Transtorno do Pânico: diretrizes para o uso de psicofármacos e algoritmo. Gisele Gus Manfro e Carolina Blaya



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Excluído: Transtorno do Pânico: diretrizes para o uso de psicofármacos e algoritmo Gisele Gus Manfro e Carolina Blaya (Psicofármacos: Consulta Rápida; Porto Alegre, Artmed, 2005, p.351) INTRODUÇÃO O transtorno do pânico (TP) é caracterizado pela presença de ataques súbitos de ansiedade, recorrentes, acompanhados de sintomas físicos e afetivos. É uma doença crônica que afeta 3,5% da população ao longo da vida, atingindo duas vezes mais mulheres que homens, especialmente entre a segunda e a terceira década da vida 1. Diferentes classes de antidepressivos, incluindo inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), antidepressivos tricíclicos (ADT), inibidores da monoaminoxidase (IMAO) e benzodiazepínicos, são usadas no tratamento do TP. Embora vários estudos tenham demonstrado a eficácia do tratamento farmacológico para esse transtorno, uma proporção significativa dos pacientes permanece sintomática após o tratamento agudo. Pode-se dizer que os pacientes respondem ao tratamento farmacológico agudo, mas a maioria não apresenta uma remissão completa (resolução completa dos sintomas mantida por um período de pelo menos 3 meses). Isto indica que o TP é uma doença crônica e, como tal, seu tratamento deve ser mantido por um período longo. 1

A terapia cognitivo-comportamental tem sido, então, recomendada para o tratamento dos sintomas residuais, particularmente quando persistem sintomas agorafóbicos, e é também freqüentemente indicada em qualquer momento do tratamento, pois seus efeitos, associados aos medicamentos, parecem ser mantidos nas avaliações em longo prazo. Esta é também uma técnica que deve ser considerada em situações especiais como gestação, amamentação, impossibilidade de usar medicamentos ou retirada dos fármacos. A TCC para o TP consiste no uso da psico-educação, de técnicas para enfrentar a ansiedade, reestruturação cognitiva e enfrentamento das situações evitadas. Por outro lado, o tratamento farmacológico do TP tem como objetivo bloquear os ataques de pânico, diminuir a ansiedade antecipatória, reverter a evitação fóbica, assim como reconhecer e tratar as co-morbidades. Com o objetivo de avaliar a resposta ao tratamento no TP verifica-se a intensidade e freqüência dos ataques, da ansiedade antecipatória, da evitação fóbica, o funcionamento global e a qualidade de vida. Baseados nessas premissas, vários autores têm proposto algoritmos para o TP que, de uma forma geral, seguem os seguintes passos: 1.Tratamento da fase aguda: monoterapia com antidepressivos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS) A desregulação do sistema serotonérgico parece ter um efeito central na gênese do TP, embora ainda não esteja bem-estabelecido como os mecanismos de ação destes fármacos produzem o efeito desejado. Na prática clínica, os ISRSs são atualmente os fármacos de primeira escolha no TP pois, além da sua eficácia já comprovada, combinam um espectro eficaz para condições co-mórbidas 2

(depressão, fobia social e TOC), associado à segurança e à tolerabilidade. Uma recente meta-análise verificou que os ISRS apresentam eficácia semelhante aos tricíclicos no tratamento do TP. 2 A paroxetina foi o primeiro ISRS aprovado pelo FDA para tratamento do TP, em 1996. Esse ISRS, especialmente em doses de 40mg/d, apresentava eficácia comparada aos ADTs, ambos superiores ao placebo, porém com maior tolerabilidade. 3 Como esse medicamento é capaz de produzir sonolência, parece ser uma boa indicação para pacientes com alteração do sono. A paroxetina foi também estudada em crianças com TP com boa tolerabilidade e boa resposta clínica. 4 A sertralina foi aprovada para ser utilizada no TP em 1997. Sua eficácia foi demonstrada em vários estudos, em doses que variaram de 50 a 150mg/d, e os pacientes apresentaram melhoras evidenciadas em várias escalas de ansiedade, e também na avaliação da sua qualidade de vida. 5 Em função de a meia-vida desta droga ser mais curta, justifica-se sua indicação para pacientes idosos. Estudos sugerem que a fluoxetina, a fluvoxamina e o citalopram também são eficazes no tratamento do TP. 6,7,8 Em função da inquietação produzida por estes fármacos no início do tratamento, associada à sensibilidade que estes pacientes possuem das suas sensações corporais, sugere-se iniciar com doses baixas (paroxetina 5-10mg/d; sertralina 25mg/d e fluoxetina 5mg/d) aumentando-se esta dose gradualmente até obtenção dos níveis terapêuticos. O uso prévio de benzodiazepínicos não influencia na resposta ao ISRS. 9 Antidepressivos tricíclicos (ADT) A imipramina foi o primeiro antidepressivo utilizado no tratamento do TP com 3

eficácia comprovada. Entretanto, a seletividade da clomipramina para o bloqueio serotonérgico parece ser a responsável pela sua superioridade em relação aos demais ADTs no tratamento do TP, uma vez que se sabe que fármacos com atividade noradrenérgica pura como a maprotilina não apresentam uma ação antipânico. 10 O tratamento com ADT também é acompanhado de inquietação e aumento de ansiedade no seu início, assim como aumento no número de ataques nos primeiros dias de uso da clomipramina, justificando iniciar com doses baixas (10mg/dia) que são aumentadas gradualmente, conforme a resposta e a tolerância do paciente. Os efeitos colaterais e o período de latência para o início de ação parecem ser os grandes responsáveis pela menor efetividade destes fármacos. Um estudo de seguimento demonstrou que a maioria dos efeitos adversos à imipramina diminuem com a evolução do tratamento, exceto boca seca, sudorese e constipação. Monoterapia com Benzodiazepínicos A boa eficácia, seu rápido início de ação e os efeitos adversos favoráveis tornaram os benzodiazepínicos fármacos úteis no tratamento do TP. Os efeitos adversos mais comuns incluem sedação e ataxia, que parecem ser minimizados quando se inicia a prescrição com doses mais baixas. Os pacientes aderem facilmente ao tratamento e, quando não há co-morbidade com abuso de álcool ou substâncias, não parece haver potencial abusivo no uso destes fármacos. 11 Entretanto, por se tratar de uma condição crônica que exige o uso de medicamento por um tempo prolongado, a monoterapia com benzodiazepínicos 4

passou a não ser considerada a primeira escolha no tratamento do TP, em função do risco de dependência. O alprazolam e o clonazepam são os benzodiazepínicos mais estudados no tratamento do TP e os resultados destes estudos sugerem uma eficácia semelhante aos ADTs com melhor tolerabilidade e início de ação mais rápido. 11 Existe também evidência da efetividade do diazepam e lorazepam no tratamento do transtorno do pânico, no entanto com mais efeitos colaterais. 12 O alprazolam é iniciado nas doses de 0,25 a 0,5mg, 2 ou 3 vezes por dia, podendo ser aumentado gradualmente até 2-10mg/dia. Como este fármaco possui uma meia-vida curta, observa-se, com freqüência, a presença de ansiedade de rebote e sintomas de abstinência quando descontinuado abruptamente. Em função desta limitação, o clonazepam, que pode ser utilizado em dose única diária, é preferencialmente utilizado. Inicia-se com 0,25 a 0,5 mg à noite, aumentando até 3mg/dia, com a manutenção dos seus efeitos positivos sem a necessidade de aumentar a dose com o passar do tempo. 13 Embora se tenha observado piora com a descontinuação deste fármaco, os pacientes não voltam a apresentar uma sintomatologia semelhante à apresentada no início do tratamento. Associação AD e BZD no início do tratamento Os benzodiazepínicos (alprazolam e clonazepam) podem ser utilizados como monoterapia para o tratamento do TP ou serem adicionados aos ISRSs, atualmente considerados medicamentos de primeira escolha. Isto ocorre porque muitos pacientes apresentam elevados níveis de ansiedade, ansiedade antecipatória importante, insônia e hipersensibilidade às suas sensações 5

corporais. Um estudo recente mostrou que a combinação de paroxetina e clonazepam resultou num início mais rápido de resposta do que o uso do ISRS isolado, não havendo entretanto diferenças entre os dois tratamentos depois de algumas semanas. Como o início do tratamento com ISRS pode ser acompanhado de inquietação exagerada, aumento de ansiedade e um longo período de latência para o início da resposta, recomenda-se iniciar com doses baixas do antidepressivo e, algumas vezes, associar um benzodiazepínico por um tempo limitado. A combinação desses fármacos promove melhora dos sintomas nas primeiras semanas conforme observado em estudo duplo-cego. 14 Entretanto, é necessário avaliar co-morbidades e, por exemplo, não utilizar benzodiazepínicos em pacientes com potencial abusivo, uma vez que o TP é uma condição crônica que requer tratamentos em longo prazo, assim como preferir não usar antidepressivos em pacientes com história de transtorno do humor. 2. Não resposta ou resposta parcial No caso de resposta parcial ou não resposta com a monoterapia, sugere-se, conforme algoritmo abaixo: aumento da dose até o máximo recomendado ou surgimento de efeitos colaterais; troca por outro medicamento da mesma classe (p.ex. um ISRS por outro ISRS); troca por outro medicamento de classe diferente, ou seja, utilizar outros 6

antidepressivos (p.ex. um ISRS por um ADT ou vice versa). associação de antidepressivos com benzodiazepínicos por mais de 4 semanas; associação de ISRS com ADT (cuidar niveis sericos dos ADT); 3. Pacientes resistentes ou refratários Em casos resistentes, ou seja, quando o paciente não responde as medidas anteriores sugere-se, apesar da não existência de estudos controlados: associação de antidepressivos com outros medicamentos (buspirona, - bloqueadores) medicações alternativas (IMAO, ácido valpróico, venlafaxina, lítio).; Inibidores da Monoaminoxidase (IMAO) A fenelzina, em doses de 45-90mg/d está reservada aos pacientes com TP que não respondem a tratamentos mais convencionais devido à presença de efeitos adversos importantes e à necessidade de vigilância constante em função das interações medicamentosas e das restrições dietéticas. Não se pode dizer, porém, que o paciente apresenta TP refratário até submetê-lo ao tratamento com IMAO. 13 Outros agentes A venlafaxina foi examinada e mostrou-se eficaz, iniciando-se com doses de 12,5mg/dia que foram gradualmente aumentadas até 225mg/dia em duas tomadas diárias. 15 A nefazodona (50 a 400mg/dia), que é um antagonista de 5HT2, 7

demonstrou-se ser eficaz num estudo aberto, com uma resposta inferior ao tratamento padrão, porém com poucos efeitos colaterias. 16 A reboxetina com dose de 6 a 8 mg/dia, 17 e a mirtazapina com dose de 30mg 18 demonstram-se efetivas no TP em ensaios abertos. A buspirona, embora não seja eficaz como [AVC1] Comentário: Acho que vocês deveriam citar o trabalho da Luciana Ribeiro, que foi um esnaio clíonico controlado, com mirtazapina monoterapia no tratamento do TP, ela pode ser efetiva quando usada nas doses de 30 a 60mg/dia em combinação com ISRS e benzodiazepínicos em pacientes com TP refratário. Os beta-bloqueadores, por sua vez, não são usados como primeira escolha no tratamento do TP porque não bloqueiam os ataques e não atuam nas experiências cognitivas e emocionais do medo. Entretanto, quando usados em associação com outros agentes, podem ter algum benefício, em doses que variam de 10 a 160mg/dia. 13 Um estudo duplo-cego encontrou que o pindolol associado à fluoxetina apresenta um efeito de potencialização em pacientes com TP. 19 O lítio, em doses de 300 a 900 mg/dia, em associação com o uso de antidepressivos, pode ser útil em alguns pacientes refratários. Os anticonvulsionantes valproato (500 a 2.000mg/dia) e gabapentina (300 a 1.800mg/dia) parecem ter eficácia no tratamento de pacientes com TP típicos, atípicos e resistentes. No entanto, um estudo controlado duplo-cego que comparou a gabapentina com placebo em pacientes com TP, não demonstrou superioridade da droga em relação ao placebo. 20 8

9

TRATAMENTO AGUDO Transtorno do Pânico Presença de Agorafobia Paroxetina 10mg/d ou Sertralina 25mg/d ou Fluoxetina 10mg/d ou Citalopram 10mg/d ou Fluvoxamina 50mg/d Ansiedade intensa Terapia Cognitivocomportamental Responde Não responde Acrescentar Benzodiazepínicos: Clonazepam 0,5mg/d Primeiro episódio Manutenção por 1 ano Curso crônico Manutenção a longo prazo + TCC Aumentar as doses até: Paroxetina 40mg/d Sertralina 200mg/d Fluoxetina 40mg/d Citalopram 40mg/d Fluvaxamina 300mg/d Não responde Se assintomático Redução gradual Considerar TCC ISRS + Clonazepam 4-6mg/d ou Clomipramina (aumentando gradualmente até 150mg/d) Não responde ISRS + BDZ/ADT + -bloq/buspirona/lítio ISRS + BDZ/ADT + Valproato/Gabapentina IMAO 10

Figura 1 Transtorno do pânico: algoritmo do tratamento farmacológico. TCC= Terapia cognitivo-comportamental; ISRS= Inibidor seletivo da recaptação da serotonina; BZD= Benzodiazepínico; ADT= Antidepressivo triciclíco. Sumarizando, no tratamento agudo do TP, os ISRS podem ser utilizados como monoterapia ou em combinação com benzodiazepínicos, como já orientado previamente. Inicia-se sempre com doses baixas, em função do aumento de ansiedade induzido por estas substâncias e sugere-se aumentar a dose até a obtenção de efeitos favoráveis ou o aparecimento de efeitos adversos não toleráveis. Se os sintomas persistirem após 4 semanas, pode-se tentar trocar por um medicamento da mesma classe (outro ISRS), manter a associação de um ISRS com benzodiazepínico por um período mais longo ou utilizar a clomipramina. No caso de falta de resposta ou resposta parcial, utilizam-se as combinações de ISRS e ADT (observando os niveis sericos deste ultimo) com ou sem benzodiazepínicos, buspirona, anticonvulsionantes, novos antidepressivos e IMAO. Sabe-se que, apesar da boa resposta ao tratamento agudo, 50-78% dos pacientes seguem utilizando medicamentos por um tempo prolongado, assim como 30 a 75% dos pacientes continuam a experienciar ataques de pânico e sintomas residuais apesar da farmacoterapia. Isto faz com que a terapia cognitivocomportamental constitua-se em uma ferramenta importante no tratamento deste e de outros transtornos de ansiedade. Esses dados, associados ao conhecimento da cronicidade da doença sugere a importância do tratamento de manutenção. 11

TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO Após obtenção da resposta completa no tratamento agudo, deve-se manter o tratamento de manutenção por um ano. As doses utilizadas no tratamento de manutenção parecem ser as mesmas com as quais se obteve resposta no tratamento agudo, com exceção dos pacientes que utilizam monoterapia com ADT. Estes pacientes podem seguir tratamento de manutenção com 50% da dose eficaz no tratamento agudo. Os pacientes tratados com fluoxetina de 10 a 60 mg ao dia podem fazer o tratamento de manutenção com dose semanal de fluoxetina. 21 Estudos controlados duplo-cego de seguimento do tratamento do TP com fluoxetina 22, paroxetina 3 e imipramina 23 demonstraram que a manutenção do tratamento medicamentoso é eficaz na prevenção de recaída. No entanto, após a suspensão deste tratamento, o índice de recaída é o mesmo que no grupo placebo, em torno de 30%. Um estudo controlado duplo-cego de 80 semanas encontrou que o tratamento a longo-prazo com sertralina foi eficaz em prevenir recaídas. 9 Entretanto, outro estudo que comparou recaída com a duração do tratamento de manutenção com imipramina encontrou que a recaída é idêntica nos pacientes tratados por 6, 12 ou 30 meses. 24 Retirada da medicação e prevenção recaídas Após o período de um ano, o medicamento é retirado gradualmente (Fluoxetina 10-20mg, Sertralina 25-50mg, Paroxetina 10mg, ADTs 25mg a cada 3-4 semanas) e a terapia cognitivo-comportamental pode ser utilizada para a manutenção da resposta, uma vez que a presença de sintomas residuais, ou seja, ansiedade 12

antecipatória e evitações (agorafobia), que são o foco do tratamento da TCC, estão associadas às recaídas. No caso do curso crônico com recaídas, sugere-se a manutenção do medicamento a longo prazo associado à terapia cognitivocomportamental (TCC) para minimizar prejuízos na qualidade de vida destes pacientes. Esta técnica também demonstrou ser eficaz para descontinuação de benzodiazepínicos em pacientes graves 25 e para a descontinuação do antidepressivo após o tratamento agudo. O paciente deve sempre ser orientado que o TP é uma doença crônica e que as recaídas são freqüentes. O reaparecimento de ataques de pânico não é sinônimo de recaída, e nem sempre será indicada a reintrodução da medicação. Os pacientes devem ser orientados a manter as técnicas de enfrentamento, minimizando assim as evitações fóbicas, procurar ajuda e reiniciar tratamento rapidamente. 13

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