Interfaces Comunitárias_ Construções



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Transcrição:

070 Interfaces Comunitárias_ Construções Denise Mônaco dos Santos demonaco@sc.usp.br Marcelo Tramontano tramont@sc.usp.br Nomads, Núcleo de Estudos de Habitares Interativos issues related to the conception of usually forgotten in this practice. It tries to denote and propose some constitution of virtual communities as part of researches which aim understanding of the constitution of the implications of ICT Information and Communication Technologies in usp Center for Interactive Studies - at the Department of Architeture School of São Carlos, University of São Paulo. Introdução Há pelo menos uma década, é possível, para sociedade contemporânea, vislumbrar instâncias de sociabilidade a partir de ambientes virtuais partir de plataformas informatizadas, foram e forma indiscriminada como comunidades virtuais, ou comunidades online, estes territórios virtuais mesmo estanques. Abrangem, sim, além de Evitando aprofundar em taxonomias, optamos aqui por utilizar comunidades virtuais com extensões que as caracterizem, ou seja, como exclusivamente imaterial, estabelecidos a partir em ambientes virtuais, ou como instâncias possuem fortes vínculos com um delimitado Gaved e Anderson (2006, p.5) apresentam para descrever iniciativas desta natureza, ou comunitária de base local quase sempre está um universo complexo de características e determinantes, muitas vezes, associado a outros, fatores a serem considerados. Da mesma relacionados a equipamentos informatizados e

Interfaces Comunitarias_Construcoes Colaborativas 071 aglutinam aparatos sociais e suportes micro- outros aspectos. distintas, as interfaces pertencem ao universo da multidisciplinariedade, e fazem parte dos da psicologia cognitiva, da sociologia, da outros (SANTOS, 2005b). A importância das dos requisitos de usabilidade. Johnson (2001, p.21) destaca a relevância cultural do design de interface, principalmente no cenário aqui considerado, destacando que o modo como escolhemos imaginar essas novas comunidades necessidade de se agregar ferramentas de Este trabalho pretende examinar algumas que se estruturam como âncoras das instâncias variáveis que devem ser consideradas na atividades colaborativas presenciais, um aspecto muitas vezes esquecido nessa prática. Uma comunidade online de base local tem como característica distintiva a possibilidade de proximidade física, material, concreta dos pode, nem deve, ser ignorada. Este fato é, na maioria das vezes, considerado apenas como mais um dado de design. De maneira diferente, nos propomos aqui investigar a possibilidade mesmas dessa modalidade de interface. design de interfaces atividades presenciais e conjunto de estudos que pretende estruturar um entendimento teórico amplo a respeito da na vida cotidiana, em curso no Nomads.usp Núcleo de Estudos de Habitares Interativos, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da incursões teóricas de uma pesquisa de doutorado junto com outras, em torno de um projeto amplo e sociabilidade em políticas públicas para a tem por objetivo central implantar uma instância comunidade localizada no distrito paulistano de de políticas públicas neste domínio. tem sido examinada mais atentamente no Entre as primeiras análises que, de forma pessimista, enxergavam para o futuro a perda sociais face-a-face, e mesmo o isolamento social sociais, somam-se ainda as posturas mais existentes nos ambientes virtuais, ou mesmo, a virtuais. (SANTOS, 2005a). Para Wellmam (1999), o que se está vivendo paradigmática, principalmente no modo como a sociedade é organizada. Segundo o autor, vive-se societies. Na sociedade baseada em grupos,

072 as pessoas se relacionam com poucos membros de acordo com uma estrutura precisa, com profundas. Já nas sociedades em rede, as mais rasas, os limites mais permeáveis. Em casa, no trabalho, e em outras instâncias, as trocas acontecem entre redes múltiplas, sendo a rede estrutura tecnológica que aumenta a habilidade se, de forma melhor ou pior. O viver em redes pressupõe, segundo o autor, o aumento das habilidades para conectar muitos ambientes estudos sobre comunidades virtuais se situa num em rede. As comunidades virtuais seriam um dos instrumentos disponíveis na sociedade da sociabilidade que caminha para o individualismo em rede. O olhar, agora, estaria focado nas grupo ou a comunidade. sociabilidade e da medida do capital social, e Segundo Meneses (2004), os cientistas sociais pode ser inclusive fonte para novos vínculos que podem se transformar em vínculos também, que neste contexto, alguns autores destacam que as redes virtuais podem tanto construir, incentivar e alavancar como mascarar, conseqüentemente, capital social. interfaces de comunidades virtuais de base local é: o que fará as pessoas acessarem e como e porque as pessoas incluiriam instâncias pergunta, em maior ou menor grau, relaciona- ambientes, que quase sempre, no plano e melhorias na qualidade de vida das pessoas, seja nas suas dimensões sociais, econômicas se coloca: como fazer com que as pessoas sabido que só as tarefas direcionadas a simples ambientes virtuais, seja em âmbito pessoal ou tecnológica implantados em Extremadura, na Espanha, é enfatizado que do mesmo modo compromisso [...], a cada pessoa em processo em atividades grupais e se integre a elas, pois o As pessoas, além de aprenderem o uso de instrumentos informatizados, de ferramentas digitais, precisam se apropriar das possibilidades em práticas cotidianas, que relacionadas a realidade e ao contexto local da comunidade, indicam as perspectivas e oportunidades de positivas em âmbito pessoal e coletivo. Deve-se considerar que estas atividades possam assumir direcionadas ao desenvolvimento colaborativo do ambiente virtual, fazendo com que os próprios usuários participem ativamente da

Interfaces Comunitarias_Construcoes Colaborativas 073 do estabelecimento das práticas de design participativo. As atividades promovidas pelos animadores socioculturais devem estar cultural quanto o design participativo possuem extensos aportes conceituais e teóricos que devem ser examinados atentamente, no sentido de orientarem a natureza das práticas a serem implementadas e incentivadas. Foth (2006), descrevendo a metodologia PAD Participation, Animation, Design, destaca a estrutura base desta metodologia prestigia uma grupos focais, eventos, devem ser atividades processos de envolvimento e compromisso dos virtual. Devem ser, entretanto, permeadas pela liberdade de organizar e participar, pela vontade do fazer de forma colaborativa. e instrumentos técnicos. Gaved e Mulholland teóricas direcionadas ao desenvolvimento de destacam nós procuramos usar a demanda dos usuários e o trabalho de abordagem participativa agentes externos é que eles podem alienar as pessoas que pretendem auxiliar. de uma comunidade deve ter estrutura aberta presenciais e virtuais. O trabalho colaborativo, já muito destacado e valorizado nos ambientes exemplo, deve ser praticado desde as instâncias sociocultural e design participativo. assim considerar que ela pode ser estruturada Procuramos indicar aqui algumas ferramentas teóricas que podem auxiliar a tarefa de aproximar as instâncias colaborativas local há possibilidade de associar e sobrepor complementam e realimentam, permitindo assim que estas se constituam representativas, por Janeiro: Jorge Zahar. Participación Tecnológica. II Manual de buenas práticas: Metodologia de la Alfabetización AUPEX. FOTH, M. 2006 Encouraging residents to take through PAD: Participation, Animation, Design. Disponível em <https://eprints.qut.edu.au/ em: ago.2006. GAVED, M.; ANDERSON, B. 2006. The impact GAVED, M.; MULHOLLAND P. 2004. Grassroots method of overcoming multiple digital computador transforma nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. MENESES, J. 2004. El caso de Orkut.com: uma para la sociabilidad online em la tradición congres 2004/index-pt.html] SANTOS, D. M. 2005a. Ambientes virtuais e

074 metrópoles e modos de vida) - Programa de Doutorado, Departamento de Arquitetura e SANTOS, D. M. 2005b. Interfaces usuário- Relatório (Atividade Programada) - Programa Doutorado, Departamento de Arquitetura e Systems, January-February. Keywords: Virtual Community, Collaborative Interfaces, Sociocultural Animation, Social Software.