O PROCESSO DE PERÍCIA PSICOLÓGICA NA DIRETORIA DE SAÚDE DO SERVIDOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA MARIANA DA SILVA PINHEIRO. Itajaí/SC, 2009.
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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA O PROCESSO DE PERÍCIA PSICOLÓGICA NA DIRETORIA DE SAÚDE DO SERVIDOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA MARIANA DA SILVA PINHEIRO Itajaí/SC, 2009.
2 MARIANA DA SILVA PINHEIRO O PROCESSO DE PERÍCIA PSICOLÓGICA NA DIRETORIA DE SAÚDE DO SERVIDOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo pela Universidade do Vale do Itajaí Orientador: Prof.ª Rosana Marques da Silva. Itajaí/SC,
3 Dedico esse trabalho a meus pais, pelo amor e dedicação oferecidos a mim desde os meus primeiros meses de vida. 3
4 AGRADECIMENTOS A Deus por todas as bençãos que tem disposto sobre a minha vida. Aos meus pais, Claudir e Madalena, por acreditarem em mim desde os meus primeiros meses de vida, pelo amor a mim dedicado e pela oportunidade que me concederam de realizar esta graduação. Ao meu marido, Pedro Inácio, pelos bons momentos que passamos juntos, pelo companheirismo e pela compreensão. A minha orientadora, Rosana Marques da Silva, por acreditar neste trabalho, por compartilhar comigo seu conhecimento, pela dedicação durante o desenvolvimento deste trabalho e pelo incentivo e força que me forneceu desde o início. As minhas amigas, que sempre estão ao meu lado, por tornarem esta universidade um local muito mais importante e agradável para mim. Aos psicólogos participantes da pesquisa que demonstraram seriedade e compromisso ao atenderem as minhas solicitações. A participação destes foi essencial em minha pesquisa. A psicóloga, Janaína, pela colaboração e auxílio que me prestou desde o início do desenvolvimento deste trabalho. Sem ela eu não teria alcançado meus objetivos. A participação desta foi fundamental e especial na realização desta pesquisa. As psicólogas, Alessandra e Manuela, por todas as ricas contribuições que prestaram ao meu trabalho, pela atenção e dedicação. Às professoras, Sueli Bobato e Elizabeth N. Sanches, as quais gentilmente aceitaram participar da minha banca, contribuindo significativamente na concretização de meu trabalho. 4
5 SUMÁRIO LISTA DE QUADROS...07 LISTA DE SIGLAS...08 RESUMO INTRODUÇÃO EMBASAMENTO TEÓRICO Saúde do Trabalhador Perícia Psicológica Doenças Relacionadas ao Trabalho/Ocupacionais ASPECTOS METODOLÓGICOS População da pesquisa Instrumento Coleta dos dados Análise dos dados Aspectos Éticos APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Atividades realizadas no processo de Perícia Psicológica Técnicas Psicológicas Doenças Relacionadas ao Trabalho /Ocupacionais Encaminhamentos e benefícios CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICES Apêndice 1: Roteiro de entrevista
6 7.2 Apendice 2: Questionário Apêndice 3: Carta de autorização Apendice 4: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
7 LISTA DE QUADROS Quadro 01: Doenças Relacionadas ao Trabalho...19 Quadro 02: Descrição Operacional das Categorias...24 Quadro 03: Caracterização da Amostra...27 Quadro 04: Atividades desenvolvidas pelo psicólogo no processo de Perícia Psicológica...29 Quadro 05: Técnicas psicológicas utilizadas processo de Perícia Psicológica...36 Quadro 06: Doenças Relacionadas ao trabalho/ Ocupacionais diagnosticadas no processo de Perícia Psicológica...39 Quadro 07: Encaminhamentos realizados e benefícios concedidos
8 LISTA DE SIGLAS INSS - Instituto Nacional do Seguro Social do Brasil URSS Unidade Regional de Saúde do Servidor GEPEM Gerência de Perícia Médica GESAO Gerência de Saúde Ocupacional DSAS Diretoria de Saúde do Servidor SEA Secretaria do Estado de Administração CESAS Centro de Saúde do Servidor CFP Conselho Regional de Psicologia CID-10 - Classificação Internacional das Doenças 10ª Revisão DSM-IV Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais 4ª Revisão OMS Organização Mundial de Saúde LTS - Licença para Tratamento de Saúde IPESC Instituto de Previdencia do Estado de Santa Catarina 8
9 O PROCESSO DE PERÍCIA PSICOLÓGICA NA DIRETORIA DE SAÚDE DO SERVIDOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Orientador: Rosana Marques da Silva Defesa: Novembro de 2009 Resumo: A Perícia Psicológica consiste no exame de alguma situação, visando legitimar a ocorrência do dano psicológico e possibilitar que seja solicitada sua reparação, por meio de uma indenização, caso caracterize uma lesão que implique em alterações significativas ao equilíbrio emocional da vítima. A presente pesquisa objetivou analisar o processo de Perícia Psicológica na atuação dos psicólogos concursados pelo Estado de Santa Catarina, contemplando: a descrição das atividades que o psicólogo realiza; o levantamento das principais técnicas psicológicas utilizadas; a identificação das principais doenças relacionadas ao trabalho/ocupacionais diagnosticadas e a verificação dos encaminhamentos realizados e benefícios concedidos pelos psicólogos. A pesquisa foi de cunho qualitativo e quantitativo, do tipo exploratório, com a utilização de questionário e entrevista com oito psicólogos que realizam Perícia Psicológica Extrajudicial e atuam na Diretoria de Saúde do Servidor da Secretaria de Administração do Estado de Santa Catarina. Os resultados foram analisados considerando a análise de conteúdo e a distribuição de freqüência simples. Verificou-se que as principais atividades realizadas são avaliação psicológica, reconhecimento do dano psicológico e elaboração de documentos psicológicos; as técnicas psicológicas utilizadas referem-se à entrevista, anamnese, observação e técnicas psicológicas padronizadas; as doenças diagnosticadas mais freqüentes consistem em depressão, transtornos de ansiedade e de humor; os encaminhamentos realizados e benefícios concedidos pelo psicólogo com maior freqüência são as licenças para tratamento à saúde, benefícios de remoção e adaptação e orientação para atendimento psicológico. Palavras-chaves: Perícia Psicológica; Técnicas Psicológicas; Doenças Ocupacionais/relacionadas ao trabalho; Encaminhamentos. SUB-ÁREA DE CONCENTRAÇÃO (CNPQ): PSICOLOGIA DO TRABALHO E ORGANIZACIONAL
10 Membros da banca: Elizabeth Navas Sanches Professor convidado Sueli Bobatto Professor convidado Rosana Marques da Silva Professor Orientador 1 INTRODUÇÃO A área da Saúde do Trabalhador, após vinte anos de intenso processo social de mudança, estabelece hoje como seu objeto de trabalho o processo de saúde e doença dos grupos humanos, em sua relação com o trabalho (MENDES; DIAS, 1991). Atualmente evidencia-se uma atenção especial a este tema, devido ao crescente número da demanda, pois cada vez mais pessoas desenvolvem transtornos mentais e comportamentais relacionados ou ocasionados pelo trabalho. Segundo estatísticas do INSS, no Brasil, os transtornos mentais ocupam a terceira posição entre as causas da concessão de benefício previdenciário como auxílio doença, afastamento do trabalho por mais de 15 dias e aposentadoria por invalidez (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001 apud JACQUES, 2003). Neste contexto, uma das atividades do psicólogo no âmbito das organizações e da Saúde do Trabalhador, refere-se à Perícia Psicológica, que segundo Cruz e Maciel (2005) é um exame ou avaliação descritiva e conclusiva acerca de fatos que exijam juízo crítico por parte dos psicólogos, cujo conteúdo deverá certificar a medida da investigação realizada. Trata-se de uma ferramenta para auxiliar o trabalho do psicólogo na tomada de decisão que envolvem aspectos psicológicos. Há dois tipos de Perícia Psicológica, sendo que a Perícia Psicológica 10
11 Extrajudicial não segue os mesmos preceitos da Perícia Psicológica Forense ou Judicial. Esta última deverá sempre ser realizada por um especialista, e é caracterizada por três situações básicas, que são: 1) Sempre ser realizada sob a ordem do juiz; 2) Contar com a participação de autor e réu em sua produção; 3) Ter por objetivo o convencimento do juiz (BRANDIMILLER, 1996 apud ROVINSKI, 2007). A Perícia Psicológica Extrajudicial pode ser realizada por todos os psicólogos que estão devidamente regulamentados junto ao Conselho Regional de Psicologia (ROVINSKI, 2007) e tem como objetivo avaliar os aspectos psicológicos que contribuem para o comprometimento da capacidade laborativa do sujeito diante de suas condições de trabalho. Jacques (2007) afirma que o crescente quadro de trabalhadores acometidos por agravos mentais demanda do psicólogo uma re-significação de suas funções no processo de saúde mental no trabalho. Considerando que esta área de atuação geralmente ocupou posições secundárias, constituindo-se apenas como um campo de aplicação dos conhecimentos psicológicos ou como indicativos de uma vida adaptada e normal. Estes dados são confirmados através das pesquisas realizadas por Moresco (2007) e Strapasson (2008), cujos resultados apresentam a atuação limitada do psicólogo na área da Saúde do Trabalhador. Verificou-se, também, que as atividades tradicionais da psicologia (recrutamento, seleção e treinamento) são as mais executadas pelos psicólogos no contexto organizacional. No ano de 2007, segundo dados do Boletim Estatístico de Benefícios de Saúde do Servidor (SANTA CATARINA, 2008), as patologias que mais motivaram licenças para tratamento de saúde foram os Transtornos Mentais e Comportamentais, sendo uma média de 13,8 servidores afastados por dia pelos mesmos motivos, 11
12 representando uma grande demanda ao serviço de Perícia Psicológica do Estado de Santa Catarina. Evidencia-se, através das estimativas da World Health Organization (1985, apud JACQUES, 2007), que os transtornos mentais leves acometem cerca de 30% dos trabalhadores e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%. Com o intuito de atender a alta demanda em relação a Saúde Ocupacional e compreendendo a relevância de tal tema, o Governo do Estado de Santa Catarina instituiu através da Lei nº , de 07 de janeiro de 2009, o Programa Estadual de Saúde Ocupacional do Servidor Público. Esse programa tem como objetivo geral estabelecer as diretrizes e normas para o sistema de Gestão da Segurança no Trabalho e da Promoção da Saúde Ocupacional dos Servidores Públicos Estaduais. A referida lei apresenta objetivos que visam, através de ações, reduzir ou eliminar os riscos aos quais os servidores públicos estaduais possam estar expostos durante seus serviços, auxiliar em ações que promovam melhorias no desempenho global da saúde ocupacional do servidor público estadual, promover e preservar a saúde ocupacional, viabilizar e coordenar o conjunto de ações de segurança no trabalho, promover a prevenção, recuperação e reabilitação física, psicológica, social e profissional (SANTA CATARINA, 2009). O Programa Estadual de Saúde Ocupacional do Servidor Público inclui-se na Diretoria de Saúde do Servidor do Estado de Santa Catarina que conta com a participação de uma equipe multiprofissional onde atuam psicólogos, médicos do trabalho, engenheiros de segurança do trabalho, técnicos de segurança do trabalho, enfermeiros do trabalho, técnicos de enfermagem do trabalho e assistentes sociais. Os responsáveis pela elaboração e implementação do referido Programa é a equipe multiprofissional da Gerência de Saúde Ocupacional (GESAO), incluindo um psicólogo. 12
13 Diante dessas questões, verifica-se a relevância desta pesquisa, no sentido de compreender e analisar o papel da Psicologia Organizacional na Perícia Psicológica, como atividade de promoção e prevenção à Saúde do Trabalhador. Assim, esta pesquisa objetivou analisar o processo de Perícia Psicológica na Diretoria de Saúde do Servidor do Estado de Santa Catarina. Para isso, foram elaborados os seguintes objetivos específicos: Descrever as atividades que o psicólogo realiza no processo de Perícia Psicológica Extrajudicial; Levantar as principais técnicas psicológicas utilizadas; Levantar as principais Doenças Relacionadas ao Trabalho/Ocupacionais diagnosticadas no processo da Perícia Psicológica Extrajudicial; Verificar os encaminhamentos realizados e os benefícios concedidos pelos psicólogos. Este trabalho está estruturado em sete capítulos, incluindo a introdução. O segundo capítulo aborda a fundamentação teórica acerca do tema Saúde do Trabalhador, Doenças Relacionadas ao Trabalho/Ocupacionais e Perícia Psicológica. O terceiro capítulo apresenta os procedimentos metodológicos e o quarto capítulo os resultados levantados e discussão acerca dos mesmos. O quinto capítulo trata das considerações finais, bem como sugestões para futuras pesquisas. Os capítulos seis e sete apresentam, respectivamente, as referências bibliográficas e os apêndices. 13
14 2 EMBASAMENTO TEÓRICO 2.1 Saúde do Trabalhador A Medicina do Trabalho surgiu na Inglaterra, durante o século XIX, com a Revolução Industrial. Em 1830 aconteceu o primeiro serviço de Medicina do Trabalho, quando Robert Dernham, proprietário de uma fábrica, contratou um médico para trabalhar em sua empresa. Esta forma de atuação médica expandiu-se rapidamente por outros países e em 1959, foi aprovada pela Conferência Internacional do Trabalho, a Recomendação 112, como Serviços de Medicina do Trabalho. Este serviço visava assegurar a proteção dos trabalhadores, contribuir para sua adaptação física e mental, através de sua colocação em lugares de trabalho correspondentes às suas aptidões e contribuir ao estabelecimento e manutenção do nível mais elevado possível do bem-estar físico e mental dos trabalhadores (MENDES; DIAS,1991). Os autores ainda complementam que, através do contexto econômico e político, da guerra e pós-guerra e da evolução da tecnologia industrial, percebeu-se a impotência da Medicina do Trabalho diante dos problemas de saúde causados pelos processos de produção. Diante deste contexto e da insatisfação dos empregadores, onerados pelos custos diretos e indiretos dos agravos à saúde do trabalhador, surge a Saúde Ocupacional, com a organização de equipes multi e interdisciplinares que buscavam principalmente controlar os riscos ambientais. Porém a mesma também não conseguiu atingir os objetivos propostos, considerando que o modelo desta mantinha o mesmo referencial da Medicina do Trabalho, firmado no mecanicismo. A interdisciplinaridade proposta ocorria de 14
15 maneira desarticulada, sendo justapostas e não ocorrendo simultaneamente e em conjunto. Assim, surge a Saúde do Trabalhador, que se encontra em processo de desenvolvimento, porém apresentando um novo pensar, se constituindo como uma área da Saúde Pública que tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde e como objetivos a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada, no Sistema Único de Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Neste enfoque, os trabalhadores devem desenvolver papéis de sujeitos capazes de pensar e de se pensarem, controlando suas condições e seu ambiente de trabalho. A Saúde do Trabalhador, assim como a Saúde Ocupacional, compreende a necessidade da interdisciplinaridade, porém faz com que esta ocorra de forma simultânea e em conjunto (MENDES; DIAS,1991). A inserção da Psicologia no campo da Saúde do Trabalhador disponibiliza ao psicólogo uma série de possibilidades de atuação. Entre elas a Perícia Psicológica, a qual através da avaliação diagnóstica estabelece a relação causal entre um determinado evento de saúde, potencial ou instalado, individual ou coletivo, e as condições de trabalho. O estabelecimento do nexo causal se constitui como condição básica para a implementação das ações de Saúde do Trabalhador nos serviços de saúde. Esse processo pode se iniciar pela identificação e controle dos fatores de risco para a saúde presentes nos ambientes e condições de trabalho e/ou a partir do diagnóstico, tratamento e prevenção dos danos, lesões ou doenças 15
16 provocados pelo trabalho, no indivíduo e no coletivo de trabalhadores (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Segundo Cruz e Maciel (2005) há uma certa complexidade em se estabelecer o nexo causal, considerando que diferentemente dos aspectos físicos, a relação entre o trabalho e os comprometimentos psicológicos não podem ser facilmente comprovados ou quantificados através de exames ou testes. Batista, Glina, Rocha, e Mendonça (2001) afirmam que, entre outros motivos, é difícil estabelecer o nexo causal tanto pelas próprias características dos distúrbios psíquicos, os quais regularmente mascaram-se por sintomas físicos, quanto pela complexidade inerente que há em definir-se claramente a associação entre os distúrbios psíquicos apresentados pelo paciente com seu trabalho. O reconhecimento do nexo causal entre trabalho e adoecimento mental permeia os diferentes campos de atuação da Psicologia, assim a inserção do psicólogo no campo de Saúde do Trabalhador requer um instrumento teórico e metodológico especial para tal atuação, porém, todavia não há uma formação específica para atuar nesta área (JACQUES, 2007). A atuação do psicólogo na área da Saúde do Trabalhador resulta da necessidade de avaliação das condições de segurança, conforto e eficácia na atividade de trabalho, mediados pela relação entre a saúde psíquica e os processos de produção no trabalho (CRUZ; MACIEL, 2005). 2.2 Perícia Psicológica Inserida como uma das atividades do psicólogo, no campo de Saúde do Trabalhador, encontra-se a Perícia Psicológica que consiste no exame de situações 16
17 ou fatos relacionados a coisas e pessoas, praticado por especialista na matéria que lhe é submetida, com o objetivo de elucidar determinados aspectos técnicos (BRANDIMILLER, 1996, p.25; apud ROVINSKI 2007). Atualmente, evidencia-se nas atividades exercidas por psicólogos dois tipos distintos de Perícia Psicológica: Extrajudicial e Judicial. A Perícia Psicológica Extrajudicial difere-se da Judicial por realizar-se sem a necessidade da presença de especialista, ordem de juiz e participação de réu e/ou autor (ROVINSKI, 2007). Segundo Rovinski (2007) tanto na Perícia Psicológica Extrajudicial, quanto na Judicial, o trabalho do psicólogo ocorre mediante avaliações psicológicas, visando coleta de dados, exames e apresentações de evidências. A Perícia Psicológica realizada na área Organizacional e do Trabalho busca evidenciar, através do estabelecimento do nexo causal, os danos psicológicos relacionados ao trabalho, sustentando posições que privilegiem o contexto das condutas no trabalho, ou seja, observando os modos operativos ou regulações que configuram os processos subjetivos (CRUZ; MACIEL, 2005). A Perícia Psicológica nesta área tem se apresentado como uma importante ferramenta auxiliar no aprimoramento do diagnóstico dos efeitos do trabalho sobre as condições de saúde dos indivíduos (CRUZ, R.M.; ALCHIERI, J. C.; SARDÁ JÚNIOR, J. J., 2002). Segundo Ganimi (2002) o diagnóstico psicológico realizado no processo de Perícia Psicológica baseia-se em conceitos nosológicos, buscando distinguir a normalidade e a patologia, sem deixar de observar traços de personalidade necessários ao desempenho das atividades laborais. A importância da perícia é justamente legitimar a ocorrência do dano psicológico ou Doença Relacionada ao Trabalho/Ocupacional, vinculá-la ao fato traumatizante e possibilitar que seja solicitada sua reparação. Considera-se dano psicológico como a deterioração das 17
18 funções psicológicas surgida após ações deliberadas, de caráter traumático, que acarretam prejuízos à vitima, frente à limitação de suas atividades habituais ou laborativas (CRUZ; MACIEL, 2005). O dano psicológico pode ser caracterizado como leve ou grave. Os danos leves implicam tanto em alterações na dinâmica da personalidade, quanto nos aspectos sociais, afetivos e/ou profissionais do indivíduo e requerem apenas tratamento breve ou focal; enquanto que o dano grave acarreta maiores conseqüências, comprometendo por um longo período de tempo as atividades habituais ou laborativas do indivíduo (EVANGELISTA; MENEZES, 2000). Alem do nexo causal, Wanderley Codo (1988) apresenta um outro conceito que considera o trabalho apenas como uma das causas de um complexo de fatores determinantes da doença mental, denominando-o de princípio da concausalidade, afirmando que o acidente ou dano psicológico não necessariamente é causado exclusiva e unicamente pelo trabalho. É a concausalidade, que resulta da causa única, ou nexo etiológico,associada com outras causas independentes (CODO, 1988). 2.3 Doenças Relacionadas ao Trabalho / Ocupacionais Através do estabelecimento do nexo causal e da avaliação psicológica realizada no processo de Perícia Psicológica podem ser diagnosticadas as Doenças Relacionadas ao Trabalho. O Ministério da Saúde (2001) estas doenças classificamse como tendo: 1) Trabalho como causa necessária; 2) Trabalho como fator contributivo, mas não necessário; 3) Trabalho como provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já estabelecida. Segundo Jacques (2007) as 18
19 Doenças Relacionadas ao Trabalho incluem todas as doenças que possuem o trabalho como fator contributivo, mas não necessário. Entre estas estão as doenças coronarianas, câncer, varizes dos membros inferiores, alcoolismo crônico, transtornos neuróticos, síndrome de burnout, episódios depressivos e síndrome de fadiga relacionada ao trabalho. Jacques (2007), seguindo a classificação de Schilling que foi adotada no Brasil, apresenta através do quadro 01, as Doenças Relacionadas ao Trabalho classificando-as em três grupos. GRUPO I Exposição a agentes tóxicos/ fatores específicos Demência, delirium, transtorno cognitivo leve, transtorno mental orgânico, episódios depressivos, síndrome de fadiga relacionada ao trabalho, estado de estresse pós-traumático e transtorno do ciclo vigília-sono. GRUPO II Estudos epidemiológicos demonstrando maior freqüência, intensidade ou precocidade GRUPO III Trabalho como fator desencadeante ou agravante Alcoolismo crônico, outros transtornos neuróticos, síndrome de burnout, episódios depressivos e síndrome de fadiga relacionada ao trabalho. Alcoolismo crônico, outros transtornos neuróticos, síndrome de burnout, episódios depressivos e síndrome da fadiga relacionada ao trabalho Quadro 01: Doenças Relacionadas ao Trabalho Fonte: JACQUES (2007, p. 116) 19
20 Esta classificação aborda acerca do papel do trabalho sobre o processo de adoecimento mental, considerando-o como determinante ou como fator contributivo para o desenvolvimento de algo pré-existente. Para Balaska (s/d) as Doenças Relacionadas ao Trabalho diferenciam-se sutilmente das Doenças Ocupacionais. Sendo que esta última refere-se aquelas as quais as condições e relações com o trabalho constituem sua causa direta. A mesma pode ser adquirida através da exposição do trabalhador a agentes químicos, biológicos ou radioativos acima do limite permitido por lei sem a utilização de equipamentos de proteção compatíveis ao risco exposto. As Doenças Relacionados ao Trabalho/Ocupacionais resultam do contexto de trabalho em interação com as condições biopsíquicas do trabalhador. Os fatores ocupacionais influenciam muito no estado mental do indivíduo, visto que, geralmente, o trabalho ocupa lugar fundamental na dinâmica do investimento afetivo das pessoas. Assim as condições favoráveis à livre utilização das habilidades dos trabalhadores e ao controle do trabalho pelos trabalhadores constituem-se como fundamentais requisitos para que o trabalho possa proporcionar prazer, bem-estar e saúde, deixando de provocar doenças (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). A Portaria Federal nº (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999) institui a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho que considera Transtornos Mentais e Comportamentais relacionados ao trabalho, sendo as seguintes (classificadas pelo CID-10): Demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais (F02.8); Delirium, não-sobreposto à demência (F05.0); Transtorno cognitivo leve (F06.7); Transtorno orgânico de personalidade (F07.0); Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado (F09.-); Alcoolismo crônico (relacionado ao trabalho) (F10.2); Episódios depressivos (F32.-); Estado de estresse pós-traumático 20
21 (F43.1); Neurastenia (inclui síndrome de fadiga) (F48.0); Outros transtornos neuróticos especificados (inclui neurose profissional) (F48.8); Transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não-orgânicos (F51.2); Síndrome de Burnout (Z73.0). 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS A abordagem utilizada para a realização desta pesquisa foi de cunho qualitativo e quantitativo, do tipo exploratório. A princípio, seria utilizado apenas o método qualitativo, pelo fato que ainda é pouco significativo o número de psicólogos que atuam na atividade de Perícia Psicológica na área do Trabalho, fazendo necessário um aprofundamento das atividades desse profissional. Segundo Minayo (1996) a pesquisa qualitativa responde a questões particulares, trabalhando com os significados, motivos, aspirações, valores e atitudes correspondentes a fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. No entanto, em função da dificuldade em coletar os dados pessoalmente, a referida pesquisa também contemplou a abordagem quantitativa, que permitiu que as informações fossem coletadas mais rapidamente, englobando um maior número de participantes. A abordagem quantitativa foi escolhida pela capacidade de propiciar a ampliação do objeto de estudo (GIL, 1994). 3.1 População da pesquisa A população foi composta por dez psicólogos, sendo que oito trabalham nas Unidades Regionais de Saúde do Servidor (URSS) do Estado de Santa Catarina e realizam Perícia Psicológica Extrajudicial. Também, fizeram parte da pesquisa um 21
22 psicólogo que atua na Gerência de Saúde Ocupacional (GESAO) e um psicólogo da Gerência de Perícia Médica (GEPEM). O contexto de atuação desses psicólogos é a Diretoria de Saúde do Servidor (DSAS), da Secretaria de Estado da Administração (SEA) do Estado de Santa Catarina, que apresenta em sua estrutura organizacional o Centro de Saúde do Servidor (CESAS), a Gerência de Perícia Médica (GEPEM) com sete Unidades Regionais de Saúde do Servidor do interior do Estado e a Gerência de Saúde Ocupacional (GESAO) entre outras. 3.2 Instrumento Inicialmente o instrumento de coleta de dados para todos os participantes desta pesquisa seria um roteiro de entrevista semi-estruturado (apêndice 1). No entanto, devido a algumas questões burocráticas da organização pesquisada, houve um atraso significativo na devolução da folha de rosto assinada pelo representante da instituição. Assim, a entrevista foi realizada apenas com dois psicólogos atuantes, respectivamente, na GEPEM e na GESAO e com o psicólogo atuante na URSS do município de Itajaí. A partir destas entrevistas foi elaborado um questionário com questões fechadas (apêndice nº2), objetivando facilitar a coleta de dados, uma vez que foi realizada via . Este questionário foi composto por três partes. A primeira refere-se aos dados de identificação dos participantes, a segunda é composta por quatro questões fechadas e a última por uma questão aberta onde os participantes assinalaram maiores informações sobre sua prática profissional. Quatro pesquisados contribuíram, acrescentando informações nesta última questão. 22
23 3.3 Coleta dos Dados Antes da coleta de dados, foram apresentados via aos participantes os objetivos da referida pesquisa. Posteriormente, foi encaminhado à Direção de Saúde do Servidor, o referido projeto, pedindo sua autorização para a realização desta pesquisa (apêndice nº 3). Os psicólogos atuantes na GESAO e na GEPEM analisaram o projeto e fizeram algumas considerações e contribuições. Assim, a pesquisadora fez as devidas alterações e encaminhou novamente à Direção de Saúde do Servidor. Posteriormente foi realizada uma entrevista no mês de agosto de 2009 com um psicólogo que atua na URSS do município de Itajaí do Estado de Santa Catarina, a fim de verificar se o instrumento utilizado atendia aos objetivos da pesquisa e também para auxiliar na elaboração do questionário aplicado junto aos psicólogos das demais URSS. A partir dessa entrevista, foram realizadas alterações no instrumento, de forma a tornar as questões mais precisas e objetivas, possibilitando um melhor entendimento por parte dos participantes da pesquisa. Ainda no mês de agosto, foram entrevistados os psicólogos da GESAO e da GEPEM, uma vez que atuam em município próximo à Itajaí, favorecendo a coleta de dados pessoalmente. Cabe ressaltar que duas das entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, pois numa das entrevistas o aparelho de gravação apresentou defeitos no funcionamento. Assim, a pesquisadora fez várias anotações durante esta entrevista. O contato com sete psicólogos das URSS ocorreu no mês de setembro via e- mail, sendo que foram enviados o projeto de pesquisa, o termo de consentimento livre e esclarecido (apêndice 4) e o questionário de coleta de dados (apêndice 2). Neste foi também estipulado um prazo de uma semana para a devolução dos 23
24 questionários preenchidos, sendo que, cinco psicólogos responderam. Assim, a amostra final desta pesquisa contou com a participação de oito psicólogos. 3.4 Análise dos Dados Os resultados das entrevistas foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo de Minayo (1996). A autora aborda que através de categorias é possível agrupar as idéias principais em torno de um único conceito, assim obtêm-se uma melhor organização das informações adquiridas na coleta de dados. E os resultados dos questionários foram tabulados considerando a freqüência absoluta de respostas, nas categorias definidas a priori, que são apresentadas no quadro nº 2: Categorias Descrição Atividades do psicólogo Atividades desenvolvidas pelo psicólogo no processo de Perícia Psicológica. Técnicas psicológicas Técnicas psicológicas (padronizadas e não padronizadas) utilizadas para a realização do processo de Perícia Psicológica. Doenças Relacionadas ao Trabalho/Ocupacionais Principais doenças diagnosticadas no processo da Perícia Psicológica, tendo o trabalho como sua causa ou como fator contributivo. Encaminhamentos realizados e Encaminhamentos realizados e benefícios benefícios concedidos concedidos pelos psicólogos, após verificar a existência de quadro psicopatológico. Quadro nº 2: Descrição Operacional das Categorias Fonte: entrevista e questionário aplicado nos psicólogos, agosto e setembro,
25 3.5 Aspectos éticos A presente pesquisa seguiu as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que correspondem às exigências referentes à ética nas pesquisas com seres humanos, a qual incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros. Visou assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado, bem como à resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP 016/2000). Esta resolução se refere à realização de pesquisa em psicologia com seres humanos, referenciando do consentimento informado, da confiabilidade, sigilo e uso das informações, autoria e divulgação dos resultados. Vale salientar que o número de aprovação do referido projeto pelo Comitê de Ética para a realização desta pesquisa foi 345/09. Foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice nº 3), no qual constavam: A garantia do anonimato e da privacidade dos participantes; A informação aos participantes que, caso quisessem desistir de participar, poderiam fazê-lo sem quaisquer prejuízos; Que os dados seriam utilizados para fins acadêmicos, sendo que os participantes não receberiam nenhum tipo de remuneração e que receberiam devolutiva. Que os dados poderiam ser publicados em revista especializada, objetivando o aprimoramento do conhecimento, sendo garantido o sigilo e anonimato dos participantes e da Instituição. Após a finalização da pesquisa, será enviada a cada profissional participante 25
26 e ao responsável pela Diretoria de Saúde do Servidor, via , a cópia da versão final da monografia, como forma de devolutiva dos resultados. Caso a Instituição tenha interesse, os resultados poderão ser apresentados pessoalmente. 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Este capítulo apresenta os resultados analisados teoricamente. Inicialmente é abordada a caracterização da amostra. Os resultados são explicitados através de quatro categorias, definidas a partir dos objetivos específicos da presente pesquisa: atividades realizadas no processo de Perícia Psicológica, técnicas psicológicas, Doenças Relacionadas ao Trabalho/Ocupacionais e encaminhamentos realizados e benefícios concedidos. Para os participantes serão atribuídas as seguintes siglas: P1, P2... P10. O quadro nº 03 apresenta os dados de identificação fornecidos pelos participantes da pesquisa. 26
27 Partici- Pantes Sexo Idade Ano de Formação Cargo Tempo de atuação na instituição P1 Fem Psicóloga 1 ano e 7 P2 Fem Gerente de Perícia Médica meses Pós-graduação Não possui 3 anos Educação Inclusiva P3 Fem Psicóloga 3 anos Psicoterapia Analítica; P4 Fem Psicóloga; Analista Técnico em Gestão Pública P5 Masc Psicólogo; Analista Técnico em Gestão Pública Psicologia Organizacional e do Trabalho 3 anos Psicologia do Trabalho 3 anos Não possui P6 Fem Psicóloga 3 anos Psicologia Social e P7 Fem Psicóloga; Analista Técnico em Gestão Pública Institucional 3 anos Psicologia com ênfase em Psicopatologia P8 Fem Psicóloga 2 anos Não possui Fonte: entrevista e questionário aplicado nos psicólogos, agosto e setembro, Quadro nº 3: Caracterização da Amostra 27
28 A idade dos psicólogos varia entre 26 e 49 anos de idade, o ano de formação de 1994 a 2006, onde cinco dos participantes graduaram-se no período entre 2001 e Em relação ao cargo, os participantes ocupam três cargos distintos, havendo maior prevalência no cargo de Psicólogo. O tempo de atuação na organização varia de 01 ano e 07 meses a 03 anos. Vale ressaltar que a prevalência do tempo de atuação na organização ser 03 anos, refere-se ao fato de a maioria dos participantes terem entrado na instituição através de um concurso público realizado no ano de 2006, segundo informações obtidas através do pesquisado P6. Percebe-se que cinco, dentre os oito profissionais, possuem pós-graduação, não sendo elas necessariamente direcionadas ao serviço de Perícia Psicológica. No entanto, as áreas de conhecimento dos cursos de especialização apontados pelos participantes, possuem relação direta e/ou indireta com o contexto de trabalho e com as psicopatologias. Todos os participantes trabalham na Diretoria de Saúde do Servidor do Estado de Santa Catarina. Dos oito profissionais participantes, sete trabalham na GEPEM das diversas URSS do Estado e apenas P3 atua na GESAO, assim a atuação deste participante difere formalmente da atuação dos demais. 4.1 Atividades realizadas no processo de Perícia Psicológica O quadro nº 04 apresenta as atividades desenvolvidas pelo psicólogo no processo de Perícia Psicológica. 28
29 Atividades Freqüência Avaliação psicológica 08 Análise documental 08 Reconhecimento de danos psicológicos 08 Elaboração de documentos psicológicos (laudo, parecer, relatório, outros) 08 Encaminhamento 07 Perícia móvel 07 Aconselhamento 05 Caracterização do Nexo Causal 05 Vistoria no Local de Trabalho 01 Quadro nº 4: Atividades desenvolvidas pelo psicólogo no processo de Perícia Psicológica. Fonte: entrevista e questionário aplicado nos psicólogos, agosto e setembro, A avaliação psicológica caracteriza uma das mais freqüentes atividades desenvolvidas pelos psicólogos pesquisados. Segundo Rovinski (2007) o trabalho do psicólogo no processo de Perícia Psicológica ocorre mediante avaliações psicológicas, visando coleta de dados, exames e apresentações de evidências. Alchieri e Noronha (2004) abordam a avaliação psicológica como um exame de caráter compreensivo que visa responder questões específicas quanto ao funcionamento psicológico do indivíduo durante um período específico de tempo ou predizer o funcionamento psicológico da pessoa no futuro. Este tipo de avaliação deve fornecer informações cientificamente fundamentadas tais que orientem, sugiram ou sustentem tomadas de decisões. O relato de P2 complementa que os psicólogos pesquisados utilizam-se da avaliação psicológica para verificação da capacidade laborativa (sic) A avaliação psicológica é compreendida pelo Conselho Federal de Psicologia (2003) como um processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos. Para a 29
30 realização desta o psicólogo utiliza-se de diversas estratégias psicológicas (métodos, técnicas e instrumentos). Vale salientar que, segundo relato de alguns participantes, para a avaliação psicológica são realizadas várias sessões, não havendo um número predeterminado, sendo que a quantidade depende da necessidade de obtenção e confirmação dos dados. P3 aponta que muitas vezes há necessidade do servidor vir acompanhado de algum familiar ou cuidador, devido a condições físicas e/ou psicológicas severas. Outra atividade realizada por todos os psicólogos pesquisados é a elaboração de documentos psicológicos. A Resolução CFP Nº 007/2003 institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2003). Este manual apresenta as modalidades de documentos possíveis de serem realizados pelos psicólogos. A declaração é um documento que visa informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas. O atestado psicológico compreende um documento que certifica uma determinada situação de quem, por requerimento, o solicita. O relatório/laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica, que deve relatar ainda sobre o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de acompanhamento psicológico. O parecer psicológico tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma questão-problema, visando a dirimir as dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta. 30
31 A análise documental também é uma atividade realizada por todos os profissionais pesquisados. A mesma constitui uma técnica importante na pesquisa qualitativa, servindo tanto para complementar as informações obtidas por outras técnicas, quanto para desvelar novos aspectos de um tema ou problema (ABREU, s/d). A Perícia Móvel, atividade realizada por sete dos profissionais pesquisados, ocorre apenas quando o servidor está impossibilitado de se deslocar até a URSS, como relata um dos participantes:...quando há necessidade de a gente verificar o local de trabalho do servidor, ou a residência do servidor, ou nos casos em que o servidor está incapacitado de vir até aqui, então quando há algum conflito no ambiente de trabalho nós vamos até lá pra tentar verificar esse conflito... (P1). O aconselhamento foi citado por cinco participantes como atividade realizada no processo de Perícia Psicológica. Segundo o Ministério da Saúde (1998) o aconselhamento pode ser compreendido como um processo de escuta ativa, individualizado e centrado no cliente. O aconselhamento visa resgatar recursos internos do cliente para que ele mesmo tenha possibilidade de reconhecer-se como sujeito de sua própria saúde e transformação. Há três componentes básicos para o aconselhamento, são eles: o apoio emocional, o apoio educativo e a avaliação de riscos, que propicia a reflexão sobre valores, atitudes e condutas, incluindo o planejamento de estratégias de redução de risco. P1 afirma que o aconselhamento visa amenizar a situação que essa pessoa vem passando e ela vai está um pouquinho mais calma pra procurar esses serviços e fazer um tratamento profundo e correto (sic). Assim, este aconselhamento surge como forma de apoiar o servidor até o momento em que o mesmo se aproprie do encaminhamento realizado pelo psicólogo através 31
32 do processo de Perícia Psicológica. Uma das atividades realizadas por todos os psicólogos participantes da pesquisa é o estabelecimento do dano psicológico, que se caracteriza pela deterioração das funções psicológicas, após uma ação deliberada ou culposa de alguém, acarretando tanto prejuízos morais quanto materiais, face à limitação das atividades habituais ou laborativas. O mesmo pode ser caracterizado, visto que as conseqüências psicológicas são demonstráveis, como, por exemplo, alterações perceptivas, depressão, fobias, tentativas de suicídio, dentre outros (CRUZ; MACIEL, 2005). A caracterização do dano psicológico requer, necessariamente, que o evento desencadeante se revista de caráter traumático, seja pela importância do impacto corporal e suas conseqüências, seja pela forma de ocorrência do evento, podendo envolver até a morte (CRUZ; MACIEL, 2005, p. 122). A Perícia Psicológica realizada na área Organizacional e do Trabalho busca evidenciar, através do estabelecimento do nexo causal, os danos psicológicos relacionados ao trabalho, sustentando posições que privilegiem o contexto das condutas no trabalho, ou seja, observando os modos operativos ou regulações que configuram os processos subjetivos. Segundo Evangelista e Menezes (2000) a Perícia Psicológica busca determinar o dano e vinculá-lo ao fato traumatizante, estabelecendo assim o Nexo Causal. Através dos dados obtidos nesta pesquisa torna-se evidente que todos os psicólogos possuem como atividade o reconhecimento de danos psicológicos, porém apenas cinco realizam a caracterização do nexo causal. P5 afirma que a caracterização de nexo causal é realizada somente quando durante a entrevista o servidor trouxer informações que caracterizem seu sofrimento com situações vividas no ambiente de trabalho. Segundo informações fornecidas por P1, após obter uma 32
33 suspeita de dano psicológico os sete psicólogos que trabalham na GEPEM deveriam encaminhar o servidor para atendimento com o psicólogo P3, que trabalha na GESAO e é oficialmente responsável por realizar o processo necessário para a caracterização do nexo causal. P1 afirma que ao perceber que aconteceram fatos no trabalho que a gente acha que são causas diretas com o desenvolvimento da doença, aí eu tenho essa hipótese eu encaminho pra ela, pra ela fazer daí todo o processo, que é um processo demorado, que tem que visitar o trabalho, que tem que aplicar testes, pra gente realmente confirmar (P1). P7 complementa afirmando que a caracterização de nexo causal de Doenças Relacionadas ao Trabalho realmente só é realizada pela GESAO e que os psicólogos da GEPEM podem apenas sugerir ou ter como hipótese a relação da doença com o trabalho, de forma a orientar tanto o servidor (saber que pode pedir demissão de Comunicação Estadual de Acidente de Trabalho), como registrar/alertar que o trabalho pode estar contribuindo ou agravando a patologia/sofrimento psíquico (P7). P1 justifica não estabelecer o nexo causal devido a alta demanda em seu serviço, reconhecendo que para realizar tal atividade é necessário mais recursos e tempo. Assim, como em uma equipe de trabalho, quando há uma suspeita de nexo causal com o trabalho os psicólogos atuantes nas URSS encaminham o servidor público ao psicólogo da GESAO. P3, psicólogo responsável pela realização do processo para caracterização do nexo causal, ressalta que sua atuação difere das realizadas pelos demais psicólogos da Diretoria de Saúde do Servidor do Estado de Santa Catarina por trabalhar em uma Gerência distinta. O mesmo utiliza a avaliação psicológica a fim de verificar se aquela doença, aquele transtorno mental e comportamental que o servidor tem, se está relacionado ao trabalho ou não (sic), assim além de determinar a seqüela, o dano psicológico, cabe a ele a responsabilidade por vincular o dano ao fato traumatizante, 33
34 estabelecendo o nexo causal. Assim, também realiza vistoria no local de trabalho a fim de verificar as condições físicas do trabalho, a organização do mesmo e as relações que se estabelecem neste ambiente. Nesta vistoria são realizadas entrevista com colegas de trabalho, de preferência que exercem a mesma profissão que o servidor exercia até então, com os chefes imediatos, pra ter maiores informações sobre o ambiente de trabalho (P3). Cruz e Maciel (2005) apontam que a atuação do psicólogo, enquanto perito na área de Saúde do Trabalhador, surge da necessidade de avaliação das condições de segurança, conforto e eficácia na atividade de trabalho, mediados pela relação entre a saúde psíquica e os processos de produção no trabalho. Evidencia-se, nesta pesquisa, que apenas P3 cumpre atividades com o objetivo proposto pelos autores acima citados. Cruz e Azevedo (2006) afirmam que para que a atuação do psicólogo do trabalho não seja reducionista e tenha resultado eficaz, a lógica de seu pensamento deve centrar-se principalmente na identificação das variáveis críticas relacionadas às exigências das tarefas, aos riscos potenciais e adicionais do trabalho, às cargas de trabalho e ao desempenho humano. A atuação do psicólogo nesta área deve avaliar por inteiro o processo de adoecimento do servidor, considerando que o modo de adoecer varia de acordo com cada população ou grupo de trabalhadores, no tipo e forma de organização do processo de trabalho, do tempo e espaço históricos, do perfil sócio-econômico e cultural desses trabalhadores, da estrutura e organização do trabalho na sociedade, da relação entre classes sociais, da maneira como cada indivíduo ou grupo reage subjetivamente às agressões ao seu corpo (BATISTA, 2004, apud CAMPOS, 2006). Segundo relatos de P2, as atividades realizadas pelos psicólogos no processo de Perícia visam sempre auxiliar o médico no laudo que será elaborado para a 34
35 concessão de algum benefício ao servidor público. P1 aborda sobre a interdisciplinariedade de seu serviço, afirmando que esse movimento ocorre de forma singular, considerando que sempre se discute caso por caso, dependendo de como o médico e a assistente social atendem uma pessoa, normalmente logo após o atendimento a gente já se reúne e dá o parecer, até porque tem uma necessidade de a gente ter isso aí o quanto antes pra colocar no sistema e dar continuidade ao processo (P1). P3 relata que sempre que possível, antes mesmo de avaliar o servidor, conversa com os demais profissionais pelos quais o servidor foi atendido, para verificar o resultado das avaliações e entrevistas já realizadas acerca do caso. Assim, torna-se evidente a compreensão que os mesmos possuem da relevância e necessidade da interdisciplinaridade em seu serviço, trabalhando em conjunto e de forma simultânea como propõem Mendes e Dias (1991), ao citar que a atuação no campo da Saúde Ocupacional e do Trabalho requer equipes multi e interdisciplinares. 4.2 Técnicas Psicológicas As técnicas psicológicas dividem-se em duas: padronizadas e não padronizadas. De acordo com Alchieri e Cruz (2004 apud STRAPASSON, 2008), as técnicas padronizadas passam por um processo que envolve: 1) elaboração; 2) Verificação da validade do teste, onde é analisado se o instrumento é capaz de avaliar um comportamento de modo que se possa medir o que de fato de propõe; 3) Precisão; 4) Padronização. As técnicas não-padronizadas incluem as entrevistas, dinâmicas de grupo e observações. São técnicas que não seguem as etapas acima 35
36 descritas, demandando assim um maior rigor metodológico com critérios e objetivos pré-determinados, garantindo a validação do processo (STRAPASSON, 2008). O quadro nº 05 apresenta as técnicas psicológicas padronizadas e nãopadronizadas utilizadas durante o processo de Perícia Psicológica. Técnicas Psicológicas Freqüência Entrevista psicológica 08 Anamnese 08 Escalas Beck 08 Observação 07 Teste Palográfico 07 ISSL 07 Teste de Atenção Concentrada 06 QSG 05 IECPA 05 LIPP 05 Teste de Inteligência Não Verbal; Raciocínio 04 Questionário 04 Roscharch 03 Quadro nº 5: Técnicas psicológicas utilizadas processo de Perícia Psicológica. Fonte: entrevista e questionário aplicado nos psicólogos, agosto e setembro, 2009 A Resolução CFP Nº 007/2003 (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2003) esclarece que todo documento escrito pelo psicólogo, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo. Assim, entre as técnicas psicológicas utilizadas no processo de Perícia Psicológica, as mais freqüentes são: a entrevista psicológica, a Anamnese e as 36
37 Escalas Beck (composta pelo Inventário de Depressão, de Ansiedade, de Desesperança e de Ideação Suicida). A entrevista psicológica é um instrumento fundamental de trabalho para o profissional psicólogo, independente de sua área de atuação, considerando que a mesma visa investigar e avaliar fenômenos psicológicos. A mesma possibilita uma investigação mais ampla e profunda sobre a personalidade e competências apresentadas pelo entrevistado (BLEGER, 1980 apud STRAPASSON, 2008). Schürhaus (2007), também citado por Strapasson (2008), afirma que esta técnica psicológica é de grande utilidade quando conjugada a outros procedimentos de avaliação. A anamnese é também uma técnica utilizada por todos os pesquisados e compreende a organização e sistematização dos dados do paciente. Esta técnica faz basicamente dois cortes sobre a vida do paciente: o longitudinal, pelo qual se pode obter registros da história pessoal, familiar e patológica pregressas; e o transversal, onde enquadra-se a queixa principal do sujeito, a história da doença atual e o exame psíquico do mesmo (LEMGRUBER, 1997). A observação é uma técnica utilizada por todos os pesquisados, exceto por P3. De acordo com Dessen e Borges (1998, apud ROMANELLI; ALVES, 1998) esta técnica é frequentemente utilizada pela Psicologia, pois além de responder a questões específicas previamente formuladas, avaliar o repertório comportamental do sujeito e os resultados de intervenções, possibilita a criação de novas questões a serem investigadas e propicia a obtenção de dados mais reais e concretos acerca dos comportamentos estudados. Todos os participantes da pesquisa utilizam testes psicológicos a fim de elaborar um diagnóstico mais preciso. Os testes são utilizados de acordo com a 37
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