Estudo dos efeitos do ruído ferroviário no desempenho acústico de habitações no bairro Álvaro Weyne na cidade de Fortaleza, CE.
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- Ruy Carneiro Marinho
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1 Estudo dos efeitos do ruído ferroviário no desempenho acústico de habitações no bairro Álvaro Weyne na cidade de Fortaleza, CE. Daniela Maria de Sousa Martins a, Adeildo Cabral da Silva b a Estudante de graduação em Tecnologia em Saneamento Ambiental, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará Campus Fortaleza; Estudante de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Fortaleza. b Prof. Dr. Departamento de Construção Civil, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará Campus Fortaleza. Resumo Os problemas relacionados ao ruído urbano e a acústica de um modo geral têm se agravado ao longo dos últimos anos, especialmente nos centros urbanos, onde são mais frequentes e intensos. Esse tipo de ruído tem sido considerado um fator determinante no desconforto e insalubridade nessas áreas. Grande parte desses sons indesejáveis é ocasionada pelos transportes, alvos de preocupação, pois são grandes fontes geradoras de poluição ambiental. O modal ferroviário caracteriza-se como um meio de transporte regular, confortável e seguro. Possui capacidade de transportar grandes volumes, com elevada eficiência energética, principalmente em caso de deslocamento a média e grande distância. No entanto, a principal crítica do público em relação a esse tipo de transporte é o nível excessivo de ruído. Este trabalho tem por objetivo verificar as questões que envolvem o ruído ferroviário em Fortaleza, por essa ser a quinta maior cidade do Brasil com habitantes (IBGE, 2010), portanto, com grandes problemas de mobilidade urbana e, analisar o desempenho acústico de edificações próximas à linha férrea. Como amostragem, foram selecionadas cinco residências com base na distância em relação ao trilho. Elas estão localizadas em um trecho da linha que passa pelo bairro Álvaro Weyne, localizado na região noroeste da capital cearense, e que é remanescente no uso do transporte ferroviário urbano. Para a realização de uma análise técnica, este trabalho teve seu desenvolvimento fundamentado em estudos relacionados ao tema, levantamentos físicos das residências e medições in loco. As análises mostraram que as unidades habitacionais não apresentam desempenho acústico satisfatório, logo, medidas mitigadoras devem ser tomadas a fim de reduzir danos socioambientais e a poluição sonora. Pois, dessa maneira, o transporte ferroviário poderá ser uma alternativa para solucionar o grave problema da mobilidade urbana em Fortaleza, CE.
2 1. INTRODUÇÃO No Brasil, nos últimos anos, observou-se uma crescente no número de trabalhos relacionados aos efeitos do ruído urbano. Conforme a NBR 7731/83 o ruído possui duas definições aplicáveis, que são: o ruído é uma mistura de sons cujas frequências não seguem nenhuma lei precisa ; todo aquele som indesejável. Esse tipo de ruído tem sido considerado um fator determinante no desconforto e insalubridade nas áreas urbanas. Grande parte desses sons indesejáveis é ocasionada pelos transportes, alvos de preocupação, pois são grandes fontes geradoras de poluição ambiental. Segundo Fogliatti (2004), a ferrovia é um modal eficiente, econômico, rápido e seguro. Polui menos a atmosfera e permite uma maior conservação dos recursos naturais, pois, em relação à construção, suas linhas e seus traçados podem agredir o meio ambiente bem menos que o modal hidroviário, por exemplo, já que sua faixa de atuação é mais limitada. No entanto, a principal crítica do público em relação a esse tipo de transporte é o nível excessivo de ruído. Em Fortaleza, CE, o transporte ferroviário é um importante componente socioeconômico, pois à medida que, favorece o deslocamento da população, auxilia o escoamento da produção, ou seja, o desenvolvimento local está diretamente relacionado com o equipamento ferroviário. Esse tipo de ruído afeta a saúde do homem e gera desconforto de diversas maneiras. Os efeitos são os mais diversos, como: perda permanente ou temporária da audição, aumento da pressão arterial, distúrbios no sono, interferência na comunicação, comprometimento da inteligibilidade, dificuldade na realização de tarefas, dentre outros. Em uma cidade como Fortaleza, marcada atualmente pela ambição de alcançar altos níveis em qualidade de mobilidade urbana, é de inquestionável importância a avaliação e reflexão acerca dos problemas relacionados ao ruído ambiental provocado pelo equipamento ferroviário, modal que compõe a principal proposta na resolução do problema de mobilidade da capital cearense. Por isso, o objetivo da pesquisa foi verificar as questões que envolvem o ruído ferroviário em Fortaleza e, analisar o desempenho acústico de residências próximas à linha férrea. 2. REFERENCIAL TEÓRICO Nas últimas décadas, os ruídos se transformaram em uma das formas de poluição que mais atinge a população. Há vinte e quatro anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) trata o ruído como um problema de saúde pública. Esse fato é crítico no Brasil, pois, o país não possui normas que especifiquem os valores mínimos de isolamento acústico que as moradias devem apresentar. No Ceará, em Fortaleza, mais especificamente, o problema da poluição sonora é grave e é provocado principalmente pelo transporte ferroviário. Segundo a ONU, a poluição sonora é a terceira maior poluição do meio ambiente, menor, apenas, do que a da água e do ar (VIEGAS, 2004). A legislação que trata do conforto acústico no Brasil é composta por normas técnicas da ABNT e por resoluções CONAMA. Os índices de poluição sonora aceitáveis em
3 comunidades são estabelecidos pela resolução CONAMA (de 8 de março de 1990) e são determinados de acordo com o tipo de zona e horário pela NBR Conforme as zonas, são estabelecidos níveis de pressão sonora equivalentes LAeq, nos períodos diurnos e noturnos (das 22h às 7h), apresentados na Tabela 1. O Laeq é o nível obtido a partir do valor médio quadrático da pressão sonora, com ponderação A, referente a todo intervalo de medição (ABNT, 2000). Tabela 1: Níveis de pressão sonora equivalentes LAeq máximos para ambientes externo (Fonte: ABNT 2000). Tipo de Zona Diurno Noturno db(a) db(a) Áreas de sítios e fazendas Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas Área mista, predominantemente residencial Área mista, com vocação comercial e administrativa Área mista, com vocação recreacional Área predominantemente industrial A norma ABNT NBR estipula os níveis máximos de ruído admissíveis para a garantia do conforto acústico em ambientes internos e baseia-se em um número único chamado de critério de ruído NC (Noise Criteria). O NC é determinado pela comparação do nível de pressão sonora do ruído em cada banda de oitava com as curvas de NC padrão. A Figura 1 mostra algumas curvas de NC padrão. Figura 1: Curvas de critério de ruído (Fonte: ABNT, 1987). A Tabela 2 apresenta os valores estabelecidos pela NBR para conforto acústico em habitações.
4 Tabela 2: Níveis de pressão sonora em db(a), para conforto em ambientes internos ( Fonte: ABNT, 1987). Local NPS db(a) Curvas NC Residências Dormitórios Salas de Estar DESCRIÇÃO DOS OBJETOS DE ESTUDO Como amostragem, foram selecionadas cinco residências com base nas distâncias em relação à linha férrea. As edificações estão localizadas no estado do Ceará, na cidade de Fortaleza. O município está situado no Nordeste do Brasil, com latitude 3 43'02" sul e longitude 38 32'35" oeste. Com uma área de 313,8 Km², a cidade conta com habitantes (IBGE, 2010), distribuídos em 116 bairros. As habitações estão localizadas em um trecho da linha férrea que passa pelas Ruas Dr. Hugo Rocha e José Acioly, no bairro Álvaro Weyne (Figura 2). O bairro limita-se ao Norte com o bairro Cristo Redentor, ao Sul com o bairro Presidente Kennedy, ao Leste com os bairros Ellery e Carlito Pamplona e ao Oeste com o bairro Floresta. Figura 2: Localização aéreas das edificações analisadas (Fonte: Google Earth). As Residências A e D (Figura 3) estão a 26m e 29m de distância da linha férrea, respectivamente. Seus projetos arquitetônicos incorporam os seguintes cômodos: garagem, 2 quartos, 1 suíte, sala de estar, sala de jantar, lavabo, cozinha e área de serviço.
5 As edificações têm seus sistemas construtivos constituídos em alvenaria, cobertas em telhados de cerâmica, assentados sobre estrutura de madeira, forros lajes, esquadrias em madeira e vidro, pisos em cerâmica vitrificada, pinturas acrílicas internas e externas. Figura 3: Fachadas das Residências A e D (Fonte: Autor). A Residência B (Figura 4) está a 10m da linha férrea. Seu projeto arquitetônico é composto pelos seguintes ambientes: garagem, 3 quartos, sala de estar, sala de jantar, banheiro social, cozinha e área de serviço. Tem seu sistema construtivo constituído por alvenaria estrutural, coberta em telhado de cerâmica, assentado em estrutura de madeira, sem forramento, esquadrias em compensado de madeira, piso em cimento queimado, pintura acrílica interna e externa. Figura 4: Fachada Residência B ( Fonte: Autor). A Residência C (Figura 5) está a 8m da linha férrea. Seu projeto arquitetônico compreende os seguintes cômodos: 2 quartos, sala de estar, cozinha, banheiro social. Seu sistema construtivo é em alvenaria estrutural, coberta em telhado de cerâmica, assentado em estrutura de madeira, sem forramento, esquadrias em alumínio, piso em cerâmica comum, pintura acrílica nos ambientes internos e fachada somente com reboco do tipo chapisco.
6 Figura 5: Fachada Residência C (Fonte: Autor). A Residência E (Figura 6) está a 6m da linha férrea. Seu projeto arquitetônico é simples e incorpora somente quatro cômodos: quarto, sala de estar, cozinha e banheiro social. Tem seu sistema construtivo constituído por alvenaria estrutural, coberta em telhado de cerâmica, assentado em estrutura de madeira, piso em cimentado, pintura acrílica externa e ambiente interno sem revestimento. Figura 6: Fachada Residência E (Fonte: Autor). 4. METODOLOGIA Inicialmente foi realizada uma análise das edificações a fim de determinar as dimensões das salas de estar, identificar as características dos materiais construtivos de cada residência e a fonte de ruído, o trem.
7 Posteriormente foram realizadas as medições dos níveis de pressão sonora interna e externa dos ambientes. A coleta dos dados referente aos níveis de pressão sonora foi realizada utilizando-se um decibelímetro marca Minipa MSL 1351C com LCD de 4 dígitos, na faixa de medida de 30dB a 130dB, com ponderação em A e com frequência rápida (FAST). Os demais equipamentos foram: trena de 50 metros, cronômetro, máquina fotográfica e um tripé para apoiar o decibelímetro na altura preconizada pela norma. Além destes equipamentos também foram utilizadas planilhas para levantamento dos dados. Para as medições externas, o decibelímetro foi posto à frente de cada casa, cerca de 2m de distância da fachada e, para as medidas internas, o aparelho foi posicionado no centro de cada sala de estar, seguindo as orientações de métodos de avaliação e procedimentos de ensaios das Normas Técnicas Brasileiras, NBR e NBR Ambas as medições foram realizadas nos três turnos e com a edificação fechada e sem ocupantes para evitar ruído de fundo. Figura 7: Decibelímetro (Fonte: Autor). Os dados coletados em campo foram anotados e organizados em planilhas eletrônicas onde foram comparados aos níveis admissíveis de ruído definidos pelas normas brasileiras. 5. RESULTADOS Como resultados das medições internas foram encontrados valores que atingiram picos isolados de até 85 decibéis na Residência E (Figura 10), quando deveriam estar entre decibéis, valores esses, adequados para salas de estar, de acordo com a NBR As medições externas, que deveriam estar entre decibéis, valores adequados para áreas mistas, predominantemente residenciais, segundo a NBR 10151, atingiram 104 decibéis. Logo, pode-se inferir que os ambientes internos analisados na investigação, não atendem aos critérios estabelecidos pela NBR no que versa sobre níveis de ruídos para conforto acústico em habitações.
8 O resultado das análises do desempenho acústico das residências demostram que a baixa capacidade de isolamento, tanto das vedações externas como internas, proporciona altos níveis de ruído nos ambientes testados, prejudicando a saúde e o repouso dos moradores. Os gráficos abaixo revelam as variações dos níveis de pressão sonora das residências avaliadas, entres os dias 16 e 19 de julho de 2012, durante os três turnos (manhã, tarde e noite). Figura 8: Níveis de Pressão Sonora das Residências A e B, respectivamente (Fonte: Autor). Figura 9: Níveis de Pressão Sonoras das Residências C e D, respectivamente (Fonte: Autor).
9 Figura 10: Níveis de Pressão Sonora da Residência E (Fonte: Autor). 6. CONCLUSÕES Mediante os resultados, constatou-se que a Residência E, apresentou os maiores valores de nível de pressão sonora. Isso se deve ao baixo desempenho dos elementos da envoltória, principalmente as janelas com venezianas, as portas ocas sem juntas seladas nas forras, a coberta sem forramento, além da proximidade da linha férrea e, consequentemente da fonte de ruído. Constatou-se também que, a Residência D foi a edificação que obteve o melhor desempenho acústico uma vez que, apresentou menores valores de nível de pressão sonora. Fato justificado pelo bom desempenho dos elementos que a constituem, principalmente, as janelas em madeira e vidro, bons isolantes acústicos, a coberta com forro-laje, além de ser a casa mais distante em relação à linha férrea. Diante da opção pelo transporte privado em detrimento do coletivo, em Fortaleza, e, devido ao adensamento urbano, atual e futuro, da região, medidas mitigadoras devem ser tomadas a fim de reduzir os danos socioambientais e a poluição sonora gerada pelo trem. Dentre as medidas estão à substituição pelos Veículos Leves sob Trilhos (VLTs), a construção de barreiras acústicas na área, dentre outras. Dessa maneira, o transporte ferroviário poderá ser uma boa alternativa para solucionar o grave problema da mobilidade urbana em Fortaleza. AGRADECIMENTOS Ao Laboratório de Energias Renováveis e Conforto Ambiental (LERCA-IFCE) por ceder material bibliográfico e equipamentos para a realização da pesquisa.
10 REFERÊNCIAS [1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1983) Guia de execução de serviços de medição de ruído aéreo e avaliação dos seus efeitos sobre o homem: NBR 7731, Rio de Janeiro. [2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1987) Níveis de ruído para conforto acústico: NBR 10152, Rio de Janeiro. [3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2000) Acústica avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade procedimentos: NBR 10151, Rio de Janeiro. [4] COSTA, Ennio Cruz da. Acústica técnica. São Paulo: Edgard Blücher, 2003; [5] FOGLIATTI, M.C.; FILIPPO, S.; GOUDARD, B. Avaliação de impactos ambientais Aplicação aos sistemas de transporte. Rio de Janeiro: Interciência, [6] MURGEL, Eduardo. Fundamentos de Acústica Ambiental. São Paulo: Senac São Paulo, [7] VIEGAS, M.N.C., Arquitetura e acústica bioclimática: métodos de controle de ruído urbano em edificações em clima quente úmido. Dissertação de M.Sc., UFRJ/COPPE, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
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