DIVERSIDADE DE INSETOS CAPTURADOS EM ARMADILHA MCPHAIL NO PANTANAL SUL-MATO-GROSSENSE



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Transcrição:

22 DIVERSIDADE DE INSETOS CAPTURADOS EM ARMADILHA MCPHAIL NO PANTANAL SUL-MATO-GROSSENSE DIVERSITY OF INSECTS CAUGHT IN MCPHAIL TRAPS IN PANTANAL OF MATO GROSSO DO SUL SILVA, Luciana Barboza 1 ; FERNANDES, Manoel A. Uchôa 2 ; NASCIMENTO, José Nicácio do 2 Resumo As armadilhas McPhail podem ser empregadas para avaliar parâmetros populacionais e riqueza de espécies de alguns grupos de insetos. As amostragens da diversidade de insetos são ferramentas básicas para levantamentos iniciais de diversidade biológica, bem como para o monitoramento de alterações de diferentes fatores e componentes ambientais que interferem nessa diversidade. O objetivo deste trabalho foi avaliar se a altura de armadilhas McPhail tem efeito sobre a captura dos diferentes grupos de insetos em três ecossistemas do Pantanal Sul-mato-grossense. Foram testadas duas alturas: a 1,5m e a 3,0m ao nível do solo, em três ambientes: mata ciliar, morro (com vegetação heterogênea) e carandazal (principalmente palmeiras), no Pantanal do Abobral, região de Passo do Lontra, município de Corumbá-MS. A abundância e a diversidade de organismos foram significativamente maiores no morro. As alturas não interferiram quantitativamente nas amostragens dos insetos e maior similaridade foi observada entre a mata e o carandazal. As informações sobre a fauna de insetos, como identificação das espécies presente e o conhecimento de sua distribuição no espaço e no tempo, contribuirão para futuros estudos de conservação nos cerrados e no Pantanal. Palavras-Chave: Insecta, armadilha McPhail, Pantanal Abstract McPhail traps can be used to evaluate population parameters and species richness of some insect groups. Sampling of insect is a fundamental tool for initial surveys of biological diversity, as well as for monitoring changes in different factors and environmental components that intervene in species diversity. The aim of this paper is to evaluate the insect diversity, and whether the McPhail trap height has effect on the caught of different insect groups in three pantanal ecosystems of Mato Grosso do Sul. Two heights were evaluated: 1.5m and 3.0m above ground level, in three environments: riparian forest, hill (heterogeneous vegetation) and carandazal (marshland with mainly caranda palm trees), located in the Pantanal do Abobral, region of Passo do Lontra, Corumbá-MS. Insect abundance and diversity were significantly higher in the hill environment. Trap heights did not intervene quantitatively in the insect samplings and greater similarity was found between the riparian forest and the carandazal. Information on insect fauna, such as identification of existent species and their spatial and time distribution will contribute to further studies on conservation in the cerrados and Pantanal. Key-words: Insecta, McPhail traps, Pantanal 1 1Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa MG, Brasil 2 Departamento de Ciências Biológicas, Mestrado em Entomologia e Conservação da Biodiversidade Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados MS, Brasil

23 Introdução No Pantanal de Mato Grosso do Sul não há registros sobre a fauna de insetos coletados em armadilhas McPhail. Essa região é extremamente carente de pesquisa sobre a fauna de artrópodes, especialmente de insetos. Desde 1930, as armadilhas McPhail têm sido empregadas em levantamento para estudos sobre composição de espécies, atividade de adultos de moscas-das-frutas, lonqueídeos e outros insetos (STEYSKAL, 1977; UCHÔA-FERNANDES et al., 2003). As armadilhas McPhail têm grande importância na avaliação da diversidade para alguns grupos de insetos que são atraídos pelo odor do atrativo (STEYSKAL, 1977). Segundo Solbrig et al. (1994), biodiversidade é a propriedade dos sistemas biológicos de serem diferentes e a variação é a propriedade fundamental da vida. Wilson (1994) definiu biodiversidade como a variedade dos organismos, que pode ser considerada em todos os níveis, desde as variações genéticas intraespecificas até as diversas séries de espécies, gêneros e famílias, bem como outros níveis de organização taxonômica, incluindo a variação dos ecossistemas (RICKLEFS, 1993). Os estudos sobre riqueza de espécies em diferentes estruturas vegetais são ferramentas básicas para levantamentos iniciais da diversidade regional e global. As armadilhas McPhail poderão ser úteis para o monitoramento de alterações de diferentes componentes dessa diversidade, como os parâmetros populacionais, seja perante condições ambientais distintas, em resposta a impactos de processos naturais ou de atividades humanas (NASCIMENTO et al., 2003). Os artrópodes executam funções essenciais para os ecossistemas como: polinização, composição e fertilidade do solo, decomposição de matérias orgânicas, ciclagem de nutrientes e servem como inimigos naturais de espécies pragas e muitas são presas importantes de outros artrópodes e de vertebrados (WILSON, 1994; WORK, 2002). Considerando que a vegetação do Pantanal é peculiar, devido à sua diversidade e origem a partir de outras grandes regiões fitogeográficas estudar a biodiversidade de insetos das diferentes estruturas vegetais que o compõe faz-se necessário. Os carandazais brasileiros, estrutura vegetal típica do Pantanal, ainda não foram alvo de um estudo específico sobre sua composição florística e estrutura da vegetação, existindo apenas informações superficiais em alguns estudos. De modo geral a flora do Pantanal é pouco conhecida sendo necessários estudos mais detalhados que compõem o Pantanal. São formações vegetacionais homogêneas, onde a palmeira Copernicia alba Morong ex Morong Brittton (Aracaceae) ocorre predominantemente constituindo formações monodominantes (SILVA et al., 1997). Estas formações são responsáveis pela cobertura de extensas áreas no Pantanal Sulmatogrossense e foram classificadas como Savana Estépica Parque (IBGE, 1992). Os carandazais formam uma subunidade de vegetação constituída por um extrato arbóreo formado quase que exclusivamente pela palmeira carandá e extratos arbustivos e herbáceos variáveis quanto a composição florísticas. Diferente do carandazal a mata ciliar e o Morro do Azeite apresentam vegetação heterogênea, a Mata ciliar, área que já sofreu intensa atividade humana, da qual resultam diversas alterações ambientais, colocando em risco a integridade dos ecossistemas, torna-se cada vez mais importante realizar estudos sobre a biodiversidade. As matas ciliares, também denominadas florestas ribeirinhas, definidas como florestas ocorrentes ao longo dos cursos d água e no entorno das nascentes, são de vital importância na proteção de mananciais. Do ponto de vista ecológico, as matas ciliares têm sido consideradas como corredores extremamente importantes para o movimento da fauna ao longo da paisagem, assim como para a dispersão vegetal (LIMA

24 e ZAKIA, 2001). O Morro do Azeite, localizado as margens do rio Miranda, área com estrutura vegetal semelhante à Mata ciliar, porém mais preservada da ação do homem é cercado por baías e baixadas alagadas, interligadas por cursos de águas perenes - os corixos - ou efêmeras. Somente esses terrenos altos, chamados cordilheiras, além de poucas ilhas e locais mais elevados, escapam à inundação na época da cheia. Este trabalho teve como objetivo avaliar a diversidade de insetos e se a altura de armadilhas McPhail tem efeito sobre a captura dos diferentes grupos de insetos, em mata ciliar e morro com vegetação heterogênea e carandazal, de vegetação composta por palmeiras, pequenos arbustos e gramíneas. Material e Métodos As coletas foram realizadas durante o curso de campo do Programa de Pós- Graduação (Mestrado) em Entomologia e Conservação da Biodiversidade-UFMS, no período de 12 a 26/10/03. As avaliações foram feitas em uma Mata Ciliar do Rio Miranda, próximo às imediações da Base de Estudos do Pantanal (BEP)-UFMS, no Morro do Azeite, com vegetação heterogênea e em uma área aberta de Carandazal na Fazenda São Domingos, com vegetação típica do Pantanal, todos situados no município de Corumbá-MS (19º34 33,8 S e 57º01 03,6 W). As coletas de insetos foram feitas nos três ambientes, com duas alturas e cinco repetições. Em cada local foram testadas duas alturas empregando-se armadilhas tipo McPhail. Foram instaladas duas armadilhas por ponto; uma a 1,5m e outra a 3,0m do nível do solo, eqüidistantes a 100m, totalizando 10 armadilhas por ambiente. O atrativo empregado foi à proteína hidrolisada de milho Tephritid R (5%). Esta técnica permite a captura dos insetos que são atraídos pelo odor da solução (atrativo alimentar), sendo uma técnica de coleta permanente. Os insetos, capturados nas armadilhas, foram levados para o Laboratório da BEP, contados, separados, morfo-especiados e fixados em álcool 70%. Determinou-se a abundância dos insetos capturados para os cálculos de diversidade, usando-se o índice de Shannon. Para testar a significância entre as diferenças encontradas na diversidade, em relação às alturas das armadilhas, utilizou-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade. A similaridade entre as armadilhas nas três áreas e entre as armadilhas em cada altura foi medida pelo índice de Morisita. Resultados e Discussão As armadilhas capturaram 7.021 insetos de 35 famílias, contendo fitófagos, parasitóides e predadores. Paras as análises estatísticas foram consideradas somente as famílias que apresentaram uma abundância igual ou superior a 2,0% do total de insetos capturados (Tabelas 1 e 2). Ao todo foram coletadas espécies de oito Ordens. As de maior riqueza representadas nas armadilhas foram: Diptera (12 famílias), Hymenoptera (9), Coleoptera (6), Lepidoptera (5) e Hemiptera (2). Dentre os Diptera Cecidomyiidae foi à família mais abundante, com 28% do total dos insetos coletados, Muscidae foi à segunda família (13,5%), seguida de Tachinidae (11,5%), Drosophilidae (7,4%) e Phoridae (5%). Hymenoptera foi representada por abelhas (Apidae, 12,8%) e Formicidae (8,62%). Conforme a análise de agrupamento (Bray-Curtis, Figura 2) uma maior similaridade foi observada entre a mata e o carandazal. Essa similaridade pode ser explicada pela proximidade dos dois ambientes, assim os grupos de insetos estão presentes nos dois ambientes a procura de alimento, apesar da diferença estrutural dos dois ambientes. A mata possui uma maior diversidade de árvores, o que significa maior quantidade de abrigo para muitos grupos de insetos, bem como maior quantidade de alimento, já o carandazal possui uma estrutura mais simples menor número de árvores, assim provavelmente os

25 insetos da mata, em decorrência da proximidade dos ambientes foram atraídos para as armadilhas localizadas no carandazal. Tabela 1 - Porcentagens das espécies de insetos capturadas em armadilhas McPhail em três ambientes, instaladas em duas alturas, Pantanal Sul (Abobral), região de Passo do Lontra, Corumbá-MS (12 a 26/10/2003). Insetos mata morro 1,5m carandazal mata Morro 3,0m carandazal % espécie Morfo-espécies Tachinidae sp.1 5,8 2,6 4,4 7,1 2,5 6,6 5,84 Tachinidae sp.2 2,3 2,7 2,9 4,3 2,4 3,8 3,69 Tachinidae sp.3 3,6 2,5 0,5 2,1 0,5 0,4 1,92 Muscidae sp.1 1,3 4,7 28,2 2,3 1,0 15,7 10,72 Muscidae sp.2 0,3 0,2 0,3 0,4 2,4 0,7 0,87 Muscidae sp.3 0,2 0,3 0,8 0,4 2,1 0,7 0,90 Muscidae sp.4 0,2 2,1 0,4 0,4 1,2 0,6 0,98 Drosophilidae sp.1 1,0 4,8 0,9 0,2 2,8 1,5 2,27 Drosophilidae sp.2 1,2 2,6 1,4 0,7 2,0 3,6 2,32 Drosophilidae sp.4 0,3 3,9 1,3 0,3 7,3 0,8 2,81 Cecidomyiidae Sp.1 30,2 14,7 15,9 39,8 20,1 18,2 28,02 Otitidae sp..3 1,0 3,2 0,2 0,6 6,5 0,4 2,40 Otitidae sp.5 0,1 3,3 0,3 0,1 1,7 0,3 1,16 Lonchaeidae sp.1 3,6 0,5 1,1 2,6 0,7 2,7 2,22 Mycetophilidae sp.1 1,5 1,7 0,4 1,9 3,8 0,4 1,96 Phoridae sp.2 3,2 2,5 4,9 3,7 2,9 6,4 4,78 Apidae sp.2 4,5 0,7 13,8 2,6 1,3 17,9 8,22 Apidae sp.5 16,1 0,3 1,6 4,0 0,5 0,1 4,57 Formicidae sp.1 0,3 12,3 0,8 1,8 0,6 0,7 3,32 Formicidae sp.3 0,2 5,9 - - 2,8-1,81 Formicidae sp.4 0,3 7,1 1,6 2,1 5,4 0,8 3,49 Formicidae sp.5 0,5 0,3 2,0 0,5 10,1 0,8 2,89 Vespidae sp.3 3,3 0,1 3,9 3,4 0,2 3,1 2,83 Verificou-se que a captura de insetos nas duas alturas não apresentou diferença significativa (Tukey 5%) (Figura 1). A altura não interfere na localização da armadilha pelos grupos de insetos, o atrativo colocado em cada armadilha é localizado pelos insetos independente da altura. Vale ressaltar que na altura de 1,5m há um maior número de insetos capturados, fato que pode ser explicado pela facilidade de localização da armadilha, ficando essa armadilha na parte mediana de cada árvore, tão logo os insetos foram atraídos pelo atrativo em cada armadilha a de mais fácil localização era a que estava a 1,5m.

26 Figura 1 - Abundância de insetos capturados em armadilhas McPhail instaladas em duas diferentes alturas do nível do solo. Região de Passo do Lontra, Corumbá-MS (12 a 26/10/ 2003). Conforme a análise de agrupamento (Bray-Curtis, Figura 2) uma maior similaridade foi observada entre a mata e o carandazal. Essa similaridade pode ser explicada pela proximidade dos dois ambientes, assim os grupos de insetos estão presentes nos dois ambientes a procura de alimento, apesar da diferença estrutural dos dois ambientes. A mata possui uma maior diversidade de árvores, o que significa maior quantidade de abrigo para muitos grupos de insetos, bem como maior quantidade de alimento, já o carandazal possui uma estrutura mais simples menor número de árvores, assim provavelmente os insetos da mata, em decorrência da proximidade dos ambientes foram atraídos para as armadilhas localizadas no carandazal. Figura 2 - Análise da semelhança dos grupos de insetos capturados em armadilhas McPhail instaladas nos ambientes: Morro do Azeite (MA), Mata Ciliar (MC) e Carandazal (C), com duas alturas (1,5m 3,0m) em cada um dos três ecossistemas. Região de Passo do Lontra, Corumbá-MS (12 a 26/10/2003).

27 O morro apresentou maior diversidade (H = 1,4) e maior abundância de organismos, pois acredita-se que haja uma maior diversidade de plantas o que favorece a sobrevivência e preferência dos artrópodes de modo geral (Figuras 3 e 4). Outro fator que deve ser considerado é que o morro é um ambiente mais preservado, ou seja sofre menor ação do homem o que favorece a presença de muitos grupos de insetos. A diversidade de espécies de insetos correlaciona-se positivamente com a diversidade de espécies vegetais em um local, isto devido à maior diversidade de habitats e à maior disponibilidade de recursos alimentares distribuídos no espaço e no tempo. MC MA C 2 Diversidade 1,5 1 0,5 0 1,5 3 altura da armadilha Figura 3 - Índice de diversidade (Shannon-Weaner) para comunidades de insetos capturados em armadilhas McPhail instaladas em duas alturas e em três ambientes do Pantanal sul-mato-grossense (Morro do Azeite [MA]; Mata Ciliar do Rio Miranda [MC] e Carandazal [C], Faz. São Domingos, região de Passo do Lontra, Corumbá- MS (12 a 26/10/2003). A abundância de organismos foi significativamente maior no morro (N = 3.236), seguido do carandazal (N= 1.031) e mata ciliar (N=870), comparando a média dos ambientes amostrados foram significativamente diferentes entre si (Figura 4 e Tabela 2), provavelmente, em decorrência de particularidades de cada ambiente. Hoje um dos maiores desafios é a conservação da biodiversidade em função de perturbações antrópicas. De acordo com os resultados apresentados no presente trabalho, observa-se que nas áreas (mata ciliar e o carandazal) onde ocorreu fragmentação de paisagens, em decorrência da ação do homem, há uma menor abundância e diversidade. Essa fragmentação reduz o fluxo de animais, pólen e sementes. Os insetos apresentam ampla distribuição geográfica e adaptações relacionadas a diferentes habitats e hábitos alimentares por isso mostram-se como excelente grupo para evidenciar mudanças em ecossistemas. As matas ciliares são ecossistemas complexos e mantenedores de alta biodiversidade (OLIVEIRA-FILHO et al., 2004). Essas formações higrófilas associadas às nascentes e cursos d'água são locais propícios para uma grande diversidade de grupos de insetos. Porém no presente trabalho o número de famílias amostradas e abundância de organismos foi menor em relação ao morro, provavelmente, por ser um ambiente que sofre forte ação antrópica com histórico de queimadas constantes. Além disso, o morro é margeado pelo Rio Miranda o que provavelmente lhe confere também as características destacadas por Oliveira-Filho et al. (2004). O carandazal foi o que apresentou menor índice de diversidade (H 1,2) e a menor abundância. Este fragmento está totalmente

28 cercado por cultivo de arroz e presença de gado. Cuzzuol e Lima (2003) afirmam que a fragmentação e o isolamento das áreas naturais, devido às atividades antrópicas no entorno, funciona como barreira para o deslocamento das espécies, aproximando estas áreas da situação de ilhas. Os resultados obtidos nesta pesquisa podem ser reflexos desta situação ambiental, uma vez que os insetos são extremamente sensíveis aos distúrbios ambientais e são facilmente dizimados por pulverização com agentes químicos e poluição (Grissell, 1999). Tabela 2 - Abundância e porcentagem de insetos capturados em armadilhas McPhail a 1,5m de altura do nível do solo, nos ambientes: Mata Ciliar do Rio Miranda, Morro do Azeite e Carandazal (Fazenda São Domingos), região de Passo do Lontra, Corumbá-MS, (12 a 26/10/2003). S = Número de espécies; N = número de indivíduos; B = % de indivíduos. Ordens Mata ciliar Morro Carandazal S N B S N B S N B Diptera 30 54 63 37 2016 62 31 725 70 Neuroptera 0 0 0 1 1 0 1 1 0 Hymenoptera 17 237 27 22 1004 31 14 271 26 Blatodea 1 2 0 1 1 0 0 0 0 Lepidoptera 17 84 10 19 201 6 11 32 3 Coleoptera 1 1 0 4 7 0 1 2 0 Hemiptera 2 2 0 0 0 0 0 0 0 Orthoptera 0 0 0 1 6 0 0 0 0 Total 68 870 100 85 3236 100 58 1031 100 Figura 4 - Abundância de insetos capturados em armadilhas McPhail, para os três ambientes avaliados na região de Passo do Lontra, Corumbá-MS (12 a 26/ 10/ 2003). Tais resultados estão de acordo com a expectativa teórica, de que uma maior diversidade estrutural do ambiente implica em uma maior diversidade de espécies (PIANKA, 1983 apud FERREIRA e MARQUES, 1998). Florestas e matas, de

29 uma maneira geral, fornecem condições diversificadas para a existência de um maior número de nichos e conseqüentemente maior biodiversidade, devido as suas estruturas mais complexas: Grande número de espécies vegetais, estratificação vertical, copas interconectadas, maior sombreamento e umidade favorecem espécies menos tolerantes e maior possibilidade de refúgio contra inimigos naturais (VALLEJO et al., 1987 apud FERREIRA E MARQUES, 1998). O carandazal, composto por pequenos arbustos e na maioria, grandes palmeiras, permitindo irradiação solar, o que provavelmente contribuirá para a gradual diminuição da diversidade. Segundo Cirelli e Penteado-Dias (2003), a diversidade de insetos está mais intimamente relacionada a uma combinação entre a diversidade arquitetural das plantas e a diversidade espacial, do que à diversidade taxonômica da vegetação em questão. A hipótese de que em habitats fragmentados e impactados, seja por ação antrópica ou natural, a diversidade de plantas diminui e, conseqüentemente, a de insetos também é afetada de forma negativa (HAWKINS et al., 1992; SUMMERVILLE et al., 2001) é corroborada por este estudo. Assim, o conhecimento da riqueza de Ordens e Famílias presentes nas áreas de estudo pode ser um indicador indireto do estado de conservação da flora e fauna. Os remanescentes naturais como o Morro do Azeite, objeto deste estudo, abrigam uma comunidade de plantas, vertebrados e invertebrados que, contribuem para o equilíbrio dinâmico dos ecossistemas em que estão inseridos. As informações sobre a fauna de insetos, como identificação das espécies presente e o conhecimento de sua distribuição no espaço e no tempo, contribuirão para futuros estudos de conservação no cerrado e no Pantanal. Referências Bibliográficas CIRELLI, K. N.; PENTEADO-DIAS, A. M. Análise da riqueza da fauna de Braconidae (Hymenoptera, Ichneumonoidea) em remanescentes naturais da Área de Proteção Ambiental (APA) de Descalvado, SP. Revista. Brasileira Entomologia, 47 (1): 89-98, 2003. CUZZUOL, M. G. T.; LIMA, R. N. Análise da sensibilidade física da área de proteção de gorapaba-açú (Fundação-ES): Subsídios ao zoneamento ambiental. Natureza On Line, 1 (1): 28-36, 2003. Disponível em <http://naturezaonline.com.br>. FERREIRA, L. R.; MARQUES, M. S. A Fauna de artrópodes de serapilheira de áreas de monocultura com Eucalyptus sp. e mata secundária heterogênea. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, 27 (3): 395-403, 1998. GRISSELL, E. E. Hymenopteran biodiversity: Some alien notions. American Entomology, 45 (4): 235-244, 1999. HAWKINS, B. A.; SHAW, M. R.; ASKEW, R. R. Relation among assemblage size, host especialization, and climatic variability in North American parasitoids communities. American Naturalist, 139: 58-79, 1992. IBGE, Manual Tecnico da Vegetação Brasileira. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e estatística, Depertamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, Rio de Janeiro, Brasil, 92 p, 1992. LIMA, W. P.; ZAKIA, M. J. B. Hidrologia de matas ciliares. In: Rodrigues, R. R. & LEITÃO FILHO, H. DE F. (Orgs). Matas ciliares: Conservação e recuperação. EDUSP/FAPESP, São Paulo, Brasil, p. 33-44, 2001. NASCIMENTO, R. P.; CASTRO, M. S.; SILVA, M. R. Diversidade de formigas de serapilheira (Hymenoptera: Formicidae) em áreas de Mata Atlântica e reflorestada com Pinus elliotti (Pnaceae), em uma região do alto Tietê (Salesópolis, SP). Anais do XVI

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