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Transcrição:

6 A PESQUISA DE CAMPO: OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Neste capítulo, apresenta-se a pesquisa qualitativa realizada junto a 10 psicólogos clínicos a respeito do cliente masculino na clínica psicológica. Inicialmente, descrevem-se os objetivos que nortearam a investigação, para, em seguida, relatar os procedimentos metodológicos utilizados. 6.1 Objetivo As recentes transformações nas relações de gênero suscitaram muitas mudanças, as quais repercutem na clínica de alguma forma. Considerando a recente problematização da masculinidade e a pouca bibliografia nacional sobre o tema, buscou-se investigar o cliente masculino e como ele tem reagido as essas mudanças, segundo o olhar do psicólogo clínico. Mais especificamente, buscou-se investigar o que tem levado os homens aos consultórios psicológicos, assim como possíveis variações nas demandas nos últimos tempos; se há peculiaridades na clientela masculina e quais são elas; quais são as principais queixas e questões da clientela masculina no âmbito das relações amorosas, familiares e de trabalho; como eles têm lidado com as recentes mudanças nas relações de gênero; qual a percepção dos psicólogos clínicos sobre gênero e sobre as recentes mudanças nas relações de gênero. 6.2 Procedimentos metodológicos Realizou-se uma pesquisa qualitativa em psicologia clínica, optando-se por utilizar o Método de Explicitação do Discurso Subjacente (MEDS), desenvolvido por Ana Maria Nicolaci-da-Costa. Trata-se de um método qualitativo que, assim como os demais, tem o amplo objetivo de ouvir detalhadamente aquilo que, em contextos naturais e da forma mais livre possível, os entrevistados têm a dizer.

156 Porém, o MEDS, criado de modo a subsidiar as pesquisas em psicologia clínica, tem como objetivo distinto trazer à tona transformações e conflitos psicológicos que muitas vezes estão implícitos no discurso do entrevistado (Nicolaci-da-Costa, no prelo). De forma resumida, é possível dizer que o MEDS visa identificar diferentes opiniões, crenças, experiências, reações, sentimentos e conflitos conscientemente e inconscientemente explicitados pelos entrevistados em seus depoimentos. Diante desta abordagem, propõe-se a utilização de um foco preciso para a investigação em profundidade, e a utilização de um grupo reduzido de sujeitos (em torno de 20) com um perfil semelhante, recrutados a partir de definição prévia e cuidadosa de um conjunto de características relevantes aos objetivos da investigação. Tendo como matéria-prima para análise dos dados o material discursivo colhido durante a pesquisa, o MEDS prioriza a expressão livre e espontânea dos sujeitos em ambientes de investigação que lhes sejam familiares. Por isso, os instrumentos para coleta de dados são construídos de forma personalizada em função da característica do grupo de sujeitos, dos objetivos da investigação e do ambiente no qual esta se dá. Independentemente do instrumento escolhido (questionário, roteiro de entrevista, etc) e do ambiente a ser aplicado (rua, consultório, etc) sua estrutura deve ser flexível o suficiente para permitir a livre expressão de diferentes pontos de vista a respeito das questões investigadas. Sendo assim, privilegiam-se questões abertas em detrimento das questões objetivas ou de múltipla-escolha. Algumas coordenadas gerais para as várias etapas do processo de investigação são oferecidas pelo MEDS, aliando flexibilidade e sistematização. Inicialmente, sugere-se a elaboração dos critérios de recrutamento do grupo de sujeitos participantes, buscando-se um perfil de alta-definição. Em seguida, realiza-se a construção do instrumento e sua testagem por meio de um estudopiloto, procedendo-se a coleta de dados propriamente dita. Por fim, através de técnicas de análise do discurso realiza-se a analise dos dados coletados, visando detectar as principais categorias recorrentes no discurso dos sujeitos da pesquisa. Considerando as coordenadas acima, segue o relato de como o MEDS foi aplicado no contexto específico desta pesquisa. Assim sendo, apresenta-se todo o procedimento de realização do estudo de campo, desde a definição dos sujeitos até

157 a análise dos dados coletados. 6.2.1 Sujeitos da pesquisa 6.2.1.1 Critérios de seleção dos sujeitos Por se tratar de um estudo de gênero, o primeiro critério estabelecido para a seleção dos sujeitos foi seu sexo, ou seja, buscou-se selecionar sujeitos de ambos os sexos e na mesma proporção. Assim sendo, entrevistaram-se cinco (5) mulheres e cinco (5) homens. Sendo uma investigação no âmbito da clínica psicológica, optou-se por realizar a entrevista somente com sujeitos graduados em psicologia. Desta forma, emergiu a segunda categoria de recrutamento, a formação acadêmica. Na clínica psicológica existem diversas abordagens teóricas, que como tal, apresentam particulares concepções de gênero. Atentando para isto, estabeleceuse como terceiro critério de seleção dos sujeitos a abordagem teórica a que eles se filiam. Assim sendo, privilegiou-se sujeitos que trabalham com abordagens teóricas distintas, a fim de evitar a predominância de uma única perspectiva. As mudanças nas relações de gênero se deram no Brasil de forma mais intensa nas últimas três décadas. Considerando-se que quanto mais experiente o sujeito, mais contato ele teria tido com tais movimentos sociais, determinou-se o tempo de prática clínica como o quarto critério de recrutamento, sendo privilegiados os indivíduos com mais de 20 anos de prática clínica. 6.2.1.2 Considerações sobre o anonimato dos sujeitos Atentando a ética que rege as pesquisas científicas, buscou-se garantir o anonimato dos entrevistados. Para isto, substituíram-se os nomes originais por nomes fictícios, porém respeitando-se o sexo dos sujeitos. Trechos de depoimento mais pessoais foram omitidos, para que o leitor não tenha acesso à identidade dos sujeitos. Considerando que o presente trabalho será público, foi necessário tomar outros cuidados para preservar o anonimato dos entrevistados. A abordagem teórica dos sujeitos, seus anos de prática clínica, a localização de seus consultórios e das instituições acadêmicas que trabalham, e o perfil de sua clientela, embora

158 úteis para contextualizar a análise dos resultados, não foram discriminados na apresentação dos dados. Quanto aos fragmentos de casos clínicos relatados, houve cuidado especial. Eles foram mencionados somente quando estritamente necessário, e restringiramse as informações, de modo a garantir a proteção da identidade dos pacientes. 6.2.1.3 Perfil dos psicoterapeutas entrevistados Foram realizadas dez (10) entrevistas com psicólogos clínicos da cidade do Rio de Janeiro. Metade do grupo foi composta de homens e a outra metade de mulheres. A distribuição dos sujeitos, segundo seu sexo e a abordagem teórica que se filiam pode ser observada na tabela abaixo. Abordagem Homens Mulheres Soma Existencial 2 2 4 Psicanálise 1 1 2 Psicologia Analítica 1-1 Cognitivo Comportamental Gestalt - 1 1-1 1 Sistêmica 1-1 Soma 5 5 10 Tabela 1 Relação entre as abordagens teóricas, sexo dos entrevistados e o número de sujeitos. Profissionalmente, todos os entrevistados realizam atendimento clínico em consultório particular na Zona Sul ou Oeste da cidade do Rio de Janeiro, onde têm uma clientela composta, principalmente, de adolescentes e adultos das camadas médias e altas da população carioca. Alguns deles atendem também crianças, casais e famílias. Em relação ao tempo de prática clínica, todos os entrevistados apresentaram mais de 22 anos de prática clínica, com exceção de um, que tem 15 anos de experiência.

159 6.2.2 A coleta de dados 6.2.2.1 O estudo-piloto O estudo-piloto teve a dupla função de ajudar a construir o instrumento metodológico de coleta de dados e de testá-lo. Inicialmente, realizou-se uma entrevista com um roteiro aberto, investigando-se como as relações de gênero aparecem na clínica a partir do discurso de clientes homens. Os dados fornecidos por este estudo-piloto permitiram a elaboração de um roteiro semi-estruturado, o qual foi testado em mais uma entrevista. O roteiro reformulado mostrou-se eficiente [Anexo], e, em razão disso, a última entrevista realizada foi incorporada ao estudo de campo definitivo. 6.2.2.2 As entrevistas Os seis primeiros sujeitos selecionados faziam parte do círculo profissional da autora, por isso foram abordados em seus locais de trabalho. No recrutamento dos demais sujeitos optou-se pelo método da indicação entre profissionais, por ele ajudar a estabelecer um laço mínimo de confiança entre entrevistador e entrevistado, permitindo assim que ambos sintam-se confortáveis no momento da realização da entrevista. Solicitou-se, então, a alguns dos primeiros sujeitos selecionados, indicações de profissionais dentro do perfil traçado. Os profissionais indicados foram abordados pelo telefone, sendo selecionados os quatro mais solícitos. Após o consentimento dos entrevistados em participar do estudo de campo, eles escolhiam o local e hora de realização da entrevista, a fim de deixá-los o mais confortável possível durante esta. Com o intento de obter depoimentos aprofundados, optou-se por entrevistar os sujeitos pessoalmente. Com o intento de coletar a maior quantidade de dados nas entrevistas e manter o registro mais fiel possível destas, recorreu-se à gravação, mediante a permissão dos entrevistados. Inicialmente, coletaram-se dados simples e objetivos de identificação: nome; sexo; formação; abordagem clínica; anos de prática clínica. O roteiro consistia de questões abertas sobre a clientela masculina e as

160 relações de gênero. Estas questões serviram como tópicos a serem abordados nas entrevistas, sendo empregues de formas diversas, conforme o ritmo e o estilo de cada entrevistado, atentando-se para o caráter aberto no emprego de cada questão. Apesar destas variações, as questões foram abordadas em todas as entrevistas, a fim de que se pudesse analisar e comparar os depoimentos colhidos. O roteiro, buscando investigar os objetivos propostos, apresentou perguntas sobre a clientela masculina e as relações de gênero, ou seja: qual a demanda dos homens por terapia? Os homens apresentam alguma peculiaridade? Como eles se expressam e como lidam com as emoções? Quais são suas principais queixas e questionamentos nas relações amorosas, familiares e de trabalho? Como os homens têm reagido às recentes mudanças nas relações de gênero? E qual a opinião dos entrevistados sobre as relações de gênero. 6.2.3 A análise dos dados Todas as entrevistas foram transcritas e submetidas às técnicas de análise de discurso propostas por Nicolaci-da-Costa (1989, 1994 e no prelo). De forma resumida, a análise é divida em duas grandes etapas análise intra-sujeito e análise intersujeito realizadas repetidas vezes até que seja obtida uma interpretação aprofundada do material coletado. Inicialmente, buscando-se obter uma visão ampla do conjunto de depoimentos e identificar as principais tendências apresentadas pelo grupo de entrevistados, realizou-se uma análise intersujeitos. Para tanto, reuniram-se as respostas dos sujeitos agrupando-as pelos tópicos do roteiro de entrevista. A partir das respostas semelhantes dentro de cada tópico, criaram-se as primeiras categorias de análise. Embora não conclusivas, estas categorias forneceram uma visão geral do conjunto de depoimentos. Seguiu-se, então, a análise intra-sujeito, onde cada entrevista foi analisada individualmente. Este exame minucioso permitiu revelar conflitos de opiniões, inconsistências entre respostas e possíveis sentimentos contraditórios, os quais, por sua vez, deram origem a novas categorias de análise. Os dados fornecidos pela análise intra-sujeito são interessantes, porém muitos deles estão presentes em apenas uma única entrevista. Como se trata de um estudo de campo, buscam-se as semelhanças da amostra. Para tanto, fez-se

161 necessário o retorno à primeira etapa e à análise do conjunto de entrevistas novamente. Através desta nova análise intersujeitos, observou-se a recorrência das categorias da etapa anterior no conjunto das entrevistas. Através de um movimento repetitivo entre as análises intra-sujeito e intersujeitos foi possível definir as categorias que melhor representam os resultados obtidos, conciliando uma visão panorâmica do grupo de sujeitos com o conhecimento em profundidade de seus conflitos e inconsistências. Salienta-se que os procedimentos de análise de discurso aqui adotados, freqüentemente, dão origem a categorias de análises bem diferentes dos tópicos do roteiro de entrevista utilizado. Isto se deve ao fato do método de análise utilizado identificar categorias que expressem o quê de espontâneo, original e imprevisível foi dito pelos entrevistados.