Modelo de Atenção às Condições Crônicas Seminário II Laboratório de Atenção às Condições Crônicas O caso da depressão Gustavo Pradi Adam
Caso clínico Sempre te Vi, Nunca te Amei
Sra. X, 43 anos, sexo feminino, casada, recebe benefício previdenciário (empregada doméstica, DORT). DM e HAS. Pobre adesão ao tratamento medicamentoso, à dieta prescrita e à atividade física recomendada. Comparece à UBS durante os dias do Programa e, muito frequentemente, como demanda espontânea.
Postura de sofrimento e pluriqueixosa, fez vínculo com a enfermeira Y, que chega a evitá-la, receosa de perder tempo com a choradeira. Sente-se sugada / frustrada. Queixa-se, dessa vez, de cefaleias que não responderam às medidas terapêuticas usuais. Em consulta médica individual é encaminhada para consulta especializada. Solicitado laboratoriais.
LIACC HAS DM Depressão
A escolha da Depressão Custos pessoais; Custos à sociedade; Relação com outras condições crônicas; Incidência; Cronicidade.
Custos pessoais Depressão moderada ou severa maior prejuízo na maioria dos domínios de qualidade de vida do que IAM, ICC ou DM. Uso de álcool. Baixa capacidade de resolução de problemas. Dor. Estados de saúde geral prejudicados.
Custos à sociedade I Perda de autoconfiança impacto em diversos âmbitos do funcionamento pessoal e familiar. Perda de dias de trabalho. Benefícios previdenciários. Exames laboratoriais desnecessários para avaliação de sintomas somáticos do quadro. Internamentos. Risco à vida.
Custos à sociedade II A depressão é um transtorno incapacitante: Anos 90: 4ª causa específica de incapacitação. Ano 2020: 2ª causa em países desenvolvidos; 1ª em países em desenvolvimento. Quando comparada com as principais condições crônicas, a depressão só tem equivalência em incapacitação às doenças isquêmicas cardíacas graves, causando mais prejuízo no status de saúde do que angina, artrite, asma e diabetes.
Relação com outras condições crônicas Cardiovasculares; Endocrinológicas; Dependência de álcool; Neurológicas; Renais; Oncológicas; Síndromes dolorosas crônicas. A relação mútua pode exacerbar sintomas e efeitos incapacitantes de ambos os quadros, o que leva a custos tanto pessoais, quanto coletivos.
Incidência Prevalência é de até 11%, mais alta em mulheres do que em homens. Incidência é de aproximadamente 14 por 1000/ano. Estimativas mundiais da proporção de pessoas com depressão ao longo da vida giram em torno de 4-10%. Estimativa ponto para prevalência de um episódio depressivo giraria em torno de 2,6%: 2,3% para homens; 2,8% para mulheres.
Cronicidade I A depressão é cada vez mais vista como uma condição crônica (altas taxas de recorrência de sintomas e prejuízo funcional sustentado): ~ ½ das pessoas com depressão a cronificam. 50-85% dos indivíduos que tiveram um 1º episódio de depressão, vão ter pelo menos mais um dentro de 15 anos do diagnóstico. Cada episódio aumenta a chance de um seguinte em 16%, levando a uma média de 04 episódios ao longo da vida.
Cronicidade II 1/3 das pessoas que tiveram um episódio depressivo irá recair no primeiro ano. 12% das pessoas com depressão apresentam um curso crônico sem remissão completa de sintomas. Cada novo episódio tende a ocorrer mais cedo, durar mais tempo e se tornar mais severo, bem como ser de mais difícil tratamento.
O que fazer O caminho para se alterar esse cenário não é simples. Estudos mostram que simplesmente prescrever um antidepressivo na atenção primária, ou aguardar a chegada da demanda em ambulatórios, ou, ainda, distribuir diretrizes e promover seminários não são suficientes para promover resultados mais efetivos.
A depressão pode ser tratada com sucesso na maior parte dos casos e a maioria deles pode ser tratada na atenção primária. Além disso, o tratamento da depressão pode ser uma Além disso, o tratamento da depressão pode ser uma maneira de melhorar a qualidade de vida das pessoas com comorbidades crônicas.
Na Atenção Primária em Saúde, o diagnóstico precoce e o tratamento são cruciais, porque quanto mais tempo uma depressão evoluir sem tratamento, pior o prognóstico (e, além disso, a depressão parece piorar o prognóstico e o manejo de pessoas com outras condições crônicas que são foco da Atenção Primária em Saúde).
Quanto ao diagnóstico precoce, sabe-se que a depressão é comumente encontrada na atenção primária, mas frequentemente subdiagnosticada. Um estudo da OMS concluiu que apenas 42% das pessoas com depressão foram diagnosticadas apropriadamente pelo seu médico da atenção primária. É comum o subdiagnóstico de depressão em pessoas com outras condições crônicas, em pessoas que se apresentam com sintomas somáticos do transtorno, em idosos e nos adolescentes.
Reconhecer os indivíduos de maior risco para depressão e usar ferramentas para triagem e escalas diagnósticas pode contribuir para a detecção da condição nesse nível de atenção. Uma vez diagnosticada, a depressão deve ser efetivamente tratada com antidepressivo, psicoterapia ou uma combinação dessas duas técnicas, bem como através de uma série de mudança em estilo de vida e da corresponsabilização pelo manejo da condição.
Caso clínico 2010 O Ano em que Fizemos Contato
Sra. X, 43 anos, sexo feminino, casada, diarista. DM e HAS Depressão (identificada por triagem aplicada nos dias dos Programas) Decidida a tomar medicamentos regularmente. Não se considera pronta para mudar a dieta, mas combinou fazer três sessões de atividades física de 20 minutos por semana e as têm feito. Comparece à UBS no CuCo.
Postura mais ativa. A enfermeira Y, com quem fez vínculo, já não a evita mais, não se sente mais tão sugada / frustrada. Não teve nenhuma consulta por demanda espontânea e nenhuma visita a CMUM ou solicitação de consulta especializada/laboratoriais pelas condições crônicas ou por queixas inespecíficas. O tratamento da depressão (medicamentoso, autocuidado apoiado e CuCo) reduz suas pluriqueixas, que agora são encaradas como sintomas do quadro depressivo.
Obrigado! Gustavo Pradi Adam e demais membros da equipe do LIACC SMS Curitiba Curitiba, 20 de Agosto de 2012