DOENÇAS ABORTIVAS EM VACAS: FERRAMENTAS DIAGNÓSTICAS
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- Victor Gorjão Ribeiro
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1 DOENÇAS ABORTIVAS EM VACAS: FERRAMENTAS DIAGNÓSTICAS As doenças reprodutivas em bovinos constituem uma grande importância para a pecuária. Apesar de apresentarem baixa mortalidade, essas afecções influenciam diretamente em perdas na produção animal e na eficiência reprodutiva do rebanho. Dados do IBGE de 2016 revelam que o efetivo de bovinos no Brasil atingiu a marca de 218,23 milhões de cabeças, mostrando a importância da sanidade pecuária para o país e a necessidade do alcance de boas taxas de eficiência reprodutiva serem alcançadas. Na pecuária de corte, os fatores relacionados com a genética, nutrição e manejo zootécnico são significativamente relevantes nas taxas de reprodução e no desempenho econômico. Porém, a sanidade relacionada às infecções no trato reprodutivo se destaca como grande fator de interferência na eficiência reprodutiva. Os distúrbios reprodutivos podem ser de origem infeciosa ou não infecciosa, atuando em conjunto ou de forma isolada. Dentre as doenças infectocontagiosas que determinam distúrbios reprodutivos, destacam-se: afecções bacterianas (Brucella abortus, Leptospira spp., Mycoplasma spp., Campylobacter fetus), virais (IBR e BVD) e protozoárias (Neospora caninum). O presente informativo visa elucidar características gerais de algumas afecções e orientar sobre a necessidade de aliar exame clínico e laboratorial para diminuir as ocorrências e consequentemente, aumentar o sucesso reprodutivo de rebanhos bovinos. IBR A doença conhecida como IBR é a sigla usada para denominar uma síndrome viral chamada Rinotraqueíte Infecciosa Bovina causada pelo Herpesvírus bovino 1 e caracteriza-se pela manifestação de rinotraqueíte, vulvovaginite pustular, balanopostite, conjuntivite, abortamento e infecção generalizada de neonatos. O animal, uma vez infectado, permanece em estado de latência, mantendo a doença endêmica no rebanho e sendo potencial fonte de infecção, pois quando ocorre uma baixa de resistência imunológica do animal, o vírus começa a multiplicar-se e favorece a disseminação da doença.
2 Vulvovaginite pustular infecciosa Fonte: Retirado do site Agripoint A transmissão ocorre através da via respiratória (tosse, espirro, saliva, secreções oculares e respiratórias), via genital (principalmente durante a monta) e vertical (da vaca para a feto/bezerro em qualquer fase da gestação). Os sinais clínicos podem ser discretos a moderados, uma vez que o vírus está altamente adaptado à espécie, a menos que o animal seja jovem ou imunossuprimido. O principal achado é a rinotraqueíte, mas pode ocorrer apatia, inapetência, hipertermia, exsudatos e redução na produção leiteira. A complicação mais comum em animais imunodeficientes é o abortamento. Para o diagnóstico, deve-se levar em consideração achados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais. A confirmação se faz através dos exames laboratoriais, onde é possível verificar a presença de anticorpos no soro dos animais. Os exames utilizados são o teste de soroneutralização e o teste ELISA, sendo que o segundo oferece a vantagem da agilidade do resultado com segurança e confiabilidade. BVD O vírus da Diarreia Viral Bovina (BVD) é considerado um dos principais patógenos dos bovinos. É causado por um vírus RNA, que pertence ao gênero dos Pestivirus e atua diminuindo a imunidade do hospedeiro. Embora relacionado com casos de doença gastroentérica, o vírus do BVD é frequentemente associado com alterações reprodutivas. O BVD é responsável por uma ampla variedade de manifestações clínicas, que variam desde de infecções inaparentes ou subclínicas, até infecções agudas e, por vezes, pode ser fatal. As consequências da infecção e a severidade dos sinais clínicos dependem de diversos fatores, entre o status imunológico do animal, cepa viral envolvida e ocorrência de infecções secundárias. Se a infecção ocorre antes dos 120 dias da infecção, com uma variante não citopatogênica, os bezerros nascidos serão imunotolerantes e podem tornar-se persistentemente infectados (PI) com o vírus. Esse animal é soronegativo nos testes e é ponto-chave na epidemiologia da infecção, uma vez que não possuem anticorpos, mas expelem grande quantidade de vírus no rebanho. A transmissão pode ocorrer por contato direto (animal para animal ou contato com fluidos corporais) ou indireto (insetos hematófagos, luvas de palpação, espéculos vaginais, tratadores, fômites). Pode ser transmitido pelo sêmen, embriões e produtos biológicos contaminados.
3 Os bovinos PI são a principal fonte de infecção para outros animais, eliminando grandes descargas virais ao longo da vida e animais com infecção aguda também excretam o vírus por alguns dias. A disseminação viral pode ocorrer de forma horizontal ou vertical. O quadro clínico é complexo e depende de diversos fatores, tais como: idade do animal, estágio da gestação, imunocompetência do hospedeiro e a presença de estresse ambiental. Dessa forma, a doença pode variar entre infecção subclínica (febre branda, leucopenia, diminuição leiteira, inapetência e diarreia); infecção aguda (febre, depressão, leucopenia, anorexia, respiração rápida, corrimento nasal e ocular, erosões e ulcerações orais, diarreia e diminuição leiteira); infecção hiperaguda (nessa fase ocorre altos índices de abortos, com alta morbidade e mortalidade em todas as faixas etárias do rebanho, cursando com pneumonia). Secreção nasal em bovino infectado com BVD Fonte: Retirado de Slideshare Josiebonel UFPEL O diagnóstico pode ser baseado em associação do exame clínico, achados necroscópicos (quando possível) e exames laboratoriais. As técnicas laboratoriais disponíveis são sorologia, isolamento viral e PCR. O método indireto (sorologia) possui a vantagem de ser prático, com custo acessível e detecta anticorpos circulantes no soro ou o antígeno, a depender da técnica empregada. O PCR já apresenta a vantagem de ser um exame altamente específico e sensível. NEOSPORA O Neospora caninum é um protozoário, parasita intracelular obrigatório e tem uma grande importância como agente causador em abortamentos nos rebanhos bovinos e responsável por grandes perdas econômicas. Os abortos ocorrem a partir do terceiro mês de gestação, mas existe ocorrência de bezerros natimortos e os que nascem vivos, podem apresentar sinais neurológicos ou tornarem-se cronicamente infectados (devido à transmissão placentária). O parasito possui um ciclo de vida que envolve três estágios principais: oocistos (estágio desenvolvido no hospedeiro definitivo cão), taquizoítos e bradizoítos (são encontrados em hospedeiros intermediários). O cão elimina oocistos não esporulados que são ingeridos pelos bovinos após esporulação no ambiente, entre 24 a 72 horas pós-eliminação. Após invadirem o trato gastrointestinal, são transformados em taquizoítos e, no interior das células, podem se transformar em bradizoítos. A transmissão pode ocorrer de forma horizontal (ingestão de água e alimentos contaminados com oocistos oriundos de fezes de cães doentes ou transmissão fecal-oral) e vertical (transplacentária). A transmissão vertical contribui significativamente para a manutenção do parasito no rebanho.
4 O principal sintoma clínico em vacas infectadas é o abortamento. Os fetos podem morrer no útero, sendo absorvidos, mumificados, autolizados, nascerem doentes (paralisia, baixo crescimento e baixo ganho de peso) ou clinicamente normais, porém congenitamente infectados. Feto abortado por Neospora caninum Fonte: Retirado do site UFGRS Em virtude da dificuldade de detecção in vivo, as provas sorológicas são importantes no auxílio diagnóstico. Os métodos indiretos são os mais aplicados, detectando-se os anticorpos contra Neospora caninum circulante no animal. Pode ser realizado também o PCR Real Time, uma ferramenta que permite identificar a presença do patógeno com altíssima sensibilidade e especificidade. LEPTOSPIROSE A Leptospirose é uma zoonose causada por bactérias do gênero Leptospira spp., que infecta uma variedade de mamíferos domésticos e silvestres, incluindo os bovinos. Nesse último, assume grande importância econômica, afetando diretamente aspectos da produção, uma vez que pode causar queda de produção, infertilidades, retenção de placentas, metrites, repetição de cio, abortamentos e mortalidade de bezerros. Além da importância monetária, a manutenção e introdução das bactérias nas propriedades são considerados importantes fatores de disseminação da doença para humanos, apresentando alto poder zoonótico. Essa enfermidade é transmitida de forma direta (contato com urina, secreções vacinais, placenta e leite) ou indireta (exposições a fontes de água, solo ou alimentos contaminados). O bovino é o principal disseminador que contamina o pasto, água e a ração por meio da urina infectada, fetos abortados e corrimentos uterinos. A Leptospira spp. pode ser excretada por via urinária até 180 dias pós-infecção. Os sinais clínicos variam de acordo com a forma de manifestação da doença (aguda, subaguda ou crônica). O animal pode apresentar abortamento, queda na produção leiteira devido à mastite atípica (sinais observados mais frequentemente), febre, hemoglobinúria, icterícia e anorexia. O leite pode estar amarelado ou sanguinolento. Os animais podem tornar-se portadores convalescentes ou sadios, liberando a bactéria viva por semanas ou meses. Os animais convalescentes têm papel epidemiológico, porém, os portadores sadios são os mais importantes, uma vez que mesmo sem apresentar sinais ou sintomas, podem liberar o agente infectando animais do rebanho e esses, somente serão identificados através de testes sorológicos ou bacteriológicos. O diagnóstico da leptospirose pode ser realizado através da detecção da bactéria ou pela detecção de anticorpos contra o agente. O teste sorológico de soro aglutinação microscópica, reage os IgM e IgG ao mesmo tempo com antígenos vivos em placas. Deve ser levado em consideração o
5 início dos sintomas, uma vez que as imunoglobulinas serão detectadas 1 dias após o início dos sintomas. O ideal é a realização de testes sorológicos pareados em intervalos de 21 dias. A detecção do patógeno é conduzida com elevadíssimas sensibilidade e especificidade através do PCR Real Time. COD/EXAMES B03B IBR (Rinotraqueíte Bovina) mais de B03A IBR (Rinotraqueíte Bovina) até B34A Perfil sanitário de receptoras (Lepto, IBR, BVD, Neospora) até B34B Perfil sanitário de receptoras (Lepto, IBR, BVD, Neospora) acima de B33 Perfil sanitário de doadoras (Lepto, IBR, BVD, Neospora e Leucose) B0A BVD (Diarreia bovina viral) até B0B BVD (Diarreia bovina viral) mais de B14A BVD (pesquisa do antígeno) até MATERIAL PRAZO DIAS 10 Sangue total ou soro 10 Sangue total ou soro Sangue total ou soro 10 Sangue total ou soro 10 B32 Leptospira (pesquisa de campo escuro) Urina fresca 2 B02B Leptospirose acima de 40 Sangue total B02A Leptospirose até 40 Sangue total 78 Leptospira spp PCR RT qualitativo 786 Leptospira spp PCR RT qualitativo Sangue total, urina, feto abortado, swab vaginal, fígado ou rim Sangue total, urina, feto abortado, swab vaginal, fígado ou rim B27A Neospora até Sangue total ou soro 10 B27B Neospora acima de Sangue total ou soro
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