PRÓLOGO. O papel da Ergonomia para o Engenheiro de Produção: perspectivas no Brasil e na América Latina. Produção em Foco, v. 3 n.

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1 Produção em Foco, v. 3 n. 2, 2013 PRÓLOGO O papel da Ergonomia para o Engenheiro de Produção: perspectivas no Brasil e na América Latina José Orlando Gomes, Dr. Eng. Presidente da Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) Membro do Conselho de Direção da ALAERGO Chair Professional Standards and Education Committee/International Ergonomics Association Director da Resilience Engineering Association Programa de Pós Graduação em Informática e Departamento de Engenharia Industrial Universidade Federal do Rio de Janeiro Introdução A evolução da sociedade industrial nos últimos séculos vem demandando da Ergonomia e da Engenharia de Produção um esforço conjunto e continuo no sentido de prover soluções através conceitos, métodos, técnicas e ferramentas de maneira a suprir as necessidades das sociedades modernas. A Engenharia de Produção trata do projeto, aperfeiçoamento e implantação de sistemas integrados de pessoas, materiais, informações, equipamentos e energia, para a produção de bens e serviços, de maneira econômica, respeitando os valores, a cultura e o ambiente. Tem como base os conhecimentos específicos e as habilidades associadas às ciências físicas, matemáticas e sociais, assim como aos princípios e métodos de análise de Engenharia de projeto para especificar, predizer e avaliar os resultados obtidos por tais sistemas (FLEURY, et al., 2007). Para a Associação Internacional de Ergonomia a ergonomia (ou fatores humanos) se define com a disciplina científica relativa à compreensão das interações entre os operadores e outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica a teoria, os princípios, os dados e métodos para projetar de forma a otimizar o bem estar e o desempenho do sistema como um todo (IEA, 2013). Para tanto, a IEA aponta três dimensões fundamentais para o projeto da organização do trabalho: ergonomia física está relacionada com a anatomia humana e as características biomecânicas e como estas estão relacionadas à atividade física. Nesta dimensão são considerados tópicos relevantes as posturas, o manuseio de carga, os

2 movimentos repetitivos, a ler/dort, o layout do posto de trabalho, a segurança e a saúde no trabalho; ergonomia cognitiva se relaciona com os processos mentais, tais como percepção, memoria, raciocínio e resposta motora, e como estas afetam as interações entre os trabalhadores e outros elementos do sistema. Os tópicos relevantes incluem a carga mental, a tomada de decisão, a performance expert, a interação humano-computador, a confiabilidade humana, o stress e o treinamento e como estes se relacionam ao projeto humano-sistema; ergonomia organizacional está relacionada com a otimização de sistemas sociotécnicos, incluindo as suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes nesta dimensão incluem comunicação, crew resource management, projeto do trabalho, projeto das jornadas/turnos, trabalho em equipe, projeto participativo, ergonomia comunitária, trabalho cooperativo, novos paradigmas de trabalho, organizações virtuais, teletrabalho e gestão da qualidade, dentre outros. A evolução da Ergonomia desde a sua formulação pelo engenheiro agrônomo polonês Woitej Yastembowsky, em 1857, pode-se perceber no mapa conceitual referente à origem e evolução da análise das tarefas proposto desenvolvido pelo Prof. Roberto Hoffman do Institute for Human Machine Cognition ligado a West Florida University. O mapa (figura 1) mostra as bases da análise do trabalho usado até os dias de hoje nos cursos de engenharia de produção que são contribuições robustas da evolução da ergonomia no último século, porém podemos afirmar com razoável segurança que esta abordagem usada na formação do engenheiro, excessivamente centrada na análise da dimensão da ergonomia física, se mostra insuficiente e necessita evoluir no sentido de incorporar novas e complexas dimensões da atividade humana em função do brutal desenvolvimento tecnológico atual. Para tratar destas questões vamos analisa-las na seção seguinte.

3 Fonte: Hoffman e Militello (2009) Figura 1 - Mapa conceitual da análise da tarefa/trabalho

4 Futuro da Ergonomia, Desafios e sua Relação com a Engenharia de Produção Esta dramática mudança que ocorre no mundo do trabalho requer do engenheiro de produção uma competência de análise da atividade humana nas dimensões da ergonomia cognitiva e organizacional. Aqui certamente reside o maior desafio para a formação do engenheiro de produção. No mapa conceitual (figura 2), também proposto por Hoffman e Militello (2009), pode-se perceber claramente a necessidade de uma atualização urgente na formação do engenheiro de produção, no sentido de capacitá-lo a analisar a dimensão cognitiva da atividade humana no sentido de vir a projetar os novos sistemas produtivos cuja interação dos artefatos e a atividade cerebral é crucial para o sucesso de produto de processo assim como para a segurança industrial e ambiental. Figura 2 - Mapa conceitual-análise do trabalho cognitivo Fonte: Hoffman e Militello (2009) Inexoravelmente a Engenharia de Produção necessita construir pontes com a ergonomia contemporânea para enfrentar estes desafios, especialmente no sentido de construir parcerias cientificas com a psicologia cognitiva por um lado, com o desenho industrial por outro, e por fim e não menos importante definitivamente incorporar a tecnologia de informação, pois é a que consolida e concretiza a dimensão organizacional, de maneira distante e desarticulada da ergonomia.

5 Perspectivas no Brasil e na América Latina Quando miramos para o Brasil e América Latina, vide figura 3, pode se observar uma razoável rede de desenvolvimento da ergonomia, todavia insuficiente para dar conta do enorme desafio de colaborar com a engenharia de produção visando superar as dificuldades apontadas anteriormente. Figura 3 - Centros de desenvolvimento da ergonomia no Brasil e América Latina Todavia para cumprir com o seu objetivo, a grande carência da ergonomia na América Latina e Brasil se relaciona com a necessidade de formar formadores que tenham a competência de lidar com as três dimensões da ergonomia na análise do trabalho humano tanto no que diz respeito à pesquisa, mas sobretudo no projeto das organizações produtivas, por um lado, e por outro formar os atores sociais nas dimensões essências da ergonomia no sentido de reconhecer as carências nos processos produtivos e produtos que se desenvolvem numa velocidade assustadora. Por fim, também é urgente o desenvolvimento de políticas públicas para fomentar a aplicação das dimensões da ergonomia tanto em produto quanto processos, mas sobretudo evitando os equívocos que podem conduzir a uma aplicação não sistêmica destas dimensões, seja na aplicação de normas, quanto na estruturação de organismos de estado para dar conta da fiscalização, monitoração, punição da não aplicação da ergonomia no sentido de melhorar as condições vida e trabalho da população latino americana.

6 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA - ABERGO. O que é Ergonomia. Disponível em < Acesso em: 7 dez DULL, J. et al. A strategy for human factors/ergonomics: developing the discipline and profession, Ergonomics, 2013, 55:4, FLEURY, A. C. C. O que é a Engenharia de Produção? In: BATALHA, M. O. (Coord.). Introdução à engenharia de produção. 1 a ed. Rio de Janeiro: Elsevier Campus, HOFFMAN, R. e MILITELLO, L. Perspectives on Cognitive Task Analysis: historical origins and modern communities of practice. New York, Taylor & Francis, INTERNATIONAL ERGONOMICS ASSOCIATION - IEA. What is ergonomics? Disponível em < Acesso em 8 dez