O DIREITO À EDUCAÇÃO E A INCLUSÃO ESCOLAR: UMA ANÁLISE SOB O PRISMA DOS DIREITOS HUMANOS 1 Pedro Augusto Sousa Silva Neves 2 Ana Cláudia dos Santos Rocha 3 RESUMO: A pesquisa decorre das discussões do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas e Direitos Fundamentais e tem como tema o direito à educação e a inclusão escolar sob o prisma dos direitos humanos. Através de pesquisa documental qualitativa, embasada na legislação e na, doutrina, objetiva-se analisar a inclusão de pessoas com deficiência na escola regular como um direito humano fundamental, associado ao atendimento educacional especializado (AEE). O direito a educação, como direito humano fundamental, é previsto na Constituição Federal (1988), a qual preceitua em seu artigo 205, ser um direito de todos, vedando, qualquer discriminação, distinção, limitação ou exclusão atinente à forma de acesso e de permanência, determinando, ainda, o AEE aos deficientes (artigos 208, III e 227, 1º, II). Neste diapasão, na esfera nacional pode-se citar o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069/90) que dispõe o acesso ao ensino como direito subjetivo, obrigatório e gratuito, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96). Na esfera internacional: o artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a Declaração de Salamanca (Espanha- 1994) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU/2007). Embasado na legislação nacional e nos tratados e convenções, no entendimento doutrinário e jurisprudencial, evidencia-se que o direito à educação é de todos e só se configura com a inclusão escolar dos deficientes na educação básica, devendo ser garantido o acesso na escola regular e condições de permanência através do AEE, este sim, podendo ser realizado na escola regular ou em outras instituições. Palavras-Chave: Direito à Educação; Inclusão Escolar; Direitos Humanos. INTRODUÇÃO A educação é um direito humano, fundamental e indisponível. É dever do Estado e da família. Logo, parece óbvio que as pessoas com deficiência também têm direito à educação, mas as estatísticas evidenciam que, na prática, trata-se de um direito ainda não efetivado a todos na realidade pátria, em especial ao que tange aos deficientes, por diferentes motivos. 1 Grupo de Temático 4 - Educação em Direitos Humanos e Inclusão 2 Discente do 4º ano do curso de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus Três Lagoas/MS. Membro do grupo de pesquisa Políticas Públicas e Direitos Fundamentais. E-mail: pedroassneves@outlook.com 3 Professora Assistente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; mestre em Direito pela Universidade Metropolitana de Santos; doutoranda em Educação pela Universidade Federal da Grande Dourados; líder do grupo de pesquisa Políticas Públicas e Direitos Fundamentais; membro da rede latino-americana e caribenha de Educação em Direitos Humanos.
As pessoas com deficiência não só têm direito a educação, mas também de tê-lo efetivado sem discriminações, ou seja, de serem recebidas e ensinadas no mesmo espaço que todos os demais educandos. Caso necessitem de atendimento educacional especializado (AEE), este pode ser oferecido à parte, como complemento, porém nunca de forma a impedirlhes o acesso à sala de aula comum. Por isso, fala-se que o rumo da educação especial no Brasil inovou ao criar o AEE, que acabou promovendo o desenvolvimento de habilidades extracurriculares nos ensinos regulares inclusivos. Quando devidamente interpretadas e proporcionadas às escolas comuns, o AEE pode provocar a mudança que se espera no ensino comum. 2- EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM DIREITO A educação é um direito que está previsto na Constituição Federal, em seu art. 6º, entre os chamados direitos sociais. Mais adiante, no art. 205, é definida como direito de todos e dever do Estado e da família, e esclarecido que será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Ainda, estabelece a Constituição Federal em seu art. 206, I, da CF a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola ; no art. 208, III garante o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino e no art. 227 preceitua que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à (...) educação, dispondo no 1º, II, a criação de programas de prevenção e atendimento especializados para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. No âmbito interno, pode-se mencionar ainda o art. 54, III do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) que preceitua Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino e o art. 4º, III, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que dispõe Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino ; Urge destacar que não apenas em documentos jurídicos pátrios, tal direito é consubstanciado, mas também através de dispositivos de ordem internacional, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem, 1948, na qual o direito à educação é enunciado no art. 26, sendo também referida no preâmbulo. Também, na Declaração Mundial sobre Educação para Todos Jomtien, 1990; a Declaração de Salamanca Espanha, 1994, na qual é pontuado que as escolas devem acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais ou linguística; a Convenção interamericana para eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiências Guatemala, 1999 (promulgada no Brasil, pelo Decreto nº 3.956, de outubro de 2001); a Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão Canadá, 2001; a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência ONU 2007, dentre outras. Todavia, apesar de a educação ser um direito humano, fundamental, que tem a escola como via principal, é comum a alunos serem recusados pelos mais diferentes motivos, desde uma pequena dificuldade de aprendizado até uma deficiência grave. A escola, então, deve enfrentar o desafio das diferenças a fim de ser um local acolhedor para todos, ou seja, sendo-a de verdade. O alunado, principalmente aqueles que têm deficiência, precisam de cuidado especial para que possam ter pleno acesso à educação. No entanto, isso não pode se dar através de seu confinamento em uma sala/escola, segregada, longe dos demais. Ao contrário, deve-se oferecer meios para que eles possam aprender conteúdos específicos concomitantemente ao ensino comum. É por isso que o AEE, aos que dele necessitem, deve ser oferecido pela escola comum ou por escolas especiais, conforme preceituado nas legislações colacionadas, destinando, assim, ao apoio e complemento à escolarização em ambientes educacionais comuns. A Constituição brasileira delineou as escolas como verdadeiro difusor de cidadania. Para isso basta que elas se utilizem de práticas de ensino que acolham as diferenças, fazendo com que os alunos se considerem, uns aos outros, como partes de uma mesma comunidade. Exsurge informar, por derradeiro que embora positivado, o direito à inclusão escolar do deficiente não tem sido respeitado, motivo pelo qual inúmeras são as ações ajuizadas para garantir o acesso a educação, o AEE e a adequação arquitetônica, de materiais e de equipe d de apoio que possam de fato efetivar tal direito.
OBJETIVOS O objetivo geral da pesquisa é analisar a inclusão de pessoas com deficiência na escola regular como um direito humano fundamental, associado ao atendimento educacional especializado (AEE). Por seu turno, o objetivo específico é (i) inventariar a legislação pátria e internacional acerca do tema; (ii) verificar sua aplicação nas escolas brasileiras; (iii) compreender a importância de incluir o deficiente na escola regular e ofertar o AEE ao invés de inseri-los em escolas segregadas. METODOLOGIA Adota-se no presente trabalho a pesquisa documental através da análise de conteúdo da legislação pátria e internacional, da doutrina e da jurisprudência acerca da temática. Para tanto, pelo método dedutivo, discute-se a inclusão dos deficientes no sistema de ensino regular e sobre a importância do atendimento educacional especializado, através de uma abordagem qualitativa. RESULTADOS: De acordo com a pesquisa, observa-se que no território nacional é ampla e clara a legislação que garante o direito à educação a todos e, que regulamenta como deve se dar a inclusão escolar do deficiente. Entretanto, devido ao preconceito, a falta de estrutura física, didática e de recursos humanos, dentre outras, tal direito ainda não se efetivado plenamente, o que tem gerado sua judicialização. Pelas estatísticas do IBGE e outros órgãos, constata-se ainda um número grande de deficientes fora da escola ou inserida em escolas especiais segregadas, não incluídas, portanto, na educação regular, ferindo frontalmente um direito humano, fundamental, público subjetivo. Motivo pelo qual se entende pertinentes pesquisas sobre a temática. CONCLUSÃO A educação das pessoas com deficiência, direito humano e fundamental, mais que confirmado e disseminado na legislação pátria e internacional, tem suas falhas, no que tange a sua eficácia, eficiência e efetividade no Brasil. Ao longo da história constata-se que quando os deficientes começaram a ter acesso à educação, isso se deu através de uma educação especial, portanto, diferente em termos de conteúdo, local de oferta e escolarização dela resultante.
Assim, a educação segregada, em escolas especiais destinadas exclusivamente a deficientes, parece ferir o disposto na Constituição que garante a todos a educação básica, sem qualquer distinção ou diferenciação, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania e para o trabalho. O que se extrai do texto constitucional e da legislação infraconstitucional, é a possibilidade do atendimento educacional especializado ser oferecido, preferencialmente na rede regular, ou por outra instituição especializada, mas ressalte-se, o AEE não dispensa o educação básica obrigatória. O atendimento educacional especializado é diferente de ensino escolar (educação básica), ele deve ser oferecido como complemento, não suprindo sozinho o direito de acesso e permanência no ensino regular. Assim, ou a escola recebe a todos, com qualidade e responsabilidade, sendo inclusiva, ou não estará oferecendo educação, nos termos definidos na Constituição de 1988. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JUNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 14. Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado, 1988.. Lei Federal 8069, de 13/07/1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.. Lei nº 9.394, de 20/12/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Programa Nacional de Direitos Humanos. Brasília: MJ/Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, 1948. MITTLER, Peter. Educação Inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. MUNIZ, Regina Maria Fonseca. Direito à Educação. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. SANTOS, Mônica Pereira dos, PAULINO, Marcos Moreira (orgs.). Inclusão em educação: culturas, políticas e práticas. São Paulo: Cortez, 2006 UNESCO. Declaração de Salamanca. Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>.