FREQUENCIA E COMPORTAMENTO DE FORRAGEIO DE ABELHAS EM FLORES DE MELÃO AMARELO (Cucumis melo L.)
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1 FREQUENCIA E COMPORTAMENTO DE FORRAGEIO DE ABELHAS EM FLORES DE MELÃO AMARELO (Cucumis melo L.) Icaro Cavalcante Moura 1 ; Paulo Henrique Tschoeke 2 1 Aluno do Curso de Agronomia; Campus de Gurupi; icaroagro@outlook.com PIBIC/UFT 2 Orientador do Curso de Engenharia Florestal; Campus de Gurupi; pht@uft.edu.br RESUMO A cultura do melão é dependente dos serviços de polinização efetuados pelas abelhas, contudo o uso indiscriminado de agrotóxicos pode levar ao desaparecimento desses polinizadores. Objetivou-se verificar a frequência e o comportamento de forrageio das abelhas nas flores, antes e após a aplicação de agrotóxicos em plantas de melão amarelo. Utilizou-se delineamento em blocos ao acaso com cinco tratamentos e quatro repetições: T1: sem agrotóxicos; T2: inseticida; T3: fungicida; T4: inseticida + fungicida; T5: inseticida botânico. Aplicaram-se os tratamentos ao final da tarde, a cada sete dias. Observou-se a frequência das abelhas no período das 08h00min às 11h00min da manhã do dia das aplicações e nesse mesmo período na manhã do dia seguinte às aplicações, nos dez primeiros minutos de cada hora. Observou-se também o comportamento de forrageio e os recursos tróficos coletados pelas abelhas. Avaliou-se a severidade das doenças do melão por meio de escala de notas de 0 a 9. Submeteram-se as variáveis observadas à análise de variância e teste de comparação de médias a 5% de probabilidade. O comportamento de forrageio de Apis mellifera, Halictus sp., Plebeia sp. e Trigona spinipes sugere que estas possuem potencial polinizador para a cultura do melão. O fungicida e a mistura com inseticida favoreceram a diminuição da frequência das abelhas às flores, enquanto o inseticida botânico e o piretróide não proporcionaram diminuição da frequência. A severidade em grau 3, ocasionada pelo fungo Dydimella bryoniae e o não desbaste de frutos favoreceram a diminuição da produtividade esperada do melão. Palavras-chave: Polinizador; Repelência; Cucurbitaceae; Ecotoxicologia
2 INTRODUÇÃO O melão (Cucumis melo L.) é uma fruteira tropical que ocupa a terceira posição em área plantada como lavoura temporária na fruticultura brasileira, com um total de hectares (IBGE 2010). No Tocantins, embora seu cultivo seja incipiente, predominam características edafoclimáticas que permitem a produção nos períodos de entressafra de outros estados produtores. Para a cultura do melão existem agentes fundamentais para o vingamento e o desenvolvimento dos frutos: as abelhas, seus principais polinizadores. Pelo exposto, para que os serviços de polinização realizados pelas abelhas não sejam prejudicados, devem-se tomar medidas de manejo da lavoura que favoreçam a presença desses insetos benéficos e que garantam a eficiência polinizadora destes nas flores. Por outro lado, o uso sistemático de agrotóxicos é preconizado como forma de controle das doenças e dos insetos praga que afetam as culturas agrícolas. Entretanto, segundo Kremen, Williams e Thorp (2002) o uso indiscriminado dessas substâncias nas lavouras vem sendo apontado como um dos fatores responsáveis pelo desaparecimento dos polinizadores, com destaque para as abelhas, a nível mundial. O presente trabalho teve por objetivo verificar a frequência e o comportamento de forrageio das abelhas nas flores, antes e após a aplicação de agrotóxicos em plantas de melão amarelo. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi conduzido na estação experimental da Universidade Federal do Tocantins Campus de Gurupi, localizada nas coordenadas S e W, altitude de 280 m e clima úmido com moderada deficiência hídrica segundo Köppen. A implantação do cultivo e os tratos culturais foram realizados de acordo com as recomendações técnicas para a cultura do melão. Utilizou-se a cultivar Gaúcho Casca de Carvalho, semeando-se cinco sementes/cova -1, numa profundidade de dois centímetros. O delineamento foi de blocos ao acaso com cinco tratamentos e quatro repetições. Cada tratamento foi composto por 36 plantas, espaçadas de 0,6 metros entre
3 si, 2 metros entre linhas e 2,5 metros entre blocos. Os tratamentos aplicados foram: T1: sem aplicação de agrotóxicos; T2: 30 ml de deltametrina (Decis)/100L H 2 O; T3: 70g de benzimidazol (Cercobin)/100L H 2 O + 100g de isoftalonitrila (Daconil)/100L H 2 O; T4: T2 + T3; T5: 300ml de inseticida botânico a base de óleo de Neem (NeenMax)/100L H 2 O. As aplicações seguiram o calendário de aplicação preconizado para a cultura e em intervalos de sete dias a partir da primeira aplicação, sendo realizadas no período das 17h30min às 18h00min. A observação da frequência das abelhas foi obtida a partir do florescimento das plantas de melão, no período das 08h00min às 11h00min da manhã do dia das aplicações e nesse mesmo período na manhã seguinte às aplicações. Cada bloco foi observado nos 10 primeiros minutos de cada hora, sendo dois minutos para cada tratamento. Utilizou-se um observador/bloco. As variáveis observadas foram submetidas à análise de variância e teste de comparação de médias a 5% de probabilidade, com auxílio do programa estatístico SISVAR 5.1. Foi registrada a incidência de doenças nas plantas e a severidade das doenças nas folhas por meio de escala de notas de 0 a 9, descrita por Santos et al. (2005). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram observadas quatro espécies de abelhas visitando as flores do melão: Apis mellifera, Halictus sp., Plebeia sp. e Trigona spinipes. Estas espécies foram consideradas potenciais polinizadores para a cultura devido ao seu comportamento de forrageio na coleta de pólen e néctar. Entretanto T. spinipes por apresentar baixa frequência em todos os tratamentos, não terá seus dados apresentados neste trabalho. A espécie A. mellifera é a espécie de abelha utilizada na polinização do melão a nível mundial devido suas características morfológicas e comportamentais, tornando-a eficiente polinizador da cultura, além de produzir colônias populosas, possui característica cosmopolita, adaptando-se com facilidade às diversas condições ecológicas (FREITAS e PINHEIRO, 2010). Para cada momento de observação, não se verificou diferenças significativas entre tratamentos na frequência de abelhas às flores do melão, conforme Tabela 1.
4 Tabela 1 Frequência média de abelhas às flores de melão Gaúcho Casca de Carvalho, antes e após a aplicação de controle químico, Gurupi-TO. Tratamento Apis mellifera Plebeia sp. Halictus sp. antes depois antes depois antes Depois Testemunha 1,79aA 1,68aA 1,95aA 2,52aA 2,37aA 2,00aA Inseticida+Fungicida 1,89aA 1,20aB 1,95aA 2,06aA 2,10aA 1,29aB Inseticida 1,60aA 1,45aA 2,14aA 2,68aA 1,79aA 1,93aA Fungicida 1,92aA 1,22aB 2,35aA 2,04aA 2,08aA 1,37aB Inseticida Botânico 1,43aA 0,87aA 2,12aA 2,10aA 2,10aA 1,50aA Médias seguidas de letras minúsculas iguais nas colunas para cada espécie de abelha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Médias seguidas de letras maiúsculas iguais nas linhas para cada espécie de abelha, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV: Apis=59,18%; Plebeia=42,08%; Halictus=48,32% Inseticidas do grupo dos piretróides provocaram diminuição da visitação de A. melífera às flores de girassol, segundo Chambó et al. (2010). Tais compostos são tóxicos para operárias adultas dessa espécie, causando a perda de orientação do inseto, dificultando o retorno à colmeia (FREITAS e PINHEIRO, 2010). Entretanto neste estudo não foram observadas diferenças significativas na frequência das abelhas antes e após a aplicação de apenas inseticida. De acordo com Freitas e Pinheiro (2010), os efeitos de repelência dos piretróides são mais acentuados em regiões de baixas temperaturas, diferentemente das condições climáticas que ocorreram durante a execução do experimento. Neste estudo ficou evidente que os fungicidas de certa forma favoreceram a diminuição da frequência das abelhas às flores do melão, pois conforme apresentado, tanto a aplicação de apenas fungicida como a aplicação da mistura com inseticida proporcionaram este efeito. Como o inseticida aplicado isoladamente não influenciou na frequência pode-se supor que o efeito de repelência na mistura é decorrente dos fungicidas utilizados. De acordo com Freitas e Pinheiro (2010), fungicidas podem provocar efeitos tóxicos nas abelhas, sendo letais ou causando irritação e repelência nas operárias, além de grande mortalidade nas crias e deficiências no inseto adulto quando a fase larval é exposta ao produto. Em relação à incidência de doenças, observou-se apenas o cancro da haste
5 (Didymella bryoniae) expressando grau 3 de severidade em todos os tratamentos. Embora não tenham sido observadas diferenças significativas na produtividade entre os tratamentos, esta atingiu 6,5% T/ha, ficando cerca de 50% abaixo da produtividade esperada para o genótipo utilizado, que é de 12,5 T/ha. Isso demonstra que apesar dos tratamentos T3 e T4 terem sido repelentes às abelhas das espécies Apis mellifera e Halictus sp., o mesmo não ocorreu para a espécie Plebeia sp. que pode ter sido a espécie responsável pela polinização das flores nestes dois tratamentos. A baixa produtividade pode ser explicada pela severidade de D. bryoniae em todos os tratamentos e também pelo fato do desbaste de frutos não ter sido realizado. Essa quantidade excedente de frutos na planta serviu como dreno de nutrientes, diminuindo o peso médio dos frutos e consequentemente a produtividade em T/ha. LITERATURA CITADA CHAMBÓ, E. D. et al. Aplicação de inseticida e seus impactos sobre a visitação de abelhas (Apis mellifera L.) no girassol (Helianthus annuus L.) Rev. Bras. de Agroecologia, v.5, n.1, p , FREITAS, B. M.; PINHEIRO, J. N. Efeitos letais dos pesticidas agrícolas sobre polinizadores e perspectivas de manejo para os agroecossistemas brasileiros. Oecologia Australis. v.14, n.1, p , IBGE. Produção Agrícola Municipal: Quantidade produzida, Valor da produção, Área plantada e Área colhida da lavoura temporária. Disponível em <http// Acesso em: 10 maio KREMEN, C.; WILLIAMS, N.M.; THORP, R.W. Crop pollination from native bees at risk from agricultural intensification. Disponível em: Acesso em: 10 maio SANTOS G.R.; CAFÉ-FILHO A.C. Reação de genótipos de melancia ao crestamento gomoso do caule mela. Horticultura Brasileira v.23, n.2, p , AGRADECIMENTOS "O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT
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