POTÊNCIA ANAERÓBIA ESTIMADA EM DIFERENTES TESTES LABORATORIAIS E CICLO MENSTRUAL



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POTÊNCIA ANAERÓBIA ESTIMADA EM DIFERENTES TESTES LABORATORIAIS E CICLO MENSTRUAL 1 Jorge Ferreira de Araújo Júnior, 1 Rodrigo Aléxis Lazo Osório, 1 Silvia Regina Ribeiro, 2 Fábio Luis Ceschini; 1 Pedro Henrique Ramos. 1 Universidade do Vale do Paraíba; 2 Instituto Mairiporã de Ensino Superior RESUMO Objetivo: O objetivo deste estudo foi descrever e comparar a potência anaeróbia de adolescentes em diferentes testes laboratoriais considerando o ciclo menstrual. Amostra: Participaram do estudo um total de 22 adolescentes com idade média 14,5 ± 1,3 anos sendo que, 14 meninas estavam na fase lútea do ciclo menstrual e 8 na fase folicular e ainda, 9 estavam no estágio de maturação biológica púbere (P) e 13 no estágio pós púbere (PP). Metodologia: Para avaliação da potência anaeróbia utilizou-se o teste de Wingate e também foi utilizado o sistema de dinamometria isocinetica BIODEX SYSTEM 3, medindo a força isocinética de flexão e extensão do joelho na velocidade de 90º. Para a análise estatística foi utilizado o teste T de Student com nível de significância estabelecido de p 0,05. Os dados foram analisados com a utilização do SPSS versão 10. Resultados: Foi observado aumento do torque nas fases de extensão e flexão do joelho para o grupo que estava na fase lútea do ciclo menstrual no sistema de dinamometria, também foi verificado aumento da potência média para o grupo de adolescentes que se encontravam na fase folicular do ciclo menstrual nos 30 segundos do teste Wingate, sendo essas diferenças estatisticamente significativas no intervalo de 0-5segundo. Conclusão: Podemos concluir que assim como a maioria dos estudos que diferentes testes e protocolos de avaliação da potência anaeróbia podem confundir os resultados quando analisados em relação ao ciclo menstrual e nos parece que praticamente não existem diferenças nos resultados de potência anaeróbia em diferentes testes em relação as diferentes fases do ciclo menstrual. Palavras chave: wingate; dinamometria isocinética; fase folicular, fase lútea,exercício. INTRODUÇÃO A adolescência, ou puberdade, é considerada a fase que sucede a infância e antecede a idade adulta, sendo um período significante do desenvolvimento humano, pois muitas mudanças biológicas (crescimento e desenvolvimento), psicológicas (desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo) e sociais (moral e socialização) ocorrem nessa fase da vida (CHIPKETICH, 1995). Nas meninas as alterações são representadas pelo aparecimento do broto mamário (precursor das mamas adultas), de pêlos pubianos, desenvolvimento genital e distribuição feminina de gordura. Finalmente ocorrem as menstruações (no início,bem irregulares) finalizando o desenvolvimento puberal. Vários tabus ainda existem quando se trata de atividade física, exercício para mulheres principalmente em relação aos diferentes períodos do ciclo menstrual, porém os aspectos hormonais do sexo feminino podem interferir na otimização anaeróbia. A potência e capacidade anaeróbias são variáveis importantes para o desempenho esportivo e atividades do cotidiano, porém as avaliações destas variáveis apresentam problemas de validação teórica (FRANCHINI, 2002). Os dados existentes evidenciam a especificidade dos resultados em relação à forma de mensuração e/ou protocolo utilizado (MARTIN & MALINA, 1998). Em virtude das divergências e validações dos resultados, torna-se relevante o estudo de variáveis de potência anaeróbias em testes de laboratórios. Sendo assim, este estudo objetivou descrever e comparar a potência anaeróbia que é imprescindível para atividades atléticas e da vida diária de adolescentes, considerando a variável interveniente ciclo menstrual. 429

MATERIAIS E MÉTODOS O grupo amostra foi constituído por 22 escolares do gênero feminino com idade média de 14.1±0.9 anos, estatura média 10,1±4,9 cm e peso médio 54,8±10,1 Kg, todas as voluntárias estavam regularmente matriculadas na Escola Estadual Professor João Cruz, localizada na cidade de Jacareí São Paulo. A idade considerada foi aquela que o participante tinha no começo da coleta de dados, ainda se ele mudasse de faixa etária durante o período de avaliação, considerada em um ano inteiro entre o dia de nascimento e 364 dias após. Todos os participantes e responsáveis foram informados sobre os procedimentos a que iriam ser submetidos e após ciência os responsáveis assinaram voluntariamente um termo de consentimento (Anexo 1). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa sob o protocolo nº L107/2005/CEP do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da UNIVAP. Critérios de inclusão Alunas regularmente matriculadas na instituição; Voluntárias com saúde aparente; Participantes da aula de Educação Física e com envolvimento em esporte recreativo e não competitivo; Não praticantes de musculação; Alunas que não fazem uso de nenhum medicamento; Sujeitos não portadores de patologias ou cirurgias cardiovasculares e lesões ósteomusculares, além de obesidade ou não cooperação em algum procedimento. Protocolo de indicações para 24 horas antes do teste Todos os sujeitos foram orientados a seguir as seguintes indicações anteriores aos testes: Não ingerir os seguintes alimentos: café, chocolate e bebida alcoólica; Não ingerir alimentos (3) horas anterior ao teste; Não realizar exercícios físicos nas 24 horas antecedentes ao teste; Traje: roupa esportiva leve (calção, camiseta, tênis). CICLO MENSTRUAL Para definição da fase em relação ao dia do ciclo menstrual foi utilizado como critério a fase folicular como sendo do primeiro dia do ciclo (o dia que ocorre a menstruação) até o 9º dia, a fase ovulatória foi considerada como sendo uma fase tardia da fase folicular entre os dias 10º e 14º, o que em geral ocorre para mulheres eumenorréicas, para a fase lútea considerou-se da segunda metade do ciclo 15 dia até o dia que antecede a menstruação (WOJTYS, 1998). PROTOCOLOS DE POTÊNCIA ANAERÓBIA Teste de Wingate Para realização do Teste de Wingate (WAnT) foi usada uma bicicleta ergométrica (CYBEX, Nova Iorque, EUA). Imediatamente anterior ao teste foi realizada a mensuração do peso corporal com a utilização da balança FIZZIOLLA para ajuste da carga com 7,5% do peso corporal dos sujeitos (0,75 gr/kg de massa corporal). A Pressão Arterial dos sujeitos foi aferida com a utilização de um esfignomanômetro antes e após o teste. Todos os sujeitos foram orientados a realizar um alongamento de 30s nos seguintes grupos musculares: quadríceps, tríceps sural, isquiotibiais, ileopsoas e adutores de quadril. O teste foi devidamente explicado aos sujeitos, em seguida todas foram orientadas a pedalar durante 2 minutos contra uma resistência baixa para vencer a inércia e a resistência intrínseca do aparelho encurtando a fase de aceleração, na bicicleta estacionária (sem carga) para adaptação. Ao 430

comando verbal do avaliador, foi solicitado que as participantes pedalassem na máxima velocidade durante os 30 segundos do teste. O encorajamento verbal foi feito no transcurso do teste, especialmente na segunda metade, quando o desconforto é maior e mais força de vontade é necessária. (INBAR, BAR OR, SKINNER, 1996). Após o aquecimento e teste de adaptação todas as participantes tiveram um período de no mínimo 3 minutos de recuperação para eliminar possibilidades de indicadores de fadiga. Após o encerramento do teste, as avaliadas realizaram uma recuperação ativa, sem resistência, por um período de 120 segundos. Teste do dinamômetro isocinético Para mensuração da potência média e índice de fadiga foi utilizado um dinamômetro Isocinético BIODEX SYSTEM 3. As participantes sentaram-se confortavelmente, permaneceram na cadeira do equipamento, apoiando as costas no encosto, que era ajustado até que a fossa poplítea estivesse apoiada na parte anterior do assento e o ponto central da articulação do joelho estivesse alinhado ao eixo de rotação do dinamômetro. As mãos seguravam no apoio lateral da cadeira. Para maior fixação da coxa, uma cinta de velcro foi passada acima da articulação do joelho, assim como um cinto de segurança para ajustar o tronco ao encosto. Ao início do experimento as participantes realizaram 30 segundos de contrações concêntricas de extensão e flexão de joelhos numa velocidade de 90º. Antes do início do teste, as adolescentes recebiam informações de como o teste deveria ser executado. Durante todas as avaliações, havia o estímulo verbal, sempre do mesmo avaliador. Antes e após a realização dos testes as participantes realizaram sessões de cinco minutos de alongamento dos principais grupos musculares. Após o teste as participantes realizaram 2 minutos de recuperação ativa e mais 4 minutos de recuperação passiva em cada membro inferior. Análise estatística A amostra foi estratificada de acordo com o ciclo menstrual. A partir das estratificações foram comparados os valores médios. Foi utilizado o teste T de Student para amostras independentes com nível de significância estabelecido de p 0,05. Os dados foram analisados com a utilização do SPSS (Statistical Package for Social Sciences) for Windows versão 10. RESULTADOS Tabela 01. Valores médios de torque nas fases de extensão e flexão de joelhos, nas fases lútea (L) e folicular (F) do ciclo menstrual utilizando-se o sistema de dinamometria isocinética. X (SD) do Torque Fase de Fase de Fase de Fase de Médio (W/Kg) extensão flexão extensão flexão Perna direita Perna esquerda Fases do L (14) 80,6±24,4 79,9±34,7 79,8±20,6 71,4±22,8 Ciclo Menstrual F (05) 78,8±19,8 68,2±17,6 75,6±27,1 66,8±21,5 A tabela 1 demonstra maiores valores de torque, tanto no movimento de extensão quanto para o movimento de flexão em ambas as pernas para o grupo de adolescentes que se encontravam na fase lútea do ciclo menstrual, porém estas diferenças não foram estatisticamente significantes. 431

Tabela 2. Valores médios da Potência Média Absoluta (P.M.A.) nos intervalos de 0-5s, 5-10s, 10-15s, 15-20s, 20-25s, 25-30s entre as fases lútea (FL) e folicular (FF) do grupo feminino com o teste Wingate: Potência Média Fase Lútea Fase Folicular (W) (N=14) (N=08) 0s-5s 341,0±18,0 379,9±77,8* 5s-10s 290,8±23,3 347,1±79,3 10s-15s 260,4±21,9 307,29±75,2 15s-20s 227,8±15,7 268,3±69,6 20s-25s 198,8±18,2 239,1±63,1 Para α = 0.05, verificou-se um aumento (* p = 0.0370) da potência média, no intervalo de 0-5s dos sujeitos do sexo feminino que se encontravam na fase folicular. Enquanto para a fase lútea (tabela 1) foram encontrados maiores valores de torque, na tabela 2 verificou-se um aumento (* p = 0.0370) da potência média, no intervalo de 0-5s do grupo que se encontravam na fase folicular. Durante esta intensidade de esforço, há a solicitação bioenergética dos sistemas de fosfagênios, que recrutam fibras de contração rápida em predominância (COSTILL et al, 2001) e durante a fase folicular, o aumento da concentração hormonal do FSH (hormônio folículo estimulante), pode potencializar a síntese protéica, aumentando a capacidade de contração muscular e conseqüentemente a potência, como verificados em outros estudos. Tabela 03. Potência Média Absoluta (P.M.A.) nos intervalos de 0-5s, 5-10s, 10-15s, 15-20s, 20-25s, 25-30s entre as fases: lútea (FL) e folicular (FF) do grupo feminino com o teste Biodex. Fase Lútea (N=14) Fase Folicular (N=08) Perna direita Perna esquerda Perna direita Perna esquerda extensão flexão extensão flexão extensão flexão extensão flexão 0s-5s 358,2±137,9 16,5±15,3 353,1±162,0 29,5±32,5 321,4±121,5 83,8±127,4* 363,2±141,0 28,8±17,1 5s-10s 359,4±110,8 25,8±20,7 326,6±102,0 33,4±34,6 348,5±114,1 67,2±127,5 335,7±123,2 43,7±27,2 10s-15s 306,3±102,5 32,7±25,4 302,3±93,7 34,4±27,5 303,7±72,9 78,7±111,7 296,8±93,4 44,2±22,3 15s-20s 295,8±91,4 30,9±25,6 240,2±99.4 37,8±29,6 287,8±56,5 80,6±129,1 254,3±56,4 35,5±14,7 20s-25s 253,2±65,6 24,3±23,2 248,7±70,5 29,4±28,8 257,3±56,5 74,0±113,0 223,5±44,9 33,1±18,3 25s-30s 227,3±60,8 26,3±22,1 213,0±40,5 22,3±19,9 240,8±32,4 65,7±102,5 221,7±48,9 22,4±14,7 Para α = 0,05, * p= 0,04 Verificou-se uma maior (* p= 0,04) produção de potência na fase folicular apenas no movimento de flexão da perna direita entre 0s e 05s. Não foram observadas diferenças significativas entre a relação agonista/antagonista entre as pernas direita e esquerda e entre as fases lútea e folicular. DISCUSSÃO Muitos estudos têm enfocado os efeitos do ciclo menstrual sobre o desempenho físico e os mesmos têm demonstrado melhor performance física no período pós-menstrual, nesse estudo, procurouse descrever e comparar a influência do ciclo menstrual sobre a potência anaeróbia. 432

Valências físicas como a capacidade aeróbia, anaeróbia, força isocinética e resistência de alta intensidade, também sofrem influência durante as diferentes fases do ciclo menstrual, como relataram Mckenzie, Prior e Tauton em Effects Of menstrual Phase O Athletic Performance, 1995. Conforme Guyton (1991), o sistema hormonal feminino consiste em três hierarquias distintas de hormônios: 1. Um hormônio liberador hipotalâmico de gonadotropinas (GnRh); 2. Os hormônios da hipófise anterior: hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), ambos secretados em resposta ao mesmo hormônio liberador hipotalâmico; 3. Os hormônios ovarianos: estrogênio e progesterona, secretados em resposta aos dois hormônios da hipófise anterior. A cada ciclo menstrual ocorrem elevações e diminuições cíclicas desses hormônios, com efeitos sentidos na aptidão física. Uma sensível melhora da performance no período pós-menstrual pode ser caracterizada pela elevação nos níveis de noradrenalina e estrogênio. Em recente trabalho, Yanez (2006), estudando a potência anaeróbia de mulheres treinadas e sedentárias utilizando o teste de Wingate, demonstrou que o grupo de mulheres treinadas apresentou melhor desempenho em relação à capacidade e potência máxima durante a fase folicular quando comparada à fase lútea, esses resultados são reforçados por nosso estudo, em que as adolescentes que se encontravam na fase folicular tiveram melhor desempenho no teste de Wingate nos 30 segundos do teste (Tabela 2), com diferença significativa para os 5 segundos iniciais do mesmo. Tal fato pode ser explicado pela característica do metabolismo anaeróbio alático com a geração de alta potência e liberação de energia, principalmente nos segundos iniciais de qualquer exercício. É possível especular ainda que na fase lútea ocorra redução das concentrações dos hormônios luteinizante e do hormônio folículo-estimulante, mais especificamente, na fase ovulatória que seria o segundo período da fase folicular há um aumento rápido das concentrações dos hormônios luteinizante e folículo estimulante, durante esta fase também a concentração do estradiol atinge um ponto máximo e a da progesterona começa a aumentar, estes índices aumentados tem relação com aumento nos níveis de força muscular e conseqüentemente aumento da potência muscular. A citação acima pode ser confirmada no estudo de Sarwar, 1996, que encontrou diferenças significativas com aumento da força de quadríceps e de preensão manual, esses resultados foram encontrados na fase ovulatória. O autor sugere que o aumento da força tenha ocorrido pela alta concentração de estrogênio que antecede a ovulação, argumentando, dessa forma que ele aumenta a força muscular. Um estudo conduzido por Masterson, 1999, encontrou melhores resultados na capacidade anaeróbia, potência anaeróbia e menor índice de fadiga para as mulheres que se encontravam na fase lútea do ciclo menstrual, o autor cita que talvez a amostra reduzida pudesse ser um fator que justifique tal fato. Corroborando com Masterson, o estudo de Janse de Jonge, que investigou a força de contração máxima isométrica do quadríceps não encontrou diferenças significativas, sugerindo que as alterações hormonais nas diferentes fases do ciclo menstrual não alteram a variável acima. Existe um consenso de que as oscilações hormonais ocorridas nas mulheres, devido a alterações, principalmente do estrogênio e progesterona, durante o ciclo menstrual, afetam a fisiologia feminina. Em relação ao exercício físico, esse perfil endócrino pode alterar diversos fatores, tais como: a utilização e armazenamento de substrato energético em diferentes intensidades, consumo de oxigênio e oxidação de gorduras (BRAUN, 2001). WILMORE & COSTILL (2001) verificaram alterações no desempenho atlético de mulheres durante as diferentes fases do ciclo menstrual.os achados da literatura são divergentes, BROOKS et al (1986) verificaram tempos melhores em nadadoras na fase menstrual, enquanto QUADAGNO et al (1991) verificaram melhor desempenho em nadadoras após o período menstrual. MASTERSON et al (1999) verificaram diferenças de desempenho entre mulheres na fase lútea e folicular no teste Wingate em que foi constatado melhor desempenho durante a fase lútea na capacidade anaeróbia, potência anaeróbia e índice de fadiga. CAN et al (1984) não verificaram diferenças significativas nas diferentes fases. Estudos com mulheres atletas verificaram que as respostas durante os exercícios sub-máximos e máximos não eram afetadas de maneira significativa dentro das fases do ciclo menstrual. 433

CONCLUSÃO Podemos perceber que ainda permanece uma lacuna em relação ao exercício físico e ciclo menstrual, onde fica evidente a divergência de estudos e diferenças de avaliações e metodologias. Uma das limitações do nosso estudo talvez tenha sido o numero de participantes o que de certa forma pode mascarar os resultados, outro aspecto limitante do estudo foi não podermos correlacionar os resultados de ambos os testes, uma vez que as adolescentes encontravam-se em diferentes fases do ciclo menstrual quando da realização dos testes, seria interessante também, fazermos a dosagem dos níveis séricos dos hormônios folículo estimulante e hormônio lúteo após as baterias de testes. Nos parece, portanto em concordância com diversos estudos da literatura científica que diferentes testes, protocolos de avaliação podem confundir os resultados de potência anaeróbia quando analisados em relação ao ciclo menstrual. Apesar de inúmeras limitações, consideramos ser uma alternativa não onerosa e de aplicabilidade prática bem como de extrema importância para a determinação da potência anaeróbia e de outras variáveis em relação ao ciclo menstrual, como instrumento de prescrição de aulas, treinamento e exercício, como forma de evitar sobrecargas e otimizar o treinamento físico de mulheres. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAUN, B.; HORTON, T. Endocrine regulation of exercise substrate utilization in women compared to men. Exerc Sport Sci Rev 2000; 28. p. 108-12. BROOKS, G., GARGIULO, J.M., WARREN, M.P. - The effect of cycle phase on the adolescent swimmers. Physician and Sports medicine, 14 (3), 1986. p. 182-192. CAN, C.E. MARTIN, M.C., GENANT, H.K., JAFFE, R. B. - Decreased spinal mineral content in amenorreich women. Journal of American Association, 1984. p. 626-629. CHIPKEVITH E. Puberdade e adolescência: A dimensão psicossocial. São Paulo, Roca, 1995. p. 112-116. FRANCHINI, E. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. 1 (1), 2002. p. 11-27. GUYTON, M.D.: Fisiologia Humana e Mecanismos da Doença. (5ª Ed.) Editora Guanabara: Rio de Janeiro, 1991. JANSEN DE JONGE, XA.; BOOT, CR.; THOM, JM.; RUELL, PA.; THOMPSON, MW. The influence of menstrual cycle phase on skeletal muscle contractile characteristics in humans. J Physiol 2001; 530 (Pt 1): p. 161-6. MALINA, R. M. - Tracking of physical activity and physical fitness across the lifespan. Researche Quaterly for Exercise and Sport. 1998; Vol. 67, Suplemento Nº. 03, p. 48-57. MARTIN, J.C. - Developmental variations in aerobic performance associated with age and Sex. In: VAN PRAAGH, E. (ed). Pediatric Anaerobic Performance. Champaign-IL, Human Kinetics, p. 45-64, 1998. MASTERSON, G. - The impact of menstrual phases on aerobic power performance in collegiate women. Journal of Strength and Conditioning Research, 1999: v. 13 n. 4, p. 325-29. MCKENZIE, D.C., PRIOR, J.C., TAUTON, J.E. Effects Of Menstrual Phase On Athletic Performance. Med. Sci. Sports and Exerc. Mar 1995; 27(3): 437-44 QUADAGNO, D. FAQUIN, L, LIM, G-N, KUMINKA, W, MOFFAT, R. The menstrual cycle: Does it affect athletic performance? Physican and Sportmedinice, 19, 1991. p. 121-124. SARWAR, R.; NICOLS, BB.; RUTHERFORD, OM; Changes in muscle strength, relaxation rate and fatigability during the human menstrual cycle. J Physiol 1996; 493 (Pt 1). P. 267-72. WILMORE & COSTILL. Fisiologia do esporte e do exercício. São Paulo: Manole, 2001 WOJTYS, E. M.; HUSTON, L. J.; LINDENFELD, T. N.; HEWTT, T. E. GRRENFELD, M. L. Association between the instrumental cycle and anterior cruciate ligament injuries in female athletes. Am. J. Sports Med. 1998; 26; 614-9. YAÑEZ SILVA A. Desempenho anaeróbio e ciclo menstrual: comparação entre mulheres esportistas e sedentárias através do teste de Wingate. Revista Univap, v.13, n. 24, p. 664-667, 2006. 434