Rastreamento da notícia: a produção jornalística no Jornal De Fato 1



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Transcrição:

Rastreamento da notícia: a produção jornalística no Jornal De Fato 1 André Luís da SILVA 2 Tamara de Sousa SENA 3 Marcília Luzia Gomes da Costa MENDES 4 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, RN Resumo Este trabalho aborda o rastreamento da notícia, tendo como objeto de estudo o Jornal De Fato de Mossoró, sendo utilizado tanto o impresso como o online, na qual visa conhecer o caminho percorrido pelo fato até se tornar uma notícia, chegando ao consumo dos leitores. Foram utilizados como base de autores, Traquina (2005), com o livro Teorias do Jornalismo, Volume I: Porque as notícias são como são com teorias como a construcionista e a interacionista, além de Shoemaker e Vos (2011), com o livro Teoria do Gatekeeping, assim como convergência midiática trabalhada pelo o autor Jenkins (2008) no livro Cultura da Convergência. Palavras-chave: convergência; De Fato; gatekeeping; notícia. Introdução A partir do conhecimento adquirido acerca das terias do jornalismo vistas na própria disciplina, bem como a produção da notícia a partir de um ponto de vista teórico, intencionou-se a realização deste trabalho para analisarmos como se dá tal processo na prática, tomando como objeto de estudo um veículo de comunicação da mídia mossoroense. Foi neste intuito que este trabalho optou pelo Jornal De Fato para abordar tal estudo, o qual teríamos que, na condição de agente receptor e produtor da notícia, verificar e associar as teorias vistas em sala com a rotina de produção da redação, avaliando desde a reunião de pautas até os critérios de noticiabilidade. A partir de uma visita ao jornal, foi feita uma observação, assim como entrevista com o editor e os repórteres e um acompanhamento da reunião de pautas. Tal estudo se torna relevante para área de comunicação no que tange a identificar, a partir de uma analise embasada nas teorias, como a mídia mossoroense, no 1 Trabalho apresentado no IJ 01 Jornalismo do XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste realizado de 15 a 17 de maio de 2014. 2 Estudante de Graduação. 6º semestre do Curso de Jornalismo da FAFIC-UERN, email: andre_anddy@hotmail.com 3 Estudante de Graduação. 6º semestre do Curso de Jornalismo da FAFIC-UERN, email: tamara_sena@yahoo.com 4 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo da FAFIC-UERN, email: marciliamendes@uol.com.br 1

exemplo em questão o jornal De Fato, põe em prática tais teorias no momento de produção do conteúdo que será veiculado. Fazendo assim inferências como: se há ou não a interferência de um gatekeeper, como se dá a relação com as fontes, se o conteúdo tem tendências políticas e econômicas, além de analisar a prática jornalística em tempos de convergência, ou seja, se o jornal já trabalha com este fluido de conteúdos nas variadas mídias. E tais inferências foram feitas neste trabalho baseando tudo o que foi colhido durante a visita com as teorias do jornalismo apresentadas no livro de Traquina (2005), que vem com a perspectiva de analisar porque as notícias são como são. Para isso então focamos no capítulo em que ele discorre das teorias propriamente ditas, bem como seus teóricos. Também foi utilizado o texto Shoemaker e Vos (2011) que trata da teoria do gatekeeping. E ainda recorremos a Jenkins (2008) que aborda a cultura da convergência definindo termos como a própria convergência, bem como ciberespaço e inteligência coletiva dialogados com as ideias de Lévy (1999), para teorizar a parte em que se aborda como o De fato se encontra em termos de convergência. No primeiro momento o artigo abordará a atuação do gatekeeper no jornal e a sua interferência, em seguida será visto como ocorre o processo de notícia a partir dos critérios de noticiabilidade. Após isto, será discorrido sobre cultura organizacional da empresa e a relação dos jornalistas com as fontes e por fim irá ser abordado como a convergência está atuando no jornal De Fato. O Jornal De Fato e a teoria do gatekeeper A teoria do gatekeeper teve sua origem com o psicólogo Kurt Lewin, que trabalhou essa teoria na área da alimentação. Segundo Traquina (2005) o termo gatekeeper faz referência, a uma pessoa que toma uma decisão numa sequência de decisões. David Manning White foi o primeiro a relacionar o gatekeeper ao jornalismo, ele adaptou os elementos da teoria de Lewin, o portão passou a ser o editor, o canal seria todo o jornal e as seções representariam a revisão editorial. Nesta teoria, o processo de produção da informação é concebido como uma série de escolhas onde o fluxo de notícias tem de passar por diversos gates, isto é, portões que não são mais do que áreas de decisão em relação às quais o jornalista, isto é o gatekeeper, tem de decidir se vai escolher essa notícia ou não. Se a decisão for positiva, a notícia acaba por passar pelo portão ; se não for, a sua progressão é 2

impedida, o que na prática significa a sua morte porque significa que a notícia não será publicada, pelo menos nesse órgão de informação. (TRAQUINA, 2005, p.150) Utilizamos o jornal De Fato, para analisar a teoria do gatekeeper na prática, conversamos com William Robson, editor-chefe do jornal, que afirmou que o papel de escolher as notícias não é unicamente do editor. Ele aponta o repórter como o primeiro a tomar as decisões, quando escolhe qual o assunto, como vai ser abordado à matéria e quem vai entrevistar, tudo isso já são escolhas feitas pelo repórter. Depois de todo esse trabalho do repórter, ele passa pelo editor do caderno e editor-chefe do jornal, William Robson ainda enfatizou que depois de passar por todos esses portões, a matéria pode ser mudada sua abordagem antes de ser publicada, para se enquadrar a política do jornal. Pode ainda acontecer de perder seu lugar para outra matéria, para atender algum interesse ideológico ou político do dono do veículo. Tivemos contato direto com a teoria do gatekeeper, quando acompanhamos a reunião de pauta do De Fato, que acontece todos os dias, para discutirem os assuntos trazidos pelos repórteres, para saber como serão abordadas as matérias e receberem sugestões. Pelo discurso do William Robson percebemos como a reunião de pauta é importante para o jornal De Fato, sendo um dos poucos de Mossoró que mantém esse hábito. E são nessas reuniões que apontam os assuntos mais importantes, quais viram manchetes e aquelas matérias que são barradas pelo editor-chefe do jornal. A teoria do gatekeeper analisa as notícias apenas a partir de quem as produz: o jornalista. Assim, é uma teoria que privilegia apenas uma abordagem micro-sociológica, ao nível do indivíduo, ignorando por completo quaisquer fatores macro-sociológicos, ou mesmo, microsociológicos como a organização jornalística. É, assim, uma teoria que se situa ao nível da pessoa jornalista, individualizando uma função que tem uma dimensão burocrática inserida numa organização. No nível individual, a teoria avança uma explicação quase exclusivamente psicológica. (TRAQUINA, 2005, p.151) Foi assim que White, ao fazer sua pesquisa, percebeu que as escolhas do editor, Mr. Gates, como indivíduo é que escolhia o que era ou não importante como notícia para sair na edição do jornal. A teoria do gatekeeper formulada por White foi contestada por Gieber, que trabalhava mais a organização do jornal do que o indivíduo, concluiu que as regras do jornal não fornecia tanta liberdade ao jornalista para escolher as notícias. 3

Enquanto White concluiu que os valores pessoais do gatekeeper constituíam um determinante importante da seleção, Gieber descreveu o editor como alguém preso a detalhes mecânico que operam como uma camisa de força (1956, p.432) que não permite que valores pessoais exerçam grande influência na seleção das histórias. (SHOEMAKER E VOS, 2011, p.30) Foi o que observamos na visita ao Jornal De Fato, que além do editor não ser o único responsável pelas escolhas das notícias, todos os jornalistas sofrem com as regras do jornal, assim não possuem toda a influência que White diziam que os jornalistas tinham. A construção da notícia Segundo Fonseca (2010) os critérios de noticiabilidade está ligado aos estudos de valores-notícia, que podem variar de eventos de rara ocorrência e os que causam grande impacto na sociedade. Alguns fatores são apontados para saber o grau da noticiabilidade como: proximidade cultural, escassez e relevância. Ao analisar os critérios de noticiabilidade no De Fato, o editor-chefe William Robson, foi além dos fatores da informação, que conhecemos na teoria, ele apontou fatores fora do jornalismo que também influenciam na escolha da notícia. Como a teoria organizacional, onde o jornalismo também é visto como um negócio, que enfrenta o poder dos meios econômicos. A influência política e ideológica também tem forte decisão, no que será noticiado ou não no jornal, conhecida como a teoria da ação política. William Robson afirmou como a maior parte dos jornais sofrem interferência de forças que exercem poder de escolha no que será noticiado, sendo essas forças políticas, ideológicas e econômicas. Cultura profissional e organizacional dentro e fora da redação A interação dos membros do jornal De Fato foi acompanhada na reunião de pauta que acontece diariamente, onde podemos ver os repórteres dando suas sugestões de pautas, já que no jornal não tem a figura do pauteiro. Em tal reunião vimos como a notícia se constrói, podendo citar a teoria construcionista, que seria a notícia como uma construção, mas que segundo Traquina (2005) não quer dizer que as notícias sejam ficção, como alguns jornalistas costumam pensar sobre a teoria e assim não gostam do conceito, pois ligam o mesmo a distorção. Nessa construção observamos como uma 4

pauta pode ser derrubada, como ela consegue seguir em frente ou até mesmo virá um especial de fim de semana. Quanto à relação do jornal com outras empresas da área da comunicação, William Robson cita que eles mantem uma relação profissional com uma Agência do grupo Estado de São Paulo, onde compram notícias nacionais que são feitas pelo próprio Estadão e as internacionais que são feitas por uma agência internacional para serem utilizadas tanto no jornal impresso quanto online. Enquanto isso as notícias locais têm preferência sobre essas e quando o espaço no jornal está limitado, as internacionais são as primeiras a cair. William Robson afirmou que o De Fato também é pautado por outras mídias, como a televisão e principalmente pela internet, e percebe nas pautas das televisões locais, uma forte influência do impresso e do online. Relação dos jornalistas com a fonte No Jornal De Fato entrevistamos dois repórteres, um do jornal impresso e um do jornal online para saber como é a relação deles com as fontes utilizadas em suas matérias, e pudemos ver em suas abordagens, muito da teoria interacionista que segundo Traquina (2005): As notícias são resultados do processo de produção, definido como percepção, seleção e transformação de uma matéria-prima (os acontecimentos) num produto (as notícias). Para Traquina (2005), as notícias são resultado do processo de interação social não só entre os jornalistas, vistos como membros de uma comunidade profissional, mas ativos na construção da realidade. Natan Figueiredo, repórter do jornal impresso, cita sobre as fontes que utiliza diariamente, as institucionais, por serem as mesmas, são mais fácies de manter contato, e que ele sempre procura conversar com três fontes no mínimo e se elas relatam o mesmo fato, sem contradições, isso que dizer que são confiáveis. Edinaldo Moreno, repórter do online ainda comenta sobre as escolhas das fontes, que procura sempre mantê-las diversificadas. De Fato em tempos de convergência 5

O Jornal De Fato em sua rotina produtiva trabalha com duas plataformas, o impresso e o online. Com uma média de cinquenta matérias por dia ao todo, o jornal possui uma equipe de dezesseis repórteres, sendo que quatro deles são voltados para o site. E se tratando desta plataforma, funciona dividida com dois repórteres para a turno da manhã, das 8:00h às 13:00h, e dois para a do tarde e noite, das 13:00h às 19:00h, sendo que mesmo após a saída do impresso o site ainda fica no ar até as 22:00h. O que ocorre na produção das notícias no De Fato é o caso do pessoal do impresso também fazer matérias para o online e isso é algo pertinente quando se fala em convergência midiática. Jenkins (2008) entende convergência como o fluxo de conteúdos que se dá através de múltiplos suportes midiáticos, e ao perguntar a William Robson, editor do jornal, se lá ocorre esta convergência, o mesmo discorre que a partir do momento em que se utiliza a internet e congregam-se os meios, isto é convergência. Tal discussão sobre utilizar a internet como uma nova ferramenta tanto de produção, quanto recepção, nos remete ao que Lévi (1999) vem falar acerca da inteligência coletiva a partir de um acesso ao um website, por exemplo. A inteligência coletiva pode ser vista como uma fonte alternativa de poder midiático. Estamos aprendendo a usar esse poder em nossas interações diárias dentro da cultura da convergência (JENKINS, 2008, p.30). Se tratando do De Fato, da mesma forma que o impresso fornece material para o online, ocorre o processo inverso, o online algumas vezes serve como ferramenta que pauta, guia ou auxilia o impresso. Tal forma de se fazer jornalismo é algo que se insere também naquilo que vem falar a teoria interacionista, as notícias são o resultado de processos de interação social não só entre jornalistas e as fontes, mas também entre os próprios jornalistas, vistos como membros de uma comunidade profissional (TRAQUINA, 2005, p.201). O que se percebe no discurso de Wlliam Robson é que ainda que o jornal De Fato tente trabalhar ao máximo com a convergência e a interação dentro das suas limitações, um ponto que ainda se torna crítico é a questão trabalhista, sindical. Ele mesmo aponta para o fato das empresas estarem cada vez mais em busca de jornalistas que sejam capazes de fazer múltiplas tarefas, no entanto muitas vezes não são pagos por esse excesso de atividades a serem executadas. 6

Quando se fala em pauta para o jornal, William afirma que lá não possui a figura do pauteiro, assim as pautas surgem dos próprios repórteres que as discutem na reunião de pautas, inclusive se tratando do material que vai para o site. A diferença é que as matérias que vão para o site devem ser pensadas de acordo com aquilo que a plataforma tem a oferecer, seja em termos de áudio, vídeo, imagem, ou seja, a multimídia em geral. [...] a convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos (JENKINS, 2008, p.29-30). É então que neste ponto o jornal De Fato tenta utilizar a plataforma digital como mais um meio em que o leitor possa utilizar para se informar, se inteirar e utilizar os recursos de multimídia, tornando assim um diferencial para o jornal que não fica restrito apenas àquilo que já veicula no impresso. Outro ponto evidenciado pelo editor é o que ele chama de relação transmidiática, exemplificando através da relação que eles fazem do conteúdo do impresso com o conteúdo do digital, como por exemplo, levar um material na íntegra para o site daquilo que saiu apenas como uma chamada no impresso ou vice-versa. O mesmo ocorre também quando se deseja utilizar a mesma matéria em ambos os espaços devido ao fator tempo, reaproveitando assim aquele conteúdo para não deixar que se perca a relevância do assunto para os dois suportes. O De Fato, além disso, busca aproveitar as mídias sociais e todos os recursos que elas têm a oferecer para a divulgação do seu conteúdo. E ainda traz aos leitores dos sites oportunidade de mergulhar por conteúdos diversos de blogs filiados ao jornal, que tratam de temas desde arte, cultura, política e futebol. E sobre este novo espaço Lévy (1999) discorre [...] o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem (LÉVY, 1999, p.11). Não há como falar em convergência no De Fato sem apontar para o fato da utilização de material da própria população, muito bem exemplificado quando pessoas mandam vídeos amadores para redação relatando problemas sociais ou até mesmo 7

fenômenos climáticos. Sendo este um fator pertinente quando Jenkins (2008) fala: [...] cultura da convergência, onde as velhas e novas mídias colidem, onde mídia corporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis (JENKINS, 2008, p.29). Conclusão Este artigo propôs analisar a produção da notícia no jornal De Fato, usando a observação, entrevistas e as teorias do jornalismo para embasar as informações coletadas. Tivemos contato com as teorias sendo colocadas na prática, como acompanhar uma reunião de pauta, onde alguns assuntos trazidos pelos repórteres foram perdendo espaço ao decorrer da reunião, a teoria do gatekeeper estava presente não só na figura do editor-chefe, mas também na do repórter. Como afirma Traquina (2005) sobre o termo gatekeeper, sendo uma pessoa que toma uma decisão, onde ainda terá uma sequência de escolhas. Pela entrevista com o editor-chefe do De Fato, William Robson, ficou evidente a forte influência da internet em pautar as notícias no jornal e a televisão local. Sendo que o De Fato trabalha com duas plataformas, o impresso e o online, o que é comum os jornalista do impresso fazerem matérias para o online, e também acontece o inverso, algo apropriado em tempos de convergência. Jenkins (2008) afirma que convergência seria esse fluxo de notícias através dos múltiplos suportes midiáticos. Percebemos pelo discurso dos entrevistados, a consciência da forte influência de forças de fora do jornalismo, que escolherá o que será noticiado para atender os interesses econômicos, políticos e ideológicos. Quando matérias serão mudadas para se adequar a política editorial ou notícias que perderam espaço para algo de maior interesse do jornal. Referências BENETTI, Marcia; FONSECA, Virginia Pradelina da Silveira. Jornalismo e acontecimento: mapeamentos críticos. Florianópolis: Insular, 2010 JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999. 8

SHOEMAKER, Pamela J.; VOS, Tim P. Teoria do gatekeeping: seleção e construção da notícia. Porto Alegre: Penso, 2011. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Vol I Por que as notícias são como são. 2 ed. Florianópolis: Insular, 2005. 9