INFLUÊNCIA DO TIPO DE ARMAZENAMENTO E DO MÉTODO DE DESINFECÇÃO DE DENTES EXTRAÍDOS SOBRE A ADESÃO À ESTRUTURA DENTAL



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Transcrição:

Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo 2006 maio-ago; INFLUÊNCIA DO TIPO DE ARMAZENAMENTO E DO MÉTODO DE DESINFECÇÃO DE DENTES EXTRAÍDOS SOBRE A ADESÃO À ESTRUTURA DENTAL THE INFLUENCE OF STORAGE AND STERILIZATION METHODS MORE USED IN TESTS OF ADHESIVE RESISTANCE WITH EXTRACTED TEETH Marcelo Filadelfo Silva * Fernando Mandarino ** Juliano Fernandes Sassi * Marcio de Menezes * André Luis Baracchini Centola ** Tomio Nonaka *** RESUMO O presente estudo de revisão de literatura procura destacar a influência do tipo de armazenamento e dos métodos de desinfecção mais utilizados nos testes de resistência adesiva realizados com dentes extraídos. Observou-se entre os autores que várias substâncias são utilizadas com esta finalidade em suas avaliações. Em relação ao tempo de armazenamento e tipo de solução utilizada houve grande variabilidade nos resultados. Para desinfecção, a autoclave foi o método mais seguro empregado para esterilização dos dentes, não causando alteração nos valores de resistência adesiva à dentina. DESCRITORES: Armazenamento de materiais e provisões - Desinfecção/Métodos ABSTRACT The present study of literature review tried to determinate the influence of the storage and the sterilization methods more used in the tests of adhesive resistance with extracted teeth. Most of the works used different substances in their evaluations. An autoclave was the safest method employed for sterilization of the teeth. In relationship at the time of stockpiling and type of used solution was found a great variability in the results. DESCRIPTORS: Materials and supplies stockpiling - Desinfection/Methods * Mestrandos de Dentística do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP ** Professor Titular do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP *** Professor Doutor do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP 175

INTRODUÇÃO Na Odontologia, a busca por situações laboratoriais que simulem as condições do meio bucal representa um importante fator para o correto desenvolvimento das pesquisas. Em relação aos experimentos que visam testar as propriedades mecânicas dos diversos materiais restauradores adesivos sobre os tecidos dentais, a manutenção da condição normal desse substrato é fundamental para se atingir uma reprodução mais aproximada possível das situações que ocorram na cavidade bucal. Não existe uma substância-padrão utilizada para conservação e desinfecção dos dentes após extração. Com isso, a possibilidade de que estudos que utilizem materiais similares em um mesmo tipo de substrato apresentem resultados diferentes é passível de ocorrer, em virtude da influência de outras variáveis, como o tipo de desinfecção feito, armazenamento realizado, o tempo e o tipo de substância utilizada para estocagem do dente. Outro aspecto importante é o fato de os dentes recém-extraídos serem considerados uma fonte potencial de infecção cruzada e contaminação, devendo, assim, serem armazenados em condições que permitam a manutenção de suas propriedades físicas e de sua correta descontaminação, antes de serem utilizados nas atividades laboratoriais de pesquisa. O objetivo do presente trabalho é, através de uma revisão de literatura, realizar uma análise crítica sobre a influência do tempo de armazenamento, dos tipos de soluções usados para estocagem e dos métodos de desinfecção dos dentes, nos ensaios de resistência adesiva ao substrato dental. REVISÃO DE LITERATURA Williams e Svare 22 (1985) avaliaram a influência da armazenagem por cinco anos na resistência adesiva ao esmalte. Os dentes foram armazenados em água destilada e timol a 4C 0, por 24 horas, 3 meses e por 5 anos. Após esses períodos eles eram armazenados em água destilada por uma semana, sendo em seguida submetidos ao teste de cisalhamento. Os resultados demonstraram não haver diferença significante entre os valores de resistência obtidos com 5 anos, 3 meses ou 24 horas de estocagem em água destilada. Aquilino et al. 1 (1987) avaliaram o efeito do meio de armazenagem dos dentes na resistência adesiva à dentina. Os dentes utilizados no estudo foram armazenados por três meses em solução aquosa de NaCl 0,9%, água destilada e solução saturada de timol em água destilada a 0,05%. Os resultados colhidos não mostraram diferença significante nos valores de resistência adesiva à dentina. Cooley e Dodge 4 (1989) avaliaram a resistência adesiva de três sistemas adesivos em dentes recém-extraídos, armazenados por 5 dias em solução salina 0,9% e em dentes armazenados por vários anos pós-extração em formalina 10%. Apenas para um sistema houve diferença significante entre os valores para ambos os substratos, sendo os valores de resistência em dentes envelhecidos significantemente superiores. Rueggeberg 18 (1991) realizou importante revisão da literatura sobre substratos utilizados nos testes de adesão, avaliando fatores como tipos de substratos mais adequados, efeito do tempo pós-extração na resistência adesiva, condição de armazenagem dos dentes, potencial de infecção dos dentes utilizados no experimento, preparação da cavidade para aplicação do adesivo, profundidade da dentina e localização do sítio de adesão. Bianchi et al. 2 (1991) avaliaram a influência do tempo de armazenagem das amostras, na resistência de dois adesivos. Apesar de não ser significante, um dos sistemas apresentou tendência de diminuição dos valores de resistência com o tempo de armazenagem. Goodis et al. 6 (1991) avaliaram a permeabilidade dentinária de dentes humanos após armazenagem em etanol a 70 %, formalina a 10%, água destilada com timol e soro fisiológico com timol, nos períodos de 1, 2, 4 ou 8 dias e 1,8 15, e 22 dias. Os resultados mostraram que a permeabilidade foi menor para os dentes armazenados em etanol ou formalina. Com relação ao tempo, todos os espécimes mostraram aumento da permeabilidade. Pashley et al. 15 (1993) estudaram a influência de diferentes métodos de esterilização sobre a permeabilidade dentinária e a força de adesão à dentina. Relatando que o óxido de etileno e a autoclave (121 0 C por 30 minutos) não alteraram a permeabilidade dentinária, nem alteraram os resultados da força de adesão ao cisalhamento. Goodis et al. 7 (1993) avaliaram a influência de cinco soluções de armazenagem: etanol 70%, formalina 10%, água destilada com timol 0,02%, água destilada e solução salina tamponada por fosfato com timol a 0,02%, realizando medidas da resistência adesiva com 8 dias, 15 dias e 6 meses, antes das quais, as superfícies dentinárias eram sempre preparadas. Os valores de resistência adesiva tiveram alteração significante na solução salina. Takemori et al. 20 (1993), realizaram um estudo so- 176

bre a influência de cinco fatores na resistência adesiva de resinas compostas à dentina: inclusão dos dentes em resina epóxica, tempo de armazenagem dos espécimes, velocidade de tração, espessura do corpo de prova e profundidade da dentina. Somente o fator profundidade do espécime embebido em resina mostrou diferença significante. A esterilização utilizando-se aquecimento químico foi testada por Dewald et al. 5 (1995). A análise em microscopia ótica e MEV da morfologia da dentina esterilizada após aplicação de um adesivo dentinário demonstrou que o tratamento com formalina por 30 dias e a autoclave não alteraram a morfologia da dentina, quando comparada à dentina dos dentes do grupo-controle. Strawn et al. 19 (1996), verificaram através de estudo espectroscópico após armazenamento de dentina em água destilada com 0,02% de timol, água purificada e filtrada, solução salina com 0,02% de timol, etanol a 70 % e formalina a 10% nos períodos de 0,1,2,7,14,21, e 28 dias que ocorreram mudanças químicas superficiais e nas propriedades ópticas da dentina em função do tipo de substância e do tempo de armazenamento apesar de não ter-se verificado diferenças estruturais a nível de colágeno ou do conteúdo mineral, devendo portanto ser consideradas quando se estuda dentina. Panighi et al. 14 (1997) avaliaram a possibilidade da utilização de dentes congelados como substitutos de dentes recém-extraídos nos testes de resistência adesiva à dentina. Os procedimentos de adesão foram realizados dentro de um período de no máximo duas horas pós-extração, e com dentes congelados por um período compreendido entre 6 a 36 meses. Foram preparadas superfícies de adesão em três profundidades de dentina: superficial, média e profunda. Os valores em dentina superficial mostraram diferença significante entre os dois substratos. Titley et al. 21 (1998) após armazenarem dentes extraídos por dois meses em onze diferentes soluções, verificaram que os testes realizados naqueles que foram congelados apresentaram os maiores valores de resistência ao cisalhamento. Gwinnett e Yu 10 (1995), utilizando terceiros molares humanos hígidos, estudaram a influência do tempo de armazenagem na resistência de união de dois adesivos. As amostras, após o procedimento adesivo, foram armazenadas por 24 horas e 6 meses. Os valores obtidos no teste de resistência ao cisalhamento apresentaram diferença estatística significante em relação aos diferentes tempos, havendo diminuição da resistência adesiva com o aumento do tempo de armazenagem. Essa diferença foi relacionada com a sorção de água e conseqüente degradação hidrolítica da união adesiva. Miranda et al. 13 (1997) estudaram a influência de diferentes métodos de esterilização na força de união de um adesivo dentinário em molares permanentes humanos. Os dentes foram submetidos aos seguintes tratamentos: esterilização em solução de glutaraldeído a 2% por 10 horas; esterilização em autoclave num ciclo de 260 0 F por 20 minutos e o grupo-controle, que não recebeu qualquer tratamento. O grupo-controle foi estatisticamente diferente dos outros grupos, mostrando melhor força de adesão. Miranda et al. 13 (1997) utilizando a mesma metodologia e o mesmo sistema adesivo, avaliaram a força de adesão dentinária em dentes permanentes humanos esterilizados com o gás óxido de etileno. Não houve diferença estatisticamente significante entre os dois grupos. O gás óxido de etileno foi considerado viável para esterilização dos dentes permanentes. Groth et al. 8 (1999) analisaram o efeito dos seguintes métodos de esterilização sobre a força de adesão: controle, calor seco, vapor e glutaraldeído. O calor seco diminuiu, significativamente, a força de tensão, enquanto o glutaraldeído aumentou. O grupo que utilizou o vapor manteve-se estatisticamente semelhante ao grupo-controle. Rabello et al. 17 (1998) avaliando o efeito da desinfecção cavitária com clorexidina, antes e após o condicionamento com ácido fosfórico, sobre a adesão dentinária, não verificaram diferença após teste de cisalhamento. Gurgan et al 9 (1999) avaliaram in vitro o efeito da desinfecção cavitária sobre a adesão à dentina, em diferentes momentos, verificando que a aplicação antes ou após o condicionamento ácido reduziu significantemente a resistência ao cisalhamento da resina composta ao dente. A lavagem da cavidade antes do procedimento adesivo não afetou a resistência adesiva. Pimentel 16 (1999) estudou a influência da autoclave, do glutaraldeído a 2%, do formol a 10% e do óxido de etileno sobre a força de adesão à dentina de molares decíduos e verificaram que nenhum método foi capaz de alterar significativamente a adesão dentinária. Entretanto, a solução de glutaraldeído provocou alteração na cor dos dentes. 177

Bocangel et al. 3 (2000), avaliaram a influência da desinfecção com NaOCl 2,5%, clorexidina 2%, flúor fosfato acidulado 1,23% e o grupo-controle constatando que as substâncias não ocasionaram alteração na resistência adesiva do material empregado. Mendonça et al. 11 (2003) avaliaram a resistência coesiva a microtração após 24 horas e 6 meses de armazenamento em água. Os resultados dos testes realizados após 24 horas não mostraram diferenças estatisticamente. Após 6 meses apenas um material mostrou aumento significante na resistência à microtração, enquanto os outros não sofreram influência da resistência com o tempo. DISCUSSÃO É relatada na literatura a dificuldade de padronização dos testes de resistência adesiva em esmalte e dentina in vitro, principalmente pelo desconhecimento da história dos dentes utilizados no experimento (Takemori et al. 20 1993). Nesse sentido, Cooley e Dodge 4 (1989) observaram que além do tipo de armazenamento e método de desinfecção, existe forte influência de composição do material adesivo nos valores de resistência aos diferentes substratos. Assim Goodis et al. 7 (1993) verificaram que o tempo e tipo de solução utilizada para armazenamento afetam a permeabilidade dentinária, aumentando-a, representando um importante fator a ser considerado quando se trata de adesão à dentina. A maioria dos trabalhos mostrou influência no período de armazenamento nos valores de adesão do material restaurador ao dente (Bianchi et al. 2 1991, Cooley e Dodge 4 1989, Goodis et al. 6 1991, Goodis et al. 7 1993, Gwinnett e Yu 10 1995). Apesar dos estudos de Williams e Svare 22 (1985) e Takemori et al. 20 (1993), relatarem que o tempo de armazenamento mostrou não influir nos resultados de adesão. Interessante observar que os valores de resistência adesiva em dentes envelhecidos mostraram-se significantemente superiores(4), apesar de Bianchi et al. 2 (1991) mostrar uma tendência de diminuição destes valores o tempo de armazenagem. Titley et al. 21 (1998) encontraram os melhores valores de resistência quando se utilizou o congelamento para estocagem dos dentes extraídos. Os resultados encontrados por Panighi et al. 14 (1997) indicam sua utilização em teste de adesão à dentina, quando os sítios adesivos estiverem em camadas dentinárias médias e profundas. Dentre as substâncias normalmente utilizadas para estocagem, a água destilada, timol (em diferentes concentrações) e solução fisiológica não mostraram influir na resistência adesiva (Aquilino et al. 1 (1987), Williams e Svare 22 1995). Por outro lado, estudo avaliando soluções salinas mostrou que as mesmas, apesar de comumente utilizadas, não são as mais adequadas como meio de armazenagem para estudos in vitro (Goodis 7 1993). Outras soluções como etanol a 70 %, formalina a 10%, alteraram a permeabilidade, promovendo a diminuição da mesma, não sendo preferíveis às anteriormente citadas (Goodis 7 1993). Miranda et al. 13 (1997) concluíram em seu estudo que os métodos de desinfecção testados alteraram a força de adesão dentinária. Os métodos de desinfecção óxido de etileno e a autoclave (121 0 C por 30 minutos) não alteraram a permeabilidade dentinária, (Pashley et al. 15 1993). Miranda et al. 13 (1997), relatam que o gás óxido de etileno é considerado viável para esterilização dos dentes permanentes. Entretanto, este produto, foi considerado inviável, já que,todos os dentes utilizados em seu estudo fraturaram durante o processo de esterilização (Pimentel 16 1999). Quando utilizados calor seco e glutaraldeído a 2% diminuíram a adesão (Groth et al. 8 1999, Miranda et al. 13 1997). Com relação à desinfecção realizada antes dos procedimentos adesivos Gurgan et al. 9 (1999), verificaram que quando este procedimento é feito antes ou após o condicionamento ácido pode influenciar a adesão. Quando esta desinfecção é feita com clorexidina não foi verificada diferença após testes de cisalhamento (Rabelo e Castro 17 1998). CONCLUSÃO Após análise dos fatores envolvidos neste estudo, parece-nos lícito concluir que o armazenamento de dentes extraídos em água destilada ou timol apresentou as menores variações nos valores de resistência adesiva, sendo que a utilização do congelamento para estocagem mostrou os melhores valores de resistência adesiva. O uso da autoclave parece ser o método mais confiável na desinfecção dos dentes, não exercendo qualquer influência nos valores de força adesiva dos dentes. Futuras investigações são necessárias para avaliar as mudanças que ocorrem na estrutura dental, tanto em dentina quanto em esmalte, se estas mudanças são significativas após as várias condições de armazenamento e desinfecção e se exercem influência significativa sobre a união ao substrato dentário. 178

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