ALFABETIZAÇÃO E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ARTICULAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO



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Transcrição:

ALFABETIZAÇÃO E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ARTICULAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO BORGES, Irlanda Aglae Correa Lima 1 - UCB LIMA, Denise Maria Soares 2 - UCB Grupo de Trabalho - Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Os movimentos sociais voltados para a educação, cientes do grande contingente de pessoas não alfabetizadas no Distrito Federal (DF), iniciaram programas voluntários no intuito de alfabetizar, principalmente, regiões nesta unidade federativa com menor índice de desenvolvimento humano (IDH), tais como Cidade Estrutural, Itapoã, Sobradinho e Ceilândia nas regiões Sol Nascente e Pôr do Sol. A luta desses movimentos por ações políticas que promovessem a universalização da alfabetização dessa população impulsionou a adesão do Distrito Federal ao programa federal Brasil Alfabetizado. Assim, o Distrito Federal lançou em 8 de julho de 2011 o programa DF Alfabetizado juntos por uma nova história!, cujo objetivo é tornar o Distrito Federal território alfabetizado até a Copa de 2014. Assim, este artigo analisa a construção e resultados preliminares do referido programa, que se encontra em sua segunda edição. Neste contexto, o artigo está didaticamente organizado em quatro partes: (a) introdução com abordagem geral sobre o programa de alfabetização; (b) um breve histórico sobre o direito à instrução e a Educação de Jovens e Adultos e (c) os resultados do referido programa e as condições de ingresso e permanência dos alfabetizados na rede pública de ensino do Distrito Federal e (d) considerações finais. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Movimentos sociais. DF- Brasil Introdução Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 29/04/2011, apontou um percentual significativo de pessoas que nunca frequentaram a 1 Mestranda em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Integrante dos movimentos sociais na Educação de Jovens e Adultos. E-mail: iaglae@gmail.com 2 Doutoranda e mestra em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Pesquisadora voluntária da Cátedra UNESCO. E-mail: advdenise@yahoo.com.br.

2981 escola com 15 anos ou mais no Distrito Federal, representando um quantitativo equivalente a aproximadamente 63.754 pessoas, ou seja, 3,4% da população local (BRASIL, 2010). Esse dado reforçou a urgência e necessidade de políticas públicas capazes de alfabetizar essas pessoas. Diante desse contexto, ocorreu a articulação entre diversos setores da sociedade e governo no sentido de executar o programa DF Alfabetizado juntos por uma nova história! a fim de assegurar o sucesso e a permanência dessas pessoas no programa. Assim, a implementação do programa priorizou os territórios com os mais baixos indicadores conforme o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Distrito Federal, tais como Estrutural, Itapoã, Sol Nascente, Pôr do Sol, entre outros. A verba inicial foi de quatro milhões de reais, com a adesão ao Programa do Ministério da Educação (MEC), Programa Brasil Alfabetizado. Esse último existe desde 2003 e atinge 1928 municípios. Para a realização do referido programa, os primeiros alfabetizadores voluntários tiveram sua formação iniciada em fevereiro de 2012, pela Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação (EAPE) do Distrito Federal. Por fim, vale acrescentar que a juventude é o público alvo do referido programa já que a intenção é preparar os jovens para ingressá-los na rede pública, dando continuidade aos estudos, ou seja, consolidar o letramento e, com isso, dobrar a capacidade de absorção de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Diante dessas considerações, este artigo busca realizar um breve histórico sobre o direito à instrução e sobre a Educação de Jovens e Adultos pós-constituinte, os resultados do referido programa e as condições de ingresso e permanência dos alfabetizados na rede pública de ensino do Distrito Federal. Alfabetização é um direito Em 1948, o documento inaugural sobre direitos humanos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, dispõe sobre o direito à instrução, salientando que essa será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da pessoa humana (UNESCO, 1998a). Nos dias atuais, argumentando sobre esse direito, Fréchette (2003) salienta que a alfabetização permanece como assunto ainda não resolvido, ou seja, ainda há um enorme contingente de indivíduos em todo mundo que não conquistaram esse direito. Nesse sentido, o Brasil, conforme indicativos de recentes pesquisas, a taxa de analfabetismo ainda é elevada, embora tenha ocorrido uma leve redução entre 2000-2010.

2982 Logo, ainda que a alfabetização seja um direito humano inquestionável, é fato que o Brasil, no século XXI, ainda possui cerca de quase 14 milhões de analfabetos (BRASIL, 2010). Aliado a isso, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 disciplina sobre a educação de jovens e adultos e institui garantias para a efetivação da educação como dever do Estado e da família ao assegurar o direito à educação como direito social e direito de todos. E, entre outros dispositivos acrescenta que a educação básica obrigatória e gratuita será assegurada, inclusive, para todos que não tiveram acesso a ela na idade própria (artigos 205, 208, inciso I) e determina competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (BRASIL, 1999). Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) ratifica, no artigo quarto, a orientação constitucional, reafirmando que o dever do Estado será efetivado mediante a garantia de ensino fundamental obrigatório e gratuito para aqueles que não tiveram acesso a ele na idade própria (BRASIL, 2010a). E adiante, ressalva: Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma do regulamento (Incluído pela Lei n. 11.741, de 2008). De maneira que o Brasil, ao formalmente instituir o Estado Democrático de Direito e reconhecer os direitos da pessoa humana, impõe ao Estado uma série de ações e medidas para garantir esses direitos e cumprir obrigações assumidas internacionalmente. Nesse âmbito, alguns documentos demonstram a preocupação com a educação como direito humano, como, por exemplo, a Declaração Mundial e Programa de Educação para Todos, realizada em 1990, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia. Esse instrumento relata que, após quarenta anos da Declaração Universal de Direitos Humanos, ainda existe um preocupante quadro de desequilíbrio mundial no quesito educacional, ao mesmo tempo em que enumera objetivos, metas e planos de ação, sugerindo que os países signatários definam políticas para a melhoria da educação básica, convocando a

2983 participação e apoio dos principais colaboradores e destacando a participação da Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO, 1998): Instituições e agências internacionais, entre as quais pontuam inúmeros patrocinadores, co-patrocinadores e patrocinadores associados da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, devem empenhar-se ativamente no planejamento conjunto e sustentação do seu apoio de longo prazo às ações nacionais e regionais tipificadas as seções anteriores. Os principais patrocinadores da iniciativa de Educação para Todos (PNUD, UNESCO, UNICEF, Banco Mundial), cada um no âmbito de seu mandato e responsabilidades especiais, e de acordo com a decisão de suas instâncias diretoras, devem ratificar seu compromisso de apoio às áreas prioritárias de ação internacional listadas abaixo, e a adoção de medidas adequadas para a consecução dos objetivos da Educação para Todos. Resgata-se essa longa citação para demonstrar que, nesse documento, os países participantes são convocados a empreender políticas para que a educação esteja ao alcance de todos, afirmando-a como meio para o desenvolvimento social e individual, melhorando a qualidade e garantindo a permanência e o acesso, principalmente, às minorias excluídas. No mesmo documento, salienta-se que a educação deve ser proporcionada a todas as crianças, jovens e adultos, com intuito de reduzir as desigualdades e iniquidades educacionais. Na década de 90, do século passado, segundo publicação da referida organização, em documento intitulado Educação de jovens e adultos: lições da prática (UNESCO, 2008), a EJA não correspondeu às expectativas propostas pelo texto constitucional dado que a reforma do Estado brasileiro e as consequentes restrições econômicas, voltadas para orientações neoliberais, deram prioridade ao ensino fundamental de crianças e jovens, relegando a educação voltada para jovens e adultos. No período tratado, em face da negligência governamental em relação à educação de jovens e adultos, vários segmentos sociais se reúnem com o intuito de organizar um local para troca de experiências e construção de parcerias. De forma que, inicialmente, no Rio de Janeiro, e, posteriormente, em todo o Brasil, os Fóruns de EJA são instituídos, constituindo-se como um espaço em prol da educação de jovens e adultos. Neste sentido, anota-se: O crescimento dos Fóruns nacionalmente e sua expressão nacional pelos ENEJAs, tornou o MEC um interlocutor privilegiado, com o qual os Fóruns vêm travando parcerias e contribuindo na formulação e efetivação de ações na área. A legitimidade dos Fóruns vem sendo reconhecida em muitos espaços, especialmente representados pela ocupação de um lugar na Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos CNAEJA, assim como em um colegiado de representantes com o qual o Ministério tem dialogado permanentemente (FÓRUM EJA BRASIL, 2010).

2984 Nesse aspecto, pode-se afirmar que a EJA, a partir da configuração desses espaços de discussão (fóruns, encontros e conferências) encontrou, nesses modos de participação, fortes aliados para pensar e fazer a sua prática pedagógica. O resultado desses debates oriundos dos diversos segmentos envolvidos repercute e conduz a reflexão sobre o conceito de EJA. Neste sentido, Freire (1996) pontua que a escola nem é espaço para formulações prontas nem lugar de punições; ensina que o conhecimento deve ser produzido coletivamente, considerando as particularidades e necessidades de cada um, possibilitando a pessoa ser sujeito de sua própria história. Ou seja, ao reconhecer a necessidade de ampliação dos espaços escolares para a escolarização de jovens e adultos, a escola também deve acolher esses sujeitos de modo diferenciado, respeitando-lhes e dando lugar a suas vozes. Nesse âmbito, segundo o referido autor, a escola assume papel político, local onde se processa a transformação da realidade. Contudo, para tal intento, não se pode desconsiderar a importância da formação do professor, já que para o exercício do magistério com jovens e adultos, há necessidade de um conjunto formativo específico do profissional escolhas de conteúdo e metodologias, por exemplo cuja complexidade não será tratada aqui. Resultados preliminares Conforme relatado, os resultados preliminares computam a formação de 430 alfabetizadores e coordenadores voluntários pela Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação. O registro de execução da primeira das seis etapas tem 150 turmas regidas por 140 alfabetizadores voluntários, de modo que apresentam indicativos positivos. Neste sentido, o programa de alfabetização, em curso, irá favorecer a inserção desses estudantes no mundo do trabalho, na medida em que possam dar continuidade aos estudos, ao consolidar a universalização da alfabetização dos jovens, permitindo seu ingresso na Educação de Jovens de Adultos (EJA) da rede pública do Distrito Federal, com garantia de acesso, sucesso e permanência.

2985 Considerações finais A Secretaria de Educação elaborou edital para a seleção de novos educadores para participarem da Segunda edição do DF Alfabetizado, a projeção é de mais duzentas turmas com aproximadamente três mil e quinhentos alfabetizandos. Os voluntários poderão participar como alfabetizador, tradutor-intérprete de Libras e alfabetizador-coordenador de turmas, as inscrições terminaram em maio e houve ampliação desta edição, pois abrangerá todo o Distrito Federal, por meio das quatorze regionais de ensino. A diferença deste edital é a construção coletiva, contou mais ativamente com a participação do movimento social, mas também com as instâncias gestores que lideram com a Primeira Edição, caso da EAPE e das regionais de ensino, além da Coordenação de Educação de Jovens e Adultos, a experiência dos erros colaborou para algumas modificações, dentre outras, a exigência de participar do curso de formação na EAPE (curso de formação inicial com duração mínima de 40 horas) e de possuir turma montada, pois o voluntário alfabetizador é responsável pela mobilização e cadastramento dos jovens, adultos e idosos não alfabetizados, constituindo, desta maneira, a sua turma de alfabetização. A ação alfabetizadora será desenvolvida na forma de trabalho voluntário em um período de seis meses, totalizando duzentos e quarenta horas, associada à concessão de bolsa voluntária, auxílio no custeio das despesas com transporte e alimentação (com valores de quatrocentos reais para o alfabetizador voluntário e até seiscentos reais para o coordenador de turma). Outro diferencial deste edital é que o alfabetizador voluntário receberá a bolsa de setecentos e cinquenta reais se atuar em duas turmas de alfabetização ativas de estabelecimento penal ou de jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. Além disso, outra novidade foi uma ação intersetorial que contou com a participação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (SEDEST) que forneceu uma lista de mais de trinta e três mil pessoas não alfabetizadas cadastradas (nome, endereço e telefone) e que facilitarão a montagem das turmas. O cadastro referido foi atualizado recentemente e conta com os dados das pessoas que participam dos programas assistenciais do Governo do Distrito Federal. A expectativa é de que as futuras edições continuem contando com outros dados intersetorias e do movimento popular, o objetivo ainda é o mesmo, o de fazer do DF um território alfabetizado, possibilitando a continuidade dos estudos na rede pública.

2986 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 1999.. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Censo 2010. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtmwww.ibge.org.br >. Acesso em: 20 mar. 2012.. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação. 2010a. Disponível em: <http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2762/ldb_5ed.pdf. >. Acesso em: 5 set. 2010. FÓRUM EJA BRASIL. 2010. Disponível em: < http://www.forumeja.org.br/>. Acesso em: 11 nov. 2010. FRÉCHETTE, Louise. In: Alfabetização como liberdade. Brasília : UNESCO, MEC, 2003. Disponível em: < http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001303/130300por.pdf>. Acesso em: 02 fev. 2013. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. UNESCO. Declaração Mundial e Programa de Educação para Todos. Aprovada pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos Jomtien, Tailândia 5 a 9 de março de 1990. Representação da UNESCO no Brasil: Brasília, 1998. Disponível em: < http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf >. Acesso em: 14 set. 2011. UNESCO. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Representação da UNESCO no Brasil: Brasília, 1998a. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2013. UNESCO. Educação de jovens e adultos: lições da prática. Representação da UNESCO no Brasil: Brasília, 2008. Disponível em: < http://unesdoc.unesco.org/images/0016/001626/162640por.pdf.>. Acesso em: 7 mar. 2012.