultural e, posteriormente, com as apresentações artísticas para a comunidade. O principal fundamento do Projeto Iurupari é trabalhar fluentemente para a elaboração de Espetáculo e Esquetes Teatrais, Atividades Culturais e Recreativas, Eventos do Setor Cultural, para serem destinados e desenvolvidos à comunidade em geral.

Imagem 1: Logo do Projeto Autoria: Paulo Cesar Nascimento 2015. Fonte: Acervo Projeto Iurupari 2016. A proposta de criação do Núcleo formativo para Crianças e Adolescentes se baseia na ideia de que o jogo cênico fundamenta todo o processo teatral. São incontáveis as vantagens se trabalhar o teatro com crianças e adolescentes, apesar de o fazer artístico ser tratado como algo supérfluo, segundo a pedagogia original de Rousseau o jogo tem fundamental importância no processo de aprendizado das crianças que a partir destes, desenvolvem a liberdade pessoal dentro do limite de regras estabelecidas criando técnicas e habilidades pessoais necessárias para o jogo (JAPIASSU, 2003). A linguagem teatral é a linguagem humana por excelência, e a mais essencial. A ideia de que todos podem atuar causa uma motivação aos que se dispõem aos jogos, resultando no desenvolvimento da criatividade, através dos exercícios musculares, sensoriais, de memória, de imaginação e de emoção, propostos por (BOAL, 2000) no capítulo A estrutura de interpretação do ator (p. 57-84). Não existe apenas um caminho para o trabalho cênico com crianças e adolescentes, o teatro infantil apresenta duas modalidades bases possibilitando, a partir destas, inúmeras ramificações: o teatro com uma função pedagógica, visão que historicamente já vem sendo abordada, referindo-se ao desenvolvimento da criança na

realização de atividades de teatro e a outra dimensão que tem sido analisada é o teatro como uma atividade artística, a história do teatro como uma história da cultura. O teatro passou a ser levado à criança assumindo o seu papel como obra de arte, como atividade artística que expressa o homem e os seus sentimentos. A partir da segunda metade do século XX, com o fortalecimento de uma educação através da arte, o teatro e sua dimensão pedagógica, começaram a ser pensados de forma mais eficaz e intensa em diversos setores da sociedade (JAPIASSU, 2003). A inserção de jogos teatrais e brincadeiras lúdicas, à rotina das crianças, fazem com que haja um desenvolvimento não só na percepção de mundo-espaço como também na criatividade e imaginação. A proposta baseia-se, em partes, na estrutura de jogos mencionados por (KOUDELA, 1984). As abordagens dos jogos seguem uma linha pedagógica que consiste basicamente na assimilação da linguagem teatral e das artes com o cotidiano. A autora ainda ressalta a importância que os jogos teatrais possuem na formação de um caráter social por se basearem em problemas a serem solucionados. As regras do jogo incluem a estrutura (onde, quem, o que) e o objeto (foco) mais o acordo de grupo (KOUDELA, 1984, p.43). 2. Material e Metodologia O desenvolvimento deste artigo baseia-se em estudos bibliográficos e na realidade vivida através do Projeto Iurupari Grupo de Teatro Núcleo de Crianças e Adolescentes neste ano de 2016. Boal (2000) deixa claro que todos os seres humanos são atores, porque agem, e espectadores, porque observam. O jogo teatral é um termo para designar qualquer estrutura de atividade que possa ser utilizado no teatro, seja dramático ou mesmo na forma de esporte ou de brincadeiras. Representar um personagem é também colocar-se no lugar de outro, é criar possibilidades de trabalhar e compreender a diversidade, as diferenças, as semelhanças, o ser e o vir a ser; é poder perceber a si e ao outro como sujeitos no mundo, como agentes de transformação da sociedade (COURTNEY, 1990).

A diretora teatral norte-americana Viola Spolin é a grande propulsora dos jogos teatrais para fins de preparação de atores profissionais ou na utilização do ensino de teatro para iniciantes ou dentro da escola. Essa parte, de preparação dos participantes, será desenvolvida com exercícios extraídos de KOUDELA (1984; 2001), PEIXOTO (1982), BENTLEY (1981), RUGNA (2009), BOAL (2000) que são livros disponíveis na biblioteca do Campus Rondon da UFOPA ou no acervo pessoal do coordenador da atividade, e as atividades são de fácil entendimento e bem práticas para este processo. Segundo Rugna (2009), (...) praticar a arte é ir além do aprendizado cênico. É um aprendizado para a vida, um recurso que trás inúmeros benefícios á formação intelectual, ética, moral e social da criança. A leitura de várias linhas de pensamento sobre o universo teatral nos proporcionou conhecimento para entender como a arte está vinculada a vida das crianças e adolescentes. 3. Resultados e Discussões A partir da concessão de bolsas para discentes da IES UFOPA, pelo Programa Institucional de Bolsas de Extensão PIBEX (2015/2016) e do Processo de seleção de propostas para Bolsas de Extensão Universitária em Arte e Cultura (2016), efetivaram-se duas acadêmicas, já inseridas no respectivo projeto teatral desde 2015, como membros efetivas na execução da proposta. Estas, no corrente ano, se responsabilizaram para a efetivação do Núcleo de Crianças e Adolescentes, que amplia as ações do Projeto Iurupari Grupo de Teatro, que até então era apenas direcionado para participação de jovens e adultos, em encontros semanais aos sábados. Desta forma, as bolsistas, foram dispondo-se às leituras e estudos específicos, além da básica vivência no cenário teatral, e assim concretizou-se a proposta de um projeto direcionado ao público infanto-juvenil no ano de 2016. As atividades ocorrem nas dependências do Auditório Wilson Fonseca Campus Rondon da Universidade Federal do Oeste do Pará UFOPA de Santarém, desde março. Os encontros do Núcleo de Crianças e Adolescentes são desenvolvidos as terças e quintas feiras, das 14h às 17h para crianças e adolescentes a partir dos 10 anos e até os 15 anos de idade.

Inicialmente houve certo receio quanto à fluidez do núcleo, mediante a possibilidade de não haver interesse dos (as) inscritos (as), pois seria uma experiência nova, e assim foi apresentada a expectativa de se desenvolver vários possíveis resultados, independente da forma como estes fossem concebidos. No entanto o número de inscritos teve resultados satisfatórios, bem como o interesse destes, o que nos possibilitou a construção de um grupo, hoje composto por aproximadamente 17(dezessete) crianças e adolescentes (Imagem 2). No decorrer do projeto com a metodologia de aplicação de jogos teatrais, que adveio de estudos bibliográficos, elaboração e ministração de oficinas e as atividades trabalhadas antes do inicio dos trabalhos com as crianças e adolescentes do núcleo, os objetivos da proposta puderam ser aos poucos concretizados. As bolsistas são responsáveis pela integração do grupo, sendo essa etapa, parte da formação do núcleo de trabalho, que é o enfoque inicial do processo e percorrerá todo o projeto. É de extrema importância para o desenvolvimento da noção de como trabalhar em grupo, mais ainda se tratando de um grupo de teatro, tendo paulatinamente a descoberta das potencialidades criativas pessoais, diante do exercício de sua expressividade nas várias etapas do processo. Imagem 2: Foto de encontro de Formação do Núcleo de Crianças e Adolescentes. Fonte: Acervo Projeto Iurupari 2016.

Tais atividades são apresentadas e desenvolvidas durante os encontros a partir de um roteiro base, preparado com uma sequência de jogos previamente selecionados e adequados a realidade possível dos alunos. Os participantes, ainda que crianças e adolescentes desenvolvem a liberdade pessoal dentro do limite de regras estabelecidas e criam técnicas e habilidades pessoais necessárias para o jogo teatral. Ao passo em que se interiorizam essas habilidades e essa liberdade ou espontaneidade, ele se transforma em um jogador criativo. A improvisação de uma situação em que o personagem encontra-se no palco tem que ter uma organização própria advinda dos atores, tendo o jogo como auxílio para tal desenvoltura. O projeto, bem como o núcleo das crianças e adolescentes, tem como enfoque as apresentações ao público, mediante a alguma proposta cênica, que será trabalhada no decorrer dos encontros. Sob esse aspecto, serão feitas apresentações que visam atender a um público variado, que tanto podem ser da própria universidade como da comunidade. Como resultado deste artigo pretendeu-se mostrar a proposta de realização de um núcleo de teatro na extensão universitária, direcionado ao público infanto-juvenil, evidenciando discussões e possibilidades de se trabalhar a arte teatral com crianças e adolescente, visto tamanha magnitude da contribuição do teatro-infantil no desenvolvimento da criança. Apesar de não haver uma ligação direta de crianças e adolescentes com o meio acadêmico incorporá-los a um contexto cultural, como proposto pelo núcleo, pôde viabilizar uma melhor interação da universidade com a comunidade externa. A formação do grupo de teatro dentro da universidade, com a participação de crianças e adolescentes da comunidade externa a IES, está sendo uma realidade no âmbito universitário da UFOPA (Imagem 3), trazendo uma rotina diferenciada das demais, na qual a diversidade de jogos e as oficinas teatrais que são aplicadas aos participantes os motivam, tanto no meio teatral como no seu dia-a-dia..

Imagem 3: Foto de encontro de Formação do Núcleo de Crianças e Adolescentes Fonte: Acervo Projeto Iurupari 2016. Com o desenvolvimento da proposta do Núcleo de Crianças e Adolescentes no Projeto Iurupari Grupo de Teatro, os participantes realizam um ato de entrega e de submissão ao ofício de ser ator/atriz. Isso acontece quando a pessoa empresta braços, pernas, olhos e cordas vocais a sua personagem. O trabalho do ator passa fundamentalmente pela preparação de seu instrumental cênico, o corpo, que inclui a voz e emoção. Todos os nossos atos, mesmo os mais simples, aqueles que estamos acostumados em nosso cotidiano, são desligados quando surgimos na ribalta, diante de uma platéia de mil pessoas. Isso é por que é necessário se corrigir e aprender novamente a andar, sentar, ou deitar. É necessário a auto reeducação para, no palco, olhar e ver, escutar e ouvir. (STANISLAVSKI, 1997, p.112) O projeto resiste à idéia de que a pretensão do núcleo seja de transformar os participantes em futuras estrelas do mundo artístico, sendo que o foco é de colocá-los a par da realidade do teatro, auxiliando a descoberta do seu relacionamento consigo e com os outros. Um relacionamento de grupo saudável exige um número de indivíduos trabalhando interdependentemente para completar a execução de todo o processo proposto pelo núcleo, com total participação e contribuição pessoal. A arte de fazer teatro trás para a criança um despertar de sua criatividade e a torna mais comunicativa com o mundo ao seu redor. É perceptível que o teatro está vinculado a vida das crianças, ainda que elas não tenham intenção de atuar. Em síntese,

o teatro contribui para o desenvolvimento da expressão e comunicação e favorece a produção coletiva de conhecimento da cultura, seja ele no valor estético ou educativo. A apresentação teatral será o resultado do trabalho dos atores/atrizes e de outros integrantes do projeto, cujo talento e competência a arte da dramaturgia depende para atingir seu objetivo, e como este é o de levar uma mensagem em um trabalho artístico unificado, para que seja de fato teatro, este necessita da presença e do interesse dos espectadores. No teatro, um desempenho de sucesso é a que consegue a harmonia perfeita entre todos esses elementos. Até o momento algumas atividades foram realizadas a fim de proporcionar visibilidade ao projeto: - APRESENTAÇÃO CÊNICA A CORUJA No dia 18 de Março de 2016 (Imagem 4). A apresentação foi à primeira atividade dirigia a um público externo aos participantes do núcleo, ocorrida no Hall da UFOPA. O elenco foi composto pelos integrantes: Amanda Mercedes Fernandes Carneiro; Hellen Victória de Sousa Wenzel; Kêmily Maisa Sousa dos Santos; Maysson Julio Gomes Nogueira; Nathaly Sabrine de Sousa Silva e Rodrigo Patrique de Sousa Wenzel. Atingi-se um público aproximado de 100 (cem) pessoas, presentes no local de apresentação. Imagem 4:Foto de Apresentação A Coruja 18/03/2016. Fonte: Acervo Projeto Iurupari 2016.

- INTERVENÇÃO CÊNICA No dia 7 de Abril de 2016 o núcleo apresentou uma sequência de jogos teatrais, instigante aos princípios de inserção do ator/atriz ao espaço cênico e percepção de corpo e voz; teve como base os jogos: Tocpatoc; 8-1; Apresentação exagerada, pulo e nome; Epô e tataiê; Bacia; A velha a fiar, destinadas ao público/espectador (Imagem 5). O elenco foi composto pelos integrantes: Alessandro Coutinho Taglieber; Amanda Mercedes Fernandes Carneiro; Ariel Aleixo de Sousa; Aurilene Regina dos Santos Fonseca; Carlos Henrique Silva de Almeida; Cristian Renato Fonseca Pereira; Gustavo Aleixo de Sousa; Hellen Victória de Sousa Wenzel; Maysson Julio Gomes Nogueira; Naielly Cristina de Sousa Vasconcelos; Nathaly Sabrine de Sousa Silva; Rodrigo Patrique de Sousa Wenzel; Sâmilly Sousa da Silva. A direção foi das discentes: Giulia Neves e Larissa Monteiro. Atingindo um público aproximado de 25 (vinte e cinco) pessoas, presentes no local de apresentação.

Imagem 5:Foto de Intervenção Cênica 07/04/2016. Fonte: Acervo Projeto Iurupari 2016. O engajamento, dos participantes, nas atividades desenvolvidas flui espontaneamente. As atividades lúdicas com regras propiciam a assimilação entre as ações cotidianas com o jogo teatral, consolidando o conceito social de cooperação, desenvolvendo na criança um comportamento que vai muito além de uma preparação de um ator-mirim para o mercado profissional, antes se prioriza o crescimento pessoal e seu desenvolvimento cultural. 4. Conclusão Em virtude do que foi mencionado neste artigo, observa-se que o teatro pode ser encarado de muitas formas, como um meio de diversão, trabalho ou como arte. Antes de qualquer coisa o teatro é um instrumento de comunicação, seja para aqueles que trabalham com isso ou para crianças e adolescentes que tiveram seu primeiro contato com o mundo cênico. A proposta apresentada visa antes de qualquer coisa possibilitar aos seus integrantes a autonomia de transmitir uma idéia, seja ela sua ou a de um todo, para um público. A comunicação se dá na medida em que se tem um transmissor e um receptor. Cabe ao público o papel de receptor ativo, já o papel de transmissor, no teatro, se dá através de vários elementos, sendo o mais importante destes elementos é o Ator e a Atriz, que comunica uma idéia ou uma emoção através de sua voz ou corpo.

A idéia da formação de um grupo teatral em consonância com a proposta do núcleo de crianças e adolescentes tenta inserir no cotidiano dos participantes uma compreensão do que é arte e a separação do ator-artista do ator de palco, que se da através do contexto vivido na iniciação teatral. Propiciando assim uma vivência pratica do teatro como uma linguagem e um canal de expressão e comunicação. Considerando-se a consolidação da proposta, os integrantes começam a trilhar um caminho descobrindo a si mesmo e a sua função social no meio em que está inserido, desenvolvendo assim sua capacidade de se expressar e criar. Àqueles que por ventura vierem a prestigiar os resultados finais, proporcionaremos cultura através de um universo que pode ser explorado de infinitas maneiras, seja através de apresentações fictícias ou retratando a vida real, comédias ou dramas, literários ou históricos. Com base nos estudos bibliográficos realizados e a rotina dos encontros, já foi possível explorar as potencialidades individuais dos participantes e estimulá-los a uma maior introdução do indivíduo na sociedade enquanto ser único, mas inserido num grupo. Formar um grupo de teatro na universidade é o impulso inicial para a criação e o desenvolvimento do projeto; tendo em vista as possibilidades que cada ser pode alcançar, ainda mais quando inserido no meio universitário, onde suas potencialidades são constantemente exigidas, e perante o teatro, ainda mais. O teatro só se concretiza com essa inter-relação com o público e é, portanto, de fundamental importância para a compreensão do teatro como linguagem artística. Motivando os participantes do projeto a darem continuidade na metodologia teatral, transmitindo seus conhecimentos e experiências vivenciadas em suas atividades cotidianas, podendo até, talvez, serem novos idealizadores de formação de grupos teatrais. Ao público se proporciona uma atividade cultural que é cada vez mais escassa da proximidade de pessoas que não tem acesso e nem condições de participarem desses momentos em seu dia-a-dia, levando a eles todas as possibilidades de viagens por esse universo do mundo teatral.

5. Referências BENTLEY, Eric. A experiência viva do teatro. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. BOAL, Augusto.200 exercícios e jogos. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1979.. Jogos para atores e não atores. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2000. COURTNEY, R. Drama and intelligence: a cognitive theory. Montreal: McGill- Queen s University Press, 1990. FAULHABER, Priscila. Nos varadouros das representações: Redes etnográficas na Amazônia do início do século XX. Revista de Antropologia, SP, USP, 1997, V. 40 nº2. Projeto Tradução Cultural Dez. 2011 JAPIASSU, Ricardo, Metodologia do ensino de Teatro. Campinas: Papirus. 2003 KOUDELA, Ingrid Dormiem. Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1984. MAGALDI, Sábato. Iniciação ao teatro. São Paulo, 1965. NOVELLY, Maria C. Jogos teatrais para grupos e salas de aula. Trad. de Fabiano Antonio de Oliveira. Campinas, SP: Papirus, 1996. PEIXOTO, Fernando. Teatro oficina (1958-1982): Trajetória de uma rebeldia Cultural. São Paulo: Brasiliense, 1982. RUGNA, Betina, Teatro em sala de aula: guia prático para o professor. 1.ed. São Paulo: ALAÚDE. 2009. STANISLAVSKI, Constantin. A Preparação para o Ator. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.