UMA ANÁLISE QUANTITATIVA DO COMPROMETIMENTO DOS ALUNOS COM O CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Yana Torres de Magalhaes (FUNCESI) yanamagalhaes@hotmail.com Luiz Antonio Rezende Epaminondas (FUNCESI) luiz.epaminondas@funcesi.br Cibele Alves Santos (FUNCESI) cibelealvessantos@yahoo.com.br Angelo Garuzzi Cabral (FUNCESI) angelo.garuzzi@funcesi.br Fabri cio Roulin Bittencout (FUNCESI) roulin@gmail.com A inquietação com o cenário de incertezas inclui as empresas e organizações de diversos setores, inclusive as instituições de ensino superior. As instituições cujo foco é a educação são locais de enriquecimento de conhecimentos, de formaçãoo de competências e de construção do próprio sujeito. Nestes locais, as IES, interagem diversos atores, dentre eles os funcionários da área administrativa, os professores e os alunos, sendo estes últimos o foco desta pesquisa. O que se espera é que os alunos sejam capazes de conhecer os conteúdos do curso em que estão inseridos e aplicar tais conteúdos de forma a criar e ou melhorar processos, produtos, serviços ou até mesmo relações pessoais. Diante desta expectativa o comprometimento do discente com as atividades universitárias adquire importância, já que o comprometimento é um dos aspectos que garante a efetividade do aprendizado. O objetivo deste trabalho foi analisar o comprometimento dos alunos concluintes de Engenharia de Produção da Instituição de Ensino Superior pesquisada com o curso em que estão matriculados. Esta pesquisa possui abordagem quantitativa. Os dados foram coletados por meio de um questionário elaborado e validado por Meyer, Allen e Smith (1993). O instrumento é composto por 18 questões sobre comprometimento. Neste modelo os autores abordam o comprometimento organizacional em três bases: afetiva, instrumental e normativa. Os dados foram tratados através de análise estatística, por meio do cálculo da freqüência relativa. Os resultados apontam que os alunos estão comprometidos com o curso nas três dimensões: a afetiva, a instrumental e a normativa. Dentre elas se destaca o comprometimento afetivo, que é positivo para 70% dos pesquisados. Em seguida está o comprometimento instrumental, positivo para 69,2% dos discentes e por fim o normativo, que é positivo para 68,51% dos alunos pesquisados. O grau de comprometimento dos
alunos com o curso é importante, pois um comprometimento elevado pode levar os discentes a concretizar as metas propostas pelos professores e a falta de comprometimento pode ser indicativa de uma necessidade de revisão na metodologia e nas atividades propostas. Verificou-se, nesta pesquisa, uma forte ligação dos alunos com o curso, o que gera maiores possibilidades de sucesso durante a trajetória acadêmica. Palavras-chaves: Comprometmento, Educação, Curso Engenharia de Produção 2
1. Introdução A inquietação com o cenário de incertezas inclui as empresas e organizações de diversos setores, inclusive as instituições de ensino superior, caracterizadas pelo seu compromisso com a sociedade e com o espaço sócio-cultural de informação e de formação que ocupam. As instituições cujo foco é a educação são locais de enriquecimento de conhecimentos, de formação de competências e de construção do próprio sujeito, capaz de se relacionar e de enfrentar as incertezas e preparar as organizações para lidar com elas. Nestes locais, as Instituições de Ensino Superior, também conhecidas como IES, interagem diversos atores, dentre eles os funcionários da área administrativa, os professores e os alunos, sendo estes últimos o foco desta pesquisa. Os alunos são o centro do processo educativo, pois são eles que, com os conhecimentos adquiridos, irão transformar a sociedade em que vivem. Para serem agentes capazes de tais transformações devem adquirir conhecimentos teóricos, práticos e também aprender a se relacionar. O que se espera é que os alunos sejam capazes de conhecer os conteúdos do curso em que estão inseridos e aplicar tais conteúdos de forma a criar e ou melhorar processos, produtos, serviços ou até mesmo relações pessoais. Diante desta expectativa o comprometimento do discente com as atividades universitárias adquire importância, já que o comprometimento é um dos aspectos que garante a efetividade do aprendizado. Considerando a necessidade de geração de conhecimento nas IES, o papel dos alunos enquanto agentes que promoverão transformações com estes conhecimentos e a importância do comprometimento para que tais conhecimentos sejam efetivamente gerados e passíveis de transformação é que se originou o interesse pelo estudo do comprometimento dos alunos do ensino superior, mais especificamente do curso de Engenharia de Produção, por ser esta uma área de considerável relevância considerando o momento de crescimento econômico do Brasil, impulsionado pelo aumento da renda da população e pela necessidade de investimentos devido a programas como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e à Copa do Mundo de Futebol, a ser realizada no Brasil em 2014. O objetivo deste trabalho foi analisar o comprometimento dos alunos concluintes de Engenharia de Produção da Instituição de Ensino Superior pesquisada com o curso em que estão matriculados. Com relação à contribuição teórica desta pesquisa, verificou-se que as publicações da área de Engenharia de Produção disponibilizadas pela Associação Brasileira de Engenharia de Produção (Revista Produção, Revista Produção Online e o Brazilian Journal of Operation & Production Manegement) não apresentam artigos sobre o tema comprometimento com o curso. A consulta aos anais do Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) dos anos de 2009 e 2010 revelou que há 6 artigos publicados sobre comprometimento nestes dois anos, entretanto nenhum deles trata de comprometimento dos alunos do curso de Engenharia de Produção. Assim, tem-se uma lacuna teórica e pretende-se, com esta pesquisa, iniciar o preenchimento desta lacuna. A Engenharia de Produção engloba um conjunto de conhecimentos e habilidades, de forma a prever, e avaliar resultados de um sistema, buscando a implementação de melhorias. De uma 3
forma geral, este ramo da Engenharia se responsabiliza pelo que se refere ao planejamento, programação e controle de compras, Produção e distribuição de produtos. O mercado de trabalho demonstra abertura para a contratação de engenheiros de Produção, que podem atuar em organizações dos mais diversos setores como financeiro, atuarial, de tecnologia de informação, de marketing, de logística, e outros (DUTRA; BARROS FILHO; SANTOS, 2005).O mercado demanda em grande escala profissionais na área de Engenharia de Produção, já que estes apresentam qualidades técnicas e gerenciais desejáveis pelas empresas. 2. Comprometimento: conceitos e abordagens O comprometimento é um estado em que o indivíduo se identifica com a organização e seus objetivos, mantendo-se como membro de modo a facilitar o alcance dessas metas (BASTOS, 1993). O indivíduo quando está comprometido com uma organização se sente integrado à mesma e busca melhores formas de se alcançar seus objetivos. Para Diniz (2001), o comprometimento passou a significar adesão e envolvimento do indivíduo com vários aspectos do ambiente de trabalho, uma identificação do indivíduo com o trabalho. Comprometer-se significa assumir uma responsabilidade ou compromisso com alguém, com um grupo ou com uma organização e os diversos conceitos para o termo comprometimento advêm da linguagem cotidiana e adquirem significados muitas vezes ignorados, mas o conhecimento deles é básico para a decisão sobre qual adotar. Em síntese, o comprometimento define-se pela ligação do indivíduo com a organização, o que torna suas atitudes mais positivas proporcionalmente ao nível desse comprometimento, com comportamentos como assiduidade, desempenho individual e organizacional, pontualidade, entre outros. De acordo com Oliveira (1998), ocorre o comprometimento quando o indivíduo se identifica com a organização, deseja continuar membro da mesma e busca facilitar a consecução de seus objetivos. Para Costa e Moraes (2007), as cinco principais abordagens do comprometimento organizacional que podem diferenciar a maioria das pesquisas na área são o enfoque afetivo, o enfoque instrumental, o enfoque normativo, o enfoque sociológico e o enfoque comportamental e desses cinco enfoques apontados, o afetivo, o instrumental e o normativo têm predominado nas pesquisas desde a década de 1990. Para estudar o comprometimento é possível utilizar apenas uma destas abordagens, tendo-se, portanto uma perspectiva unidimensional do comprometimento. Entretanto, é possível realizar pesquisas considerando duas ou mais abordagens, estudos estes que são denominados multidimensionais. Segundo Costa e Moraes (2007), a partir da década de 1990 tornou-se um consenso o fato de que o comprometimento organizacional é um construto multidimensional. Na perspectiva do comprometimento multidimensional, os indivíduos podem estar comprometidos com a organização em três dimensões, sendo umas mais fortes que outras. Optou-se, neste trabalho, pelo enfoque multidimensional, composto pelas seguintes dimensões: afetiva, instrumental e normativa. Para Diniz (2001), o enfoque afetivo revela a identificação do indivíduo com os objetivos e valores da organização, implica nos indivíduos assumirem os valores organizacionais como 4
sendo seus próprios valores. Este enfoque é caracterizado por um sentimento de lealdade, pelo desejo de permanecer como membro da organização; e de se esforçar em prol da mesma. Nesse sentido, o comprometimento é mais do que a simples lealdade passiva à organização, é uma relação ativa na qual o indivíduo deseja dar algo de si mesmo para contribuir com o sucesso da mesma. Assim, o comprometimento afetivo é caracterizado pela lealdade, pelo desejo de contribuir, pelo orgulho de estar inserido na organização. O enfoque afetivo se caracteriza pela identificação do indivíduo com a organização, de tal forma que ele se sente inserido aos valores e aos objetivos, e se dedica e demonstra desejo para que os resultados sejam positivos (BASTOS, 1993). Outra abordagem do estudo do comprometimento é o enfoque instrumental, também chamado de side bet, que significa, ao ser traduzido, trocas laterais (BASTOS, 1994). No enfoque instrumental, o indivíduo permanece na organização devido aos custos e benefícios associados a sua saída, que seriam as trocas laterais, e assim passa a se engajar em linhas consistentes de atividade (MEDEIROS, 2003). Diniz (2001), nessa mesma linha de raciocínio, afirma que no comprometimento instrumental, os indivíduos se engajam em linhas consistentes de atividade, devido à escassez de alternativas, ou por investimentos feitos ao longo da carreira profissional. Para Costa e Moraes (2007), o comprometimento instrumental é visto como um mecanismo psicossocial, cujos elementos side-bets conseqüências de ações prévias como recompensas e custos, impõem limites e restringem ações futuras, características de certos tipos de pessoas. Desta forma, uma linha consistente de atividade pode ser entendida como, por exemplo, a permanência do indivíduo na organização. Já as side-bets seriam os diversos investimentos feitos pelo indivíduo, como por exemplo o investimento no desenvolvimento de determinadas habilidades, que tornam difícil o abandono da organização (MEYER; ALLEN, 1991). Assim, o indivíduo procura trabalhar as atitudes apenas consigo mesmo, procurando satisfazer suas necessidades, já que sua permanência na organização é por necessidade. O terceiro enfoque mencionado por Medeiros (2003) é o normativo, no qual o elemento central da definição do comprometimento é o controle dos indivíduos, exercido pela organização. A aceitação dos objetivos e valores da organização representa uma forma de controle sobre as ações dos indivíduos que se comportam em função da percepção de pressões normativas a respeito do seu comportamento e essas pressões são frutos da cultura da organização, que impõe a forma de ação e o comportamento do indivíduo. Percebe-se, portanto, que o enfoque normativo representa um conjunto de pressões normativas internalizadas pelo indivíduo para que seu comportamento seja compatível com os objetivos e interesses da organização (COSTA; MORAES, 2007). As pressões normativas então fazem com que o indivíduo se comporte de acordo com os padrões que foram internalizados. Diniz (2001), afirma que na perspectiva normativa, quanto mais forte o comprometimento, maior a predisposição do indivíduo em guiar suas ações de acordo com os padrões internalizados. Desta forma, os indivíduos comprometidos apresentam alguns comportamentos, não em função de benefícios pessoais, mas porque acreditam que é certo fazê-los. Com a análise dos conceitos dados para o enfoque normativo, vê-se que neste os indivíduos se mantêm em uma organização porque se sentem obrigados. É uma forma de controle moral e ético, por excelência e baseia-se na convicção, na crença e na ideologia. 5
Entre vários modelos do comprometimento multidimensional, o mais aceito entre os pesquisadores foi o modelo estabelecido por Meyer e Allen (1991), que foi utilizado nesta pesquisa. 3. Metodologia Esta pesquisa possui abordagem quantitativa. O universo desta pesquisa compreende 97 alunos do curso de Engenharia de Produção da Faculdade de Ciências Administrativas e Contábeis de Itabira matriculados no último ano do curso. Os dados foram coletados por meio de um questionário elaborado e validado por Meyer, Allen e Smith (1993). O instrumento é composto por 18 questões sobre comprometimento. Neste modelo os autores abordam o comprometimento organizacional em três bases: afetiva, instrumental e normativa. Escolheuse este instrumento pelo fato de já ter sido validado e utilizado em diversos estudos, mas foram acrescentadas 16 questões relacionadas ao perfil dos alunos pesquisados, além das questões originais terem sido adaptadas no sentido de fazer com que os alunos soubessem quando as questões estavam relacionadas ao curso e quando relacionavam-se ao estágio. Cabe ressaltar que tal adaptação não modificou o conteúdo do questionário. O instrumento utilizado encontra-se no Apêndice 1 e foi entregue pela pesquisadora aos alunos, que posteriormente devolveram o instrumento preenchido. Os dados desta pesquisa foram tratados através de análise estatística, por meio do cálculo da freqüência relativa. Utilizou-se o PSPP, programa voltado para a análise estatística sobre matrizes de dados que permite realizar análises descritivas e inferências a respeito de correlações entre variáveis. 4. Comprometimento dos alunos concluintes de Engenharia de produção com o curso Para analisar o nível de comprometimento dos alunos de Engenharia de Produção com o curso, utilizou-se o modelo de Meyer, Allen e Smith (1993) englobando três dimensões: comprometimento afetivo, comprometimento instrumental e comprometimento normativo. Optou-se aqui por analisar cada dimensão separadamente para, ao final, chegar ao comprometimento dos alunos pesquisados. Um nível de comprometimento de 0 a 4 indica comprometimento negativo, o nível 5 indica grau intermediário, também chamado de neutro, e valores de 6 a 10 indicam comprometimento positivo. Na tabela 1 encontram-se as freqüências que demonstram o grau de comprometimento afetivo dos alunos com o curso de Engenharia de Produção da Instituição de Ensino Superior pesquisada. Escala Freq. Relativa (%) Grau de Comprometimento 0 a 4 18,2 Negativo 5 11,8 Neutro 6 a 10 70,0 Positivo Total 100 - Fonte: Elaborada pelos autores 6
Tabela 1 - Comprometimento afetivo dos alunos Com estes resultados, observa-se que 70% dos alunos de Engenharia de Produção da Instituição de Ensino pesquisada apresentam o comprometimento afetivo positivo, 11% apresentam um nível neutro e 19% tem comprometimento negativo. Assim, conclui-se que a maioria dos estudantes está positivamente comprometida com o curso. Como o comprometimento afetivo indica que o indivíduo se identifica com a organização e seus objetivos, mantendo-se como membro de modo a facilitar o alcance desses objetivos e indica adesão e envolvimento do indivíduo, a partir dos resultados apresentados verifica-se que 70% dos alunos pesquisados se identificam com o curso e com os objetivos relacionados a ele. Esta mesma parcela de estudantes está envolvida e aderida ao curso que estão fazendo. Já que o comprometimento significa assumir responsabilidade ou compromisso, é possível afirmar que a maioria dos pesquisados assume as responsabilidades advindas do curso. Em síntese, considera-se que há uma forte ligação entre os discentes pesquisados e o curso em que estão matriculados. A dimensão afetiva do comprometimento é composta por seis fatores, cada um deles expresso por meio de uma afirmativa. Analisando a Tabela 2 verifica-se que o fator com nível mais elevado é o que indica que o curso tem um imenso significado pessoal para os alunos. Neste fator 80,8% dos discentes demonstram nível positivo de comprometimento. O fator com um número menor de alunos com nível de comprometimento acima de 5 é o que indica que os alunos sentem os problemas do curso como se fossem os seus. Fator 0 a 4 (%) 5(%) 6 a 10(%) Eu seria muito feliz em dedicar o resto da minha carreira ao curso escolhido. Eu realmente sinto os problemas do curso como se fossem meus. Eu sinto um forte senso de integração com meu curso. 22,0 5,0 73,0 23,9 24,0 52,1 15,8 10,9 73,2 Eu me sinto emocionalmente vinculado a este curso. 24,8 13,1 62,1 Eu me sinto como uma pessoa de casa (à vontade) neste curso. Este curso tem um imenso significado pessoal para mim. 14,3 6,9 78,8 8,5 10,6 80,8 Média 18,2 11,8 70,0 Fonte: Elaborada pelos autores Tabela 2 - Fatores do comprometimento afetivo com o curso 7
De uma forma geral, o que se tem é que a maioria dos alunos vêem um imenso significado no curso, que se sentem à vontade, têm forte senso de integração, se sentirão felizes se puderem dedicar sua carreira na área relacionada ao curso. Com uma concentração menor de respostas no nível de 6 a 10 que indica comprometimento afetivo positivo estão os fatores relacionados à vinculação emocional ao curso e o que indica que os alunos sentem os problemas do curso como se fossem os seus. Assim sendo, reafirma-se que 70% dos pesquisados se identificam e estão envolvidos com o curso e com os objetivos e responsabilidades relacionados a ele. Analisado o comprometimento afetivo, passa-se à verificação da dimensão instrumental. Na tabela 3 encontram-se as freqüências que demonstram o grau de comprometimento instrumental dos alunos com o curso de Engenharia de Produção da Instituição de Ensino Superior pesquisada. Observa-se que 69,2% dos entrevistados apresentaram grau de comprometimento instrumental positivo. Este valor está bem próximo aos 70% de alunos com comprometimento afetivo também positivo, o que demonstra um certo equilíbrio entre estas duas dimensões. Escala Freq. Relativa (%) Grau de Comprometimento 0 a 4 19,9 Negativo 5 10,9 Neutro 6 a 10 69,2 Positivo Total 100 - Fonte: Elaborada pelos autores Tabela 3 - Comprometimento instrumental dos alunos Quando estão instrumentalmente comprometidos os indivíduos permanecem na organização devido aos custos e benefícios associados à sua saída e se engajam em linhas consistentes de atividade, devido à escassez de alternativas de trabalho, ou por investimentos feitos ao longo da carreira profissional. No contexto desta pesquisa, pode-se afirmar que 69,2% dos alunos permanecem no curso devido à relação entre custos e benefícios caso saiam dele. Como consideram os custos da saída maiores que os benefícios eles desenvolvem as atividades de forma consistente, ou pela escassez de cursos de Engenharia de Produção na região ou pelos investimentos já feitos. Assim, a escassez e ou os investimentos são o que Costa e Moraes (2007) chamam de ações prévias que impõem limites e restringem as ações dos alunos. Desta forma, é possível verificar que estes 69,2% dos alunos permanecem no curso por sentirem que é necessário devido às ações prévias realizadas. No modelo estudado, a dimensão instrumental do comprometimento, assim como a afetiva, também é composta por seis fatores, cada um deles expresso por meio de uma afirmativa. Analisando a Tabela 4 constata-se que em todos os fatores a maioria dos alunos possui um nível positivo de comprometimento. Nos dois primeiros fatores apresentados, que dizem respeito ao fato de realizar o curso ser uma necessidade e um desejo e que seria difícil deixar 8
o curso agora, a quantidade de alunos com comprometimento positivo ultrapassa os 80%. Nos demais fatores os comprometidos positivamente variam entre 61,7% e 69,2%. Fator 0 a 4 (%) Na situação atual, fazer este curso é na realidade uma necessidade tanto quanto um desejo. Mesmo se eu quisesse, seria muito difícil para mim deixar este curso agora. Se eu decidisse deixar este curso agora, minha vida ficaria bastante desestruturada. Eu acho que teria poucas alternativas se deixasse este curso. Se eu não tivesse dado tanto de mim neste curso, eu poderia considerar fazer outro curso Uma das conseqüências negativas de deixar este curso seria a escassez de alternativas imediatas 5(%) 6 a 10(%) 16,0 2,1 81,8 15,9 4,1 80,1 17,9 20,0 62,2 22,4 14,9 62,7 23,5 9,5 67,0 23,4 14,9 61,7 Média 19,9 10,9 69,2 Fonte: Elaborada pelos autores Tabela 4 - Fatores do comprometimento instrumental com o curso É possível observar que os fatores estão bem relacionados aos conceitos da dimensão instrumental já apresentados, demonstrando a questão da necessidade e a escassez de alternativas. Como esta dimensão demonstra que o comprometimento se dá por necessidade, conclui-se que é ela que faz com que estes alunos ajam de forma a conseguir se manter no curso. Isto implica em ter nota e freqüência suficientes, o que demanda presença na instituição e nas aulas e dedicação aos estudos. Cabe finalmente analisar o comprometimento normativo dos alunos com o curso em que estão matriculados. Na Tabela 5 encontram-se as freqüências que demonstram a dimensão normativa dos alunos, que revela um comprometimento positivo da maioria dos alunos, mais especificamente 68,51%. Este valor está próximo aos das demais dimensões já apresentadas. Escala Freq. Relativa (%) Grau de Comprometimento 0 a 4 21,73 Negativo 5 9,77 Neutro 6 a 10 68,51 Positivo 9
Total 100 - Fonte: Elaborada pelos autores Tabela 5 - Comprometimento normativo dos alunos Segundo Medeiros (2003), o lemento central do comprometimento normativo é o controle dos indivíduos, exercido pela organização, que implica na aceitação dos objetivos e valores da organização e molda o comportamento destes indivíduos, impondo uma forma de ação. Assim, o que se tem é que 68,51% dos alunos pesquisados sofrem esta pressão normativa e acabam agindo de acordo com os objetivos e valores relacionados ao curso, já que não foi apresentada a eles a questão do vínculo com a instituição de ensino, embora seja evidente que o próprio curso deve seguir objetivos e valores da instituição. Os alunos com comprometimento normativo positivo tendem a se guiar por normas e formas de conduta que foram apresentadas a eles como sendo as desejáveis aos discentes do curso. Desta forma, há uma permanência no curso que é ideológica, baseada na crença de que estas normas e formas de conduta são adequadas. Assim como nas demais, a dimensão normativa também é composta por seis fatores, como pode ser observado na Tabela 6 Verifica-se, também nesta dimensão, que a maioria dos alunos tem comprometimento positivo em cada um dos fatores. É possível perceber, entretanto, que não há, em nenhum dos fatores, 80% ou mais dos alunos com comprometimento positivo. Fator 0 a 4 (%) Eu sinto uma enorme obrigação em permanecer neste curso. Mesmo se fosse vantagem para mim, eu sinto que não seria certo deixar este curso agora. 5(%) 6 a 10(%) 18,15 9,51 72,34 10,65 14,88 74,47 Eu me sentiria culpado se deixasse este curso agora. 23,83 4,43 71,74 Este curso merece minha lealdade. 25,54 8,51 65,95 Eu não deixaria este curso agora porque eu tenho uma obrigação moral. 24,54 10,64 64,82 Eu devo muito a este curso. 27,65 10,64 61,71 Média 21,73 9,77 68,51 Fonte: Elaborada pelos autores Tabela 6 - Comprometimento normativo dos alunos Nesta dimensão, o fator em que há mais alunos com comprometimento positivo é o que menciona que, mesmo que fosse vantagem, o aluno não considera que seria certo deixar o 10
curso agora. Se não deixariam o curso mesmo sendo vantajoso consta-se a questão do sentimento de obrigação, característico do comprometimento normativo, fato que foi mencionado por 72,34% dos pesquisados. Juntamente com a obrigação vem o sentimento de culpa, que 71,74% dos alunos teriam se abandonassem o curso. Outra questão interessante é que, embora esta pesquisa tenha sido feita em uma IES particular, em que os alunos têm que arcar com o valor da mensalidade ou conseguir uma bolsa, 61,71% dos pesquisados sentem que devem muito ao curso que estão fazendo. Concluindo a análise do comprometimento dos alunos de Engenharia de Produção da IES estudada com o curso, comprovou-se que a maioria dos alunos está positivamente comprometida com o curso em todas as dimensões analisadas, sendo que o maior nível de comprometimento é o afetivo, seguido pelo instrumental e pelo normativo. Este fato indica que, embora os valores de comprometimento tenham sido muito próximos se comparadas as dimensões, os sentimentos que tornam mais forte o vínculo entre os alunos e o curso são o de identificação e lealdade, seguidos pela necessidade e, por último, pela obrigação. 5. Considerações finais Este trabalho teve como tema o nível de comprometimento dos alunos concluintes de Engenharia de Produção com o curso realizado. O comprometimento é o elemento crucial para um bom resultado do indivíduo nas organizações, dentre elas as Instituições de Ensino Superior. Neste estudo focou-se em uma abordagem multidimensional composta pelas seguintes dimensões: afetiva, instrumental e normativa. Para alcançar os objetivos propostos foi feita uma pesquisa de campo, de abordagem quantitativa, com alunos de duas turmas distintas, totalizando 97 alunos. Quanto ao comprometimento com o curso de Engenharia de Produção, constatou-se que os alunos estão comprometidos de forma positiva nas três dimensões do comprometimento, porém o que teve um maior destaque foi o comprometimento afetivo, apresentando maior nível, seguido pelo instrumental e logo, pelo normativo. O grau de comprometimento dos alunos com o curso é importante, pois um comprometimento elevado pode levar os discentes a concretizar as metas propostas pelos professores e a falta de comprometimento pode ser indicativa de uma necessidade de revisão na metodologia e nas atividades propostas. Como proposta para futuras pesquisas, sugere-se a realização de novo estudo sobre o comprometimento dos alunos, que permita a análise de uma amostra maior e uma etapa qualitativa visando obter um maior aprofundamento no que diz respeito às variáveis que compõem cada dimensão do comprometimento e a razão pela qual cada uma delas afeta positiva ou negativamente o grau de comprometimento dos alunos. Indica-se ainda a realização de pesquisas que verifiquem diretamente a relação entre o comprometimento discente e os níveis de evasão e de desempenho acadêmico dos mesmos. Referências 11
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