Gestão ambiental e poluição sonora
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- Mauro Baltazar de Oliveira Martins
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1 Gestão ambiental e poluição sonora João Candido Fernandes (UNESP) jcandido@feb.unesp.br Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar os principais problemas causados pela poluição sonora, a forma de poluição que atinge o maior número de pessoas no mundo. Com a revolução industrial, a produção se tornou prioridade, mas o homem nunca mais conseguiu ter a mesma qualidade ambiental de antes. Com o desenvolvimento tecnológico no século XX, o aparecimento do automóvel e o desenvolvimento da aviação militar, houve um incremento do ruído na zona urbana. A partir dos anos 50, houve um crescimento descontrolado da industrialização, com o automatismo e o acúmulo de máquinas contribuindo aceleradamente para o ruído nos grandes centros. Algumas pesquisas indicam que o ruído ambiental duplica a cada 10 anos. Numa visão mais ampla, o silêncio não deve ser encarado apenas como um fator determinante do conforto ambiental, e sim como um direito do cidadão. Numa segunda parte, o trabalho apresenta métodos de avaliação do conforto acústico: formas de medição do ruído e formas de análise, comparando os valores encontrados com a legislação federal (leis e resoluções do Conama e normas brasileiras), estaduais (normas da CETESB) e municipais. Palavras-chave: Ruído; Poluição Sonora; Ambiente Urbano; Conforto Acústico. 1. Introdução Os altos níveis de ruído urbano têm se transformado, nas últimas décadas, em uma das formas de poluição que mais tem preocupado os urbanistas e arquitetos. Os valores registrados acusam níveis de desconforto tão altos que a poluição sonora urbana passou a ser considerada como a forma de poluição que atinge o maior número de pessoas (Figura 1). Assim, desde o congresso mundial sobre poluição sonora em 1989, na Suécia, o assunto passou a ser considerado como questão se saúde pública. Entretanto, a preocupação com os níveis de ruído ambiental já existia desde 1981 pois, no Congresso Mundial de Acústica, na Austrália, as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro passaram a ser consideradas as de maiores níveis de ruído do mundo. Nas cidades médias brasileiras, onde a qualidade de vida ainda é preservada, o ruído já tem apresentado níveis preocupantes, fazendo com que várias delas possuam leis que disciplinem a emissão de sons urbanos (FERNANDES, 1990; FERNANDES, 2001). FIGURA 1 Ruído urbano
2 A Organização Mundial da Saúde indica como limite de conforto para exposição diária (média durante as 24 horas do dia) um nível LDN= 55 db(a); indica também um nível LDN= 65 db(a) como um valor de perturbação e de desconforto (BERGLUND; LINDVALL, 1990). A Figura 2 mostra a porcentagem da população de alguns países do mundo que está exposta a níveis acima dos recomendados (BERGLUND; LINDVALL, 1995). Numa visão mais ampla, o silêncio não deve ser encarado apenas como um fator determinante no conforto ambiental, mas deve ser visto como um direito do cidadão. O bemestar da população não deve tratado apenas com projetos de isolamento acústico tecnicamente perfeitos, mas, além disso, exige uma visão crítica de todo o ambiente que vai receber a nova edificação. É necessária uma discussão de forma urbanística (FERNANDES, 2003). Outro conceito importante a ser discutido se refere às comunidades já assentadas ameaçadas pela poluição sonora de novas obras públicas. A transformação de uma tranqüila rua em avenida, a construção de um aeroporto ou de uma auto-estrada, ou uma via elevada, podem elevar o ruído a níveis insuportáveis. FIGURA 2 Porcentagem da população exposta a níveis médios de ruído (Ldn) Fonte: Berglund e Lindvall (1995). 2. Avaliação do Ruído ambiental Atualmente, o método mais usado em todo o mundo para a análise do ruído em um local, é a análise através das curvas NC (Noise Criterion). Essas curvas foram desenvolvidas pelo grande pesquisador em acústica Leo Beranek, a partir da década de 50 sendo amplamente usadas em projetos acústicos. Trata se de curvas, estabelecidas num plano cartesiano (freqüência X nível de ruído), que fixam níveis de conforto para cada ambiente de atividade humana, inclusive a curva limite de nível de ruído para dano auditivo. As curvas NC são usadas nas Normas ISO 1996/71 e na NBR Mais recentemente, o autor publicou as curvas NCB (Balanced Noise criterion ), que adotam a definição de nível de interferência da voz das normas dos Estados
3 Unidos, além de trabalharem com 2 oitavas abaixo que as curvas NC. A Figura 2 apresenta as curvas NCB. O autor recomenda para cada ambiente de atividade humana uma curva limite para o ruído (Tabela 1). Assim, por exemplo, a curva NCB 10 é recomendada como espectro de freqüência para estúdios de rádio e de gravação; a curva NCB 30 é especificada como limite de ruído para auditórios, teatros, igrejas e salas para conferências; os locais onde os níveis de ruído estão entre as curvas NCB 40 a 50 oferecem moderadas condições de comunicação oral ou por telefone, sendo recomendadas para secretarias, laboratórios e salas de engenharia; as curvas NCB 50 a 60, representam uma difícil comunicação, sendo recomendadas para lojas, armazéns e garagens; entre as curvas NCB 55 e 70, o local não oferece condições para comunicação oral ou por telefone, não havendo, porém, risco de dano auditivo. Beranek também definiu as áreas A e B do diagrama: espectros que atinjam essas áreas se caracterizam por sons de altos níveis e baixa freqüência, que causam desconforto às pessoas (sensação de rufar de um tambor, ou sensação de vibração causada pelas ondas sonoras). O autor usou o termo "rumble" para definir essa situação, atribuindo à área "A" como clara sensação de vibração, e à área "B" como moderada sensação de vibração. FIGURA 3 Freqüência central da banda de oitava [Hz]
4 3. O Conforto Acústico Para avaliação do Conforto Acústico, o método mais preciso e adequado é o uso das Curvas Noise Criterion. Outros métodos (mais simples) são também usados e consistem em: Medir o Ruído - em db(a) - conforme as Normas Brasileiras. Comparar com Índices Normalizados de Conforto Acústico. A Figura 4 apresenta os tipos de ambiente obtidos em cada curva NCB. Curva NCB Tipo de ambiente que pode conter como máximo ruído, os níveis da curva correspondente 10 Estúdios de gravação e de rádio (com uso de microfones à distância) 10 a 15 Sala de concertos, de óperas ou recitais (para ouvintes de baixos níveis sonoros) 20 Grandes auditórios, grandes teatros, grandes igrejas (para médias e grandes intensidades sonoras) 25 Estúdios de rádio, televisão, e de gravação (com uso de microfones próximos e captação direta) 30 Pequenos auditórios, teatros, igrejas, salas de ensaio, grandes salas para reuniões, encontros e conferências (até 50 pessoas), escritórios executivos. 25 a 40 Dormitórios, quartos de dormir, hospitais, residências, apartamentos, hotéis, motéis, etc. (ambientes para o sono, relaxamento e descanso). 30 a 40 Escritórios com privacidade, pequenas salas de conferências, salas de aulas, livrarias, bibliotecas, etc. (ambientes de boas condições de audição). 30 a 40 Salas de vivência, salas de desenho e projeto, salas de residências (ambientes de boas condições de conversação e audição de rádio e televisão). 35 a 45 Grandes escritórios, áreas de recepção, áreas de venda e depósito, salas de café, restaurantes, etc. (para condições de audição moderadamente boas). 40 a 50 Corredores, ambientes de trabalho em laboratórios, salas de engenharia, secretarias (para condições regulares de audição). 45 a 55 Locais de manutenção de lojas, salas de controle, salas de computadores, cozinhas, lavanderias (condições moderadas de audição). Lojas, garagens, etc. (para condições de comunicações por voz ou telefone apenas 50 a 60 aceitáveis). Níveis acima de NCB 60 não são recomendadas para qualquer ambiente que exija comunicação humana. 55 a 70 Para áreas de trabalho onde não se exija comunicação oral ou por telefone, não havendo risco de dano auditivo. FIGURA 4 Tipos de ambiente com o máximo ruído permitido correspondente às curvas NCB 3.1 Índices normalizados de conforto acústico Os valores medidos devem ser comparados com níveis sonoros indicados por normas ou por entidades ambientais. Os principais são: NBR (NB-95), que trata dos níveis de ruído para conforto acústico ABNT, 1987; NBR 10151, que fixa níveis de conforto (ABNT, 2000); Resolução CONAMA Nº 1 e 2 São Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente sobre avaliação de ruído ambiente. Estas resoluções confirmam o uso das Normas Brasileiras como método mais adequado. Para conhecer esta norma veja referência (BRASIL, 1990); Normas da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB L e L11.034), para ruído ambiental, que valem para o Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1992a,b).
5 Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego - Norma Regulamentadora nº 17, que visa estabelecer parâmetros que permitam o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente em ambientes de trabalho (BRASIL, 2005); Organização Mundial da Saúde, que estabelece os níveis de ruído para conforto acústico (BERGLUND; LINDVALL, 1990; 1995). Leis Municipais: a lei é o texto jurídico de maior força. Está acima de Normas, Resoluções, Portarias etc., portanto, num laudo ambiental, deve sempre prevalecer os valores estabelecidos por leis. Neste aspecto as Leis Municipais que normalizam o ruído urbano têm grande importância; Norma Brasileira NBR , que fixa as condições para avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades e especifica o método de medição e os critérios de aceitação (ABNT, 2000); Norma Americana do American National Standard Institute (ANSI S12.2), sobre os níveis de ruído aceitáveis nos USA (ANSI, 1995). Para conhecer todas as normas referenciadas, acesse wwwp.feb.unesp.br/jcandido, site hospedado na Faculdade de Engenharia da Unesp em Bauru Referências AMERICAN NATIONAL STANDARD INSTITUTE USA. ANSI S12.2. Criteria for Evaluating Room Noise, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR : Acústica. Avaliação do ruído em áreas habitadas visando o conforto da comunidade Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR : Níveis de ruído para conforto acústico. Rio de Janeiro: ABNT, p. BERGLUND, B.; LINDVALL, T. Archives of the Center for Sensory Research. Stockholm: Center for Sensory Research Stockholm/World Health Organization, v. 2, Issue 1, BERGLUND, B.; LINDVALL, T. Noise as a public health problem. Sthedish Council for Building Research, v. 5. Stockholm: World Health Organization, BRASIL. Portaria N.º 3.214, de 08 de Junho de Norma Regulamentadora nº Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. In: SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Manual de legislação Atlas. 56. ed. São Paulo: Atlas, p. ISBN: BRASIL. Resolução CONAMA Nº 1 e 2. Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente sobre avaliação de ruído ambiente. Brasília: CONAMA, FERNANDES, J. C. Avaliação dos níveis de ruído urbano em cidades médias. In: Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído, 1., 1990, Gramado. Anais... Gramado: Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, v. 1, p , FERNANDES, J. C. Proposição de Legislação Municipal para Ruídos Urbanos Parte I: Diretrizes. In: Simpósio de Engenharia de Produção, 8., 2001, Bauru. Anais... Bauru: UNESP, Disponível em: < FERNANDES, J. C. Acústica e Ruídos. Apostila do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp, Campus de Bauru p. SÃO PAULO. Secretaria do Meio Ambiente. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB. Norma Técnica L : Ruído. Determinação do nível de ruído em ambientes internos e externos de áreas habitadas Método de ensaio. São Paulo: CETESB p. SÃO PAULO. Secretaria do Meio Ambiente. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB. Norma Técnica L : Ruído. Processo prático para calcular o nível de ruído equivalente contínuo Procedimento. São Paulo: CETESB p.
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