ASTRONOMIA E TECNOLOGIAS DIGITAIS : SIGNIFICADOS PARA/NA EDUCAÇÃO 1



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Transcrição:

ASTRONOMIA E TECNOLOGIAS DIGITAIS : SIGNIFICADOS PARA/NA EDUCAÇÃO 1 Resumo As tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) integram os espaços das salas de aula e tecem possibilidades de ensino e de aprendizagem na astronomia. Com esta premissa, este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa bibliográfica sobre a relação do ensino de astronomia e o uso das TDIC. Com base nas seguintes questões norteadoras: quais conceitos de tecnologia foram adotados nestas pesquisas? Qual o referencial teórico e autores mais citados? Quais questionamentos orientaram os estudos? Foram analisadas teses e dissertações relacionadas às palavras chave: ensino, astronomia e tecnologia. Como resultado, identificamos apenas seis publicações que contemplem esta problemática. As análises indicam que os trabalhos ressaltam a importância do ensino de astronomia nesta modalidade de ensino e ao mesmo tempo, a frágil formação docente. A pesquisa evidenciou que Langhi, Longhini e Leite são os autores mais citados. Quanto as TDIC no ensino, apenas um trabalho apresentou teóricos que discutem as tecnologias na educação. O conceito de tecnologia mais adotado está associado à utilização de computadores e de recursos tecnológicos. Com isso a pesquisa revela alguns limites e desafios para o efetivo ensino da astronomia nas escolas por meio do uso das TDIC. UDESC ericagoncalves@hotmail.com Palavras chave: Astronomia Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) Ensino de astronomia. 1 Agência Financiadora: FAPESC e CAPES X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1

INTRODUÇÃO As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) 2 emergem na sociedade contemporânea e passam a fazer parte das políticas públicas de educação e, consequentemente, das salas de aula. Autores e pesquisadores tais como Pierre Lèvy (1999), Martha Kaschny Borges (2007), Nelson Pretto (2008) e Maria Helena Bonilla (2005) evidenciam a relevância das TDIC em âmbito escolar, tendo em vista os avanços que a sociedade vem experimentando em relação às mídias digitais e à Internet. Estes dispositivos promoveram uma modificação nas noções de espaço e tempo, de modo que para além de saberes e culturas, eles podem promover a interação social e virtual. Com o surgimento da internet, as mídias deixam de ser apenas transmissoras de informações, ao receber, criar e reconstruir conhecimentos (BORGES, 2007). E, ao encontro das TDIC estão os estudos em astronomia cujo fascínio e a intensa curiosidade têm promovido a busca pelo conhecimento da mecânica e do funcionamento dos planetas, estrelas e galáxias. A história mostra que em diferentes civilizações a observação dos movimentos dos astros no céu se fez presente. Os questionamentos e a necessidade constante de respostas para entender os mistérios do universo foram responsáveis pelo movimento contínuo da ciência, das tecnologias e da educação. Entre documentos oficiais e os questionamentos comuns da vida, o ensino da astronomia tem larga justificativa e relevância. Movimentada pela ciência e pelo acelerado processo de inovação e apropriação das tecnologias, a astronomia perpassa os caminhos das (TDIC) tais como: vídeos, filmes, planetários, museus digitais, ambientes virtuais e colaborativos de aprendizagem, e fazem uma essencial parceria com a educação. Diante desses pilares que dão sustentação a este artigo, a proposta desta pesquisa foi investigar nas publicações de teses e dissertações relativas aos temas de ensino de astronomia; com o objetivo de identificar as concepções de tecnologia, de cibercultura e ciberespaço que fundamentam estes estudos e quais autores da área são os mais citados, com enfoque nas tecnologias digitais e o ensino de astronomia. Para dar início a esse estudo, foi necessária a delimitação de 2 As TDIC são tecnologias que têm o computador e a Internet como instrumentos principais e se diferenciam das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) pela presença do digital. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2

uma metodologia para o mapeamento e a identificação dos trabalhos publicados nessa área, conforme será descrito a seguir. METODOLOGIA Este estudo, de caráter bibliográfico, teve como desafio mapear e analisar as produções acadêmicas dos últimos anos no campo do ensino de astronomia em interface com as TDIC. O mapeamento foi realizado no site da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações BDTD 3 sem delimitação de período. O primeiro passo consistiu no levantamento bibliográfico no banco de dados da BDTD pela palavra astronomia. Nesta busca foram encontrados 251 trabalhos. Em acordo com os objetivos deste estudo, a busca foi refinada, agrupando as palavras astronomia e ensino. Neste passo encontramos 66 produções entre teses e dissertações. Para as palavras astronomia e tecnologia, obtivemos 16 resultados. Dez delas eram de caráter eminentemente técnico, ligado exclusivamente à Física experiências com aparelhos digitais e ópticos; imagens de satélites; sensores; materiais para equipamentos de observação; cálculo para reatores nucleares e fotografias. Ou seja, não envolviam diretamente o ensino de astronomia com as TDIC. Com esse dado, observou se a necessidade de novamente refinar a busca, no qual agrupamos as palavras astronomia, ensino e tecnologia. Obtivemos somente seis trabalhos acadêmicos publicados no período de 2005 a 2012 que serão descritos no próximo tópico. Para compor o mapeamento proposto neste estudo e conhecer as publicações da área que formam a tríade astronomia, ensino e tecnologia, optou se por analisar nas seis produções identificadas: os títulos, os resumos, as palavras chave, a fundamentação teórica/referencial teórico, as conclusões e considerações finais, bem como as referências bibliográficas e digitais. 3 Disponível em <http://bdtd.ibict.br/> Acesso em 6 jan 2014 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3

RESULTADOS E DISCUSSÕES Com os avanços tecnológicos das últimas décadas, se ampliam também as pesquisas e publicações dos processos educativos de produção do conhecimento ligados às Tecnologias de Informação e Comunicação. No entanto, no que tange ao ensino de astronomia, área do saber que possui estreita relação com as tecnologias em geral, e mais especificamente com a tecnologia digitais (relógios digitais, internet, comunicação via satélite, entre outros) pouco se discute sobre a relação significativa do uso destas tecnologias no campo do ensino de astronomia. O mapeamento dos títulos analisados permitiu identificar alguns dados que contribuem para o estudo: as Universidades e Programas de Pós Graduação que pesquisam sobre astronomia e educação nos últimos anos, o nível de formação a que se refere o trabalho (ensino médio, fundamental ou formação de professores), a formação inicial dos pesquisadores e os autores que fundamentam as pesquisas, tanto os relativos à pedagogia, como os relativos à tecnologia e à astronomia. A seguir, um panorama das publicações analisadas: Andrade (2012) Programa de Pós Graduação em Ensino de Física (Mestrado Profissional) UFRGS Formação inicial, Farmácia e Física Tema: Astronomia como tema motivador para o ensino de física no Ensino Médio. Menezes (2011) Programa de Pós Graduação em Educação UFU (Mestrado) Formação inicial, Matemática e Biologia Tema: Tecnologia no ensino de astronomia na formação de professores. Oliveira (2010) Mestrado Profissional em Ensino de Ciências UNB Formação inicial, Física Tema: Astronomia e multimídia: a construção da exposição virtual. Dantas (2012) Programa de Pós Graduação em Educação UFRN (Mestrado) Formação inicial, Pedagogia Tema: Formação continuada de professores de ciências para o ensino de astronomia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Sobreira (2005) Programa de Pós Graduação em Geografia Física USP (Doutorado) Formação inicial, Geografia Tema: Astronomia no ensino de geografia. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4

Santos (2012) Programa de Pós Graduação em Engenharia Elétrica Makenzie (Mestrado) Formação inicial, Engenharia da Computação Tema: Compartilhamento de informações em ambientes virtuais do observatório solar. Dos seis trabalhos enumerados, dois apenas são de Programas de Pós Graduação em Educação e um de Ensino de Ciências, um de Ensino de Física, um de Engenharia Elétrica e um de Geografia. As distintas especificidades dos Programas de Pós Graduação explicita o trânsito da temática nas diferentes áreas do conhecimento. Ao encontro desse resultado, é importante salientar que a astronomia, além de presente no cotidiano, tanto na observação dos dias e noites, estações do ano, quanto nos produtos resultantes das tecnologias aeroespaciais tais como: fraldas descartáveis, alimentos desidratados, câmeras digitais, e muitos outros, é uma ciência interdisciplinar (LANGUI, 2009) e que se localiza academicamente na interface entre a física, química, biologia, história, geografia e até mesmo a literatura, música e navegação. Ao refletir sobre o mapeamento realizado, identificamos só uma tese dentre as seis obras analisadas. A Tese de Paulo Henrique Azevedo Sobreira, geógrafo, traz a proposta da inclusão da disciplina de Cosmografia Geográfica 4 (SOBREIRA, 2005) nos cursos de licenciatura em Geografia. A Cosmografia Geográfica: É composta pela intersecção da Geografia e da Astronomia, mas não exclusivamente por elas, pois se deve ponderar sobre as contribuições da Geodésia, da Cartografia e da Matemática neste estudo; Enfoca a Terra como um planeta em sus relações com os astros do Sistema Solar, principalmente com o Sol e a Lua e determina o lugar dela ou sua posição em relação a eles; Ocupa se da delineação do Globo Terrestre (fusos horários e coordenadas) e os movimentos aparentes da Esfera Celeste; É um estudo predominantemente escolar sobre os astros observáveis a olho nu e através de quaisquer instrumentos, no qual a Terra está contida e inserida; Analisa a interface entre os temas terrestres e os celestes, e suas 4 A Cosmografia é compost pela intersecção de alguns conhecimentos da Astronomia, da Geografia, da Geodésia, da Cartografia e da Matemática. (SOBREIRA, 2005, p. 116) X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5

consequências para a sociedade e a natureza. (SOBREIRA, 2005, p.117) Nessa relação da Cosmografia Geográfica proposta pelo autor, vale lembrar que a Geografia faz parte do currículo do Ensino Fundamental também nos Anos Iniciais e, portanto, importante intersecção curricular para os outros saberes disciplinares. Nesse sentido Nelson Pretto e Lima Junior (2005, p.210) dialogam sobre a importância do relacionamento entre os diferentes ramos do conhecimento presentes no currículo, ou seja, Para fazer do currículo um mecanismo de promoção do pensamento coletivo, é fundamental redimensionar o relacionamento entre os diferentes ramos do conhecimento, entre as tradicionais disciplinas de um curso, superando as estruturas hierárquicas que valorizam algumas das disciplinas e áreas em detrimento de outras [...] Isso envolve repensar, inclusive, a tradicional dicotomia entre o ensino formal e o não formal, de tal maneira que todas as formas de conhecimento e aprendizagem possam estar mobilizadas e integradas, fazendo do processo de aprendizagem um processo capaz de mobilizar o indivíduo da forma mais complexa possível. A astronomia, portanto, revela conteúdos fundamentais às demais áreas do conhecimento e que integram o currículo escolar, desde os Anos Iniciais do Ensino Fundamental à formação de professores. Seria, portanto, necessário ater se às necessárias interdisciplinariedades que esse conhecimento elenca para todas as disciplinas curriculares, seja no ensino e na aprendizagem ao longo do curso de Pedagogia ou de Geografia, seja pela curiosidade discente. A astronomia faz parte do cotidiano tanto nas observações do céu e do comportamento da natureza tais como estações do ano, marés, fenômenos celestes como, por exemplo: a Superlua, quanto nos artefatos tecnológicos que vão dos satélites responsáveis pelos sinais de TV, celular e GPS às fraldas descartáveis e materiais isolantes, que por sua vez, interessam a vida cotidiana. Ou seja, todo conhecimento da astronomia está intimamente vinculado com a vida em sociedade. Aliada a essa necessidade de estudo e pesquisa em astronomia nas diferentes áreas do conhecimento está o desenvolvimento das tecnologias digitais pela engenharia, representada na dissertação de Israel Florentino dos Santos. O pesquisador, embora não X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6

tenha um vínculo direto com o ensino de astronomia, discute o compartilhamento de informações e conhecimentos em ambientes virtuais. Para ele, O aumento significativo de dados científicos representa uma forte característica da atualidade, gerando a necessidade de um modelo diferenciado de pesquisa, o qual prevê a unificação da teoria, da experimentação e da simulação. Neste sentido, torna se vital um trabalho conjunto entre cientistas das mais variadas áreas do conhecimento com especialistas da Computação. Define se, então, um novo paradigma da ciência denominado e Science, o qual, segundo Jim Gray, representa o ponto onde a Tecnologia da Informação encontra cientistas, e tem como objetivo maior, gerar um mundo em que a literatura científica possa ser disponibilizada on line e de forma interoperável. (SANTOS, 2012, p. 15) Essa ferramenta busca estabelecer uma relação entre a ciência e a tecnologia em um ambiente integrado às metodologias de ensino. Trata se de uma proposta em disponibilizar aos pesquisadores interessados em monitorar atividades solares informações seguras e estruturadas além de atender aos estudantes dos cursos de Física. No entanto, para os pilares do mapeamento deste artigo (ensino de astronomia e tecnologia) a pesquisa de Santos (2012) têm visíveis dimensões desiguais. A saber, embora seja dado grande destaque à tecnologia, o ensino de astronomia se resume a tornar disponível a ferramenta aos estudantes do curso de Física e abrir caminhos para a iniciação científica na área de astronomia. Ao encontro dessa preocupação com a formação inicial de estudantes de física, principalmente com os da licenciatura e que atuam no Ensino Médio, está a dissertação de Maurício Henrique Andrade (2012) cuja abordagem é direcionada ao desenvolvimento de material didático para o ensino de astronomia. Trata se de um material organizado em hipertexto e disponível na rede, evidenciando a importância dos recursos tecnológicos digitais no processo de ensino e de aprendizagem. E dentro das diferentes formas de ensinar e de aprender, Carlos Eduardo Quinanilha Vaz de Oliveira (2010), discorre sobre o processo de construção e exposição virtual sobre astronomia. São atividades educativas com base em abordagens interativas e lúdicas em um museu virtua l5, com conhecimentos 5 Disponível em: <www.museuvirtual.unb.br> X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7

gerais sobre o Universo, galáxias e sistema solar com a proposta de estimular e divulgar o conhecimento científico e tecnológico. Rosemeire da Silva Dantas (2012) também discute, em sua dissertação de mestrado, a formação continuada de professores de ciências dos anos iniciais do ensino fundamental cujo foco é o ensino de astronomia. O resultado obtido indicou pouco domínio conceitual e a necessidade de formação continuada permanente. Nesse sentido, todos os seis trabalhos analisados abordaram a importância dos estudos em astronomia na graduação, em especial a formação docente, nos diferentes ramos da ciência conforme o quadro abaixo: Quadro 1. Teses e dissertações analisados em acordo com autor, programa de pósgraduação, formação inicial e Modalidade de ensino. Autor Programa de Pós Graduação Formação Inicial Abordagem Sobreira Geografia Geografia Formação de Professores; Ensino Fundamental; Ensino Médio Santos Engenharia Elétrica Engenharia da Computação Formação de estudantes de Física (graduação) que também atuarão como professores do no Ensino Médio Dantas Educação Pedagogia Formação de professores; Anos Iniciais do Ensino Fundamental Oliveira Ensino de Ciências Física Geral alunos, professores e interessados Andrade Ensino de Física Farmácia e Física Menezes Educação Matemática e Biologia Formação de professores e Ensino Médio Educação Básica e Formação de Professores Outro ponto de destaque deste estudo foi a identificação dos teóricos mais citados nas referências bibliográficas, estes ligados ao ensino de astronomia e referidos X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8

com frequência nas obras. Nesse aspecto identificou se: Longhini 7 e Cristina Leite 8. Rodolfo Langui 6 ; Daniel Vale ressaltar que tanto Stephen Hawking, professor na Universidade de Cambridge e autor de Uma breve história do tempo, livro que é bestseller internacional, e quanto Carl Sagan que foi professor de Astronomia e Ciência Espacial e dentre as inúmeras contribuições na área da educação e da tecnologia, autor da obra Cosmos em livro e vídeo documentário, ambos, clássicos dos estudos em astronomia, foram pouco utilizados nas referências das obras analisadas. Quadro 2. Autor, Referenciais teóricos em tecnologia em educação e ensino de astronomia Autor / Bibliografia Tecnologia Sobreira não Hawking Santos não não Astronomia Dantas não Langui, Longhini, Hawking, C.Leite, Sagan Oliveira não Langui, C.Leite, Sobreira, Canalle, Amaral Andrade não Langui, Amaral Menezes Levy, Kenski, Almeida, Silva e Vieira Pinto Longuini, Langhi, C.Leite, Bretones 6 Tese de doutorado sobre educação em astronomia para o Ensino Fundamental. É professor assistente doutor do Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/Bauru) desde 2012 e atua no Programa de Pós Graduação em Educação Para a Ciência da mesma universidade desde 2013. É sócio efetivo da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Desenvolve pesquisas, projetos e publicações na área de Educação em Astronomia, Formação de Professores, e Prática de Ensino de Ciências e de Física. Disponível em: < http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=c928149> Acesso em 27 mar 2014 7 Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia ( UFU) e do Programa de Pós graduação em Educação (PPGED UFU); coordena o GeeA Grupo de Estudos em Educação em Astronomia (www.geea.net.br). Tem experiência na área de Educação, atuando na formação de professores e no Ensino de Ciências, com ênfase em Física e Astronomia. Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=k4760380a4> Acesso em 27 mar 2014 8 Professora Dra do Instituto de Física da USP na área de Ensino de Física desde 2008. Orientadora no Programa de Pós graduação Interunidades em Ensino de Ciências da USP. Tem experiência na área de Educação, com ênfase no ensino de Física, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino de astronomia, de ciências e de física; projetos de ensino e livro didático. Disponível em <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=k4761384h8> Acesso em 27 mar 2014 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9

Outro aspecto a ser identificado neste estudo foram as concepções de tecnologia, cibercultura e ciberespaço presentes nestas produções acadêmicas. Poucas referências a autores foram encontradas como mostra a tabela acima. Ao identificar apenas na obra de Menezes (2011) que a tecnologia está referenciada com base em autores da área, o pesquisador relaciona os diferentes termos com os autores para justificar a opção pela utilização do termo recursos computacionais para se referir a tudo que se relaciona com computador e internet: NTIC novas tecnologias da informação e comunicação usada por Kenski; Novas tecnologias Lessaard e Tardif; TIC tecnologias de informação e comunicação usada por Almeida. Tecnologias Digitais usada por Pais. TDIC tecnologias digitais de informação e comunicação Marinho Embora o termo cibercultura apareça apenas uma vez em nota de rodapé com a referência a Silva (2005), o autor defende a importância do uso dos das tecnologias no ensino de astronomia e apresenta diversos recursos computacionais de aprendizagem. Além disso, discute os equívocos nos livros de formação sobre astronomia, o despreparo dos professores e a falha na formação inicial para o ensino de astronomia. Entre as seis obras analisadas, Menezes (2011) apresenta os pontos de contato entre o uso das tecnologias com o ensino de astronomia. Pensando nos pilares deste artigo: o ensino de astronomia e a tecnologia na educação, Sobreira (2005), com a tese sobre a inclusão da disciplina Cosmografia Geográfica no curso de licenciatura em Geografia, refere se à tecnologia especificamente para a busca de informações e coleta de dados na internet e no google. Em Santos (2012), a referência à tecnologia está justamente em descrever a análise e construção de um observatório solar virtual bem como o seu compartilhamento em ambientes virtuais. A ligação com o ensino de astronomia está implícita na justificativa desse recurso tecnológico ao dizer que pode ser compartilhado com alunos do curso de graduação em Física, pesquisadores ou futuros docentes. Já Oliveira (2012) usa a palavra nova X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10

tecnologia para se referir ao computador e aborda o planetário como nova tecnologia mais utilizada para ensino de astronomia (p.25). Andrade (2012) não faz referência a autores que discutem tecnologia, porém, utiliza autores que usam recursos tecnológicos e mídias para o ensino de Física. Além disso, ao longo do trabalho indica links para trabalhar com hipertexto e programas de computador para o ensino de astronomia. Dantas (2012) defende a formação continuada de professores para o ensino de astronomia nos anos iniciais do Ensino Fundamental, para este autor, o artefato tecnológico se resume às gravações em áudio da formação continuada descrita na dissertação. Portanto, cinco das seis obras analisadas utilizam a palavra tecnologia ou novas tecnologias como sinônimo de recursos computacionais, computador ou informática. Neste aspecto refletimos sobre o conceito de tecnologia proposto pelo filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto (2005), que discorre em sua obra O conceito de Tecnologia, sobre a complexidade de delimitação do conceito de tecnologia, pois este pode assumir diferentes significados. Para o autor, são quatro os sentidos mais utilizados para o conceito de tecnologia. O primeiro é o sentido etimológico, logos ou tratado da técnica cuja teoria, a ciência, a discussão da técnica, abrangidas nesta última acepção as artes, as habilidades do fazer, as profissões e, generalizadamente, os modos de produzir alguma coisa. Este é necessariamente o sentido primordial, cuja interpretação nos abrirá a compreensão dos demais.(pinto, 2005, p. 219) O segundo sentido de tecnologia está relacionado ao senso comum, o sentido frequente e popular da palavra. Nesta dimensão tecnologia é entendida como sinônimo de técnica ou know how. Já o terceiro, se relaciona com o conceito popular e também é usado com frequência e de forma generalizada. Nesta acepção, tecnologia é entendida como o conjunto de técnicas de uma determinada sociedade, em acordo com a sua fase de desenvolvimento histórico (VIEIRA PINTO, 2005, p. 220). Para o autor: A importância desta acepção reside em ser a ela que se costuma fazer menção quando se procura X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11

referir ou medir o grau de avanço do processo as forças produtivas de uma sociedade. (ibidem, p.220) A quarta e última acepção, também relacionada à terceira, é o conceito de tecnologia em sua dimensão ideológica. Esta acepção é revestida de importância capital, ideologização da técnica ou ideologia da técnica (Id. p.220). Em nossa análise, um dos trabalhos identificados sobre fatores que influenciam o uso dos recursos computacionais por professores ao ensinar astronomia está Leonardo Donizette de Deus Menezes (2011). Ele teve a sua formação inicial em Matemática e Biologia, com Pós Graduação em Educação 9 pela Universidade Federal de Uberlândia e foi orientado por Marcos Daniel Longhini que está entre os autores referenciados nas pesquisas em ensino de astronomia. O autor aponta as características e diferenciações da técnica (comportamento humano) e da tecnologia (quando tem a mediação da máquina) em forma de uma grande citação de um trecho do livro de Vieira Pinto (2005) porém não discorre sobre o assunto. E, portanto, para entender melhor essa distinção, Dissemos que o termo tecnologia significa também o conjunto das técnicas existentes em uma dada sociedade, em certo momento de sua história. Nenhuma sociedade apresenta uma superfície uniforme no progresso tecnológico. (PINTO, 2005, p.332) Ou seja, para Vieira Pinto (2005) a técnica é imanente à humanidade pela capacidade de produzir e inventar meios artificiais de solucionar problemas. Já a tecnologia, ciência da técnica, surge como exigência social. Se o desenvolvimento científico vem com o domínio e a posse dos instrumentos e materiais indispensáveis para se chegar a uma nova realização, de outro lado, a exigência social incentiva e resulta nas inovações tecnológicas. Mesmo tendo a tecnologia como palavra chave na busca do portal do BDTD, apenas um autor (MENEZES, 2011) utiliza o conceito de tecnologia, recorrendo a estudiosos da área. Cabe destacar que sse critério de busca amplia o alcance e seleciona todos os trabalhos que se aproximam da palavra. Assim, em Oliveira (2010), (Dantas, 9 Importante lembrar que apenas dois trabalhos entre os seis eram de Programas de Pós Graduação em Educação conforme a análise proposta para este artigo. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12

2012), (Sobreira, 2005), Santos (2012) e Andrade (2012), o assunto tecnologia perpassa as ideias das obras, porém não aprofundam o conhecimento. Da mesma forma acontece em relação às palavras cibercultura e ciberespaço. Somente na dissertação de Menezes (2011), verificamos que foi utilizada, porém, de forma bastante tímida e superficial. Cibercultura aparece apenas uma vez em nota de rodapé ao explicar sobre a inclusão da internet nas escolas sob pena de exclusão social ou exclusão da cibercultura (MENEZES, 2011, p.43) Segundo Silva (2005), Cibercultura quer dizer: modos de vida e comportamentos assimilados e transmitidos na vivência histórica e cotidiana marcada pelas tecnologias informáticas, mediando a comunicação e a informação via internet. (MENEZES, 2011, p.43). <citação da nota de rodapé> Já a palavra Ciberespaço é brevemente citada como elemento potencializador de novas aprendizagens, porém, sem referência a autores ou notas explicando significado do termo. Com isso, é preciso recorrer aos autores que discutem o termo para entender as palavras cibercultura e ciberespaço. Para Pierre Levy e André Lemos (2010, p.21 22), cibercultura é é o conjunto tecnocultural emergente no final do século XX impulsionado pela sociabilidade pós moderna em sinergia com a microinformática e o surgimento das redes telemáticas mundiais; uma forma sociocultural que modifica hábitos sociais, práticas de consumo cultural, ritmos de produção e distribuição da informação, criando novas relações no trabalho e no lazer, novas formas de sociabilidade e de comunicação social. Nesse sentido, a cibercultura faz parte também das salas de aula e dos assuntos que incitam a educação de maneira geral. Se vivemos em uma sociedade que está impregnada pela tecnologia, em especial as tecnologias digitais, mesmo aqueles que não têm acesso diretamente à internet, por exemplo, passam fazer uso desses instrumentos tecnológicos em suas práticas cotidianas ao acessar terminais de bancos, supermercados, celulares, entre outros. Assim, Esses usos permitem aos sujeitos a incorporação, a criação e a modificação das práticas sociais, econômicas, culturais, educacionais, não previstas. [ ] Ao mesmo tempo em que os instrumentos tecnológicos passam a ser incorporados às práticas sociais, esses usos modificam os X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13

próprios sujeitos, pois os usuários das tecnologias digitais no seu uso, ressignificam, adaptam os esquemas mentais de uso de um instrumento a outro e desenvolvem esquemas mentais. (BORGES, 2007) Denominado gênese instrumental por Pierre Rabardel (2011), nesse processo de instrumentação, o sujeito, ao usar o instrumento tecnológico, atribui a ele propriedades e funções não previstas pelos criadores. E, em decorrência disso, o sujeito também se modifica na medida em que se adapta e se atualiza, criando esquemas mentais que enriquecem o próprio sujeito. Trata se de uma relação bilateral em que o homem cria recursos para facilitar sua vida e como consequência, sofre alterações de comportamentos e valores ao criar diferentes exigências e necessidades. E é nesse fluxo que se transporta as TDIC nas práticas pedagógicas cotidianas e na educação, em especial, na educação em astronomia que é a espinha dorsal deste artigo. Já o termo ciberespaço, a autora Lucia Santaella ( 2004, p. 40) Consiste de uma realidade multidirecional, artificial ou virtual incorporada a uma realidade global, sustentada por computadores que funcionam como meios de geração e acesso (SANTAELLA, 2004, p.40). De modo bastante simplificado, entende se que tanto a cibercultura quanto o ciberespaço são termos que vêm tomando proporção e invadem também os espaços da educação. Nesse sentido é importante delinear a importância da abordagem ao falar de tecnologias, sobretudo as digitais, de informação e comunicação. Dessa forma, os conceitos de cibercultura e ciberespaço atravessam e circulam nas obras analisadas. Todos os autores 10 de certa forma abordaram o tecnologia, ciberespaço e a cibercultura, sem, no entanto, discorrer conceitos em torno da temática. Entendemos que devido à complexidade e amplitude dos temas abordados, os pesquisadores tiveram a necessidade de escolher alguns dentre os vários aspectos relacionadas à produção do conhecimento científico para o desenvolvimento das intervenções e análises pesquisadas. 10 Andrade (2012) discorre sobre astronomia como tema motivador para o ensino de física no Ensino Médio; Menezes (2011), Tecnologia no ensino de astronomia na formação de professores; Oliveira (2010)Astronomia e multimídia: a construção da exposição virtual; Dantas (2012)Formação continuada de professores de ciências para o ensino de astronomia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental; Sobreira (2005)Astronomia no ensino de geografia; e Santos (2012)Compartilhamento de informações em ambientes virtuais do observatório solar. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.14

Assim, pode se pensar na educação e na mediação do professor no uso dos recursos computacionais, do ciberespaço e dos ambientes virtuais de aprendizagem como elemento necessário e participante do processo educativo. Diante do exposto, as análises das produções selecionadas pelo Banco Digital de Teses e Dissertações pelas palavras chave ensino, astronomia e tecnologia revelou pontos de contato entre si. Foi possível perceber que em todas elas houve referência a importância do ensino de astronomia nas diferentes áreas do conhecimento, sejam elas, engenharia, física, pedagogia, geografia e ciências. Dentre justificativas de larga relevância para a ciência e para a educação de maneira geral o tema da formação de professores com a temática tangenciou as obras, mesmo que mais aprofundada em umas e de forma superficial em outras. Quanto ao conceito de tecnologia, o destaque foi para o uso dela como instrumento metodológico e artefato cultural. Nesse sentido, foi possível observar o encontro e a aderência do ensino de astronomia com as tecnologias e as lacunas de pesquisas com as temáticas discutidas neste artigo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A convergência dos eixos principais propostos nessa pesquisa, ensino de astronomia e tecnologia, é preciso levar em conta as tecnologias de informação e comunicação, sobretudo as digitais. As pesquisas analisadas revelam mediações docentes e práticas pedagógicas especialmente para o ensino e a aprendizagem das novas gerações, consideradas por Marc Prensky 11 como nativos digitais. Termo cunhado para descrever as crianças que usam boa parte do seu tempo com mensagens instantâneas, jogos eletrônicos, navegação na internet, download de músicas e documentos pela web, envio de e mails, além de assistir programas de televisão como séries, desenhos e novelas. Salientamos que esta classificação elaborada por Prensky, pode ser relativizada, pois a familiaridade e apropriação das TDIC pelos sujeitos, não é apenas uma questão de idade, mas de acesso e uso destas tecnologias. Entretanto, ela nos ajuda a refletir sobre os sujeitos da atualidade e seus processos de aprendizagem. 11 Entrevista à Revista Época (2010) MarckPrensky: O aluno virou especialista. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.15

Nessa perspectiva de mídias digitais, os vídeos e os ambientes virtuais de aprendizagem permitem situações de produção de conhecimento dada as possibilidades comunicativas e a facilidade de acesso às informações, além de favorecer a interdisciplinaridade dos conteúdos. É inegável que a informática e a conectividade alteraram os rumos da sociedade (LEVY, 1999) e essa configuração dita tecnológica ou digital proporciona maior interação entre pessoas e tecnologias, principalmente entre as crianças e jovens contemporâneos, que pensam e aprendem de forma diferente, que ressignificam o modo de produção do conhecimento e interação com o outro em um ambiente digital, espaço multifacetado de informações e interações. Embora muitas pesquisas abordem as TDIC nas dissertações e teses, pouco se discute acerca dos pilares que constituem esse artigo. E, ao contrário do que se esperava, os conceitos e referências no campo das Tecnologias de Informação e Comunicação não foram uma preocupação demonstrada pelos autores das teses e dissertações analisadas O que se viu foi uma forte referência a nomes de teóricos ligados à astronomia, física e ciências diretamente para discutir temas como metodologia de ensino prática. Propostas didáticas sobre conceitos básicos de astronomia presentes nos currículos educacionais, tanto em espaços considerados formais e não formais de aprendizagem emergiram nas obras pesquisadas e ainda apresentaram algum assunto relacionado a currículo. A lacuna existente neste campo de investigação se revela na minimização dos estudos das áreas de ensino de astronomia e da tecnologia, embora presente no cotidiano e que pode ser aprofundado nas escolas deste a mais tenra idade. A dificuldade de encontrarmos pesquisas que nos remetam diretamente a tríade astronomia, ensino e tecnologia evidencia a necessidade de mais estudos na área, dada a relevância e abrangência que conectam as tecnologias digitais de informação e comunicação nos diversos campos de saberes, entre eles, da astronomia. Deste modo, acredita se que a presente investigação pode contribuir para reflexão e aprofundamento das discussões sobre a astronomia, educação e Tecnologias Digitais e Informação e Comunicação (TDIC). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.16

REFERÊNCIAS BONILLA, Maria Helena Silveira. Escola aprendente: para além da sociedade da informação. Rio de Janeiro: Quartet, 2005. BORGES, Martha Kaschny. Educação e cibercultura: perspectivas para a emergência de novos paradigmas educacionais. In VALLEJO, Antonio Pantoja; ZWIEREWICZ, Marlene (org). Sociedade da informação, educação digital e inlusão. p.55 86. Florianópolis. Insular, 2007. LANGHI, Rodolfo. Astronomia nos anos iniciais do ensino fundamental: repensando a formação de professores. Tese (Doutorado em Educação para a Ciência). Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, 2009. LEMOS, André; LEVY, Pierre. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia. São Paulo: Paulus, 2010. LÉVY, Pierre.Cibercultura.São Paulo: Ed. 34, 1999. MENEZES, Leonardo Donizette de Deus. Tecnologia no ensino de astronomia na educação básica. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Uberlândia, 2011. PINTO, Álvaro Vieira. O conceito de tecnologia. Vol 1. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. PRENSKY, Marck. O aluno virou especialista.entrevista cedida à Revista Época na área de ciência e tecnologia, publicada em 8julh 2010. Disponível em: < HYPERLINK "http://revistaepoca.globo.com/revista/epoca/0,,emi153918 15224,00 MARC+PRENSKY+O+ALUNO+VIROU+O+ESPECIALISTA.html"http://revistaepoca.globo.co m/revista/epoca/0,,emi153918 15224,00 MARC+PRENSKY+O+ALUNO+VIROU+O+ESPECIALISTA.html> Acesso em 10 mai2013 PRETTO, Nelson de Luca; LIMA JUNIOR, Arnaud Soares de. Desafios para o currículo a partir das tecnologias contemporâneas. In: PRETTO, Nelson de Luca (org).tecnologia e novas Educações. Salvador/Bahia. Edufba, 2005. PRETTO, Nelson de Luca. Escritos sobre Educação, Comunicação e Cultura. Campinas, SP: Papirus, 2008. RABARDEL, Pierre. Los hombres y a tecnologias. Perspectivas cognitivas de los instrumentos contemporaneos. ERGOS07. 26 jul 2011. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.17