LEVANTAMENTO DAS DEMANDAS ERGONÔMICAS NO SETOR DE PRENSAS ELETRO-HIDRÁULICAS EM UMA EMPRESA DE CONFECÇÃO DE LOUÇAS DE METAL



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LEVANTAMENTO DAS DEMANDAS ERGONÔMICAS NO SETOR DE PRENSAS ELETRO-HIDRÁULICAS EM UMA EMPRESA DE CONFECÇÃO DE LOUÇAS DE METAL Jonhatan Magno Norte da Silva (UFCG) Jonhatanmagno@hotmail.com IALY CORDEIRO DE SOUSA (UFCG) ialyengenheira@gmail.com arthur de souza leao santos filho (UFCG) arthur_filho91@hotmail.com Cataline Veruska Laborde (UFCG) LABORDINHA_@HOTMAIL.COM Ivanildo Fernandes Araujo (UFCG) ivanildo@uaep.ufcg.edu.br Atualmente as empresas vêm se preocupando cada vez mais com o bem-estar dos seus colaboradores durante o desempenho laboral, visto que quando estes trabalham de forma confortável há um aumento na produtividade. Para melhorar os níveis de coonforto nos postos de trabalho a ergonomia é a ciência mais indicada. Sabendo disso, idealizou-se um estudo que tem por objetivo de propor melhorias no setor de prensas de uma empresa produtora de louças de metal para aumentar o conforto dos colaboradores, e também garantir a integridade destes. Para isso se fez uso de um roteiro para identificar os pontos críticos desse posto, e assim fazer um levantamento das demandas ergonômicas para o setor. Os resultados mostram que o posto em estudo apresenta vários problemas no mobiliário, maquinário, equipamentos, e nas variáveis ambientais do mesmo. Por fim são apresentadas propostas de solução para os problemas observados. Palavras-chaves: Ergonomia, Levantamento das Demandas Ergonômicas, Setor de Prensas

1. Introdução Fazer o levantamento das demandas ergonômicas sem duvida é um dos passos mais importantes em busca de melhorar o conforto laboral dos colaboradores. Através dessa avaliação podem-se identificar reais problemas que interferem, de fato, na produtividade, na saúde e segurança dos colaboradores. Para Soares (1999), a demanda ergonômica é a primeira etapa do processo da Análise Ergonômica do Trabalho, que tem por objetivo a clara definição do problema a ser analisado a partir de uma negociação com os diversos atores envolvidos. A primeira etapa de uma intervenção ergonômica ocorre com a fase da apreciação, que compreende explorar e mapear os problemas ergonômicos da empresa (MORAES, 2005). Muitos estudos relacionados a intervenções ergonômicas nos postos de trabalho utilizam uma série de ferramentas avançadas e softwares, porém grande parte desses estudos não realiza na fase inicial um levantamento das demandas ergonômicas de modo correto, sendo assim, acabam por não focar nos verdadeiros problemas e acabam por obter resultados que em nada ajudam nas melhorias das condições de realização das atividades nos postos de trabalho. Sabendo de tais informações preliminares, idealizou-se um estudo para se fazer um levantamento das demandas ergonômicas em uma metalúrgica da cidade de Campina Grande - Paraíba. A empresa produz louças de metal esmaltado para uso doméstico. O trabalho foi realizado, especificamente no setor de prensas, onde são fabricadas peças para compor o cabo ou pegas de alguns modelos de panelas. Portanto, o objetivo do estudo, que resultou nesse artigo, é fazer o levantamento das demandas ergonômicas no setor de prensas, para tanto foram observadas máquinas, ferramentas, mobiliário, equipamentos de proteção individual (EPI s), condições do ambiente ocupacional, métodos de realização do trabalho e as posturas adotadas, a fim de, propor mudanças que possam trazer mais conforto e segurança para os colaboradores na realização de suas tarefas. 2. Referencial teórico No intuito de se obter um melhor entendimento do trabalho, se faz importante o conhecimento de alguns termos relativos ao tema. 2.1 A importância da ergonomia Para Iida (2003) ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Porém, em boa parte dos casos nem sempre é tão fácil promover de forma efetiva tal adaptação. Se faz necessário verificar um conjunto de variáveis, para de fato o trabalho ser adaptado as limitações fisiológicas e psicológicas dos colaboradores. De modo geral, tais variáveis estão ligadas a esforços efetuados, mobiliário, equipamentos, condições ambientais, e organização do trabalho. Sendo assim, segundo Murrell (1965) a ergonomia busca fazer com que os fatores presentes nos locais de trabalho não venham a causar prejuízo à saúde dos colaboradores. Logo, a ergonomia pode ser definida como um estudo científico das relações entre o homem e o seu ambiente de trabalho. 2

Para Rensink e Uden (1998), a engenharia do fator humano (termo focado na otimização do sistema de trabalho na interface homem-máquina) é uma ciência aplicada que objetiva a integração do conhecimento das capacidades humanas e suas restrições com o desenvolvimento de produtos, local de trabalho e instalações para melhorar a eficiência, conforto, segurança e condições de saúde para as pessoas. Desse modo, fica claro que a ergonomia não se trata de uma ciência isolada, mas sim um conjunto de ciências, que em conjunto trazem bem estar para os colaboradores e eficiência para os processos, pensamento que é partilhado por Grandjean (1998), ao afirmar que a ergonomia é uma ciência interdisciplinar, como também, por Wisner (1987), que afirma ser a ergonomia constituída por um conjunto de conhecimentos científicos relativos ao ser humano e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia. Contudo, a importância da ergonomia não está somente em garantir nível de conforto e segurança para os colaboradores, mas também trás ganhos de qualidade, produtividade, e lucro de forma paralela, já que torna os processos mais eficientes e eficazes. Quando as qualidades especiais do homem e da máquina são sensatamente combinadas, pode ser desenvolvido um sistema homem-máquina capaz de grandes realizações (GRANDJEAN, 1998). Dessa maneira, o homem termina por influenciar de forma essencial no processo produtivo, e ainda é a peça mais importante no processo produtivo. 2.2 Postura corporal Para Kendall et al. (1995), a postura ideal do corpo é a posição que envolve o mínimo de estiramento e de estresse das suas estruturas, com o menor gasto de energia, no sentido de se obter o máximo de eficiência no uso do corpo. Sendo assim é dever do ergonomista tornar o trabalho menos fatigante possível, adaptando o local de trabalho às limitações e necessidades dos colaboradores, pois do contrário, sérios problemas de saúde podem ser gerados. Nessa mesma perspectiva afirma Knoplich et al. (1987) que a postura corporal adotada por um profissional, repetidamente durante anos, pode afetar a sua musculatura e a sua constituição óssea articular, principalmente a da coluna e dos membros, resultando em curto prazo, dores que se prolongam além do horário de trabalho. Assunção (1999) preconiza que além do custo social representado pelas incapacidades permanentes associados ao trabalho, acumulam perdas financeiras e de força de trabalho, por isso, se faz necessária a análise da postura corporal em um posto de trabalho. Knoplich (1985) afirma que as posturas incorretas, assumidas de forma prolongada, provocam fadiga e aparecimento de sintomatologias dolorosas, devido à forma com que se tencionam as fibras musculares, diminuindo assim o processo circulatório e comprometendo a oxigenação dos tecidos, que resultem em acúmulo de resíduos metabólicos e provoca sintomas de dor e desconforto. Observa-se a necessidade de pausas, revezamento de tarefas e a redução de trabalho, para possibilitar a diminuição dos fatores de risco a doenças (MAENO, 1999). Em muitos estudos utiliza-se o diagrama proposto por Corlett e Manenica. Segundo Iida (2003) tal diagrama divide o corpo em diversos segmentos e facilita a localização de áreas em que os trabalhadores sentem dores. O diagrama pode ser observado na Figura 1. 3

Fonte: Corlett e Manenica (1980) Figura 1 Diagrama para indicar partes do corpo onde se localizam as dores provocadas por problemas de postura Segundo Iida (2003), trabalhando ou repousando, o corpo assume três posturas básicas: a posição deitada, sentada e de pé. No nosso caso observaremos o trabalhador na posição sentada. Deve-se escolher com cuidado a postura que colaboradores desempenharam suas funções para que estes não venham a desenvolver problemas de saúde. Para Barbosa Filho (2010) dentre os fatores causadores de males ocupacionais está a postura adotada (e mantida) para a realização de trabalho. 2.3 Principais legislações sobre ergonomia A Norma Regulamentadora 17 (NR 17) é legislação que trata especificamente da ergonomia, publicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por meio da portaria n 3.514, tem por objetivo estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos colaboradores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente (BRASIL, 1978). Segundo a NR 17 as condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho, e à própria organização do trabalho (BRASIL, 1978). Além da NR 17 a NR 32 trata de variáveis ergonômicas. Tal normal afirma que nos estabelecimentos de assistência à saúde, devem ser atendidas: (a) condições de conforto relativas aos níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10152, norma brasileira registrada no INMETRO; e (b) iluminação adequada, conforme o estabelecido na Norma Regulamentadora 17-Ergonomia (BRASIL, 2005). Outras legislações falam sobre ergonomia, como por exemplo, a lei n 2.586 de 03 de julho do estado do Rio de Janeiro que estabelece normas de prevenção das doenças e critérios de defesa da saúde dos trabalhadores das esferas pública e privada do Estado do Rio de Janeiro, com a finalidade de protegê-los das Lesões por Esforços Repetitivos - L.E.R (BRASIL, 1996). 4

Embora que muitas leis estabeleçam critérios a ser seguidos para manter a integridade dos colaboradores, devido à falta de fiscalização nas empresas, muito pouco é colocado em prática. 3. Metodologia 3.1 Procedimentos adotados O estudo é descritivo exploratório, e faz uso de observação in loco auxiliado por um roteiro denominado de Roteiro de Entrevistas com o Trabalhador - Adequação do trabalho às características fisiológicas e psicológicas dos trabalhadores. Tal ferramenta foi adaptada de Couto (2003) para descrever as tarefas e observar que movimentos críticos durante o trabalho o pesquisador consegue atribuir ao aparecimento de dor. Em seguida o entrevistado aponta no diagrama proposto por Corlett e Manenica (1980) em qual parte do corpo ele sente dores durante e ao final da jornada de trabalho. Segundo os criadores esse diagrama indica as partes do corpo onde se localizam as dores provocadas por problemas de postura. Fazendo uso do roteiro e de entrevista observou-se fatores ligados à organização do trabalho, queixas dos colaboradores, satisfação/insatisfação dos mesmos, realidade psicossocial, e estresse, importantes para se direcionar a busca por melhorias. No estudo deve-se analisar como ponto principal da pesquisa, e de forma empírica, a postura dos trabalhadores e partes que compõe as máquinas que estes operam, porém em paralelo foram observadas algumas variáveis ligadas ao ambiente no trabalho. A empresa apresenta dez prensas, sendo cada uma delas laborada por um funcionário, os quais serão os sujeitos da pesquisa. 3.2 Posto de trabalho e atividade desempenhada O setor estudado foi o de prensas eletro-hidráulicas. Tais máquinas são operadas por um único colaborador, e exigem destes muita concentração e cuidado, pois são acionadas através de um pedal, o que não garante em hipótese alguma, que o operador esteja com os dedos ou as mãos fora do local prensado, como pode ser observado na figura 3. Figura 2 Indicação do pedal alto para acionamento da máquina 5

Pode-se observar que o colaborador desempenha sua atividade na posição sentada sobre um banco sem encosto para a coluna lombar. Tal colaborador posiciona abaixo do local que será prensado uma chapa de ferro de aproximadamente 10 cm x 200 cm, e aciona o pedal. Depois de prensada a peça, fazendo uso das mãos o colaborador desloca a chapa no sentido da direita para esquerda, e novamente aciona o pedal. Repete este procedimento até que toda a extensão da chapa seja prensada. Em seguida, joga no chão, no seu lado esquerdo os retraços da chapa. Depois de jogar tal chapa cortada o colaborador gira seu corpo em cerca de 45 (quarenta e cinco graus) para direita e pega uma nova chapa que será prensada como a anterior. Quando aciona o pedal a prensa corta a chapa realizando um movimento de guilhotina. Tal parte cortada escorrega por uma espécie de rampa e cai dentro de um balde ou reservatório que fica situado entre as pernas do operador e que tem capacidade de armazenar aproximadamente 10 Kg (dez quilos) de peças. Observa-se que o pedal de acionamento estar a uma altura inadequada inviabilizando a colocação do pé no chão, necessitando usar um apoio para o calcanhar, desta forma o banco torna-se baixo. A estrutura da máquina não permite uma maior aproximação do operador por não possuir espaço para as pernas, induzindo o operador a assumir uma postura inadequada das costas e membros superiores. A altura da plataforma da matriz em relação ao chão é baixa, e ainda a distância plataforma em relação ao pedal não permitindo o trabalho em pé, para facilitar o acionamento do pedal o que demonstra erro no projeto da máquina. No posto de trabalho incide luz natural através de janelas e artificial através de lâmpadas de vapor de mercúrio. O colaborador utiliza protetor auricular, tipo concha, para se proteger do ruído de impacto gerado pela máquina e os ruídos de fundo oriundos das outras máquinas da própria fábrica. O telhado da fábrica é feito de amianto, material com pouca capacidade de isolamento térmico. No setor não foram encontrados ventiladores ou outros equipamentos que pudessem manter a temperatura no posto de trabalho mais agradável. 3.3 Perfil e informações dos entrevistados Os colaboradores são do sexo masculino, e desempenham sua funções a mais de 4 (quatro) anos. Dois deles possuíam histórico de acidente ao desempenhar tal função. Desse modo através das entrevistas pode-se descobrir que, em pelo menos duas situações, a prensa já causou algum tipo de lesão aos colaboradores, em um dos casos a máquina arrancou a unha do dedo indicador e no outro o operador perdeu o dedo anelar. Os entrevistados declararam sentir dores em alguma parte do corpo, tais como, costas, ombros, coxas e panturrilhas; que não receberam nenhum treinamento para desempenhar suas funções; que este trabalho não exige alta intensidade; e que sua remuneração é boa, mas poderia ser melhorada por ser uma função muito cansativa. Alegou ter bom relacionamento com os demais companheiros e com os gerentes e alta direção da fábrica. 4. Analise dos Dados 4.1 Arranjo físico As máquinas são distribuídas de modo correto, porém estas poderiam sofrer rotação de 90 (noventa graus) no sentido horário, pois assim o colaborador não trabalharia na sobra da máquina e sim com maior intensidade de luz natural oriunda da janela no local onde as prensas se encontram. Tal modificação seria muito importante, pois as chapas de metal possuem uma camada de óleo de proteção, que em contato com as luvas dos colaboradores 6

deixam as mesmas da cor da própria chapa, aumentando assim o risco de confusão visual para o operador saber identificar o que é chapa e o que são seus dedos ou mãos. Para aumentar intensidade luminosa no posto de trabalho a solução seria substituir algumas telhas de amianto por telhas translúcidas para aumentar a intensidade luminosa no posto de trabalho. Figura 4 Indicação dos pontos de iluminação natural do posto de trabalho Figura 5 Detalhe das luvas utilizada e sobra da máquina sobre a plataforma trabalho 4.2 Posturas assumidas A postura adotada é errada, e as variáveis que tornam tal postura errada são: - Pedal alto, forçando o trabalhador a ficar em uma má postura, e utilizar um calço para facilitar o acionamento da máquina (1); - Ausência de encosto para a coluna lombar faz que o colaborador fique inclinado para frente, buscando assim uma melhor postura para realizar o trabalho (2); - O assento sem regulagem de altura faz com que as coxas e panturrilhas não formem um ângulo de 90 graus (3). - O colaborador ora inclina o pescoço para frente e ora para o lado, procurando melhor posição para observar que local da chapa está sendo cortado (4); - O colaborador desempenha sua função com um balde entre as pernas, o que faz com que esse assuma posturas erradas (5). Tais pontos são enumerados na ordem que foram citados acima nas figuras 6 e 7. 7

Figura 6 Indicação dos pontos de inadequação postural Indivíduo de lado 4.3 Atividades motoras e sensoriais O alcance do solado do pé direto fica comprometido graças à posição do pedal está muito alto, e não é paralelo e encostado no chão da fábrica. Como pode ser observado na figura 6, para alcançar o acionamento da máquina o colaborador faz uso de um calço de madeira onde apoia o pé, porém pelo que foi dito na entrevista tal ajuste não é suficiente para eliminar dores nas coxas e panturrilhas. Durante o trabalho o colaborador desempenha uma atividade repetitiva originando esforço por repetição e monotonia, o que causa fadiga no operador e sudorese em excesso. O operador inclina principalmente as costas e coluna para poder enxergar e alcançar o local que será cortada pela prensa. Em virtude do nível de ruído presente na fábrica ser alto, o colaborador sentiu dificuldade de escutar as perguntas que eram feitas, o que demonstra dificuldades na comunicação verbal e consequente nas informações a serem repassadas. Além dos problemas de comunicação o ruído excessivo pode ser a causa de acidentes, como afirma Kjellberg (1990) ao concluir que altos níveis de ruído no local de trabalho estão associados a altas taxas de acidentes do trabalho. Daí deve-se estudar soluções para diminuir o nível de ruído das máquinas, como por exemplo, manutenção preventiva e abafamento dos mecanismos O trabalho exige mais atenção e cuidado do que propriamente esforço físico por parte do operador, por isso, quaisquer que sejam as mudanças no posto de trabalho, estas devem priorizar a inclusão de variáveis que facilitem a visualização da área de trabalho pelo colaborador, e mecanismos que reduzam o nível de ruídos e evitem acidentes. 4.4 Condições ambientais Figura 7 Indicação dos pontos de inadequação postural Indivíduo de costas Por ser o telhado da fábrica de telha em amianto, e o trabalho no posto ser repetitivo, o colaborador apresentou sudorese em excesso, fator agravado pela ausência de ventiladores ou condicionadores de ar, e também as janelas para circulação de ar estarem fechadas. 8

A fábrica possui iluminação natural por basculantes, e nos momentos de visitas boa parte da iluminação artificial, feita por lâmpadas não estava funcionando, o que dificulta ainda mais a visualização dos colaboradores. Poderiam ser desenvolvidas modificações e adaptações nas máquinas e, ainda, implantação de um programa de manutenção preventiva para tentar diminuir o nível de ruído proveniente das máquinas nos outros setores da fábrica, para que as informações verbais possam ser passadas de modo audível. Embora que a distância entre as máquinas amenizem, em parte o ruído, se faz necessária diminuição de forma geral, ainda mais, o nível de ruído no setor de produção da fábrica e no posto de trabalho especificamente estudado. 5. Partes doloridas do corpo Após as entrevistas era pedido aos colaboradores que indicassem no diagrama, proposto por Corlett e Menenica (1980), onde sentiam dor após e durante o trabalho. Observou-se que 90% dos colaboradores afirmaram sentir exatamente dores nas mesmas partes, e estas são assinaladas na cor vermelha no diagrama abaixo mostrado. Fonte: Adaptada de Corlett e Menenica (1980) Figura 8 Partes do corpo doloridas assinaladas pelos colaboradores 6. Considerações Finais Através do levantamento das demandas ergonômicas observou-se que muito pode ser feito para melhorar as condições a que estão expostos os trabalhadores do setor de pressa. Algumas soluções são fáceis de colocar em prática, e não têm custos tão elevados para a empresa, se 9

comparada aos benefícios que estas podem trazer, como por exemplo, a compra de assentos confortáveis, com encosto encostos com forma levemente adaptada ao corpo, com regulagem de altura, e bordas frontal arredondada; e realizar treinamento em como trabalhar em posturas corretas. Ficou claro que variáveis como intensidade luminosa no local prensado, ruído e temperatura também causam riscos de acidente e desconforto nos colaboradores. Soluções são propostas como, por exemplo, manter as lâmpadas ligadas e rotacionar a máquina 90 (noventa graus) no sentido horário, para que a luz natural incida diretamente no local da plataforma de prensagem da máquina, e ainda, substituição de algumas telhas de amianto por telhas translúcidas para aumentar a intensidade luminosa no posto de trabalho; manutenção preventiva nas máquinas para diminuir ruídos; e colocação de ventiladores ou exaustores para reduzir a temperatura ambiente, como solução alternativa mais barata em substituição ao tipo de telhado da fábrica. Sugere-se mudança na escolha das luvas no que diz respeito ao uso de cor contrastante com a estrutura da plataforma de trabalha e do material a ser prensado, já que existe registro e indícios de acidentes no setor. Portanto, deve-se modificar a cor das luvas fazendo com que estas apresentem cores chamativas como laranja e amarelo, a fim de se evitarem novos acidentes. As pressas precisam sofrer modificações, pois algumas características das mesmas, podem causar problemas ergonômicos, como exemplo, temos o pedal das máquinas muito alto que causa dores nas coxas, pernas, tornozelos e pés. Também se faz necessárias mudanças nas plataformas de prensagem para que as peças já estampadas deixem de caiam no recipiente entre as pernas, podendo assim facilitar sua postura correta. Ficou claro assim ao final desse artigo que tais mudanças propostas são relevantes, visto que colaboradores mostraram que sentem dores durante e após o horário de trabalho em partes do corpo, tais como; pescoço, ombro, costas na altura lombar e cervical, antebraços, coxas, pernas, tornozelos e pés, portanto quase todo o corpo. Referências ASSUNÇÃO, A. A. Sistemas músculos- esquelético: lesões por esforços repetitivos (LER). In MENDES, R. Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1999. BARBOSA FILHO, A. N. Segurança do trabalho e gestão ambiental. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Lei nº 2586, de 03 de julho de 1996. Estabelece normas de prevenção das doenças e critérios de defesa da saúde dos trabalhadores das esferas pública e privada do Estado do Rio de Janeiro, com a finalidade de protegê-los das Lesões por Esforços Repetitivos - L.E.R. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/144377/lei-2586-96-rio-de-janeiro-rj>. Acesso em: 18 de Fevereiro de 2012. BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Norma Regulamentadora 17: Ergonomia. Portaria n 3.214. Brasília, 1978. Disponível em: < http://portal.mte.gov.br/data/files/ff8080812be914e6012befbad7064803/nr_17.pdf>. Acessado em 22 de Dezembro de 2011. 10

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