RESORTS E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UM FOCO NO PROJETO ECOCITYBRASIL E RESEX CAJUÍ



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Transcrição:

1 RESORTS E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UM FOCO NO PROJETO ECOCITYBRASIL E RESEX CAJUÍ RESUMO - Este artigo analisou a relação entre Resorts e Unidades de conservação, com destaque para o caso da EcocityBrasil e RESEX Cajuí no município de Ilha Grande (Piauí, Brasil), como metodologia foi utilizada pesquisa bibliográfica sobre os impactos do turismo onde à gama de modificações ou à sequência de eventos provocados pelo processo de desenvolvimento turístico nas localidades receptoras e estudos de caso do Txai Resort Itacaré e do complexo Costa do Sauípe que se encontra localizado na APA litoral norte no estado da Bahia, onde os resultados apontam que a criação de Unidades de Conservação é uma boa maneira de proteger a fauna, flora e os aspectos sociais e culturais, e a implementação de empreendimentos como resorts é possível se e somente se houver um planejamento baseado na sustentabilidade e estudo dos impactos ambientais. Palavras- Chave: Unidades de Conservação; Resorts; EcocityBrasil; RESEX Cajuí. INTRODUÇÃO O turismo em áreas naturais é um segmento de mercado que muito comumente é utilizado para alavancar áreas turísticas sem uma infra-estrutura muito cara, já que se pressupõe que a localidade deve se encontrar em etapa inicial de alteração humana ou com algumas características intocadas. Quando é proposto o planejamento neste tipo de turismo três aspectos básicos devem ser analisados, capacidade de carga biótica da região, visando analisar quais áreas podem ser usadas para finalidade turísticas, quais os tipos de atividades podem ser desenvolvidas ali e quantos turistas podem visitar em que período de tempo esta região, aceitação social da atividade turística na região, com a chegada da atividade turística alguns preceitos sociais são alterados como a valorização da mão de obra feminina e de pessoas mais jovens, isso dentro de uma sociedade agrária ou com valores muito machistas podem inverter a posição social dos cidadãos e por fim a viabilidade econômica do turismo é um elemento muito importante pois mesmo com a existência de uma localidade disponível a receber o turista, uma bela localidade e um produto turístico preparado sem um mercado consumidor disposto a pagar por estes elementos o turismo não irá se viabilizar, entre estes elementos os aspectos legais também devem ser analisados haja vista que a localidade pode se encontrar

2 em determinada classificação de uso e ocupação, além das possíveis atividades a serem realizadas no destino (BARRETO, 2003). Este artigo se propõem a analisar referencial teórico e casos de resorts localizados em Unidades de Conservação (UCs), utilizando como metodologia levantamento bibliográficos e estudos de casos realizados em condições semelhantes, discutindo pontualmente o indeferimento ao projeto Resort EcocityBrasil, servindo assim de referencial teórico para futuros debates sobre a possibilidade da implantação de produtos turísticos em áreas de proteção ambiental. CLASIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL Estima-se que um terço da biodiversidade mundial esteja reunido em territórios brasileiros, segundo reza a constituição federal, a proteção e a preservação legal dessa biodiversidade estão a cargo do Poder Público, e uma das táticas de proteção é a criação de Unidades de Conservação (UCs) em todo território nacional. As mesmas são reguladas pela Lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). O SNUC define unidade de conservação como, Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, aos quais se aplicam garantias adequadas de proteção. Entende-se que essa é uma maneira eficiente de combater o avançado processo de degradação ambiental, a extinção de espécies, o desmatamento, bem como o processo de ocupação desordenado ocasionado pelo homem. As Unidades de Conservação estão divididas em dois grandes grupos: o de Proteção Integral e o de Uso Sustentável e ao todo em 12 categorias. Para o instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) o Grupo de Proteção Integral São aquelas Unidades de Conservação que têm como objetivo básico preservar a natureza, livrando-a, o quanto possível, da interferência humana; nelas, como regra, só se admite o uso indireto dos recursos naturais, isto é, aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou

3 destruição, com exceção dos casos previstos na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). O objetivo fundamental desse grupo e preservar a natureza, não permitindo o uso direto dos recursos naturais. O mesmo é composto de cinco categorias de unidades de conservação: Estação Ecológica (ESEC); Reserva Biológica (REBIO); Parque Nacional (PARNA); Monumento Natural (MN); e Refúgio de Vida Silvestre (REVIS) (ICMBio, 2012). De acordo com o ICMBio O grupo de Uso Sustentável São aquelas Unidades de Conservação cujo objetivo básico é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais. Elas visam a conciliar a exploração do ambiente com a garantia de perenidade dos recursos naturais renováveis considerando os processos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável. Nesse grupo a conservação da natureza é compatível com o uso sustentável de parte de seus recursos naturais, harmonizando o aproveitamento econômico direto de forma socialmente justa. Sete categorias diferentes fazem parte desse grupo que são: Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE); Floresta Nacional (FLONA); Reserva de Fauna (REFAU); Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS); Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN); Área de Proteção Ambiental (APA); e Reserva Extrativista (RESEX); (ICMBio, 2012). Área de Proteção Ambiental (APA) é uma categoria de unidade de conservação recente que, no Brasil, surgiu no início dos anos 80 (Artigo 8 o da Lei Federal n o 6.902, de 27/04/1981), juntamente com diversos outros instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente destinados à conservação ambiental (EMBRAPA). Segundo a Lei do SNUC A APA é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (cap. do art. 15 da Lei nº 9.985, de 2000).

4 Seu objetivo principal é proteger a diversidade biológica, disciplinar os processos de ocupação humana conservando as características ambientais da área e garantir a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Os benefícios dessa categoria são: as APAs podem incluir terras de propriedade privada, não exigindo, portanto, a desapropriação de terras; podem ser criadas nas esferas federal, estadual ou municipal; compreendem paisagens naturais ou com qualquer tipo de alteração; abrange ecossistemas urbanos ou rurais; estende-se por mais de um município ou bacia hidrográfica; englobar outras unidades de conservação mais restritivas como a RESEX; permiti varias atividades econômicas ou obras de infra-estrutura em seu interior, desde que com finalidade de subsistência, e excetuadas suas zonas de vida silvestre. Assim, uma APA não impede o desenvolvimento de uma região, a manutenção das atividades humanas existentes, e apenas orienta as atividades produtivas de forma a coibir a predação e a degradação dos recursos naturais (VIANA, 2005) O ICMBio define Reserva Extrativista (RESEX) como Área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Sua criação visa a proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. As populações que vivem nessas unidades possuem contrato de concessão de direito real de uso, tendo em vista que a área é de domínio público. A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e com o disposto no plano de manejo da unidade. A pesquisa é permitida e incentivada, desde que haja prévia autorização do Instituto Chico Mendes (ICMBio). RESORT EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO A Organização Mundial do Turismo - OMT (2003) define resorts como destinos turísticos integrados e relativamente independentes que oferecem uma variedade de instalações e atividades para os turistas.

5 Já o Ministério do Turismo diz segundo o SBClass que resort é um Hotel com infra-estrutura de lazer e entretenimento que disponha de serviços de estética, atividades físicas, recreação e convívio com a natureza no próprio empreendimento. Segundo o Ministério do Turismo para ser considerado resort o empreendimento deve estar localizado em área com conservação ou equilíbrio natural; Ter construção antecedida de estudos de impacto ambiental e de planejamento da ocupação do uso do solo, visando a conservação ambiental; Possuir áreas total e não edificadas, bem como infra-estrutura de entretenimento e lazer, significantemente superiores as dos empreendimentos similares; e ter condições de ser classificado na categoria 4 ou 5 estrelas. Os resorts existentes na década de 1970 não demonstravam maior interesse com a preservação ambiental e com a integração e harmonia da sua estrutura com a paisagem do seu entorno. Eles visavam atender ao turismo de Massa, ao mercado de pacotes de férias, que se encontrava no auge. Contudo, a partir dos anos 80, os projetos passaram a ser mais sensíveis, refletindo preocupações a respeito do meio ambiente e necessidades de atender a interesses de turismo mais diversificados, acompanhando as tendências mundiais (LAWSON, 2003). A parti da implementação das unidades de conservação os resorts tiveram que se adaptar as novas regras. Muitos resorts estão localizados em UCs de uso Sustentável, assim os mesmos têm a responsabilidade de proteger a diversidade biológica e trabalhar de forma sustentável os recursos naturais, podendo fazer obras de infra-estrutura, contribuindo assim para o desenvolvimento de uma região. Os resorts normalmente beneficiam economicamente a região onde estão inseridos na medida em que pagam impostos, geram empregos e contribuem para o equilíbrio da balança de pagamentos. Todavia é questionável até que ponto eles realmente contribuem para o desenvolvimento sociocultural e econômico das comunidades locais e para a preservação do meio ambiente onde se inserem (SILVA, 2009). Ruschmann (1997:34) alimenta que os impactos do turismo dizem respeito à gama de modificações ou à sequência de eventos provocados pelo processo de

6 desenvolvimento turístico nas localidades receptoras. [...] Eles são consequência de um processo de interação entre turistas, comunidade e meios receptores. Toda atividade turística gera impactos, positivos e negativos, em espacial os resorts por serem de grande porte e estarem localizados em áreas de preservação ambiental. Os principais impactos negativos decorrentes dos Resorts são: Muitas vezes não possuem vinculo direto com a comunidade e consequentemente não contribuem para a melhoria de vida da população local; não valorizam a cultura local e polui as águas dos rios devido o lançamento de esgoto diretamente nesses locais. A atividade turística também gera impactos positivos tais como: benefícios na infra-estrutura com a construção de estradas, aeroportos, terminais rodoviários, tratamento de esgoto e água tratada, oferta de empregos diretos e indiretos, capacitação de mão de obra local, oferta de mercado consumidor para os produtos artesanais e incremento a economia local. Portanto percebe-se cada vez mais a importância do planejamento e desenvolvimento do turismo em unidades de conservação de forma sustentável, para que os recursos não sejam explorados de forma desenfreada e para que todos se beneficiem com o turismo, atendendo as necessidades dos turistas e das regiões receptoras. Um bom exemplo de resort em unidades de conservação é o Txai Resort Itacaré, um conceito de hospedagem consolidado no Brasil localizado em Itacaré, litoral sul da Bahia, uma região de grande beleza natural e cultural que ocupa uma área de preservação ambiental de frente para o mar com cerca de 1 milhão de m². Neste hotel todo o esgoto do resort é colhido, tratado e reutilizado com um grau de 98% de pureza na irrigação da área verde do empreendimento (RMF CONSTRUTORA). É importante ressaltar que além de tratar cem por cento do esgoto o Txai ainda utiliza o mesmo na irrigação, livrando o despejo de dejetos no ecossistema, para ajudar a proteger a biodiversidade, o Txai desenvolve vários projetos sociais dentre eles esta o projeto "Companheiros do Txai", um programa que visa auxiliar os pequenos agricultores da APA Itacaré Serra Grande a utilizar-se dos recursos

7 florestais da Mata Atlântica de forma sustentável, dando viabilidade econômica à região, tendo como principal parceiro o Instituto Floresta Viva (TXAI RESORT). Um projeto do Txai que ganha bastante destaque é o TXAITARUGA, esse é um programa voltado para a preservação das tartarugas marinhas que desovam nas praias de Itacaré e Serra Grande, no litoral sul da Bahia, e estão ameaçadas de extinção. O projeto conta com a parceria do TAMAR, da Universidade Santa Cruz (UESC) e da Track & Field. Mais de 30 km de praias são monitoradas por técnicos do TXAITARUGA, capacitados pelo Projeto TAMAR: da praia do Sargi (Serra Grande-Uruçuca), até o costão de Itacarezinho - Itacaré (TXAI RESORT). Outro projeto é da Feirinha Orgânica de Itacaré, onde a produção dos pequenos agricultores é toda orgânica e grande parte é comprada pelo Txai para servir aos hóspedes e colaboradores, além de alcançar novos mercados para que os produtores possam escoar a produção. O Txai mantém ainda a Lojinha Txai Social onde os pequenos agricultores da região, que hoje, além da produção de mudas nativas, frutíferas, ornamentais, hortaliças e outros, também estão produzindo belíssimos trabalhos de artesanato que estão sendo comercializados. Por outro lado os impactos negativos socioambientais provocados por esse tipo de empreendimento são consideráveis, para um melhor entendimento analisaremos os conflitos provocados no complexo Costa do Sauípe que se encontra localizado na APA litoral norte no estado da Bahia. Um levantamento feito pelo gestor da APA litoral norte apontou no resort os seguintes problemas ambientais: O desaparecimento da vegetação típica de restinga; a impermeabilização do solo; afastamento da fauna existente; alteração da morfologia das dunas; remoção da vegetação para abertura de vias de acesso; substituição da vegetação fixadora de dunas por gramíneas; erosão; lançamento de esgoto a céu aberto; aterro da margem e canalização de alguns rios; presença de lixo na faixa de praia em frente ao empreendimento; evasão de pescadores para o setor de serviços; violência urbana e aumento da prostituição (OLIVEIRA, 2004).

8 Dessa forma podemos perceber a problemática relacionada aos grandes empreendimentos como estes avaliados, que devido ao seu tamanho geram impactos proporcionais. Fica claro diante das questões descritas que os impactos podem ser positivos como o visto no caso do resort em Itacaré ou agravar grandes problemas como o caso analisado do complexo da Costa do Sauípe. PROJETO ECOCITY BRASIL E RESEX CAJUÍ O projeto EcocityBrasil foi o projeto do maior complexo turístico ecológico do mundo, com 80.000.000m 2. Situado no Delta do Rio Parnaíba na costa atlântica do estado do Piauí, no Brasil, o projeto inclui vários hotéis de luxo, campos de golfe, marinas e zonas residenciais de alto padrão, tal projeto teve seu diagnostico ambiental indeferido pelo órgão de meio ambiente responsável, baseado na falta de informações sobre o impacto ambiental na região. (ECOCITYBRASIL). O projeto tinha como objetivo de se tornar o maior complexo turístico residencial ecológico do mundo baseado na sustentabilidade, gerando emprego e renda para a população local. Segundo o Master Plan do empreendimento está definida na implantação de resorts, campos de golfes, núcleos tecnológicos e ambientais e uma zona especial de interesse social voltada para a comunidade local. O empreendimento EcocityBrasil se fundamenta em cinco pontos importantes: 1º - A sua concepção é absolutamente dependente da conservação da natureza e da preservação do meio ambiente. 2º - Baseado na sustentabilidade, o empreendimento se justifica por criar possibilidades de inserção socioeconômica das populações locais criando empregos, diretos e indiretos, para a implantação e operação dos empreendimentos num total de 35 mil empregos, ao longo dos 30 anos e 2.800 somente na primeira etapa. 3º - A compatibilidade das suas propostas com as diretrizes e exigências do ordenamento territorial contidas nos Planos Diretores Participativos e nas Leis de parcelamento, uso e ocupação do solo dos municípios de Ilha Grande e Parnaíba.

9 4º Valorizar e aprimorar as características locais, como as tradições populares, o artesanato e a culinária. 5º - A EcocityBrasil justifica-se ainda por propor arrojado investimento de criar toda uma cadeia produtiva que potencializa Planos e Programas governamentais com o propósito de viabilizar ações estruturantes para o turismo. (ECOCITYBRASIL). O local de planejado para a implementação do projeto ECOCITYBRASIL, é a Área de Preservação Ambiental Delta do Parnaíba, a saber, foi criada através de Decreto Presidencial S/N em 28 de agosto de 1996, visando proteger os deltas dos rios da bacia do Parnaíba, com sua fauna e flora; proteger, também, os remanescentes da mata aluvial e os recursos hídricos; melhorar a qualidade de vida das populações residentes, através de programas de educação ambiental, mediante orientação e assessoria na exploração das atividades econômicas locais; fomentar o turismo ecológico e preservar as culturas e tradições locais. E no ano de 2002, as áreas de mangue do município de Ilha Grande (PI), juntamente com os mangues dos municípios de Araióses e Água Doce (MA), formaram a Unidade de Conservação Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba (CIA, 2012). Figura 1 TERRITÓRIO DELIMITADO PARA A RESEX CAJUÍ FONTE: CIA (2009)

10 Neste contexto, no Piauí existe uma iniciativa da Comissão Ilha Ativa (CIA), que é uma organização de sociedade civil sem fins lucrativos que tem por objetivo propor, coordenar, organizar e executar ações que fomentem a melhoria das condições sociais, econômicas culturais e ambientais da população local, da Ilha Grande de Santa Isabel. A CIA, associação que representa 15 associações, requereu em 2007 a criação da RESEX Cajuí, tendo por finalidade proteger a comunidade local da especulação imobiliária iniciada em 2005. A economia do território da Ilha Grande de Santa Isabel está baseada nas atividades da pesca artesanal, cata de caranguejo e de marisco, agropecuária, artesanato feito com a palha, linho e talo da carnaúba, além da argila, condutores de turismo, bares e restaurantes, hospedarias domiciliares, beneficiamento do Cajuí e extração de frutos nativos. Estas atividades acontecem para a sobrevivência dos moradores do território. Este apresenta como potencial para o incremento da sustentabilidade das condições de vida das famílias, principalmente, o caranguejo, o artesanato, a pesca artesanal, e o ecoturismo (CIA, 2007). CONSIDERAÇOES FINAIS Diante dos casos analisados concluímos a importância da preservação ambiental na manutenção da biodiversidade. A criação de Unidades de Conservação é uma boa maneira de proteger a fauna, flora e os aspectos sociais e culturais, porém algumas iniciativas de proteção exageram na parte ambiental dando prioridade aos animais e as florestas e esquecem-se dos nativos que habitam a região, sobrando para os mesmos condições de vida degradantes com subempregos e dificuldades de prosperar economicamente. Um resort é um empreendimento grandioso que trás junto um leque de oportunidades de investimentos das quais o estado do Piauí tanto precisa. Tendo em vista que se planejado com preceitos de sustentabilidade, é possível a existência de resort em UCs sem comprometer a finalidade das mesmas, como vista no caso do Txai Resort Itacaré. A falta de conhecimento a respeito do indeferimento do projeto EcocityBrasil não permiti maiores conclusões sobre a inviabilidade do projeto, isso também não significa dizer que o Piauí esteja fadado ao fracasso em

11 relação a esse tipo de investimento, significa porém que o estado não busca incentivar ou se busca de forma muito tímida Nem todos os empreendimentos devem ser implantados inconsequentemente visto que os impactos ambientais demoram muito para serem revestido e o investimento aplicado e relativamente alto. No caso do município da Ilha Grande (Piauí) talvez a RESEX do Cajuí não seja a melhor solução, pois esse modelo legal de preservação não permite a construção de benfeitorias ou utilização de áreas que não tenham por finalidade direta a subsistência. Dessa forma a preservação ambiental leva em consideração apenas os fatores bióticos minimizando os fatores econômicos dos nativos. REFERÊNCIAS APAs No Brasil. Disponível em <http://www.apacampinas.cnpm.embrapa.br> Acesso em 24 abr 2012. BARRETO, M. O imprescindível Aporte das ciências Sociais Para o Planejamento e compreensão do Turismo. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n. 20, P, outubro de 2003. EcocityBrasil. Disponível em <http://www.ecocitybrasil.com>acesso em 24 abr 2012. LAWSON, F. Hotéis & Resorts: Planejamento, projeto e reforma. Porto Alegre: Bookman, 2003. LOUREIRO, L. V. Resort e Ecoturismo: Sinergia Positiva ou Negativa?. 132 p. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2005. Disponível em: <http://www.adm.ufba.br>. Acesso em: 20 abr 2012. Meios de Hospedagem. Disponível em <http://www.turismo.gov.br> Acesso em 23 abr 2012.

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