TRANSPORTE PÚBLICO: ALTERNATIVA PARA A ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE URBANA EM PATO BRANCO-PR 1



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Transcrição:

TRANSPORTE PÚBLICO: ALTERNATIVA PARA A ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE URBANA EM PATO BRANCO-PR 1 POLLYANA POLETTO 2 polly_poletto@hotmail.com INTRODUÇÃO As cidades brasileiras estão passando por sérios problemas que envolvem a mobilidade dos cidadãos. Percebemos, hoje, que os automóveis particulares são cada vez mais o meio de deslocamento mais desejado pela população, que deixam de lado a possibilidade de utilizar o transporte coletivo. Isso se dá por vários motivos, dentre eles as más condições dos veículos coletivos, a superlotação, a disponibilidade dos horários, a falta de integração das linhas etc. e também pelo incentivo do mercado automotivo para a compra de automóveis particulares, sendo eles carros e motos. Muitas vezes há uma falsa impressão que o automóvel particular possibilita a independência e garante a mobilidade adequada pelos cidadãos. Se a maioria das pessoas aderirem a esse meio de deslocamento, as vias das cidades ficarão cada vez mais caóticas, diante dos inúmeros congestionamentos propiciados pelo aumento de veículos. Essa situação já acontece em inúmeras cidades, inclusive em Pato Branco-PR, que é de pequeno porte, mas que em vários períodos do dia tem trechos com congestionamentos. Diante da importância do tema e considerando a situação de imobilidade da maioria dos cidadãos, propomos por meio dessa pesquisa um estudo sobre a mobilidade e acessibilidade urbana, por meio do transporte público, na cidade de Pato Branco-PR. Para a compreensão dessa problemática na cidade a ser estudada, pesquisaremos as leis que abordam o direito à cidade, a mobilidade e acessibilidade urbana, no contexto 1 Pesquisa de Mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE/Campus de Francisco Beltrão-PR), sob orientação da Professora Sílvia Regina Pereira. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE/Campus de Francisco Beltrão-PR). Integrante do Grupo de Estudos Territoriais (GETERR).

Federal, Estadual e Municipal, visando estabelecer relações entre a legislação e a realidade estudada. Posteriormente realizaremos pesquisas e levantamentos de informações que subsidiem nossas reflexões, além de entrevistas com os responsáveis pelas empresas que oferecem o transporte público e com o representante do poder público responsável pela estruturação desse sistema de transportes. Por meio da aplicação de questionários para a população buscaremos verificar as condições e as dificuldades encontradas pelos usuários do transporte público. Pretendemos também, acompanhar os percursos de alguns usuários do transporte público, visando retratar os seus deslocamentos cotidianos. Pretendemos, ao final da pesquisa, a partir dos resultados obtidos sobre a mobilidade e a acessibilidade na cidade de Pato Branco, divulgar as informações para a população inteirar-se do assunto. Além disso, iremos fazer proposições ao poder público e para as empresas responsáveis pelo transporte público, visando contribuir para a melhoria desse meio de deslocamento, que poderá se tornar mais atrativo, podendo assim, diminuir problemas gerados pelo aumento de veículos particulares nas vias públicas. É necessário que o poder público assegure as condições de mobilidade e acessibilidade para todos os segmentos sociais, de modo que o direito à cidade seja exercido por todos. OBJETIVO GERAL Objetivamos realizar um estudo sobre as condições de mobilidade e acessibilidade urbana, por meio do transporte coletivo público, na cidade de Pato Branco-PR. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Realizar leituras aprofundadas sobre os temas: desigualdades socioespaciais; transporte público; mobilidade; acessibilidade urbana e direito à cidade.

Analisar as leis Nacional, Estadual e Municipal que abordam a mobilidade e acessibilidade. Elaborar um levantamento e mapeamento do transporte coletivo público, para obtermos informações importantes para as posteriores análises. Caracterizar a infraestrutura dos pontos de embarque/desembarque e das condições dos veículos etc. Entrevistar representantes das empresas de transporte coletivo e do poder público para obter informações sobre os planejamentos, a participação popular e os futuros planos para o transporte público na cidade. Aplicar questionários aos usuários do transporte público, com o intuito de averiguar como eles avaliam esse meio de deslocamento, quais as principais dificuldades encontradas e as sugestões para a melhoria desse serviço. Acompanhar um grupo de usuários do transporte coletivo, diferenciados entre si pela renda e faixa etária, com o intuito de retratar o principal percurso realizado por eles. Divulgar os resultados parciais e finais dessa pesquisa, visando alertar a população sobre as condições em que se encontram o transporte público na cidade. Contribuir com os debates e reflexões sobre mobilidade e acessibilidade urbana e o direito à cidade, no âmbito acadêmico. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para que possamos alcançar os objetivos propostos nesse projeto, destacamos a seguir os principais procedimentos metodológicos. Primeiramente realizaremos levantamentos bibliográficos sobre os seguintes temas: desigualdades socioespaciais; transporte público; mobilidade; acessibilidade urbana e direito à cidade. Num segundo momento faremos as leituras e a análise das leis (Nacional, Estadual e Municipal) vinculadas ao assunto. Na próxima etapa realizaremos os trabalhos de campo. Nosso intuito é fazer um levantamento e mapeamento do transporte coletivo público, para obtermos informações

sobre as linhas, considerando os itinerários, as conexões, os horários; os valores das tarifas e as condições dos veículos. Para complementarmos as informações necessárias para as nossas reflexões sobre o tema em pauta, realizaremos entrevistas com os representantes das empresas de transporte coletivo e do poder público, para obtermos informações sobre a definição de itinerários e horários das linhas, valores e reajustes das tarifas e investimentos futuros, de acordo com a legislação existente. Aplicaremos questionários aos usuários de transporte público, com o intuito de averiguar como eles avaliam esse meio de deslocamento, quais as principais dificuldades encontradas e as sugestões para a melhoria desse serviço. Na sequência, selecionaremos um grupo de usuários do transporte coletivo, diferenciados entre si pela renda e faixa etária, para que possamos acompanhar e mapear o principal percurso realizado por eles. Pretendemos ao final do estudo, organizar sugestões e proposições a respeito do transporte público na cidade, as quais serão encaminhadas ao poder público. Informaremos a população através de jornais, e artigos sobre os resultados obtidos, com o intuito de alertá-la para a importância da participação nos momentos de planejamento e nos debates sobre investimentos e modificações em relação aos serviços públicos, entre eles o transporte coletivo. JUSTIFICATIVA Diante da grande importância do transporte público nas áreas urbanas e por considerarmos a mobilidade e acessibilidade urbana como condições fundamentais para assegurar o direito à cidade, objetivamos estudar essas questões na cidade de Pato Branco-PR. Para compreendermos a temática é necessário a conceituação das palavras acessibilidade e mobilidade. Segundo os cadernos intitulados Brasil Acessível, elaborados pelo Governo Federal, a acessibilidade é a [...] possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de

edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos. (BRASIL ACESSÍVEL, 2008, p.20). Já a mobilidade é vista como um atributo das cidades e se refere à facilidade de deslocamento dos cidadãos no espaço da cidade. (BRASIL ACESSÍVEL, 2008) Este estudo se pautará na avaliação das condições de mobilidade e acessibilidade urbana, tomando como referência a oferta do serviço de transporte público na cidade de Pato Branco-PR. Escolhemos o transporte público como objeto de estudo, porque acreditamos que seja a forma mais democrática de transporte, possibilitando o deslocamento das pessoas pertencentes aos diversos segmentos sociais. Além de ser dever do poder público oferecê-lo a preços acessíveis, é preciso assegurar os deslocamentos para as diversas áreas da cidade, com qualidade e segurança. Na cidade de Pato Branco a população de maior poder aquisitivo, mora em bairros com uma boa infraestrutura, os quais possuem todas as condições para a população ter uma boa qualidade de vida. Já os bairros mais carentes, nos quais moram uma população que não consegue pagar por saúde, educação, lazer e transporte, as infraestruturas estão em condições precárias. Temos, portanto, distintas cidades em uma mesma cidade, como destaca Santos (2004): Na cidade luminosa, moderna, hoje, a naturalidade do objeto técnico cria uma mecânica rotineira, [...] áreas constituídas ao sabor da modernidade e que se justapõem, superpõem e contrapõe ao uso da cidade onde vivem os pobres, nas zonas urbanas opacas. Estes são os espaços do aproximativo e da criatividade, opostos às zonas luminosas, espaços da exatidão. (SANTOS, 2004, p.326) Além da falta de infraestrutura que possibilite uma qualidade de vida para todos os segmentos da sociedade, a falta de mobilidade e acessibilidade urbana nas cidades pequenas - como é o caso de Pato Branco - chama muito a atenção, por ser precária. Isso decore da falta de investimentos em infraestrutura no transporte público, principalmente nas áreas carentes da cidade. Diante desse problema, uma parcela da população que consegue um financiamento, buscar resolver seu problema de mobilidade, individualmente, adquirindo automóveis particulares. Porém, isso causa outro problema, o trânsito no centro da cidade aumenta, interferindo novamente nos deslocamentos dos mesmos.

Essa população não possui conhecimento sobre os seus direitos, acreditando que a sua dificuldade de locomoção deve ser resolvida por ela mesma. Deveria haver protestos e reinvindicações em prol do coletivo, de modo que o poder público garanta as condições necessárias para a qualidade de vida dos cidadãos. Como consta no art. 2º da Lei nº 10.257, denominada Estatuto da Cidade, é importante que haja a: I garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; (ESTATUTO DA CIDADE, 2001, p.01 grifo nosso) Essa lei foi desenvolvida em prol do bem coletivo, para garantir a segurança e o bem-estar dos cidadãos, mas infelizmente não é colocada em prática integralmente. Para reforçá-la, dando mais ênfase ao transporte público, outra Lei foi elaborada, a Lei nº 12.587, mais conhecida como Política Nacional de Mobilidade Urbana, a qual cita no Art. 5º: III a equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo; IV - eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano (POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA, 2012, p.03). Com base nessa lei, o poder público deve ofertar um transporte coletivo eficiente, com preços justos e com segurança, para que a população seja incentivada a utilizá-lo com mais frequência. Dessa forma, haveria algumas compensações, para o usuário que não se preocuparia em adquirir seu automóvel próprio, deixando de pagar por estacionamentos regulamentados e impostos, e também para minimizar os problemas urbanos na cidade, pois diminuiria o fluxo de carros particulares nas ruas. Esses investimentos na área do transporte coletivo devem ser realizados pelos municípios, como é destacado na Lei nº 12.587, já que eles têm o dever de: I - planejar, executar e avaliar a política de mobilidade urbana, bem como promover a regulamentação dos serviços de transporte urbano; (POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA, 2012, p.08). Essa lei estabelece o prazo de três anos, a partir da data de sua publicação, para que os municípios com mais de vinte mil habitantes, elaborem seus Planos de Mobilidade Urbana. Esse prazo se encerra em 2015 e as prefeituras devem seguir os objetivos e princípios propostos na Lei, levando em conta a realidade de seus municípios.

Portanto esse planejamento deveria estar sendo elaborado no atual momento, pois resta pouco tempo para que os Planos sejam apresentados. Diante da realidade dos municípios, verifica-se a necessidade urgente de se melhorar as condições de mobilidade e acessibilidade urbana, pois assim, as pessoas teriam possibilidades de se deslocar por várias parcelas do espaço urbano, não ficando restritas a algumas áreas. Dessa forma, elas poderiam conhecer as contradições existentes na cidade como um todo, interagindo com outros moradores, e quando necessário poderiam se mobilizar em prol de melhorias para o coletivo. Porém, quando o transporte não é eficiente, gera-se um problema social, pois as pessoas acabam se isolando em algumas áreas da cidade, não havendo a possibilidade do convívio, do encontro, da interação, da organização e da manifestação. Não somente as tradicionais categorias de classes sociais, mas também as tribos, grupos, movimentos, gangues e minorias se fecham em determinados territórios e redutos exclusivos não possibilitando aquilo que significou historicamente a origem da civilização e do humano: a heterogeneidade, a diferença e a possibilidade do encontro. (ROLNIK, 2000, p. 183) Rolnik (2000), afirma que o convívio entre os segmentos sociais é historicamente benéfico para a sociedade e necessário para o processo de democratização, para a diminuição das desigualdades sociais e para que a maioria tenha o direito à cidade assegurado. E para que se alcance as proposições citadas acima, acredita-se que as primeiras melhorias devam ocorrer no setor do transporte publico. É preciso promover debates sobre as condições de mobilidade e acessibilidade urbana, estimulando a participação dos diferentes segmentos sociais, principalmente dos trabalhadores que se utilizam diariamente do transporte público. Só assim teremos uma visão realista dos problemas em relação aos deslocamentos na cidade. E é através dessa participação que se muda a realidade proporcionando o exercício da cidadania, como afirma Lefebvre (2001, p.112): A estratégia de renovação urbana se torna necessariamente revolucionária, não pela força das coisas, mas contra as coisas estabelecidas. A estratégia urbana baseada na ciência da cidade tem necessidade de um suporte social e de forças políticas para se tornar atuante. Ela não age por si mesma. Não pode deixar de se apoiar na presença e na ação da classe operária, a única capaz de pôr fim a uma segregação dirigida essencialmente contra ela.

Apenas esta classe, enquanto classe pode contribuir decisivamente para a reconstrução da centralidade destruída pela estratégia de segregação e reencontrada na forma ameaçadora dos centros de decisão. Isto não quer dizer que a classe operária fará sozinha a sociedade urbana, mas que sem ela nada é possível. O processo para a implementação de políticas para melhorar a realidade é lento, e depende de várias forças, porém a mais essencial é a do povo, que deve reivindicar seus direitos, sendo um deles, o direito à cidade. Esse direito é deixado de lado pelo poder público, quando ele não assegura as condições mínimas para que a população tenha uma vida digna. Os diferentes segmentos de renda devem participar das decisões sobre a implementação de ações que visem à melhoria das condições de vida urbana. Para isso o planejamento urbano deve ser condizente com a realidade de cada cidade, no intuito de suprir as necessidades dos segmentos sociais, sem haver privilégios de áreas ou grupos sociais. São vários os instrumentos que podem ser utilizados para garantir a participação popular, basta o poder público municipal proporcionar as condições para o encontro entre os diferentes segmentos da sociedade. Em Pato Branco, não há grande divulgação das reuniões e audiências públicas, nas quais se discutem o planejamento da cidade. Há também, por parte dos cidadãos, a falta de conhecimento sobre os seus direitos e assim muitos não se interessam em participar das reuniões ou audiências. Dessa forma, deixam de expor as suas dificuldades cotidianas e assim, muitas dos problemas urbanos enfrentados por eles podem ser deixados de lado nos momentos de debate e decisão sobre as ações que serão implementadas pelo poder público. Isso vem ocorrendo com relação ao transporte público coletivo, na cidade de Pato Branco. Esse sistema de transporte é caracterizado por sua ineficiência e precariedade, não sendo atrativo. Dessa forma, a população, em sua maioria, não se sentirá estimulada em utilizar esse meio de deslocamento, aumentando o número de veículos particulares nas vias públicas, gerando transtornos para todos. Nos horários de pico, esse meio de transporte torna-se ainda mais ineficiente, pois muitos veículos ficam lotados, os itinerários muitas vezes não são adequados e geralmente não há integração entre os mesmos. Esses problemas se agravam quando

analisamos a situação dos moradores dos bairros mais carentes de infraestrutura urbana, pois a população fica à mercê dos investimentos públicos no setor dos transportes, para que ela possa ir e vir sem grandes dificuldades. Portanto, quanto mais pobre o indivíduo, mais dependente ele é dos transportes (SANTOS, 1990). Dessa forma, as pessoas mais carentes acabam utilizando esse meio de deslocamento ineficaz e quem possui condições de adquirir o transporte individual, deixa de lado o transporte público. Considera-se que essa desvalorização no transporte público ocorreu por causa da falta de investimentos no mesmo, o que faz com que a população deixe de utilizá-lo. Para que mudanças ocorram na forma de planejar e utilizar o sistema de transporte público, deve-se romper primeiramente com o padrão em que o automóvel particular prevalece, além de uma reeducação dos cidadãos, para que eles compreendam que a melhor alternativa é a utilização do meio de deslocamento coletivo. Os cidadãos devem pressionar o poder público para investir nesse serviço. Para que essas proposições sejam efetivadas, os governantes devem fazer um estudo e planejamento que leve em consideração as possibilidades de investimentos em vários meios de deslocamentos públicos, para que esses se tornem atrativos e assim os impactos decorrentes do predomínio do transporte individual no espaço urbano diminuiriam. Todas essas melhorias deveriam ocorrer o mais breve possível, pois as pessoas estão se isolando cada vez mais em seus automóveis, que além de uma alternativa de condução, está sendo considerado um sinal de status social, fazendo com que as pessoas não percebam a realidade ao seu redor, dificultando a interação entre elas, gerando inúmeras implicações para a vida urbana. Como forma de solucionar essa o problema da autosegregação em seus automóveis particulares, e buscando melhorar o transporte público, uma pequena cidade localizada na Alemanha, de nome Freiburg, é um exemplo de sucesso. Segundo o pesquisador Moura (2010), os planejadores da cidade idealizaram um Ecobairro, para facilitar o deslocamento da população, além de incentivar os cuidados com o meio ambiente. Eles estimularam algumas mudanças nos hábitos dos cidadãos, por meio da criação do slogan Viver sem Carro e da apresentação de inúmeras alternativas para

incentivar a diminuição do uso dos automóveis particulares. O nome do Ecobairro é Valban e nele foram implementadas as seguintes condições: *O metropolitano de superfície que liga o bairro à cidade de forma confortável e rápida; *A tipologia de estacionamento adotada, reduzindo muito a presença do automóvel no interior do bairro e remetendo-o para estacionamentos particulares; *O design das ruas muito agradável e seguro, permitindo a elevada segurança para os pedestres e ciclistas; *A política de carsharing 3 e de preços; *Infraestruturas de elevada qualidade para pedestres e ciclistas dando acesso seguro aos equipamentos locais de comércio, educação e lazer; *Transportes públicos acessíveis e de qualidade. (SILVA, 2013, p.20) Esse sistema foi instalado há anos e continua funcionando de forma eficiente, porque há um comprometimento do poder público, o qual investe em formas alternativas de deslocamento. Há também um compromisso por parte da população que se utiliza dos equipamentos ofertados, repassando o conhecimento ao resto da cidade e às futuras gerações. Essas alternativas são fáceis de serem implementadas, principalmente o incentivo à utilização do transporte público nos dias semanais, nos horários de pico, com diferenciação tarifária, integração das linhas, rodízio baseados nas placas dos automóveis particulares, diminuição do espaço de estacionamento destes, aumento do preço dos estacionamentos públicos, investimentos em estacionamentos rotativos e em pedágios urbanos, destinação de vias específicas para os ônibus, estimulo ao uso dos transportes não motorizados, por meio de ciclovias etc. Todas essas políticas se colocadas em ação resultariam na eficiência e numa melhor qualidade dos transportes públicos. Porém, deve-se partir primeiramente da pesquisa, buscando verificar condições desses serviços na cidade, para posteriormente pensar em soluções para o mesmo. Diante do exposto e pelo fato de considerarmos a importância da mobilidade e acessibilidade urbana, por meio do transporte público, pretendemos fazer um estudo aprofundado sobre essas temáticas na cidade de Pato Branco. Buscaremos alertar a 3 CarSharing é um serviço de aluguel de automóveis por hora, com combustível incluído. Os clientes podem reservar um automóvel através da internet ou do telefone e tê-lo disponível no minuto seguinte.

população sobre o direito ao transporte público de qualidade, para que os mesmos possam pressionar o poder público, para que ele realize os investimentos necessários nesse meio de deslocamento. Dessa forma, se houver as melhorias necessárias nesse meio de transporte, as condições mobilidade e acessibilidade urbana para os diferentes segmentos sociais serão assegurados, possibilitando a efetivação do direito à cidade. REFERÊNCIAS BRASIL. LEI Nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm> Acesso em 08 de Agosto de 2013. BRASIL. Lei nº 12. 587, de 03 de janeiro de 2012. Política Nacional de Mobilidade Urbana. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12587.htm> Acesso em 08 de agosto de 2013. BRASIL ACESSÍVEL, Programa brasileiro de acessibilidade urbana. Caderno quatro: implementação de políticas municipais de acessibilidade. Instituto Rua Viva (Org). Diretor: Renato Boareto, 2008. LEFEBVRE, Henry. O direito à cidade. Tradução Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2001. MOURA, Ricardo Lima Saraiva da Maia e. Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. 2010. 296 f. (Dissertação para obtenção de Grau de Mestre em Arquitetura)- Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Arquitetura. Disponível em: <file:///c:/users/polly%20poletto/downloads/global2.pdf> Acesso em 26 mar. 2014. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e Tempo, razão e emoção. 4 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.. Metrópole corporativa fragmentada: o caso de São Paulo. São Paulo: Nobel: Secretaria de Estado da Cultura, 1990. ROLNIK, Raquel. O lazer humaniza o espaço urbano. In: Lazer numa sociedade globalizada: Laisure in a globalizad society. São Paulo: SESC/WLRA, 2000.

SILVA, Marco Manuel Ribeiro da. Eco-bairros: Análise de Casos Internacionais e Recomendações para o Contexto Nacional. 2013, 124 f. (Dissertação em Engenharia do Ambiente) Faculdade de ciências e tecnologia Universidade nova de Lisboa. Disponível em <http://run.unl.pt/bitstream/10362/10461/1/silva_2013.pdf> Acesso em: 26 mar. 2014.