REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA ULBRA 2004

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1 REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA ULBRA 2004

2 Reitor Ruben Eugen Becker Vice-Reitor Leandro Eugênio Becker Pró-Reitor de Administração Pedro Menegat Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Nestor Luiz João Beck Pró-Reitor de Graduação das Unidades Externas Osmar Rufatto Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Edmundo Kanan Marques DIRETORIA DE PESQUISA Nádia Schröder Pfeifer Ana Maria Pujol Vieira dos Santos Marilena França Sarmento Barata Márcia Viana das Dores Juliana da Silva Lemos ORGANIZAÇÃO Ana Maria Pujol Vieira dos Santos Marilena França Sarmento Barata Nádia Schröder Pfeifer EDITORA DA ULBRA Diretor Valter Kuchenbecker Coord. de periódicos Roger Kessler Gomes Capa Juliano Dall Agnol Projeto Gráfico Isabel Kubaski Editoração Humberto Gustavo Schwert Av. Farroupilha, Prédio 29 - Sala Bairro São José CEP: Canoas/RS Fone: (51) Fax: (51) editora@ulbra.br Imagem da capa: grãos de pólen Autoria: Laboratório de Palinologia da Ulbra Aumento 1000X. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP R454 Revista de Iniciação Científica / Universidade Luterana do Brasil. - Vol. 1, n. 1 (2002)-. - Canoas: Ed. ULBRA, v. ; 23 cm. Anual. ISSN Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero ULBRA/Canoas 2 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

3 REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA ULBRA 2004 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

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5 Índice APRESENTAÇÃO... 7 CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA Projeto Ralnet: avanços e resultados Análise palinológica e evolução ambiental da região do Banhado da Cidreira, RS, Brasil CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Distribuição espacial e ocupação de tocas do caranguejo fantasma Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) (Decapoda: Ocypodidae) na Praia do Siriú, SC Monitoramento da toxicidade genética associada aos dejetos industriais e urbanos em amostras de água do rio Caí através do Teste SMART Avaliação da atividade mutagênica e antimutagênica induzidas pelo extrato vegetal da Costus spicatus Comparação de desenvolvimento inicial do rudimento seminal em Schinus terebinthifolius Raddi e Schinus polygamus (Cav.) Cabr. (Anacardiaceae) Avaliação do efeito fotoprotetivo de Polytrichum juniperinum Hedw, Colobanthus quitensis (Kunth.) Bartl. e Deschampsia antarctica Desv. através de ensaio cometa em Helix aspersa (Müller, 1774) O emprego dos genes RAG na elucidação das relações filogenéticas de mamíferos Avaliação de sensibilidade de três sistemas para a detecção de Mycoplasma gallisepticum pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) Caracterização da concha, rádula e mandíbula de Simpulopsis (Eudioptus) sp. ocorrente no estado do Rio Grande do Sul, Brasil ENGENHARIAS Estudo de aplicação de um resíduo líquido industrial à base de alumínio como reagente coagulante CIÊNCIAS DA SAÚDE Análise dos níveis de desconforto a sons intensos em indivíduos com perda auditiva neurossensorial no laboratório de audição da ULBRA para um procedimento específico

6 Estudo sobre a prevalência de maus tratos físicos na cidade de Canoas (RS) Efeito da administração do extrato do Croton cajucara Benth em ratos normais Estudo do crescimento somático e da aptidão física relacionados à saúde em estudantes surdos das escolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre CIÊNCIAS AGRÁRIAS Desempenho da pastagem de capim tanzânia submetida a diferentes níveis de adubação nitrogenada e pastejo contínuo com novilhas Avaliação de enzimas extracelulares em isolados de Trichoderma sp CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS As teorias da finalidade da pena e o respeito às garantias fundamentais Geografia e educação ambiental nas encostas do Morro da Polícia Características da população de Santa Maria CIÊNCIAS HUMANAS Hermenêutica aplicada ao estudo da escatologia bíblica: a contribuição de Santo Agostinho no debate a respeito do milênio A necessidade da atualização para o ensino de genética Harry Potter: magia, ciência, tecnologia articuladas na literatura para a produção de uma infância/adolescência ciborgue? Psicopatologia na infância: relações entre sintomatologia da criança e vínculo com cuidadores Rindo de professores(as): um estudo do humor sobre a docência Formas kantianas da sensibilidade em sua dupla perspectiva estética LINGÜISTICA, LETRAS E ARTES Estudos surdos: uma abordagem lingüística ÍNDICE DE AUTORES NORMAS EDITORIAIS

7 Apresentação A Revista de Iniciação Científica da ULBRA que apresentamos, revela o crescimento qualitativo dos trabalhos de iniciação científica selecionados no X Salão de Iniciação Científica da ULBRA de 2004, que se constitui num espaço de convergência e irradiação do saber. A iniciação científica é um instrumento básico de formação de recursos humanos qualificados que possibilita introduzir os alunos de graduação em contato direto com a atividade científica e tecnológica e engajá-los na pesquisa. Nessa perspectiva, a iniciação científica caracteriza-se como instrumento de apoio teórico e metodológico à realização de um projeto de pesquisa. O Programa de Iniciação Científica e Tecnológica (PROICT/ULBRA) foi proposto para efetivar esse processo consistente de capacitação de recursos humanos visando estabelecer mecanismos adequados de auxílio para a formação de uma nova mentalidade no aluno, desenvolvendo nele a atitude científica, tornando-o um indivíduo preparado para ser o profissional diferenciado no mercado de trabalho. O Salão de Iniciação Científica da ULBRA, mais do que a difusão de conhecimentos, é a ampliação das relações da Universidade com a comunidade em que está inserida e aberta a outras Instituições de Ensino Superior, constituindo-se numa oportunidade única para que o estudante possa perceber o sentido do fazer científico dentro da Universidade.

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9 Ciências Exatas e da Terra

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11 Projeto Ralnet: avanços e resultados SIDCLEY DA SILVA SOARES 1 ALEX DA ROSA MEDEIROS 2 ADRIANO PETRY 3 ADRIANO ZANUZ 4 RESUMO Este trabalho apresenta os principais avanços e resultados obtidos no Projeto RALNET: Desenvolvimento e Aplicação de Tecnologias de Reconhecimento Automático de Locutor para Autenticação de Usuários em Redes de Computadores, desenvolvido junto ao laboratório de Redes e Hardware da Universidade Luterana do Brasil, com apoio do CNPq. Palavras-chave: reconhecimento de locutor, criptografia, redes de computadores, autenticação de usuários, processamento de voz. ABSTRACT This work presents the main results and advances obtained with RALNET Project: Development and Application of Automatic Speaker Recognition Technologies for User Authentication in Computer Networks, developed in Networks and Hardware Laboratory of Universidade Luterana do Brasil, with sponsor of CNPq. Key words: speaker recognition, cryptography, computer networks, user authentication, speech processing. 1 Acadêmico do Curso de Ciência da Computação/ULBRA Bolsista do CNPq 2 Acadêmico do Curso de Ciência da Computação/ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA 3 Professor Orientador do Curso de Ciência da Computação/ULBRA (adpetry@ulbra.tche.br) 4 Professor do Curso de Ciência da Computação/ULBRA Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

12 INTRODUÇÃO Uma das técnicas mais utilizadas para garantir a segurança de transações em redes de computadores envolve a identificação e a autenticação de usuários. A identificação e a autenticação são os processos de reconhecimento e de verificação da identidade de usuários válidos. Uma nova forma de identificação e autenticação de pessoas pode ser realizada através da análise de sua voz. Desse modo, técnicas de Reconhecimento Automático de Locutor (RAL) podem ser utilizadas para validar a identidade de um usuário através de uma medida biométrica vocal. Como o sinal de voz gerado por uma pessoa nunca será igual a outro já gerado, o sistema de verificação vocal será capaz de identificar tentativas de fraude, caso a senha vocal apresentada para análise seja coincidente com outra já utilizada. A utilização de senhas vocais aumentará a confiabilidade do sistema como um todo, possibilitando a implementação prática de uma autenticação robusta. A Internet é uma rede de alcance mundial de computadores que utiliza o protocolo TCP/ IP para suas comunicações. O uso dessa rede fornece uma série de benefícios em termos de aumento ao acesso à informação para diversos tipos de instituições (educacionais, governamentais, comerciais, etc.). Porém, o acesso a redes de computadores apresenta diversos problemas significativos relacionados à segurança. Os problemas inerentes do protocolo TCP/IP, a complexidade da configuração de servidores, as vulnerabilidades introduzidas no processo de desenvolvimento de software e uma variedade de outros fatores tem contribuído para tornar computadores despreparados abertos à ataques de intrusos. O projeto RALNET: Desenvolvimento e Aplicação de Tecnologias para Reconhecimento Automático de Locutor em para Autenticação de Usuários em Redes de Computadores, vem sendo desenvolvido junto ao Laboratório de Redes e Hardware da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Dentre os objetivos propostos nesse projeto, salientam-se o estudo de tecnologias de RAL aplicáveis em sistemas de segurança de redes de computadores, o planejamento de um sistema capaz de integrar as tecnologias de RAL e sistemas para transações pela Internet, e a construção e validação de um protótipo capaz de efetivamente utilizar tais tecnologias e efetuar a autenticação por voz de usuários localizados remotamente. Este trabalho apresenta os resultados já alcançados no projeto, assim como o desenvolvimento técnico obtido. MATERIAL E MÉTODOS A autenticação de usuários em sistemas digitais quaisquer pode apresentar diferentes graus de confiabilidade. Inicialmente, podemos imaginar sistemas onde o usuário é autenticado utilizando uma informação secreta de seu conhecimento (senha). Esse tipo de sistema apresenta vulnerabilidades relacionadas ao roubo da informação secreta. Isso muitas vezes acontece através da utilização de programas que recebem todas informações inseridas no sistema e as enviam para seu criador. Outras vezes, as pessoas escolhem senhas que podem ser mais facilmente descobertas, como data de nascimento, seu próprio nome, etc. Nesses casos, tentativas sistemáticas de acesso poderão resultar na descoberta dessas senhas. 12 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

13 Outra forma de tentar dificultar a ação de fraudadores é a utilização de elementos físicos para permissão do acesso a sistemas. Muitas vezes, os elementos utilizados são cartões magnéticos que armazenam informações do usuário. Assim, para que um intruso consiga acesso ao sistema ele necessariamente deverá roubar o cartão magnético da vítima. A fim de aumentar ainda mais a confiabilidade de sistemas que utilizam dispositivos físicos de acesso, por vezes esse tipo de segurança é combinado com a necessidade de conhecimento de uma senha secreta. Assim, um sistema que exige uma informação que apenas o usuário saiba associado a um dispositivo físico que apenas o usuário possua, garante uma maior confiabilidade ao sistema. Esse tipo de proteção atualmente é adotado em muitos sistemas que exigem um certo grau de segurança, como o sistema bancário. Ainda assim, esses sistemas podem ser fraudados pelo extravio do dispositivo de acesso e a descoberta da senha secreta. Em um terceiro nível de segurança, podemos imaginar um sistema que não requeira informação secreta do usuário (que pode ser descoberta), nem mesmo a posse de um cartão magnético (que pode ser roubado), mas forneça o acesso ao usuário apenas se ele puder provar que ele é realmente o usuário com direito de acesso, através de uma medição biométrica. A possibilidade de utilização de técnicas para RAL em sistemas reais é uma das grandes motivações dos trabalhos desenvolvidos na área. Outras técnicas também poderiam ser utilizadas para a confirmação automática da identidade de uma pessoa através de medidas biométricas, sem intervenção humana. Alguns exemplos são o reconhecimento da íris, reconhecimento de face, análise da impressão digital, verificação das características geométricas da mão, avaliação da forma do caminhar, análise da assinatura, etc. Por outro lado, a autenticação biométrica através da voz possui várias vantagens intrínsecas, quando comparadas às outras técnicas biométricas, como: - Facilmente adquirida, sem a necessidade de hardware específico. Apenas um microfone de custo reduzido é capaz de adquirir a voz do locutor com precisão. - Não intrusiva, isto é, não existe a necessidade de contato físico do usuário com o sistema de captação da voz. - Natural e de fácil aceitação. As maioria das pessoas se comunicam através da voz, que é um método extremamente difundido e utilizado, excetuando-se as pessoas com necessidades específicas. - Não requer treinamento, ou seja, os usuários podem ser autenticados sem que necessitem aprender a lidar com o sistema. - Pode ser facilmente utilizada em redes telefônicas, permitindo a autenticação remota, sem a necessidade de qualquer equipamento extra, uma vez que o próprio aparelho telefônico já possui o transdutor para a captação do sinal de voz. Pode-se identificar muitas aplicações práticas para os sistemas de RAL. De uma forma geral, os sistemas de autenticação de usuários através de senhas ou cartões poderiam ser substituídos por (ou agregados a) sistemas de RAL, estabelecendo-se uma confiabilidade superior. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

14 SISTEMA PROPOSTO O sistema construído funciona através de uma arquitetura cliente-servidor. O lado servidor conta com o acesso a um banco de dados para armazenamento e consulta de informações de usuários e padrões vocais. Além disso, a geração dos padrões de voz e a autenticação das informações extraídas a partir do sinal de voz do usuário é realizada também no lado servidor. A comunicação se dá através da Internet, utilizando técnicas de criptografia para troca de dados. No lado cliente, a interação com o usuário e captura do sinal de voz se dá pela manipulação de uma placa de som comum, que deverá estar presente no computador cliente. Parte do processamento digital do sinal de voz é realizado já no lado cliente, que envia apenas as informações extraídas a partir do sinal de voz, reduzindo assim o tráfego da rede e a carga de processamento no computador servidor. A figura 1 ilustra os principais blocos constituintes do protótipo desenvolvido, que são detalhados a seguir. Figura 1 - Ilustração da arquitetura utilizada na construção do protótipo de autenticação remota por voz. A linguagem de programação Java foi adotada para a construção do protótipo por oferecer recursos poderosos de programação para comunicação entre computadores, além de suportar diversas arquiteturas de hardware e sistemas operacionais. O ambiente de desenvolvimento utilizado foi o NetBeans IDE 3.5.1, com o kit de desenvolvimento Java 2 SDK standard edition versão Apenas a biblioteca de processamento de voz foi implementada utilizando uma linguagem de programação diferente, a linguagem C++, através da ferramenta Visual Studio 6.0. Essa escolha foi feita principalmente pela maior velocidade de processamento oferecida e possibilidade de reutilização de código já construído ao longo de trabalhos anteriores (PETRY, 2002). O acesso à base de dados foi feito através de Java Database Connectivity (JDBC), utilizando um servidor de banco de dados MySQL (HORSTMANN & CORNELL, 2001). TÉCNICAS PARA RAL EM UMA ARQUITETURA CLIENTE-SERVIDOR As técnicas empregadas para o RAL são objeto de estudos e aperfeiçoamentos de pesquisadores há vários anos. Atualmente os algoritmos dis- 14 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

15 poníveis oferecem taxas de reconhecimento elevadas, permitindo a construção de sistemas bastante confiáveis. Um sistema para RAL é composto basicamente pelas etapas de treinamento e reconhecimento. A etapa de treinamento normalmente é realizada antes de se tentar reconhecer qualquer amostra de voz. Essa etapa abrange a aquisição do sinal vocal dos locutores que serão cadastrados no sistema, extração de informações úteis dessas amostras, geração dos padrões de voz que serão utilizados como referência na etapa de reconhecimento e identificação dos limiares de similaridade associados aos padrões gerados, para o caso de verificação de locutor. A etapa de reconhecimento ou autenticação abrange a aquisição do sinal de voz que será avaliado, extração de informações úteis e comparação dessas informações com os padrões gerados na etapa anterior. Nesse momento, o limiar de similaridade indicará se a identidade foi ou não aceita. A figura 2 ilustra as etapas de treinamento e reconhecimento para um sistema genérico de RAL. Figura 2 - Ilustração das etapas de treinamento e reconhecimento para um sistema genérico de RAL. Neste trabalho, o processamento dos sinais de voz foi feito de acordo com resultados obtidos a partir de diversos experimentos práticos, que também são similares a vários outros trabalhos dos autores na área (PETRY, ZANUZ & BARONE, 1999; PETRY, 2002; PETRY & BARONE, 2002; PETRY & BARONE, 2003). Os algoritmos foram implementados utilizando a linguagem de programação C++, objetivando principalmente a redução no tempo de processamento requerido. Eles foram disponibilizados ao programa principal (escrito em linguagem Java) através de uma biblioteca de vínculo dinâmico. No sistema proposto, as amostras de voz utilizadas são gravadas a uma freqüência de amostragem de 8000 Hz, com resolução de 16 bits por amostra em apenas um canal (mono). A seguir, um filtro digital de pré-ênfase com resposta em freqüência de +6 db/oitava é aplicado ao sinal de forma a atenuar as componentes em baixa freqüência, nivelando o espectro do sinal. Posteriormente o sinal é dividido em janelas de curta duração, dentro das quais o sinal de voz pode ser considerado estacionário. As janelas do tipo hamming foram utilizadas com duração de 45 ms. Essas janelas são sobrepostas, sendo aplicadas a cada 10 ms do sinal de voz, de forma a suavizar a Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

16 extração das informações. As janelas de voz que contiverem apenas silêncio são descartadas, baseado na análise da energia do sinal contido na janela. A partir de cada janela de voz são extraídos 16 coeficiente mel-cepstrais e 16 coeficientes delta mel-cepstrais, que serão utilizados para a caracterização do locutor. Os procedimentos de aquisição da voz, pré-ênfase e extração de informações úteis são detalhados em diversos trabalhos, como em (DELLER, PROAKIS & HANSEN, 1987; RABINER & JUANG, 1993). O classificador utilizado é baseado em modelos de mistura de gaussianas (GMM), tendo sido empregadas 80 gaussianas adaptadas a partir de um modelo universal (UBM) para representação de cada padrão de voz. Maiores detalhes relativamente à implementação das técnicas empregadas na classificação podem ser obtidos em (REYNOLDS, QUATIERI & DUNN, 2000; PETRY & BARONE, 2003). Ao se trabalhar com uma arquitetura cliente-servidor, é importante definir-se onde será realizado o processamento da voz adquirida no computador cliente. É possível transmitir-se todo o sinal de voz adquirido para o computador servidor. Entretanto, essa alternativa imporia um alto tráfego na rede, uma vez que os dados brutos de voz ocupam muitos bytes. Por exemplo, um sistema de cadastramento de um usuário que requerer 12 repetições de uma senha vocal composta de 5 dígitos, como sugerido em (CHIRILLO & BLAUL, 2003) em um produto comercialmente disponível, pode facilmente obter um minuto de fala. Se os dados brutos forem gravados a uma taxa de amostragem de 8000 Hz, 16 bits por amostra em apenas um canal, o espaço ocupado pelo sinal completo chegaria próximo a 1 MB. Além disso, o processamento de todo esse sinal (préênfase, janelamento, extração de informações e geração do padrão de voz) seria realizado no computador servidor, elevando a carga de processamento requerida. Por outro lado, se a geração completa do padrão de voz fosse feita no computador cliente, que então enviaria ao servidor apenas o padrão gerado, poderiam haver sérios problemas relativos à segurança, como o envio de um padrão não confiável. Isso porque o computador cliente disporia dos algoritmos utilizados e dos padrões gerados, que poderiam ser utilizados para testes de padrões de autenticação, visando a quebra da segurança imposta pelo sistema. A situação seria pior se a fase de autenticação também fosse feita no computador cliente. Uma autenticação negativa poderia ser facilmente desprezada através de poucas mudanças no código do sistema. Assim, é importante que o computador servidor não sirva apenas como um repositório de padrões de voz e receptor de uma decisão sobre autenticação tomada em outro lugar, mas que o padrão de voz em si seja gerado assim como a comparação de padrões na autenticação sejam feitos lá. No sistema proposto, as etapas de aquisição da voz, pré-ênfase, janelamento e extração de informações são realizadas no computador cliente, tanto no treinamento quanto no reconhecimento. Apenas as informações úteis extraídas são enviadas ao computador servidor, que gera o padrão de voz na fase de treinamento ou autentica o usuário, liberando o acesso a algum serviço restrito, na fase de reconhecimento. BASE DE DADOS Visando uma ágil e robusta forma para o armazenamento e consulta das informações utilizadas no sistema proposto, foi construído um banco 16 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

17 de dados para armazenar os padrões de voz e informações do usuário, assim como um conjunto de dados relativos à utilização do sistema, tais como: Internet Protocol (IP) do computador cliente, data de conexão, ações tomadas pelo cliente durante o decorrer da conexão. Foram utilizadas as tecnologias de acesso à base de dados Java Database Connectivity (JDBC) e servidor de banco de dados MySQL (HORSTMANN & CORNELL, 2001). Deve-se salientar que o sistema proposto não está atrelado a nenhum banco de dados específico, visto que é disponibilizada na aplicação servidora a opção de conexão com os servidores de banco de dados mais utilizados atualmente no mercado. Informações como nome de usuário, padrões de voz, informações sobre aquisição da voz e extração de informações úteis, e a data em que o último padrão de voz foi atualizado são guardados na tabela Users. A Tabela Historic armazena informações a respeito de conexões realizadas por cada um dos usuários da aplicação. São armazenadas as informações que identificam o usuário, o IP do computador cliente, a data de conexão e as informações úteis extraídas a partir da voz do usuário. Esses dados podem ser usados para uma possível avaliação futura de desempenho do sistema. COMUNICAÇÃO A possibilidade de dispor de uma comunicação segura é de importância fundamental para qualquer sistema de autenticação. A partir do estabelecimento da comunicação segura, todo o tráfego de informações entre o computador cliente e servidor deve ser realizado utilizando técnicas criptográficas para garantir o sigilo e a integridade dos dados. Neste projeto, optou-se por utilizar um algoritmo de chave única para cifrar e decifrar os dados, o Data Encryption Standard (DES) (SCHNEIER, 1996; TANENBAUM, 1997; STALLINGS, 1999). Um dos fatores que contribuiu para a escolha desse algoritmo refere-se à disponibilidade do cifrador junto ao kit de desenvolvimento utilizado (Java 2 SDK standard edition versão 1.4.1). Outro fator importante diz respeito à rapidez de execução do DES na cifragem e decifragem, quando comparado com algoritmos de chave assimétrica. O desafio para a perfeita utilização de algoritmos de chave única foca na troca segura da chave criptográfica entre os computadores cliente e servidor. Uma vez que inicialmente a comunicação segura ainda não existe enquanto a chave não é conhecida pelo lado cliente e pelo lado servidor, deve-se buscar meios para que ambos lados conheçam a chave que será utilizada. O envio em aberto de uma chave pode ser interceptado, invalidando assim toda a segurança da comunicação. Para resolver o problema de definição de uma mesma chave criptográfica no computador cliente e servidor, sem ter que envia-la de forma não segura, foi implementado o protocolo mostrado na figura 3. Nesse protocolo, foram utilizadas classes que tratam especificamente da parte de criptografia - classes CriptoClient e CriptoServer - e classes utilizadas no gerenciamento da aplicação e comunicação via Transmission Control Protocol (TCP) - classes Cliente e Servidor. Inicialmente, o computador cliente solicita uma conexão ao computador servidor, que estabelece a conexão. A partir de então, o computador cliente gera um par de chaves assimétricas, utilizando o algoritmo Diffie-Hellman com extensão de 1024 bits (SCHNEIER, 1996), enviando para o servidor apenas a chave pública. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

18 Da mesma forma, o computador servidor gera um par de chaves assimétricas e envia ao cliente sua chave pública. Nesse momento, tanto o lado cliente quanto o lado servidor possuem seu par de chaves assimétricas, e a chave pública do outro lado. O lado cliente gera então uma informação (segredo) utilizando sua própria chave privada (de conhecimento exclusivo e nunca transmitida) e a chave pública do computador servidor. A seguir o cliente envia ao servidor o tamanho do segredo gerado. O mesmo segredo gerado no cliente pode ser agora gerado no lado servidor. Isso é feito utilizando a chave pública do computador cliente, a chave privada do servidor (de conhecimento exclusivo e nunca transmitida) e sabendo-se o tamanho do segredo que deve ser gerado. Dessa forma, ambos lados cliente e servidor compartilham o mesmo segredo (utilizado como chave de extensão de 56 bits para o algoritmo DES), que foi gerado utilizando dados nunca transmitidos (chave privada). Figura 3 - Protocolo para estabelecimento de chave criptográfica. APLICAÇÃO CLIENTE E SERVIDOR As técnicas apresentadas devem ser utilizadas de acordo com a evolução da interação entre o computador cliente e servidor. Assim, foram desenvolvidas as chamadas aplicação cliente e aplicação servidora. Elas são responsáveis basicamente por implementar um protocolo de comunicação previamente definido para que se possa efetivamente realizar um cadastramento ou autenticação por voz. Além disso, devem ser capazes de utilizar os outros módulos disponíveis para acessar a base de dados, processar sinais de voz, comunicar-se com o outro lado de forma segura e interagir com o usuário a fim de adquirir amostras de sua voz. A aplicação cliente e a aplicação servidora também são responsáveis pela interação com o usuário através de interface gráfica. Na janela construída para o lado cliente é possível: configurar parâmetros 18 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

19 como nome do usuário que utiliza o sistema, definir se será realizado um cadastramento ou autenticação, inserir dados sobre o computador servidor e ajustar controles de áudio. DISCUSSÕES Após a construção do protótipo foram conduzidos alguns testes iniciais para averiguação do perfeito funcionamento e possível correção de problemas. Os experimentos realizados foram executados inicialmente apenas entre os pesquisadores envolvidos na construção do sistema. Um dos fatores críticos que foi identificado refere-se a parte de aquisição do sinal de voz no computador cliente. Ficou clara a dificuldade que poderá surgir se não houver uma prévia calibração dos recursos de áudio no computador cliente. Coisas como ajuste automático do volume de gravação do microfone, desabilitação de qualquer dispositivo de reprodução durante a gravação da voz, e uma clara orientação ao usuário para o momento exato que deverá iniciar sua fala, poderão facilmente resultar na má utilização do sistema. Várias dessas características já foram incorporadas ao protótipo desenvolvido, mas acredita-se ser possível facilitar ainda mais a utilização do sistema em estudos futuros. Outra questão que deve ser levada em consideração refere-se às brechas de segurança que esse tipo de sistema pode apresentar. Pode-se imaginar que a pré-gravação da voz de uma pessoa e sua reprodução para o sistema de RAL possa acarretar a aceitação incorreta de impostores. Isso é especialmente verdade com a utilização de recursos de gravação e reprodução sofisticados. Os sistemas para RAL pouco podem fazer contra esse tipo de erro. Os métodos mais eficientes que se pode conceber seriam uma vigilância permanente do dispositivo de aquisição de voz, ou o sistema requerer uma palavra pseudo-aleatória específica. Uma vigilância permanente, a fim de garantir que aparelhos de reprodução sonora não sejam utilizados, normalmente não é algo desejado em um sistema. Para o aspecto de o sistema requerer uma palavra pseudo-aleatória, palavras diferentes da requerida apresentariam um valor superior de distorção, impedindo uma falsa aceitação. O fato de a palavra ser pseudo-aleatória dificulta o sucesso de uma prégravação (PETRY, 2002). CONCLUSÕES Este trabalho apresentou os avanços obtidos no projeto RALNET, que resultaram em um protótipo desenvolvido para autenticação de usuários por voz em redes de computadores. O funcionamento geral do sistema construído foi descrito, assim como foram detalhados seus principais blocos constituintes. Diversos desafios foram encontrados ao longo do desenvolvimento deste protótipo, relacionados a problemas específicos de construção de alguma parte ou integração e teste do sistema completo. O protótipo construído deve servir apenas como intermediador para acesso a algum serviço remoto, como por exemplo comércio eletrônico, internet banking ou acesso a s. Assim, deve haver uma preocupação também sobre formas para disponibilizar tal serviço com segurança. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro disponibilizado dentro do programa CT-INFO. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHIRILLO, J. ; BLAUL, S. Implementing Biometric Security. Wiley Publishing Inc., DELLER, J. R.; PROAKIS J. G.; HANSEN, J. H. L. Discrete-time Processing of Speech Signals. Prentice-Hall Inc., HORSTMANN, C. S.; CORNELL, G. Core Java 2: Recursos Avançados. Makron Books, PETRY, A.; ZANUZ, A.; BARONE, D. A. C. Utilização de Técnicas de Processamento Digital de Sinais para a Identificação Automática de Pessoas pela Voz. In: SIMPÓSIO SO- BRE SEGURANÇA EM INFORMÁTICA, São José dos Campos, Anais... São José dos Campos: ITA, PETRY, A. Reconhecimento Automático de Locutor Utilizando Medidas de Invariantes Dinâmicas Não-Lineares, Tese (Doutorado em Informática) - Instituto de Informática, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, PETRY, A.; BARONE, D. A. C. Speaker Identification Using Nonlinear Dynamical Features. Chaos Solitons and Fractals, v. 13, p , PETRY, A. ; BARONE, D. A. C. Preliminary Experiments in Speaker Verification using Time-dependent Largest Lyapunov Exponents. Computer Speech and Language, v. 17, p , RABINER, L. ; JUANG, B. Fundamentals of Speech Recognition. Prentice-Hall Inc., REYNOLDS, D. A.; QUATIERI, T. F.; DUNN, R. B. Speaker Verification Using Adapted Gaussian Mixture Models. Digital Signal Processing, v. 10, p , SCHNEIER, B. Applied Cryptography: Protocols, Algorithms, and Source Code in C.John Wiley & Sons Inc., STALLINGS, W. Cryptography and Network Security: Principles and Pratice. Prentice-Hall Inc., TANENBAUM, A. S. Redes de Computadores. Editora Campus Ltda, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

21 Análise palinológica e evolução ambiental da região do Banhado da Cidreira, RS, Brasil RENATO BACKES MACEDO 1 RODRIGO RODRIGUES CANCELLI 1 SORAIA GIRARDI BAUERMANN 2 PAULO CÉSAR PEREIRA DAS NEVES 3 SÉRGIO AUGUSTO DE LORETO BORDIGNON 4 RESUMO Com objetivo de implementar estudos em Palinologia de Quaternário para a Planície Costeira do Estado do Rio Grande do Sul, foram realizadas análises palinológicas qualitativas e quantitativas em um perfil sedimentar, evidenciando as principais mudanças ocorridas na vegetação em tempos pretéritos na região do Banhado da Cidreira, município de Osório, Estado do Rio Grande do Sul. Os dados palinológicos foram tratados estatisticamente, resultando na produção de diagramas de porcentagem no qual constituem as bases das interpretações paleovegetacionais e paleoambientais. Estas análises permitiram estabelecer três zonas palinológicas distintas atestando a comaltação do ambiente e a diminuição da diversidade das espécies na região. Palavras-chave: quaternário, palinologia, mudanças paleoambientais. 1 Acadêmico do Curso de Biologia/ULBRA - Bolsista PROICT/ ULBRA 2 Professor - Orientador do Curso de Biologia/ULBRA (soraiab@ulbra.br) 3 Professor do Curso de Química/ULBRA 4 Professor do Curso de Biologia/ULBRA Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

22 ABSTRACT In order to implement the Quartenary Palynology studies of Coastal Plain of Rio Grande do Sul State, southern Brazil, qualitative and quantitative palynological analysis were realized in a sedimentary profile, evidencing the major changes in the past time of the vegetation, Banhado da Cidreira region, Osório county in the Rio Grande do Sul State. Palynological data were statisticaly treated, resulting in percentual diagrams which consists the base of the palaeovegetational and palaeoenvironmental interpretations. These analysis allowed to establishment three palinological distincts zones describing the vegetational colmatation and verifying the reduction of the species diversity of the region. Key words: quaternary, palynology, palaeoenvironmental changes. INTRODUÇÃO As pesquisas em Palinologia de Quaternário são possíveis uma vez que os grãos de pólen e esporos preservam características morfológicas típicas quando depositados em ambientes sedimentares apropriados que lhes permitem a fossilização. Conseqüentemente, tendem a refletir a vegetação ao redor do mesmo e através de comparações com a botânica atual permitem averiguar as variações ocorridas nas comunidades vegetacionais. Os melhores sedimentos para realizar estas pesquisas são os lamosos, visto que, em condições redutoras e acidificantes tornam-se excelentes ferramentas de trabalho permitindo a realização das análises dos palinomorfos em nível de família, gênero ou em alguns casos espécie. Estudos palinológicos foram anteriormente realizados na Planície Costeira do Rio Grande do Sul nas localidades de Terra de Areia (NE- VES & LORSCHEITER 1995), Capão do Leão (NEVES 1998), Águas Claras e Barrocadas (BAUERMANN 2003). O trabalho objetiva fornecer através das análises palinológicas, qualitativas e quantitativas, evidências das principais mudanças paleoambientais e paleoclimáticas ocorridas na região, bem como, correlacionar os resultados com outros estudos realizados na Planície Costeira. ÁREA ESTUDADA Localização A área estudada situa-se na Planície Costeira Norte do Rio Grande do Sul, na localidade de Passinhos, ( S ; 50º W), município de Osório, entre a Lagoa do Índio e o Banhado da Cidreira e dista aproximadamente 112 km da capital do Estado (Figura 1). 22 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

23 Figura 1 - Localização da turfeira de Passinhos. Caracterização da Vegetação O inventário florístico da vegetação é o resultado de cinco coletas realizadas em diferentes épocas do ano de 2003 (março, julho e outubro) e 2004 (junho e setembro). As plantas foram identificas in loco ou, posteriormente, no laboratório com auxílio de lupa e literatura especializada; as exsicatas encontram-se catalogadas e depositadas no Herbário da Universidade Luterana do Brasil (HERULBRA). O levantamento resultou em um total de 139 espécies pertencentes a 57 diferentes famílias botânicas, destacandose dentre elas Asteraceae (29), Poaceae (10), Cyperaceae (8) e Melastomataceae (7). A vegetação de banhado e de mata de restinga paludosa que, antes provavelmente abrangiam uma vasta área, encontra-se, atualmente, extremamente reduzida e alterada. Dentre os elementos característicos da mata de restinga paludosa ocorrem ainda no local Alchornea triplinervia (Euphorbiaceae), Psidium clattleyanum (Myrtaceae), Ocotea pulchella (Lauraceae), Ilex pseudobuxus (Aquifoliaceae), Myrsine lorentziana (Myrsinaceae) e Syagrus romanzoffiana (Arecaceae); espécies típicas de banhado Tibouchina trichopoda (Melastomataceae), Eryngium pandanifolium (Apiaceae), Senecio bonariensis (Asteraceae), Sacciolepis campestris (Poaceae), Eriocaulon magnificum (Eriocaulaceae), Mayaca fluviatilis e M. sellowiana (Mayacaceae), Ludwigia cf. sericea (Onagraceae), Potamogeton cf. ferrugineus (Potamogetonaceae), Xyris sp. (Xyridaceae), Boehmeria cylindrica (Urticaceae) e Sphagnum sp. (Sphagnaceae). Nas partes onde houve maior drenagem e que, atualmente, servem como área de criação de animais domésticos sendo que provavelmente já tenham sido lavoura, encontram-se inúmeras espécies ruderais destacando-se entre elas: Urtica circularis (Urticaceae), Solanum americanum, (Solanaceae), Hyptis brevipes (Lamiaceae), Sida rhombifolia (Malvaceae), Stellaria media (Caryophyllaceae), Galinsoga parviflora (Asteraceae). Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

24 Próximo ao ambiente paludial são encontradas ainda várias espécies sob cultivo em horta e pomar salientando-se Musa sp.(musaceae), Citrus spp. (Rutaceae) e Persea americana (Lauraceae) e, como quebra-vento, Bambusa tuldoides (Poaceae). MATERIAL E MÉTODOS Foram coletadas amostras de uma turfeira da região do Banhado da Cidreira, tendo ponto de coleta as coordenadas ( S ; W). O material sedimentar foi coletado com aparelho Hiller, atingindo a profundidade de 2,30 m. Foi utilizado 1cm 3 de sedimento fresco para cada amostra, totalizando 46 amostras extraídas em intervalos de 5 cm cada e processadas física e quimicamente seguindo a metodologia de Faegri & Iversen (1989). Para a confecção das lâminas palinológicas utilizou-se como meio de montagem gelatina glicerinada. As análises palinológicas foram realizadas em microscopia óptica sob aumentos de 400 X e/ou 1000 X em microscópio Leica DMLB e os palinomorfos fotografados em máquina digital Sony Cyber-Shot P-92. As imagens digitalizadas foram tratadas através do programa PHOTOSHOP 6.0. Com os dados obtidos através de análises qualitativas e quantitativas, foram elaborados os diagramas palinológicos de porcentagem através dos programas TILIA, TILIAGRAPHIC e TILIAVIEW GRIMM (1987). Aos níveis de base e topo da turfeira foi aplicado teste t - Student para verificar as possíveis diferenças estatísticas entre estas respectivas amostras. A apresentação dos resultados nos gráficos polínicos segue a seguinte ordem: árvores, ervas e arbusto, macrófitos aquáticos, pteridófitos, briófitos, fungos, algas, elementos marinhos, fitoclastos e zooclastos. Na montagem dos diagramas palinológicos foram considerados todos os palinomorfos identificados durante as análises polínicas e distribuídos conforme seus hábitos e/ou hábitat. RESULTADOS Análise qualitativa Através das análises palinológicas foram identificados 94 palinomorfos distribuídos nos seguintes grupos: fitoclastos, dois zooclastos, oito algas, quatro fungos, dois briófitos, oito pteridófitos, duas gimnospermas e 67 angiospermas todos já citados para a Planície Costeira do Rio Grande do Sul. (Quadro 1). Descrição das zonas palinológicas As mudanças paleoflorísticas evidenciadas nos conjuntos polínicos, através das análises dos palinomorfos, ao longo do perfil sedimentar permitiram estabelecer três zonas palinológicas (Figura 2). 24 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

25 Figura 2. Diagrama palinológico de porcentagem. Zona P - I Profundidade: 2,30 a 1,90 m A zona P-I foi caracterizada pelo predomínio das formações campestres, destacando-se palinomorfos correspondentes a Poaceae, Cyperaceae, Asteraceae, Valeriana, Eryngium, seguidos de Gomphrena e tipo Xyris, Plantago. Foram ainda registrados palinomorfos de Apiaceae, Caryophyllaceae, Cuphea, Lamiaceae, Oxalis, Polygalaceae, Polygonum, tipo Amaranthus/ Chenopodiaceae, tipo Borreria, tipo Pouteria, tipo Rubiaceae e tipo Trixis. Dentre os elementos arbóreos, todos com baixa representação, pode-se salientar Melastomataceae, Myrtaceae e Alchornea, seguidos de Anacardiaceae. Foram ainda verificados registros de Araucaria, Arecaceae, Celtis, Euphorbiaceae, Fabaceae, Ilex, Mimosaceae, Mimosa série Lepidotae, Podocarpus e tipo Bromeliaceae. Com relação aos demais conjuntos polínicos, destacam-se os macrófitos aquáticos (em especial Myryophyllum aquaticum) o que indica a presença de um corpo de águas lóticas. Os fungos, ao longo desta zona, tiveram expansão na sua representatividade à medida que os grãos de pólen dos macrófitos aquáticos foram reduzindo. Zona P - II Profundidade: 1,90 a 0,65 m A zona P-II apresentou predomínio dos elementos herbáceos sobre os demais destacandose Poaceae, Cyperaceae, Asteraceae, Valeriana, Eryngium, seguidos de Gomphrena e tipo Xyris, Plantago. Foram ainda registrados Apiaceae, Caryophyllaceae, Cuphea, Lamiaceae, Oxalis, Polygalaceae, Polygonum, tipo Amaranthus/ Chenopodiaceae, tipo Borreria, tipo Pouteria, tipo Rubiaceae e tipo Trixis. Nesta zona ocorre o surgimento de grãos de pólen dos elementos herbáceos relacionados a Acanthaceae, Fabaceae/ Cajanus, Scrophulariaceae, tipo Baccharis, tipo Cruciferae, tipo Iridaceae e tipo Senecio. Os elementos arbóreos tiveram nesta zona uma expansão dentre os quais sobressaem Melastomataceae, Alchornea, Euphorbiaceae, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

26 Myrtaceae e Myrsine. Houve, também, um aumento de diversidade com o surgimento de Bignoniaceae, Chrysophyllum, Meliaceae, Moraceae/Urticaceae, Papilionaceae, Sapium, tipo Convolvulaceae e Weimannia. Foi verificada uma redução acentuada na taxa de porcentagem e diversidade dos macrófitos aquáticos, e o aumento expressivo de pteridófitos, briófitos e de algas os quais no seu conjunto atestam a colmatação do paleoambiente. Zona P - III Profundidade: 0,65 a 0,0 m Na zona P-III, constatou-se a mesma fitofisionomia das zonas anteriores, ou seja, grandes formações campestres entremeadas por manchas de mata. A diversidade dos campos, ainda aumentou devido ao aparecimento de elementos herbáceos como Croton e tipo Liguliflorae. Os elementos arbóreos continuam em ascensão, favorecidos pelas novas condições paleoambientais, aumentando sua taxa de porcentagem e de diversidade constatada através de novos registros fósseis como Ulmaceae. As análises dos demais palinomorfos mostraram os macrófitos aquáticos gradativamente em decréscimo, em contra partida, nesta zona evidencia-se o representativo aumento na taxa de porcentagem dos fungos os quais estão associados com a expansão dos táxons arbóreos. CONSIDERAÇÕES FINAIS As análises palinológicas dos dados obtidos revelaram predomínio dos elementos herbáceos sobre os arbóreos/arbustivos ao longo de todo o testemunho. Portanto, a paisagem vegetacional da região esteve sempre constituída por extensas áreas de campo com manchas de mata. A grande ocorrência de táxons compreendendo os elementos aquáticos nos níveis de base refletem uma paisagem com volume de água maior que os níveis intermediários e o topo da turfeira. A sucessão vegetacional ao longo do testemunho de sondagem mostrou o desenvolvimento de táxons de elementos arbóreos, briófitos e pteridófitos enquanto os elementos aquáticos e palustres decrescem evidenciando a colmatação desse ambiente. Análises estatísticas aplicadas com teste t - Student entre os níveis de base e topo da turfeira, mostraram diferenças significativas na composição florística das formações campestres, onde a diversidade paleoflorística entre os táxons herbáceos (Asteraceae, Cyperaceae, Eryngium, Gomphrena, Plantago e Valeriana), era maior em tempos pretéritos do que na atualidade. As formações florestais não apresentaram diferenças significativas entre seus elementos constituintes, embora a quantidade dos táxons arbóreos tenham aumentado gradativamente. O impacto da ação antrópica na região é evidenciado através da homogeneização da vegetação atual que, embora apresente a mesma fitofisionomia da zona P-I, possui menor diversidade florística. 26 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

27 Quadro 1 - Principais palinomorfos encontrados na turfeira de Passinhos. a-poaceae; b-asteraceae (vista equatorial); c-cyperaceae; d-eryngium (vista equatorial); e-gomphrena; f-ilex (vista polar); g-celtis; h-myrtaceae (vista polar); i-alchornea (vista equatorial). AGRADECIMENTOS À acadêmica Millene Borges Coelho, do curso de Biologia, por sua colaboração nas análises palinológicas preliminares. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUERMANN, S. G. Análises palinológicas e evolução paleovegetacional e paleoambiental das turfeiras de Barrocadas e Águas Claras, Planície Costeira do Rio Grande do Sul, Brasil f. Tese (Doutorado em Geociências) Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, FAEGRI, K.; IVERSEN, J. Textbook of pollen analysis. New York: Hafner Pub., p. GRIMM, E. C. CONISS: a fortran 77 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

28 program for stratigraphically constrained cluster analysis by the method of the incremental sum of the squares. Pergamon Journal, v.13, p , NEVES, P. C. P. das. Palinologia de sedimentos quaternários no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil: Guaíba e Capão de Leão f Tese (Doutorado em Geociências) - Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, NEVES, P. C. P. das; LORSCHEITTER, M. L. Upper Quaternary in the Northern Coastal Plain of Rio Grande do Sul, Brazil. Quaternary of South America and Antartic Peninsule, v.9, p.36-68, SECRETARIA ESTADUAL DO MEIO AM- BIENTE. Disponível em <sema.rs.gov.br>. Acesso em março de Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

29 Ciências Biológicas Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

30 30 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

31 Distribuição espacial e ocupação de tocas do caranguejo fantasma Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) (Decapoda: Ocypodidae) na Praia do Siriú, SC CLAIR XAVIER BERNARDES 1 ELIANE FRAGA DA SILVEIRA 2 EDUARDO PÉRICO 3 ANAPAULA SOMMER-VINAGRE 2 RESUMO O caranguejo Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) habita as praias arenosas ao longo de toda a costa brasileira e pouco se conhece sobre sua estrutura populacional. Este trabalho tem por objetivo verificar o padrão de distribuição espacial da espécie, bem como o índice de ocupação das tocas. Nos meses de janeiro a abril de 2005, foram realizadas oito amostragens através da metodologia de quadrats (2m X 2m), na Praia do Siriú, Santa Catarina, para analisar o padrão de distribuição da tocas. As tocas encontradas foram escavadas para verificar o grau de ocupação das mesmas. Os resultados obtidos indicam um padrão de distribuição espacial agregado, com maior concentração próxima à linha das dunas. Das 153 tocas cavadas, 94 estavam ocupadas (61,4%) e 59 estavam vazias (38,6%). Palavras-chaves: Ocypode quadrata, distribuição espacial, ocupação de tocas. 1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA 2 Professora do Curso de Biologia/ULBRA 3 Professor Orientador do Curso de Biologia/ULBRA (dirbiologia@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

32 ABSTRACT The crab Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) inhabits sandy beaches along the Brazilian coast and there are few studies describing its population structure. This work aims to verify the spatial pattern distribution of the species and burrow occupancy. From January to April/2005, 8 samples using the quadrat methodology (2 x 2m) were realized in the Siriú beach, Santa Catarina, to analyze the distribution pattern of the burrows. The burrows were excavated to verify the degree of occupation of the same ones. The results indicate a aggregate pattern of spatial distribution, with higher concentration next the line to dunes. Of the 153 dug burrows, 94 were occupied (61,4%) and 59 were empty (38,6%). Key words: Ocypode quadrata, spatial distribution, burrow occupancy. INTRODUÇÃO O caranguejo-fantasma Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) é um crustáceo pertencente à infraordem Brachyura, na qual estão inclusos siris e caranguejos marinhos. A espécie ocupa praias arenosas, do nível do supralitoral até a área das dunas. Os indivíduos mais jovens fazem galerias perto do nível de maré alta máxima e entre a vegetação da praia. Os jovens são principalmente de hábitos diurnos enquanto os adultos são noturnos (MELO, 1999). O hábito de cavar tocas, bem como os padrões das mesmas, foi estudado por diversos autores (COUES, 1871; COWLES, 1908; SAWAYA, 1939 e PHILLIPS, 1940). WOLCOTT (1978) utilizou a contagens de tocas para analisar a densidade das mesmas por metro linear de praia, em diferentes meses do ano. FISHER & TEVESZ (1979) estudaram o padrão de distribuição de tocas de jovens e adultos em praias dos Estados Unidos. A distribuição e a estrutura etária desta espécie foram estudadas no litoral sul do Rio Grande do Sul por ALBERTO & FONTOURA (1998). Segundo TAKAHASI (1935) o fato destes animais se ocultarem em tocas, apresentarem alta velocidade e coloração críptica são importantes fatores de sobrevivência para esta espécie em um ambiente instável. A importância da temperatura foi analisada por MILNE & MILNE (1946). Segundo os autores, O. quatrata apresenta sensibilidade ao frio, mas têm certa resistência ao calor, dependendo do grau de umidade de seus canais branquiais. Sua importância ecológica dá-se principalmente por seu papel na troca de energia nos ecossistemas costeiros (WOLCOTT, 1978). Em praias arenosas, como no litoral do Rio Grande do Sul, devido a suas características, a biomassa encontra-se normalmente enterrada no substrato arenoso. Entre seus os principais componentes encontram-se as espécies Emerita brasiliensis (SCHMITT, 1935), Excirolana armata (Dana, 1852), Donax hanleyanus Philippi, 1847, Mesodesma mactroides (Deshayes, 1854) e O. quadrata, que juntos respondem por mais de 90% da biomassa dessas praias. O trabalho em questão foi realizado na praia do Siriú (S 28º 0 34,0 ; W 48º 37 46,9 ), município de Garopaba, SC. A região encontra-se no limite sul da Serra do Tabuleiro e é caracterizada 32 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

33 por vegetação de restinga e cercada por dunas. Diferentemente de outras praias onde há fluxo constante de pedestres, e por vezes de veículos automotores revolvendo a areia da praia, a praia de Siriú permanece semi-deserta durante todo o ano, principalmente nos meses de baixa temporada, desta forma, é comum encontrar várias tocas ao longo de sua extensão sem qualquer sinal que evidencie se estão ocupadas ou não. Assim, o objetivo deste trabalho além de verificar o padrão de distribuição espacial das tocas, é conhecer o índice de ocupação das mesmas. MATERIAL E MÉTODOS Durante os meses de janeiro a abril de 2005, foi realizado um total de oito amostragens. Para cada amostragem, foi traçado aleatoriamente um transecto de 2m de largura deste a altura da maré baixa até o limite inferior das dunas. Cada transecto foi dividido em quadrats de 2m x 2m e numerado de acordo com a distância em relação à linha d água. Em cada quadrat as tocas encontradas foram numeradas, mapeadas segundo sua localização e tiveram seus diâmetros mensurados através de paquímetro de precisão de 0,01mm. Cada uma das tocas foi escavada com o auxílio de uma pá de jardinagem até que se encontrasse seu limite final. Durante a amostragem, os caranguejos capturados nas tocas ocupadas foram colocados em recipientes plásticos individuais. Para estas tocas foram coletados dados referentes à profundidade e temperatura da areia na parte interna, onde o caranguejo se encontrava, antes de serem novamente cobertas. Fatores abióticos como a temperatura ambiente, umidade e temperatura da água também foram mensurados para posterior correlação. Todos os indivíduos foram pesados, medidos na largura da carapaça e comprimento. A identificação do sexo foi feita através do exame do formato e da parte interna do abdome. Após avaliação, todos os indivíduos foram liberados. Para efeito de comparação, estipulou-se como medida padrão a maior distância entre a duna e o mar registrada entre as oito amostragens (34m em jan/05), e para o cálculo de densidade, a maior área utilizada para construção de tocas (14m) em 27/04/05 (onde foi encontrada a 1ª toca). A variação da maré para as diferentes datas é apresentada na figura 2. Para análise estatística do padrão de distribuição espacial foi utilizado o Índice de Agregação e o teste do Qui-Quadrado, conforme KREBS (1998). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 apresenta os resultados obtidos nas oito amostragens realizadas de janeiro a abril de 2005 na Praia do Siriú, SC. Foi estabelecida a comparação direta entre o mapeamento das tocas existentes em um transecto aleatoriamente escolhido e perpendicular ao mar (A1), e o mapeamento do mesmo transecto após a escavação de todas as tocas (A2), com a definição do grau de ocupação das mesmas. Pode ser observado que na amostragem de 22/01/05, o maior diâmetro estava a 28m da linha do mar, e a maior densidade entre 30 e 32m para as tocas ocupadas (A2), contrastando em parte com os achados de A1, onde a maior densidade ocorre em 24m e 30m. Em 16/02/05, o maior diâmetro encontrado foi a 30m da linha do mar, e a maior densidade de Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

34 tocas ocupadas a 24m (A2), coincidindo com o transecto A1 exceto pelo nível de ocupação na faixa dos 26m. Em 17/02/05, dois picos referentes ao maior diâmetro foram encontrados em A2, um a 24m e outro a 30m da linha d água, sendo que a maior densidade apresentada foi a 26m com tocas de menor diâmetro em A2, diferindo dos achados encontrados entre 28 e 30m em A1, onde haviam seis tocas, porém somente uma ocupada. Esta observação juntamente com a de 18/02/05 a 32m, onde todas as sete tocas estavam vazias, demonstra a vulnerabilidade do método de censo indireto que eventualmente pode superestimar a população de O. quadrata, baseando-se na existência de tocas sem conhecer o índice de ocupação das mesmas. Na amostra de 18/02/05, o maior diâmetro estava a 26m da linha do mar, e a maior densidade a 30m (A2), contrastando novamente com A1, que sugeria uma maior densidade a 32m da linha do mar, já em 25/03/ 05, confirmou-se a maior densidade e o maior diâmetro médio na faixa de 30m entre as tocas existentes em A1 e as tocas efetivamente ocupadas de A2, ainda que nesta amostragem 50% das tocas estivessem vazias. Em 26/03/05, o levantamento mostrou novamente uma discrepância entre o número de tocas encontradas em A1 e o número de tocas efetivamente ocupadas em A2, com uma variação mais acentuada de diâmetro na faixa dos 30m, em 27/04/ 05, não houve diferença entre A1 e A2, e o índice de ocupação das tocas foi de 95%, o mesmo ocorrendo em 28/04/05 onde não houve variação significativa entre A1 e A2, exceto quanto ao grau de ocupação das tocas. O número total de tocas mensuradas nas oito amostragens foi de 153 para A1, e 94 para A2, correspondendo a um percentual de ocupação de 61,4%, os maiores e menores diâmetros encontrados foram (33,7;8,8), (34,1;6,3), (33,1;8,2), (31,1;14,5), (31,8;6,8), (30,5;7,4), (30,5;7,4), (29,3;10,0) e (33,1;10,5) para as datas de 22/01, 16/02, 17/02, 18/02, 25/03, 26/03, 27/04 e 28/04, respectivamente. Estes dados corroboram a necessidade de estudos paralelos como este, a fim de evitar a superestimação do tamanho populacional da espécie. 34 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

35 A1 A2 Figura 1 - Densidade e diâmetro médio das tocas em cada amostragem (A1) compara-dos à densidade e diâmetro médio das tocas efetivamente ocupadas (A2). Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

36 A1 A2 Figura 1 (continuação) - Densidade e diâmetro médio das tocas em cada amostragem (A1) comparados à densidade e diâmetro médio das tocas efetivamente ocupadas (A2). 36 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

37 Figura 2 - Mapeamento das tocas de O. quadrata nas amostragens realizadas em Siriú, SC. Os números nos quadrats correspondem a distância (em metros) em relação ao mar, e a área sombreada corresponde a linha da maré na data da amostragem ( Tocas vazias Machos Fêmes Juvenis). A figura 2 apresenta o mapeamento total das tocas nas oito amostragens realizadas, com suas respectivas localizações e diâmetros. Nos oito períodos de amostragem foi analisado um total 84 quadrats. Para cada uma das tocas escavadas e ocupadas foi identificado o sexo do indiví- Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

38 duo ou se era juvenil. O padrão de distribuição encontrado foi de agregado, testado em relação à distribuição de Poisson por dois métodos: o Índice de Dispersão (I) e o Teste de Qui-quadrado. O primeiro, definido como a relação entre a variância e a média observadas (I = 5,377/ 1,821) e testados através do c 2 pela fórmula c 2 = I (n 1), para (n 1) Graus de Liberdade, onde n = número de quadrats (84). O valor obtido foi de I= 2, 952 com um c 2 = 245,04 (83g.l.; P=0,000), portanto significativo. O segundo método, comparando diretamente as freqüências observadas e esperadas segundo a distribuição de Poisson, através da fórmula: c 2 = å(o-e) 2 /e, indicou um valor de c 2 = 258,31 (9g.l.; P=0,000) também significativo. Tabela 1 - Ocupação das tocas e distribuição dos indivíduos encontrados conforme o sexo ou estágio de desenvolvimento durante os meses de amostragem. MÊS JAN FEV MAR ABR Ocupação N % n % n % n % Vazias 7 32, , ,0 9 20,0 Machos 12 55, , ,0 3 7,0 Fêmeas 1 5,0 4 9,0 0 0,0 4 9,0 Juvenis 2 0, ,0 5 12, ,0 Total , , , ,0 A tabela 1 apresenta os resultados obtidos em relação à ocupação das tocas conforme o mês de amostragem. Pela análise desta tabela pode ser observado que o percentual de tocas vazias variou entre 20% (abril) e 54% (março). Nas tocas ocupadas os machos sempre foram os mais freqüentes (55% em jan/05, 24% em fev/05, 34% em mar/05), exceto em abril, quando o percentual de juvenis sobe para 64%. Isto pode ser explicado por um possível recrutamento ocorrido durante os primeiros meses de verão. Este padrão foi observado por ALBERTO & FONTOURA (1998) na praia de Pinhal, RS. A baixa freqüência de fêmeas foi observada em todos os meses de amostragem, o que pode ser explicado pelo hábito de permanecerem ocultas em suas tocas durante o período de incubação dos ovos (NEGREI- ROS-FRANÇOZO et al, 2002). 38 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

39 Diâmetro Médio das Tocas (mm) 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0, Distância do Mar (m) Machos Fêmeas Juvenis Vazias Figura 3 - Diâmetro médio (mm) do total de tocas de Ocypode quadrata amostradas em relação a distância do mar (m). A figura 3 apresenta os diâmetros de todas as tocas amostradas durante os meses de janeiro a abril, posicionando-as em relação à distância do mar. Pode ser observado um padrão homogêneo de distribuição de juvenis, que ocupam toda a faixa de areia entre o mar e as dunas. Os machos iniciam a ocupação a partir dos 24m, juntamente com as fêmeas, e se estendem por toda a faixa até as dunas. O diâmetro médio de tocas ocupadas por fêmeas aumentou na medida em que se distanciaram do mar, já o diâmetro médio das tocas ocupadas por machos foi decrescente em relação ao distanciamento do mar. Padrão decrescente semelhante pode ser observado para as tocas vazias, sugerindo uma possível ocupação anterior por parte de indivíduos machos, o que só poderia ser confirmado mediante novos estudos. A relação entre a densidade e tamanho médio das tocas pode ser observada na figura 4. No mês de fevereiro ocorreu um aumento no diâmetro médio e uma baixa densidade, em contraste com as amostras do mês de abril, onde a densidade de tocas por m 2 aumenta e o diâmetro médio diminui. Tocas vazias com grandes diâmetros são observadas próximas à linha do mar (22m) o que pode indicar que sirvam de abrigo temporário durante a alimentação, desova ou acasalamento. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

40 Diâmetro médio(mm) Densidade (m2) 30,0 1,2 Diâmetro médio das tocas (mm) 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 1 0,8 0,6 0,4 0,2 Densidade (m 2 ) 0,0 22/1/ /2/ /2/ /2/ /3/ /3/ /4/ /4/ Data da amostragem Figura 4 - Diâmetro médio (mm) e densidade por m 2 das tocas de O. quadrata. A complexidade dos ambientes costeiros, sua geografia, a influência direta de fatores abióticos como substrato, fotoperíodo, temperatura, direção e intensidade dos ventos, pluviosidade e marés transformam cada praia num ambiente único, com características específicas. DUNCAN (1986) em seu trabalho sobre tocas de O. quadrata realizado na costa da Georgia, USA, relata ter encontrado tocas verticalmente orientadas entre dunas, contrastando com as conclusões de FREY & MAYOU (1971), Georgia, e CHAKRABATI (1981), Índia, de que as mesmas são restritas ao supralitoral. ZIMMER et al (2003), em trabalho realizado na praia de Itapeva, RS, descrevem como área de maior densidade no verão, a faixa de areia que vai de 50 à 60m de distância da linha d água, da mesma forma, ALBERTO & FONTOURA (1998) descrevem a maior densidade na praia de Pinhal, RS para o mês de fevereiro, a faixa de areia que vai de 55 à 60m. As duas praias são descritas como tendo uma faixa de areia com baixa intensidade de tocas devido ao tráfego de veículos automotores. Já no presente trabalho, a limitação das tocas parece estar diretamente relacionada com a linha de alcance das marés, já que são encontradas tocas a partir de 20m ou menos de distância da linha da maré. Tendo em vista os resultados e considerações aqui apresentados, bem como a dificuldade de se obter uma amostra significativa da população através da captura dos caranguejos, verificase que o censo indireto com base na correlação existente entre a largura da carapaça e o diâmetro da toca (WOLCOTT, 1978; FISHER & TEVESZ, 1979; ALBERTO & FONTOURA, 1998) continua sendo uma ferramenta eficiente nos estudos de distribuição espacial e dinâmica populacional, porém, deve ser somado a um estudo detalhado das condições abióticas e a concentrados esforços de campo. 40 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

41 CONCLUSÕES A distribuição espacial encontrada para O. quadrata em Siriú, SC foi do tipo agregada. O experimento mostrou diferença entre o número de tocas amostradas e o número de tocas efetivamente ocupadas, com um percentual de ocupação de 38% para janeiro, 54% para fevereiro, 46% para março e 80% para abril/05. Machos e fêmeas ocuparam a faixa de praia superior a 24m da linha do mar, enquanto juvenis foram encontrados a partir de 20m. Tocas vazias foram encontradas a partir dos 22m de distância do mar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTO, R. M. F.; FONTOURA, N. F. Distribuição e estrutura etária de Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) em praia arenosa do litoral sul do Brasil. Revista Brasileira de Biologia, v.59, n.1, p.95-l08, CHAKRABARTI, A. Burrow patterns of Ocypode ceratophthalma (Pallas) and their environmental significance. Journal of Paleontology, v.55, p , COUES, E. Notes on the Natural History of Fort Macon, N.C., and vicinity (nº 2). Proceedings of the Academy of Natural Sciences of Philadelphia, Philadelphia, v.23, n.1, p , COWLES, R. P. Habits, recreation and associations in Ocypode arenaria. Papers from the Tortugas Laboratory of Carnegie Institution of Washington, Washington, v.1, n.2, p.1-41, DUNCAN, G. A. Burrows of Ocypode quadrata (Fabricius) as related to slopes of substrate surface. Journal of Paleontology, Lawrence, v.60, n.2, p , FISHER, J. B.; TEVESZ, M. J. S. Withinhabitat spatial patterns of O.quadrata (Fabricius) (Decapoda, Brachyura). Crustaceana, Leiden, v.5, p.31-36, FREY, R. W.; MAYOU, T. V. Decapod burrows in Holocene barrier island beaches and wash over fans, Georgia. Senckenbergiana Marítima, v.3, p.53-77, KREBS, C. J. Ecological Methodology. 2. ed. Benjamin/Cummings, CA. 620p. MELO, G.A.S. Infraordem brachyura (siris e caranguejos: espécies marinhas e estuarinas). In: BUCKUP, L.; BOND-BUCKUP, G. Os Crustáceos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Ed. UFRGS, p MILNE, L. J.; MILNE, M. J. Notes on the behavior of the ghost crab. The American Naturalist, Chicago, v.80, n.792, p , NEGREIROS-FRANSOZO, M. L.; FRANSOZO, A.; BERTIN, G. Reproductive cycle of Ocypode quadrata on a sandy beach in Southeastern Brazil. Journal of Crustacean Biology, v.22, n.1, p , PHILLIPS, A. M. The ghost crabs adventures investigating the life of a curious and interesting creature that lives on our doorstep. The large crustacean of our North Atlantic coast that passes a good part of his life on land. Natural History, New York, v.43, p.36-41, SAWAYA, P. Animais cavadores da praia Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

42 arenosa. Arquivos do Instituto de Biologia, São Paulo, v.10, p , TAKAHASI, S. Ecological notes on the ocypodian crabs (Ocypodidae) in Formosa, Japan. Annotations Zoologicae Japonenses, Tokyo, v.15, n.1, p.78-87, WOLCOTT, T.G. Ecological role of ghost crabs, Ocypode quadrata (Fabricius) on an ocean beach: scavengers or predators? Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, Amsterdan, v.31, p.67-82, ZIMMER, A. R.; SILVEIRA, E. F.; PÉRICO, E. Estrutura populacional de Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) (Crustacea, Decapoda, Ocypodidade), na praia de Itapeva, RS. Revista de Iniciação Científica da Ulbra, Canoas, n.2, p.45-55, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

43 Monitoramento da toxicidade genética associada aos dejetos industriais e urbanos em amostras de água do rio Caí através do Teste SMART JANAÍNA DIAS GODINHO 1 VIVIANE SOUZA DO AMARAL 2 RENATA MEDINA DA SILVA 2 MARIA LUÍZA REGULY 3 HELOISA HELENA RODRIGUES DE ANDRADE 3,4 RESUMO O rio Caí é utilizado como corpo hídrico recipiente de efluentes industriais e urbanos. Em função disto, foi utilizado o teste SMART para traçar um diagnóstico da genotoxicidade associada a este rio. As coletas foram realizadas nos meses de março, junho e setembro de 1999 em pontos sob influência industrial (km18,6 e km13,6) e urbana (km52, km78 e km80). Os pontos km 18,6 e km 13,6 foram caracterizados como destituídos de ação genotóxica. Por outro lado, as amostras urbanas referentes aos meses de março (km 52, 78 e 80) e setembro (km 52) foram diagnosticadas como indutoras de toxicidade genética. Considerando estes resultados, conclui-se que os prejuízos causados pelos dejetos urbanos podem ser tão ou mais nocivos que os impostos pelos de origem industrial. Palavras-chaves: SMART, Genotoxicidade, Água, D. melanogaster. 1 Acadêmico do Curso de Biologia/ULBRA Bolsista PROICT/ ULBRA 2 Aluno de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFRGS 3 Professor do Curso de Biologia/ULBRA 4 Professor Orientador do Curso de Biologia e do PPG de Genética e Toxicologia Aplicada/ULBRA (heloisa@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

44 ABSTRACT The Caí river receives large amounts of industrial and urban discharges. In function this, we employed the SMART to evaluate the genotoxicity from this river. The samples were collected in 2 industrial sites (km 18.6 and km 13.6) and in 3 urban sites (km 52, km78 and 80). The monitoring included three collections: March, June and September The sites km 18.6 and km 13.6 were characterized as destitute of genotoxic action. On the other hand, the points under influence of municipal discharges were genotoxic: km52, 78 and 80 samples collected in march, and km 52 collected in September. Taking into account the results observed, the SMART assay results lead to the conclusion that urban wastes may be as polluting as or even more polluting than industrial ones. Key words: SMART, Genotoxicity, Water, D. melanogaster. INTRODUÇÃO O lançamento de efluentes industriais e urbanos nos corpos hídricos impõe um significativo risco aos ecossistemas, não apenas pelo volume de descarga dos dejetos, mas principalmente pela sua composição química. O rio Caí é utilizado como principal fonte de água e corpo hídrico recipiente de efluentes industriais e municipais. Diversas atividades urbanas e industriais vêm sendo intensamente praticadas nas suas margens. As cidades de Montenegro e de São Sebastião do Caí concentram atividades relacionadas, basicamente, com pequenas indústrias. Adicionalmente, nestes dois últimos municípios, os esgotos cloacais são ligados à rede de esgotos pluviais, sendo lançados diretamente nos cursos d água a eles associados. Desta forma, este é o segmento do rio que mais recebe lançamentos de efluentes de pequenas e grandes indústrias e onde há maior despejo de esgotos domésticos não tratados (FEPAM/GTZ, 1997). O rio Caí vem sendo alvo de uma série de estudos que procuram identificar a presença de substâncias genotóxicas, especialmente no seu curso final, em função da influência exercida pelo Pólo Petroquímico do Sul. Utilizando o teste Salmonella/microssoma, como método de triagem, foram obtidas respostas positivas na maioria dos sítios de coleta, evidenciando a presença de substâncias mutagênicas na área de influência do Complexo Petroquímico (VARGAS, MOTTA & HENRIQUES, 1988). Associadas a estas análises foram empregadas técnicas citogenéticas in vitro para a avaliação da indução de aberrações cromossômicas, utilizando o método de bloqueio da citocinese (CBMN), em cultura de linfócitos humanos. Esta metodologia foi empregada para a análise dos mesmos pontos anteriormente analisados por VARGAS, MOTTA & HENRIQUES (1988), tendo sido incluído o ponto Km 14,1. Os resultados obtidos revelaram a presença de substâncias com potencial clastogênico e/ou aneugênico em todos os sitios de amostragem (LEMOS & ERDTMANN, 2000). Em função destas peculiaridades, a utilização de bioensaios capazes de detectar simultaneamente uma ampla gama de lesões, em nível gênico e cromossômico, poderá traçar um diagnóstico mais completo da toxicidade genética associada ao curso inferior do rio Caí. Dentro deste contexto, destaca-se o Teste para Detecção de Mutação e Recombinação em Células Somáticas de 44 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

45 Drosophila melanogaster (SMART), que tem se mostrado uma ferramenta precisa para a detecção do impacto causado por diferentes poluentes aos ecossistemas. Desta forma, o presente trabalho foi delineado no sentido de atingir os seguintes objetivos: (i) avaliar, através do SMART, amostras de água superficial de diferentes pontos do rio Caí, que estão sob influência de efluentes industriais e urbanos; (ii) estimar a sensibilidade e a adequação deste bioensaio como uma ferramenta para o controle da qualidade ambiental. MATERIAL E MÉTODOS Pontos de Coleta As amostras foram coletadas nos meses de março, junho e setembro de 1999 em pontos do rio sob influência de dejetos industriais - km 18,6 e km13,6 - e urbanos - km 52 (Município de Montenegro), km 78 e km 80 (Município de São Sebastião do Caí). Teste Para Detecção de Mutação e Recombinação Somática (SMART) Dentre os bioensaios ainda pouco utilizados para avaliação do potencial genotóxico de amostras ambientais, encontra-se o SMART - em células somáticas de D. melanogaster. Este teste, além de utilizar um organismo experimental eucarioto, com estreita similaridade genética e bioquímica quando comparado aos mamíferos, possibilita a detecção simultânea de mutação gênica, aberrações cromossômicas e/ou recombinação somática. Esta metodologia baseia-se na indução de pêlos mutantes nas asas das moscas, que representam a expressão fenotípica da ocorrência de lesões em nível de DNA, que, por sua vez, levam à perda de heterozigosidade dos genes mwh e flr 3 (GRAF et al., 1984). Cruzamentos Nesta abordagem experimental foi empregado o cruzamento padrão nas amostras de origem urbana - que origina larvas portadoras de nível basal de atividade metabólica dependente de citocromo P-450, e o cruzamento aprimorado nas amostras de origem industrial - que apresenta larvas com alto nível constitutivo de citocromo P450 (HÄLLSTRON & BLANCK, 1985). Tratamentos Cada amostra de origem industrial e urbana foi diluída em água destilada e testada em duas concentrações (25% e 50%) assim como, na sua forma crua (100%). Como controle negativo foi utilizada a água destilada. Larvas de terceiro estágio foram colocadas em tubos contendo 1,5g de meio sintético, onde foram acrescentados 5ml das soluções de tratamento. As larvas permaneceram nestas condições por aproximadamente 48 horas - tratamento crônico - até atingirem o estágio de pupa. Análise microscópica Para cada ponto de tratamento foram analisadas as asas de pelo menos 40 indivíduos - em microscópio óptico, com aumento de 400x vi- Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

46 sando à identificação dos fenótipos dos pêlos existentes nas superfícies dorsal e ventral das asas dos adultos. Análise estatística Para a avaliação genotóxica dos cinco pontos de coleta no rio Caí, as diferentes diluições foram comparadas com seus respectivos controles negativos. A análise estatística foi feita através do teste estatístico binominal condicional KASTENBAUM & BOWMAN (1970). RESULTADOS Nas Tabelas 1 e 2 são apresentados os dados obtidos através do SMART, quando foram consideradas as respostas obtidas nos adultos portadores do genótipo transheterozigoto, oriundos, respectivamente, do tratamento com amostras de origem urbana e industrial. Na tabela 1, os resultados obtidos a partir da coleta de março caracterizaram os km 52, 78 e 80 como genotóxicos, ambos capazes de induzir aumentos significativos no total de manchas. Já as amostras de junho mostraram-se todas destituídas de atividade genotóxica, enquanto as provenientes do km 52 coletadas em setembro apresentaram respostas positivas. Entretanto, como se pode observar na tabela 2 as duas amostras de origem industrial, nos três meses de coleta, não mostraram efeito genotóxico, uma vez que as freqüências das diferentes categorias de manchas não foram significantemente superiores àquelas observadas nos respectivos controles negativos (água destilada). DISCUSSÃO No presente estudo, o SMART foi empregado para avaliar a genotoxicidade de amostras de água do rio Caí, que sofrem influência industrial e urbana, em três épocas distintas março, junho e setembro ao longo do ano de Os dados obtidos no presente estudo apontam para a ausência de genotoxicidade das amostras de água superficial, sob influência direta de dejetos oriundos do Pólo Petroquímico do Sul, e para a ação genotóxica de amostras de água associadas aos três diferentes pontos no mês de março km 52, 78 e 80 que estão sob influência de esgotos domésticos. Este comportamento não foi observado para o mês de junho já que não foram obtidos aumentos significativos, para todos os tipos de manchas, em relação ao controle negativo. No entanto, as coletas de setembro evidenciaram a toxicidade genética associada ao km 52 localizado próximo à cidade de Montenegro. Ainda mais, considerando os resultados observados, nas amostras de origem urbana, nos meses de março e junho, sugere-se uma correlação entre o nível pluviométrico e o diagnóstico positivo. De fato, no mês de março, foram registrados índices de pluviosidade de 12,3 mm, enquanto que no mês de junho (112,6 mm) estes valores foram aproximadamente dez vezes superiores. Entretanto, esta correlação não pode explicar os resultados positivos obtidos para o km 52, coletado em setembro já que a pluviosidade (110,9 mm) foi tão elevada quanto à registrada em junho. Ainda que a diluição das águas do rio não tenha sido um fator determinante para a genotoxicidade deste ponto, esta resposta pode estar relacionada com a descarga diferencial de dejetos de pequenas indústrias que não apresentam qualquer estra- 46 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

47 tégia de tratamento e que juntamente com os esgotos cloacais e pluviais, são lançados diretamente no rio Caí. Ainda que, para os dejetos urbanos coletados em março de 1999, tenha sido sugerida uma correlação entre genotoxicidade positiva e índice pluviométrico este tipo de relação não foi identificada para as amostras industriais assim como para os demais parâmetros físico-químicos analisados. Finalmente, fica a sugestão de que, pelo menos em nossas condições experimentais, o impacto causado por despejos de origem urbana pode ser mais intenso do que o imposto por dejetos provenientes de indústrias de grande porte. De fato, apesar da extensa procura de informações bibliográficas, referentes à contribuição dos despejos urbanos para a genotoxicidade associada a águas superficiais do curso inferior do rio Caí, não foram encontrados registros - tanto centrados na toxicidade genética de despejos urbanos, quanto na comparação entre amostras de origem industrial e urbana. Consideramos, também relevante, o conjunto de dados publicados por WHITE, RASMUSSEN & BLAISE (1996) e WHITE & RASMUSSEN (1998), que apontam para os prejuízos causados por dejetos urbanos que podem ser tão ou mais nocivos que os impostos pelos de origem industrial. Esta maior potência genotóxica pode ser atribuída ao seu maior volume de lançamento, assim como à sua natureza mais complexa - já que são formados pelo somatório de resíduos domésticos e de indústrias de pequeno porte, que na grande maioria das vezes não utilizam qualquer tipo de tratamento. Adicionalmente, a avaliação da toxicidade genética centrou-se no emprego do SMART em Drosophila melanogaster, procurando contribuir não apenas para o diagnóstico da qualidade das águas do curso inferior do rio Caí, mas também para a validação do seu emprego como uma ferramenta para o diagnóstico da genotoxicidade de amostras de origem ambiental. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados indicam ausência de atividade genotóxica para as amostras de origem industrial, enquanto que as urbanas apresentaram toxicidade genética - em todos os pontos no mês de março, e somente no km 52 (referente à cidade de Montenegro) no mês de setembro. Estes resultados, evidenciam o potencial genotóxico das águas superficiais sob influência dos despejos domésticos, e de pequenas indústrias principalmente em função da ausência de qualquer estratégia de tratamento dos esgotos pluviais. O contrário ocorre com os efluentes provenientes das indústrias de grande porte, que dispõem de complexos sistemas de tratamento e disposição de rejeitos, em função do severo controle que recebem por parte dos órgãos ambientais. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

48 Tabela 1 - Diagnóstico estatístico das freqüências de indução de clones mutantes após tratamento das larvas provenientes do cruzamento padrão com amostras de água do Caí sob influência de dejetos urbanos coletadas em março, junho e setembro de Manchas por indivíduo (no. de manchas)/diag. estatístico a Genótipos Diluições e Pontos de Coleta N. de indiv. (N) MSP (1-2 cells) (m = 2) MSG (>2 cells) (m = 5) MG (m = 5) (m = 2) TM Março Km 52 mwh / flr 3 Água Destilada (21) 0.05 (3) 0.00 (0) 0.40 (24) (43) (6) i 0.03 (2) i 0.85 (51) (49) (2) i 0.00 (0) i 0.73 (51) (45) (3) i 0.00 (0) i 0.80 (48) + KM 78 mwh / flr 3 Água Destilada (21) 0.05 (3) 0.00 (0) 0.40 (24) (27) (2) i 0.05 (2) i 0.78 (31) (32) (8) (1) i 1.03 (41) (30) (2) i 0.10 (4) (36) + KM 80 mwh / flr 3 Água Destilada (21) 0.05 (3) 0.00 (0) 0.40 (24) (29) (2) i 0.10 (4) (35) (35) (8) (3) i 1.15 (46) (32) (5) i 0.03 (1) i 0.95 (38) + Junho KM 52 mwh / flr 3 Água Destilada (27) 0.12 (6) 0.00 (0) 0.66 (33) (33) (5) i 0.04 (2) i 0.80 (40) (25) (7) i 0.04 (2) i 0.68 (34) (32) (4) i 0.06 (3) i 0.78 (39) - KM 78 mwh / flr 3 Água Destilada (27) 0.12 (6) 0.00 (0) 0.66 (33) (32) i 0.10 (4) i 0.03(1) i 0.93 (37) i (21) (3) (0) i 0.48 (24) (38) i 0.08 (4) i 0.04 (2) i 0.88 (44) i KM 80 mwh / flr 3 Água Destilada (28) 0.12 (7) 0.00 (0) 0.58 (35) (22) (3) i 0.08 (3) i 0.70 (28) (22) (5) i 0.03 (1) i 0.70 (28) (33) (4) i 0.00 (0) i 0.93 (37) - Setembro KM 52 mwh / flr 3 Água Destilada (19) 0.10 (4) 0.05 (2) 0.63 (25) (36) (4) i 0.08 (3) i 1.08 (43) (45) (5) i 0.02 (1) i 1.02 (51) (36) (4) i 0.03 (1) i 1.03 (41) + KM 78 mwh / flr 3 Água Destilada (19) 0.10 (4) 0.05 (2) 0.63 (25) (45) i 0.10 (8) i 0.01 (1) i 0.68(54) (37) (8) i 0.03 (2) i 0.60 (47) (43) i 0.08 (6) i 0.03 (2) i 0.68 (51) - KM 80 mwh / flr 3 Água Destilada (19) 0.10 (4) 0.05 (2) 0.63 (25) (32) i 0.08 (5) i 0.00 (0) i 0.62(37) (46) i 0.10 (7) i 0.01 (1) i 0.77 (54) (37) i 0.08 (5) i 0.00 (0) i 0.70 (42) - a Diagnóstico Estatístico de acordo com Frei % Würgler (1988): +: positivo; - negativo; i: inconclusivo; f+ fraco positivo; m: fator multiplicador, nível de significância: á = â = Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

49 Tabela 2 - Diagnóstico estatístico das freqüências de indução de clones mutantes após tratamento das larvas provenientes do cruzamento aprimorado com amostras de água do Caí sob influência de dejetos industriais coletadas em março, junho e setembro de Manchas por indivíduo (no. de manchas)/diag. estatístico a Genótipos Diluições e Pontos de Coleta N. de indiv. (N) MSP (1-2 cells) (m = 2) MSG (>2 cells) (m = 5) MG (m = 5) TM (m = 2) Março Km 18,6 mwh / flr 3 Água Destilada (27) 0.08 (3) 0.00 (0) 0.75 (30) (25) (4) i 0.00 (0) (29) (30) (3) (2) i 0.88 (35) (30) (3) (0) (33) - KM 13,6 mwh / flr 3 Água Destilada (27) 0.08 (3) 0.00 (0) 0.75 (30) (37) i 0.13 (5) i 0.03 (1) i 1.08 (43) (34) (7) i 0.00 (0) (41) (29) (5) i 0.03 (1) i 0.88 (35) - Junho KM 18,6 mwh / flr 3 Água Destilada (39) 0.13 (5) 0.05 (2) 1.15 (46) (40) (2) (1) (43) (42) (9) i 0.05 (2) (53) (42) (8) i 0.00 (0) (50) - KM 13,6 mwh / flr 3 Água Destilada (39) 0.13 (5) 0.05 (2) 1.15 (46) (40) (3) (0) (43) (28) (4) (2) (34) (43) (6) (3) i 1.30 (52) - Setembro KM 18,6 mwh / flr 3 Água Destilada (26) 0.05 (2) 0.03 (1) 0.73 (29) (21) (2) (1) (24) (25) (0) (0) (25) (21) (3) i 0.00 (0) (24) - KM 13,6 mwh / flr 3 Água Destilada (26) 0.05 (2) 0.03 (1) 0.73 (29) (25) (1) (0) (26) (20) (2) i 0.03 (1) (23) (22) (3) i 0.00 (0) (25) - a Diagnóstico Estatístico de acordo com Frei % Würgler (1988): +: positivo; - negativo; i: inconclusivo; f+ fraco positivo; m: fator multiplicador, nível de significância: á = â = Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FEPAM/GTZ. Levantamento dos principais usos do solo e da água na Bacia Hidrográfica do Rio Caí. v.1: Projeto de Cooperação Técnica Brasil/Alemanha, Porto Alegre, p. FREI, H.; WÜRGLER, F. E. Statistical methods to decide whether mutagenicity test data from Drosophila assays indicate a positive, negative or inconclusive result. Mutation Research, v. 203, p , GRAF, U.; WÜRGLER, F. E.; KATZ, A. J.; FREI, H.; JUON, H.; HALL, C. B.; KALE, P.G. Somatic mutation and recombination test of Drosophila melanogaster. Environmental and Molecular Mutagenesis, v. 6, p , HÄLLSTRON, I. ; BLANCK, A. Genetic regulation of the cytochrome P-450 system in Drosophila melanogaster. I. Chromosomal determination of some cytochrome P-450 dependent reactions. Chemico-Biological Interactions, v. 56, p , KASTENBAUM, M. A. ; BOWMAN, K. O. Tables for determining the statistical significance of mutation frequencies. Mutation Research, v.9, p , LEMOS,C.T. ; ERDTMANN, B. Cytogenetic evaluation of aquatic genotoxicity in human cultured lymphocytes. Mutation Research, v. 467, p.1-9, VARGAS,V. M. F.; MOTTA, V. E. P.; HENRIQUES, J. A. P. Analysis of mutagenicity of waters under the influence of petrochemical industrial complexes by the Ames test (Salmonella/microssome). Revista Brasileira de Genetica, v.11, p , WHITE, P. A.; RASMUSSEN, J. B.; BLAISE, C. Comparing the presence, potency, and potencial hazard of genotoxins extracted from a broad range of industrial effluents. Environmental and Molecular Mutagenesis, v.27, p , WHITE, P. A.; RASMUSSEN, J. B. The genotoxic hazards of domestic wastes in surface waters. Mutation Research., v. 410, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

51 Avaliação da atividade mutagênica e antimutagênica induzidas pelo extrato vegetal da Costus spicatus SAMUEL TAKASHI SAITO 1 GIOVANNI CIGNACHI 2 SUSANA GASPARRI 3 JENIFER SAFFI 4 RESUMO A Costus spicatus Swartz, que popularmente é chamada de Cana-do-Brejo, é uma espécie nativa da América Latina habitando em locais úmidos. É utilizada popularmente para patologias do sistema urinário. Entretanto, o uso desta planta para fins terapêuticos ainda carece de estudos de toxicidade e de segurança. Em função disto, o objetivo desse trabalho foi verificar as atividades mutagênica e antimutagênica do extrato bruto hidroalcoólico, preparado das mesmas condições em que ele é consumido pela população, utilizando a levedura Saccharomyces cerevisiae como modelo experimental. Os experimentos sugerem que este extrato não apresenta atividade mutagênica e possa ter atividade antimutagênica dependente da dose utilizada e tratamento. Palavras-chave: cana-do-brejo, Costus spicatus, mutagênese, antimutagênese, Saccharomyces cerevisiae. 1 Acadêmico do Curso de Farmácia/ULBRA Bolsista PIBIC/ CNPq 2 Acadêmico do Curso de Farmácia/ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA 3 Aluna do PPG Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA 4 Professora Orientadora do Curso de Farmácia e do PPG Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA (jenifer.saffi@ulbranet.com.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

52 ABSTRACT The Costus spicatus Swartz, commonly called Cana-do-Brejo in Brazil, is a native specie found in wet coastal forests from Latin America. It is utilized in folk medicine to relieve in urinary affections. However there are no studies that confirm the efficacy and safety of this plant for therapeutics purposes. For this reason, the aim of this study was to verified the mutagenic and antimutagenic activities of the hidroalcoholic extract, prepared in the same conditions utilized by the population, using the yeast Saccharomyces cerevisiae as a model organism. This study suggests that this extract is not mutagenic for the yeast and may be antimutagenic depending for the dose and treatment used. Key words: cana-do-brejo, Costus spicatu, mutagenesis, antimutagenesis, S. cerevisiae. INTRODUÇÃO A planta Costus spicatus Swartz (sin.: C. cylindricus Jacq. Família: Zinziberaceae/ Costaceae), popularmente chamada no Brasil de Cana-do-Brejo, é uma espécie nativa encontrada em locais úmidos do Sul do México, Yucatan, Costa Rica, norte da Colômbia e Brasil (SILVA et al., 1999) Figura 1. Suas folhas, hastes e rizomas são empregados na medicina tradicional de longa data, principalmente na região Amazônica (LORENZI & MATOS, 2002). É utilizada popularmente pela sua ação depurativa e diurética, para alívio de infecções urinárias e para expelir pedras renais. Esta planta tem atraído a atenção de pesquisadores, pois se verificou nos rizomas da mesma uma nova fonte de diosgenina, um precursor de hormônios esteroidais (SILVA et al., 1999). Informações etnofarmacológicas registram o uso das raízes e rizomas como diurético, tônico, emenagogo e diaforético, enquanto o suco da haste fresco diluído em água tem uso contra gonorréia, sífilis, nefrite, picadas de insetos, problemas da bexiga e diabetes (ALBUQUERQUE, 1989; VAN DEN BERG, 1993; CORRÊA et al.,1998; VIEIRA & ALBUQUERQUE,1998; MORS et al., 2000). Figura 1 - Costus spicatus ( 52 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

53 Entretanto, não existem ainda estudos que comprovem a eficácia e a segurança do uso desta planta para fins terapêuticos. Em função disso, o objetivo desse trabalho foi verificar as atividades mutagênica e antimutagênica do extrato hidroalcóolico da canado-brejo, utilizando a levedura Saccharomyces cerevisiae como modelo de estudo. MATERIAL E MÉTODOS Amostra vegetal Partes aéreas secas da planta Costus spicatus foram gentilmente cedidas pela empresa Santos-Flora (São Paulo SP, Brasil). O laudo botânico foi também realizado e fornecido pela referida empresa. Meios de cultura e soluções O crescimento das células foi feito em meio líquido completo (YEL) contendo 1% de extrato de levedura, 2% de bactopeptona e 2% de glicose obtidos da marca Difco, Oxoid ou Vetec. Para determinação do número de células viáveis, ou seja, unidades formadoras de colônias, foram feitas semeaduras em meio YEPD solidificado com 2% de bacto-ágar, marca Vetec (AUSUBEL et al., 1989). Para todos os tratamentos, as células foram ressuspendidas e diluídas em solução salina (NaCl 0,9%). Nos testes de mutagênese e antimutagênese foi empregado o Meio Sintético (SC) suplementado (SC-histidina, SC-lisina e SC-homoserina), nos quais os aminoácidos foram omitidos, conforme descrito por AUSUBEL et al. (1989). Preparação do extrato Para preparação do extrato hidroalcoólico as partes aéreas secas da planta foram colocadas em maceração com álcool 50% em proporção de 1:5, ou seja, uma parte da planta para cada cinco partes do solvente, durante 21 dias, à temperatura ambiente, acondicionada em frasco âmbar. Linhagens de Saccharomyces cerevisiae Para os estudos de mutagênese a antimutagênese, empregou-se a linhagem XV185-14c (MATa ade2-2 arg4-17 his1-7 lys1-1 trp5-48 hom3-10), a qual detecta mutação reversa, mutação do tipo forward e por deslocamento do quadro de leitura (frameshift). Condições de crescimento Células em fase estacionária de crescimento foram obtidas a partir de uma colônia isolada, retirada da placa e colocada para crescer em meio líquido YEL, por 48 horas, a 30 o C, até atingir a concentração de 2-4 x10 8 células/ml. Detecção da atividade mutagênica e antimutagênica Para os ensaios de mutagenicidade e antimutagenicidade, utilizou-se a linhagem XV185-14c de S. cerevisiae. Em frasco de Erlenmeyer contendo 30 ml de YEL foi inoculada uma colônia isolada dessa linhagem e colocada para crescer em shaker (incubadora com agitação orbital LABLINE), a 180 rpm e 30 o C, durante 48 horas, para atingir a fase estacioná- Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

54 ria. As culturas assim mantidas atingiam uma concentração de 2 a 4 x10 8 céls/ml. Posteriormente, esta suspensão foi passada para um tubo Falcon de 50 ml e centrifugada por 5 minutos a 5000 rpm. Após esta primeira centrifugação, desprezou-se o sobrenadante e adicionou-se 20mL de solução salina, seguido de centrifugação para lavagem das células. Este procedimento foi repetido duas vezes. As células foram então contadas em câmera de Neubauer no microscópio óptico e foram feitas as diluições necessárias para se obter à concentração celular desejada para o tratamento. Uma suspensão celular de 2x10 8 células/ml em fase estacionária foi incubada durante 20 horas a 30 o C, sob agitação a 180 rpm, com doses crescentes (50-500µL/mL de suspensão celular) do extrato hidroalcóolico da Costus. Determinou-se a sobrevivência através de semeadura em meio rico YEPD, após 3-5 dias de crescimento em estufa a 30 o C. Para a detecção de mutação induzida (revertentes das marcas LIS, HIS ou HOM) as células foram incubadas em meio mínimo seletivo, durante 3-5 dias a 30 o C. A mutação his1-7 é um alelo de sentido incorreto ou missense, do tipo não supressivo, e, portanto, as reversões são a conseqüência de mutações no próprio lócus. Entretanto, o alelo lys1-1 corresponde a uma mutação do tipo ocre sem sentido (nonsense), a qual pode ser revertida de forma lócus específico ou através de mutação para frente (mutação forward) em um gene supressor. A diferença entre as reversões verdadeiras e mutações supressoras (forward) no lócus lys1-1 está bem descrita por SCHÜLLER & VON BORSTEL (1974), onde o conteúdo de adenina reduzido no meio SC-lys mostra reversão no lócus quando as colônias são vermelhas e mutações supressoras quando as colônias ficam brancas. Acredita-se que hom3-10 contenha mutação do tipo deslocamento do quadro de leitura ou frameshift, devido a sua resposta a uma série de agentes sabidamente mutagênicos. A representação esquemática deste ensaio pode ser observado na Figura 2. Figura 2 - Representação esquemática do teste de mutagênese e antimutagênse em S. cerevisiae. 54 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

55 Para os experimentos de antimutagênese, dois tipos de tratamento foram realizados: 1. Pré-tratamento: a linhagem foi incubada por 16 horas (a 30 o C com agitação a 180 rpm), com diferentes doses do extrato hidroalcoólico da planta, sendo posteriormente adicionado o H 2 O 2 16mM por mais uma hora, sendo então semeada a sobrevivência e a mutagênese em meios específicos (SC-lys, SC-hom e SC-his); 2. Tratamento simultâneo: a mesma linhagem foi incubada por 4 horas com diferentes doses do extrato hidroalcoólico e com H 2 O 2 16mM concomitantemente (a 30 o C com agitação), seguido por plaqueamento nos mesmos meios descritos acima. Nos dois casos, as placas foram incubadas no escuro a 30 o C, em estufa, durante 3-5 dias e após fez-se à contagem do número de colônias revertentes. Todos estes experimentos foram feitos em triplicata para cada dose testada. Como controle positivo foi utilizado o composto nitroquinoleína-1-óxido, (4-NQO 5mM), da marca Sigma, em todos os experimentos de mutagênese e antimutagênese. Análise estatística Os resultados foram analisados estatisticamente utilizando o Teste ANOVA-Dunett, comparando-se os tratamentos dos extratos com o controle (dose zero de extrato). Foi considerado estatisticamente significativo P < 0,05 e P < 0,01. RESULTADOS Na Tabela 1 pode-se observar que o extrato hidroalcoólico da Costus spicatus não é capaz de induzir mutagenicidade na linhagem XV185-14c de S. cerevisiae em nenhuma das doses testadas. É importante ressaltar que na dose de 50 ml/ml suspensão celular o número de revertentes no lócus de histidina é ainda menor que no controle (dose zero de extrato), mostrando que o extrato deve conter substâncias capazes de diminuir a própria mutagênese espontânea da linhagem. Tabela 1 - Indução de mutação pontual (his1-7 e lys1-1) e mutação por deslocamento do quadro de leitura ou frameshift (hom3-10) na linhagem haplóide XV c de S. cerevisiae, após o tratamento com o extrato hidroalcoólico da Costus spicatus em fase estacionária de crescimento. Dose do Extrato (μl/ml de suspensão celular) Sobrevivência (%) Revertentes His1/10 8 Revertentes Lys1/10 8 Revertentes Hom3/10 8 sobreviventes a sobreviventes b sobreviventes a 4-NQO (CP) 13 (19) 3066,67 (874) 350,88 (100) 10,53 (3) 0 100% (459) c 6,20 ± 1,55 d (29) c 2,20 ± 0,63 d (12) c 2,20 ± 0,28 d (13) c % (552) 4,00 ± 1,55 (27)** 3,10 ± 0,63 (19) 2,60 ± 0,28 (12) % (540) 4,40 ± 1,27 (30) 2,10 ± 0,07 (15) 1,80 ± 0,28 (11) % (477) 4,20 ± 1,41 (37) 2,40 ± 0,14 (16) 2,20 ± 0,00 (12) % (468) 3,30 ± 2,05 (36) 2,50 ± 0,21 (17) 2,80 ± 0,42 (16) a Revertentes de lócus-específico; b Revertentes de lócus-não específico; c Número entre parênteses é o total de colônias contadas em três placas para cada dose; d Significância e desvio-padrão de três experimentos independentes; ** Dados significativos em relação ao grupo controle negativo (salina) P<0.01 no teste ANOVA ( Dunnett s Multiple Comparison Test ). 4-NQO= 4-nitroquinoléina-1-óxido (controle positivo). Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

56 Na Tabela 2 estão apresentados os resultados da antimutagênese, com o pré-tratamento, ou seja, onde a linhagem foi pré-incubada por 16 horas com o extrato e posteriormente tratada com o H 2 O 2. Neste caso, não foi observada diferença estatisticamente significativa de proteção do extrato frente às mutações induzidas pelo H 2 O 2. Tabela 2 - Indução de mutação pontual (his1-7 e lys1-1) e mutação por deslocamento do quadro de leitura ou frameshift (hom3-10) na linhagem haplóide XV c de S. cerevisiae, após incubação prévia com o extrato da Costus spicatus (pré-tratamento) e posterior tratamento por uma hora com H 2 O 2 16mM em fase estacionária de crescimento. Dose do Extrato (μl/ml de suspensão celular) + H2O2 (P) Sobrevivência (%) Revertentes His1/10 8 Revertentes Lys1/10 8 Revertentes Hom3/10 8 sobreviventes a sobreviventes b sobreviventes a 0P 100% (555) c 7,00 ± 2,82 d (27) c 3,80 ± 0,00 d (16) c 3,40 ± 0,14 d (10) c 50P 83% (465) 11,0 ± 2,82 (47) 3,80 ± 0,00 (12) 3,20 ± 0,14 (14) 100P 109% (606) 11,3 ± 3,04 (49) 2,40 ± 0,98 (15) 2,70 ± 0,49 (16) 250P 59% (330) 14,4 ± 5,23 (54) 3,30 ± 0,35 (18) 2,50 ± 0,63 (13) 500P 81% (453) 15,6 ± 6,08 (56) 3,50 ± 0,21 (16) 3,10 ± 0,21 (14) a Revertentes de lócus-específico; b Revertentes de lócus-não específico; b Revertentes de Lócus não-específico. c Números entre parênteses é o total de colônias contadas em três placas para cada dose; d Significância e desvio-padrão de três experimentos independentes. A Tabela 3 contém os resultados da antimutagênese com o tratamento simultâneo de extrato e H 2 O 2 durante 4 horas. Neste tipo de ensaio, pôde-se perceber uma redução significativa da mutagenicidade induzida pelo H 2 O 2 no lócus da histidina para as doses de 100, 250 e 500 ml/ml suspensão celular de extrato, indicando, portanto, atividade antimutagênica. Tabela 3 - Indução de mutação pontual (his1-7 e lys1-1) e mutação por deslocamento do quadro de leitura ou frameshift (hom3-10) na linhagem haplóide XV c de S. cerevisiae, após o tratamento simultâneo durante 4 horas com o extrato hidroalcoólico de Costus spicatus e H 2 O 2 16mM, em fase estacionária de crescimento. Dose do Extrato (μl/ml de suspensão celular) + H2O2 (P) Sobrevivência (%) Revertentes His1/10 8 Revertentes Lys1/10 8 Revertentes Hom3/10 8 sobreviventes a sobreviventes b sobreviventes a 0P 100% (290) c 18,75± 4,73 d (45) c 2,73± 1,00 d (6) c 5,57± 2,77 d (13) c 50P 87% (260) 19,55± 10,97 (37) 2,88± 2,43 (5) 6,30± 0,52 (16) 100P 125% (326) 12,05± 1,54* (39) 1,62± 0,57 (5) 7,42± 3,09 (22) 250P 173% (419) 9,80± 2,71* (45) 1,45± 0,80 (6) 4,15± 3,91 (13) 500P 115% (308) 13,49± 1,51* (37) 2,59± 1,21 (7) 6,03± 3,20 (15) a Revertentes de Lócus-específico. b Revertentes de Lócus não-específico (mutação forward). c Números entre parênteses é total de colônias contadas em três placas para cada dose. d Significância e desvio-padrão de três experimentos independentes. * Dados significativos em relação ao grupo controle negativo (solvente) P < 0.05 no teste ANOVA ( Dunnett s Multiple Comparison Test ). 56 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

57 DISCUSSÃO A família Zingiberaceae é largamente distribuída entre os trópicos, particularmente no sudeste da Ásia. Embora existam muitos relatos de que os constituintes das plantas dessa família encontradas na Malásia não apresentam atividades biológicas, seja através de extratos brutos ou compostos isolados, sabe-se que muitas espécies das Zinziberaceae apresentam atividade antioxidante e antimicrobiana (IWU & ANYANWU, 1982; SIRAT, 1994). A planta Costus spicatus tem atraído a atenção de pesquisadores desde a descoberta de diosgenina, um precursor de hormônios esteroidais, em seus rizomas (SILVA et al., 1999). Por meio de estudos fitoquímicos e da combinação de espectroscopia e métodos químicos realizados com as partes aéreas da Costus spp., foi descrita a identificação e elucidação estrutural de dois novos diglicosídeos flavônicos com atividade antiinflamatória - a tamarixetina 3- O-neohesperidósideo e o canferídeo 3-Oneohesperidosídeo - principalmente nas folhas da cana-do-brejo. Além destes, foram identificados outros compostos bastante conhecidos tais como quercetina 3-O-neohesperidosídeo e seis outros flavonóides (SILVA et al., 2000). Embora o gênero Costus seja amplamente utilizado na medicina popular, ainda são poucos os estudos farmacológicos a respeito dos extratos dessas plantas. O extrato metanólico de Costus afer Ker mostrou-se citotóxico em ensaios com microcrustáceos, apresentou atividade anestésica local em porco da índia, atividade estrogênica e progestogênica em ratas e atividade antihiperglicemiante em ratos diabéticos induzidos por estreptozotocina (ANAGA et al., 2004). Algumas das substâncias presentes nos alimentos e vegetais podem ter efeitos mutagênicos e/ou carcinogênicos, isto é, podem induzir mutações do DNA e/ou podem favorecer o desenvolvimento de tumores enquanto outras podem atenuar ou anular estes efeitos (ANTUNES & ARAÚJO, 2000). Após a observação inicial de efeitos antimutagênicos de certos vegetais, vários compostos têm sido isolados de plantas e testados quanto à ação protetora sobre lesões induzidas no DNA (KADA et al., 1978). O termo antimutagênico foi usado originalmente por NOVICK & SZILARD em 1952 para descrever os agentes que reduzem a freqüência de mutação espontânea ou induzida, independente do mecanismo envolvido (VON BORSTEL et al., 1996). Os mecanismos de ação dos agentes antimutagênicos foram classificados em dois processos maiores, denominados desmutagênese e bio-antimutagênese. Na desmutagênese, os agentes protetores, ou antimutagênicos, atuam diretamente sobre os compostos que induzem mutações no DNA, inativando-os química ou enzimaticamente, inibindo ativação metabólica de pró-mutagênicos ou seqüestrando moléculas reativas. Na bio-antimutagênese, os antimutagênicos atuam sobre o processo que leva a indução de mutações, ou reparo das lesões causadas no DNA (KADA et al., 1978). Posteriormente, uma outra classificação mais detalhada foi sugerida, considerando o modo de ação dos antimutagênicos e/ou anticarcinogênicos, bem como o ambiente de ação, extra ou intracelular (DE FLORA & RAMEL, 1988). O potencial antimutagênico de uma substância pode ser avaliado em sistemas biológicos diversos, os mesmos empregados para o estudo e identi- Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

58 ficação dos agentes mutagênicos (ANDERSON et al., 1995; WATERS et al., 1996). Em qualquer desses sistemas-teste, o tratamento com os agentes mutagênicos, que induzem as mutações, e com o antimutagênico, que poderá inibir o aparecimento de lesões no DNA, pode ocorrer simultaneamente ou em momentos diferentes, por meio de pré-ou pós-tratamento. Os agentes antimutagênicos usados em pré-tratamento ou tratamento simultâneo podem atuar como agentes desmutagênicos. A efetividade do agente antimutagênico no pós-tratamento sugere que ele esteja atuando pelo mecanismo de bioantimutagênese e estaria relacionado ao processo de reparo das mutações, como acontece com a vanilina (SASAKI et al., 1987) e com o ácido tânico (SASAKI et al., 1988). Muitos compostos antimutagênicos encontrados nos alimentos são agentes antioxidantes e atuam seqüestrando os radicais livres de oxigênio, quando administrados como pré-tratamento ou nos tratamentos simultâneos com o agente que induz as mutações no DNA. Para os ensaios de mutagênese, o extrato hidroalcoólico da Costus spicatus não induziu atividade mutagênica na linhagem XV185-14c de S. cerevisiae nas doses testadas. Para os testes de antimutagenicidade, o extrato não protegeu significantemente das lesões induzidas por H 2 O 2 quando pré-tratadas, mas quando tratadas simultaneamente, os testes sugeriram uma pequena atividade antimutagênica nas doses de 100, 250 e 500 ml/ ml suspensão celular, apenas no lócus da histidina. Conforme citado acima, este efeito poderia ser devido a uma atividade desmutagênica da planta, onde os agentes protetores atuariam diretamente sobre à ação do H 2 O 2, inibindo a formação dos compostos que induzem mutações no DNA ou seqüestrando as moléculas reativas, como o radical hidroxil. O fato deste extrato vegetal não apresentar atividade mutagênica e sim, antimutagênica em S. cerevisiae torna-o bastante promissor para estudos futuros com outros modelos animais, bem como para a identificação dos compostos biologicamente ativos presentes na planta. CONCLUSÕES Nas doses testadas, o extrato hidroalcóolico da Costus spicatus não induziu atividade mutagênica em levedura S. cerevisiae. O extrato hidroalcoólico não apresentou atividade antimutagênica para lesões induzidas por H 2 O 2, quando a linhagem foi pré-tratada com o extrato; entretanto, no tratamento simultâneo da linhagem com o extrato vegetal da Costus e com o H 2 O 2, a atividade antimutagênica mostrou-se lócus-específico. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Prof. Dr. João A. P. Henriques e sua equipe, do Laboratório de Genotoxicidade (GENOTOX) da UFRGS, por nos dispor os equipamentos necessários para realização deste trabalho, bem como pelas valiosas sugestões. À Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Luterana do Brasil, pelas bolsas de Iniciação Científica concedidas e pelo financiamento deste projeto. 58 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, J. M. Plantas Medicinais de Uso Popular. Brasília: ABEAS, p. ANAGA, A. O.; NIJOKU, C. J.; EKEJIUBA, E. S.; ESIAKA, M. N.; ASUZU, I. U. Investigations of the methanolic leaf extrac of Costus after. Ker for pharmacological activities in vitro and in vivo. Phytomedicine, v. 11, p , ANDERSON, D.; BASARAN, N.; BLOWERS, A.; EDWARDS, A. J. The effect of antioxidants on bleomycin treatment in in vitro and in vivo genotoxic assays. Mutation Research, Amsterdam, v. 329, p , ANTUNES, L. M. G.; ARAÚJO, M. C. P. Mutagenicity and antimutagenicity of the main food colorings. Revista de Nutrição, Campinas, v. 13, p , AUSUBEL, F.; BRENT, R.; KINGSTON, R. E. Current Protocols in Molecular Biology. New York: John Wiley and Sons, CORRÊA, A. D.; SIQUEIRA-BATISTA, R.; QUINTAS, L. E. M. Plantas Medicinais Do cultivo à terapêutica. 2.ed. Petrópolis: Editora Vozes, p. DE FLORA, S.; RAMEL, C. Mechanisms of inhibitors of mutagenesis and carcinogenesis. Classification and overview. Mutation Research, v. 202, p , IWU, M. M.; ANYAWU, B. N. Steroidal constituint of Costus afer. Journal of Ethnopharmacology, v. 6, p. 263, KADA, T.; MORITA, K.; INOUE, T. Antimutagenic action of vegetable factor(s) on the mutagenic principle of tryptophan pyrolysate. Mutation Research, v. 53, p , LORENZI, H.; MATOS, F. J. de ABREU. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas cultivadas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, p. MORS, W. B.; RIZZINI, C. T.; PEREIRA, N. A. Medicinal Plants of Brazil. Michigan: Incorporated Algonac, Reference Publications. SASAKI, Y. F.; IMANISHI, H.; OHTA, T.; SHIRASU, Y. Effects of vanillin on sister chromatid exchanges and chromosome aberrations induced by mitomycin C in cultured Chinese hamster ovary cells. Mutation Research, v. 191, p , SASAKI, Y. F.; IMANISHI, H.; OHTA, T.; SHIRASU, Y.; WATANABE, M.; MATSUMOTO, K.; SHIRASU, Y. Suppressing effect of tannic acid on UV and chemically induced chromosome aberrations in cultured mammalian cells. Agricultural and Biological Chemistry, v. 52, p , SCHULLER R. C.; VON BORSTEL, R. C. Spontaneous mutability in yeast. I. Stability of lysine reversion rates to variation of adenine concentration, Mutation Research, v. 24, 17-23, SILVA, B. P.; BERNARDO, R. R. ; PAREN- TE, J. P. Flavonol glycosides from Costus spicatus. Phytochemistry, v. 53, p , SILVA, B. P.; BERNARDO, R. R.; PAREN- TE, J. P. A furostanol glycoside from rhizomes of Costus spicatus. Phytochemistry, v. 51, p. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

60 , SIRAT, H. M. Study on the terpenoids of Zingiber ottensi. Planta Medica, v. 60, p. 497, VAN DEN BERG, M. E. Plantas Medicinais na Amazônia - Contribuição ao seu conhecimento sistemático. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, p. VIEIRA, L. S.; ALBUQUERQUE, J. M. Fitoterapia Tropical - Manual de Plantas Medicinais. Belém: FCAP/Serviço e Documentação e Informação, VON BORSTEL, R. C.; DRAKE, J. W.; LOEB, L. A. Foreword. Mutation Research, v. 350, p. 1-3, WATERS, M. D.; STACK, H. F.; JACKSON, M. A.; BROCKMAN, H. E.; DE FLORA S. Activity profiles of antimutagens: in vitro and in vivo data. Mutation Research, v. 350, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

61 Comparação de desenvolvimento inicial do rudimento seminal em Schinus terebinthifolius Raddi e Schinus polygamus (Cav.) Cabr. (Anacardiaceae) DANIELE MUNARETO RODRIGUES 1 JOÃO MARCELO SANTOS DE OLIVEIRA 2 JORGE ERNESTO DE ARAUJO MARIATH 3 RESUMO O gênero Schinus é dividido em dois subgêneros, Duvaua e Euschinus, onde o tipo de folha e inflorescência justificam tal organização infragenérica. Devido à sobreposição desses caracteres, os autores observaram padrões ontogenéticos diferentes entre duas espécies de subgêneros distintos. S. terebinthifolius apresenta folha composta e S. polygamus folha simples. A ontogenia do rudimento seminal em S. terebinthifolius mostra o crescimento deste órgão em direção à base da cavidade locular, e o surgimento do tegumento interno é simétrico dorsoventralmente. Em S. polygamus o rudimento seminal cresce contra a parede da cavidade locular, e o surgimento do tegumento interno é assimétrico dorsoventralmente. Com base na ontogenia dos rudimentos seminais, sugere-se a confirmação dos subgêneros para o gênero Schinus. Palavras-chave: Anacardiaceae, embriologia, ontogenia, rudimento seminal, Schinus. 1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA Bolsista CNPq 2 Doutorando do PPG Botânica/UFRGS 3 Professor Orientador do Curso de Biologia/UFRGS (mariath@plugin.com.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

62 ABSTRACT The Schinus sort is divided in two subgenera, Duvaua and Euschinus, where the type of leaf and inflorescência justify such infrageneric organization. Due to overlapping of these characters, the authors had observed different ontogenéticos standards between two species of distinct subgenera. S. terebinthifolius presents composed leaf and S. polygamus simple leaf. The ontogenia of the ovule in S. terebinthifolius shows the growth of this agency in direction to the base of the socket to locule, and the sprouting of the internal integument is symmetrical dorsiventrally. In S. polygamus the ovule grows against the wall of the socket to locule, and the sprouting of the internal integument is anti-symmetrical dorsiventrally. On the basis of the ontogenia of the ovule, suggests it confirmation of the subgenera for the Schinus. Key words: Anacardiaceae, embryology, ontogeny, ovule, Schinus. INTRODUÇÃO A definição dos tecidos de um rudimento seminal ocorre no início do seu processo morfogenético em relação a todo o processo de desenvolvimento, ou seja, desde as primeiras divisões no tecido placentário até a fecundação. Nesse contexto, o estudo dos eventos ontogenéticos é fundamental para a compreensão de quais são os tipos de tecidos e seu modo de origem, onde tais resultados podem ser utilizados em estudos taxonômicos, sistemáticos e evolutivos (PALSER 1975, BOUMAN 1984, JOHRI et al. 1992). Entre os diferentes modos de interpretar a biologia, a ontogenia permite acesso indireto, porém, robusto para a compreensão das diferentes relações dos diferentes grupos e níveis taxonômicos, pois permite que sejam estabelecidos graus de similaridade entre os diferentes grupos em estudo, ou seja, homologias (FINK 1982, PINNA 1991, AMORIN 2002). Na família Anacardiaceae foram produzidos estudos importantes onde considerações taxonômicas, sistemáticas e tendências evolutivas foram discutidas, além da apresentação de propostas para reformulação da organização das tri- bos até então aceitas (WANNAN & QUINN 1990, 1991). Os estudos apresentados por WANNAN & QUINN (l.c.), levaram em consideração a estrutura anatômica de frutos maduros e morfologia de flores em antese de um grande número de gêneros, incluindo o gênero Schinus, objeto do presente estudo, onde vários autores (VON TEICHMAN & ROBBERTSE 1986, VON TEICHMAN 1989, entre outros) destacaram a importância do correto estabelecimento de homologias entre os táxons para que os objetivos, nos seus respectivos trabalhos, fossem atingidos. Porém, estudos ontogenéticos na família são raros para qualquer órgão (vegetativo, principalmente, ou reprodutivo), se destacando o breve estudo apresentado por ROBBERTSE et al. (1986), para o rudimento seminal de Mangifera indica e outro apresentado por GRUNDWAG (1976) para o carpelo e rudimento seminal em espécies de Pistacia, e estudos sobre o desenvolvimento do androceu e anteras em Anacardium occidentale (OLIVEIRA & MARIATH 2001, OLIVEIRA et al. 2001) e em Spondias mombin (OLIVEIRA 2001). Assim, considerando a importância da evidência ontogenética para a compreensão de fe- 62 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

63 nômenos biológicos, os autores do presente estudo têm por meta analisar e descrever o processo ontogenético de formação dos rudimentos seminais de espécies do gênero Schinus, que ocorrem no Estado do Rio Grande do Sul - Brasil, e avaliar sua importância taxonômica ao nível infragenérico. MATERIAL E MÉTODOS Botões florais de Schinus terebinthifolius Raddi e S. polygamus (Cav.) Cabr. foram coletados em diferentes regiões do Estado do Rio Grande do Sul. O material recém coletado foi imediatamente armazenado em câmara fria e, posteriormente, dissecado e medido com auxílio de microscópio estereoscópio Wild M7A. O material foi fixado em uma solução de glutaraldeído 1% e formaldeído 4%, em tampão fosfato de sódio 0,1M, com ph 7,4 (MCDOWELL & TRUMP 1976). O material fixado foi desidratado em série etílica até etanol absoluto e, a seguir, transferido para soluções de etanol absoluto e clorofórmio, nas proporções de 3:1, 1:1, 1:3, 1:1 e 3:1, com a finalidade de extrair ceras epicuticulares que dificultam a adesão do material à resina acrílica utilizada como meio de inclusão (GERRITS & SMID 1983). As secções foram realizadas na espessura de 2 a 4mm e coradas em azul de toluidina O na concentração de 0,05%, em tampão benzoato, ph 4, 4, (FEDER & O BRIEN 1968). A figura 1 apresenta uma linha tracejada através do primórdio carpelar (a qual também deve ser considerada para a figura 2). A linha tracejada serve de referência para o leitor e indica o plano de corte longitudinal mediano ao longo do eixo que separa o carpelo, e o rudimento seminal, bilateralmente. Cortes, também longitudinais, perpendiculares à linha tracejada também foram realizados. O material botânico coletado para Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) foi desidratado em acetona e, posteriormente, transferido para dimetoximetano (GERSTERBERGER & LEINS, 1978), por 12 horas. O material desidratado foi submetido à secagem através do método de ponto crítico, com auxílio de um aparelho Balzers CPD 030. O material foi aderido a suportes de alumínio, com auxílio de fita metálica adesiva, e, posteriormente, recoberto com ouro, na espessura de 15 nm, com auxílio de um aparelho metalizador tipo sputtering Balzers SCD 050. As eletromicrografias foram realizadas em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) Jeol JMS 5800, sob 20 kv. RESULTADOS O gineceu em Schinus terebinthifolius e S. polygamus surge tricarpelar (Figuras 1 e 2), porém, dois carpelos sempre interrompem seu desenvolvimento muito cedo e nem formam cavidade locular. Além disso, os carpelos abortivos surgem, aparentemente, posteriormente à iniciação do carpelo funcional. No carpelo funcional, em ambas as espécies estudadas, o rudimento seminal surge através de divisões periclinais das duas camadas subjacentes em relação a protoderme da cavidade locular, em posição ventral nesta cavidade (Figuras 3 e 4). Nessa fase do desenvolvimento o botão floral de S. terebinthifolius possui entre 0,58 e 0,65 mm de comprimento e o seu carpelo 190 a 210µm de comprimento, aproximadamente. Em S. polygamus o botão floral possui entre 0,45 e 0,53 mm de comprimento, e o seu carpelo 170 a 190µm de comprimento, aproximadamente. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

64 Em S. terebinthifolius a invasão da cavidade locular pelo primórdio do rudimento seminal difere do observado em S. polygamus. Na primeira espécie, células da região dorsal do primórdio, próximas da sua região de inserção no carpelo, crescem por vacuolação mais do que suas equivalentes de posição ventral, aparentemente, gerando a curvatura apresentada pelo primórdio do rudimento antes da formação da célula arquesporial (Figura 5). Logo a seguir, ocorre a divisão periclinal de uma célula subdérmica no ápice do primórdio (Figura 6), resultando na formação de uma célula arquesporial e uma célula parietal (Figura 6). A célula parietal, juntamente com as demais células adjacentes, no ápice do primórdio, por divisões periclinais consecutivas, origina o tecido crassinucelar. A seguir é observada a ampliação da cavidade locular e formação do tegumento interno, o qual surge a partir de divisões periclinais de células epidérmicas em torno do ápice do primórdio, com uma largura de duas, raro três, células. Nessa fase, portanto, é definida a região nucelar, sendo possível identificar, também claramente o funículo e o tecido provascular se diferenciando em seu interior (Figura 7). Nessa fase do desenvolvimento o botão floral de S. terebinthifolius possui entre 0,78 e 0,93 mm de comprimento e o seu carpelo entre 400 e 450µm de comprimento, aproximadamente. Durante a invasão da cavidade locular pelo primórdio carpelar, em S. polygamus, não é observada vacuolação de células dorsais próximas à região de inserção deste primórdio e o mesmo não se curva inicialmente em direção à base da cavidade locular. Assim, o primórdio acaba crescendo em direção a parede locular oposta, onde parte de sua porção apical e dorsal fica comprimida junto à parede carpelar (Figura 8). Posteriormente, é observada a formação da célula arquesporial e da célula parietal, seguido de divisões periclinais em células epidérmicas, para a formação do tegumento interno, a semelhança do que ocorre em S. terebinthifolius. Porém, parte da porção dorsal do tegumento interno, mesmo ocorrendo às divisões periclinais, não invade o espaço locular, aparentemente, devido à falta de espaço (Figura 9). Na porção ventral o tegumento interno se eleva do primórdio, tornando-se evidente; além disso, a cavidade locular não apresenta uma ampliação expressiva, similar àquela observada em S. terebinthifolius (Figura 9). Nessa fase do desenvolvimento o botão floral de S. polygamus possui entre 0,62 e 0,78 mm de comprimento e o seu carpelo entre 280 a 340 µm de comprimento, aproximadamente. Em ambas as espécies estudadas, a diferenciação da célula arquesporial e crescimento do tecido crassinucelar são similares. O crescimento do tegumento interno é mediado por divisões periclinais e oblíquas de células derivadas da protoderme do primórdio do rudimento seminal; o crescimento proliferativo do tecido crassinucelar ocorre através de divisões periclinais, predominantemente (Figuras 10 e 11). Ainda durante essa fase de crescimento inicial, ocorre ampliação da cavidade locular em S. polygamus, associado ao aumento de curvatura de seu primórdio, em direção a uma estrutura anátropa. Aparentemente, essa combinação de fatores permite que a porção dorsal do tegumento interno, a seguir, se projete do primórdio do rudimento seminal (Figura 12), ocupando espaço na cavidade locular. Durante esse período de desenvolvimento, se observa o início da formação do obturador funicular, onde, então, células da protoderme e duas a três camadas celulares subjacentes iniciam divisões 64 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

65 periclinais. Esse processo se instala na porção ventral do primórdio do rudimento seminal, entre a região de placentação e o tegumento interno (Figura 12). O mesmo processo ocorre em S. terebinthifolius. O tegumento externo em ambas as espécies de Schinus, estudadas, se desenvolve da mesma forma. O processo inicia com divisões periclinais nas células epidérmicas apenas da região dorsal, do primórdio, com uma distância de duas a três células em relação ao tegumento interno (Figuras 13 e 14). Nessa fase do desenvolvimento o botão floral de S. polygamus possui entre 0,78 e 0,85 mm de comprimento e o seu carpelo entre 430 a 500µm de comprimento, aproximadamente. O botão floral de S. terebinthifolius possui entre 0,9 e 1,0 mm de comprimento e o seu carpelo entre 620 e 680µm de comprimento, aproximadamente. Algumas fases mais adiantadas do desenvolvimento foram analisadas para a obtenção de um quadro geral do desenvolvimento dos tecidos que tiveram sua ontogenênese estudada. Assim, o desenvolvimento posterior revela rudimentos seminais anátropos em S. terebinthifolius e hemianátropos em S. polygamus, onde o nucelo, obturador funicular, tegumento interno e externo são evidentes, além disso, fica evidente o não desenvolvimento do tegumento externo na região ventral do rudimento seminal (Figuras 15 e 16). DISCUSSÃO A ontogenia do primórdio dos rudimentos seminais é muito similar entre S. terebinthifolius e S. polygamus, embora, nessas espécies, algumas diferenças tenham sido observadas. A origem do processo de formação do primórdio do rudimento seminal revela a ação da protoderme carpelar e as duas camadas subjacentes, onde a protoderme se divide anticlinalmente e as duas camadas subjacentes se dividem periclinalmente. O processo ontogenético posterior revela a invasão do lóculo, formação da célula arquesporial e célula parietal, formação do tegumento interno, formação do obturador funicular e, posteriormente, a formação do tegumento externo. Inicialmente serão discutidas estas similaridades. Posteriormente, serão discutidas, então, as diferenças observadas no presente trabalho entre o processo ontogenético para as duas espécies do gênero Schinus. Com relação às divisões iniciais para a formação do primórdio do rudimento seminal, não existem informações sobre o evento na família Anacardiaceae, embora, existam descrições da morfologia do primórdio já incluso na cavidade locular, como por exemplo, em S. molle (COPELAND 1959), onde o primórdio é comparado a um domo vegetativo, em função de sua morfologia. Processo similar, na família Anacardiaceae, foi descrito por OLIVEIRA (2001) para a iniciação de primórdios de estames em Spondias mombin, onde, ocorrem divisões periclinais das duas camadas subdérmicas e apenas divisões anticlinais da camada protodérmica do meristema floral. UMEDA et al. (1994) descreveram para Magnolia grandiflora a participação da epiderme e das duas camadas subjacentes na construção do primórdio do rudimento seminal, semelhante ao que foi descrito no presente estudo. Embora, comparações com espécies consideradas primitivas incitem especulações evolutivas, em função da não existência de outras informações na família, não podemos inferir sobre a ancestralidade do caráter ou sua convergência neste grupo vegetal. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

66 A origem dos tegumentos descrita no presente estudo revelou a ação da camada protodérmica, através de divisões periclinais, principalmente, e oblíquas. Em ambas as espécies estudadas o tegumento interno surge logo após a formação das células arquesporial e parietal primária, além disso, a formação do tegumento interno define a região nucelar. De maneira geral, nas angiospermas, o tegumento interno tem origem dérmica, se desenvolve em torno do ápice do primórdio e possui duas a três células de altura (BOUMAN 1984). Assim, o tegumento interno se desenvolve em torno do nucelo, como também foi observado no presente estudo. Em Toxicodendron diversiloba, COPELAND & DOYEL (1940) descreveram que a formação dos tegumentos ocorre após a formação do saco embrionário, embora as representações esquemáticas apresentadas mostrem que a formação dos tegumentos ocorreu em fases mais iniciais. Um período de formação de tegumentos, similar ao que observamos, foi descrito para S. molle (COPELAND 1959). Em Mangifera indica ROBBERTSE et al. (1986) descreveram que os tegumentos possuem origem dérmica, a semelhança, então, de S. terebinthifolius e S. polygamus; na primeira espécie, além disso, os tegumentos surgem simultaneamente e após a diferenciação da célula arquesporial. ROBBERTSE et al. (1986) descreveram que o tegumento externo em Mangifera indica mantém seu desenvolvimento através de um processo definido por BOUMAN & CALIS (1977), para Eranthis hyemalis, como integumentary shifting. Cabe salientar que os autores (ROBBERTSE et al. 1986) não apresentaram detalhamento ontogenético suficiente para tal conclusão. Assim, pelo que foi exposto, o estudo comparado de duas espécies de Schinus, através da ontogenia dos rudimentos seminais é inédito para a família Anacardiaceae. Algumas informações sobre a estrutura geral dos rudimentos seminais adultos são bem conhecidas e, de maneira geral, é sabido que tais estruturas na família são, usualmente, anátropos, bitégmicos e crassinucelares (JOHRI et al. 1992). De maneira ampla, cabe a generalização de que na família Anacardiaceae os estudos morfológicos florais realizados limitaram suas observações aos carpelos, entre outros órgãos florais, e os estudos embriológicos ao primórdio dos rudimentos seminais já iniciados e aos eventos de esporogênese e gametogênese. Nas poucas publicações em que alguma descrição ontogenética é estabelecida o primórdio do rudimento seminal é descrito como um domo de células, e pouco detalhamento é fornecido sobre os tegumentos, além de informações imprecisas e que necessitam de confirmação. Embora existam similaridades entre S. terebinthifolius e S. polygamus com relação ao modo de iniciação do primórdio do rudimento seminal, também existem diferenças constantes e interessantes entre as duas espécies. Tais diferenças, como descrito no presente estudo estão relacionadas com o modo de entrada do rudimento seminal na cavidade locular, a expressão morfológica inicial do tegumento interno e o desenvolvimento relativo da cavidade locular e do próprio rudimento seminal. Tais diferenças acreditam os autores do presente estudo, possui valor taxonômico, em função exclusivamente da não sobreposição de eventos do processo entre as espécies e, também, por se tratar do processo ontogenético. Em relação ao desenvolvimento do tegumento interno IMAICHI et al. (1995) demonstraram que em espécies de Goniothalamus e Stelechocharpus 66 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

67 burahol ocorre o retardo do desenvolvimento do tegumento interno na região dorsal do primórdio do rudimento seminal, porém a análise, além de ser apenas morfológica a análise do trabalho não se levou em consideração a relação do primórdio com a parede carpelar. A discussão taxonômica que os autores pretendem estabelecer, com base nas diferenças ontogenéticas entre as espécies do presente estudo, diz respeito a duas possibilidades de abordar o assunto em termos taxonômicos. A primeira abordagem diz respeito à utilização direta das diferenças ontogenéticas para a caracterização das espécies. Acreditamos que a outra abordagem taxonômica no presente estudo necessita mais atenção, e diz respeito a subdivisão do gênero Schinus, proposta, inicialmente por MARCHAND (1869). MARCHAND (L.C.) utilizou tipo de folha e inflorescência para a delimitação das seções Euschinus e Duvaua. Posteriormente, ainda baseado nos mesmos caracteres morfológicos ENGLER (1883) considerou Euschinus e Duvaua como subgêneros de Schinus, os quais foram reconhecidos por BARKLEY (1944, 1957). Usualmente, o subgênero Euschinus é definido como possuindo folhas compostas e inflorescências compostas, tipo panículas, enquanto o subgênero Duvaua possui folhas simples e inflorescências simples, tipo racemos (BARKLEY 1944, 1957). Porém, algumas espécies como Schinus pearcei possuem ramos com folhas simples e compostas, além de inflorescências tipo panículas, e S. sinuatus, que possui folhas simples, e inflorescências tipo panículas (BARKLEY L.C.). Assim, de acordo com FLEIG (1979, 1987) faltam caracteres robustos para validar ou manter os subgêneros, sendo que a autora considerou supérflua a subdivisão do gênero. Contudo, caso venha a ser confirmada a característica ontogenética de S. polygamus, descrita no presente estudo, para outras espécies de folhas simples, e de forma similar para as espécies de folhas compostas em relação ao que foi descrito para S. terebinthifolius, os autores do presente estudo acreditam que se estabelece uma base morfogenética robusta para a delimitação dos subgêneros em Schinus. Assim, os resultados obtidos no presente estudo, baseados no processo ontogenético, revelam a importância do tema para discussões taxonômicas e, também, sistemáticas para o gênero Schinus, entre outros da família Anacardiaceae. Os autores do presente estudo concordam com outros autores em relação à importância do processo ontogenético para o estabelecimento de homologias entre estruturas a serem comparadas, as quais são fundamentais em considerações taxonômicas, sistemáticas e evolutivas (FINK 1982, PINNA 1991, AMORIN 2002). A família Anacardiaceae, foi alvo de estudos consecutivos envolvendo flores em antese, frutos maduros e sementes (VON TEICHMAN, 1988; 1991, 1992, 1998; VON TEICHMAN & VAN WYK, 1994; WANNAN & QUINN 1990, 1991), porém raros são os trabalhos que envolvem estudos ontogenéticos, ou aqueles que são realizados são pouco criteriosos, além disso, muitas informações são adaptadas de outras espécies ou gêneros considerados próximos, onde o processo ontogenético é considerado similar de forma arbitrária, portanto. Assim, embora diversos trabalhos na família Anacardiaceae tenham um objetivo taxonômico e/ou sistemático, algumas de suas considerações devem ser revisadas e ampliadas com base em estudos ontogenéticos. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

68 Figuras 1 a 7-1 e 2. Microscopia eletrônica de varredura. 1. Botão floral de Schinus terebinthifolius. Seta indica carpelo funcional, cabeças de setas indicam primórdios carpelares abortivos. Círculos brancos indicam primórdios estaminais. Linha tracejada indica plano de corte que separa carpelo e rudimento seminal bilateralmente. Barra = 300µm. 2. Botão floral de S. polygamus. Seta indica carpelo funcional, cabeças de setas indicam primórdios carpelares abortivos. Círculos brancos indicam primórdios estaminais. Barra = 190µm. 3 a 7. Secções longitudinais orientadas pela linha tracejada indicada na figura Primórdio de rudimento seminal de S. terebinthifolius; cabeças de setas indicam células da segunda e da terceira camada placentário em divisão; cavidade locular = c. Barra = 20µm. 4. Primórdio de rudimento seminal de S. polygamus, cabeças de setas indicam células da segunda e da terceira camada placentário em divisão; cavidade locular = c. Barra = 20µm. 5. Primórdio de rudimento seminal de S. terebinthifolius preenchendo a cavidade locular. Asterisco indica região placentária, cabeças de setas indicam células volumosas que provocam curvatura do primórdio. Barra = 20µm. 6. Detalhe do ápice do primórdio após a formação da célula arquesporial (seta branca) e da célula parietal (seta preta). Barra = 25µm. 7. Formação do tegumento interno em S. terebinthifolius (cabeças de setas), a partir da protoderme; nucelo = n, asterisco indica tecido provascular. Barra = 20µm. 68 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

69 Figuras 8 a Primórdio de rudimento seminal de Schinus polygamus (círculo) preenchendo a cavidade locular. Cabeça de seta indica região dorsal do primórdio comprimida contra a parede locular; asterisco indica região placentária. 9. Formação do tegumento interno em S. polygamus (cabeças de setas), a partir da protoderme; seta branca indica tegumento comprimido, nucelo = n, asterisco indica região placentária. 10. Secção longitudinal de S. terebinthifolius perpendicular a linha tracejada mostrada na figura 1. Quadrado preto indica o tegumento interno em desenvolvimento, seta indica célula arquesporial. 11. S. polygamus, orientação de corte e legenda idem figura S. polygamus, secção longitudinal orientada pela linha tracejada indicada na figura 1. Setas pretas indicam formação do obturador funicular, quadrado indica tegumento interno, seta branca indica célula arquesporial. 13. S. terebinthifolius. Formação do tegumento externo a partir da epiderme (setas), quadrados indicam tegumento interno, círculo indica célula arquesporial, nucelo crassinucelar = cn. 14. S. polygamus. Orientação de corte e legenda idem figura 13. Barra de escala das figuras 8 a 11 = 20µm. Barra de escala das figuras 12 a 14 = 25µm. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

70 Figuras 15 e 16 - Gametogênese inicial. 15. Schinus terebinthifolius, secção longitudinal orientada pela linha tracejada indicada na figura 1. Quadrados pretos indicam tegumento interno, circulo branco indica tegumento externo, obturador funicular = ob; seta branca indica ginófito, asterisco indica região calazal. 16. Schinus polygamus. Orientação de corte e legenda idem figura 15. Barra de escala das figuras 15 e 16 = 25µm. AGRADECIMENTOS Ao Centro de Microscopia Eletrônica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em especial às técnicas Miriam Souza Santos e Francis Farret Darsie. Os autores agradecem ao CNPq pelo suporte financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIN, D. S. Fundamentos de Sistemática Filogenética. Ribeirão Preto: Editora Holos, BARKLEY, F. A. Schinus L. Brittonia, v.5, p , BARKLEY, F. A. A study of Schinus L. Lilloa, v.28, p.1-110, BOUMAN, F. The Ovule. In: Embryology of Angiosperms. New York: Springer-Verlag, p BOUMAN, F.; CALIS, J. I. M. Integumentary shifting a third way to unitegmy. Berichte der Deutsche Botanische Geselchaft, v.90, p.15-28, COPELAND, H. F.; DOYEL, B. E. Some features of the Toxicodendron divesiloba. American Journal of Botany, v. 27, p , ENGLER, A. Anacardiaceae. In: CANDOLE, A.L.P.P. de; CANDOLE, A.C.P. de (Eds.). Monographie Phanerogamarum. 70 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

71 Paris: G. Masson, v.4, p FEDER, N.; O BRIEN, T. P. Plant Microtechnique: some principles and new methods. American Journal of Botany, v. 55, p , FINK, W. L. The conceptual relationship between ontogeny and phylogeny. Paleobiology, v.8, p , FLEIG, M. Estudo taxonômico da família Anacardiaceae no Rio Grande do Sul, Brasil Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, FLEIG, M. Anacardiaceae: floral ilustrada do Rio Grande do Sul. Boletim do Instituto de Biociências, Porto Alegre, v. 42, p. 1-72, GERRITS, P. O.; SMID, L. A new, less toxic polymerisation system for the embedding of soft tissues in glycol methacrylate and subsequent preparing of serial sections. Journal of Microscopy, v.132, p.81-85, GOULD, S. J. Ontogeny and Phylogeny. Cambridge: Harvard University Press, IMAICHI, R.; KATO, M.; OKADA, H. Morphology of the outer integument in three primitive angiosperm families. Canadian Journal of Botany, v.73, p , JOHANSEN, D. A. Plant microtechnique. New York: McGraw-Hill, JOHRI, B. M., AMBEGAOKAR, K. B.; SRIVASTAVA, P. S. Comparative Embryology of Angiosperms. Berlin: Springer-Verlag, MARCHAND, L. Révision du groupe des Anacardiacées. Paris: J.B. Bailliére et Fils, McDOWELL, E. M.; TRUMP, B. Histological fixatives for diagnostic light and electron microscopy. Archives of Pathology & Laboratory Medicine, v.100, p , MITCHELL, J. D. The poisonous Anacardiaceae genera of the world. Advances in Economic Botany, v.8, p , OLIVEIRA, J. M. S. Androsporogênese e Androgametogênese em Spondias mombin L. (Cajazeira Anacardiaceae) Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, OLIVEIRA, J. M. S.; MARIATH, J. E. A. Development of anther and pollen grain in Anacardium occidentale (Anacardiaceae). Phytomorphology, v.51, p , OLIVEIRA, J. M. S.; MARIATH, J. E. A.; BUENO, D. M. Desenvolvimento floral e estaminal no clone CP76 de Anacardium occidentale L. cajueiro-anão precoce (Anacardiaceae). Revista Brasileira de Botânica, v.24, p , PALSER, B. F. The bases of angiosperm phylogeny: embryology. Annals of the Missouri Botanical Garden, v.62, p , PINNA, M. C. C. Concepts and tests of homology in the cladistic paradigma. Cladistics, v.7, p , ROBBERTSE, P. J.; VON TEICHMAN, I.; VAN RENSBURG, H. J. A re-evaluation of the structure of the mango ovule in comparison with those of a few other Anacardiaceae species. South African Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

72 Journal of Botany, v.52, p.17-24, VON TEICHMAN, I. Development and structure of the seed-coat of Lannea discolor (Sonder) Engl. (Anacardiaceae). Botanical Journal of Linnean Society, v.98, p , VON TEICHMAN, I. Micromorphological structure of the fruit and seed of Smodingium argutum (Anacardiaceae), as an adaptation to its natural habitat. South African Journal of Botany, v.64, p , VON TEICHMAN, I. Notes on the ovule and partially pachychalazal seed of Operculicarya decaryi H. Perrier (Anacardiaceae) from Madagascar. Botanical Bulletin of Academia Sinica, v.33, p , VON TEICHMAN, I. The pachychalazal seed of Protorhus longifolia (Bernh.) Engl. (Anacardiaceae) and its taxonomic significance. Botanical Bulletin of Academia Sinica, v.32, p , VON TEICHMAN, I. Reinterpretation of the pericarp of Rhus lancea (Anacardiaceae). South African Journal of Botany, v.55, p , VON TEICHMAN, I.; ROBBERTSE, P. J. Development and structure of the pericarp and seed of Rhus lancea L. fil. (Anacardiaceae), with taxonomic notes. Botanical Journal of Linnean Society, v.93, p , VON TEICHMAN, I.; VAN WYK, A. E. The generic position of Protorhus namaquensis Sprague (Anacardiaceae): evidence from fruit structure. Annals of Botany, v.73, p , VON TEICHMAN, I.; VAN WYK, A. E. Ontogeny and structure of the drupe of Ozoroa paniculosa (Anacardiaceae). Botanical Journal of the Linnean Society, v.111, p , VON TEICHMAN, I.; VAN WYK, A. E. Taxonomic position of Rhus problematodes (Anacardiaceae): evidence from fruit and seed structure. South African Journal of Botany, v.57, p.29-33, WANNAN, B. S.; QUINN, C. J. Floral structure and evolution in the Anacardiaceae. Botanical Journal of the Linnean Society, v.107, p , WANNAN, B. S.; QUINN, C. J. Pericarp structure and generic affinities in the Anacardiaceae. Botanical Journal of Linnean Society, v.102, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

73 Avaliação do efeito fotoprotetivo de Polytrichum juniperinum Hedw, Colobanthus quitensis (Kunth.) Bartl. e Deschampsia antarctica Desv. através de ensaio cometa em Helix aspersa (Müller, 1774) BETINA KAPPEL PEREIRA 1 ANTÔNIO BATISTA PEREIRA 2 ALEXANDRE C. FERRAZ 3 NÁDIA TERESINHA SCHRÖDER 4 JULIANA DA SILVA 5 RESUMO O aumento da incidência de raios UV-B na Antártida tem sido observado nos últimos anos devido a redução da camada de ozônio da estratosfera. As plantas possuem diferentes mecanismos de proteção contra raios UV-B, onde se inclui o acúmulo de pigmentos nas folhas. Plantas coletadas na Antártida (Polytrichum juniperinum Hedw.; Colobanthus quitensis (Kunth.) Bartl.; e Deschampsia antarctica Desv.) foram oferecidas ad libbitum para Helix aspersa durante uma semana. O dano do DNA e a ação de fotoproteção destas plantas foram determinados através do Ensaio Cometa em células de hemolinfa. Nossos resultados demonstraram que as três espécies da Antártida apresentam efeito protetor contra 1 Acadêmica do Curso de Química/ULBRA Bolsista do CNPq 2 Professor do Curso de Biologia e do PPG Ensino de Ciências e Matemática/ULBRA 3 Professor do Curso de Farmácia/ULBRA 4 Professora do Curso de Biologia e do PPG Engenharia:Energia, Materiais e Ambiente 5 Professora Orientadora do Curso de Biologia e do PPG Ensino de Ciências e Matemática/ULBRA (juliana.silva@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

74 exposição à UV em Helix aspersa.tais análises encaminham para testes químicos, bioorientados mostrando assim o possível poder fotoprotetor destas plantas. Palavras-chave: Polytrichum, Colobanthus, Deschampsia, Genotoxicidade, Ensaio Cometa. ABSTRACT Ozone reductions in the stratosphere leads to selective increase in UV-B radiation at the Antartic surface, which damages DNA. Plants have involved different strategies for UV-B radiation tolerance. Avoidance mechanisms include epidermal screening of UV radiation by accumulation of the pigments in the leaves. Plants from Antartic (Polytrichum juniperinum Hedw.; Colobanthus quitensis (Kunth.) Bartl.; and Deschampsia antarctica Desv.) were offered ad libbitum for Helix aspersa during one week. DNA damage and photoprotective action of these plants were determined by Comet assay. The results demonstrated that the three species from Antartic show a protective effect against UV exposition for the Helix aspersa. Chemical analysis are been doing to determinate what compounds, and the quantity in each plant, can be related with the photoprotection observed in our study. Key words: Polytrichum, Colobanthu, Deschampsia, Genotoxicity, Comet Assay. INTRODUÇÃO A Antártica é o ponto do planeta que mais recebe radiações solares do tipo UV-B, consequencia de problemas com a camada de ozônio. Radiações deste tipo são potencialmente nocivas a saúde, danos causado por alta intensidade excedem os níveis de defesa e reparo de qualquer organismo (SCHMITZ-HOERNER & WEISSENBÖCK, 2003). A UV causa estresse foto-oxidadativo em todos os compartimentos celulares, além de outros efeitos que já foram observados em plantas (CHICARO et al, 2004). Respostas diretas ao estresse causado pela UV inclui peroxidação lipídica da membrana, devido a formação de radicais e dímeros no DNA (CHICARO et al, 2004). Estudos recentes com plantas têm demonstrado que estas apresentam em ambientes de estresse de radiação um aumento na produção de pigmentos de fotoproteção, como carotenóides e flavonóides. As plantas nestes ambientes possuem dois principais mecanismos de proteção: (1) o reparo, e (2) o acúmulo destes pigmentos no tecido mesofílico (SCHMITZ-HOERNER & WEISSENBÖCK, 2003). Buscando avaliar a ação fotoprotetiva dos pigmentos encontrados nestas plantas, coletouse três espécies na Antártida, durante o verãoaustral 2003/2004: (a) Polytrichum juniperinum Hedw.(Bryophyta); (b) Colobanthus quitensis (Kunth.) Bartl.(Caryophyllaceae); e (c) Deschampsia antarctica Desv. (Poaceae). O comportamento fotoprotetivo foi avaliado através do Ensaio Cometa em células de hemolinfa de Helix aspersa, os quais receberam estes vegetais durante uma semana, sendo posteriormente expostos à UV. A técnica do Ensaio Cometa ( Single Cell gel electrophoresis ) é um teste de genotoxicidade que foi escolhido pôr sua capacidade de detectar danos no DNA induzidos por 74 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

75 agentes alquilantes, intercalantes e oxidantes. A versão alcalina deste teste é capaz de detectar quebras de fita única e dupla, sítios alcalilábeis, e crosslinks. Este teste apresenta algumas vantagens sobre os testes bioquímicos e citogenéticos, entre estas a necessidade de somente um pequeno número de células e de não ser necessário células em divisão (COTELLE & FÉRARD, 1999). Conhecendo a sensibilidade do teste em diferentes condições, e a capacidade de bioindicação do Helix aspersa, surgem as condições para desenvolvimento desse trabalho. MATERIAL E MÉTODOS Indivíduos de Helix aspersa foram divididos em 4 grupos de aproximadamente 6 moluscos. Os grupos foram submetidos a alimentação com: (a) Lactuca sativa L. alface (controle); e com as espécies antárticas: (b) Polytrichum; (c) Colobanthus; (d) Deschampsia. Alimentação e água foram oferecidas ad libbitum. Os indivíduos foram observados durante o tempo de tratamento (1 semana). Células de hemolinfa foram utilizadas para o teste, preparando-se 4 lâminas/ indivíduo/ grupo de alimentação, sendo que parte foi exposta por 10 segundos a UV-germicida (30W) e parte não foi exposta (controle), avaliadas pelo Ensaio Cometa. Este teste foi realizado conforme descrito por SILVA et al (2000), com algumas modificações. O teste consiste basicamente na mistura de células em agarose sobre lâminas para microscópio, submetendo estas após lise celular a uma corrente elétrica. Esta corrente, havendo danos no DNA, faz com que os fragmentos do mesmo migrem, fazendo com que tenhamos uma imagem de célula cometa (célula com cauda) (Fig. 1). O DNA é corado por uma solução com prata, e analisase 100 células/indivíduo/tratamento (50/lâmina). Os núcleos contendo o DNA intacto são redondos (sem danos classe 0), conquanto as células lesadas são classificadas de acordo com a cauda (de pouco dano-1 até danos máximos classe 4 ). Assim, o Índice de Danos de cada grupo pode ir do zero (100X0; 100 células observadas sem danos) a 400 (100X4; 100 células observadas com dano máximo). Figura 1 - Células cometa em Helix aspersa. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

76 Para a identificação dos flavonóides foi utilizada cromatografia em camada delgada (CCD). Foram analisados, em sistemas eluentes distintos, os extratos metanólicos das três espécies quanto a presença de agliconas (CHCl 3 : MeOH 9:1) e heterosídeos flavônicos (acetato de etila: ácido fórmico: ácido acético: água - 100:11:11:26). RESULTADOS E CONCLUSÕES Os resultados referentes ao índice de danos e respectivo desvio padrão para cada grupo avaliado está apresentado na Figura 2. Os quatro grupos foram comparados entre si, onde entre aqueles sem exposição a UV, H. aspersa alimentado com alface e com as três espécies de plantas da Antártida, não observou-se diferença significativa. As células de hemolinfa expostas à raios UV do grupo que recebeu alface, demonstrou aumento significativo(p<0,05) de danos ao DNA em relação ao controle. Quando comparados os três grupos de espécies antárticas, este mesmo aumento significativo não foi demonstrado após exposição à raios UV. Observou-se ainda entre os grupos alimentados com Polytrichum e Deschempsia que suas células após exposição não apresentavam o mesmo valor de dano ao DNA, sendo inclusive inferior de forma significativa ao grupo alface. A partir dos resultados encontrados, tornouse importante conhecer e diferenciar a constituição química destes vegetais. Os flavonóides são produtos amplamente reconhecidos por serem produzidos pelas plantas para se protrgerem dos raios UV. A partir desta atividade, as análises fitoquímicas, das plantas Deschampsia antártica e Colobanthus quitensis e o musgo Polytrichium juniperinum, foram direcionadas para a fração mais polar, onde encontra-se estes produtos. Comparando o perfil cromatográfico destas espécies com a espécie utilizada como referência Lactuca sativum [alface], verifica-se que esta espécie possui poucas agliconas e os flavonóides detectados são distintos dos encontrados para os vegetais da Antártica. A maior proteção aos raios UV encontrada para a espécie Deschampsia antartica, pode ser explicada, pelo menos em parte, pela maior produção de flavonóides detectada neta planta. Por outro lado, é interessante comentar que a espécie Lactuca sativum, a qual apresentou menor proteção aos raios UV possui mais flavonóides do que as espécies Colobanthus quitensis e Polytricium juniperinum. A partir desta constatação, pode-se concluir que os flavonóides produzidos pelas espécies nativas da Antártica [Colobanthus quitensis e Polytricium juniperinum] possuem uma maior propriedade protetora dos raios UV. Desta maneira verifica-se a necessidade em aprofundar os estudos fitoquímicos com estes vegetais, visando isolar, identificar e avaliar a capacidade protetora destes flavonóides. 76 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

77 Figura 2 - Média e desvio padrão do índice de danos observados em Helix aspersa alimentados com alface (L. sativum), sem exposição e com exposição à UV, e com as espécies antárticas Polytrichum, Colobanthus e Deschampsia, expostos à UV. * P<0,05 Figura 4 - CCD em eluente para heterosídeos. A extrato metanólico de Colobanthus quitensis;b - extrato metanólico de Deschampsia antártica ; C -extrato metanólico Polytrichium juniperinum; D - Lactuca sativum; E Rutina; F- Hiperosídeo. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

78 Figura 5 - CCD em Eluente para Agliconas. Legenda: A extrato metanólico de Colobanthus quitensis;b - extrato metanólico de Deschampsia antártica ; C -extrato metanólico Polytrichium juniperinum; D - Lactuca sativum; E Quercetina; F- 3-methileterquercetina; G- 3,7 dimethileterquercetina. Apoio financeiro: CNPq / MMA / CIRM / ULBRA / CITOCEL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHICARO, P.; PINTO, E.; COLEPICOLO, P.; LOPES, J.; LOPES, N. Flavonoids from Lychnophora passerina (Asteraceae): potential antioxidants and UV-protectants. Biochemical Systematics and Ecology, v.32, p , COTELLE, S.; FÉRARD, J. F. Comet Assay in Genetic Ecotoxicology: A review. Environmental and Molecular Mutagenesis, v.34, p , SILVA, J.; FREITAS, T. R. O.; MARINHO, J. R.; SPEIT, G.; ERDTMANN, B. Alkaline single-cell gel electrophoresis (Comet) assay for environmental in vivo biomonitoring with native rodents. Genetics and Molecular Biology, v.23, p , SCHMITZ-HOERNER, R.; WEISSENBOCK, G. Contribuition of phenolic compounds to the UV-B schenning capacity of developing barley primary leaves in relation to DNA damage and repair under elevated UV_B levels. Phytochemistry, v.64, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

79 O emprego dos genes RAG na elucidação das relações filogenéticas de mamíferos ANA LETÍCIA DA SILVA PEREIRA 1 CRISTINA CLAUMANN FREYGANG 2 MARGARETE SUÑÉ MATTEVI 3 RESUMO O Sistema imune dos animais vertebrados é uma ferramenta importante que reconhece os antígenos alvo por meio de um complexo sistema de proteínas. Duas proteínas, codificadas pelos genes RAG 1 e RAG 2 são essenciais para esta reação. Recentemente estes genes estão sendo usados em estudos de sistemática e de análise filogenética dos vertebrados. Relata-se a análise de 26 amostras pertencentes às espécies A. lituratus e A. fimbriatus de quirópteros provenientes de 10 localidades de Santa Catarina, coletadas em um transecto Norte Sul. Destas amostras está sendo seqüenciado o gene RAG 2 com o objetivo de verificar se as mesmas se diferenciam à medida que aumentam as distâncias geográficas. Palavras-chave: RAG, sistema imune, quirópteros, relações filogenéticas, recombinação V(D)J. ABSTRACT The immune system of vertebrate animals is an important tool in recognizing the target antigens by antigen-binding proteins. Two proteins encoded by the recombination-activating genes, RAG 1 and RAG 2, are essential in this reaction. Recently, these genes are being used in the systematic and in the phylogenetic 1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA - Bolsista PIBIC/CNPq 2 Doutoranda do PPG Genética e Biologia Molecular/ UFRGS 3 Professora-Orientadora do Curso de Biologia e PPG Diagnóstico Genético-Molecular/ULBRA (mattevi@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

80 analysis of the vertebrates. Here it is related the analysis performing in 26 individuals of the A. lituratus and A. fimbriatus Quiroptera species from 10 localities of Santa Catarina, obtained in North-South transect. The RAG 2 gene of these sampled are being sequenced with the purpose to verify if they differentiate according to the increase of the geographic distances. Key words: RAG, immune system, Quiroptera, phylogenetic relationships, V(D)J Recombination. O sistema imune dos animais vertebrados é uma ferramenta importante que reconhece os antígenos alvo por meio de um complexo sistema de proteínas. Essas proteínas pertencem a duas famílias: as TCRs (T cell receptors), expressas e retidas na superfície das células T e as imunoglobulinas (Igs), expressas tanto em receptores na superfície da célula quanto secretadas como proteínas circulantes denominadas de anticorpos (SADOFSKY, 2001). Para o reconhecimento dos diversos antígenos, o sistema imune cria uma ampla população de moléculas receptoras que diferem nas seqüências primárias de suas regiões de ligação com o antígeno. Esse vasto Repertório imunológico é formado por um mecanismo de diversificação e seleção próprio gerado por três processos diferentes, dentre eles a recombinação V(D)J (SADOFSKY, 2001). Este mecanismo requer um corte preciso do DNA em segmentos seguido por um rearranjo dos mesmos (QIU et al., 2001). Duas proteínas, RAG 1 e RAG 2 (Recombination Activating Genes) formam as nucleases responsáveis pela clivagem do DNA (SADOFSKY, 2001). É interessante notar que as RAG atuam como transposases in vitro e que o processo de Recombinação V-J é parecido com o mecanismo pelo qual transposons movem-se de um lugar para outro no genoma e entre genomas (KLEIN,2004). Especificamente, as proteínas RAG 1 e RAG 2 podem ser vistas como transposases modificadas (enzimas intimamente associadas com o movimento dos transposons), as quais se ligam às seqüências sinal, deste modo iniciando uma reação que corta a seqüência entre os dois segmentos escolhidos sem, contudo, integrá-los em outra parte do genoma. De fato, testes in vitro têm demonstrado que as proteínas RAG são também capazes de cumprir esta função de integração (AGRAWAL et al.,1998; KLEIN,2004). Estas observações têm conduzido a hipóteses que os genes RAG e as seqüências sinal que flanqueiam os segmentos V,J, e D foram introduzidos no genoma de um ancestral vertebrado mandibulado por um transposon originado de uma bactéria ou vírus (BAKER et al., 2000; KLEIN, 2004). De acordo com estas hipóteses, o transposon original consistiria dos dois genes RAG nas suas formas ativas in-vivo. Após a integração no genoma do vertebrado ancestral, ele tornou-se ativo e produziu uma variante deficiente dos genes RAG, a qual então foi transposta uma ou duas vezes dentro do exon V do gene receptor primordial, cortando V e J em segmentos flanqueados pelas seqüências sinal. Uma segunda transposição pode ter gerado o segmento D que, ao contrário dos segmentos V e J, é flanqueado por seqüências sinal em ambas as extremidades. O transposon original integrado então perdeu suas seqüências sinal flanqueadoras, assim como a habilidade de trans- 80 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

81 por a si mesmo in vivo. O dois genes RAG tornaram-se, então, envolvidos exclusivamente na recombinação V(D)J dos genes TCR e BCR (B cell receptors) (AGRAWAL et al.,1998; KLEIN,2004). Somada à evidência citada acima, a observação de que dois genes RAG, embora pouco relacionados um com o outro, são justapostos em todas as espécies estudadas e transcritos concomitantemente, reforça a hipótese do transposon (KLEIN, 2004). As proteínas RAG são codificadas por dois pares de genes (RAG 1 e RAG 2 ) que, nos tetrápodes, não são interrompidos por íntrons e situados 8Kb um em relação ao outro no genoma nuclear. RAG 1 humano e proteínas RAG 2 são de 1,043 e 527 aminoácidos, respectivamente (BAKER et al., 2000). Estes genes são expressos somente nos linfócitos B e T, onde os níveis do transcrito variam nos diferentes estágios de desenvolvimento. O mecanismo de corte e união é feito pelas proteínas RAG de modo similar ao mecanismo pelo qual os íntrons são retirados do transcrito primário de RNA. No entanto, o processo está atuando sobre o DNA e segmentos diferentes estão envolvidos (V, D e J), não se podendo admitir que um V seja ligado a um J diretamente, sem o D, por exemplo. A clivagem é direcionada a um local preciso pela presença das RSSs (recombination signal sequences). A RSS é composta por heptâmeros conservados e nonâmeros separados por um espaçador de tamanho fixado. Há duas classes de RSS, que são distinguidas pelo tamanho de suas regiões espaçadoras. O tamanho destas regiões tem sempre 12 ou 23 nucleotídeos (o comprimento aproximado de uma ou duas voltas de DNA) e as mesmas são referidas como 12-RSS ou 23-RSS (SADOFSKY, 2001; QIU et al., 2001). Este conjunto cria, assim, na extremidade de cada segmento, um indicador de corte e união, semelhante ao que os íntrons têm no seu início e no seu fim. A existência dessas duas classes ajuda a evitar uma possível falha no sistema de recombinação (SADOFSKY, 2001). A função de RAG 1 neste processo já é bem conhecida, porém, a única função específica do RAG 2 que já foi identificada é o aumento da estabilidade e da especificidade das interações entre RAG 1 e a RSS (AKAMATSU & OETTINGER, 1998; SWANSON & DESIDERIO, 1999). A função de catalisador, se houver, de RAG 2 permanece desconhecido. Contudo, apesar de pouco se conhecer sobre a função de RAG 2, mutantes para este gene têm sido utilizados em estudos que visam melhor entender o funcionamento do sistema imune, como os trabalhos desenvolvidos por CHEN et al., 1993 e por QIU et al., A descoberta do RAG 1 e RAG 2 foi o avanço mais importante no estudo da recombinação V(D)J desde a descoberta original do rearranjo dos genes por Tonegawa (1983) tornou possível análises detalhadas da reação de clivagem da V(D)J. A descoberta dos genes RAG também foi de grande importância no estudo da ligação entre o reparo de DBSs (Double Strand Breaks) induzidas por RAG e outros reparos de DBSs, principalmente porque acredita-se que estes processos possam levar a translocações cromossômicas entre RSS verdadeiras e seqüências crípticas localizadas dentro do genoma, gerando oncogenes (JUNG & ALT, 2004). Em relação ao papel destes genes em estudos evolutivos, estes têm sido usados para resolver questões de ordem filogenética, entre pássaros Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

82 e vertebrados, e pequenas porções da região conservada têm sido empregadas para questões de níveis sistemáticos mais altos em mamíferos, morcegos e tubarões (STEPPAN et al. 2004). Especificamente em relação ao RAG 2, recentemente este gene vem sendo utilizado em trabalhos relacionados à filogenia e filogeografia de diversos taxa de mamíferos quando se trata de níveis taxonômicos superiores, tais como gêneros e famílias, nos quais a saturação de alguns tipos de mutações prejudica a resolução das relações entre os grupos, como pode acontecer com outros marcadores moleculares como citocromo b, por exemplo (BAKER et al., 2003). O potencial de RAG 2 na análise filogenética fica bem claro nos trabalhos realizados com a ordem Quiroptera por BAKER et al. (2000), Carstens et al., (2002) e BAKER et al. (2003}, principalmente dentro da família Phyllostomidae, grupo altamente controverso onde a magnitude da adaptação morfológica para estratégias mais eficientes de alimentação pode resultar em fenótipos tão modificados que mascaram as relações filogenéticas basais (BAKER et al., 2000). RAG 2 pode, particularmente, ser de grande utilidade para estudos da evolução dos filostomídeos pois, além de evoluir mais lentamente que o citocromo b, sua função na resposta imunológica provavelmente não está ligada às características morfológicas utilizadas freqüentemente como critérios diagnósticos na taxonomia do grupo. Estas propriedades nos levaram a escolhê-lo para análises do gênero Artibeus. Foram coletadas 26 amostras pertencentes às espécies A. lituratus e A. fimbriatus, provenientes de 10 localidades distintas do estado de Santa Catarina em um transecto Norte - Sul (Figura 1). Figura 1 - Mapa da distribuição das espécies estudadas e mapa do estado de Santa Catarina com os respectivos locais de coleta: 1 Santa Rosa do Sul, 2 Jacinto Machado, 3- Nova Veneza, 5- Treze de Maio, 6- Santo Amaro da Imperatriz, 7 e 8 - Florianópolis 9 Governador Celso Ramos, 10 Porto Belo, 11 Blumenau, 12 Gaspar. A localidade 4 não foi amostrada para estas espécies. Em cinza escuro, distribuição de A. lituratus e em cinza claro, distribuição de A. fimbriatus. 82 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

83 A extração é feita utilizando-se o método de extração de DNA com sal pela técnica de Medrano et al. (1990) e a amplificação por PCR mediante a combinação dos primers RAG 2 -F1 e RAG 2 -R1 (Figura 2) segundo condições descritas na literatura, com modificações. Para o seqüenciamento estão sendo utilizados os mesmos primers da amplificação. Os resultados estão sendo comparados com os que já obtivemos com o gene mitocondrial citocromo b para nas mesmas amostras, sendo, no entanto, ainda preliminares. Figura 2 - Diagrama representando os genes RAG, mostrando os sítios de anelamento, com destaque para os primers utilizados. Figura retirada de BAKER et al. (2000). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRAWAL, A.; EASTMAN, M. Q.; SCHATZ, G. D. Transposition mediated by RAG1 and RAG2 and its implications for the evolution of the immune system. Nature, v.394, p BAKER, R. J.; HOOFER, S. R.; PORTER, C. A.; VAN DEN BUSSCHE, R. A. Diversification among New World Leaf-nosed bats: An evolutionary hypothesis and classification inferred from digenomic congruence of DNA sequence. Occasional Papers of the Museum of Texas Technical University, v.230, p.1-32, BAKER, R. J.; PORTER, C. A.; PATTON, J. C.; VAN DEN BUSSCHE, R. A. Systematics of bats of the family Phyllostomidae based on RAG2 DNA sequences. Occasional Papers of the Museum of Texas Technical University, v.202, p CARSTENS, B. C.; LUNDRIGAN, B. L.; MYERS, P. A phylogeny of the Neotropical nectarfeeding bats (Chiroptera: Phyllostomidae) based on morphological and molecular data. Journal of Mammalian Evolution, v.9, p CHEN, J.; LANSFORD, R.; STEWART, V.; YOUNG, F.; ALT, F. W. RAG-2-deficient blastocyst complementation: an assay of gene function in lymphocyte development. Proceedings of the National Academy of Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

84 Science, v.90, p , JUNG, D.; ALT, F. W. Unraveling V(D)J Recombination: Insights into gene regulation. Cell, v.116, p , KLEIN, J. Did viruses play a part in the Origin of the Adaptative Immune System?. Folia Biologica, v.50, p.87-92, MEDRANO, J. F.; AASEN E. ; SHARROW, L. DNA extraction nucleated red blood cells. Biotechniques, v.8, p QIU, J. X.; KALE, S. B.; SCHULTZ, H. Y.; ROTH, D. B. Separation-of-function mutants reveal critical Roles for RAG2 in Both the Cleavage and Joining Steps of V(D)J Recombination. Molecular Cell, v.7, p.77-87, SADOSKY, M. J. The RAG proteins in V(D)J recombination: more than just a nuclease. Nucleic Acids Research, v.29, p , STEPPAN, J.S; STORZ, L.B, HOFFMANN, S.R. Nuclear DNA phylogeny of the squirrels (Mammalia: Rodentia) and the evolution of arboreality from c-myc and RAG1. Molecular Phylogenetics and Evolution, v.30, p , TONEGAWA, S. Somatic generation of antibody diversity. Nature, v.302, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

85 Avaliação de sensibilidade de três sistemas para a detecção de Mycoplasma gallisepticum pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) DIEGO HEPP 1 KELI CRISTINA DOS SANTOS SIMÕES 1 THAÍS DA ROCHA BOEIRA 2 ANDRÉ SALVADOR KAZANTZI FONSECA 2 VAGNER RICARDO LUNGE 3 EDMUNDO KANAN MARQUES 4 NILO IKUTA 5 RESUMO Foram analisados neste trabalho três sistemas para detecção molecular de Mycoplasma gallisepticum (MG) pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Dois sistemas são baseados em amplificações únicas (genes de proteínas de superfície GapA e mgc2) e um sistema no formato nested-pcr (gene GapA). A sensibilidade analítica foi avaliada pela detecção de diluições seriadas de cepa vacinal e pela análise de 44 amostras clínicas provenientes de swabs de galinhas e perus. A nested-pcr apresentou maior sensibilidade aos sistemas de amplificação única tanto na diluição de vacina quanto nas amostras clínicas. Palavras-chave: Mycoplasma gallisepticum, sensibilidade, PCR. 1 Acadêmico do Curso de Biologia/ ULBRA - Bolsista PROICT/ ULBRA 2 Simbios Biotecnologia 3 Professor do Curso de Medicina Veterinária e do PPG em Diagnóstico Genético Molecular/ ULBRA 4 Professor do PPG em Diagnóstico Genético Molecular/ ULBRA 5 Professor Orientador do Curso de Biologia e PPG em Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA (ikuta@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

86 ABSTRACT Three Mycoplasma gallisepticum (MG) polymerase chain reactions (PCRs) that target surface protein genes gapa and mgc2, and a nested PCR (GapA) were compared in this work. Analytical sensitivity was evaluated by detection of dilutions of vaccine strain and analysis of 44 clinical samples (swabs from turkeys and chickens). The nested-pcr showed to be more sensitive than single amplification PCRs in the vaccine dilution and clinical samples evaluations. Key words: Mycoplasma gallisepticum, sensibility, PCR. INTRODUÇÃO O Mycoplasma gallisepticum (MG) é um importante patógeno de galinhas e perus, sendo responsável por grandes perdas econômicas na avicultura industrial. A infecção por MG apresenta uma grande variedade de manifestações como Doença Respiratória Crônica (DRC) e aerossaculite. As aves infectadas apresentam baixa conversão alimentar, queda na produção de ovos e altas taxas de mortalidade (BOGUSLAVSKY et al., 2000). O controle da doença em lotes comerciais é baseado na erradicação e manutenção do status livre deste patógeno por meio de medidas de biossegurança. O monitoramento dos lotes é realizado utilizando-se testes sorológicos como a soroaglutinação rápida (SAR), inibição da hemoaglutinação (HI) e testes de ELISA. O teste confirmatório preconizado é o isolamento bacteriano, sendo um procedimento dispendioso, demorado e tecnicamente de difícil execução (RAZIN, YOGEV & NAOT, 1998). Com os progressos na biologia molecular, diversos genes de proteínas de superfície têm sido descritos e testes moleculares baseados nestes alvos foram apresentados como testes confirmatórios (KLEVEN et al., 2004). Entretanto, há pouca informação disponível comparando a sensibilidade dos mesmos em amostras clínicas (GARCIA et al., 2005), sendo que a sensibilidade destes testes é um fator importante para a sua escolha e utilização no controle do MG nos lotes de aves. Este estudo foi realizado com o objetivo de comparar a sensibilidade de três procedimentos para detecção molecular de MG, os quais amplificam regiões de genes codificadores de proteínas de superfície deste patógeno (genes mgc2 e GapA). MATERIAL E MÉTODOS Amostras Foram utilizadas as seguintes amostras na análise de sensibilidade dos sistemas de amplificação: cepa vacinal ts-11 (utilizada para a preparação de diluições seriadas de base 5, em água) e 44 swabs provenientes de galinhas e perus de diferentes lotes comerciais (previamente diagnosticadas como MG positivas). 86 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

87 Extração de ácidos nucléicos A purificação de ácidos nucléicos foi realizada através da técnica de extração em sílica (adaptada do método descrito por Boom et al., 1990). Cada swab foi transferido para um tubo eppendorf de 1,5mL contendo 1mL de mix de lise, e incubado a 60 C por 10 minutos. Após a incubação, 500mL deste mix de lise foi transferido para outro tubo. Para a extração das vacinas, 100mL de amostra foi transferida para um tubo contendo 400mL de mix de lise e submetida à incubação. 20mL de suspensão de sílica foram adicionados aos tubos, com posterior incubação a temperatura ambiente por 10 minutos (agitando por inversão a cada 2 minutos). Após a incubação os tubos foram lavados 2 vezes com solução de lavagem, 2 vezes com etanol 75% e uma vez com etanol absoluto (150µL de cada um). Os tubos secaram em termobloco a 60 C por 10 minutos e as amostras foram separadas da sílica com 50mL de solução eluidora. Amplificação A seqüência e o tamanho do produto de amplificação dos primers utilizados nos diferentes métodos para detecção de DNA de MG avaliados, estão demonstrados na tabela 1. Os sistemas de amplificação única consistem em um par de primers baseados nos genes mgc2 (sistema 1) e Gap A (sistema 2), e são utilizados em amplificações nas seguintes condições: 94 C por 3 min seguidos de 50 ciclos de 94 C por 20s; 60 C por 40s; 72 C por 60s; e extensão final de 72 C por 5 min. O sistema de amplificação no formato nested-pcr (sistema 3) utiliza dois pares de primers baseados no gene GapA: os externos são utilizados em uma reação de amplificação de 20 ciclos, e os internos em uma reação de amplificação de 35 ciclos. As condições da primeira e segunda amplificação são as mesmas utilizadas no sistema de amplificação única. Todos estes procedimentos da PCR utilizaram eletroforese em gel de poliacrilamida para detecção de seus produtos de amplificação. Avaliação da sensibilidade A sensibilidade analítica dos três sistemas de amplificação foi determinada a partir do DNA genômico extraído de uma diluição seriada de base 5 da cepa vacinal ts-11 (preparada em água) até o ponto 1/ Foram utilizados os pontos a partir da diluição 1/1.000, em avaliações paralelas nos três sistemas de amplificação. O limite de detecção da PCR foi considerado a diluição mais elevada da vacina na qual um produto detectável de PCR foi observado. Por outro lado, a sensibilidade diagnóstica dos sistemas foi determinada a partir da comparação entre os resultados da análise paralela de 44 amostras clínicas provenientes de swabs de traquéia de galinhas e perus. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resultado da sensibilidade analítica ou limite de detecção obtidos a partir de diluições da vacina ts-11, estão demonstrados na figura 1. O sistema 1 apresentou sensibilidade para a detecção de vacinas diluídas até vezes; enquanto o sistema 2 até vezes e o sistema 3 até (tabela 2). Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

88 A tabela 3 expressa o resultado da sensibilidade, obtido através da avaliação de amostras clínicas, onde o sistema 1 detectou 41 amostras clínicas, o sistema 2 positivou 38 e o sistema 3 detectou todas as 44 amostras, tendo portanto 100% de sensibilidade. A avaliação dos diferentes sistemas de amplificação demonstrou que estes apresentam diferenças na sensibilidade, tanto na avaliação a partir de diluições de vacina, quanto na análise de amostras clínicas. Estas diferenças podem ter origem na escolha da região utilizada como alvo ou no formato escolhido para cada sistema de amplificação. Muitos métodos de amplificação de ácidos nucléicos têm sido desenvolvidos para detecção de MG e são utilizados como parte de testes de rotina em vários laboratórios. Com o aumento do uso da PCR como ferramenta para identificação de lotes infectados com MG, consideramos importante comparar métodos disponíveis que foram desenvolvidos para este fim. A comparação entre as sensibilidades destes três métodos demonstrou que o sistema 3 (nested- PCR) é o mais sensível para a detecção de MG, tanto na avaliação a partir de diluições de cepa vacinal como na avaliação de amostras clínicas. Apesar disso, os sistemas 1 e 2 apresentam como vantagem sobre o sistema 3 o fato de serem mais rápidos e envolveram menor manipulação, já que se trata de amplificações únicas. A sensibilidade analítica mostrou que a PCR baseada no gene GapA (sistema 3) foi 5x mais sensível que o sistema 2 e 125x mais sensível que o sistema 1. A sensibilidade diagnóstica demonstrou que o sistema 3 apresenta 100% de sensibilidade e os sistemas 1 e 2, 93,2% e 86,4% respectivamente. Projeto financiado: Finep e Fapergs Tabela 1 - Seqüência dos primers e tamanho do amplicon. Primers Seqüência Gene mgc2 2F 5' CGCAATTTGGTCCTAATCCCCAACA 3' mgc2 2R 3' TAAACCCACCTCCAGCTTTATTTCC 5' myc 3F A 5' TCARCGTTTCTAAGATTCCTTTTG 3' myc 4R A 3' GCATCAAAACCAGTAAATTCTTGG 5' myc 5F B 5' TTCTAGCGCTTTARCCCTAAACCC 3' myc 6R B 3' CTTGTGGAACAGCAACGTATTCGC 5' A Nested-PCR - primers externos mgc2 gapa Tamanho produto PCR (bp) B Nested-PCR - primers internos Tabela 2 - Sensibilidade dos sistemas de amplificação em diluição de cepa vacinal. Sistema Sensibilidade 88 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

89 Tabela 3 - Sensibilidade dos sistemas de amplificação em amostras clínicas. Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3 Positivos Negativos Total TS X TS X TS X TS X TS X TS X C- C+ PM TS X TS X TS X TS X TS X TS X C- C+ PM TS X TS X TS X TS X TS X TS X C- C+ PM Figura 1 - Avaliação da sensibilidade dos três sistemas de amplificação em diluições de cepa vacinal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASEGGIO, N.; GLEW, M. D.; MARKHAM, P. F.; WHITHEAR, K. G.; BROWNING, G.F. Size and genomic location of the pmga multigene family of Mycoplasma gallisepticum. Microbiology, v.142, p BENCINA, D. Haemagglutinins of pahogenic avian mycoplasmas. Avian Pathology, v.31, n.6, p , BOGUSLAVSKY, S.; MENAKER, D.; LYSNYASKY, I.; LIU, T.; LEVISOHN, S.; ROSENGARTEN, R.; GARCIA, M.; YOGEV, D. Molecular Characterization of the Mycoplasma gallisepticum pvpa Gene which Encodes a Putative Variable Cytachesin Protein. Infection and Immunity, v.68, p , BOOM, R.; SOL, C. J. A.; SALIMANS, M. M. M.; JANSEN, C. L.; WERTHEIM-VAN DILLEN, P. M. E.; VAN DER NOORDAA, J. Rapid and Simple Method for Purification of Nucleic Acids. Journal of Clinical Microbiology, v.28, p , CHARLTON, B. R.; BICKFORD, A. A.; WALKER, R. L.; YAMAMOTO, R. Complementary randomly amplified polimorphic DNA (RAPD) analysis patterns and primer sets to differentiate Mycoplasma gallisepticum strains. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v.11, p , FAN, H. H.; KLEVEN, S. H.; JACKWOOD, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

90 M. W. Application of polymerase chain reaction with arbitrary primers to strain identification of Mycoplasma gallisepticum. Avian Diseases, v.39, p GARCIA, M.; JACKWOOD, M. W.; LEVISOHN, S.; KLEVEN, S. H. Detection of Mycoplasma gallisepticum, M, synoviae, and M. iowae by multi-species polymerase chain reaction and restriction fragment length polymorphism. Avian Diseases, v.39, p , GARCIA, M.; ELFAKI, M. G.; KLEVEN, S. H. Analysis of the variability in expression of Mycoplasma gallisepticum surface antigens. Veterinary Microbiology, v.42, p , GARCÍA, M.; IKUTA, N.; LEVISOHN, S.; KLEVEN, S. H. Evaluation and Comparison of Various PCR Methods for Detection of Mycoplasma gallisepticum Infection in Chickens. Avian Diseases, v.49, p , 2003 IKUTA, N.; GARCIA, M.; FONSECA, A. S. K.; LUNGE, V. R.; MARQUES, E. K.; KLEVEN, S. Diferenciação molecular de cepas de referência e isolados de Mycoplasma gallisepticum. Revista Brasileira de Ciência Avícola, supl.2, p.103, KEMPF, I. DNA amplification methods for diagnosis and epidemiological investigations of avian mycoplasmosis. Acta Veterinaria Hungarica, v. 45, n.3, p , KLEVEN, S. H. Epidemiological studies of Mycoplasma gallisepticum using restriction endonucleaseanalysis. Zentralblatt fur Bakteriologie Suppl., v.20, p , OPENGART K. N.; ROWLAND G. N.; WALLNER-PENDLETON E. Molecular Characterization of Mycoplasma gallisepticum Isolates from Turkeys. Avian Diseases, v.48, p , LAUERMAN, L.H.; HOERR, F.J.; SHARPTON, S.; SHAH, M.; VANSANTEN, V.L. Development and application of a polymerase chain reaction assay for Mycoplasma synoviae. Avian Diseases, v.37, p , LEVISOHN, S.; GERCHMAN, I.; LEY, D.H.; GEVA, Z.; WEISMAN, Y. Application of molecular diagnostic methods to track environmental infection of poultry breeding flocks by Mycoplasma gallisepticum. IOM Letters, v.5, p.75, LEY, D. H.; MCLAREN, J. M.; MILES, A. M.; BARNES, H. J.; FRANZ, G. Transmissability of live Mycoplasma gallisepticum vaccine strains ts/11 and 6/85 from vaccinated layer pullets to sentinal poultry, and identification by random amplified polymorphic DNA (RAPD) analysis. Avian Diseases, v. 41, p , LEY, D.H.; BERKHOFF, E.; LEVISOHN, S. Molecular Epidemiologic Investigations of Mycoplasma gallisepticum Conjunctivitis in Songbirds by Random Amplified Polimorphic DNA Analyses. Emerging Infectious Diseases, v.3, p , LIU, T.; GARCIA, M.; LEVISOHN, S.; YOGEV, D.; KLEVEN S.H. Molecular Variability of the Adhesin-Enconding Gene pvpa among Mycoplasma gallisepticum Strains and its Application in Diagnosis. Journal of Clinical Microbiology, v.39, p , LUNGE, V.R.; FONSECA, A.S.K.; GARCIA, M.; KLEVEN, S.; MARQUES, E.K.; IKUTA, N. Development and application of a PCR-RFLP 90 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

91 methodology for strain identification of Mycoplasma gallisepticum from commercial poultry flocks. In: ANNUAL MEETING OF THE SOUTHERN CONFERENCE ON AVIAN DISEASES, 41.; ANNUAL MEETING OF THE SOUTHERN POULTRY SCIENCE SOCIETY, 21., 2000, Atlanta, Abstracts... Atlanta, Georgia, p.25. Abstract 116. NASCIMENTO, E.R.; YAMAMOTO, R.; HERRICK, K.R.; TAIT, R.C. Polymerase chain reaction for detection of Mycoplasma gallisepticum. Avian Diseases, v.35, p , RAZIN, S.; YOGEV, D.; NAOT, Y. Molecular Biology and Pathogenicity of Mycoplasmas. Microbiology and Molecular Biology Reviews, v.62, n.4, p , SAMBROOK, J.; FRITSCH, E.F.; MANIATIS, T. Molecular Cloning: A Laboratory Manual. 2.ed. New York: Cold Spring Harbor Laboratory SILVEIRA, R.M.; FIORENTIN, L.; MAR- QUES, E.K. Polymerase chain reaction optimization for Mycoplasma gallisepticum and Mycoplasma synoviae diagnosis. Avian Diseases, v.40, n.1, p , WOESE, C. R. Bacterial evolution. Microbiological Reviews, v.51, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

92 92 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

93 Caracterização da concha, rádula e mandíbula de Simpulopsis (Eudioptus) sp. ocorrente no estado do Rio Grande do Sul, Brasil CÍNTIA SIMEÃO VILANOVA 1 LETÍCIA FONSECA DA SILVA 2 JOSÉ WILLIBALDO THOMÉ 3 RESUMO Para o Rio Grande do Sul existem poucos registros do gênero Simpulopsis Beck, 1837 os quais se restringem ao subgênero nominal. O presente trabalho apresenta a caracterização da concha, da rádula e da mandíbula de Simpulopsis (Eudioptus) sp. ocorrente no Estado a partir de imagens obtidas com Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). A concha destaca-se pela esculturação com aspecto de rede cuja graduação diminui conforme se aproxima da sutura subseqüente; a rádula possui três tipos de dentes: central, lateral e marginal sendo estes respectivamente uni, bi e tricúspides; a mandíbula contém de 32 a 38 ripas sendo a região central mais estreita. Tais dados auxiliarão na determinação da espécie em questão. Palavras-chaves: caracterização, concha, rádula, mandíbula, Simpulopsis (Eudioptus) sp. ABSTRACT To the Rio Grande do Sul just have a few registers of the genus Simpulopsis Beck, 1837 and all of that is to the nominal subgenus. This present work shows the shell, radula and jaw s characterization of Simpulopsis (Eudioptus) sp. occurring in the State, and was realized with images made in the Scanning 1 Acadêmica do curso de Ciências Biológicas/PUCRS 2 Mestre em Zoologia - PUCRS 3 Professor - Orientador do PPG em Zoologia/PUCRS (thomejw@pucrs.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

94 Electron Microscope (SEM). The shell has a sculturation in a net shape which graduation increase as it approach to the next suture; the radula has three kinds of teeth: central, lateral and marginal being those uni, bi and tricuspid respectively; the jaw contains 32 to 38 laths and the central region is narrower. These informations will help to describe the specie in question. Key words: characterization, shell, radula, jaw, Simpulopsis (Eudioptus) sp. INTRODUÇÃO Para o Estado do Rio Grande do Sul, foram registradas até o momento duas espécies do gênero Simpulopsis Beck, 1837: S. sulculosa (SOWERBY, 1822) (MARTENS, 1868; MORRETES, 1949) e S. ovata (FÉRRUSAC, 1821) conforme GOMES et al. (2004). O subgênero Eudioptus Albers, 1860, caracterizase por sua concha oval-alongada, coloração amarelada a acastanhada, superfície lisa ou com delicadas estrias espirais (BREURE, 1979). Atribui-se ao subgênero dez espécies distribuídas no Brasil, Paraguai, Argentina, Peru, Equador e Colômbia (BREURE op cit.). Descreve-se a concha, rádula e mandíbula de Simpulopsis (Eudioptus) sp. a partir de imagens obtidas em Microscópio Eletrônico de Varredura. Tais dados fazem parte da Dissertação de ME da segunda autora. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 26 exemplares coletados no Rio Grande do Sul, os quais estão depositados no Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS (MCP) [Lotes MCP: 8712, 8713, 8714, 8715]. As conchas foram limpas com o auxílio de pincel, água destilada, álcool 70º GL e nitrogênio gasoso, fixadas em stubs sobre fita dupla face de carbono e cola de prata. As rádulas e man- díbulas foram extraídas do bulbo bucal sob estereomicroscópio, limpas com hipoclorito de sódio e água destilada, desidratadas em uma série crescente de álcool (70º GL, 80º GL e 96º GL) e então colocadas em stubs sobre fita dupla face de carbono, conforme PLOEGER & BREURE (1977). Todas as amostras sofreram metalização com carbono e ouro. As imagens foram obtidas a partir do Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) no CEMM-PUCRS (Centro de Microscopia e Microanálises da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). RESULTADOS E CONCLUSÕES Caracterização da Concha A protoconcha possui estrias espirais retilíneas contínuas, que se aproximam lentamente entre si, a medida em que chegam à sutura da volta seguinte (Figura 1). Também ocorre uma rugosidade axial, de aspecto ondulado e uniformemente espaçado. Estas esculturações configuram um aspecto de rede cuja graduação diminui conforme se aproxima da sutura subseqüente. A teleoconcha possui superfície lisa; destaca-se o calo columelar (Figura 2). 94 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

95 Figura 1- Imagem da protoconcha de Simpulopsis (Eudioptus) sp. obtida em MEV, evidenciando sua esculturação. Figura 2 - Imagem obtida em MEV do calo columelar de Simpulopsis (Eudioptus) sp. CARACTERIZAÇÃO DA RÁDULA A rádula apresenta dentes centrais (DC), laterais (DL) e marginais (DM). Quanto à disposição dos dentes, os centrais e os laterais dispõemse em forma de V ; já os marginais, linearmente (Figura 3). Os dentes centrais são unicúspides, apresentam mesocono lanceolado e duas projeções laterais na placa basal (Fig. 4). Os dentes laterais são bicúspides, possuem mesocono alongado com extremidade arredondada, ectocono com formato triangular, tendo a base arredondada, podendo ser bífido; apresentam uma projeção na porção mais externa da placa basal (Figura 5). Há uma série de transição entre os dentes laterais e os marginais, marcada pela modificação progressiva do mesocono que passa a bifurcar-se ou, raramente, a trifurcar-se, iniciando a formação do endocono dos dentes marginais; em conjunto, nota-se um afilamento das extremidades dos cones (Figura 6). Os dentes marginais são tricúspides; possuem mesocono ovado-alongado, levemente mais largo do que o endocono; o ectocono tem a metade do comprimento do mesocono e apresenta-se bífido ou, raramente, trífido (Figura 7). A fórmula fileira de dentes da rádula se expressa: C/1+L7-8/2+M22-25/2. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

96 Figura 3 - Disposição dos dentes radulares de Simpulopsis (Eudioptus) sp. Figura 4 - Dentes centrais ladeados pelos dentes laterais de Simpulopsis (Eudioptus) sp. Figura 5 - Dentes laterais de Simpulopsis (Eudioptus) sp. 96 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

97 Figura 6 - Série de transição entre os dentes laterais e marginais de Simpulopsis (Eudioptus) sp. Figura 7- Dentes marginais de Simpulopsis (Eudioptus) sp. CARACTERIZAÇÃO DA MANDÍBULA A mandíbula possui forma arqueada e constitui-se de 32 a 38 ripas retangulares. Sua região central apresenta ripas estreitas. Estas, à medida que se afastam da porção central, ganham altura e largura até chegarem perto das extremidades, aonde diminuem levemente quanto à altura e mantêm-se as larguras (Figura 8). Figura 8 - Mandíbula de Simpulopsis (Eudioptus) sp. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

98 CONSIDERAÇÕES FINAIS A determinação de Simpulopsis (Eudioptus) sp. torna-se de extrema importância para o enriquecimento do conhecimento sobre a malacofauna do Rio Grande do Sul. Os resultados obtidos com o presente trabalho, em conjunto com o estudo sobre a anatomia desta espécie subsidiarão a determinação da mesma. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ao CNPq pelo auxílio financeiro através da Bolsa de ME da segunda autora, e também à equipe organizadora do Salão de Iniciação Científica da ULBRA. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BREURE, A. S. H. Systematics, phylogeny and zoogeography of Bulimulinae (Mollusca). Zoologische Verhandelingen, Leinden, n. 168, p , maio GOMES, S. R.; SILVA, R. S. da; GIL, G. M.; THOMÉ, J. W. Ciclo biológico de Simpulopsis ovata (Gastropoda, Bulimulidae) em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, Série Zoologia, Porto Alegre, v. 94, p , MARTENS, E. V. Ueber südbrasilianische land-und Süsswassermollusken Nach den Sammbungen von Dr. R. Hensel. Malakozoologische Blätter, Cassel, v. 15, p , MORRETES, F. L. de. Ensaio de catálogo dos moluscos do Brasil. Arquivos do Museu Paranaense, Curitiba, v. 7, p , PLOEGER, S.; BREURE, A. S. H. A rapid procedure for preparation of radula for routine research with the Scanning Electron Microscope. Basteria, Tübingen, v. 41, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

99 Engenharias Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

100 100 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

101 Estudo de aplicação de um resíduo líquido industrial à base de alumínio como reagente coagulante RODRIGO RIBEIRO SILVA 1 FERNANDO FREITAS CZUBINSKI 2 LUCIANO CROCHEMORE 3 ERWIN FRANCISCO TOCHTROP JUNIOR 4 LILIANA AMARAL FÉRIS 5 RESUMO O presente projeto tem o objetivo de estudar a viabilidade de utilização de um resíduo proveniente de processo petroquímico como reagente coagulante em processos de tratamento de efluentes líquidos industriais contendo íons dissolvidos. Como metodologia experimental, foram realizados ensaios em Teste de Jarros, com o objetivo de verificar as condições ótimas (concentração, ph, remoção de íons) de aplicação do subproduto (resíduo a base de alumínio e sódio) no processo de coagulação em comparação a reagentes utilizados convencionalmente. Para os ensaios experimentais foram utilizadas amostras de efluentes de um curtume de Estância Velha (Rio Grande do Sul), provenientes das etapas de recurtimento e piquelagem. Foram avaliados o volume de lodo formado e a eficiência na remoção de cromo e alumínio do produto clarificado. A utilização do subproduto mostrou ser eficiente, atingindo índice de remoção superior a 90% de cromo (concentração residul de 0,2 mg/l). Os experimentos realizados indicam que o reaproveitamento 1 Acadêmico do Curso de Engenharia Ambiental/ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA 2 Acadêmico do Curso de Engenharia Ambiental/ULBRA Bolsista PROICTV/ULBRA 3 Químico, Mestre em Engenharia/ULBRA 4 Professor do Curso de Engenharia Ambiental e PPG Engenharia: Energia, Ambiente e Materiais/ ULBRA 5 Professor - Orientador do Curso de Engenharia Ambiental e PPG Engenharia: Energia, Ambiente e Materiais/ ULBRA (laferis@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

102 deste resíduo apresenta potencial tecnológico aplicado ao tratamento de efluentes líquidos industriais, considerando igualmente os aspectos ambientais e econômicos. Palavras-chave: remoção, coagulação, cromo, subproduto industrial. ABSTRACT The aim of this project is to study the viability of application of a solid waste produced by a petrochemical plant as chemical reagent in coagulation process to treat wastewater containing heavy metals. Jar tests were conduced to achieve the optimum conditions (ph, reagent concentration, ion removal) of the coagulation experiments using the by-product (solid waste containing Al and Na). The objective of this study was to compare the by-product efficiency as chemical reagent compared to conventional coagulants. Samples of wastewater from the tannery industry were collected from an industry of Estância Velha (Rio Grade do Sul, Brazil). The efficiency of the coagulation process in the removal of chromium achieved levels of 90%, when the chromium residual concentration in the treated water was 0.2 mg/l. Comparative studies using aluminum sulfate and ferric chloride, reagents conventionally applied in the physiochemical treatment, showed efficiency value for chromium removal around 99%. This result indicates the high potential of application of the experimental reagent as coagulant in the treatment of wastewater containing dissolved trivalent chromium. Key words: removal, coagulation, chromium, industrial by-product. INTRODUÇÃO A proteção do meio ambiente e, em particular, a luta contra a poluição exige uma adaptação e/ou uma transformação das técnicas e processos industriais. A chamada hierarquia do gerenciamento de resíduos (minimização, recuperação, transformação e disposição ambientalmente correta) tem sido adotada pela maioria dos países industrializados como forma de desenvolvimento de novas estratégias para a gestão de resíduos sólidos (FÉRIS et al., 2004). O destino dos resíduos gerados na indústria e nos municípios consiste em preocupação crescente para os diferentes setores da sociedade, em função dos problemas relativos à saúde pú- blica e qualidade ambiental causados pela má disposição dos mesmos. A minimização da geração de resíduos consiste em desafio contínuo (SUTANTO & BAI, 2002). Em virtude de não haver uma limitação explícita sobre a quantidade de resíduos que pode ser gerada nas diversas atividades econômicas, monitorar o processo de gerenciamento torna-se muito difícil. Enquanto resíduos industriais podem ser mais facilmente controlados, em termos de modificação de processos e implementação de técnicas de tratamento e recuperação, a minimização da geração de resíduos domiciliares consiste em tarefa de maior complexidade, pois a taxa de resíduos produzida varia significativamente com fatores culturais, sociais e econômicos de cada localidade (FÉRIS et al., 2004). 102 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

103 Torna-se importante considerar que o conceito de prevenção da poluição não diz respeito somente ao tratamento de um resíduo gerado industrialmente, mas sim à vida inteira de um produto, deste a extração da matéria-prima até o produto final. Isso pode significar utilizar materiais menos tóxicos ou menos escassos na Terra, na procura de processos mais eficientes ou que demandem menos energia, elaborando produtos com viabilidade para reciclagem (ALLEN & ROSSELOT, 2000). Normalmente pensa-se em resíduo como um produto sólido resultante de um processo industrial. Entretanto o conceito de resíduo é muito mais abrangente, incluindo perda de desperdício de energia, consumo de água excessivo ou o próprio uso do produto (ALLEN & ROSSELOT, 2000). Na verdade também, o resíduo pode se transformar em um subproduto, quando ela apresentar condições para ser utilizado como matéria-prima em outro processo (FERIS, 1998). Nesse contexto, utilizar técnicas de produção mais Limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, através da não-geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados em um processo produtivo. Esta abordagem induz inovação nas empresas, dando um passo em direção ao desenvolvimento econômico sustentado e competitivo, não apenas para elas, mas para toda a região que abrangem (CNTL, 2005). Dentro desta perspectiva, o presente estudo objetivou tratar um efluente originário do banho de curtimento ao cromo sem mistura prévia ou equalização de uma indústria do Rio Grande do Sul, utilizando um subproduto como reagente coagulante. O coagulante alternativo consiste em solução aquosa, ácida contendo cloreto de alumínio a 7% v/v, o qual consiste em produto de significativo potencial para o tratamento de águas residuárias. O objetivo geral desta pesquisa consistiu em avaliar a viabilidade de aplicação de um subproduto de uma planta petroquímica a base de alumínio, como coagulante não convencional para o tratamento de efluentes líquidos industriais contendo cromo trivalente. Os objetivos específicos foram estudar de forma comparativa a eficiência de coagulação obtida com o uso do subproduto industrial em relação ao sulfato de alumínio, reagente utilizado convencionalmente e a verificação da eficiência de remoção de cromo trivalente no efluente estudado. MATERIAL E MÉTODOS Amostras de efluente: Foram coletadas amostras significativas de efluentes de curtimento gerados em um curtume da região sul do Brasil. Os resíduos líquidos são provenientes dos fulões de curtimento ao cromo e foram dispostos em galões de 20 litros para a etapa de análise no Laboratório de Resíduos da ULBRA Canoas. Vidraria: copo béquer, provetas graduadas, pipetas graduadas, pipetas volumétricas, cone imhoff, bastão de vidro, balão volumétrico. Reagentes: As soluções dos reagentes coagulantes empregados foram preparadas na concentração a 1000 mg/l em sulfato de Alumínio AL 2 (SO 4 ) 3.18 H 2 O e cloreto férrico FeCL 3. O coagulante W7 foi diluído a 1000 mg/ L em AlCl 3. O ácido nítrico p.a. (Merck) foi Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

104 utilizado para acidificar as amostras de clarificado obtido, para ser enviadas a análise de espectrometria de absorção atômica. Já O hidróxido de sódio NaOH, utilizado como alcalinizante, apresentou, pureza analítica (reagentes Merck). MÉTODOS Ensaios de Coagulação em teste de jarros: Estes ensaios foram realizados em teste de jarros (Digimed) utilizando frascos de 800 ml, 4 bateladas de amostras por coagulante com 200 ml de efluente de curtimento ao cromo, (vide Figura 2). As amostras foram colocadas nos frascos e a agitação foi ajustada para perfeita homogeneização a 50 rotações por minuto. O ph das amostras foi ajustado em 8,0 com hidróxido de sódio, com tempo de residência de cinco minutos. Para a coagulação, foram adicionadas as dosagens estabelecidas dos coagulantes para cada ensaio e a agitação passou a 200 rotações por minuto. Após a rápida agitação a mesma foi reduzida a 50 rotações por minuto, por 10 minutos para a formação dos coágulos. Posteriormente ao ensaio em teste de jarros onde ocorreu, as amostras foram submetidas ao ensaio Figura 2 - Equipamento teste de jarros (jar test). Fonte: Laboratório de Resíduos ULBRA-CANOAS de sedimentação em proveta (vide figura 3), com o objetivo de avaliar os volumes de clarificado e de lodo formados, em função da dosagem aplicada do coagulante. O líquido clarificado foi submetido à análise de espectroscopia de absorção atômica para determinar o teor de cromo residual. 104 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

105 Figura 3 - Ensaio de sedimentação em provetas. RESULTADOS As principais características do efluente de curtimento contendo sais de cromo e suas propriedades físicas encontram-se relacionadas na Tabela 1. Tabela 1 - Caracterização média do efluente de curtimento ao cromo. Características da amostra Valor determinado ph 3,6 Temperatura ºC 20 Densidade (g/ml) 1,025 Sólidos totais (g/l) 81,11 Sólidos decantáveis (ml/l) 90 DBO 5 (mg/l) 190 DQO (mg/l) 792 Teor de Cromo (mg/l) 2918 Turbidez (NTU) 1,28 A Tabela 1 apresenta a variação da concentração residual de cromo trivalente no efluente tratado em relação à concentração de subproduto utilizado como reagente coagulante no processo. É possível observar os altos índices de remoção do íon metálico e eficiência do processo superior a 90%. A figura mostra que foram aplicadas concentrações bastante elevadas de reagente alternativo coagulante. Tal fato é decorrente da utilização do reagente não diluído. O presente estudo objetivou avaliar o comportamento do subproduto na concentração em que é produzido, para viabilizar o seu emprego direto como matéria-prima em processos de tratamento de efluentes. A Figura 2 apresenta a concentração residual de Al quando aplicado sulfato de alumínio nos experimentos de coagulação. A Figura 3 apresenta a concentração de Al quando o subproduto Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

106 foi aplicado. Observa-se que as concentrações residuais de alumínio ao aplicar o sulfato de alumínio são superiores às concentrações de Al residuais quando foi utilizado o subproduto. Esses resultados apresentam vantagens para o coagulante alternativo, visto que o mesmo, apesar de ser aplicado em concentrações superiores ao reagente convencional, possibilita índices residuais de Al inferiores. Ainda, é possível aplicar concentrações do subproduto inferiores a 1500 mg/ L com a provável obtenção de índices semelhantes de remoção de cromo trivalente. Quanto ao volume gerado de lodo, foi observado que o sólido formado na coagulação utilizando-se o subproduto foi superior ao volume de sólido encontrado ao aplicar sulfato de alumínio. A diferença decorre provavelmente da concentração de alumínio no reagente alternativo, que é muito superior à concentração de sulfato de alumínio empregada. Concentração de Cromo (mg/l) ,8 Efuente Bruto 0,53 0,48 0,43 0,4 0,36 0, Concentração de subproduto (mg/l) Figura 4 - Efeito da concentração de subproduto aplicada como coagulante na concentração residual de cromo trivalente. Condições: ph=8, tempo de separação= 40 min. 2,5 2,18 Concentração de Aluminio (mg/l) 2 1,5 1 0,5 0,18 0,28 0,24 0,36 0,28 0,5 0 Efuente Bruto Concentração de subproduto (mg/l) Figura 5 - Concentração residual de alumínio no efluente tratado em relação à concentração de subproduto aplicada. Condições: ph=8, tempo de separação= 40 min. 106 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

107 Concentração de Aluminio (mg/l) 2,5 2 1,5 1 0,5 0 2,18 Efuente Bruto 0,98 0,72 1,14 1,06 1, Concentração de Sulfato de Aluminio (mg/l) Figura 6 - Concentração residual de alumínio no efluente tratado em relação à concentração de sulfato de alumínio utilizado como coagulante. Condições: ph=8, tempo de separação= 40 min. 1,09 CONCLUSÕES O estudo realizado permite concluir que: Os experimentos realizados indicam que o reaproveitamento do subproduto industrial como reagente coagulante apresenta potencial tecnológico aplicado ao tratamento de efluentes líquidos industriais. A concentração de subproduto aplicada nos experimentos foi bastante elevada, em virtude da não diluição do reagente bruto. Mesmo utilizando-se concentrações elevadas, a concentração residual do íon Al encontrada no efluente tratado com o subproduto é inferior à concentração residual de Al encontrada no efluente tratado com sulfato de alumínio. O teor de cromo total encontrado no efluente tratado com o subproduto foi inferior a 0,6 mg/l. O volume de lodo formado no produto coagulado com o subproduto foi superior ao produto coagulado com sulfato de alu- mínio, devido ao alto teor de Al no subproduto convertido a hidróxido. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à empresa que forneceu o subproduto industrial para utilização na pesquisa, à empresa que forneceu as amostras de efluente, à FAPERGS e à Universidade Luterana do Brasil pelo apoio à pesquisa e estrutura oferecida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, D.; ROSSELOT, K. S. Pollution Prevention for Chemical Processes. New York: John Wiley and Sohns, Inc., AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and waste water. 23. ed. Washington, BAI, R.; SUTANO, M. The practice and Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

108 challenges of solid waste management in Singapore. Waste Management, v.22, p , BISHOP, P. Pollution Prevention: fundamentals and practice. Boston: McGraw-Hill Series, FÉRIS, L. A.; TOCHTROP JUNIOR, E. F.; SANTOS, C. R.; CORRÊA, P. Estudo das alterações de características químicas do solo causadas pela aplicação de um subproduto industrial como micronutriente utilizando plantas como bioindicadores. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AMBIENTAL, 2., 2004, Brasília. Anais... Brasília, [n.p.]. 1 CD ROM. FÉRIS, L.A. Utilização de um Rejeito de Carvão na Remoção de Íons Cu, Zn e Ni por Sorção- Flotação (Processo FPS) Dissertação (Mestrado em Engenharia) Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, HARTINGER, L. Handbook of effluent treatment and recycling for the metal finishing industry. Finishing Publications LTD, ASTM International, v.1, SENAI, CNTL. Disponível em Acesso em: 20 jul Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

109 Ciências da Saúde Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

110 110 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

111 Análise dos níveis de desconforto a sons intensos em indivíduos com perda auditiva neurossensorial no laboratório de audição da ULBRA para um procedimento específico ANDRÉIA RODRIGUES FRANÇA PARNOFF 1 ISABELA HOFFMEISTER MENEGOTTO 2 RESUMO A sensação de intensidade sonora (SIS) é de extrema importância na Clínica fonoaudiológica. Em função da variabilidade descrita na literatura, os indivíduos do RS poderiam apresentar níveis diferentes de SIS dos já conhecidos e, se esses fossem diferentes, vários parâmetros deveriam ser revistos e adaptados. O presente trabalho tem como objetivo a análise dos níveis de desconforto a sons intensos apresentados por indivíduos com perda auditiva neurossensorial que freqüentam a Clínica Escola da ULBRA para um procedimento específico. Os resultados obtidos (n=17), indicam NDS variando entre 70 e 120 dbna em 500 Hz (média de 95,6 dbna); entre 75 e 120 dbna para 1000 Hz (média de 98,23 dbna); e 75 e 120 dbna em 2000 Hz (média de 100,6 dbna) na amostra estudada. Palavras-chaves: percepção sonora, perda auditiva neurossensorial, detecção de recrutamento. ABSTRACT The knowledge of sound loudness is a very important tool in Audiology. Various factors can affect the measured loudness, as it is described in literature, so the Rio Grande do Sul population could have different 1 Acadêmica do Curso de Fonoaudiologia/ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA 2 Professora Orientadora do Curso de Fonoaudiologia/ ULBRA (ihmenegotto@uol.com.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

112 loudness levels from those already described for other populations. If this has true, various procedures and parameters should be adapted. The aim of present study is to analyze the loudness disconfort levels (LDL) from hearing impained people with sensorineural hearing loss that cames to ULBRA School Clinic for a specific procedure. The results obtained in this group (n=17) show LDL ranging from 70 to 120 dbhl for 500 Hz (average = 95,6 dbhl); from 75 to 120 dbhlfor 1000 Hz (average = 98,23 dbhl); and from 75 to 120 dbhl for 2000 Hz (average = 100,6 dbhl) Key words: loudness perception, hearing loss (sensorineural), recruitment detection. INTRODUÇÃO A audição humana é uma função bastante complexa que faz parte do sistema que possibilita a comunicação como expressão do pensamento (FRAZZA et al., 2000). Por outro lado, a sensação de intensidade sonora (SIS), ou loudness, Ela não é apenas equivalente à intensidade física de um som. Ela é um atributo psicológico gerado pela exposição de um ser humano a um som, permitindo ao mesmo classificar este som como alto, confortável ou baixo (ou forte, médio ou fraco ), influenciada pela duração, freqüência e complexidade da onda sonora (MENEGOTTO e COUTO, 2000). A área de audição útil de um indivíduo é chamada de área dinâmica da audição, e é compreendida na faixa de intensidades que vai desde os sons de menor intensidade que o indivíduo consegue ouvir, representada pelo limiar de audibilidade, até os sons de maior intensidade que o mesmo escuta, sem referir desconforto, representada pelo nível de desconforto a sons (MENEGOTTO et al., 1996). O chamado nível de desconforto a sons (NDS) consiste no limite a partir do qual qualquer som de intensidade elevada passa a causar desconforto ao indivíduo ouvinte, sendo este portador ou não de perda auditiva (IORIO e MENEGOTTO, 1996). Os indivíduos com perdas auditivas com componente neurossensorial, especialmente de origem coclear possuem uma característica de sensação de intensidade diferenciada, onde os sons fracos não são ouvidos e os sons fortes são percebidos de forma praticamente normal (STEINBERG e GARDNER, 1937). Este efeito é denominado recrutamento e é definido por Brunt (1999) como um crescimento anormal da sensação psicoacústica de intensidade para estímulos em intensidades supraliminares. A redução da área dinâmica causada pelo recrutamento pode se tornar um grande problema na seleção e adaptação de próteses auditivas (CLOCK et al., 1999). Assim, as medidas da SIS são extremamente úteis na Clínica fonoaudiológica, especialmente a pesquisa do NDS, tanto durante o processo de seleção e adaptação de próteses auditivas (ALMEIDA, 2003) como no diagnóstico de determinadas condições, como a hiperacusia (SANCHEZ et al., 2003). Porém, como é um evento subjetivo, não se pode medir a SIS diretamente, sendo necessário o uso de técnicas psicofísicas. Além disso, as medidas da SIS são extremamente influenciadas pela metodologia de avaliação empregada, 112 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

113 experiência auditiva, população avaliada e inúmeros outros fatores (WOODS et al., 1973; DIRKS e KAMM, 1976; BEATTIE et al., 1979; BEATTIE e SCHEFFER, 1981; COX, 1989; BORNSTEIN e MUSIEK, 1993; ROBINSON e GATEHOUSE, 1995). Diversas propostas de metodologia podem ser encontradas na literatura para pesquisa do NDS, inclusive no Brasil (DIRKS e KAMM, 1976; BEATTIE e SCHEFFER, 1981; BEATTIE e BOYD, 1986; HAWKINS et al., 1987; ALMEIDA, 1996; JENSTAD et al., 1997; FUCCI et al.,1997; RICKETTS, 1997; MENEGOTTO, 1999). No entanto, em função da influência das inúmeras variáveis citadas, indivíduos do RS poderiam apresentar NDS diferentes daqueles referidos na literatura, e se os níveis efetivamente fossem diferentes, diversos parâmetros de diagnóstico e avaliação precisariam ser revistos e adaptados. LISBOA (2000) propôs, com base na literatura, um procedimento padrão para medidas dos níveis de desconforto auditivo em indivíduos normoouvintes para tons puros no ambiente da Clínica- Escola de Fonoaudiologia da Ulbra. Para continuação da análise deste procedimento, verificou-se a necessidade de observar se os NDS obtidos em indivíduos com perdas auditivas neurossensoriais que apresentam recrutamento, para ver se estes, com o procedimento citado, também estão compatíveis com o descrito na literatura. Assim, o objetivo do presente estudo é obter parâmetros de nível de desconforto a sons intensos em indivíduos com perda auditiva neurossensorial no ambiente da Clínica-Escola de Fonoaudiologia da Ulbra segundo a metodologia especificada, e verificar se estes se encontram em concordância com os citados na literatura. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho é do tipo observacional, descritivo e transversal (GOLDIM, 2000). Ele faz parte do projeto Níveis Normais e Alterados de Sensação de Intensidade aprovado pelo CEP-ULBRA sob o n 083/2002. A população estudada foi de indivíduos com perda auditiva neurossensorial que freqüentam a Clínica-Escola de Fonoaudiologia da Ulbra. Desta população, foi selecionada uma amostra de 17 indivíduos, sendo 10 indivíduos do sexo masculino e 7 do sexo feminino, com idade entre 32 e 77 anos (média de 63 anos), todos (100%) com perda auditiva do tipo referido. A amostra foi colhida dentre os indivíduos que freqüentam o Laboratório de Audição da Ulbra encaminhados para avaliação audiológica. Destes, aqueles que apresentavam perda auditiva neurossensorial foram convidados a fazer parte da pesquisa. Aos que concordaram, foi apresentado o Consentimento Livre e Esclarecido, e estes foram então encaminhados para verificação do NDS. A pesquisa seguiu a proposta de procedimento de LISBOA (2000) de coleta dos dados. Neste procedimento, o indivíduo é apresentado a um cartaz, no qual constam os descritores de sensação de intensidade: Dói ; Alto demais incomoda! ; Muito Alto ; Alto ; Tudo Bem, sendo o descritor referente à sensação pesquisada ( Alto demais! Incomoda! ) destacado. A instrução (padronizada) passada ao indivíduo é a seguinte: - O propósito deste teste é descobrir o som mais alto que você consegue ouvir sem desconforto. Os sons vão ficar cada vez mais altos. Aponte o Alto demais! Incomoda! quando você não gostaria de escutar nada mais alto do que Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

114 isso. Não é necessário sinalizar ou apontar as outras sensações de intensidade. Nós vamos repetir o teste várias vezes. O procedimento usa uma técnica de apresentação ascendente de estímulos, onde tons puros contínuos, em pulsos de aproximadamente um segundo, são então apresentados em dois pulsos, com intervalos de aproximadamente meio segundo, em cada intensidade testada. A primeira varredura de intensidades inicia com uma intensidade 10 db acima do nível de audição do indivíduo, na freqüência testada e são dados acréscimos de 10 db até quando o nível do tom puro esteja em torno da metade da área dinâmica estimada; neste momento os acréscimos passam a ser de 5 db até que o indivíduo sinalize o Alto demais! Incomoda!, cuja intensidade de ocorrência é anotada. Mais duas varreduras ascendentes são então realizadas em cada freqüência testada, a segunda começando na metade da primeira e a terceira, na metade da segunda. É considerado o nível de desconforto de cada indivíduo, em cada freqüência testada, a mediana das respostas obtidas nas três varreduras. Os indivíduos foram testados em uma orelha e esta foi escolhida por apresentar perda auditiva neurossensorial. Os dados coletados foram analisados e determinados os valores mínimos, médios e máximos para o NDS na amostra, sendo estes, comparados com os achados da literatura. RESULTADOS Conforme descrito na Metodologia, todos os indivíduos da amostra possuíam perdas auditivas neurossensoriais. Na Tabela 1 são apresentados os limiares de audibilidade destes indivíduos na orelha testada. Tabela 1 Orelha avaliada, e limiares de audibilidade em dbna nesta orelha, dos componentes da amostra. Limiares de audibilidade em dbna n = Orelha 250 Hz 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 3000 Hz 4000 Hz 6000 Hz 8000 Hz 1 esquerda direita esquerda esq direita esquerda direita direita direita direita esquerda direita direita esquerda direita esquerda direita Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

115 Os componentes da amostra, segundo o descrito na Tabela 1, apresentavam, em sua maioria (n=7), perdas auditivas de grau moderado, segundo a classificação de DAVIS e SILVERMANN (1970); em número inferior, ocorreram perdas auditivas de grau leve (n=5), de grau severo (n=4), e perda exclusiva em freqüências altas (n=1). Na verificação do NDS, de acordo com o procedimento descrito, foram obtidos na amostra os níveis descritos na Tabela 2, para as três freqüências estudadas. Tabela 2 - Níveis de desconforto a sons intensos (NDS) em dbna obtidos nos componentes da amostra NDS em dbna n = 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz De uma forma resumida, na Tabela 3 são mostrados os valores máximos, mínimos e médios para os NDS encontrados na amostra estudada. Tabela 3 Níveis de desconforto máximo, mínimo e médio encontrados na amostra para as três freqüências estudadas. NDS em dbna 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz Valor Mínimo Valor Máximo Média Valores 95,6 98,23 100,6 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

116 Os valores descritos nas Tabelas 2 e 3 são inferiores em 500, iguais em 1000 Hz, e superiores em 2000 Hz aos encontrados por BECK (2003) utilizando a mesma metodologia em indivíduos normais da mesma região geográfica. O resultado inferior em 500 Hz possivelmente aponte para maior sensibilidade a sons intensos que ocorre em indivíduos com perdas auditivas neurossensoriais, em relação aos normais, reconhecido na literatura (PHILIBERT et al., 2002). O maior valor provavelmente ocorre pelo aumento no limiar de audibilidade nesta freqüência demonstrado na amostra (PASCOE, 1988). Em relação aos resultados de NDS descritos na literatura para tons puros em indivíduos com perdas de audição neurossensoriais, os resultados da presente pesquisa apontam para NDS ligeiramente inferiores (diferença de 5,3 db) em 500 Hz em relação aos encontrados por Bentler e Nelson (2001). Para 1000 e 2000 Hz, os resultados da presente pesquisa são virtualmente iguais (diferenças menores que 2 db) aos de BENTLER & NELSON (2001) e de BENTLER & PAVLOVIC (1989). CONCLUSÕES Foram obtidos nos componentes da amostra no Laboratório de Audição da ULBRA, para indivíduos com perdas auditivas neurossensoriais do estado do Rio Grande do Sul, para a metodologia estudada, NDS variando entre 70 e 120 dbna (média de 95,6 dbna) para 500 Hz; entre 75 e 120 dbna (média de 98,23 dbna) para 2000 Hz; e entre 75 e 120 dbna (média de 100,6 dbna) para 4000 Hz. Os valores no nível de desconforto verificados encontram-se muito próximos aos referidos na literatura para o mesmo tipo de estímulo acústico na mesma população, demonstrando que a mudança de metodologia em relação aos estudos da literatura não influenciou de forma significativa os padrões de NDS obtidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, K. A. Seleção e a verificação da saída máxima. In: ALMEIDA, K.A.; IORIO, M.C.C. Próteses Auditivas: fundamentos teóricos & aplicações práticas. São Paulo: Lovise, 1996 ALMEIDA, K. A. A prescrição e a verificação da saída máxima In: ALMEIDA, K.A; IÓRIO, M. C. M. Próteses Auditivas: fundamentos teóricos e aplicações clínicas; São Paulo: Lovise, BEATTIE, R. C.; EDGERTON, B. J.; GAGER, D. W. Effects of speech materials on the loudness discomfort levels. Journal of Speech and Hearing Disorders, v.44, p , BEATTIE, R. C.; SCHEFFER, M. V. Testretest stability and effects of psychophysical methods on the speech loudness discomfort level. Audiology, v. 20, p , BEATTIE, R. C.; BOYD, R. L. Relationship between pure-tone and speech loudness discomfort levels among hearing-impaired subjects. Journal of Speech and Hearing Disorders, v.51, p , BECK, C, Estudo do nível de Desconforto auditivo de indivíduos normo-ouvintes para fala e tom puro, em campo livre e fones. 116 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

117 Canoas: ULBRA/ Curso de Fonoaudiologia, Trabalho de Conclusão. BENTLER, R. A.; NELSON, J. A. Effect of Spectral Shaping and Content on Loudness Discomfort. Journal of the American Academy of Audiology, v.12, p ; BENTLER, R. A.; PAVLOVIC, C. V. Comparison of Discomfort Levels Obtained With pure tones and multitone complexes. Journal of the Acoustical Society of American. v.1, jul BORNSTEIN, S. P.; MUSIEK, F. E. Loudness discomfort level and reliability as a function of instructional set. Scandinavian Audiology, v.22, p , BRUNT, M. A. Testes para avaliar a função coclear. In: : KATZ, J. Tratado de Audiologia Clínica. 4. ed. São Paulo: Manole, CLOCK, A. E et al. Correlatos neurofisiológicos da perda auditiva neurossensorial. In: KATZ, J. Tratado de Audiologia Clínica. 4. ed. São Paulo: Manole, COX, R. M. Comfortable loudness level: stimulus effects, long-term reliability, and predictability. Journal of Speech and Hearing Research, v.32, p , DAVIS, H.; SILVERMANN, S. R. Hard of Hearing Children. In: SILVERMANN, S. R.; DAVIS, H. Hearing and Defness. 3 ed. New York: Holt Rinehard and Winston, DIRKS, D. D.; KAMM, C. Psychometric functions for loudness discomfort levels and most comfortable loudness levels. Journal of Speech and Hearing Research, v.19, p , FUCCI, D.; PETROSINO, L.; McCOLL, D.; WYATT, D.; WILCOX, C. Magnitude estimation scaling of the loudness of a wide range of auditory stimuli. Perceptual and Motor Skills, v.85, p , FRAZZA, M. M. et al. Som e Audição. In: MUNHOZ, M. S. L.; CAOVILLA, H. H.; SILVA, M. L. G.; GANANÇA, M. M. Audiologia Clínica. São Paulo: Atheneu, GOLDIM, J. R. Manual de Iniciação à Pesquisa em Saúde. Porto Alegre: Dacasa, HAWKINS, D. B.; WALDEN, B. E.; MONTGOMERY, A.; PROSEK, R.A. Description and validation of an LDL procedure designed to select SSPL90. Ear and Hearing, v.8, p , IORIO, M. C. M. ; MENEGOTTO, I. H. Processamento de sinal - compressão. In: ALMEIDA, K. A.; IORIO, M. C. M. Próteses Auditivas: fundamentos teóricos & aplicações clínicas. São Paulo: Lovise, p JENSTAD, L. M.; CORNELISSE, L. E.; SEEWALD, R. C. Effects of test procedure on individual loudness functions. Ear and Hearing, v.18, p , LISBOA, A.P; Comparação de Níveis de Audição Supraliminar em Jovens do Sexo Masculino e Feminino. Canoas: ULBRA/ Curso de Fonoaudiologia, Trabalho de Conclusão. MENEGOTTO, I. H.; ALMEIDA, K.; IORIO, M. C. Características físicas e eletroacústicas das próteses auditivas. In: ALMEIDA, K. A.; IORIO, M. M. C. Próteses Auditivas: fundamentos teóricos e aplicações clínicas. São Paulo: Lovise, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

118 MENEGOTTO, I. H. Análise Comparativa entre os Níveis de Sensação de intensidade para Sons Complexos de Indivíduos com Perda de Audição e as Características de Amplificação de suas Próteses Auditivas Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, MENEGOTTO, I. H.; COUTO, C. M. Tópicos de Acústica e Psicoacústica Relevantes em Fonoaudiologia. In: FROTTA, S. Fundamentos em Fonoaudiologia: Audiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, PASCOE, D. P. Clinical measurement of the auditory dynamic range and their relation to formulas for hearing aid gain. In. JENSEN, J. Proceedings of the 13th. Danavox Symposium, p , PHILIBER, T. B.; COLLET, L.; VESSON, J. F.; VEUILLET, E. Intensity-related performances are modified by long-term hearing aid use: a functional plasticity? Hearing Research, v.165, n. 1/2, p , RICKETTS, T. A. Clinical use of loudness growth procedures. Hearing Journal, v.50, n.3, p.10-20, ROBINSON, K.; GATEHOUSE, S. Changes in intensity discrimination following monaural long-term use of a hearing aid. Journal of the Acoustical Society of Americam, v.97, p , SANCHES, T. G; PEDALINI, M. E. B.; BEN- TO, R. F. Hiperacusia: artigo de revisão. Disponível em arq34/hipr.htm. Acesso em 05/02/2005. STEINBERG, J. C.; GARDNER, M. B. The dependence of hearing impairment on sound intensity. Journal of the Acoustical Society of Americam, v.9, p.11-23, WOODS, R. W.; VENTRY, I. M.; GATLING, L. W. Effect of ascending and descending measurement methods on comfortable loudness levels for pure tones. Journal of the Acoustical Society of Americam, v.54, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

119 Estudo sobre a prevalência de maus tratos físicos na cidade de Canoas (RS) CAMILA BANDEIRA PEREIRA 1 LÍLIAN DOS SANTOS PALAZZO 2 JORGE UMBERTO BÉRIA 3 ANDRÉIA CRISTINA LEAL FIGUEIREDO 3 LUCIANA PETRUCCI GIGANTE 3 BEATRIZ CARMEM WARTH RAYMANN 4 RESUMO Trata-se de um estudo de base populacional na cidade de Canoas (RS) com o intuito de conhecer a prevalência de maltrato físico e sua relação com variáveis demográficas. Os resultados revelaram uma prevalência de 9,7% de maus-tratos físicos, sendo que 24,1% ocorreu com idade entre 0-9 anos, 33,3% entre anos, 34,6% entre anos. Há um predomínio de pessoas do sexo feminino (67,4%), que vive com companheiro (63,0%), sendo que a maior parte apresenta uma renda familiar de 7 ou mais salários mínimos (49,0%) e primeiro grau de escolaridade (70,0%). Verificou-se uma associação (p<0,05) com sexo, numa proporção ao redor de 2:1, com menor escolaridade e com história de separação matrimonial (3:1). Os dados apontam para uma alta freqüência de maltrato na população e a necessidade de intervenções preventivas. Palavras-chave: maus tratos, prevalência, violência. 1 Acadêmica do Curso de Psicologia/ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA 2 Professora Orientadora do Curso Psicologia e PPG Saúde Coletiva/ULBRA (lspalazzo@uol.com.br) 3 Professor do Curso de Medicina e PPG Saúde Coletiva/ ULBRA 4 Professora do Curso de Fonoaudiologia e PPG em Saúde Coletiva/ULBRA Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

120 ABSTRACT This is a population-based study in the city of Canoas (RS) to know the prevalence of physical maltreatment and its relation with demographic variables. The results revealed a prevalence of 9.7% of physical maltreatment, in which 24.1% occurred in an age period between 0-9, 33.3% between 10-19, 34.6% though the age period between There is a women predominance (67.4%), living with a partner (63.0%), and most of them has a familiar income of 7 or more minimum wages (49.0%) and studied till the last elementary school (70.0%). An association with sex (p<0.05) was verified, in a ratio at around 2:1, with less graduation and marriage separation (3:1). The data point out a high frequency of maltreatment and the necessity of preventive interventions. Key words: maltreatment, prevalence, violence. INTRODUÇÃO A violência é, antes de tudo, uma questão social, porém torna-se um tema importante do setor saúde pelo impacto que provoca na qualidade de vida das pessoas, devido às leões físicas, psíquicas e morais que carreta, além das demandas de atenção dos serviços de saúde. Assim, violências e acidentes fazem parte de problemas que devem merecer tanta atenção como a AIDS, o câncer e as enfermidades cárdio-vasculares (MINAYO, 2004). Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2002), mais de 2 milhões de pessoas no mundo, por ano, morrem devido aos danos causados por esse problema. Entretanto, uma gama significativa de situações de violência não chega ao conhecimento oficial, constituindo uma cifra negra, sobre a qual não há quaisquer informações, como é o caso de certas expressões contra crianças, adolescentes e mulheres, que permanecem invisíveis. No Brasil, as fontes oficiais de informação sobre a violência, dentre as quais encontram-se as Secretarias de Segurança e as Secretarias Municipais e Estaduais de saúde, indicam que este fenômeno tem crescido, especialmente nas áreas urbanas das grandes metrópoles. Segundo o Relatório Azul elaborado pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (1999), 37,4% das denúncias feitas a Delegacia da Mulher no ano de 2000 foram por lesão corporal. Por outro lado, estudos têm encontrado forte associação entre a violência física e variáveis sociodemográficas, como sexo, idade e status socioeconômico em que o sexo feminino, crianças, adolescentes e os que pertencem ao subproletariado estariam entre os grupos populacionais que mais risco correm de sofrer maus tratos físicos (GIANINI, LITVOC, ELUF NETO, 1999; OMS, 2002; WHO, 2004). Entretanto, alguma evidencia mostra que esta associação pode ser contextoespecífico e que também dependeria da metodologia utilizada no levantamento dos dados. Sendo assim, esta pesquisa teve como objetivo estudar a prevalência de maus-tratos físicos na população de Canoas (RS) e sua relação com dados sócio-demográficos, conhecendo estas características dentro da população que sofre maus-tratos físicos, tendo uma importância por ser uma pesquisa de base populacional, não tendo sido encontrado no MEDLINE e LILACS investigação semelhante no Brasil. 120 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

121 MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo transversal de base populacional, realizado com habitantes da cidade de Canoas (RS) com idade igual ou superior a 14 anos. Após a aprovação pelo Conselho de Ética da ULBRA, foi iniciado o trabalho de campo. Para a seleção dos sujeitos foi utilizada a técnica de amostragem probabilística do tipo conglomerado ou Clusters, em dois estágios. Primeiramente, foi feita uma escolha aleatória simples dos setores censitários e depois, sistematicamente, foram escolhidos os domicílios. Assim, foram sorteados 40 dos 391 setores censitários do município, em cada um foi sorteado um quarteirão e deste uma esquina. A partir desta esquina, andando para a esquerda de quem está de frente para a casa um, foi visitada a quarta casa, a oitava casa, a casa 12 e assim sistematicamente, completando 26 domicílios amostrados. Nestes, foram entrevistados todos os moradores, totalizando 1954 participantes que responderam a um questionário auto-administrado, anônimo, construído para responder aos objetivos do estudo. Cada participante assinou um termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, após o preenchimento do instrumento, o mesmo foi colocado pelo entrevistado em um envelope, por ele mesmo lacrado e aberto apenas pela coordenação do trabalho de campo. As variáveis estudadas foram história de maus-tratos, idade em que ocorreram os maus-tratos, situação marital, escolaridade, renda familiar, separação no último ano e sexo. Os questionários foram codificados pelos entrevistadores e revisados pela coordenadora do estudo. Para a análise dos dados utilizou-se o programa estatístico SPSS (versão 10.0) e foram realizadas medidas de freqüência e associação (Qui-quadrado). RESULTADOS No estudo realizado foi encontrado 9,7% (184) de prevalência de história de maus-tratos físicos, ocorrendo principalmente no sexo feminino (67,4%), sendo a faixa etária (figura 1) mais freqüente a compreendida entre os 20 a 39 anos (34,6%) e entre 10 a 19 anos (33,3%). Chama a atenção a ocorrência desse tipo de problema na faixa etária entre 0 e 9 anos (24,1%) % a 9 anos 10 a 19 anos anos 40 a 59 anos 60 ou mais anos 5 0 faixas etárias Figura 1 - Distribuição do relato de maus tratos físicos segundo a faixa etária. (n= 184). Canoas (RS), Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

122 Quanto as demais características das vítimas, observa-se que 60,3% tem o primeiro grau de escolaridade, renda familiar de 7 ou mais salários mínimos (48,9%) e 63,0% vive com companheiro (Tabela 1.). Tabela 1 - Características dos sujeitos que relataram ter sofrido maus-tratos físicos (n=184). Canoas (RS), MAUS-TRATOS FÍSICOS n % Escolaridade aprendeu fora de casa 1 grau 2 grau 3 grau pós-graduação Renda Familiar 0 3 SM 3,1 7 SM 7,1 ou + SM Vive com companheiro Sim Não ,8 60,3 16,8 9,8 3,3 30,2 20,9 48,9 63,0 37,0 Em relação à associação entre a presença de história de maus-tratos físicos, sexo e história de separação no último ano, encontrou-se uma associação estatisticamente significativa (p<0,005), onde o sexo feminino tem índices mais elevados que o masculino numa proporção de 2:1 e há história de separação entre os que sofreram violência numa proporção de 4:1 em relação aos que não passaram por essa situação na vida (Tabela 2). Tabela 2 - Associação entre história maus-tratos físicos, sexo e história de separação no último ano (n=1954). Canoas (RS), MAUS-TRATOS FÍSICOS Sexo Feminino Masculino Separação no último ano Sim Não *p<0,005 Sim 124 (67,4%)* 60 (32,6%) 19 (12,1%)* 138 (87,9%) Não 971 (56,7%) 742 (43,3%) 62 (4,3%) 1396 (95,7%) 122 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

123 DISCUSSÃO A prevalência de maus-tratos encontrada nesse estudo e as conseqüências individuais e sociais decorrentes dessa situação relatadas na literatura mundial colocam a violência física como uma questão social, pois, de acordo com MINAYO (2004) a violência se torna um tema do campo da saúde pelo impacto que provoca na qualidade de vida, devido aos danos físicos, psíquicos e morais que acarreta e pelas exigências de atenção e cuidados que demanda dos serviços de saúde. A preponderância do problema no sexo feminino vem ao encontro do verificado em outros estudos, sendo que a violência sofrida pela mulher no âmbito familiar, nas diferentes fases de seu ciclo evolutivo, têm colocando esse como um problema de saúde coletiva de nível mundial. Segundo o Relatório da Organização Mundial de Saúde, nos países da América Latina as taxas de maus-tratos sofridos por mulheres por parte de seus companheiros, em algum momento de suas vidas, variam de 19 a 52%, enquanto que nos países mais desenvolvidos como Canadá, Nova Zelândia e Suíça, essas taxas oscilam entre 20 e 29%. A diferença entre os índices pode estar vinculada a fatores culturais implicados na gênese do problema, pois no modelo ecológico explicativo da violência aqueles padrões sociais que colocam esse tipo de comportamento como algo aceitável, normas que priorizam o direito dos pais sobre o bem-estar dos filhos, normas que dão suporte ao uso da força excessiva dos policiais sobre os cidadãos e aquelas que permitem ao domínio dos homens sobre as mulheres, entre outras, favorecem a eclosão desse tipo de situação (OMS, 2002). A violência física mais freqüente entre aquelas pessoas com baixa escolaridade, mas que pertencem a famílias com renda superior, contradiz alguns achados da literatura que coloca a população mais pobre como a mais vulnerável a esse tipo de situação (GIANINI,LITVOC, ELUF NETO, 1999; OMS, 2002). Entretanto, pode ser explicado pelo fato de que os maus tratos físicos abrangem não só a violência doméstica, mas também se encontra presente em muitos atos resultantes da violência urbana, onde muitas vezes são vítimas os jovens pertencentes a famílias com melhores condições econômicas. Em relação à idade em que ocorreram os maus-tratos, chama a atenção o problema na infância e adolescência. ASSIS (1994) afirma que a agressão física perpetrada sobre crianças e adolescentes é uma das práticas violentas mais comuns em nossa sociedade. O lar aparece como local privilegiado para tal prática, embora esta também ocorra constantemente em crianças e adolescentes sob risco, como aquelas que estão ou trabalham nas ruas e as institucionalizadas. Para CARIOLA (1995) existência de crianças maltratadas se associa à idéia da violência como produto de desajustes familiares, psíquicos e do alcoolismo. Em pesquisa realizada com escolares de Porto Alegre por MENEGHEL, GIUGLIANI & FALCETO (1998), a violência contra os adolescentes foi expressa no indicador punição física grave. A punição física grave, episódio único ou freqüente, relatada por pelo menos um dos membros da família, ocorreu em 41 relatos, representando 53,9% do total de casos. A maior parte das famílias, portanto, utilizava algum tipo de punição física em relação aos filhos, e o mais dramático é que na metade delas os castigos empregados eram graves. A situação mais séria foi a de famílias em que a punição era intensa e freqüente: 16 casos (18,4%). Aconteceram 14 relatos de punição grave entre Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

124 os alunos da escola particular (37,8%) e 27 entre os da escola pública (69,2%), evidenciando que a punição física das crianças é um padrão de conduta mais disseminado entre as famílias de baixa renda. O adulto mais punitivo foi o pai (44,0%), enquanto as mães perfizeram 21,9% da amostra. A maior prevalência de história de separação no último ano entre aquelas pessoas que relataram haver sofrido maus-tratos corrobora a idéia de que essa vivência se associa a transtornos psiquiátricos e a problemas de relacionamento formando um ciclo vicioso, que para rompê-lo, necessita medidas preventivas eficazes tanto no âmbito individual como familiar e coletivo (LOPES, FAERSTEIN & CHOR, 2003; OMS, 2002). Considerando o exposto, concluímos a violência física é um problema prevalente em nosso meio, atingindo principalmente as mulheres e a população infanto-juvenil. Devido ao seu caráter polifacético, necessita de medidas eficazes no âmbito da saúde coletiva, em vários níveis e em sintonia com múltiplos setores da sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL. Comissão de Direitos Humanos. Relatório Azul. Porto Alegre, ASSIS, S. G. Crianças e adolescentes violentados: passado, presente e perspectivas para o futuro. Cadernos de Saúde Pública, v.10, (supl.1), p , BENNET, S. et al. A simplified general method for cluster-sample surveys of health in developing countries. World Health Statistical Quarterly, v.44, p , CARIOLA, T. C. A posição da criança vítima de maus-tratos na constelação familiar. Pediatria Moderna, v.31, p , COKER, A. L. et al. Physical and mental health effects of intimate partner violence for men and women. American Journal of Preventive Medicine, v. 23, n.4, p , GIANINI, R. J.; LITVOC. J.; ELUF NETO, J. Revista de Saúde Pública, v.33, n.2, p , LWANGAS, S. et al. Sample size determination in health studies: a practical manual. Geneva: WHO, MINAYO, M. C. S. A difícil e lenta entrada da violência na agenda do setor saúde. Cadernos de Saúde Pública, v.20, n.3, p , MENEGHEL, S. N.; GIUGLIANI, E. J.; FALCETO, O. Relações entre violência doméstica e agressividade na adolescência. Cadernos de Saúde Pública, v.14, n.2, abr./ jun NJAINE, K.; SOUZA, E. R.; MINAYO, M. C. S.; ASSIS, S. G. A produção da (des)informação sobre a violência: análise de uma prática descriminatória. Cadernos de Saúde Pública, v.13, n.3, p , ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Informe mundial sobre la violencia y la salud. Geneva: WHO, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

125 Efeito da administração do extrato do Croton cajucara Benth em ratos normais GRAZIELLA RAMOS RODRIGUES 1 SOLANGE MARIA DOVAL FONSECA 2 SILVIA BONA 3 MARILENE PORAWSKI 4 NORMA ANAIR POSSA MARRONI 5 RESUMO Avaliamos o efeito da administração do extrato aquoso (EA) do Croton cajucara Benth (CcB) sobre os níveis plasmáticos de glicose, triglicerídios (TG) e colesterol, assim como as enzimas séricas marcadoras de função hepática, a lipoperoxidação e a atividade das enzimas antioxidantes catalase (CAT) e superóxido dismutase (SOD). Foram utilizados ratos machos Wistar (300g) divididos em 4 grupos (n=5): CO 7Dcontrole, 1,5 ml de água (i.g) por 7 dias; CcB- 1,5 ml (i.g) de extrato aquoso (EA) por 7 dias; CO 14D- controle 1,5 ml i.g de água por 14 dias e CcB 14D- 1,5 ml i.g. do EA por 14 dias. Os animais foram anestesiados e foi coletado sangue do plexo retro-orbital para dosagem de glicemia, triglicerídeos e colesterol e análises das enzimas séricas (AST, ALT, FA, A e dgt). Após, os animais foram sacrificados, os fígados foram retirados e homogeneizados para avaliação da LPO e da atividade das enzimas antioxidantes CAT e SOD. A análise estatística foi realizada através do teste t de Student sendo significativo p<0,05. Os dados obtidos sugerem que o uso de EA de CcB em animais normais, durante os períodos estudados,não altera a glicemia, triglicerídeos, colesterol, enzimas séricas e não apresenta atividade pró-oxidante. 1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA Bolsista PIBIC/CNPQ 2 Bióloga 3 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA Bolsista PROICT/ ULBRA 4 Professora do Curso de Fisioterapia e do PPG Diagnóstico Genético e Molecular /ULBRA 5 Professora - Orientadora do Curso Medicina e do PPG Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA (nmarroni@terra.com.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

126 Palavras-chave: Croton cajucara Benth, estresse oxidativo, enzimas antioxidantes. ABSTRACT We evaluated the effect of the administration of the aqueous extract (EA) of the Croton cajucara Benth (CcB) on the plasmatic levels of glucose, triglycerides (TG) and cholesterol, as well as the seric, the lipid peroxidation (LPO) and activities of the antioxidant enzymes catalase (CAT) and superoxide dismutase (SOD) catalase in normal rats. As male rats Wistar (300g) were used and divided into 4 groups (n=5): CO 7D - control, received 1,5 ml of water distilled intragastriccally (i.g) during 7 days; CcB - received 1,5 ml (i.g) of the aqueous extract (EA - extract of the leaves 1g/20mL) during 7 days; CO 14D - control, received 1,5 ml i.g of water distilled by 14 days and CcB 14D - received 1,5 ml i.g. do EA during 14 days. The animals were anesthetized and blood was collected from the retro-orbital plexus for glycemia dosage. triglycerides and cholesterol and analyses of the seric enzymes (AST, ALT, FA, A and ägt). Afterwards, the animals were sacrificed, the liver isoleted and homogenized for LPO evaluatin and activities of the antioxidant enzymes. Statistical analysis was done using the Student t test with a significance p < 0,05. Our date suggest that the uses of EA of CcB in normal animals, during the studied periods, does not alter glycemia, triglycerides, cholesterol, seric enzymes s and does not show present pro oxidant activity. Key words: Croton cajucara Benth, oxidative stress, antioxidant enzymes. INTRODUÇÃO A espécie Croton cajucara Benth, pertence a família Euphorbiaceae, é uma planta arbustiva de casca purulenta com folhas alterna, lanceoladas e olentes. É encontrada freqüentemente na região Norte do Brasil. Na Amazônia é popularmente conhecida como Sacaca e representa um recurso medicinal de grande importância no tratamento de várias doenças. (VAN DEN BERG, 1982; DI STASI et al., 1989). No estado do Pará as folhas e as cascas do caule dessa planta são utilizadas pela população na forma de chá, para o tratamento da diabetes, diarréia, malaria, febre, distúrbios gastrointestinais, renais e hepáticos e no controle de níveis elevados de colesterol (LUNA COS- TA et al., 1999; MACIEL, PINTO, VIEGA, 2001; HIRUMA-LIMA et al., 2000). Estudos mostram que várias doenças têm sido freqüentemente associadas com danos oxidativos, o que está diretamente envolvido na formação de espécies ativas de oxigênio (EAO) e outros radicais livres que podem ser produzidos por fontes exógenas ou endógenas. Uma forma adequada de combater esta situação é o uso de substancias antioxidantes. Em organismos aeróbios, a produção normal de EAO é balanceada pela atividade das defesas antioxidantes endógenas. Quando esse balanço é rompido em favor dos agentes oxidantes, diz-se que a célula ou organismo encontra-se sob estresse oxidativo. Essa condição pode levar o organismo a desenvolver respostas adaptativas 126 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

127 ou provocar danos como lipoperoxidação das membranas celulares, degradação de proteínas e lesão ao DNA (SALO et al., 1991). Os antioxidantes podem ser definidos como substâncias que, presentes em concentrações relativamente baixas, inibem significativamente a taxa de oxidação sobre locais alvos. Como antioxidantes não enzimáticos existem as vitaminas A e E, o ácido ascórbico, o ácido úrico, a glutationa, a melatonina, certos flavonóides, entre outros. Dentre os antioxidante enzimáticos responsáveis pela detoxificação das EAO podemos citar a catalase, a superóxido dismutase e a glutationa peroxidase (HALLIIWEL, GUTTERIDGE, 1989). Os extratos de plantas, praticamente todas as que contêm bioflavonóides apresentam uma significativa ação antioxidante, capaz de diminuir os efeitos nocivos gerados pelos radicais livres e, conseqüentemente, o surgimento das doenças associadas a eles. A Sacaca também é comercializada em farmácias de manipulação e neste caso o pó das cascas do caule é vendido em cápsulas. Já as folhas são comercializadas livremente, para distúrbios do fígado e auxilio na digestão de alimentos gordurosos. O pó das folhas é vendido também em farmácias de manipulação, com indicação hepatoprotetora e, para dietas de emagrecimento, em alguns casos o pó é misturado com pó do boldo do Chile. O uso freqüente dessa planta pela população do Norte do país foi um importante incentivo para os estudos da Sacaca, visando comprovar se os efeitos do uso prolongado da mesma estão relacionados com os casos de hepatite tóxica ocorridos em Belém. (MACIEL, 1997; MACIEL et al., 1998). Inúmeros casos de hepatite tóxica foram notificados em hospitais públicos da região Amazônica devido ao uso prolongado dessa planta (MACIEL, PINTO, VIEGA, 2001). A disseminação de uso tem chegado a lugares distantes do país, como em nosso estado, na cidade de Caxias do Sul. O presente trabalho tem como objetivo avaliar o efeito da administração do extrato aquoso (EA) do Croton cajucara em ratos normais sobre os níveis plasmáticos de glicose, triglicerídios e colesterol, determinar os níveis séricos das enzimas: ALT, AST, A, FA e dgt e avaliar o estresse oxidativo através das medidas de LPO e a atividade das enzimas antioxidantes: CAT e SOD. MATERIAL E MÉTODOS Procedimento experimental Os animais eram provenientes do Biotério do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS. Durante o experimento os animais foram mantidos no Biotério de Farmacologia, em caixas plásticas de 47x34x18cm forradas com maravalha, em ciclo de 12 horas claro/escuro e temperatura entre 20 e 25 o C. Água e a ração foram administradas ad libitum. Foram utilizados ratos machos Wistar (300g). Esses animais foram divididos em 4 grupos, cada grupo contendo 5 animais: - CO 7D - controle, receberam 1,5mL de água destilada intragástrica (i.g.) durante 7 dias; - CcB 7D- receberam 1,5 ml i.g. do EA (extrato aquoso das folhas1g/20ml H 2 O) durante 7 dias; Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

128 - CO 14D - controle receberam 1,5 ml i.g. água destilada durante 14 dias; - CcB 14D - receberam 1,5mL i.g. do EA durante 14 dias. A concentração do extrato aquoso de Croton cajucara: 1grama de folhas secas (provenientes de Santarém, Pará) em 20 ml de água destilada. Processamento dos tecidos Após cada período (7 e 14 dias), os animais foram anestesiados através da administração das drogas de Cloridrato de Xilazina 2% 50mg/Kg de peso corporal e Cloridrato de Cetamina 100mg/Kg de peso corporal intraperitonialmente. Foi coletado sangue do plexo retro orbital para determinação dos níveis plasmáticos de glicose, triglicerideos e colesterol e das enzimas séricas (ALT, AST, A, FA e dgt. Após foi realizada uma laparotomia e retirado o fígado, separado em porções e congelado em nitrogênio liquido. Os tecidos foram mantidos à -70 o C para posterior análise. Para análise das provas de lipoperoxidação (TBARS e QL) e atividade da enzimas (CAT e SOD), os tecidos foram pesados e colocados em solução de tampão fosfato 20mM (KCl 140mM) na proporção de 9mL por grama de tecido. Os tecidos foram homogeneizados em ULTRA- TURRAX (IKA-WERK) durante 80 segundos, à temperatura de 0-2ºC. Os homogeneizados foram centrifugados em centrifuga refrigerada (SORVALL RC-5B Refrigerated Superspeed Centrifuge), durante 10 minutos a 4000 rpm (LLESUY et. al., 1985). Retirou-se o sobrenadante que foi utilizado para dosagem de proteína, determinação da lipoperoxidação e atividade das enzimas CAT e SOD. Quantificação de proteínas A proteína dos tecidos homogeneizados foi quantificada, segundo o método de Lowry et. al., (1951). Este método utiliza como padrão uma solução de albumina bovina (SIGMA) 1mg/ ml (no caso, utilizam-se volumes de 50, 100 e 150 microlitros). Coloca-se uma alíquota do homogeneizado (20 microlitros) em 0,8 ml de água destilada e 2,0 ml do reativo C. Este último preparado no momento e consistia na mistura de 50,0 ml do reativo A (NaHCO3 2% em NaOH 0,10N), 0,5 ml do reativo B1 (CuSO 4. 5 H 2 O 1%) e 0,5 ml do reativo B2 (tartarato de sódio e potássio 2%). Após a adição do reativo C, aguarda-se 10 minutos e, após este período, coloca-se 0,2 ml de Reativo de Folin-Ciocalteau 2N (Laborclin), na concentração de 1:3 em água destilada. Após 30 min, desenvolvia cor azul. A leitura foi realizada a 625nm em espectrofotômetro (UV Vis Spectrophotometer METROLAB 1700). Quantificação da glicemia Para determinação da glicemia em plasma foi utilizado o teste enzimático colorimétrico descrito no Kit LABTEST. A leitura da absorbância da amostra foi realizada em espectrofotômetro a 505nm. Os valores foram expressos em miligramas por decilitro (mg/dl). Quantificação dos triglicerídeos Para a determinação de triglicerideos em plasma foi utilizado o método enzimáticocolorimétrico (GPO/POD), descrito no Kit CELM. Como padrão utilizou-se a solução estabilizada glicerol. A leitura da absorbância da 128 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

129 amostra foi realizada em espectrofotômetro a 505nm. Os valores foram expressos em miligramas por decilitro (mg/dl). Quantificação do colesterol Para a determinação de colesterol em plasma foi utilizado o método enzimáticocolorimétrico (COE/COD/POD), descrito no Kit CELM. Como padrão utilizou-se a solução tampão Tris e Fenol. A leitura da absorbância da amostra foi realizada em espectrofotômetro a 505nm. Os valores foram expressos em miligramas por decilitro (mg/dl). Avaliação da lipoperoxidação (LPO): a) Método de substâncias que reagem ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) A técnica de TBARS foi realizada conforme o método de BUEGE & AUST, (1978). Utilizou-se solução de ácido tricloroácetico 10%, o homogeneizado obtido de cada tecido de rato, ácido tiobarbitúrico 0,67% e água destilada. Essa mistura foi aquecida a 100 C, em banho-maria, durante 15 minutos e resfriada em gelo por aproximadamente 10 minutos. Após, acrescentouse álcool n-butilico, agitando por 40 segundos em VORTEX, e centrifugado por 10 minutos a 3000 rpm. Assim obteve-se um sobrenadante corado, resultante da reação de malondialdeído e outros subprodutos liberados na LPO. O sobrenadante foi retirado e colocado em cubeta de vidro para leitura a 535 nm em espectrofotômetro. Os resultados foram expressos em nanomoles por miligrama de proteína (nmoles/mg prot.). b) Determinação da quimiluminescência por hidróxido de tert-butila (QL) O método consiste em adicionar um hidroperóxido orgânico de origem sintética (hidroperóxido de tert-butila) ao homogeneizado dos tecidos em estudo. Avalia-se a capacidade de resposta mediante a determinação de quimiluminescência (QL) produzida por amostra. Em tecidos submetidos a estresse oxidativo, o valor da QL iniciada por hidroperóxido de tertbutila (t-booh) é maior que o valor correspondente a esse tecido em condições fisiológicas (pré-estresse). A QL foi medida em um contador com o circuito de coincidência desconectado e utilizando o canal de tritio (Liquid Scintilation Corenter, 1209 RACKBETA, LKB Wallar). Os homogeneizados de tecido serão colocados em viais de vidro. Para evitar a fosforescência dos viais ativada pela luz fluorescente, estes serão protegidos da luz até o momento do uso e as determinações feitas em sala escura. O ensaio será realizado num meio de reação consistindo numa solução reguladora de tampão fosfato e utilizando-se o t-booh 3mM. Para cálculo de QL iniciada por t-booh, foi considerada a emissão máxima, descontada a emissão basal (a QL do vial mais o tampão). Os resultados serão expressos em contas por segundo (cps) por mg de proteína (GONZÁLEZ- FLECHA, LLESUY, BOVERIS, 1991). Atividade das enzimas antioxidantes: Catalase (CAT) A atividade da enzima catalase foi avaliada, conforme descrito por Boveris & Chance (1973), através da determinação em espectrofotômetro Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

130 da velocidade de decomposição do peróxido de hidrogênio (0,3 M), adicionado a amostra. Sendo a decomposição do peróxido de hidrogênio diretamente proporcional à atividade da CAT. São colocados em cubeta de quartzo o tampão fosfato 50mM com ph 7, o homogeneizado e o peróxido de hidrogênio. A leitura foi realizada em espectrofotômetro a 240nm e os dados expressos em pico moles por miligrama de proteína (pmoles/mg prot.). Superóxido dismutase (SOD) A atividade da enzima antioxidante SOD, foi avaliada segundo a técnica descrita por MIRSA & FRIDOVICH (1983) para determinação em espectrofotômetro da capacidade da SOD em inibir a reação do radical superóxido com adrenalina. Na cubeta de quartzo, colocase tampão glicina 50mM com ph 11, uma alíquota de homogeneizado e adrenalina. Após agitação é realizada leitura a 480 nm em espectrofotômetro. Os dados são expressos em Unidades de SOD por miligrama de proteína (USOD/ mg prot.). ANÁLISE ESTATÍSTICA Os resultados foram expressos com média + EP de n valores. A comparação entre os grupos foi realizada através do teste t de Student (In Stat Program) com p<0,05 considerado significativo. RESULTADOS A glicemia, triglicerídeos e colesterol dos animais medida após 7 e 14 dias de tratamento com o extrato de Croton Cajucara não apresentou diferença significativa entre os grupos (Figura 1) mg/dl mg/dl CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D 0 CO 7D CcB 7D CO 14D CcB14D GLICEMIA TRIGLICERÍDEOS A B mg/dl CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D COLESTEROL C Figura 1 - Determinação dos níveis plasmáticos de glicemia (A), triglicerideos (B) e colesterol (C). 130 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

131 Os valores plasmáticos das enzimas séricas ALT, AST, A, FA e dgt não apresentaram alterações com o uso do Croton cajucara Benth nos períodos estudados (Figura 2). U/L CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D U/L 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D 50 0,5 0 AST ALT FA 0 A δgt A B Figura 2 - Valores plasmáticos ALT, AST e FA (A), valores plasmáticos ägt e A (B). A avaliação de dano oxidativo medido pelas técnicas de TBARS e QL indicaram que o tratamento com Croton cajucara não provocou alteração na lipoperoxidação no fígado dos ratos nos períodos estudados (Figura 3). nmoles/mg prot 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 cpm/mgprot A 0 CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D TBARS 0 CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D B Figura 3 - Determinação dos níveis de lipoperoxidação, pelo método de TBARS (A) e QL (B). QL A medida da atividade da CAT e SOD não apresentaram alterações significativas entre os grupos (Figura 4) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

132 nmoles/mgprot USOD/mg prot CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D 0 CO 7D CcB7D CO 14D CcB 14D CAT SOD A Figura 4 - Medida e desvio padrão da atividade da enzima CAT (A) e da SOD (B). B DISCUSSÃO Alguns trabalhos experimentais têm sido realizados a fim de investigar a ação farmacológica do Croton cajucara Benth, pois ela vem sendo utilizada de forma aleatória, principalmente no Norte do Brasil, muitas vezes levando ao óbito por efeitos hepatotóxicos. Inúmeros casos de hepatite tóxica foram notificados em hospitais públicos devido ao uso prolongado dessa planta (MACIEL, PINTO, VIEGA, 2001). O Croton cajucara Benth, tem importância na medicina popular, sendo utilizada no tratamento do diabetes, redução do colesterol, emagrecimento, distúrbios hepáticos e doenças renais (LUNA COSTA et al., 1999; MACIEL, PINTO, VIEGA, 2001; HIRUMA-LIMA et al., 2000) e é administrada através de chá ou cápsulas feitos com as folhas ou com a casca (MACIEL, PINTO, VIEGA, 2001). No presente trabalho a administração crônica do extrato aquoso de C. cajucara em ratos normais não mostrou alterações nos níveis de glicemia, triglicerídeos e colesterol total, sugerindo que em animais normais esse extrato não interfere de forma significativa, modificando o metabolismo de carboidratos e gorduras. Em relação à avaliação da integridade hepática, todos os animais tiveram os níveis séricos de AST, ALT, FA, A e ägt sem alteração significativa. Esses resultados indicam que o tratamento por 7 ou 14 dias com o extrato aquoso de folhas do C. cajucara não altera a função hepática nesse modelo estudado. A avaliação da lipoperoxidação pode ser realizada através da medida de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) o qual verifica a formação de malondialdeído, que é um subproduto do processo de oxidação das membranas lipídicas celulares (BUEGE, AUST, 1978). Outro método de verificação da lipoperoxidação de maior sensibilidade e especificidade é a quimiluminescência (QL) iniciada por hidroperóxido de tert-butil. 132 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

133 A avaliação da lipoperoxidação através das técnicas de TBARS e QL, em homogeneizado de fígado de ratos Co e CcB (7 e 14 dia) não mostrou alteração significativa na peroxidação lipídica pelas técnicas estudadas. As medidas de atividades enzimáticas da SOD e CAT também não apresentaram alterações significativas entre os grupos estudados. As enzimas antioxidantes estão distribuídas por todo o organismo e dependem do consumo de oxigênio, da taxa metabólica, da concentração de íons metálicos e da quantidade de ácidos graxos presentes, sendo a primeira linha de defesa contra ações oxidantes do organismo. Em nosso trabalho o uso do Croton cajucara Benth, nas doses utilizadas não interferiu no equilíbrio redox celular. Dessa maneira, pelos resultados obtidos neste trabalho, a sacaca administrada nos período de 7 e 14 dias não ocasionou diferença significativa os parâmetros estudados. CONCLUSÕES Pelos dados obtidos neste trabalho podemos concluir que a administração do extrato aquoso da folha do Croton cajucara Benth em ratos normais por 7 e 14 dias: - não apresentou diferença os níveis plasmático da glicemia, triglicerídeos e colesterol. - não apresentou diferença significativa na avaliação das enzimas séricas hepáticas. - não apresentou dano oxidativo nas membranas lipídicas avaliadas por TBARS e QL. - não apresentou alteração na atividade das enzimas antioxidantes CAT e SOD. Com base nesses dados, podemos sugerir que o uso do extrato aquoso da Sacaca não apresenta atividade pró-oxidante nos períodos estudados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOVERIS, A; CHANCE B. The mitocondrial generation of hydrogen peroxide: general properties and effect of hyperbaric oxygen. Biochemical Journal, v. 134, p , BUEGE, J. A.; AUST, S. D. Microsomal lipid peroxidation. Methods Enzimology, v. 52, p , DI STASI, L. C. et al. Plantas medicinais da Amazônia. São Paulo: UNESP, GONZALEZ-FLECHA, B.; LLESUY, S.; BOVERIS, A Hydroperoxide-initiated chemiluminescence: an assay for oxidative stress in biopsies of heart, liver and muscle. Free Radical Biology and Medicine, v.10, p , HALLIWEL, B.; GUTTERIDGE, J. C. M. Free Radicals in Biology and Medicine. 3th ed. Oxford Unifersity Press, HIRUMA-LIMA, C. A. et al. Gastroprotetive effect of essentialoil fron Croton cajucara benth (Euphorbiaceae). Journal of Ethnopharmacology, v.69, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

134 LOWRY, O. H.; ROSEBROUGH, M. J.; FARR, A. L. Protein measurent with the foline reagent. Journal of Biology Chemistry, v.193, p , LUNA COSTA, A. M. et al. Antioestrogenic Effect of trans-dehydrocrotonin, a nor-clerodane diterpene from Croton cajucara Benth in Rats. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF PHARMACOLOGY. 13., 1999, Munich. Proceedings... Munich, p.51. MACIEL M. A. M.; PINTO, A. C.; VIEGA, V. F. Plantas Medicinais: A Necessidade de Estudos Multidisciplinares. Química Nova, v.25, p , MACIEL, M. A. M. Croton cajucara: uma escolha etnobotânica Tese (Doutorado em Química) - Faculdade de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,1997. MACIEL, M. A. M. et al. Estudo da Variação dos Teores de Terpenóides Bioativos Isolados de Croton cajucara Benth, Nativos e Cultivados no Estado do Pará. Revista da Univerdade Rural - Série Ciências Exatas e da Terra, v.18/20, p.17-34, MIRSA, H. P.; FRIDOVICH, I. The role of superoxide anion in the autoxidation of epinephrine and a simple assay for superoxide dismutase. Journal of Biological Chemistry, v.247, p , SALO, D. C.; DONOVAN, C. M.; DAVIES, K. J. A. HSP 70 and other possible heat shock proteins are induced in skeletal muscle, heart and liver during exercise. Free Radical Biology and Medicine, v. 11, p , VAN DEN BERG, M. E. Plantas medicinais na Amazônia Contribuição ao seu conhecimento sistemático. Belém: Falangola, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

135 Estudo do crescimento somático e da aptidão física relacionados à saúde em estudantes surdos das escolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre EDUARDO TRZUSKOVSKI DE VARGAS 1 ROSILENE MORAES DIEHL 2 ADROALDO CÉZAR ARAÚJO GAYA 3 DANIEL C. GARLIPP 4 ALEXANDRE C. MARQUES 5 RESUMO O objetivo deste estudo foi analisar os níveis de aptidão física relacionados à saúde em alunos surdos de sete escolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre - RS. Foram analisados 149 meninos e 139 meninas com idades entre 07 e 15 anos. Os instrumentos possibilitaram avaliar índice massa corporal (IMC), flexibilidade, força/ resistência muscular localizada e resistência cárdio-respiratória. Os resultados se relacionam de um lado ao crescimento somático, no qual foi utilizado como referência as curvas da National Center for Health and Statistic (NCHS) recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS); e por outro ao estudo da aptidão física (ZSApF), a partir dos dados recomendados pelo Projeto Esporte Brasil (Proesp-BR). Palavras-chave: surdos, aptidão física, saúde. 1 Acadêmico do Curso de Educação Física/ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA 2 Professora Orientadora do Curso de Educação Física/ ULBRA rmdiehl@via-rs.net 3 Colaborador professor de curso de Educação Física - UFRGS 4 Colaborador professor de Educação Física - UFRGS 5 Colaborador professor de Educação Física - UFRGS Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

136 ABSTRACT This study pretends to analyse the grades of physical adaptation in relation to the health of deaf students in seven special schools in the metroplitan area of Porto Alegre/RS Brazil.149 boys and 139 girls between 7 and 15 years were analyzed. The instruments enabled us to value the Body Mass Index (BMI), flexibility, endurance and cardiorespiratory endurance.on one side the results are related to somatic growth, for which were used the graphics of the National Center for Health and Statistics recommended by the World Health Organization (WHO) and on the other hand with the studies of physical adaptation based on the data recommended by the Project Sport Brazil. Key words: deaf, physical adaptation, health. INTRODUÇÃO Estudos recentes apontam uma preocupação crescente com a manutenção da saúde através de uma vida ativa. Nos últimos censos demográficos nota-se uma tendência no envelhecimento da população brasileira. Segundo o IBGE em 1980 a idade média era a de 20,2 anos. Para 2050 a idade mediana projetada é de exatos 40 anos. Outras projeções são feitas:...em % dos brasileiros tinha de zero a 14 anos, e os maiores de 65 representavam 5% da população. Em 2050, esses dois grupos etários se igualarão: cada um deles representará 18% da população brasileira... Também tornam-se cada vez mais importantes as políticas de Saúde voltadas para a Terceira Idade: se em 2000 o Brasil tinha 1,8 milhão de pessoas com 80 anos ou mais, em 2050 esse contingente poderá ser de 13,7 milhões. (IBGE, 2004) Dessa forma, métodos de prevenção a doenças degenerativas da velhice e da promoção da saúde de crianças, jovens e adultos são fundamentais para uma sociedade mais saudável e conseqüentemente uma velhice mais digna. Um dos fatores importantes para a manutenção das boas condições físicas e mentais do ser humano é manter o corpo ativo. (NAHAS, 2001; GAYA 2002) Uma vida ativa é um fator importante na prevenção e no controle de alguns problemas de saúde, quando analisada a partir da perspectiva populacional (KON E CARVALHO, 2001). Na infância e na adolescência a educação física tem um papel fundamental na promoção de um estilo de vida ativo. O profissional deve associar a ludicidade do jogo à aptidão física voltada para a saúde à performance. Na medida em que promovemos crianças e jovens ativos teremos, no futuro, adultos menos ociosos e com mais qualidade de vida. A intenção deste estudo foi identificar o perfil da aptidão física voltada à saúde de crianças e jovens surdos que freqüentam as escolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre. Ao fazer referência às pessoas que estão impossibilitadas de modo permanente de ouvir, dizse, muitas vezes, que esta pessoa possui defici- 136 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

137 ência auditiva. Muitos são os nomes utilizados ao se referir àqueles que têm o sentido da audição comprometido ou inexistente. Neste texto, ao abordar pessoas com déficit da audição, será usado o termo surdo por ser esta a expressão adotada pela Comunidade Surda. Essa Comunidade possui uma identidade própria, caracterizada principalmente pela existência de uma forma específica de comunicação. Nessa perspectiva, reconhecemos o termo surdo não apenas como uma definição conceitual, mas uma forma do Ser. Pelo fato de, muitas vezes, as crianças e jovens surdos serem denominados deficientes, ou pessoas não eficientes, inclusive pelos profissionais da área da educação física, é que resolvemos identificar o perfil motor dos alunos que freqüentam as escolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre, RS. Queríamos identificar o perfil de crianças e jovens que freqüentavam as escolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre, RS, visto que as escolas dessa região são representativas do estado. MATERIAL E MÉTODOS Amostra Este estudo descritivo foi realizado a partir de uma amostra de 288 escolares, sendo 149 meninos e 139 meninas na faixa etária entre 7 e 15 anos. Os escolares são provenientes de 7 escolas especiais para alunos surdos da região metropolitana de Porto Alegre. A amostra é do tipo intencional e dividida conforme a tabela abaixo: Tabela 1 Estratificação da amostra por idade nos dois sexos. Idade Total v.a.= valores absolutos; v.p.= valores percentuais Masculino Feminino v.a. v.p. (%) v.a. v.p. (%) 12 8,1 9 6, ,8 13 9,4 11 7, ,1 10 6,7 10 7,2 12 8, , , ,8 14 9,4 9 6, ,7 12 8, , , Instrumentos e procedimentos de coleta das informações As medidas somáticas avaliadas foram: (a) massa corporal: medida em kg com resolução de 0,1kg; (b) estatura: medida em cm entre o vértex e o plano de referência do solo, com resolução de 0,1cm. O estudo da aptidão física foi feito a partir dos testes recomendados pelo Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR) descritos no quadro abaixo: Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

138 Quadro 1 Bateria de testes do Projeto Esporte Brasil. TESTES COMPONENTES DA APTIDÃO ÁREA DE INTERVENÇÃO Índice de massa corporal (IMC kg/ m 2 ) Relação da massa corporal pela estatura Relacionada à saúde Sentar-e-alcançar (cm) Flexibilidade Relacionada à saúde Abdominal (número de repetições em 1 minuto) Força-resistência dos músculos abdominais Relacionada à saúde Corrida/caminhada de 9 minutos (metros) Resistência geral Relacionada à saúde As curvas de crescimento somático foram comparadas com as curvas de referências internacionais (NCHS 6 ) recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os critérios de referência adotados para as avaliações da Aptidão Física Relacionada à Saúde correspondem aos utilizados pelo PROESP-BR. Para o índice de massa corporal (IMC) utilizou-se o conceito de zona saudável de massa corporal (ZSMC), assumindo os valores de corte sugeridos por Sichiere e Allam (1996), adaptando-os para a realidade brasileira. Para os testes de aptidão física utilizouse o conceito de Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF) assumindo os seguintes valores de corte: para os testes de sentar-e-alcançar e abdominal, os critérios FITNESSGRAM (COOPER, 1991); para o teste de 9 minutos os critérios FITNESSGRAM (1980) adaptados. Tratamento das Informações Para o tratamento dos dados, inicialmente procedeu-se um estudo exploratório cujo objetivo foi avaliar os pressupostos essenciais da análise paramétrica. A análise exploratória constou da inspeção dos gráficos boxplot para identificar a eventual presença de outliers, os quais foram retirados da amostra. A normalidade das distribuições foi verificada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, e a homogeneidade das variâncias foi testada com o teste de Levene. Para a análise descritiva utilizou-se a média e o desvio padrão. No caso da aptidão física relacionada à saúde, foram desenvolvidos gráficos de ocorrências em valores percentuais de escolares situados abaixo, no interior e acima da ZSMC para o IMC e ZSApF para os demais testes. No caso da aptidão física relacionada ao desempenho motor, foi utilizado a ANOVA para identificação de possíveis diferenças significativas no desempenho em cada idade entre os sexos. O nível de significância estabelecido foi de 5%, sendo utilizado nas análises estatísticas o programa SPSS for Windows RESULTADOS E DISCUSSÃO 6 NCHS National Center for Health and Statistics O Centro Nacional de Estatística da Saúde é uma instituição norte-americana que sugere curvas de crescimento utilizadas como referência pela Organização Mundial da Saúde (Hamill et al., 1979). Crescimento somático Verificado os pressupostos para as análises propostas, inicia-se a apresentação e discussão 138 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

139 dos resultados com a comparação das curvas de estatura corporal (Figura 1) e massa corporal (Figura 2), com os percentis 3, 10, 50, 90 e 97 do padrão de referência NCHS. Figura 1 Comparação das médias de estatura corporal com o padrão de referência NCHS. Observa-se que as curvas de estatura (figura 1) se sobrepõem à curva média (percentil 50) do padrão de referência até os 11 anos no sexo masculino, e até os 10 anos no sexo feminino, havendo uma superioridade até os 14 anos nos meninos e 13 anos nas meninas. No sexo masculino parece haver então uma estabilização da curva, enquanto no sexo feminino a curva apresenta uma queda para próximo do percentil 10 do padrão NCHS. Figura 2 Comparação das médias de massa corporal com o padrão de referência NCHS. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

140 Observa-se que as curvas de massa corporal (figura 2) se comportam de forma diferente entre os sexos, desta forma a análise será feita de forma separada. No sexo masculino, a curva da população investigada inicia perto do percentil 90 da curva de referência. Aos 8 e 9 anos, existe uma sobreposição da curva estudada com o percentil 50 do NCHS. Desta faixa até os 14 anos os meninos apresentam massa corporal superior à curva média da curva de referência, caindo logo após para valores inferiores ao percentil 50. No sexo feminino, existe uma sobreposição da curva da população investigada com o percentil 50 do NCHS até os 10 anos de idade, onde existe um aumento importante da massa corporal das meninas até próximo ao percentil 90, havendo então uma queda para junto da curva média do padrão de referência. Aptidão física relacionada à saúde a) Índice de massa corporal (IMC) No gráfico 1, podemos observar um número elevado de alunos surdos das escolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre, com índices médios referente ao (IMC). 80% das alunas e 75% dos alunos apresentam um quadro saudável do IMC. Os índices abaixo da zona saudável indicam desnutrição; quando acima da zona saudável apontam para um aluno com sobrepeso ou obeso. Gráfico 1 - Freqüência de escolares nas ZSMC Freqüência (%) IMC Abaixo da ZSMC ZSMC Acima da ZSMC Zonas de Massa Corporal Masculino Feminino b) Flexibilidade A flexibilidade é uma aptidão importante no dia a dia do ser humano. Índices abaixo dos indicados podem referir-se a pessoas com encurtamento muscular que impossibilitam movimentos fundamentais nas tarefas de vida prática. No gráfico 2 estão os dados referentes aos alunos surdos das escolas especiais, no teste sentar-e-alcançar. 140 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

141 Gráfico 2 - Freqüência de escolares nas ZSApF 50 Flexibilidade Freqüência (%) Abaixo da ZSApF ZSApF Acima da ZSApF Zonas de Aptidão Física Masculino Feminino Podemos observar que 25% das meninas e 24% dos meninos estão na zona considerada boa para a saúde e que 44% dos meninos e 35% das meninas apresentaram uma excelente flexibilidade. Porém observamos um grupo que aponta um baixo nível de flexibilidade, onde 40% das meninas e 32% dos meninos estão necessitando maior atenção nessa aptidão. c) Força/resistência abdominal A força concentrada na musculatura abdominal é importante na estabilização do corpo em diversas situações espaciais. A manutenção do equilíbrio nos possibilita uma postura adequada e evita atitudes posturais que podem acarretar dores musculares e mau funcionamento de órgãos internos do nosso corpo. O gráfico 3 apresenta os resultados do teste abdominal, realizado em um minuto. Gráfico 3 - Freqüência de escolares nas ZSApF Freqüência (%) Força/resistência abdominal Abaixo da ZSApF ZSApF Acima da ZSApF Zonas de Aptidão Física Masculino Feminino Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

142 Podemos observar um despreparo desses alunos para a realização deste teste de força e resistência abdominal. Os resultados estão, em sua maioria, abaixo da zona saudável em relação a essa aptidão. Tanto os alunos do sexo masculino quanto do sexo feminino apresentam índices abaixo da zona saudável de aptidão física. Os dados causam preocupação no âmbito da saúde desses escolares. Todavia, esses resultados não parecem ser exclusivos da amostra desse estudo. Pesquisa realizada por GAYA et. al. (2002), apresenta resultados similares. Embora crianças e jovens surdos apresentem números mais preocupantes. d) Resistência geral A resistência cardiorrespiratória é a aptidão física que possibilita um bom funcionamento energético. Essa valência quando dentro da zona saudável pode prevenir doenças como hipertensão arterial, obesidade, diabetes, entre outras. O teste utilizado para esse estudo foi o 9 minutos, indicado pelo PROESP-BR. Gráfico 4 - Freqüência de escolares nas ZSApF Freqüência (%) Resistência Geral Abaixo da ZSApF ZSApF Acima da ZSApF Zonas de Aptidão Física Masculino Feminino Conforme os dados registrados no gráfico 4, pode-se observar que a maioria da amostra parece estar fora da zona indicada como saudável. Os meninos com 69% e as meninas com 73% abaixo da zona saudável da aptidão física. Apenas 22% dos meninos e 26% das meninas se encontram com índices considerados saudáveis. Somente 9% dos meninos está com um excelente índice da aptidão cardiorrespiratória. Os dados referentes a essa aptidão são alarmantes. Deve-se propor ações efetivas para mudar esse panorama ou teremos em breve, adultos sedentários e com propensão à doenças oportunistas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A discussão que será feita é referente aos dados acima citados de acordo com os sujei- 142 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

143 tos dessa pesquisa. Refere-se apenas aos sujeitos surdos da região metropolitana de Porto Alegre, RS. Os 288 alunos surdos das diversas escolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre que realizaram os testes motores, bem como os demais alunos que integram essas escolas e os de outras escolas do Brasil, merecem espaços esportivos, recreativos e de dança onde sejam valorizadas suas potencialidades. Crianças e jovens surdos não são diferentes em suas necessidades em relação às demais crianças e jovens na nossa sociedade. Possuem relevantes diferenças no aspecto da comunicação, porém fisicamente necessitam de um bom condicionamento físico para desempenhar suas tarefas diárias de uma forma saudável. As crianças e jovens vão desenvolver o gosto pelo brincar, jogar, desempenhar atividades vigorosas, nas aulas de educação física. Nesse espaço é onde inicia o desenvolvimento da cultura esportiva para ter uma vida ativa. Hábitos adquiridos na infância e na adolescência são referência para uma vida adulta voltada à prática dos mais diversos exercícios e, conseqüentemente, uma vida mais saudável. Além possibilitar uma velhice digna e com mais qualidade. Pode-se constatar nesse estudo que essa é a realidade de poucas crianças e jovens surdos das escolas avaliadas. Referente aos dados da massa corporal da amostra, uma boa parte dos escores estão dentro do perfil saudável. Poucos alunos dessas escolas são desnutridos ou obesos. Porém quando se refere ao desempenho voltado à saúde desses alunos, os números variaram consideravelmente. A flexibilidade da amostra foi bem heterogênea, embora, a maioria tenha uma boa ou ótima flexibilidade. Todavia, um número grande está abaixo da zona saudável de aptidão física. Ao se tratar das aptidões força/resistência muscular localizada e resistência cardiorrespiratória, os dados nos remetem a uma preocupação sobre a saúde física desse grupo. Foram observados baixos índices de crianças e jovens com um bom condicionamento, em ambos os sexos. Vistos por outra perspectiva, sabe-se que esses dados não são exclusivos dos alunos surdos. Outros estudos realizados no Brasil, em escolas regulares, também apontam níveis de desempenho bem variados. Existem muitas variáveis que podem estar influenciando esses dados. Por exemplo, o tempo de aula de educação física semanalmente, o número de alunos em cada aula, escassos recursos materiais, falta de alternativa de espaços para prática da atividade física. Esses itens influenciam diretamente nas aulas de educação física. Os professores devem ser motivados através de cursos anuais de aperfeiçoamento, tendo como tema atividade física voltada à saúde. Deve-se desenvolver mais pesquisas nessa área com a finalidade de reunir dados suficientes que permitam subsidiar propostas de políticas na área da educação física, esporte e lazer de crianças, jovens e adultos surdos. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

144 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GAYA, Adroaldo Cézar Araújo. PROESP BR. Projeto Esporte Brasil: indicadores de saúde e Fatores de prestação esportiva em crianças e jovens. Manual de Aplicação de Medidas e Testes Somatomotores. Revista Perfil, Porto Alegre, n. 6, p. 9-25, HAMILL, P.; DRIZD, C.; JOHNSTON, R.; REED, R.; ROCHE, A.; MOORE, W. Physical growth: national center for health statistics percentiles. The American Journal of Clinical Nutrition, v.32, p , INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em: < noticiais/noticiaimpressao.php?idnoticia=207> Acesso em 24 abr KON, R.; CARVALHO, Y. M. Disponível em: < tema1/texto6_definicao.asp> Acesso em 24 abr NAHAS, Markus Vinicius. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

145 Ciências Agrárias Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

146 146 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

147 Desempenho da pastagem de capim tanzânia submetida a diferentes níveis de adubação nitrogenada e pastejo contínuo com novilhas DANIEL MARTINS BRAMBILLA 1 CAIO MARQUES PIMENTA 1 JAMIR LUÍS SILVA DA SILVA 2 ROBERLAINE RIBEIRO JORGE 3 MOISÉS AGUIAR GUEDES 4 ALEX DE OLIVEIRA CHAGAS 5 RESUMO O trabalho foi conduzido num argissolo vermelho-amarelo distrófico no Litoral do RS, visando avaliar o efeito de adubação nitrogenada sobre o desempenho de Panicum maximum Jacq. Cultivar Tanzânia e de novilhas de sobreano em pastejo contínuo com cargas animal ajustadas para manter 12 a 15% de oferta de forragem. As doses de nitrogênio foram 50, 100, 150 e 200 kg/ha e o pasto foi avaliado durante 103 dias. As novilhas eram pesadas a cada 28 dias após avaliação da massa de forragem (MF). Foram avaliadas as relações folha/caule e verde/seco da MF. A MF oscilou ficou com médias entre 6151 e 7764 kg/ha de matéria seca total. O melhor ganho animal foi 0,939 kg/dia, obtido no tratamento de 200 kg/ha de N e o menor foi 0,622 no de 150 kg/ha (P<0,05). A carga animal variou de 715,92 a 2.886,34 kg/ha de peso vivo (PV), conforme a equação: Y= 524, ,22x. O ganho animal por área foi 430, 523, 700 e kg/ha PV, nas respectivas doses de N, confirmando o excelente desempenho destas espécies forrageiras. 1 Acadêmico do Curso de Engenharia Agrícola/ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA 2 Professor - Orientador do Curso de Engenharia Agrícola/ ULBRA jamirlss@terra.com.br 3 Professor do Curso de Engenharia Agrícola/ULBRA. 4 Técnico Agrícola especialidade em pecuária/eeta-viamão. 5 Engenheiro Agrícola/ULBRA. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

148 Palavras-chaves: adubação nitrogenada, Panicum maximum, pastejo contínuo e produção animal. ABSTRACT This work was conducted on argissol in the Coast RS s North, to evaluate the effect of levels of nitrogen on animal production and performance of the pasture of Tanzania grass (Panicum maximum Jacq.) grazed by heifers. The levels of nitrogen were 50, 100, 150 and 200 kg/ha. This experiment was conducted with grazing continuous and Put and Take method during 103 days, with herbage allowance between 12 and 15% of the live weight. The heifers were weighed each 28 days after forage mass evaluation (FM). Then were collected six clump samples of the paddocks to relation leaf/stem. The FM changed between 6151 and 7764 kg/ha of DM. The best animal performance was obtained in the treatment of 200 kg/ha of N, with a gain of 0,939 live weight dairy and the minor was obtained in the treatment of 150 kg/ha, with a gain of 0,622 live weight dairy (P<.05). Animal carry capacity had a variation of 715,92 into 2.886,34 kg/ha of live weight, like the regression: Y= 524, ,22x. The gain per area of each treatment was respectively of 429,83, 522,66, 700,46 and 1.005,76 kg/ha of live weight. This results showed the excellent performance of this forages species. Key words: animal production, Nitrogen fertilization, Panicum maximum, continuous grazing. INTRODUÇÃO A região Litorânea é fortemente caracterizada pela integração entre a cultura de arroz (Oryza sativa) e a pecuária de corte, devido à maioria dos campos serem formados sobre planossolos de várzea. As áreas de pecuária, em sua maioria, são de pastagens nativas, que nas condições de manejo de solo utilizada tem grande dificuldade na sua regeneração, principalmente quando as rotações com a cultura são de longa duração, ou seja, plantio de arroz em vários anos consecutivos. Estas áreas possuem um modelo de pecuária ineficiente, onde a produção animal está em torno de 50 a 90 kg/ha/ano de peso vivo, e em função da maior preocupação dos produtores com a cultura de arroz, devido esta atividade apresentar hoje maior retorno econômico para a propriedade, ficando as áreas de pastagem em segundo plano, e não ha- vendo com estas a atenção necessária (SAIBRO & SILVA, 1999). No entanto, há a necessidade de haver uma maior intensificação da pecuária, visto que esta pode dar resultados positivos no sistema de produção dentro da propriedade, e assim termos um sistema muito mais eficiente tecnicamente e economicamente que o sistema que há atualmente na maioria das propriedades. Neste contexto, as pastagens de Panicum maximum apresentam-se como promissoras, tendo em vista sua alta capacidade de produção de forragem e bom valor nutritivo (CORSI, 1995; EUCLIDES, 1995; HERLING et al., 2000 e 2001). Para o caso da região do Litoral Norte do RS, as cultivares Tanzânia e Mombaça são indicadas, tendo em vista que esta se caracteriza por um clima subtropical ameno, com geadas praticamente inexistentes, a temperatura média é de aproxima- 148 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

149 damente 17,5 C, e a precipitação é de 1450 mm/ ano. Os solos são originários de sedimentos recentes, do lado marítimo são arenosos, quartzosos, profundos e de fertilidade natural muito baixa. No lado continental, os solos são argilosos, siltosos com horizonte B textural um pouco desenvolvido, com argilas de atividade alta (hidromórficos) (STRECK et al., 2002). No entanto, são poucos os estudos relativos a esses cultivares, principalmente em sistemas de forrageamento com avaliação da produção animal. Para uma busca de melhores resultados neste tipo de sistema, a solução deveria passar pelo aumento da quantidade e qualidade da forragem oferecida aos animais durante o crítico período outono-inverno de carência alimentar, mas várias dificuldades mais básicas se colocam antes que elevados rendimentos de forragem possam ser obtidos nas várzeas arrozeiras, entre eles, fatores limitantes ligados às condições químicas e físicas dos solos e ao desempenho produtivo das espécies e cultivares das forrageiras utilizadas (SAIBRO & SILVA, 1999). Com estas pastagens se consegue maiores produtividades por área devido à taxa de crescimento ser elevada, desde que estas estejam bem manejadas e com o solo corrigido. Estas altas taxas de crescimento geram alta capacidade de suporte destas pastagens, podendo-se assim alojar um grande número de animais em uma mesma área, facilitando no manejo dos animais dentro da propriedade nesta época, que como já foi comentado, há uma grande ocupação das áreas de pastagem por parte da cultura do arroz. Para MONTEIRO (1995), o suprimento de nitrogênio passa a ser o fator de maior impacto na produtividade das plantas forrageiras bem estabelecidas e dos animais que as utilizam, quando as condições edafoclimáticas são consideradas não limitantes. A recomendação de nitrogênio, para pastagens de Panicum maximum Jacq., varia de 50 a 300 kg/ha/ano. A dose mais baixa tem sido considerada mínima para evitar a degradação da pastagem, enquanto as mais elevadas são aconselhadas para incrementos na produtividade da pastagem e do animal, evidenciando que a medida que se eleva a dose de fertilizante nitrogenado, haverá a necessidade de parcelamento dessa adubação (MONTEIRO, 1995), aplicada após cortes ou pastejo (CORSI & NUSSIO, 1992). É importante destacar, também, que estas pastagens de verão poderão servir para que os produtores consigam fazer a terminação de animais jovens, se os mesmos não forem terminados nas pastagens de inverno. Além disso, pode ser uma alternativa para produtores que tem em suas propriedades além de áreas de pecuária, áreas de agricultura. Nesta região as áreas agrícolas são cultivadas no período de verão, ficando assim as áreas destinadas à pecuária reduzidas devido a estes cultivos. Esta pastagem em estudo tem a oportunidade de acomodar um número grande de animais em boas condições justamente neste período, onde os animais precisam ser retirados das áreas agrícolas, e como já foi comentado, se bem manejada traz grandes ganhos neste período, como será mostrado neste trabalho. Este trabalho foi conduzido para avaliar o efeito de doses de nitrogênio sobre o desempenho dos animais e da pastagem de Capim Tanzânia já estabelecida na região litorânea do estado do Rio Grande do Sul. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

150 MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido na Fazenda do Capivary, localizada nas Margens da Estrada da Barrocada, que tem acesso pela parada 146A da estrada RS 040, que liga Porto Alegre ao Litoral Norte do RS. A área do experimento esta localizada na latitude Sul 30º e longitude -50º (GPS marca Garmin, modelo Etrex). Na propriedade onde foi conduzido este trabalho, em Capivari do Sul, o solo é um argissolo vermelho-amarelo distrófico, constituído de uma fração importante de areia, além de ter um lençol freático perto da superfície do solo. São solos com baixos teores de nutrientes (P < 3 ppm, K entre 20 e 40 ppm), baixa matéria orgânica (entre 0,9 e 1,5 %) e teores de argila entre 9 e 12 %. A pastagem era constituída de Panicum maximum cv Tanzânia, estabelecida em dezembro de 2002 por meio de preparo convencional do solo e adubação conforme recomendação da análise e utilizada por pastejo contínuo durante 103 dias, dividido em dois subperíodos (14 de janeiro a 16 de março e de 23 de abril a 03 de junho de 2004). Houve correção do solo com 2,7 t/ha de calcário dolomítico com PRNT acima de 90%. A adubação de base foi de 26.9 kg/ ha de Nitrogênio, de fósforo e de potássio. Em 2004 a adubação de fósforo e potássio foi de 100 kg/ha destes elementos, sendo o fósforo colocado na forma superfosfato simples e o potássio combinado com o nitrogênio na fórmula de NPK, com a devida correção da quantidade. A área total do experimento continha 2,25 ha, subdividida por meio de cerca eletrificada em 4 potreiros. Os tratamentos utilizados foram 50, 100, 150 e 200 kg/ha de Nitrogênio, distribuídos aleatoriamente em potreiros com áreas de , , e ha respectivamente, com uma repetição de campo. O tamanho das áreas diferenciados é função das taxas de crescimento do pasto, que foram estimadas em 25, 50, 75 e 100 kg/ha de matéria seca nos respectivos tratamentos e de um nível de oferta de forragem entre 12 e 15% do peso vivo, o que permitirá trabalhar com uma lotação de no mínimo três animais testes por potreiro. A ordem e a disposição de cada tratamento nas unidades experimentais foi definida por meio de sorteio ao acaso, sendo estas medidas com um GPS e utilizado o programa GPS Track Maker PRO para elaboração da área total e posteriormente a divisão dos tratamentos, admitindo-se com isto a possibilidade de um pequeno erro nestes cálculos. A adubação das áreas foi feita manualmente, onde os potreiros com nível de 50 e 100 kg/ha de N levaram a aplicação do adubo de uma só vez, no dia 04/dez/03, enquanto que os potreiros de 150 kg/ha e 200 kg/ha de nitrogênio tiveram as suas aplicações divididas em duas etapas, a primeira aplicação no mesmo dia com 100 kg/ha e a segunda no dia 18/fev/04 com o restante. A massa de forragem que é utilizada para definir a carga animal suportada pela pastagem (MF) foi determinada, a cada 28 dias, por meio do método da dupla amostragem. Este método consiste na avaliação visual da massa de forragem em diferentes pontos dos potreiros e corte de 20% das amostras para determinação de uma equação de regressão (Y= 1,1589x 323,5 com R 2 de 0,7646, onde Y é a MF determinada pela equação e x é a MF estimada visualmente). O corte das amostras do pasto foi realizado mediante uma tesoura de tosquia a 10 cm do solo, 150 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

151 em um quadro com 0,25 m 2 de lado, sendo que os locais foram escolhidos aleatoriamente, mas de forma representativa. Após os cortes a campo, as amostras foram levadas a laboratório, colocadas em estufa de ar forçado a 60 ºC e pesadas após atingirem pesos constantes. As amostragens para relação folha-caule, na base da massa seca, foram feitas em seis touceiras diferentes, cortando-se, com auxílio de uma tesoura de tosquia, punhados de plantas 10cm acima do nível do solo em diferentes estágios das plantas. Estas amostras eram conduzidas a laboratório onde era realizada separação entre material morto e material verde. Após, as amostras verdes eram separadas em lâminas foliares e caules mais bainhas, onde a relação F/C, de fato representa a relação lâmina foliar e caule mais bainha foliar. Após a separação morfológica, o material era seco em estufa de ar forçado a 60 ºC. Os animais utilizados foram novilhas puras de origem da raça Red Angus de quatorze a dezoito meses de idade. Estas novilhas foram selecionadas do rebanho da propriedade, buscando-se uma homogeneidade no lote quanto a condição corporal, peso, pelagem e histórico. O método de pastejo utilizado foi o continuo, com carga animal variável, conforme a técnica put and take (MOTT e LUCAS, 1952). Foram utilizados três animais testes ou permanentes por pastagem, e um número variável de animais reguladores, que são colocados ou retirados da pastagem, com a finalidade de manter-se ajustado o nível de oferta de forragem de 12% do peso vivo (PV), conforme taxa de acúmulo da pastagem estimada. Na entrada dos animais nos potreiros, foi utilizado um ajuste de oferta de forragem de 15% do PV, devido à existência de um resíduo de forragem excessivo, buscando se com isto, uma diminuição no resíduo da forragem. Os animais foram avaliados mediante pesagens com intervalos de 28 dias. Quando se usa o manejo da pastagem com regulagem da carga animal por oferta de forragem, é necessário, que haja coincidência entre as datas das avaliações da pastagem e dos animais, para que ocorram os ajustes de carga projetados. O manejo sanitário dos animais segue o mesmo protocolo utilizado na propriedade, assim como o uso de sal mineral. Na análise estatística foi utilizado o F-teste e o teste de Duncan a 5% de probabilidade, para a variável GMD. Nas demais foi feita uma análise de regressão, usando as doses de nitrogênio com fator dependente. Neste trabalho foi usada somente uma repetição de campo, em função do mesmo ter sido conduzido em propriedade rural, onde as condições de manejo dependem das atividades rotineiras. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados deste trabalho serão apresentados em dois períodos, devido ao pastejo que ocorreu em dois momentos. Este fato foi devido a uma forte estiagem que atingiu a região, conforme pode ser visto na Figura 1. Observa-se que entre o segundo decêndio de fevereiro e o segundo decêndio de abril ocorreram poucas precipitações, pouco mais de 50 mm, sendo que em 40 dias, ocorreram somente 10,5 mm de chuva, o que é um volume bem inferior ao que normalmente ocorre. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

152 170,0 160,0 150,0 140,0 130,0 120,0 110,0 100,0 mm 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 00,0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez ,033,0 14,0 49,0 30,0 00,024,0 14,0 44,0 00,0 27,0 51,0 08,0 102, 19,0145, 25,018,0 53,0 00,0132, 112, 46,0 30,045,0 74,0 22,0 81,0 22,0 55,016,0 30,017,0 90,0 10,0 12, ,010,0 43,0 107, 52,0 61,035,0 54,0 03,0 17,0 00,0 78,0 32,0 17,0 26,076,0 105, 00,0 91,0 10,060,0 00,000,0 58,034,0 09,0 18,0 85,0 04,0 60,008,0 52,013,0 71,0 112, 20, ,042,0 00,0 55,0 36,0 02,003,0 05,5 00,0 18,0 22,0 38,0 159, 17,5 40,550,0 00,516,5 Precipitações por decendios - mm Figura 1 - Soma das precipitações diárias, apresentadas por decêndio, do ano de 2003 e de janeiro a abril de 2004, da região de Palmares do Sul, RS. 6 Fonte: Cooperativa de Palmares do Sul. A massa de forragem, que representa o volume de matéria seca presente na pastagem instantaneamente, está representada na Figura 2. O comportamento da pastagem foi semelhante nas doses de nitrogênio, com uma pequena alteração no tratamento com 200 kg/ha. Este tratamento estava com um alto acúmulo de forragem no início do pastejo, o que permitiu o uso de uma carga animal instantânea maior o que afetou a massa de forragem com maior intensidade. No dia 18 de fevereiro ocorreu aplicação da segunda dose de nitrogênio, nos tratamentos de 150 e 200 kg/ ha de N, no entanto, a partir deste momento houve estiagem e a resposta das pastagens ficou comprometida, conforme pode ser visto pela massa de forragem instantânea. O tratamento com 200 kg/ha de N apresentou um maior acúmulo, no período após a cobertura, no entanto, este fato está ligado ao reajuste da carga animal. Este tratamento é mais sensível ao ajuste carga devido ao tamanho da área, mesmo que se mantenha a mesma oferta de forragem. É importante observar que após a estiagem, os tratamentos com doses de N acima de 100 kg/ha tiveram uma recuperação melhor, indicando maior acúmulo de forragem. O tratamento com pouco nitrogênio apresentou uma lenta recuperação. Esta resposta é importante em espécies tropicais de alto crescimento, pois per- 6 Nota: estes dados foram tomados como referência, por serem coletados de um local próximo ao experimento, em torno de 10 km. 152 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

153 mite melhor ajuste do sistema após períodos de intempéries climáticas e isto é relevante aos produtores, pois flexibiliza seu manejo com a carga animal, tendo em vista que o pecuarista pode aumentar a lotação até os limites projetados desta oferta /01/ /02/ /03/ /04/ /05/ /06/ N 5.923, , , , , , N 6.692, , , , , , N 6.531, , , , , , N 8.591, , , , , ,73 Datas das amostragens Figura 2 - Massa de forragem (kg/ha) de capim Tanzânia submetida a doses de nitrogênio e pastejo continuo, com 12 a 15% de oferta de forragem. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS Outros aspectos importantes na avaliação desta massa de forragem são a composição da matéria seca total e a estrutura morfológica das plantas. A composição foi avaliada com a relação material verde / material morto. A estrutura morfológica foi avaliada pela relação entre Lâmina foliar, aqui chamada folha (F) e bainha foliar mais caule, aqui chamada caule (C), ou seja, tratada como relação F/C, assim como a densidade de pastagem estratificada. Os resultados da composição da matéria seca podem ser visualizados na Figura 3. Deve ser chamada a atenção, que estas pastagens estavam com crescimento acumulado desde a primavera, e que a adubação nitrogenada ocorreu no início de dezembro. Verifica-se que os tratamentos com maiores doses de N evidenciam maior crescimento, tendo em vista que apresentam maior volume de material verde, ou seja, material mais novo. Não ocorreram diferenças relevantes entre as doses de N, com exceção do tratamento com 200 kg/ha que apresentou uma maior relação. Este fato está ligado, provavelmente, as condições da pastagem definidas por manchas de solo mais arenosas ou outros aspectos não dependentes dos fatores avaliados neste trabalho. A partir da entrada dos animais houve maior uniformização da relação material verde e material morto, fato este explicado pelo ato do pastejo, onde os animais retiram o substrato superior da pastagem, permitindo maior entrada de luz na base das plantas e com isto, estimulam o afilhamento, maior velocidade de surgimento Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

154 de folhas novas e diminuição da senescência por sombreamento. Outro ponto relevante é o estímulo que o nitrogênio apresenta sobre o aumento da duração de vida das folhas. Este aspecto não foi avaliado, diretamente, neste trabalho, no entanto, a maior quantidade de material verde é devido a folhas, o que pode ser explicado por esta questão fisiológica. No potreiro com o tratamento de 150 kg/ha de N, ocorreu a predominância de plantas estruturalmente maiores em altura e que culminavam com uma massa de forragem residual superior na fase intermediária e final das avaliações com animais, no entanto, não apresentava uma boa condição de forragem, avaliada pela massa de folhas e pela composição da matéria seca, pois apresentava alta composição de material morto. Estas são situações particulares de pastagens, reguladas por outros fatores que afetam o desenvolvimento. 10,00 9,00 9,54 50N 100N 150N 200N RelaçãoM.Verde/M.Morto 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 1,75 2,22 4,11 3,13 2,57 2,50 2,20 2,13 2,23 1,69 1,31 08-jan mar mai-04 Data de avaliações Figura 3 - Relação material verde / material morto em diferentes datas de amostragem, de capim Tanzânia submetidas a doses de nitrogênio, e sobre pastejo contínuo com 12 a 15% de oferta de forragem. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS Na Figura 4, estão apresentados os dados da relação F/C da pastagem. Nota-se a grande capacidade de rebrote desta forrageira, após as precipitações de abril. Os tratamentos de 150 e 200 kg N/ha, tiveram as melhores relação F/C após o período de estiagem, verificadas na data de 14 de maio. Estes dados reforçam a idéia da maior capacidade que estas pastagens apresentam de crescimento quando não ocorre limitação de água e de nutrientes. Este fato deve ser destacado, tendo em vista que permite maior flexibilização de manejo ao produtor. Após a entrada dos animais verifica-se que ocorreu uma redução na relação F/C. Esta resposta é esperada, uma vez que os ruminantes selecionam dietas de boa qualidade, o que se traduz por apreensão de uma proporção maior 154 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

155 de folhas na ingesta. No manejo de pastagens este aspecto é altamente relevante tendo em vista que as folhas são mais qualitativas, por isto melhor consumidas, entretanto estas mesmas folhas são fundamentais para o crescimento da planta, pois são responsáveis pela fotossíntese. Além de que as folhas mais novas são mais eficientes na absorção de luz e CO 2, também apresentam maior valor nutritivo, sendo mais apetecidas pelos animais. No manejo deve haver contemplação a este dois aspectos, e isto é considerado quando se faz ajustes de carga animal em função de oferta de forragem. Para finalizar, é importante mencionar que ocorrem interações na interface planta animal, que não é possível interpretá-las analisando somente as variáveis respostas da planta ou somente do componente animal. A análise exige uma visão sistêmica do ecossistema pastoril, a qual se procurará abordar nas demais variáveis em conjunto. O pastejo foi conduzido em dois momentos distintos devido à estiagem ocorrida entre o final de verão e início do outono. A saída dos animais foi função de que estas pastagens não tinham suporte para três animais testes, o que poderia gerar problemas de alta variabilidade nas médias dos tratamentos. O desempenho dos animais, a carga animal e a produtividade das pastagens em termos de ganho por área, nos dois períodos de pastejo são apresentados nas Figuras 5 e 6. Observa-se que o desempenho das novilhas oscilou entre 620 e 950 g/dia, evidenciando o bom desempenho produtivo deste Cultivar forrageiro, inclusive com valores superiores aos encontrados em algumas referências sobre a mesma. Neste trabalho o desempenho dos animais é fator privilegiado, uma vez que no manejo do ajuste da carga animal, sempre se buscou ofertar uma quantidade de forragem aos animais que não limitassem seu consumo individual. 3,50 50N 100N 150N 200N 3,24 3,00 2,50 2,21 2,49 2,53 2,88 2,59 Relação F/C 2,00 1,50 1,74 1,48 1,00 0,81 0,74 0,50 0,40 0,34 0,00 08-jan mar mai-04 Datas de avaliação Figura 4 - Relação lamina foliar (folha) / bainha + caule (caule) em diferentes datas de amostragem, de capim Tanzânia submetidas a doses de nitrogênio, e sobre pastejo contínuo com 12 a 15% de oferta de forragem. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

156 A análise estatística não revelou diferença significativa entre as doses de nitrogênio. Entretanto, no primeiro período de pastejo o teste de Duncan para médias evidenciou que o GMD da dose de 50 kg/ha de N foi superior a dose 100, não apresentando diferença em relação aos demais a 5% de probabilidade. Na figura 5 se verifica um GMD em torno de 900 g/animal/dia. A possível razão para este maior ganho é devido a uma interação do manejo dos animais, o tamanho das pastagens e as cargas animais, tendo pouca influência das doses de nitrogênio. Neste momento o aspecto mais importante é o tamanho dos potreiros, pois na dose de 50 era o maior potreiro, então, existe uma maior quantidade de plantas por área, mesmo que tenham menor crescimento, então, a possibilidade dos animais selecionarem folhas é maior. A adubação nitrogenada em pastagens tem evidenciado respostas mais eficientes na carga animal e conseqüentemente na produtividade animal por área do que resposta ao desempeno individual dos animais. Quanto as cargas animais, verifica-se que ocorrem diferenças expressivas entre as doses, expressas por equações de regressões indicadas nas Figuras 5 e 6. As cargas animais na dose de 200 kg/ha de N chegaram a mais de 2800 kg/ha. Chama-se a atenção para a diferença nas cargas animais utilizadas no segundo período de pastejo, evidenciando que os tratamentos com menores doses de nitrogênio, apresentaram menor intensidade de crescimento das pastagens, ou seja, os tratamentos com maiores doses de N apresentaram uma intensidade de recuperação muito maior após o período de pastejo. CA e GA - kg/ha y = 0,0612x 2-0,341x + 1,1888 R 2 = 0,7038 CA GA GMD y = 482,85x + 920,25 R 2 = 0,9951 y = 102,96x + 213,44 R 2 = 0,9685 1,000 0,900 0,800 0,700 0,600 0,500 0,400 0,300 0,200 0,100 GMD - kg/an/dia - 50 N 100 N 150 N 200 N 0,000 Doses de nitrogênio - kg/ha Figura 5 - Relação entre doses de nitrogênio com o ganho médio diário (GMD), a carga animal (CA) e o Ganho por área (GA), em pastagem de capim Tanzânia submetida a pastejo continuo com oferta de 12 a 15% de oferta de forragem, no período de 14 de janeiro e 16 de março. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

157 Estas respostas das pastagens se refletem diretamente na produtividade animal por área, onde se verifica que os ganhos chegaram a mais de uma tonelada de peso vivo por hectare em 93 dias de pastejo na dose de nitrogênio de 200 kg/ha, enquanto que na dose de 50 kg/ha a produtividade foi de 430 kg/ha, evidenciando uma resposta altamente significativa destas pastagens. Em pequenas áreas os produtores podem trabalhar com altas cargas animais ou altas lotações (Tabela 1) desde que o solo seja adequadamente manejado. CA e GA -kg/ha y = 0,122x 2-0,5902x + 1,3354 R 2 = 0,9446 y = 699,82x - 74,925 R 2 = 0,9888 CA GA GMD y = 87,603x - 25,169 R 2 = 0,8893 1,000 0,900 0,800 0,700 0,600 0,500 0,400 0,300 0,200 0,100 GMD - kg/an/dia - 0, N 100 N 150 N 200 N Doses de nitrogênio - kg/ha Figura 6 - Relação entre doses de nitrogênio com o ganho médio diário (GMD), a carga animal (CA) e o Ganho por área (GA), em pastagem de capim Tanzânia submetida a pastejo continuo com 12 a 15% de oferta de forragem, no período de 23 de abril a 3 de junho. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS Doses Lotação animal Ganho Animal an/ha /dia Total kg/ha 14/jan 16/mar 23/abr 03/jun kg/ha 50 N 5,9 2,60 429, N 9,2 4,66 522, N 10,5 7,49 700, N 13,3 9, ,76 Tabela 1 - Lotação animal por período de pastejo e produtividade animal total em pastagem de capim Tanzânia, submetida à adubação nitrogenada e pastejo continuo com 12 a 15% de oferta de forragem. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

158 CONCLUSÕES A cultivar Tanzânia apresenta boa resposta à aplicação de nitrogênio, na região Litorânea do Estado, não atingindo potencial de produção com as doses aplicadas, conforme visto no ganho por área, o qual ainda permanece ascendente. Quando ocorre aumento de doses de nitrogênio nos tratamentos, possibilita o uso de maior carga animal. O ganho médio diário não tem grandes oscilações em função do nitrogênio, o que permite afirmar que o ganho por área é aumentado em função do aumento da carga animal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORSI, M. Adubação nitrogenada das pastagens. In: PEIXOTO, A. M. et al. (Eds). Pastagens: fundamentos da exploração racional. 2. ed. Piracicaba: FEALQ, p CORSI, M.; NUSSIO, L.G. Manejo do capim elefante: correção e adubação do solo. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PAS- TAGENS, 10, Piracicaba, Anais... Piracicaba: FEALQ, p EUCLIDES, V.P.B. Valor alimentício de espécies forrageiras do gênero Panicum. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTA- GENS, 12. Piracicaba, Anais... Piracicaba: FEALQ, p HERLING, V. R.; RODRIGUES, L. R. de A.; LUZ, P. H. de C.; Manejo do pastejo. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTA- GEM: PLANEJAMENTO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO EM PASTAGENS, 18, 2001, Piracicaba, Anais. Piracicaba: FEALQ, p HERLING, V. R.; BRAGA, G. J.; LUZ, P. H. de C.; OTANI, L.; Tobiatã, Tanzânia e Mombaça. In: SIMPÓSIO SOBRE MANE- JO DA PASTAGEM: A PLANTA FORRAGEIRA NO SISTEMA DE PRODU- ÇÃO, 17, 2000, Piracicaba, Anais... Piracicaba: FEALQ, p MONTEIRO, F.A. Nutrição mineral e adubação. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 10, Piracicaba, Anais... Piracicaba: FEALQ, p MOTT, G. O.; LUCAS, H. L. The design, conduct and interpretation of grazing trials on cultivated and improved pastures. In: INTERNATIONAL GRASSLANDS CONGRESS, 6., Proceedings... Pensylvania, p SAIBRO, J. C.; SILVA, J. L. S. Integração sustentável do sistema arroz x pastagens utilizando misturas forrageiras de estação fria no litoral norte do Rio Grande do Sul. In: CICLO DE PALESTRAS EM PRODUÇÃO E MANEJO DE BOVINOS DE CORTE, 4, 1999, Canoas. Anais... Canoas: Ed. da ULBRA, p STRECK, E. V. et al. Solos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EMATER/RS; UFRGS, 2002, 128p. WERNER, J. C.; COLOZZA, M. T.; MONTEIRO, F. A. Adubação de pastagens. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PAS- TAGEM: PLANEJAMENTO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO EM PASTAGENS, 18, 2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

159 Avaliação de enzimas extracelulares em isolados de Trichoderma sp. JULIANA DALMAGRO PANDOLFO 1 AIDA TERESINHA SANTOS MATSUMURA 2 PAULO TADEU CAMPOS LOPES 3 ANA MARIA PUJOL VIEIRA DOS SANTOS 4 RESUMO O antagonista Trichoderma sp. tem sido cada vez mais utilizado na agricultura, conseqüentemente sendo submetido a uma grande diversidade de substratos. Para que esse agente de biocontrole seja eficiente é necessário que consiga degradar o substrato no qual está crescendo. Assim, é importante a avaliação do potencial de degradação de substratos por diferentes isolados deste biocontrolador. O objetivo do presente trabalho foi avaliar, em isolados obtidos de lavoura de fumo, a atividade enzimática extracelular de amilase, lipase e protease. Foram utilizados 5 isolados de Trichoderma sp. repicados a partir de culturas axênicas em meios de cultura específicos para cada atividade enzimática avaliada. A incubação foi em temperatura de 22 ± 2ºC e fotoperíodo de 12 hs. O delineamento experimental foi totalmente casualizado com 4 repetições. Para as avaliações foi medido o diâmetro da colônia e dividiu-se este pelo diâmetro do halo no 2º, 3º e 9º dias após a incubação, para atividade amilolítica, proteolítica e lipolítica, respectivamente. Os resultados mostraram que, quanto à atividade lipolítica, não houve diferença significativa, entre os isolados testados (Tukey 5%). No caso das atividades amilolítica e proteolítica, não houve formação de halo. Palavras-chave: amilase, protease, lipase. 1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA Bolsista PROICT/ ULBRA 2 Professora Colaboradora do PPG Fitotecnia/UFRGS 3 Professor do Curso de Educação Física/ULBRA 4 Professora Orientadora do Curso de Educação Física/ ULBRA (anapujol@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

160 ABSTRACT The antagonist Trichoderma sp. has been used more in agriculture, consequently being submitted to a great substratum diversity. To be an efficient biocontrol agent it is necessary to degradate the substratum in which is growing. Thus, the evaluation of the potential of different substratum degradation is important to characterize this antagonist. This work aimed to investigate the extracellular enzymatic activity of amylase, lipase and protease, in specific solid substrates. Five isolates of Trichoderma sp were selected from tabacco culture. The incubation was at 22 ± 2ºC and 12 hours of fotoperiod. The bioassay was done in quadruplicate. Enzyme activity was expressed as the halo-diameter/colony-diameter ratio after two, three and nine days after incubation, for amilolytic, proteolytic and lipolytic activity, respectively. The results showed lipolytic activity, but did not vary between the isolates (Tukey 5%). In the case of the amilolytic and proteolytic activities, the halo was not formed. Key words: amylase, protease, lipase. INTRODUÇÃO As enzimas são catalisadores orgânicos que participam das reações químicas nos processos vitais, por isso são capazes de atuar, especificamente, em todos os processos e reações biológicas que envolvem proteínas, carboidratos, lipídeos e ácidos nucléicos, como também em moléculas menores, como os aminoácidos, açúcares e vitaminas. As enzimas microbianas apresentam um custo de produção relativamente baixo, quando comparado às enzimas de origem animal ou vegetal (LOWE, 1992; TUCKER & WOODS, 1995). A habilidade de um fungo em produzir enzimas varia entre espécies, como também entre isolados de uma mesma espécie, e depende grandemente de seu potencial genético, podendo ser induzida pelo seu ambiente de cultivo. Portanto, a capacidade de produzir ou não determinada enzima, em condições padronizadas, serve como base para diferenciar ou agrupar os isolados de uma espécie fúngica em níveis subespecíficos. Em adição, o uso de meios espe- cíficos para detecção da atividade enzimática permite a caracterização de populações de fungos e da variabilidade genética, de forma simples e relativamente rápida, podendo ser complementado e comparado com outros métodos de importância de estudo taxonômico, para maior segurança e exatidão intra e interespecífica de fungos (COUTO et al, 2002). O antagonista Trichoderma sp. tem sido cada vez mais utilizado na agricultura, conseqüentemente sendo submetido a uma grande diversidade de substratos. Entre as vantagens para o uso de Trichoderma, como possível indutor, caracteriza-se este microrganismo como um micoparasita de fitopatógenos, produzindo enzimas, tais como celulase e hemicelulase, capazes de degradar materiais lignolíticos e lisar paredes de células de fungos fitopatogênicos (MELO, 1996), e glucanases e quitinases (LORITO et al., 1998). Para que esse agente de biocontrole seja eficiente, é necessário que consiga degradar o substrato no qual está crescendo. Assim, é im- 160 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

161 portante a avaliação do potencial de degradação de substratos por diferentes isolados deste biocontrolador. Portanto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar, em isolados obtidos da lavoura de fumo, a atividade enzimática extracelular de amilase, lipase e protease. MATERIAL E MÉTODOS Obtenção dos isolados de Trichoderma sp. A obtenção dos isolados de Trichoderma sp. foi realizada a partir de solos da cultura do fumo. O material foi processado em laboratório através da seguinte metodologia: a partir da amostra de solo devidamente identificada, fora retiradas 10 g, e esta quantidade diluída em 90 ml de água destilada estéril. Retirou-se 1 ml desta suspensão e diluiu-se novamente em 9 ml de água destilada estéril, contida em tubo de ensaio, obtendo-se assim uma solução Desta suspensão foi transferido 0,2 ml para placas de Petry contendo meio de cultura Batata Dextrose Agar (BDA) e espalhados com auxilio da Alça de Drigalsky. As placas foram incubadas por 4 dias a uma temperatura de 25 ± 2ºC e fotoperíodo de 12 hs. Foram selecionados somente os isolados de Trichoderma sp. após a identificação através da observação morfológica, coloração da colônia, análise microscópica e verificação por comparação com chaves taxonômicas de fungos. Posteriormente, os isolados de Trichoderma foram repicados em placas de Petry contendo BDA, obtendo-se então culturas axênicas dos isolados. Análise da atividade enzimática Para a analise da atividade enzimática extracelular, foram utilizados 5 isolados de Trichoderma sp. (T1, T2, T3, T4 e TJ). Estes foram repicados, a partir de culturas axênicas, em meios de cultura específicos para as atividades amilolítica, lipolítica e proteolítica (HANKIN & ANAGNOSTAKIS, 1975). Para todos os substratos, discos de micélios de 6 mm de diâmetro, retirados de colônias jovens dos isolados do antagonista, foram individualmente transferidos para o centro da placa de Petri, contendo o meio específico. A incubação foi feita com temperatura de 22 ± 2ºC e fotoperíodo de 12 hs. As avaliações foram realizadas medindo-se o diâmetro do halo formado em torno da colônia, dividindo-se este pelo diâmetro da colônia. As placas contendo meio específico para análise da atividade amilolítica foram mantidas em BOD por dois dias. Para ocorrer a formação do halo amarelo foram adicionados 10 ml de solução alcoólica de iodo em cada placa. As placas contendo meio para analise da atividade proteolítica foram mantidas em BOD durante 3 dias. Para a formação do halo transparente foram acrescentados 10 ml de solução saturada de sulfato de amônia em cada placa. As placas contendo meio de cultura para análise da atividade lipolítica foram mantidas em BOD por dois dias e logo após permaneceram em geladeira por 7 dias, para que ocorresse a formação do halo de cristais. O delineamento experimental foi totalmente casualizado, com 5 repetições. Os dados foram analisados pela ANOVA e as médias comparadas utilizando o teste de Tukey (p < 0,05). Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

162 Meios de cultura utilizados para atividade enzimática Atividade amilolítica Meio amilase ph 6,0 Nutriente agar...23 g Amido solúvel...2,0 g Completar com água destilada para 1000 ml - Solução alcoólica de iodo 1% Iodo ressublimado...1,0 g Álcool absoluto ml Cloreto de potássio...0,5 g Sulfato de magnésio...0,01 g Sulfato de ferro...0,01 g Sulfato de zinco...0,01 g Agar...15 g Completar com água destilada para 1000ml Gelatina 4% no momento do uso. - Solução saturada de sulfato de amônia Sulfato de amônia...50 g Água destilada ml Atividade lipolítica Meio lipase Peptona...10 g Cloreto de sódio...5,0 g Cloreto de cálcio...0,1 g Agar...20 g Tween ml * adicionado no momento do uso Completar com água destilada para 1000 ml Atividade proteolítica Meio mínimo ph 6,0 Nitrato de sódio...6,0 g Fosfato de potássio dibásico...1,5 g RESULTADOS E DISCUSSÃO Não foi encontrada atividade para as enzimas amilolíticas e proteolíticas nos diferentes isolados testados, pois o halo não ultrapassou o limite da colônia, apresentando o índice 1. BARBOSA et al. (2001) também não encontraram atividade para a protease para diferentes espécies de Trichoderma, mas encontraram para amilase. O mesmo trabalho investigou isolados de Cladosporium herbarium, ocorrendo apenas a produção da protease. Para isolados de Trichoderma, provenientes do mangue, foi observada a produção de amilase nas primeiras 24 horas em apenas 3 amostras de 5 e em 48 hs as 5 amostras apresentaram a formação do halo característico (BATISTA et al., 2003). As diferenças encontradas na detecção da enzima amilase poderiam ser devido à forma de inoculação nos meios. Nos isolados deste experimento, nas 24 hs após a inoculação não havia 162 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

163 crescimento da colônia e em 48 hs a mesma praticamente já tomava conta de toda a placa, o que dificultou a avaliação. Já BATISTA et al. (2003) adicionaram uma suspensão de esporos no meio de cultura, o que pode ter favorecido o crescimento nas primeiras 24hs, quando comparado com os discos de micélio. Para isolados de Aspergillus, provenientes do mangue, diferentes resultados foram obtidos conforme o mês de coleta das amostras. Isolados do mês de janeiro não apresentaram atividade para enzima amilase nas primeiras 24hs. Em 48hs, apenas 4 de 16 amostras apresentaram a formação do halo. Nos isolados de fevereiro, apenas 5 amostras de 27 apresentaram atividade nas primeiras 24hs (BATISTA et al., 2003). Para atividade lipolítica, os 5 isolados de Trichoderma sp. apresentaram a formação do halo de cristais, porém, não foi encontrada diferença significativa entre eles (TUKEY 5%). Para a formação do halo foi necessária a permanência das placas na geladeira durante sete dias e com o aumento deste período o diâmetro do halo também aumentou. Segundo ASSIS et al. (2001) e LIMA et al. (2002) o período de incubação é também considerado de importância na atividade enzimática, proporcionando aumento significativo no diâmetro do halo formado após 10 dias de observação. SOSA-GÓMEZ et al. (1994), avaliando isolados do fungo entomopatogênico Beauveria, encontraram atividade lipolítica em apenas um isolado. PERSPECTIVAS FUTURAS Embora os meios avaliados não evidenciaram atividade para as enzimas amilolíticas e proteolíticas, novos meios poderão ser testados para verificação das atividades extracelulares, como por exemplo, substituindo amido solúvel por farinha de milho e gelatina por leite para testar a atividade amilolítica e proteolítica, respectivamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, T. C. et al. Estudos comparativos de isolados de Colletotrichum gloeosporioides quanto ao efeito da nutrição de carboidratos no crescimento, esporulação e patogenicidade em frutos e três variedades de mangueira. Summa Phytopathologica, Jaboticabal, v. 27, n. 2, p , BARBOSA, M. A. G.; REHN, K. G.; MENEZES, M.; MARIANO, R. L. Antagonism of Trichoderma species on Cladosporium herbarum and their enzimatic characterization. Brazilian Journal of Microbiology, São Paulo, v. 32, n.2, p , BATISTA, T. T. C.; MORAES FILHO, M. A.; NASCIMENTO, A. E. et al. Produção de amilase e urease em amostras de Aspergillus e Trichoderma isoladas de sedimentos de mangue. Revista Química e Tecnologia, Recife, n. 2, p , COUTO, E. F.; MENEZES, M.; COELHO, R. S. B. Avaliação da patogenicidade e diferenciação enzimática em meio sólido específico de isolados de Colletotrichum musae. Summa Phytopathologica, Jaboticabal, v.28, p , HANKIN, L.; ANAGNOSTAKIS, L. The use of solid media for detection of enzyme Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

164 production by fungi. Mycologia, Bronx, v.67, p , LIMA, M. L. F.; MENEZES, M. Estudo comparativo de isolados de Colletotrichum graminicola, através da análise eletroforética de padrões protéicos e isoenzimáticos. Fitopatologia Brasileira, Fortaleza, v. 27, n. 1, p , LORITO, M., et al. Genes from mycoparasitic fungi as a source for improving plant resistance to fungal pathogens. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA, v. 95, p , LOWE, D. A. Fungal Enzymes. In: Handbook of Applied Mycology. Fungal Biotecnology, v. 4, p , MELO, I. S. Trichoderma e Gliocladium como bioprotetores de plantas. RAPP, Passo Fundo, v. 4, p , SOSA-GOMEZ, D.R.; ALVES, S.B.; MILANI, M.T. Characterization and phenetic analysis of geographical isolates of Beauveria spp. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 29, n. 3, p , TUCKER, G. A.; WOODS, L. F. J. Enzimes in food processing. 2. ed. Editora: John Wiley Sons, p.320, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

165 Ciências Sociais Aplicadas Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

166 166 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

167 As teorias da finalidade da pena e o respeito às garantias fundamentais VINICUS BORGES DE MORAES 1 ANDRÉ LUIS CALLEGARI 2 RESUMO Esta pesquisa apresenta um estudo acerca das teorias da finalidade das penas e sua relação com os direitos fundamentais. Foram analisadas as teorias mais relevantes e discutidas até hoje, na espectativa de verificar se suas aplicações afrontam os direitos básicos do ser humano. Palavras-chave: Direito Penal, Teorias da Finalidade das Penas. ABSTRACT This research presents a study about the theories of the punishment goals and its relation with fundamental rights. There were analysed the most relevant and discussed theorys till now, willing to verify if its applications affront basic rights of human being. Key words: Criminal Law, Theories of Punishment. 1 Acadêmico do Curso de Direito/ULBRA Bolsista PROICT/ ULBRA 2 Professor do Curso de Direito e do PPG em Direito/ULBRA (acallegari@terra.com.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

168 INTRODUÇÃO Ainda que nossa atual conformidade social seja mais justa que o antigo estado de desorganização, a intrínseca necessidade de uma liberdade individual continua presente e regendo as atitudes humanas, fazendo com que a idéia de bem comum não seja argumento suficiente para manter os homens socialmente organizados (BECCARIA, 1983). Assim, objetivando a minoração dos conflitos para garantir a preservação das sociedades, as sanções penais passaram a assumir papel essencial à sobrevivência das organizações humanas, fator que tem legitimado, inclusive, o afastamento das mínimas garantias individuais daqueles que as compõem. Numa análise conjuntural dos fatos, o que se percebe é uma tendência de convergência entre os castigos infligidos pelo Estado e os anseios comunitários que, por sua vez, via de regra, representam a vontade política das classes mais favorecidas (PESTANA, 2003). Diante dessa problemática, o presente estudo trouxe como proposta verificar a finalidade e a função da pena dentro da sociedade brasileira e qual o objeto de sua proteção, tendo como norte o respeito às garantias fundamentais do cidadão. vigência das normas? Foram estudados os conflitos entre a aplicação da pena e o respeito às garantias fundamentais do cidadão brasileiro. Para tanto, utilizou-se uma metodologia eminentemente bibliográfica, com base em doutrinas nacionais e internacionais, revistas jurídicas, legislação e jurisprudência. DISCUSSÃO DAS TEORIAS Teorias Absolutistas As Teorias Absolutistas possuem suas raízes no antigo Estado Absolutista donde, logicamente, adveio seu nome (BITENCOURT, 1993, p.100). A estreita relação desta teoria com o pensamento filosófico desse regime, em que os súditos deviam ao rei obediência como a Deus, irá caracterizar a imposição de uma pena por uma exigência ética ou jurídica (Cf. KANT e HEGEL). É um pensamento próprio da Idade Medieval, que apresentará uma justificação não social à pena, mas sim uma espécie de retribuição do mal causado pelo infrator. Pune-se o agente criminoso unicamente pelo fato deste ter delinqüido, não sendo importante os reflexos sociais advindos da punição imposta. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho analisou cada uma das teorias que procuram explicar a finalidade das penas. Buscou-se demonstrar qual a verdadeira missão do Direito Penal; proteger os bens jurídicos ou a Teorias Absolutista da Retribuição A imposição penal retributiva deve ser entendida como a compensação do mal causado pelo infrator, uma vez que restam ausentes quaisquer motivações acerca das utilidades sociais da pena- 168 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

169 lidade. Por tratar-se de uma prática que dispensa um proveito social, esta teoria aproxima-se muito de uma verdadeira vingança pública, que nada mais é que a exteriorização do poder do Estado. Precioso exemplo pode ser encontrado nas chamadas Penas de Talião, em que o fundamento causal da retribuição era tido como o próprio critério limitador da imposição penal, v.g., morte por morte, lesão por lesão (MESQUITA BA- TISTA, 2004). Nesse modelo, constata-se que o agente ativo do crime praticado deveria arcar com um sofrimento que correspondesse à intensidade do mal dirigido e suportado pela vítima. O sistema de retribuição está fundamentado nos termos equivalência e proporcionalidade, os quais marcam presença constante na aplicação da sanção penal (BOSCHI, 2003). Teorias Absolutista da Expiação Esta Teoria traduz a idéia de que, assim como na religião, o delinqüente (pecador) deve sofrer uma sanção penal (penitência), a fim de obter o perdão do Estado (divindade) irado pelo delito contra ele cometido. Trata-se da reabilitação (redenção) por intermédio do arrependimento do infrator, arrependimento este que somente seria possível com a imposição de um merecido castigo (BITENCOURT, 1993, p. 111). Para os teóricos deste grupo, a pena deve ser a imposição de um mal proporcional ao delito cometido. Críticas às Teorias Absolutistas Entendemos que as principais críticas direcionadas ao modelo do Estado Absolutista podem ser estendidas à esfera jurídico-penal deste mesmo regime. Constata-se um exagerado despotismo monárquico, com base num direito divino marcado pela intolerância e exclusão dos indivíduos, fato que compromete a fundamental tarefa de intervenção da norma na administração e perseguição da justiça, bem como a garantia ao desenvolvimento social. Nesse sentido, o tão apregoado efeito retributivo da sanção penal aproxima-se sim de um conceito pobre de vingança. Desprovida de critérios científicos ou de qualquer resultado prático, não há qualquer efeito produtivo na sanção penal (BITENCOURT, 1993, p. 114). Por outro lado, a sustentação de que a pena imposta funcionaria como instrumento de redenção divina é insustentável. Enfim, na medida em que essas teorias não conseguem identificar a legitimação externa da sanção penal, não explicam o porque castigar?, mas apenas o quando castigar? (FERRAJOLI, 2000, p. 256). Teorias Utilitaristas Essas Teorias possibilitaram uma transposição das barreiras do pensamento Religioso e podem ser facilmente identificadas por apresentarem uma justificação socialmente útil às penas. Farrioli destaca que, quatro são as justificações argüidas pelas correntes que compõem as teorias justificacionistas (2000, p. 262): 1 - Teorias da Prevenção Geral Positiva (reafirmação do direito violado), 2 - Teorias da Prevenção Geral Negativa (intimidação social), 3 - Teorias da Prevenção Especial Positiva (ressocialização do criminoso) e 4 - Teorias da Prevenção Especial Negativa (inocuização do criminoso). Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

170 Teoria Utilitarista da Prevenção Geral Com a transição do antigo regime absolutista para um Estado Capitalista, ocorre uma nova adequação do sistema criminal, a fim de prosseguir o rápido desenvolvimento social. Nesse momento, desvincula-se da pena a utopia metafísica inaugurada e defendida pelas escolas absolutistas (BITENCOURT, 1993, p. 117). Antônio Carlos Santoro Filho lembra que esse novo Estado Liberal precisa de um sistema penal não meramente repressivo, mas sim utilitário e preventivo (2000, p. 50). Assim, as Doutrinas Utilitaristas da Prevenção Geral passaram a utilizar a coação psicológica com a finalidade de trazer conformidade ao grupo social. Nas palavras de Beccaria, busca-se conservar o vínculo necessário para manter unidos os interesses particulares, que, do contrário, se dissolveriam no antigo estado de insociabilidade (1983, p. 43). Teoria Utilitarista da Prevenção Geral Positiva A modalidade Positiva da Teoria da Prevenção Geral concebe uma sanção penal voltada à ratificação da vigência da norma penal. Ou seja, a imputação da pena seria utilizada a fim de reforçar a convicção coletiva em torno da vigência da norma, afirmando a confiança institucional no sistema jurídico (KREBS, 2002, p. 112). Jakobs traz à lume os mesmos ensinamentos desta doutrina, sustentando, porém, que, na perspectiva prevencionista, três serão os assuntos a serem analisados. Salienta que, num primeiro momento, a sanção penal serviria para confirmar a vigência nas normas penais, mesmo ciente das eventuais infrações (PEÑARANDA, et al., 2003, p. 08). O segundo aspecto elencado pelo jurista é o fato de a pena ser orientada ao exercício na finalidade para o Direito. Por fim, aduz que a pena é a conseqüência jurídica aceita pelo infrator no momento da conduta delitiva. Teoria Utilitarista da Prevenção Geral Negativa A prevenção geral negativa parte do princípio da necessidade de uma resposta estatal que atue especificamente como uma mensagem intimidatória dirigida à coletividade, desencorajando os delinqüentes insertos na sociedade e que, por um motivo ou outro, ainda não delinqüiram. Trata-se de uma proposta elaborada pelo doutrinador Ludwig Feuerbach ( ) no século XVIII e tinha como objetivo a coação psicológica dos indivíduos, fazendo com que os criminosos, sopesando os benefícios e malefícios (no caso a pena) advindos da conduta delitiva, ficassem desmotivados para atuar contra o ordenamento jurídico (SILVA JÚNIOR, 2004). Aqui se tem na pena uma finalidade intimidatória e direcionada à sociedade em geral. Pretende fazer com que os infratores em potencial concluam, antes mesmo de delinqüir, que o efêmero prazer obtido com a prática criminosa não compensará a pena a ser imposta (FILHO, 2000, p. 50). Crítica às Teorias da Prevenção Geral A primeira das críticas, talvez a mais antiga, remete à Immanuel Kant. Em suas fundamentações, o renomado filósofo manifestava um posicionamento 170 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

171 contrário ao que dizia ser uma instrumentalização do homem. Não admitia, assim como posteriormente faria o doutrinado alemão Claus Roxin, a utilização do sofrimento de um indivíduo, mesmo que dele resultasse o benefício de toda uma comunidade (BITENCOURT, 1993, p. 118). Outro grande problema observado resumese na seguinte indagação: qual o rigor da pena para a efetiva intimidação? Essas teorias não apresentam um critério sólido para a determinação da intensidade da pena a ser imputada, chegam, inclusive, a superar a medida da culpabilidade do autor do delito (BITENCOURT, 1993, p. 119). Teorias Utilitaristas da Prevenção Especial Em face da sucumbência das doutrinas que se valiam de conceitos retributivos, a partir da terceira parte do século XIX, formam-se as correntes reformadoras positivistas. Tais doutrinas concentraram seus estudos na intenção de remover da sociedade as causas diretas do crime e da criminalidade (FILHO, 2000, p. 450), ou seja, o próprio delinqüente. Com o crescimento demográfico, a migração do campo, o estabelecimento de uma produção capitalista, desenvolvimento industrial, volta-se o pensamento jurídico-penal para a necessidade de preservação e defesa desta nova sociedade. Trata-se da passagem de um Estado guardião a um Estado intervencionista, [...], pelas novas margens de liberdade, igualdade e disciplina estabelecidas (BITENCOURT, 1993, p. 123). Assim, podemos afirmar que as teorias da prevenção especial direcionam seus argumentos à pessoa do delinqüente no objetivo de evitar a prática do crime, ora justificando a necessidade de sua reclusão, ora objetivando a ressocialização do indivíduo. Conceituando a teoria em foco, Günter Jakobs define que Cuando se considera misión de la pena desalentar al autor con respecto a la comisión de hechos futuros, se habla de prevención especial (1997, p. 29). Teoria Utilitarista da Prevenção Especial Positiva A Teoria da Prevenção Especial Positiva é caracterizada pela proposta de ressocialização do indivíduo. Persegue-se, mediante aplicação da pena, apenas um tratamento proporcional à periculosidade do infrator (BITENCOURT, 1993, p. 124/125), medida jurídica que intencionaria corrigir um comportamento desvirtuado, a fim de se obter uma ressocialização. Essa idéia de ressocialização possui suas raízes na concepção platônica da poena medicinalis, ou seja, um tratamento adequado segundo o qual os homens poderiam ser não apenas castigados, mas também curados e constrangidos a praticarem o bem (FERRAJOLI, 2000, p. 264). Jakobs diz que a pretensão da teoria da prevenção especial positiva é realizar uma influência física, de modo que o próprio delinqüente, por sua própria vontade, deixe de cometer novos delitos (1997, p. 29). Jakobs também afirma que a pena não deve invadir a esfera individual do criminoso. Todavia, admite que o direito pode fornecer os meios adequados para sua recuperação. El Estado no está legitimado para optimizar la disposición moral de los ciudadanos, sino que se ha de conformar con la obediencia externa del Derecho Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

172 (relegalización). Sobre todo no es meta de la prevención especial el crear un miembro útil de la sociedad, sino facilitar al autor el comportarse a la ley. La prevención especial deberá limitarse primordialmente a la <<liberación frente a condicionantes externos e internos>>, es decir, a liberar de las taras especiales de la persona, lo que rara vez podrá realizarse sin la colaboración del autor. Con la eliminación de las taras se modifican también las actitudes frente a normas informales que constituyen la estructura de una persona; pero ello sólo con medios que también sean legítimos frente a cualquier otro ciudadano que no haya incurrido en conducta punible(jakobs, 1997, p. 33/34). Assim, a teoria da prevenção especial positiva atribui à pena a finalidade de ressocializar, reeducar o agente criminoso. Há uma tentativa de se estabelecer uma proporcionalidade entre a pena, a correção do delinqüente e o delito. Teoria Utilitarista da Prevenção Especial Negativa Essa teoria consiste na admissão de que a sanção penal tem por finalidade atuar de forma inocuizadora sobre o agente do delito. Para atingir o objetivo que apregoa, essa escola sustenta ser necessária a extirpação do convívio social do indivíduo criminoso insensível a um processo de ressocialização. É uma forma imediata de neutralizar a possibilidade de novos delitos por este agente. Nessa concepção, o criminoso é visto como uma verdadeira ameaça à ordem social, é o inimigo da sociedade. Juan Bustos Ramírez aduz que, para essa teoria, a retribuição não é adequada. A premissa de que o ato criminoso foi praticado por un ser libre e igual por naturaleza é falsa, pois o delinqüente é visto como um ser anormal e socialmente perigoso. (1986, p. 28). Críticas às Teorias Utilitaristas da Prevenção Especial A primeira das críticas comumente levantadas pela doutrina é a polêmica instrumentalização do homem pelo direito penal. Ramirez sustenta que Común a la prevención general y especial es la objeción ya analizada, esto es, que implica una instrumentalización del hombre para los fines del Estado, con lo cual se le cosifica y se pierde el respeto por su dignidad, que es uno de los pilares del Estado de derecho. (1986, p. 28) Na seqüência de suas fundamentações, Ramírez aduz que seria inviável a aplicação dos critérios concebidos pelas teorias da prevenção especial, já que existem delinqüentes que não carecem de tratamento para sua ressocialização, pois já se encontram plenamente inseridos na sociedade (ex. crimes econômicos), enquanto outros não são passíveis de tratamento (delinqüentes incorrigíveis) (1986, p. 29). Ademais, é contraditório sustentar que seria possível a ressocialização do indivíduo criminoso, afastando-o do convívio social (RAMIREZ, 1986, p. 29). Por outro lado, o Estado sequer teria legitimidade para violar a liberdade individual de cada cidadão. E mesmo que tivesse tal legitimidade, é altamente questionável uma ressocialização no plano moral. Se levada a efeito, tal artifício acarretaria numa absurda e perigosa manipulação da consciência individual (BITENCOURT, 1993, p. 128/129). 172 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

173 Teoria Mista (Brasil) Esta doutrina teve por intenção buscar um equilíbrio entre as demais teorias, agregando todos os aspectos positivos e descartando os negativos. Obviamente, o que se obteve foi uma pluralidade de funções da pena, inexistindo entre estas uma finalidade preponderante. É uma proposta caracterizada por sustentar que a finalidade da pena pode ser diferente em cada um dos momentos da aplicação da lei penal. Enquanto previsão geral e abstrata, a pena serviria como prevenção; quando da sua aplicação, buscaria a retribuição e ratificação da vigência da norma. Na execução, o objetivo principal seria a ressocialização do infrator. Para Roxin, as teorias mistas ou unificadoras consideram a retribuição e as prevenções geral e especial como fins simultaneamente perseguidos (1997, p. 93). Pela análise dos dispositivos legais presentes em nosso ordenamento jurídico, foi esta a teoria eleita pelo legislador brasileiro. Esse fato pode ser facilmente constatado mediante leitura de alguns dispositivos legais. Entre eles, destacam-se os artigos 59, do Código Penal, e 1º, da Lei n.º 7.210/84: Art. 59 (CP). O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: Art. 1º (Lei n.º 7.210/84). A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. [grifos do autor] Como podemos ver, o legislador atribuiu à pena a finalidade de prevenção a novos delitos e ressocialização do condenado. A finalidade retributiva também pode ser constatada, principalmente nas penas de prestação de serviços à comunidade, v.g., art. 46 do Código Penal. Atualmente, tem-se entendido que nenhuma das finalidades encontra-se proibida por lei. Logo, segundo as necessidades de cada caso, poderia o magistrado eleger tanto uma quanto outra finalidade preponderante (ROXIN, 1997, p. 94), sem que isso gere qualquer ilegalidade ou arbítrio. Crítica à Teoria Mista (Brasil) Apesar de a teoria em foco parecer a mais sensata entre todas todas, numa análise mais aprofundada, percebe-se que ela peca por agregar também todas as deficiências já abordadas. Zaffaroni afirma que a Teoria Mista parte das idéias das Teorias Absolutas e, à medida que tenta encobrir suas falhas, utiliza-se das fundamentações prevencionistas das Teorias Relativas (1997, p. 121). Para Antônio Garcia-Pablos, a maior dificuldade encontrada nas Teorias Mistas reside justamente no âmbito metodológico, pois a mera reunião dos elementos destrói a estrutura, a lógica e a coerência de cada uma das teorias que, em vão, tentam harmonizar-se (GARCIA-PABLOS, 2000, p. 170). Na prática brasileira, o que se percebe é uma confusão no momento de eleger qual das finalidades deverá prevalecer sobre a outra, já que possuem características muitas vezes antagônicas. Tal fato acarreta não somente a falta de uma orientação da pena para determinado objetivo, mas em um absoluto atropelo valorativo (JUNQUEIRA, 2004, p. 126). Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

174 Teoria Abolicionista Ante a ausência de resultados práticos dos instrumentos coercitivos/coativos utilizados pelas teorias que tinham por objetivo justificar a finalidade das sanções penais, que além de não prevenir ou ressoscializar, acabam resultando em excessivos custos sociais (GARCIA-PABLOS, 2001), surgem as escolas abolicionistas da pena, caracterizada, ainda, pela maioria dos autores penalistas, como sendo uma sugestão utópica e inaplicável (Cf. KREBS; BOSCHI; BITENCOURT). Os teóricos abolicionistas sugerem o desenvolvimento de um direito penal que atue de forma profilática nos conflitos sociais, mediante criação de mecanismos sociais adequados evitando a ocorrência dos delitos. Nesse ponto, o papel do Estado como mantenedor de uma igualdade real entre os cidadãos assume extraordinária importância (CHRISTHIE, 1997, p. 251). Observado este critério, seríamos capazes de obter decisões satisfatórias e igualitárias sob a óptica social. Situação que, hodiernamente, não podemos visualizar, uma vez que existe uma situação de total disparidade sócio-econômica entre os agentes do sistema penal e os apenados, não estando aqueles, portanto, moralmente aptos para tal atividade. Numa perspectiva abolicionista, não há valor social num direito penal que atue radicalmente somente após resultado criminoso, não tratando de observar o verdadeiro problema, aquele que motivou a prática do delito. Críticas à Teoria Abolicionista Embora estas propostas pareçam ser mais adequadas que a própria manutenção do atual sistema penal, a aplicação instantânea desta doutrina apresenta-se inviável. Isso porque a supressão da pena ou do sistema penal não depende meramente de decisões legislativas e governamentais, mas sim de uma verdadeira revolução social. Portanto não possui, realmente, uma aplicabilidade imediata. Destaca-se uma evidente relação entre as doutrinas abolicionista e a socialista (mais especificamente anarquista), valendo lembrar o entendimento de Zaffaroni. Segundo ele, a fé dos anarquistas na condição moral do homem, é tão grande que nem suspeitam que o controle mútuo, na sociedade que imaginam, pode dar lugar a uma ditadura ética mais autoritária que qualquer estado (1997). Destarte, a proposta abolicionista carece de elementos que proporcionem uma imediata aplicação na sociedade, haja vista se tratar de uma mudança não somente do sistema penal, mas, acima de tudo, da conformidade social. Por outro lado, igualmente inexistem provas capazes de conferir um mínimo de certeza acerca dos benefícios trazidos pela abolição do atual sistema penal, posto que, como dito alhures, tais medidas não prosperaram nem mesmo nas sociedades que optaram por uma forma de governo socialista, quanto mais anarquista. CONCLUSÃO Após a análise de todas as teorias, podemos constatar que estas possuem suas fundamentações arraigadas nos conceitos morais e filosóficos dominantes da época em que surgiram. Como decorrência, a valoração acerca da finalidade preponderante à pena sofrerá variações, refle- 174 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

175 tindo, muitas vezes, um contexto histórico-social e político de uma sociedade. A pena não poderá ser tida, portanto, como um conceito fechado e imutável. Ao longo dos séculos, as penas têm sido adaptadas para possibilitar aos Estados o desenvolvimento esperado pelo grupo social. À medida em que esta mesma sociedade se desenvolve, alguns institutos jurídicos penais (em especial as penas) tornam-se inadequados a esta nova realidade e também devem ser revistos, sob pena de brecar a evolução dessa comunidade. É uma relação de complementação. Diante desse fato, ao efetivarmos a análise da finalidade das penas, devemos fazê-la à luz da atual realidade político-social e moral, sob pena de impedir ou prejudicar o desenvolvimento do Estado com mecanismos ineficazes. No Brasil, o norte a ser adotado deverá ser sempre o incondicional respeito às garantias fundamentais da pessoa humana, possibilitando a construção de um estado democrático, justo, fraterno e solidário com seus cidadãos. Observando essa orientação, poderemos encontrar conflitos em todas os discursos formulados pelas teorias que tratam das finalidades das penas, excetuando-se apenas a Teoria Abolicionista. Desde seu surgimento, em todas as demais teorias poderemos constatar a agressão à pelo menos uma das garantias fundamentais do indivíduo frente ao Estado. Constata-se facilmente ora a instrumentalização e animalização do criminoso, ora o sofrimento desproporcional e injustificável de uma verdadeira vingança pública. O que nos leva a crer que, na atual realidade vivenciada, bem como diante dos objetivos pretendidos pelo governo, as teorias da finalidade da pena, em especial a teoria mista, não se mostram social ou juridicamente adequadas. Diante disso, ainda que inaplicável de modo imediato, a Teoria Abolicionista da pena insurge como uma proposta de eficaz preservação das garantias fundamentais instituídas pelo Estado Democrático de Direito, possibilitando a evolução social pretendida pelo legislador constituinte de Os reflexos dessa nova postura frente à criminalidade já podem ser reconhecidos, não sendo descabida a afirmação de que o direito penal se encaminha para a completa abolição das penas. Ou, como diria Garcia-Pablos, La historia del Derecho Penal -se ha dicho- es la historia de su desaparición, y esta es cosa de tiempo (GARCIA-PABLOS, 2001). Exemplo disso é a celebrada criação dos juizados especiais criminais, onde se é possível resolver os delitos de menor potencial ofensivo de uma forma menos traumática. A descriminalização de certas condutas que em tempos mais antigos eram punidas com severidade, hoje encontra maior compreensão do Poder Público que, muitas vezes, ampara e ajuda essas pessoas, disponibilizando meios para sua recuperação, v.g., dependentes químicos. Com os sistemas atuais, parte-se do pressuposto que todo o cidadão é um criminoso em potencial, por isso devemos criar mecanismos de controle cada vez mais coercitivos. Na abordagem Abolicionista, partimos do princípio que todo o criminoso é um trabalhador e um cidadão em potencial. Não precisamos de mais penalidades, precisamos apenas que o Estado cumpra o seu papel social, Democrático de Direito. Não basta que este mesmo Estado imponha de forma autoritária um discurso de respeito aos direitos fundamentais, ele precisa igualmente (e primeiramente) respeitar essas mesmas garantias (em especial a inclusão social e a educação). Quan- Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

176 do isso ocorrer, nossos cidadãos não vão apenas declarar que estão vivendo em uma sociedade, mas sim que fazem parte dela, trabalharão para ela e lutarão para preservá-la. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Editora Hemus, BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, BOSCHI, Marcus Vinicius. Teorias sobre a finalidade da pena: do retribucionismo à concepção de Günther Jakobs. Revista Ibero- Americana de Ciências Penais, n.8, FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón: teoría del garantismo penal. Madrid: Simanca Ediciones, FILHO, Antônio Carlos Santoro. Bases Críticas do Direito Criminal. Leme,SP: Editora de Direito, GARCIA-PABLOS, Antonio. El principio de intervención mínima como límite del poder penal del Estado. Disponível em: / Acesso em GARCIA-PABLOS, Antônio. Derecho Penal, introdución. Madrid: Ed. Universidad Complutense Madrid, JAKOBS, Günther. Derecho Penal, parte general. Madrid: Marcial Pons Ediciones Jurídicas, JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz. Finalidades da pena. Manole, KREBS, Pedro. Teorias a respeito da finalidade da pena. Revista Ibero-Americana de Ciências Criminais, n.5, MESQUITA BATISTA, Gustavo Barbosa de. Direito Penal: aspecto funcional da pena. Disponível em: Acesso em 26/04/2004. PEÑARANDA RAMOS, Enrique; SUÁREZ GONZÁLES, Carlos; MELIÁ, Manuel Cancio. Um novo sistema do Direito Penal: considerações sobre a teoria de Günther Jakobs. São Paulo: Ed. Manole, PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, v.1. RAMÍREZ, Juan Bustos. Manual de Derecho Penal. Barcelona: Editorial Ariel, ROXIN, Claus. Derecho Penal - Parte general. Tomo I: Fundamentos - La estructura de la teoria del delito. Editorial Civitas, SILVA JÚNIOR, Edison Miguel da. O discurso do rigor penal está superado pela realidade. Disponível em: texto23.html. Acesso em 28/05/2004. ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro - Parte geral. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

177 Geografia e educação ambiental nas encostas do Morro da Polícia DENISE JORGE CARVALHO 1 HELOISA GAUDIE LEY LINDAU 2 RESUMO Este trabalho tem como finalidade apresentar uma proposta de ensino de Geografia através do monitoramento e da educação ambiental nas encostas do Morro da Polícia, local que concentra os maiores percentuais de ocupações em áreas de risco geológico-geomorfológico no Município de Porto Alegre/ RS, objetivando promover o encontro entre a Geografia do lugar e uma educação ambiental ativa capaz de ressignificar a realidade vivenciada pelos moradores, propiciando a compreensão do espaço vivido como uma realidade modificável, buscando assim, a melhoria da qualidade de vida. Oportuniza-se a organização e a participação da comunidade para a solução dos problemas locais a fim de resgatar o cidadão, sujeito do processo, exercitando assim, sua plena cidadania. Palavras-chave: geografia, educação ambiental, monitoramento ambiental, áreas de risco. ABSTRACT This work has, as finality, to show a proposal of geography teaching through the environmental monitorament and education in the hillsides of the Morro da Polícia hill, place that concentrates the highest percentage of geomorphologic risk area occupation in the municipal district of Porto Alegre/RS, 1 Acadêmica do Curso de Geografia Bolsista FAPERGS 2 Professora Orientadora do Curso de Geografia/ULBRA (helolindau@cpovo.net) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

178 with the objective to promote the meeting between the geography of the place and an active environmental education able to change the reality experienced in life by the dwellers, propitiating the comprehension of the lived area like a modifiable reality, and so looking for, a better quality of life. The organization and the participation of the community are an opportunity to the solution of the local problems in order to ransom the citizen, the process subject, and so exercising, his absolute citizenship. Key words: geography, environmental education, Environment Monitoring monitorament, risk areas INTRODUÇÃO A questão ambiental diz respeito a todos nós, perpassando por todas as áreas do conhecimento, por diferentes classes sociais, nações, crenças, etnias, sexo, idade, não reconhecendo limites e fronteiras. A dimensão interdisciplinar da Geografia, na abordagem do espaço, reconhece essa complexa realidade, evidenciando a importância do seu papel na análise de propostas metodológicas de educação ambiental e inclusão social. Sabendo-se que o desafio fundamental para a superação dos problemas ambientais é a educação ambiental, percebese, no entanto, que as propostas de educação ambiental apresentadas e praticadas são, muitas vezes, reducionistas e superficiais, não respeitando as especificidades dos lugares, acabando por distanciar-se dos objetivos. É nesse sentido que este trabalho tem como finalidade apresentar uma proposta de monitoramento e educação ambiental nas encostas do Morro da Polícia, como uma proposta de ensino de Geografia. Trata-se de uma área que concentra os maiores percentuais de ocupações em áreas de risco geológico-geomorfológico em encosta. Esse trabalho apresenta uma nova abordagem de educação ambiental que contempla novos procedimentos metodológicos, a partir da experimentação junto com a comunidade envolvida. Objetiva-se promover o encontro entre a Geografia do lugar e uma educação ambiental ativa que alerta para a realidade vivenciada pelos moradores, propiciando a compreensão do espaço vivido como uma realidade modificável, buscando assim, a melhoria da qualidade de vida. Nessas novas propostas metodológicas em educação ambiental, oportuniza-se a organização e a participação da comunidade para a solução dos problemas locais a fim de resgatar o cidadão, sujeito do processo, exercitando assim, sua plena cidadania. Essa, por sua vez, ajuda a resgatar a ética, a visão dialética e a consciência crítica reflexiva, caminhos que apontam para a superação da degradação ambiental. MATERIAL E MÉTODOS A proposta metodológica do presente trabalho considera a visão integrada dos elementos que definem o lugar Morro da Polícia. A opção metodológica que possibilita uma ação transformadora da realidade vivenciada pelos moradores das encostas do Morro da Polícia é a pesquisa-ação. Para THIOLLENT (2000), a pesquisa-ação é um processo da pesquisa, pelo qual seus atores e atrizes investigam conjunta e sistematicamente uma situação com o objetivo de resolver um determinado problema, ou para a tomada de consciência, ou ainda, para a produção de conhecimentos, sob um conjunto de éti- 178 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

179 ca aceito mutuamente. Para se propor mudanças, transformações e melhoria da realidade social dos habitantes, considera-se os quatro elementos básicos da pesquisa-ação apresentados por HART (1996): tarefa conjunta; baseia-se na práxis; implica desenvolvimento profissional e criar condições para estruturar o projeto. A primeira etapa do trabalho objetivou diagnosticar os problemas enfrentados pelos moradores das encostas do Morro da Polícia. Para isso, foram coletados, inicialmente, dados bibliográficos e censitários da área de estudo, que revelaram o agravamento dos processos erosivos decorrentes da falta de medidas infra-estruturais. O número de domicílios sem abastecimento de água, esgotos e coleta de lixo foi quantificado e identificado a partir da orientação solar de cada encosta do Morro da Polícia, a fim de melhor avaliar os processos morfogenéticos e conseqüentes riscos enfrentados pela população que ali habita. O quadro abaixo apresenta os resultados. Falta de infra-estrutura Encosta Abastecimento de água rede geral Esgoto sanitário rede geral Destino de lixo - coletado Total de domicílios Norte Sul Leste Oeste Dados levantados no IBGE e organizados pelo Bolsista Dane de Freitas Martins, sob orientação da Profa. Heloisa Lindau. A partir do levantamento da falta de medidas infra-estruturais, bem como, das observações de campo constatou-se: o comprometimento da qualidade de vida e do bem estar da população local; poluição dos cursos d água e dos solos por contaminação de coliformes fecais, expondo em risco a saúde da comunidade; assoreamento dos canais de drenagem; instabilidade morfodinâmica com riscos de escorregamentos nas altas encostas; entupimento das redes pluviais nos níveis mais baixos do Morro da Polícia, causando inundações nas áreas do entorno do morro, em dias de chuvas; proliferação de pragas como roedores e insetos que encontram abrigo e alimento em depósitos de resíduos (lixo), colocando em perigo a estabilidade das encostas, a integridade física da população, expondo-os ao risco de doenças; a falta de infra-estrutura na encosta sul é agravada pela menor insolação, que confere maior instabilidade. De posse desses dados, foram feitos contatos com escolas e centros comunitários do Morro da Polícia a fim de organizar um grupo de voluntários (alunos, familiares dos alunos e comunidade) para colocar em ação o projeto. Selecionaram-se duas escolas, a primeira denominada Escola Municipal de Ensino Fundamental Marcírio Goulart Loureiro, localizada na encosta Norte do morro e a segunda Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Prof. Oscar Pereira, localizada na encosta Sul do Morro da Polícia. Promoveram-se contatos duradouros com as referidas escolas para apresentar a proposta de trabalho e de estabelecer interações entre os pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada. Ainda nessa etapa, foram promovidas as seguintes oficinas de educação ambiental com os seguintes objetivos: Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

180 Atividade 1: Conhecendo a história do meu bairro Objetivo: Analisar a história do seu lugar, avaliando as transformações ocorridas a partir da observação dos elementos contidos nas fotografias aéreas. Procedimentos: Utilizando fotografias aéreas das décadas de 1970, 1980 e 1990, nas escalas de 1: , 1: 5000 e 1: 8 000, respectivamente; as crianças e adolescentes verificaram a evolução da ocupação, bem como as transformações ocorridas na encosta norte e sul do Morro da Polícia. Foi confeccionado um quadro comparativo das mudanças, trazendo a tona algumas informações observadas, tais como: o nome da rua da escola Marcírio Goulart Loureiro, denominado de Rua da Saibreira, se deu em função da existência de uma saibreira no local onde hoje está a escola; as matas ao redor do Arroio Moinho eram muito maiores do que resta hoje; grande parte das ruas onde habitam as crianças não existia na década de 1980; não havia casas em cima do morro, só mato; não havia escola na década de 1980; na década de 1990, entretanto, aumentou o número de casas e ruas. Os participantes interagiram com as fotografias, reconhecendo muitos elementos, nela contidos. Essa atividade permitiu a aproximação dos participantes com a história do bairro - seus lugares a partir da identificação dos alvos das fotografias aéreas. Esse processo de decodificação de fotografias aéreas não se tornou um empecilho, pelo contrário, aguçou ainda mais a percepção, tendo em vista que as escalas grandes das fotos, favorecem a visualização dos alvos. Após as constatações sugeriu-se aos participantes que realizassem uma entrevista na comunidade a fim de trazerem os relatos das recordações dos moradores mais antigos. A memória do lugar foi resgatada e correlacionada com o processo de urbanização intenso da década de 80. Verificou-se que a utilização de sensores remotos, como fotografias aéreas, são instrumentos de ensino fundamentais para a reconstituição dos lugares. Cabe, mais uma vez ressaltar, que a técnica de sensoriamento remoto deve ser valorizada no processo de educação ambiental. Atividade 2: Caminhadas de conscientização ambiental Objetivos: Percorrer as encostas do Morro da Polícia a fim de observar as transformações ocorridas desde a década de Procedimentos: Os grupos de professores e crianças subiram o morro na encosta Norte e na encosta Sul e fizeram as seguintes constatações: existência de lixo jogado nas altas encostas do Morro da Polícia, junto às moradias; erosão nas áreas sem vegetação, como nos becos e vias de acesso e identificação de becos e ruas que não constam nas fotografias da década de 90. Nessa atividade verificou-se que o acúmulo de lixo se deve, também, pela falta de coleta nas altas encostas. Trata-se de áreas de difícil acesso. Constatou-se, também, a falta de infra-estrutura das moradias das médias a altas encostas, se comparado com as das baixas encostas. Após, levantadas essas observações, foi realizado um relatório da referida atividade. 180 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

181 Atividade 3: Seleção de uma área para montar uma estação experimental Objetivo: Identificar uma área propícia à instalação de uma rede de pinos de erosão. Procedimentos: Foi feita uma caminhada de observação de campo para a identificação dos locais onde havia a remoção da vegetação. Os participantes da pesquisa aprenderam a montar uma estação experimental para acompanhar a perda de solo por escoamento superficial no Morro da Polícia nos dias de chuvas. Atividade 4: Preparo da rede de pinos de erosão Objetivo: Preparar os instrumentos necessários para a montagem de uma estação experimental de perda de solo por escoamento superficial. Procedimentos: Utilizando-se de pregos de 10 cm de comprimento, pincéis e tinta, as crianças pintaram e numeraram os pinos de erosão. O método da rede de pinos de erosão é uma adaptação do método de DEPLOEY & GABRIELS, exposto por GUERRA & CUNHA (1996). Foi também confeccionada uma planilha de controle das condições meteorológicas para o acompanhamento do tempo e sua posterior correlação com a rede de pinos. Atividade 5: Construindo uma estação experimental para acompanhar a perda de solo do Morro da Polícia nos dias de chuvas Objetivo: Construir uma estação experimental de perda de solo. Procedimentos: Em pequenos grupos, as crianças foram até os locais selecionados para a montagem da estação experimental. Esses locais estão próximos as suas casas. São cortes de aterros e lugares onde não há circulação de pessoas. As crianças colocaram os pinos, bem como, fizeram um mapa destes para acompanhar a perda de solo. Mediu-se, quinzenalmente, a altura dos pinos acima do solo, com o auxílio de uma régua. Atividade 6: Medindo a infiltração da água no morro Objetivo: Verificar junto à estação experimental de perda de solo, como se dá a infiltração da água nos dias de chuvas. Procedimentos: Os alunos dirigiram-se até o local dos pinos para realizar um teste com um infiltrômetro, adaptação ao método de HILLS (1970), citado por CUNHA & GUERRA (1996). Adotaram-se os seguintes procedimentos metodológicos: - construção de um infiltrômetro, utilizando-se de um cano de PVC com as seguintes dimensões: 15 cm de altura e 10 cm de diâmetro interno; - penetração de 5 cm do infiltrômetro no solo a ser experienciado; - colocação de uma régua graduada (de 10 cm) dentro do infiltrômetro; - inserção de água no infiltrômetro e marcação do tempo da profundidade desta água, utilizando um cronômetro. A duração do experimento é de 30 minutos e os tempos devem ser marcados na caderneta de campo; Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

182 No retorno à escola, foram relatados os resultados dos testes com os infiltrômetros para fins de comparação. Ainda na atividade 6: Medindo a infiltração das águas das chuvas nas altas encostas do Morro da Polícia. Objetivo: Comparar os resultados da infiltração da água, medidos nas estações experimentais, com a infiltração nas altas encostas do Morro da Polícia. Procedimentos: As crianças, subiram o morro e realizaram testes com o infiltrômetro. Foram realizados três testes, constatando a baixa infiltração da água nesse local e, conseqüentemente, o alto escoamento superficial. Constataram-se locais de erosões decorrentes da baixa infiltração, como ravinamentos. Atividade 7: Caminhadas de conscientização ambiental Objetivo: Analisar os aspectos positivos e negativos da ocupação nas encostas do Morro da Polícia. Procedimentos: Em grupos, as crianças, caminharam por locais que não tinham sido visitados e listaram pontos positivos e negativos da ocupação. Os pontos positivos foram: luz, água encanada e comércio. Os pontos negativos listados foram: muito acúmulo de lixo, arroio poluído e muita terra acumulada nas ruas. Após, foi feita uma análise das observações levantadas, a fim de confrontar as opiniões e de promover um debate em torno do uso do solo em áreas de altas declividades. Atividade 8: Medindo os cortes de aterro realizados na ocupação do Morro da Polícia Objetivos: Identificar as áreas sujeitas a desmoronamentos. Procedimentos: Nas caminhadas de conscientização ambiental, grupos de crianças mediram os cortes para aterro para assentar as moradias, com o auxílio de uma trena. Os alunos constataram que os cortes eram maiores e mais inclinados nas áreas mais baixas do morro, evidenciando assim, o risco de desmoronamento. Atividade 9: Identificando os resíduos (tipos de lixo) jogados no bairro Objetivo: Identificar quais os tipos de resíduos da produção mais jogados no bairro. Procedimentos: Os alunos saíram a campo para verificar todos os tipos de resíduos lançados nas encostas do morro. Foram identificados: garrafas pet, cigarros, sacos plásticos, poltronas velhas e colchões. De posse dessa observação foi realizada uma pesquisa a fim de avaliar o tempo de decomposição de cada resíduo identificado. Atividade 10: Avaliação dos trabalhos desenvolvidos na primeira etapa da pesquisa Objetivos: Avaliar as atividades desenvolvidas, destacando o que mais chamou atenção. Procedimentos: As crianças foram filmadas, relatando o que aprenderam no desenvolvimento desta experiência de educação ambiental. Os 182 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

183 relatos demonstraram as relações estabelecidas pelos participantes, como se pode observar nas seguintes falas: as pedras aparecem porque a terra vai embora; se não fosse tirado o capim, não teria esse buraco comprido; as pessoas de cima têm menos pontos positivos do que as de baixo; O arroio Cascatinha é um pouco mais limpo em cima do morro e muito sujo logo ali em baixo; A minha vizinha ferve a água do arroio Moinho para beber. Os depoimentos evidenciaram o grau de confiança e interação entre os participantes. ATIVIDADES REALIZADAS NA SEGUNDA ETAPA DA PESQUISA Atividade 1: Analisando a qualidade das águas do Arroio Cascatinha Objetivo: Avaliar a qualidade das águas do Arroio Cascatinha, na encosta Sul, desde a nascente até o curso médio do referido arroio no Morro da Polícia. Procedimentos: As crianças aprenderam a coletar águas em diferentes pontos do Arroio Cascatinha, identificando os frascos e verificando o odor e a turbidez das águas. Após, os frascos foram encaminhados ao laboratório de análises da ULBRA e os resultados apresentados à comunidade. Atividade 2: Intercâmbios entre as escolas do Morro da Polícia Objetivos: Promover intercâmbios entre as escolas do Morro da Polícia, integrando crianças, pais, professores e líderes comunitários. Procedimentos: As crianças e adolescentes das Escolas Marcírio Goulart Loureiro (encosta norte) e Oscar Pereira (encosta sul), junto com líderes comunitários, bolsista e professora orientadora, realizam contatos e caminhadas ecológicas a fim de observar e comparar as estações experimentais, visando compreender os processos morfogenéticos característicos de cada encosta. Foram promovidas palestras com os professores das referidas escolas, bem como, com os pais, a fim de propiciar a compreensão do espaço vivido como uma realidade modificável. Atividade 3: Cartografando as encostas do Morro da Polícia Objetivos: Compreender a dinâmica das encostas do Morro da Polícia a fim de conter os possíveis riscos decorrentes dos processos morfogenéticos. Procedimentos: As crianças e adolescentes das Escolas, bem como seus familiares percorreram, junto com bolsista e voluntários as encostas do Morro da Polícia. De posse do GPS e de fotografias aéreas da década de 90, levantaram as seguintes informações: limite da ocupação nas encostas; mata nativa com modelados tecnogênicos, ou seja, áreas alteradas pelo ser humano; afloramentos rochosos e área de campo com modelados tecnogênicos. As fotografias aéreas permitiram visualizar as transformações do morro, avaliando os problemas ambientais. Os dados foram levados para o Laboratório de Cartografia da ULBRA para a confecção da carta da dinâmica do Morro da Polícia. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

184 Atividade 4: Recuperando áreas degradadas Objetivos: Compreender a importância de conter os processos erosivos de ravinamento. Procedimentos: A partir das caminhadas de mapeamento e de reconhecimento das transformações ocorridas no morro, identificaram-se as áreas mais susceptíveis a erosão, com ravinamentos. Depois de realizados os levantamentos dos diferentes tipos de vegetação encontrada no morro, bem como do estudo das características das raízes de cada espécie encontrada, propôs-se o preenchimento com gramíneas, de uma ravina previamente selecionada. Esse procedimento de recuperação foi acompanhado pela comunidade escolar. Atividade 5: Divulgando os resultados da pesquisa para a comunidade Objetivo: Divulgar nas comunidades escolares, centros comunitários e rádio comunitária os resultados da pesquisa. Procedimentos: A partir dos contatos duradouros com as escolas, pais, professores e líderes comunitários, foram divulgados na rádio comunitária, escolas e centros comunitários, todos os dados e resultados levantados na pesquisa - carta da dinâmica das encostas do Morro da Polícia, levantamento da contaminação dos cursos d água, levantamento das áreas monitoradas com pinos de erosão, as espécies vegetais mais propícias para a contenção dos processos erosivos, bem como as falas dos participantes da pesquisa. A promoção de oficinas junto às escolas alertou a comunidade sobre os problemas acima citados, mostrando a importância de não remover a vegetação dos terrenos de suas casas para evitar a perda de solo por escoamento superficial e propiciar maior infiltração das águas das chuvas; e a importância de remover o lixo para as áreas de coleta. Essas medidas preventivas estão ao alcance da população local, possibilitando enfrentar problemas locais. Entretanto, a comunidade está ciente da falta de medidas infra-estruturais que deveriam ser adotadas pelo poder público municipal, porém como se tratam de áreas de ocupações irregulares, reconhece que a organização para reivindicação no orçamento participativo se faz necessária. RESULTADOS Os resultados dos dados coletados, junto com a comunidade local, foram organizados e divulgados, conforme apresenta a seguir, o Quadro 1 e o Mapa 1. Quadro 1 - Resultados da análise das águas do arroio Cascatinha. Amostra Coliformes totais Coliformes Fecais 1 curso médio 8,6 x 102 / ml 0.4 x 10 / ml 2 - nascente Ausentes ausentes 3 - nascente Ausentes ausentes 4 curso médio 4.8 x 103 / ml 9.2 x 102 / ml Fonte: Dados de Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

185 O quadro dos resultados das análises da carga microbiológica mostra ausência de coliformes fecais nas nascentes do Arroio Cascatinha, mostrando assim, para a comunidade, a possibilidade de recuperação deste recurso hídrico. Para a confecção da carta da dinâmica ambiental do Morro da Polícia foram analisados documentos cartográficos da década de 70 e com o auxílio de técnicas de geoprocessamento, através dos diversos sistemas de informações geográficas SIGS (INPE, SURFER, IDRISI), realizou-se o cruzamento e o georeferenciamento das informações. Essa atividade, envolveu a comunidade escolar e do bairro no primeiro semestre de 2004, onde foram coletados os seguintes planos de informações, conforme o Quadro 2. Quadro 2 - Área total e percentual de cada plano de informação levantados no Morro da Polícia. os de Informações Área Percentual mentos Rochosos 93 m² 2,86% ência de Mata Nativa com Modelados Tecnogênicos 753 m² 23,21% de Campo com Modelados Tecnogênicos 918 m² 28,30% ação Urbana Atual 1146 m² 35,37% ação Urbana na Década de m² 10,26% da Área 3243 m² 100% Mapa 1 - Carta da dinâmica ambiental do Morro da Polícia. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

186 CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta metodológica de educação ambiental, aqui apresentada, voltada às comunidades que habitam as áreas de riscos geológico-geomorfológico em encosta e áreas ribeirinhas, a partir de oficinas de monitoramento ambiental, atividades práticas de campo, mapeamento, análise das águas, entre outras, promove o encontro entre a geografia do lugar e uma educação ambiental ativa que propicia a compreensão do espaço vivido como uma realidade modificável, buscando assim, a melhoria da qualidade de vida. O monitoramento dos processos erosivos nas áreas de riscos e o acompanhamento por parte das comunidades envolvidas, mostraram que os problemas de cunho ambiental estão diretamente relacionados aos sociais, evidenciando assim, a dimensão totalizante de natureza e a importância de se adotar uma educação ambiental dentro desta perspectiva. Para promover a compreensão da comunidade para com as questões sociais e sua inserção no processo histórico de escala global, o acompanhamento da dinâmica do lugar, de forma dialógica e participativa, aproxima a realidade, apontando os possíveis problemas e organizando a comunidade para evita-los. A integração de conhecimentos técnico-científicos à educação ambiental favorece, de forma concreta, o entendimento da dinâmica do relevo, da poluição dos cursos d água, do avanço da ocupação, das conseqüências decorrentes, despertando uma visão crítica e reflexiva, que valoriza decisões, priorizando necessidades, afastando futuros problemas. Quer-se construir uma leitura da natureza local Morro da Polícia e seus habitantes que rompa com a linguagem predatória que separa o ser humano da natureza, transmitida, muitas vezes, pela mídia. Cabe ressaltar que a presente proposta, não foi completamente concluída, pois os resultados estão sendo levados para os habitantes das encostas do Morro da Polícia, pela articulação de redes entre as escolas, rádio e centros comunitários. As atividades práticas de educação ambiental oportunizaram a análise comparativa dos resultados levantados nas áreas selecionadas, proporcionando o engajamento dos demais professores de outras áreas das referidas escolas no projeto. Pretende-se, cada vez mais, despertar a curiosidade das comunidades envolvidas, levando até elas, os conhecimentos científicos produzidos nas Universidades, para que surja um novo olhar sobre o lugar, promovendo indagações, bem como, a organização para a resolução dos problemas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GUERRA, A. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia: exercícios, técnicas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, HART, P. Perspectivas alternativas para la investigación en educación ambiental: paradigma de una interrogante críticamente reflexiva. In: MRAZEZ, R. (Ed). Paradigmas alternatives de investigación ambiental. Guadalajara: NAAEE, SEMARNAP, THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

187 Características da população de Santa Maria RAFAEL ILHA 1 JORGE DE ÁVILA 2 RENATO RODRIGUES DIAS 3 RESUMO Este artigo objetivou conhecer as características da população urbana de Santa Maria, servindo de base para estudos na área das ciências sociais aplicadas, fornecendo ao mesmo tempo informações relevantes às empresas locais para o ajuste de suas propostas a esse mercado. O estudo realizado em 2003 e os principais resultados evidenciaram a predominância do sexo feminino e da classe C, respectivamente com 52% e 37%. O grau de instrução que se destacou foi o ensino fundamental com 27,75%. Destaquese ainda que a média de pessoas por domicílio é de 3,47% e que a religião católica tem 77,75% de adeptos. Palavras-chave: características, população, urbanas. ABSTRACT This framework had as objective to know the characteristics of urban population of Santa Maria, serving of base for studies in Applied Social Sciences, subsiding at the same time relevant information to the local companies to their adjustment to this market. The study realized in 2003 and the main results evidenced the predominance of the female and the C class, respectively with 52% and 37%. The schooling 1 Acadêmico do Curso de Administração/Ulbra-Santa Maria Bolsista PROICT/ULBRA 2 Professor do Departamento de Ciências Administrativas/UFSM 3 Professor Orientador do Curso de Administração/Ulbra- Santa Maria (renato.dias@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

188 degree which pointed out was the fundamental one with 27, 75%. It is also pointed out that the average person per domicile is of 3,47% and the catholic religion has 77,75% of followers. Key words: characteristics, population, urban. INTRODUÇÃO O presente estudo relata a caracterização da população da cidade de Santa Maria e é resultante de pesquisa de marketing realizado durante o ano de Segundo MALHOTRA (2001, p.45) pesquisa de mercado é a identificação, coleta, análise e disseminação de informações de forma sistemática e objetiva seu uso visando a melhorar a tomada de decisões relacionadas à identificação e solução de problemas e oportunidades de marketing. Os objetivos buscados foram: a) Conhecer o perfil socioeconômico da população urbana da Cidade de Santa Maria, servindo de base para estudos na área das ciências sociais aplicadas. b) Fornecer às empresas ou organizações locais que tiverem interesse, informações relevantes sobre o mercado em que atuam, facilitando, assim, o ajuste de seus produtos ou serviços a esse mercado. Os dados foram coletados diretamente no domicílio das pessoas sorteadas na amostra, no período compreendido entre os dias 16 de junho e 11 de julho de 2003, conforme discriminado na seção referente à metodologia empregada. Os resultados com certeza serão úteis às organizações que souberem aproveitar tais informações, que se referem ao público consumidor local. Segundo AFFONSO (1975 pág. 399), é condição de sucesso para o administrador reconhecer a importância do conhecimento quali- tativos e quantitativos do mercado, isto é, as características étnicas, sociais, religiosas etc. Como o futuro é quase sempre incerto, ainda que nem sempre a pesquisa consiga buscar todas as informações que as organizações necessitam, é um fato inegável que ela contribui significativamente para minimizar a incerteza nas tomadas de decisão, principalmente aquelas ligadas ao seu público-alvo A pesquisa considerou as seguintes hipóteses: Com base na pesquisa anterior, realizada em 2001, o presente estudo admitiu como hipóteses básicas as seguintes: a) Santa Maria possui uma população com predominância do sexo feminino. b) A classe socioeconômica predominante na Cidade é a C. c) O grau de instrução com maior percentual entre os habitantes é o segundo grau completo. d) A média de habitantes por domicílio em Santa Maria é de quatro pessoas. e) A religião predominante em Santa Maria é a Católica. Embora este trabalho seja um estudo de caráter descritivo, diversas hipóteses ainda poderiam ser acrescentadas com relação ao perfil dos entrevistados e aos dados específicos, que aqui não foram incluídas pela sua grande amplitude. 188 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

189 O próprio resultado da pesquisa as evidencia. As pesquisas de mercado desempenham a função de elo entre a empresa e os consumidores, na medida em que expressam as expectativas e os pontos de vista dos mesmos, o que permite a tomada de decisões adequadas. Foi sob esta ótica que se realizou um levantamento de informações junto à população da Cidade de Santa Maria, de modo a traçar um perfil socioeconômico de seus habitantes. Partindo do pressuposto de que não existe nenhuma organização humana que consiga sobreviver sem clientes, tais informações serão extremamente importantes para todas elas. As organizações ou empresas já estabelecidas poderão melhor ajustar seus produtos ou serviços à realidade do mercado e os novos empreendimentos poderão também se adequar a essa realidade, concentrando melhor seus investimentos ou evitando despesas desnecessárias. MATERIAL E MÉTODOS O universo da presente pesquisa foi constituído por toda a população urbana do Município de Santa Maria, que totaliza habitantes e domicílios, segundo informações do censo de 2000 do IBGE. Desta população de domicílios, tomou-se uma amostra probabilística do tipo casual simples, considerando-se um nível de confiança de 95%, ou seja, admite-se um erro de até 5% para mais ou para menos nos resultados. O cálculo resultou numa amostra de 400 domicílios, distribuída proporcionalmente no mapa da Cidade de Santa Maria. O instrumento de coleta de dados utilizado na pesquisa foi um questionário estruturado ajustado após a realização de um pré-teste. Tal questionário foi preenchido por entrevistadores devidamente treinados, todos eles acadêmicos do Curso de Administração da ULBRA e da UFSM. Os questionários, em número de 400 (quatrocentos), foram aplicados diretamente nos domicílios sorteados, à razão de 5 (cinco) questionários por quarteirão, dentre 80 (oitenta) quarteirões também sorteados aleatoriamente no mapa da Cidade de Santa Maria. Os dados foram tabulados em microcomputador, com o auxílio de programa específico ( Le Sphinx Plus ), visando abreviar o tempo nesta tarefa e ainda viabilizar o cruzamento das informações mais relevantes. Após concluída a tabulação dos dados, estes foram revisados e transformados em tabelas e/ ou gráficos, que são apresentados a seguir, com o propósito de facilitar a sua análise e conseqüente interpretação. RESULTADOS Os dados a seguir, embora sejam, na sua maioria, auto-explicativos, são apresentados em tabelas com um comentário sobre as informações mais relevantes e também com gráficos ilustrativos referentes às mais significativas. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

190 Tabela 1 Sexo dos respondentes Santa Maria-RS, Junho/julho de SEXO FREQÜÊNCIA % Masculino ,00 Feminino ,00 T o t a l ,00 Observando-se a Tabela 1 pode-se constatar que a maioria dos entrevistados correspondeu ao sexo feminino (52%), o que vem a comprovar que ainda se mantém a tradição, na maioria dos lares da Cidade, de o marido trabalhar fora e a mulher cuidar dos afazeres domésticos. Tabela 2 - Composição Familiar da População de Santa Maria. COMPOSIÇÃO FAMILIAR MÉDIA POR FREQÜÊNCIA DOMICÍLIO Cônjuge masculino 300 0,75 Cônjuge feminino 313 0,78 Filhos menores de 12 anos 192 0,48 Filhos entre 12 e 18 anos 140 0,35 Filhos maiores de 18 anos 253 0,63 Outras pessoas que residem no domicílio 191 0,48 T o t a l 400 3,47 A Tabela 2 permite verificar a composição familiar da Cidade de Santa Maria. A média de pessoas por domicílio resultou em 3,47 como mostra o total da tabela. Este resultado ficou bastante próximo ao obtido pelo IBGE no Censo de 2000, que acusou uma média de 3,32 habitantes por domicílio na zona urbana de Santa Maria e 3,28 na zona rural. Há, ainda, a considerar, o fato de que a população da Cidade deve ter crescido nestes últimos três anos, o que comprova a precisão do resultado. Quanto ao grau de instrução do chefe da família, a Tabela 3, abaixo, evidencia que há uma predominância do 1º grau incompleto, com 27,25% do total, ficando em segundo lugar e empatados, o 1º grau completo e o 2º grau completo, com 20,75%. A formação com curso superior completo ficou em terceiro lugar, correspondendo a 13,50% do total de entrevistados. Tabela 3 Grau de instrução do chefe da família Santa Maria. GRAU DE INSTRUÇÃO FREQÜÊNCIA % Não alfabetizado 17 4,25 1º grau incompleto ,25 1º grau completo 83 20,75 2º grau incompleto 27 6,75 2º grau completo 83 20,75 Superior incompleto 17 4,25 Superior completo 54 13,50 Não informaram 10 2,50 T o t a l , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

191 Tabela 4 Classes sócio-econômicas de Santa Maria. CLASSE SÓCIO-ECONÔMICA FREQÜÊNCIA % A 36 9,00 B ,25 C ,00 D 90 22,50 E 5 1,25 T o t a l , Gráfico 1 Classificação sócio-econômica da população de Santa Maria RS. A B C D E Neste gráfico observamos que a classe socioeconômica predominante em Santa Maria é a C, correspondendo a 37%. Em segundo lugar, está a classe B, com 30,25%. Em terceiro lugar vem a classe D, com 22,50% e a seguir a classe A, com apenas 9% e, em último lugar, a classe E, com 1,25%. Pode-se deduzir, destes dados, que mais da metade da população da Cidade pertence às classes mais inferiores, ou seja, C, D e E que, somadas, correspondem a 60,75%. Estes dados se aproximaram bastante dos apresentados em pesquisas realizadas em anos anteriores. O Censo realizado pelo IBGE não contempla essas informações, o que impede uma comparação com dados daquele órgão. As informações relativas à classificação socioeconômica são extremamente relevantes para praticamente todos os setores da economia, pois se reflete diretamente no dimensionamento do mercado em segmentos específicos. Santa Maria apresenta o maior segmento de mercado concentrado na classe C, representando 37%, como já comentado. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

192 Tabela 5 Religião das famílias da população de Santa Maria. RELIGIÃO DA FAMÍLIA FREQÜÊNCIA % Católica ,75 Evangélica 29 7,25 Espírita 26 6,50 Umbanda 4 1,00 Luterana 4 1,00 Assembléia de Deus 3 0,75 Testemunha de Jeová 3 0,75 Metodista 2 0,50 Mórmon 2 0,50 Adventista 1 0,25 Anglicana 1 0,25 Ateu 1 0,25 Budismo 1 0,25 Crente 1 0,25 Igreja Quadrangular 1 0,25 Não informaram 10 2,50 T O T A L ,00 Na Tabela 5 pode-se observar que a grande maioria da população de Santa Maria tem o Catolicismo como religião da família, representando 77,75% do total. A religião Evangélica aparece em segundo lugar, com 7,25% e a Espírita figura em terceiro, com 6,50%. Em quarto lugar, aparecem empatadas a Umbanda e a Evangélica Luterana, com 1,00%. As demais religiões tiveram pouca porcentagem de participação, não ultrapassando a 0,75% do total. É oportuno destacar que, obviamente, existem muito mais religiões na Cidade do que as relacionadas, porém, todas elas com pouco significativo percentual. Este resultado foi, também, semelhante ao obtido na pesquisa realizada em 2000, sendo que a variação mais significativa ficou em 1,25% a mais na religião Católica. CONCLUSÃO Os dados apresentados vêm a comprovar a maioria das hipóteses enunciadas. A primeira delas, afirmava que Santa Maria tem uma população com predominância do sexo feminino, teve 52% nesta alternativa. A segunda hipótese se referia à classe socioeconômica C como a predominante, o que foi confirmado, com 37,50%, ficando em segundo lugar a classe B, com 30,50%, em terceiro a classe D, com 23,50% e em quarto lugar a classe A, com 7%. A terceira hipótese afirmava que o grau de instrução com maior percentual entre os chefes das famílias de Santa Maria era o segundo grau completo não foi comprovada, pois esta alternativa ficou em terceiro lugar, com 20,75%. Em primeiro lugar ficou a alternativa 1º grau in- 192 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

193 completo, que hoje corresponde ao ensino fundamental, com 27,25%. A quarta hipótese formulada no projeto referia-se à média de habitantes por domicílio em Santa Maria, afirmando que era de quatro pessoas. O resultado acusou uma média de 3,47, um pouco abaixo da suposição, o que é explicado pela constante mudança que ocorre na população, embora lenta. A quinta e última hipótese também foi comprovada. Referia-se à religião Católica como a predominante em Santa Maria. O resultado acusou um total de 77,75% de pessoas desta religião, a grande maioria, portanto, contra 7,25% da Evangélica, que ficou em segundo lugar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANTES, Affonso. Administração mercadológica 2.ed. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA- FIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico. Rio de Janeiro, MALHOTRA, Naresh. Pesquisa de marketing. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, p.45. MATTAR, Fauze. Pesquisa de Marketing. Edição Compacta. São Paulo: Atlas, 1996.Ciências Humanas Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

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195 Ciências Humanas

196 196 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

197 Hermenêutica aplicada ao estudo da escatologia bíblica: a contribuição de Santo Agostinho no debate a respeito do milênio GILSON SOUZA VALENTIM 1 GERSON LUIS LINDEN 2 RESUMO Agostinho ( ), em seu escrito A Cidade de Deus, propõe uma visão de história que reconhece a ação de Deus na manutenção da Sua cidade, edificada ao lado da cidade do mundo. Agostinho trata dos textos bíblicos referentes ao fim do mundo e à inauguração do reino de Deus. Texto chave é o vigésimo capítulo do livro de Apocalipse, que anuncia um tempo de mil anos em que Satanás é aprisionado. Agostinho interpreta o milênio de forma não literal, no que se refere à duração, como sendo o tempo em que Satanás, dominado por Cristo, somente tem domínio sobre os que rejeitam a governo de Deus. Neste tempo os cristãos continuam a viver na sociedade, estando no mundo, mas não pertencendo a ele, pois sua ligação é com a cidade de Deus. Palavras-chave: Escatologia, Agostinho, milênio, Cidade de Deus. ABSTRACT Augustine of Hippo ( ), in his City of God, proposes a vision of History that recognizes God s action maintaining His city, which is built side by side with world s city. Augustine considers biblical passages that deal with the end of the world and the inauguration of the God s kingdom. A key text is the 20th 1 Acadêmico do Curso de Teologia/ULBRA Aluno voluntário no PROICT/ULBRA 2 Professor Orientador do Curso de Teologia/ULBRA (linden@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

198 chapter of Revelation, that announces thousand years when Satan is imprisoned. Augustine interprets the millennium in a non literal way, in its duration, as being the time when Satan, dominated by Christ, has only dominium upon those who reject God s rule. During this time, Christian continue to live in society, being in the world, not belonging to the world, since their connection is with God s city. Key words: Eschatology, Augustine, millennium, City of God. INTRODUÇÃO O estudo a seguir procura dar uma contribuição ao campo da Hermenêutica teológica, especificamente no que se refere ao ensino a respeito da vinda do reino de Deus. O assunto é significativo, dada a importância da hermenêutica para a Teologia, bem como pelas implicações trazidas pela Escatologia para a Teologia e para a vida da Igreja cristã. A Escatologia trata da reflexão teológica a respeito das coisas do fim, ou melhor, dos fatos de importância última para a humanidade. O estudo focaliza a obra de Agostinho ( ), bispo de Hipona, norte da África. De maneira especial é verificada a contribuição do seu escrito, De Civitate Dei (A Cidade de Deus), em que o autor propõe uma visão de história que reconhece a ação de Deus na manutenção da Sua cidade, edificada ao lado da cidade do mundo. Um tema específico para estudo é a natureza do assim chamado milênio, anunciado pelo apóstolo João no livro de Apocalipse. Sobre este tema, a história da Igreja cristã tem mostrado posicionamentos bastante divergentes, manifestos ainda hoje. Com o presente estudo, pretendemos conhecer as mais significativas propostas de compreensão do tema, trazendo então a análise proporcionada por Santo Agostinho à questão. AGOSTINHO: FILÓSOFO E TEÓLOGO Durante toda a Idade Média nenhum teólogo foi mais citado do que Agostinho. Seu nome completo era Aurélio Agostinho. Nasceu no dia 13 de Novembro de 354 d.c., no povoado de Tagaste, no norte da África. Era filho de Patrício, um funcionário do governo romano e que era pagão, e de Mônica, uma cristã fervorosa. Na verdade, desde cedo, Agostinho recebeu educação cristã de sua mãe. Porém sua conversão, conforme ele próprio se refere a ela, e seu batismo só aconteceriam anos depois. Agostinho era dotado de uma inteligência singular. Conforme GONZÁLEZ (1995, p. 165): Seja como for, os pais de Agostinho sabiam que seu filho tinha uma inteligência pouco comum, e por isso se esmeraram em oferecer-lhe a melhor educação disponível. Assim, os pais de Agostinho enviaram-no para a cidade de Madaura e depois, em 371 d.c., para Cartago, no anseio de oferecer ao filho a melhor educação possível. Em Cartago, mesmo não se descuidando dos estudos da retórica, conviveu com uma mulher, com quem teve seu único filho, Adeodato. No século anterior, a África teve outros importantes pais da Igreja: Tertuliano e Cipriano. 198 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

199 Do primeiro Agostinho possui a magia da palavra e a formação jurídica; do segundo, a alma pastoral. (HAMMAN, p. 227) Agostinho ansiava pela busca da verdade. Isso o levou primeiramente ao maniqueísmo, seita fundada na Pérsia por Mani, na primeira metade do século III, e que ensinava um dualismo muito mais radical que o gnosticismo. Desiludido com esta seita, Agostinho continuou sua busca pela verdade, através de outros caminhos. Em 383 d.c, Agostinho viajou para Milão. Nesta cidade da Itália, entrou em contato com o neoplatonismo, doutrina muito popular na época. O objetivo principal dessa doutrina era vir a conhecer o Um Inefável, através do qual provinham todas as coisas. Também em Milão, Agostinho acabou conhecendo o famoso teólogo Ambrósio, que exerceu influência decisiva sobre ele. Através de Ambrósio, famoso também pelas suas pregações, Agostinho viu a riqueza das Escrituras. Em suas pregações, Ambrósio enfatizava a doutrina paulina da Justificação através do perdão dos pecados, o que foi de grande importância para Agostinho. A pregação de Ambrósio ajudou Agostinho, entre outras coisas, por oferecer um método alegórico de interpretação da Bíblia, que lhe permitia por de lado certas passagens que considerava inaceitáveis. Nesta época Agostinho ficou sabendo de outras pessoas, de elevada formação filosófica, que estavam abraçando a fé. Mário Vitorino, tradutor de obras neoplatônicas que Agostinho lera, se apresentou na Igreja em Roma para ser recebido por profissão de fé. Assim também Valentino, escritor neoplatônico, que havia influenciado Agostinho, também abraçara a fé (Confissões VIII 2). Agostinho, porém, demorou algum tempo antes que sua conversão fosse efetuada, pois dentro dele travava-se uma batalha entre o querer e o não querer. Foi uma passagem da Escritura Sagrada que fez Agostinho abandonar sua vida mundana. Nas Confissões relata sua conversão. Em Milão, no jardim de sua casa, angustiado, ouve as palavras de um brinquedo entre crianças: Tolle, lege Toma e lê! Então Agostinho lê Rm 13.13,14: Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências. Agostinho tinha 32 anos. Segundo WALKER (p. 233) a conversão aconteceu no fim do verão de 386. Depois da sua conversão, Agostinho foi batizado em 387 d.c. por Ambrósio. Além disso, renunciou o cargo de professor de Retórica e, junto com um grupo de amigos e sua mãe Mônica, decidiu regressar para o norte da África. Durante a viagem, porém, sua mãe, Mônica, faleceu, o que o afetou por longo tempo. Chegando em Tagaste, Agostinho vendeu a maior parte das suas propriedades, deu o dinheiro aos pobres e se dedicou a uma vida disciplinada ao estudo, devoção e meditação. Em 391 d.c, Agostinho visitou a cidade de Hipona, também localizada no norte da África. Ali, foi eleito presbítero pela congregação e, contra sua vontade, foi ordenado. Em 395 d.c, Agostinho se torna o bispo da mesma cidade, atuando junto com o bispo Valério. Permaneceu nesta função até sua morte, em 430 d.c, durante o cerco de Hipona pelos vândalos. Como teólogo, muitas das primeiras obras de Agostinho eram dirigidas contra os maniqueus, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

200 onde falava da autoridade das Escrituras, da origem do mal e do livre-arbítrio. Parte de sua tarefa teológica também foi refutar as heresias do donatismo, onde insistiu na validade dos sacramentos, independentemente da virtude moral de quem os administra. Mas foi contra os pelagianos que Agostinho escreveu suas obras teológicas mais importantes, enfatizando a doutrina do pecado e da graça divina. Das suas obras, dois títulos são especiais: As Confissões, uma autobiografia, e A Cidade de Deus, que nos interessa especialmente para os propósitos deste estudo. A Cidade de Deus A Cidade de Deus é uma das mais importantes obras escritas por Santo Agostinho de Hipona. Demorou muitos anos para ser escrita totalmente, sendo 412 d.c o ano inicial e 426 d.c o ano em que Agostinho finalmente concluiu-a. Como lembra Lacerda (2004, p. 47), A Cidade de Deus não foi um livro escrito por alguém no começo de sua carreira. Agostinho escreveu o livro num dos períodos mais produtivos de sua vida. O próprio Agostinho a chama, no Prefácio (AGOS- TINHO, 2001, p. 27), de magnum opus et arduum (um trabalho imenso e árduo). A Cidade de Deus está dividida em 22 livros. LACERDA (2004, pp 47,48) sugere a seguinte divisão a obra: na Primeira Parte temos a refutação ao paganismo (Livros I-X); e na Segunda Parte, de caráter dogmático, Agostinho dá uma visão cristã acerca da História (Livros XI-XXII). Resta indagar por que Agostinho escreveu esta tão importante obra. Para responder esta pergunta, precisamos saber qual era o contexto histórico em que Agostinho e sua obra estavam inseridos. Em 24 de Agosto de 410 d.c., os visigodos, liderados por Alarico, invadiram e saquearam a capital do já enfraquecido Império Romano. É bem verdade que, apesar desta queda, Roma ainda permaceceu em pé durante algumas décadas. Mas, quando a capital fora invadida em 410 d.c., as pessoas da cidade, naturalmente pagãos, começaram a colocar a culpa nos cristãos, acusando a religião cristã de ser a responsável pela queda da cidade. Segundo os pagãos, a partir do momento que o império deixou de adorar aos antigos deuses e adotou a religião cristã, as derrotas e as desgraças recaíram sobre o império. Diante disso, os cristãos precisavam responder às acusações e dúvidas levantadas pelo saque. Um bom número de romanos ricos fugiu da cidade, indo para a região da Sicília e para o norte da África. Um bom número deles chegou a Hipona, a ponto de Agostinho exortar seu rebanho a receber os refugiados com caridade. Não muito depois destes refugiados estarem estabelecidos em Cartago, alguns deles, dentre os mais intelectuais, começaram a refletir sobre se sua nova religião não deveria ser acusada pelo desastre sofrido por Roma e por eles. Afinal, seguia assim o argumento, Roma fora imune a domínio exterior por cerca de 800 anos; e agora, apenas duas décadas após o fim formal do culto público aos deuses pagãos (ordenado pelo imperador Teodósio em 391), a cidade caía sob os bárbaros. Talvez a acusação feita pelos pagãos, de que o Deus cristão, com idéias sobre voltar a outra face e dar pouco valor a impérios neste mundo, não fosse um guardião eficiente para o melhor interesse da classe dominante. A maior parte das pessoas que se dedicavam a estes pensamentos eram cristãos. O paganismo destas 200 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

201 pessoas não era o reviver da antiga religião, mas apenas a persistência daquela idéia antiga de religião como uma barganha que a pessoa tem com os deuses, a fim de preservar sua saúde e bens. Agostinho foi convidado a responder a estas acusações por um amigo, Marcelino, que estava na África para verificar a questão dos donatistas, para o imperador. Ele sabia que a questão ia além do porquê de Roma ter caído. Aqui estavam cristãos que ainda não estavam bem seguros do que o cristianismo realmente era, como ele diferia das religiões romanas que ele substituiu. Conforme LACERDA (2004, p. 49), existe uma corrente de pensamento que afirma que A Cidade de Deus é uma obra de teologia da história incidentalmente relacionada com a queda de Roma. A despeito desta teoria, preferimos acreditar que o saque de Roma em 410 d.c., teve sim o seu impacto direto e não apenas incidental sobre a compilação do livro. Aliás, segundo LACERDA (2004, p. 49), a discussão sobre a possibilidade de Agostinho escrever A Cidade de Deus sem a queda de Roma não tem o menor fundamento, pois a obra foi escrita nesse contexto. A Cidade de Deus foi escrita para combater as acusações dos pagãos, que colocavam a culpa no cristianismo pela queda de Roma. Contra estes, Agostinho refuta uma série de características do paganismo, apresentando os defeitos do Império Romano e arrasando a crença na superioridade do paganismo em providenciar felicidade neste mundo. Os primeiros livros, que serviam para consolar aqueles a quem os visigodos haviam amedrontado, foram publicados rapidamente e parece que fizeram bem o seu papel. Mas a obra como um todo veio em partes, mostrando uma visão ampla da história e do cristianismo. Conforme HAMMAN (1980, p.233), Agostinho propõe, na Cidade de Deus, o problema dos dois poderes e da caducidade das civilizações, e desenvolve, pela primeira vez, uma filosofia cristã da história. Além disso, A Cidade de Deus representa um consolo para os cristãos, que sofrem por estarem num mundo que não é deles. Com essa finalidade, Agostinho deixa claro que existe um propósito divino no sofrimento. Os cristãos são aperfeiçoados pelos sofrimentos, pois os cristãos não são deste mundo. A Sua cidade não é a dos homens, deste mundo, mas os cristãos são cidadãos dos céus, da Cidade de Deus. O Problema do Milênio A Cidade de Deus mostra o contraste entre duas cidades: a Cidade Terrena e a Cidade de Deus. Os cristãos, na verdade, estão no mundo, mas não são dele. Eles são como peregrinos, que estão aqui, vivem aqui, mas na verdade a sua pátria está nos céus. Às vezes passam por sofrimentos e privações que os levam a questionar a situação. Agostinho, porém, mostra que Deus sempre tem um propósito quando deixa os cristãos passarem por dificuldades. Na sua pátria, os cristãos passarão então pela perfeição e os sofrimentos e dificuldades acabarão. E isso ocorrerá somente quando Cristo, o Senhor da Igreja, enfim retornar. O assunto está diretamente ligado ao estabelecimento do reino de Deus no mundo e tem gerado, ao longo da história da Igreja cristã, diferentes posicionamentos. Considerando-se a realidade atual, dentro do cristianismo, podem ser identificados três posicionamentos teológicos diferentes. A chave para cada um destes posicionamentos é a natureza do reino de Deus. Cada um deles considera de uma maneira bem específica a relação Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

202 entre a vinda de Cristo e o estabelecimento do reino de Deus no mundo. Um dos focos é o milênio, ao qual se refere João, no Apocalipse, capítulo 20, versículos 1 e 2: E vi um anjo descendo do céu, tendo a chave do abismo e uma grande corrente na sua mão. E prendeu o dragão, a antiga serpente, a qual é o diabo e satanás, e o amarrou por mil anos. Uma questão com a qual a Igreja se debateu (e continua se debatendo) é: Viria Jesus antes ou depois do estabelecimento de um reino milenar no mundo? E mais: estes mil anos são um tempo literal em que, dada a prisão de Satanás, nosso mundo desfrutaria de paz? Ou dever-se-ia entender aqueles mil anos como figurativos? O assunto não se resume unicamente à interpretação do milênio, mas gera todo um sistema teológico. O termo milênio é derivado das palavras latinas Mille = mil e annus = anos. Conforme FLOR (1998, pp. 41, 42), a questão mais ampla envolvida neste debate relaciona-se à visão de mundo não apenas no cristianismo: A doutrina do milênio procura concretizar não apenas as esperanças de muitos cristãos, mas também adeptos de outras religiões no mundo. (...) No entanto, mais do que uma suposta doutrina bíblica, esta heresia encontra suas bases no desejo humano por um futuro melhor(...). Três teorias atualmente procuram interpretar este milênio: o pré-milenarismo, pósmilenarismo e o amilenarismo. 3 O pré-milenarismo ensina que Cristo voltará antes do milênio e irá instaurar nesta terra um 3 Para uma abordagem completa das diferentes posições teológicas a respeito da natureza do milênio, ver: ERICKSON, Opções Contemporâneas na Escatologia. reinado de mil anos, após ressuscitar primeiramente todos os que creram em Cristo (primeira ressurreição). Cristo reinará com os crentes sobre toda a humanidade e o centro do seu reinado será a Palestina, com a capital em Jerusalém. Após este período, o restante dos mortos ressuscitará e acontecerá o Juízo Final. Os adeptos da tese prémilenarista normalmente interpretam de forma literal os mil anos de Ap. 20. Além disso, esta corrente tende a apresentar uma visão pessimista da História. De uma forma geral, pode-se perceber que a sociedade é vista sob uma ótica negativa. Exemplo de uma postura assim pode ser vista de forma mais acentuada em alguns movimentos religiosos radicais no período da Reforma. O pós-milenarismo traz uma visão diferente da anterior não apenas pela relação cronológica em relação à vinda de Cristo, que seria posterior ao estabelecimento do milênio. Ao invés de uma mudança radical, trata-se de um gradativo progresso nas condições de vida neste mundo, através de uma maior influência da palavra de Deus. Haveria, de acordo com esta posição, uma conversão de um número significativo de pessoas e um melhoramento das condições gerais de vida na sociedade. Diferentemente do prémilenarismo radical, o pós-milenarismo abre espaço para uma participação muito efetiva do cristão e da Igreja na sociedade. Deve-se isto ao fato de ter uma postura otimista em relação às possibilidades de mudança das condições de vida na sociedade. Este posicionamento teológico não chega a ser característico de uma denominação religiosa específica. No entanto, é uma tendência que pode ser observada em manifestações de cristãos de diversas origens denominacionais. Para exemplificar, a teologia da libertação poderia sugerir uma postura pósmilenarista como visão de mundo. 202 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

203 A explicação amilenarista oferece uma alternativa às anteriores. O amilenarismo interpreta de forma figurada os mil anos de Apocalipse 20. Ensina que não haverá um reino visível de mil anos na terra. Na verdade, os mil anos já iniciaram com a Primeira Vinda de Cristo. Clouse (1985, pp. 8,9) nos traz uma boa descrição do que significa os mil anos para os amilenaristas: Os amilenistas (sic) mantêm que a Bíblia não prevê um período de paz e justiça universais antes do fim do mundo. Eles crêem que haverá um crescimento contínuo de bem e mal no mundo, que culminará na Segunda Vinda de Cristo (...) Os amilenistas (sic) crêem que o reino de Deus está presente agora no mundo, enquanto o Cristo vitorioso governa seu povo através de sua Palavra e Espírito, embora eles também vejam adiante um reino futuro, glorioso e perfeito, na nova terra na vida do porvir. Agostinho é considerado como aquele que sistematizou a abordagem amilenarista, dando ao milênio um sentido figurativo e não temporal ou cronológico (ERICKSON, p. 64). Trataremos com mais detalhe da contribuição de Agostinho a seguir. A Contribuição de Agostinho Examinando-se a Cidade de Deus, pode-se observar que Agostinho não tinha uma visão nem pessimista, nem otimista da História. Segundo ele, a História não acontece sozinha, como se nenhuma outra força estivesse por detrás dela. Agostinho acreditava que Deus guia a História e a utiliza para cumprir os seus desígnios. Por outro lado, Agostinho sabe e conhece a fraqueza do Ser Humano e, em virtude desta fraqueza, o ser humano comete as mais diversas maldades. Por isso, a visão de Agostinho acerca da História é uma visão realista, em que o cidadão da Cidade de Deus não se esconde da vida no mundo, mas dela participa ativamente. Agostinho (2001, pp. 392,393) mesmo o diz, no décimo-nono livro de sua obra: Nossa mais ampla acolhida à opinião de que a vida do sábio é vida de sociedade. Porque donde se originaria, como se desenvolveria e como alcançaria seu fim a Cidade de Deus... se não fosse vida social a vida dos santos? Agostinho dedica uma espaço significativo para a discussão das questões referentes à segunda vinda de Cristo e os eventos a ela ligados. No vigésimo livro de sua monumental obra, o bispo de Hipona expõe sua interpretação do texto de João, em Apocalipse 20, propondo que os mil anos não devem ser interpretados de forma literal, mas num sentido figurado. O bispo de Hipona se detém na questão do juízo final que, conforme enfatiza logo de início, é final, pois Deus julga desde o início (AGOS- TINHO, p. 425). São diversos os textos bíblicos expostos com a finalidade de mostrar como será o último e definitivo juízo. Agostinho, porém, segue uma ordem bem própria de abordagem dos diferentes livros do cânone. Ele mesmo explica: Respigarei, primeiro no Novo Testamento e depois no Antigo, os testemunhos, tomados das Sagradas Escrituras, que me propus aduzir, do juízo final. Embora o Antigo preceda o Novo em tempo, o Novo precede-o em autoridade, porque aquele não passa de prelúdio deste. (AGOSTINHO, p. 429) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

204 Agostinho inicia pelo texto dos Evangelhos, mostrando as palavras do próprio Cristo a respeito das coisas do fim. Depois disto, passa a tratar, com mais detalhe, do texto de Apocalipse, discorrendo, após, sobre os textos dos apóstolos Pedro e Paulo, indo então para o Antigo Testamento, com os profetas Isaías, Daniel, Malaquias e o livro dos Salmos. Imediatamente antes de entrar no texto de Apocalipse, Agostinho elucida o sentido das palavras de Jesus no Evangelho de João, ao falar de duas ressurreições. São elas, a primeira segundo a fé, que agora se opera pelo batismo, e a segundo aquela que ocorre no juízo final (Id., p. 434). Vem então a questão envolvendo a visão de João no Apocalipse. Citamos as palavras do apóstolo, objeto da exposição de Agostinho: Então vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e pos selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto é necessário que ele seja solto pouco tempo. Vi também tronos e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tão pouco a sua imagem e não receberam a marca na fronte e na mão ; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos. (Apocalipse ) O interesse de Agostinho no texto de Apocalipse 20 inicia por indagar o que significariam as duas ressurreições mencionadas pelo apóstolo João. Na explicação, Agostinho se refere a uma interpretação corrente em seu tempo, de que se trataria, a primeira ressurreição, da ressurreição corporal, ao se completarem seis mil anos desde a criação do mundo. Viria então o Sábado de mil anos, onde haveria toda sorte de banquetes, comida e bebida, que Agostinho considera uma maneira carnal de entender o assunto. Aos que pensam daquela maneira, Agostinho chama de khiliastas, palavra grega que literalmente podemos traduzir por milenaristas. (Id., p. 435) Para explicar o sentido do amarrar de Satanás, Agostinho alude à palavra de Jesus no Evangelho (Mateus 12.29), com a figura de alguém entrando na casa de um poderoso e amarrandoo, a fim de poder roubar-lhe os bens. Satanás é o forte, que enreda o ser humano com sua malícia. Ele teve de ser amarrado, isto é, acorrentoulhe o poder de seduzir e dominar os redimidos (Id., p. 435). Assim sendo, a prisão de Satanás, relatada em Apocalipse 20, não é vista por Agostinho como um evento futuro ainda por ocorrer, mas um fato passado. Jesus Cristo, através de seu ministério terreno e a obra da redenção da humanidade, limitou o poder de Satanás, tirando-lhe o domínio sobre os povos. A interpretação dos mil anos está diretamente ligada à posição a respeito da prisão de Satanás. Agostinho sugere duas possibilidades: 204 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

205 Ou porque isso há de passar-se nos mil últimos anos, quer dizer, no sexto milhar, como no sexto dia, cujos últimos agora transcorrem, para serem seguidos pelo sábado que não tem tarde, ou seja, pelo repouso dos santos, que não terá fim (e em tal sentido aqui chamaria mil anos à última parte deste tempo, como dia que dura até o fim do mundo, tomando a parte pelo todo) ou se serve dos mil anos para designar a duração do mundo, empregando número perfeito para denotar a plenitude do tempo... (Ibid.) Em qualquer das alternativas sugeridas, Agostinho recusa-se a tratar os mil anos e o retorno de Cristo de maneira cronológica. Como mostra Daley (1994, p. 196), Agostinho manteve uma posição agnóstica sobre o tempo do fim do mundo e cético até mesmo quanto às mais respeitáveis tentativas cristãs de calculá-lo a partir das Escrituras e dos eventos contemporâneos. Já no livro décimo-oitavo de sua obra, Agostinho manifestara-se contrário a qualquer tentativa de estabelecer a data do fim. Ao citar um texto do apóstolo Paulo, em que este fala da destruição do anticristo, por ocasião do retorno de Cristo, ele observa: Aqui é costume perguntar-se: Quando sucederá isto? Na verdade, trata-se de pergunta importuna. Porque se fosse útil sabêlo, quem melhor do que o divino Mestre poderia dar a resposta aos discípulos... Em vão nos afanamos, pois, em determinar os anos restantes até o fim do mundo, pois ouvimos da boca da Verdade que não nos toca sabê-lo. (Id., p. 373) Agostinho, pelo que se pode observar na exposição de Apocalipse 20, vê os dias presentes como parte dos últimos dias. Em outras palavras, na sua visão, os mil anos estão já ocorrendo, fazendo parte do tempo em que a obra redentora de Cristo se faz manifestar, pelo fato do poder de Satanás estar limitado. Uma das conseqüências do amarrar de Satanás por mil anos, segundo Agostinho, pode ser percebida na vida da Igreja cristã em todo o tempo entre a primeira vinda de Cristo e seu retorno para o juízo: Todo dia vemos pessoas que, abandonando a infidelidade, se convertem à fé (AGOSTINHO, p. 439). CONCLUSÃO A irrupção do reino de Deus no mundo foi interpretada de formas diferentes já por parte dos pais da Igreja, nos primeiros séculos da era cristã. Diversos destes empregaram uma leitura milenarista do texto bíblico, sugerindo a vinda imediata do reino, com a plena transformação da sociedade, ainda antes do juízo final. Santo Agostinho, em seu escrito A Cidade de Deus, sugere uma visão de História em que Deus realiza seu reinar ativo no mundo mesmo antes do juízo final. Sua interpretação do milênio é figurativa. O milênio, na verdade, é uma figura do assim chamado tempo da graça, ou seja, o período em que a graça de Deus é anunciada ao mundo, neste período entre a primeira e a segunda vindas de Cristo. Para o nosso tempo, em que o debate hermenêutico continua de uma maneira acentuada nos textos escatológicos, Santo Agostinho continua sendo uma referência importante. Seu posicionamento, caracterizado como amilenarista, proporciona um significa dinâmico ao reino de Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

206 Deus, ou seja, este reino está ativo na História, através do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Os cidadãos da Cidade de Deus, vivendo ainda neste mundo, não têm motivo de se esconder. Sua vocação é a atuação firme na vida da sociedade, como testemunhas do amor de Deus, revelado em Cristo e manifestado de maneira especial no aprisionamento de Satanás. Isto faz do tempo presente um tempo de oportunidade para todos aqueles que, a exemplo de Agostinho, aguardam com expectativa a revelação plena do Reino de Deus no retorno de Cristo, mas já vivem, pela fé, neste reino de graça e amor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGOSTINHO. A Cidade de Deus Contra os Pagãos. Tradução de Oscar Paes Leme. 4 ed. Petrópolis: Vozes, COUSE, Robert G. Ed. Milênio: Significado e Interpretações. Campinas: Luz para o Caminho, DALEY, Brian E. Origens da Escatologia Cristã. Tradução de Paulo D. Siepierski. São Paulo: Paulus, FIESER, James (Ed). The Internet Encyclopedia of Philosophy, Disponível em: FLOR, Paulo F. O Milenismo à Luz de Apocalipse Vox Concordiana, São Paulo, v. 13, n. 2, p , GONZALEZ, Justo L. Uma História Ilustrada do Cristianismo Vol. 4: A Era dos Gigantes. Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, HAMMAN, A. Os padres da Igreja. Tradução de Isabel Fontes Leal Ferreira. São Paulo: Paulinas, HAEGGLUND, Bengt. História da Teologia. Tradução de Mário L. Rehfeldt e Gládis K. Rehfeldt. Porto Alegre: Concórdia, LINDEN, Gerson Luis. Milenarismo ao Longo da História da Igreja à Luz do Artigo XVII da Confissão de Augsburgo. Theophilos, Canoas, v. 2, n. 2, p , MENDELSON, Michael. Stanford Encyclopedia of Philosophy. Disponível em: O DONNELL, James J. Augustine the African. Disponível em: augustine.html WALKER, Willinston. História da Igreja Cristã. Tradução de D. Glênio Vergara dos Santos e N. Duval da Silva. 2. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: JUERP/ASTE, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

207 A necessidade da atualização para o ensino de genética ROBERTA LIPP COIMBRA 1 AGOSTINHO SERRANO DE ANDRADE NETO 2 SIMONE SOARES ECHEVESTE 3 JULIANA DA SILVA 4 RESUMO Neste estudo buscou-se obter embasamento para discutir a possibilidade de intervenções pedagógicas significativas dentro de alguns temas da genética. Foi utilizado um grupo de estudantes do PPG de Ensino de Ciências e Matemática que já atuam no ensino médio. Aulas expositivas, de laboratório e discussões de artigos foram realizadas. Na atividade laboratorial desenvolveu-se a técnica Ensaio Cometa. Foi realizada avaliação conceitual sobre DNA através de pré- e pós-testes. As respostas foram categorizadas. Os resultados indicaram uma clara evolução conceitual, principalmente sobre lesão e reparo/dna. Desta forma, acreditamos poder contribuir no estabelecimento de algumas estratégias de ensino a serem utilizados junto a diferentes níveis escolares. Palavras-chave: Genética, Ensino de Pós-Graduação, Experimentos didáticos. ABSTRACT Our aim was to investigate means to discuss the possibility of meaningful pedagogical interventions in some themes on genetics, manly through didactic experiments that would allow discussion about genetics 1 Acadêmica do Curso de Biologia Bolsista PROICT/ULBRA 2 Professor do Curso de Física e do PPG Ensino de Ciências e Matemática/ULBRA 3 Professora do Curso de Matemática/ULBRA 4 Professora - Orientadora do Curso de Biologia do PPG Ensino de Ciências e Matemática/ULBRA (juliana.silva@ulbra.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

208 and the environment. Therefore, we have chosen to use the Comet Assay technique. The didactic activity was applied in a group of graduate students in science and mathematics teaching to assess the student s concepts about DNA. Results may indicate a clear conceptual evolution, manly in the concepts regarding DNA lesion and repair, especially in students from non-biology under graduation courses. Key words: Genetics, Graduation teaching, didactic experiments. INTRODUÇÃO A dificuldade de compreensão da construção de conhecimentos decorre da complexidade inerente à Genética Molecular. O conhecimento sobre os genes e seu funcionamento deixou os laboratórios e passou a envolver interesses econômicos e éticos. Além de motivador, o tema permite trabalhar o que muitos estudiosos de Pedagogia consideram conteúdos sempre presentes no processo de educação escolar: fatos, conceitos, princípios, procedimentos, atitudes, normas e valores. Ao abordar os conhecimentos relacionados à natureza do material hereditário, à codificação genética, ao modo como as proteínas determinam as características dos seres vivos e, finalmente, como todo este conhecimento tem sido utilizado na tentativa de resolver problemas de sobrevivência da humanidade, estamos contribuindo para que a escola cumpra seu papel de transmitir o conhecimento socialmente produzido, correto e esclarecedor; deixando para trás a forma de ensinamento tradicional que abordava teorias evolutivas até síndromes cromossômicas. O ensino da célula como uma unidade no ensino de biologia tem suas raízes na própria história de construção e evolução de seu conhecimento. Comparado aos estudos de ensino de Química e Física, compreende-se a dificuldade própria à Biologia, pois os processos pelo qual se passam a nível celular, são na maioria das vezes impossíveis de serem manipulados pelos estudantes, pois a atividade experimental depende do microscópio e quando não, só pode ser feito através de fotografias, modelos e esquemas. Partindo deste pressuposto, são necessárias mudanças curriculares e metodológicas utilizadas pela maioria dos professores de Biologia para o ensino de célula e consequentemente para o ensino de genética. Algumas pesquisas demonstram que o laboratório tradicional favorece o estabelecimento de uma linguagem comum entre os alunos e o conhecimento científico escolar, que vai sendo adquirido pelos alunos na medida em que eles argumentam para adequar os significados atribuídos aos conceitos, leis, teorias e princípios científicos ao contexto do laboratório didático (VILLANI 2004; MOREIRA 1999). A interação entre pesquisadores de diferentes áreas já é bastante comum, observam-se trabalhos onde interagem geneticistas, químicos, bioquímicos, físicos, profissionais da informática, ética, entre outros, na compreensão de fenômenos ambientais, por exemplo. NETO (1999) destaca que a pesquisa na área do ensino de ciências em diferentes programas de pós-graduação do Brasil vêm se desenvolvendo desde a década de 70, o que tem levado a 208 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

209 uma melhoria deste campo no país. Das centenas de trabalhos que foram analisados pelo autor observa-se um grande gap no que diz respeito a estudos voltados para graduandos e pósgraduandos como objetos de estudo. O mesmo autor destaca a necessidade de se ampliar os trabalhos voltados a estes grupos. Lembramos também que a interdisciplinaridade promove a interação dos diferentes conhecimentos propiciando condições ideais para uma nova aprendizagem, mais motivadora, que diminua o distanciamento entre os conteúdos programáticos e a experiência dos alunos. A reorganização curricular trabalhada numa perspectiva interdisciplinar e contextualizada pressupõe que a aprendizagem significativa implica uma relação sujeito - objeto e que, para que se concretize, é necessário oferecer as condições para que os dois pólos do processo interajam (MOREIRA, 1999). MATERIAL E MÉTODOS Grupo estudado A pesquisa foi desenvolvida com os alunos do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemática / PPGECIM ULBRA, 2 turmas foram avaliadas. O número de estudantes utilizados no pré-teste foi de quinze, o que corresponde a 100% dos alunos matriculados na disciplina de Química, Física e Biologia para o Estudo do Ambiente. Esta disciplina visa discutir aspectos básicos das ciências de forma interdisciplinar para o estudo do meio ambiente. Sendo assim, a escolha da genética como temática possibilitou utilizar ensaio cometa como atividade experimental. Para o pós-teste, os mesmos 100% de alunos foram analisados (n=15). Os alunos são em sua maioria graduados em Biologia (50%). Os demais são provenientes de diferentes cursos: Química, Farmácia, Pedagogia, Administração Rural, Engenharia Civil e Engenharia Elétrica. O grupo é heterogêneo, além das suas formações diversas, alguns alunos buscam o mestrado na perspectiva de continuarem seus estudos na Universidade (doutorado), outros buscam aprimoramento nesta área, com interesse específico no mercado de trabalho. Atividades desenvolvidas Foram realizadas entrevistas individuais com os estudantes, onde o conhecimento prévio ao início do processo de ensino foi identificado através de questionário - pré-teste com roteiro específico de perguntas, bem como após aulas expositivas e de laboratório através de pós-teste; a turma 2 não participou da atividade laboratorial. A atividade foi realizada no primeiro semestre de 2003 e 2004, sendo o pré-teste antes das atividades da disciplina e o pós-teste após atividades. Foi proposto aos alunos uma situação problema e exercícios escritos e de representações esquemáticas (Anexo 1 Instrumento da pesquisa). A seguir, as aulas procederam-se discutindo temas mais amplos de genética e ambiente, conceitos sobre os temas não fazia parte dos objetivos deste curso. Por ser um grupo que não era formado 100% por biólogos, fez-se necessário discutir um pouco sobre cromossomos, divisão Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

210 celular, estrutura do DNA, síntese de proteínas. Após certo embasamento entrou-se em discussões sobre os agentes ambientais, naturais ou sintéticos, sua forma de ação, dano ao DNA e reparo, suscetibilidade genética, acompanhados por um livro texto (DA SILVA et al., 2003). Também foi realizada atividade em laboratório para uma das turmas (Turma 1); os alunos realizaram caminhada de 30 minutos, para induzir dano oxidativo no DNA, e para a prática foi coletada uma amostra de sangue de cada indivíduo (uma ou duas gotas) antes e outra amostra depois do exercício. Com as amostras de sangue realizaram um teste de detecção de danos ao DNA (Ensaio Cometa - COTELLE & FÉRARD, 1999; DA SILVA et al., 2000). O Ensaio Cometa ( Single Cell Gel electrophoresis ) é uma técnica rápida, sensível e barata - portanto factível de ser utilizada no ensino - para a quantificação de lesões e detecção de efeitos de reparo no DNA em células individuais de mamíferos. Este teste apresenta algumas vantagens sobre os testes bioquímicos e citogenéticos, entre estas a necessidade de somente um pequeno número de células e de não ser necessário células em divisão, sem falar dos custos. As células englobadas em gel sobre uma lâmina são submetidas a uma corrente elétrica, que faz migrar para fora do núcleo os segmentos de DNA livres, resultantes de quebras. Após a eletroforese, as células que apresentam um núcleo redondo são identificadas como normais, sem dano reconhecível no DNA. Por outro lado, as células lesadas são identificadas visualmente por uma espécie de cauda, como de um cometa, formada pelos fragmentos de DNA. Estes fragmentos podem se apresentar em diferentes tamanhos, e ainda estarem associados ao núcleo por uma cadeia simples. Para alguns autores o tamanho da cauda é proporcional ao dano que foi causado, mas somente é de consenso que a visualização do cometa, significa dano ao nível do DNA, podendo ser quebra simples, duplas, crosslinks, sítios de reparo por excisão e/ou lesões álcali-lábeis. A identificação do dano no DNA pode ser feita por diferentes maneiras, uma forma é medir o comprimento do DNA migrante com a ajuda de uma ocular de medidas, outra forma é classificar visualmente em diferentes classes as células com dano (Figura 1), podendo se obter um valor arbitrário que expresse o dano geral que uma população de células sofreu. Figura 1 - Classes dos COMETAS, desde sem dano até máximo de lesão: A= classe zero / sem dano; B= classe I; C= classe II; D= classe III; E= classe IV; F= apoptose / morte celular (adaptado de DA SILVA et al., 2000). 210 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

211 RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliação dos questionários A comparação dos questionários dos estudantes foi realizada a partir da proposição de categorias de análise que refletissem sobre a compreensão a respeito do assunto. As respostas foram analisadas procurando-se pontos em comum, que possibilitasse o agrupamento. Primeiramente avaliaram-se os questionários em duas etapas: (A) avaliação sobre modelo do DNA e conceitos (Questões 1-2); (B) avaliação sobre conceitos de como o DNA pode ser lesado e reparado (enfoque ambiental) (Questões 3-8). Com relação às respostas, foram propostas categorias baseadas nos trabalhos de FALCÃO & BARROS (1999) e GRIFFIN et al. (2003). Assim, dentro de cada etapa, A e B, as respostas dos estudantes foram agrupadas em: (0) Sem resposta - Respostas do tipo não sei ou em branco; (1) Resposta Pobre / Sem informação Respostas que não indicavam compreensão do aluno sobre o tema; (2) Resposta Fraca / Racionalidade Científica não Compatível com Modelo Científico - Respostas que manifestam uma certa compreensão dos conceitos, mas sem fundamentação teórica; (3) Resposta Satisfatória / Racionalidade Científica com Certa Compatibilidade com o Científico - Respostas que demonstram compreensão dos elementos científicos mais importantes; (4) Resposta Excelente / Expressa Racionalidade Científica com ou sem Refinamento de Modelo Compatível - Percebese compreensão total sobre a resposta, podendo apresentar refinamento nas respostas (discussões além do questionado). Na Tabela 1 e 2, é possível observar todas as respostas dos estudantes já separadas em categorias para cada questão, bem como na Figura 2 e 3. Com base nas Tabelas 1 e 2 e Figura 2 e 3, observase que os estudantes apresentaram um certo conhecimento sobre o que é o DNA e a sua função (questões 1 e 2), mas que a respeito dos agentes ambientais e naturais e seus efeitos sobre o material genético este conhecimento era bastante falho. Observe nas mesmas tabelas e figuras que ao final da disciplina (pós-teste) o número de respostas classificadas como 4 (Excelente) aumenta nitidamente, para ambas as turmas. Alguns dos teóricos citados por VILLANI (1999), como Ausubel e Novak, consideram estratégias e recursos didáticos como instrumentos que permitem a manipulação de variáveis do processo ensino-aprendizagem e são eles os organizadores prévios e os mapas conceituais. A mesma autora comenta a respeito destes dispositivos como já utilizados como recurso por diversos autores. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

212 Tabela 1 - Categorização das respostas da Turma 1 quanto a sua compreensão sobre o tema DNA, antes do início das discussões (Pré-Teste) e após atividades de laboratório, aulas expositivas e discussões (Pós-Teste). QUESTÕES PRÉ-TESTE NÚMERO TOTAL DE ALUNOS / CLASSE DE RESPOSTA (A) DNA X CONCEITOS (4) (3) (2) (1) (0) 1. O que é o DNA e qual a sua função? Desenhe o modelo do DNA que você utiliza (B) DNA X AMBIENTE - LESÃO / REPARO (4) (3) (2) (1) (0) 3. Quais fatores você acha que podem levar a modificações no DNA? O que você pensa que acontece com uma célula após seu DNA ser lesionado? O homem na era pré-industrial tinha seu DNA intacto pela maior parte de sua vida. Você concorda ou discorda desta afirmação? Explique E quanto a suas próprias células? Quando você supõe que o DNA das suas células sofre alteração? Quantas vezes por ano? As modificações que podem ocorrer no seu DNA sempre são maléficas? Explique O que aconteceu com o DNA dos roedores do texto do início da folha? Comente e explique a descoberta dos cientistas: a variabilidade genética da espécie permaneceu a mesma. (A) DNA X CONCEITOS (4) (3) (2) (1) (0) 1. O que é o DNA e qual a sua função? Desenhe o modelo do DNA que você utiliza (B) DNA X AMBIENTE - LESÃO / REPARO (4) (3) (2) (1) (0) 3. Quais fatores você acha que podem levar a modificações no DNA? O que você pensa que acontece com uma célula após seu DNA ser lesionado? O homem na era pré-industrial tinha seu DNA intacto pela maior parte de sua vida. Você concorda ou discorda desta afirmação? Explique E quanto a suas próprias células? Quando você supõe que o DNA das suas células sofre alteração? Quantas vezes por ano? As modificações que podem ocorrer no seu DNA sempre são maléficas? Explique O que aconteceu com o DNA dos roedores do texto do início da folha? Comente e explique a descoberta dos cientistas: a variabilidade genética da espécie permaneceu a mesma Tabela 2 - Categorização das respostas da Turma 2 quanto a sua compreensão sobre o tema DNA, antes do início das discussões (Pré-Teste) e após atividades de laboratório, aulas expositivas e discussões (Pós-Teste). QUESTÕES PRÉ-TESTE NÚMERO TOTAL DE ALUNOS / CLASSE DE RESPOSTA (A) DNA X CONCEITOS (4) (3) (2) (1) (0) 1. O que é o DNA e qual a sua função? Desenhe o modelo do DNA que você utiliza (B) DNA X AMBIENTE - LESÃO / REPARO (4) (3) (2) (1) (0) 3. Quais fatores você acha que podem levar a modificações no DNA? O que você pensa que acontece com uma célula após seu DNA ser lesionado? O homem na era pré-industrial tinha seu DNA intacto pela maior parte de sua vida. Você concorda ou discorda desta afirmação? Explique E quanto a suas próprias células? Quando você supõe que o DNA das suas células sofre alteração? Quantas vezes por ano? As modificações que podem ocorrer no seu DNA sempre são maléficas? Explique O que aconteceu com o DNA dos roedores do texto do início da folha? Comente e explique a descoberta dos cientistas: a variabilidade genética da espécie permaneceu a mesma Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

213 QUESTÕES PÓS-TESTE NÚMERO TOTAL DE ALUNOS / CLASSE DE RESPOSTA (A) DNA X CONCEITOS (4) (3) (2) (1) (0) 1. O que é o DNA e qual a sua função? Desenhe o modelo do DNA que você utiliza (B) DNA X AMBIENTE - LESÃO / REPARO (4) (3) (2) (1) (0) 3. Quais fatores você acha que podem levar a modificações no DNA? O que você pensa que acontece com uma célula após seu DNA ser lesionado? O homem na era pré-industrial tinha seu DNA intacto pela maior parte de sua vida. Você concorda ou discorda desta afirmação? Explique E quanto a suas próprias células? Quando você supõe que o DNA das suas células sofre alteração? Quantas vezes por ano? As modificações que podem ocorrer no seu DNA sempre são maléficas? Explique O que aconteceu com o DNA dos roedores do texto do início da folha? Comente e explique a descoberta dos cientistas: a variabilidade genética da espécie permaneceu a mesma Médias Pré e Pós-Teste Turma 1 Classes (0-4) Questões Pré-teste Pós-teste Figura 2. Médias das respostas (classes) obtidas para a turma 1 em relação a cada questão. Médias Pré e Pós-Teste Turma 2 Classes (0-4) Questões Pré-teste Pós-teste Figura 3 - Médias das respostas (classes) obtidas para a turma 2 em relação a cada questão. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

214 A comparação dos dados resultantes das duas avaliações, pré- e pós-teste, revela mais uma vez que para cada etapa (Bloco de Questões) as porcentagens de acertos mostraram-se maiores após a implementação da disciplina. Percebe-se que a melhora das respostas, passando de fracas e pobres (Classes 0-2) para satisfatórias e excelentes (Classes 3-4), se deu principalmente a respeito de efeitos ambientais e naturais sobre o DNA, e a capacidade deste de se reparar (Etapa B). Através dos resultados do teste nãoparamétrico de Wilcoxon verifica-se que apenas a Questão 5 para a Turma 2 não apresentou diferença significativa (P>0,05) nas pontuações recebidas entre os períodos pré e pós. Para as outras questões observou-se uma pontuação maior no período pós. Os 100% dos estudantes testados na segunda fase (pós-teste) apresentaram melhora no desempenho, mesmo falando em relação aos alunos que não eram de áreas biológicas. Mas o mais interessante é observar que em relação a questão 5, onde requer uma compreensão de que o natural, o próprio oxigênio, leva a lesão no DNA, somente às aulas teóricas não foram suficientes para demonstrar uma melhora nas respostas. Quando se observa a Turma 1 que realizou atividade laboratorial, onde os mesmos tinham uma situação problema e através da análise de seus dados observaram que o dano no material genético pode ser levado pelo próprio ar que respiramos; a melhora é estatisticamente significante. CONCLUSÕES Os conhecimentos são dificilmente transmitidos, tanto no plano individual como social, sua transferência, de um nível ao outro de ensinamento, parece ser igualmente difícil. Segundo GIORDAN & DE VECCHI (1988), professores do ensino superior culpam os do nível secundário, e estes os do primário. Os mesmos autores ainda ressaltam que não existe um ensinamento integrador, e que é por isto que ocorre uma lacuna em muitos dos temas estudados. O DNA é um dos grandes descobrimentos da ciência contemporânea, sendo que seu conhecimento foi rapidamente popularizado. Os meios de comunicação graças à estrutura do DNA, imagens fantásticas, e explicações sobre o código genético, influenciaram na introdução deste tema nos programas de ensino. A Biologia Molecular mesmo fazendo parte dos programas de ensino ainda hoje apresentam muitas carências, o que pode ser observado neste estudo. O uso de experimentos didáticos no ensino interdisciplinar de ciências é desejável, pois fornece subsídios à discussão de temas que permeiam diversas ciências. Em particular, o Ensaio Cometa é uma técnica barata e que permite abordar a temática de lesão e reparo do DNA, provocada tanto por efeitos simples como estresse oxidativo como de outros fatores genotóxicos. Aspectos qualitativos da lesão do DNA podem ser abordados, e também aspectos quantitativos, como a freqüência das lesões que ocorre naturalmente. Consideramos que, hoje em dia, várias universidades do país que possuem laboratório de genética podem utilizar esta técnica para integrar este tema no ensino, tanto na graduação, como na pós-graduação. Além disto, utilizar experimentos didáticos que envolvam a atuação de fatores ambientais na genética de seres vivos permite discutir conceitos básicos das diversas ciências transversalidade. 214 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

215 Um dos resultados observados é que estudantes de diferentes áreas, apresentam um aprendizado significativo da temática da genética, em especial, sobre lesão e reparo. Já o aprendizado da estrutura e função do DNA não apresentou, na nossa investigação, uma melhora substancial, talvez por não ter sido abordada representações microscópicas do funcionamento da genética em nível molecular. Entretanto, conhecimento básico sobre a função e estrutura do DNA foi satisfatoriamente apresentado pelos estudantes após a atividade. As representações utilizadas pelos estudantes de área ou não da biologia refletem a necessidade de descrever a estrutura do DNA e sua composição química (entre as fitas), e suas funções (código genético). Assim, as representações dos estudantes refletem modelos científicos com nenhuma ou algumas concepções alternativas, à medida que incluem ou não os elementos supracitados. Estas representações podem servir para categorizar os estudantes, pois podem refletir o grau de conhecimento científico apresentado por eles. Desta forma, faz-se necessário investigar ainda mais o processo de aprendizagem no que se refere ao tema tratado, quanto aos conceitos, desde antes de concluído os cursos específicos de graduação, e até mesmo os livros didáticos disponíveis sobre o assunto, juntamente aos métodos de ensino utilizados. É importante salientar também a necessidade de se utilizar e avaliar diferentes estratégias, e métodos mais novos, como o Ensaio Cometa, principalmente quando tratados de temas mais complexos como dano e reparo do DNA. Este método se mostrou eficaz entre os pós-graduandos avaliados neste estudo, permitindo inclusive discussões entre diferentes disciplinas como química, física e biologia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COTELLE, S.; FÉRARD, J.F. Comet assay in genetic ecotoxicology: A review. Environmental and Molecular Mutagenesis, v.34, p , DYER, B.D.; LEBLANC, M.D. Meeting report: Incorporating genomics research into undergraduate curricula. Cell Biology Education, v.1, n.4, p , FALCÃO, D.; BARROS, H. L. de. Estudo de impacto de uma visita a uma exposição de um museu de ciências. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCA- ÇÃO E CIÊNCIAS, 2., GIORDAN, A.; DE VECCHI, G. Los origenes del saber. 1.ed. Sevilla: Diada, p. GRIFFIN, V.; MCMILLER, T.; JONES, E.; JOHNSON, C.M. Identifying novel helixloop-helix genes in Caenorhabditis elegans through a classroom demonstration of functional genomics. Cell Biology Education, v.2, n.1, p.51-62, MOREIRA, M. A. Aprendizagem Significativa. Série Fórum Permanente de Professores. Brasília: Editora da UnB, NETO, J. M. O que sabemos sobre a pesquisa em ensino de ciências no nível fundamental: Tendências de teses e dissertações defendidas entre 1972 e In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCA- ÇÃO E CIÊNCIAS, 2., SILVA, J. da; ERDTMANN, B.; Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

216 HENRIQUES, J.A.P. (Orgs.). Genética Toxicológica. 1.ed. Porto Alegre: Alcance, p. SILVA, J. da; FREITAS, T. R. O.; MARI- NHO, J. R.; SPEIT, G.; ERDTMANN, B. Alkaline Single-Cell Gel Electrophoresis (Comet Assay) to Environmental In Vivo Biomonitoring With Native Rodents. Genetics and Molecular Biology, v.23, n.1, p , VILLANI, V.G. A argumentação e o ensino de ciências: uma atividade experimental no laboratório didático de física do ensino médio. Revista Investigação em Ensino de Ciências, VILLANI, V.G. Um contexto de ensino e a aprendizagem da fisiologia humana. In: EN- CONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS, 2., ANEXO 1 No leste europeu ocorreu um acidente no reator nuclear de Chernobyl, em que o núcleo do reator, devido a falhas mecânicas e humanas teve uma súbita mudança de temperatura, que provocou a sua explosão, jogando grande quantidade de fumaça com elementos radioativos na atmosfera. Esta fumaça radioativa contaminou uma grande área nos arredores da região, que sofreu e ainda sofre os efeitos. Logo após o acidente, uma análise de roedores da região mostrou que a variabilidade genética destes roedores era idêntica a de roedores da mesma espécie em outros lugares do mundo. Após a leitura deste texto, responda às questões: 1. O que é o DNA e qual a sua função? 2. Desenhe o modelo do DNA que você utiliza. 3. Quais fatores você acha que podem levar a modificações no DNA? 4. O que você pensa que acontece com uma célula após seu DNA ser lesionado? 5. O homem na era pré-industrial tinha seu DNA intacto pela maior parte de sua vida. Você concorda ou discorda desta afirmação? Explique. 6. E quanto a suas próprias células? Quando você supõe que o DNA das suas células sofre alteração? Quantas vezes por ano? 7. As modificações que podem ocorrer no seu DNA sempre são maléficas? Explique. 8. O que aconteceu com o DNA dos roedores do texto do início da folha? Comente e explique a descoberta dos cientistas: a variabilidade genética da espécie permaneceu a mesma. 216 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

217 Harry Potter: magia, ciência, tecnologia articuladas na literatura para a produção de uma infância/adolescência ciborgue? ISABEL CHRISTINA ZOPPAS 1 CAROLINE ROBERTA TODESCHINI 2 MARIA LÚCIA CASTAGNA WORTMANN 3 RESUMO Este texto focaliza as aventuras de Harry Potter narradas por J. K. Rowling, discutindo-as a partir dos campos da Educação, dos Estudos Culturais e dos Estudos Culturais de Ciência. Valendonos de análises discursivas, examinamos representações de magia, tecnologia e ciência, em uma abordagem construcionista cultural (HALL, 1997), entendendo que tais textos atuam tanto como divertimento para seus leitores/as, quanto como Pedagogias Culturais: neles se ensina a ser estudante e feiticeiro, além de saberes tecnológicos, científicos e magia. Tais saberes estão neles articulados e atuando na produção de identidades juvenis e de representações de escola e família, que não diferem muito nas sociedades dos bruxos ou trouxas, categorias em que estão polarizados os/as personagens dessas histórias. Palavras-chave: estudos culturais, representações culturais, pedagogias culturais. 1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA Bolsista PROBIC/ FAPERGS 2 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA Bolsista PROICT/ ULBRA 3 Professora Orientadora do Curso de Pedagogia e do PPG Educação/ULBRA (wortmann@terra.com.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

218 ABSTRACT This text speaks of a study centring on young and children literature, particularly Harry Potter s adventures narrated by J. K. Rowling, by articulating fields of Education, Cultural Studies, and Cultural Studies on Science. Using discursive analysis, we have considered representations of magic, technology and science, in cultural constructionist approach (HALL, 1997). We have assumed that texts narrating this young wizard s adventures act on its readers not only as entertainment, but also as cultural teaching, which teaches them to be young, students, and wizards, and position them towards different knowledges technological, scientifical, and magical ones. These texts even highlight the established social order particularly school and family and these are not very different in shape either in wizard society or in fool one, the categories in which characters of these stories are. Furthermore, these texts articulate magic and technology as possibilities acting on young identity shaping. Key words: cultural representations, cultural studies, cultural pedagogy. INTRODUÇÃO Parece que a escola de magia de Hogwarts abriu uma sucursal por aqui, porque tem que ser meio mágico para vestir capa preta de bruxo inglês debaixo de um calorão de 30 o C e ainda jogar quadribol sem vassoura voadora! Mas foi isso que aconteceu sábado, no primeiro encontro promovido pelos sites Pottervillage e Potterish, na Redenção. Os fãs de Harry Potter se dividiram nas casas da Grifinória, Corvinal, Sonserina e Lufa-Lufa (igualzinho aos livros). A próxima reunião da turma não tem data, mas o lugar foi escolhido: rola em Floripa a ilha da Magia! Sacou o trocadilho? (Texto escrito por Ricardo Duarte e publicado no jornal Zero-Hora, editado em Porto Alegre, RS, em 16/02/2005). O estudo que desenvolvemos, e no qual este texto se apóia, coloca em destaque temas como magia, tecnologia e ciência, sobre os quais têm sido desenvolvidas importantes discussões na contemporaneidade, valendo-se das peculiares e intrigantes considerações postas em evidência nos livros da escritora britânica Joanne Kathleen Rowling, que têm sido objeto de nossas análises. Discutir de que modo tais temas podem ser vistos como entrelaçados nos livros de Rowling ganha, ainda, maior destaque em função do estrondoso sucesso que tais livros têm alcançado em todo o mundo 1. Em uma série de sete livros, traduzidos para cinqüenta idiomas, cinco dos quais já foram editados no Brasil, tendo sido três deles transformados em filmes, a autora narra as aventuras do jovem Harry Potter um menino bruxo, de passado confuso, cujos pais morreram nas mãos de um malvado feiticeiro. Como é possível ver, a partir do excerto que transcrevemos acima, tais histórias têm mobilizado seus leitores para além da simples aquisição e leitura dos livros para entretenimento. Elas os têm instigado de 1 Segundo a Revista digital Pikflash.com (acesso 17/03/2005) já foram vendidos mais de 200 milhões de exemplares dos primeiros cinco livros da autora. Nesta mesma fonte está indicado que Rowling é, atualmente, a mulher mais rica da Inglaterra. 218 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

219 diferentes maneiras, uma das quais corresponde a sua organização em grupos e confrarias que cultuam e refazem as práticas de Hogwarts (escola de magia e bruxaria neles apresentada), não mais apenas na internet. Ou seja, queremos destacar que tal literatura tem efeitos produtivos de diferentes ordens sobre seus leitores e leitoras e a sociedade, posto que esses envolvem, tanto a produção e reafirmação de identidades e de formas culturais juvenis, formas essas que, tantas vezes, tal como indicou Hinkson (apud GREEN & BIGUM, 1995), têm assustado e desafiado os professores na condução de seu trabalho em sala de aula, quanto a criação de necessidades ligadas ao que KELLNER (2001) denomina cultura da mídia. Tal cultura, como destaca o mesmo autor (op.cit), é um setor vibrante e lucrativo da economia (que tem na propaganda um dos seus maiores suportes), que explora as tecnologias mais avançadas, que atinge dimensões globais e que funciona como uma importante pedagogia cultural 2. No que se refere aos efeitos produtivos dos livros de Jeanne Rowling, que tomamos, também, como pedagogias culturais, pode-se dizer que seus personagens transformaram-se, não apenas em atores e atrizes dos filmes que acima referimos; esses são alguns dos/as heróis e heroínas de nosso tempo, reproduzidos como bonecos/as e figuras que passaram a estampar cadernos, mochilas, roupas 3 e a serem comercializados intensa e lucrativamente. Mas, além disso, como 2 A expressão pedagogia cultural foi enunciada por autores/ as como Henry Giroux (1995), Susan Steinberg (1997), Peter McLaren (1998) e Douglas Kellner (1995 e 2001), para salientar a idéia de que a educação ocorre em uma variedade de locais sociais, incluindo a escola, mas não se limitando a ela. Como vimos reiteradamente afirmando em muitos estudos, o conceito de pedagogia cultural amplia a noção de pedagogia, permitindo que se possa entender melhor como o trabalho que ocorre nas escolas (e em outros locais convencionalmente pensados como educacionais) está articulado a outras formas de trabalho cultural. indicamos acima, eles são o elo que tem reunido jovens de diferentes bairros, cidades, e até países, em chats ou presencialmente, para discutir práticas, aspirações, procedimentos, que atuam na definição dos modos desses jovens posicionarem-se no mundo e o entenderem. OBJETIVOS DO ESTUDO, MATERIAL ANALISADO E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA Neste texto, estamos mais uma vez nos detendo no exame de uma produção cultural usualmente não legitimada para falar da ciência, da tecnologia e mesmo da magia a literatura infanto-juvenil, mas que, como já indicamos em textos anteriores (WORTMANN, 2004, ZOPPAS, TODESCHINI e WORTMANN, 2004), atua na produção de significados. Nosso interesse tem sido, então, ver como são veiculadas, e produzidas discursivamente 4, representa- 3 Na fotografia estampada no jornal Zero-Hora/RS, do qual transcrevemos o excerto que dá inicio a este projeto, todos/as os/as jovens estão vestidos como os personagens dos filmes de Harry Potter. 4 Estamos compreendo discurso, na acepção indicada por Larrosa (1994), como forças históricas que têm poder construtivo e que não apenas nomeiam objetos, seres, fenômenos, mas interferem na sua criação. Como destacou Barry Smart (In: Michael Payne, 2002) os discursos são práticas que sistematicamente formam os objetos dos quais falam. Esses agrupam idéias, imagens, e também práticas, que propiciam formas de se falar, de se conhecer e de se produzir condutas associadas a tópicos particulares, a atividades sociais, bem como a modos de se localizar os sujeitos nas sociedades tal como destacou Hall (1997).Nas formações discursivas define-se, então, o que é e o que não é adequado, bem como os conhecimentos que devem ser considerados úteis, pertinentes e verdadeiros, além das pessoas que incorporam atributos associados a tais características. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

220 ções 5 sobre tais temas nessa literatura, indicando como muitas delas ao serem enunciadas, repetidas e retomadas na literatura, nos filmes, nas críticas de jornais e revistas, nos sites, nos grupos de discussão na Internet, e até em textos de revistas de divulgação cientifica, ganham estatuto de verdades, ao deixarem de ser questionadas, promovendo-se, dessa forma, o esquecimento de que essas são produzidas culturalmente. Interessou-nos, também, ver como nessa produção discursiva, que vimos enredar ciência, tecnologia e magia, instituem-se e são colocados em circulação discursos e representações que passam a marcar (e a produzir), especialmente, os jovens de nosso tempo e as suas visões de mundo. Como destacou Donna Haraway (apud KUNZRU, 2000), os sujeitos na contemporaneidade inserem-se em uma coleção de redes (p. 30), nas quais se está constantemente fornecendo e recebendo informações ao longo da linha que constitui os milhões de redes que formam o nosso mundo (ibid). Nos valemos, ainda, neste estudo, da imagem do ciborgue, também utilizada por HARAWAY (2000), para considerarmos algumas características atribuídas à infância e à adolescência representadas em tais textos. Como ressalta HARAWAY (2000), o ciborgue é um organismo cibernético, um híbrido de máquina e organismo, uma criatura da realidade social e também uma criatura de ficção (p.40). O ciborgue é matéria de ficção, mas também de experiência vivida - ele configura a fronteira entre ficção científica e realidade social como ilusão de ótica. Ele é, também, nossa ontologia - 5 O termo representação é empregado neste texto com o significado de representação cultural, que lhe atribui Stuart Hall (1997) ao assumir a perspectiva construcionista da representação. uma imagem condensada tanto da imaginação quanto da realidade material - que nos leva, necessariamente, a lidar com a confusão de fronteiras e, ao mesmo tempo, com a responsabilidade que a construção de tal confusão nos imputa. Como a mesma autora (op.cit) ressalta, ao final do século XX, um tempo que ela considera mítico, somos todos quimeras, híbridos - teóricos e fabricados - de maquina e organismo; somos, em suma, ciborgues (p.41). Então, por isso, nos parece ser preciso considerar, tal como GREEN & BIGUM (1995), que os escolares/crianças desse tempo, que vivem em uma paisagem da informação (Wark, apud GREEN & BIGUM, 1995), são sujeitos muito peculiares. E disso decorre a importância de, à semelhança do que fazem Susan Steinberg (1997) e Valerie Walkerdine (1998), teorizar-se a infância e a juventude contemporânea como fenômenos de impressionante complexidade e contradição (GREEN & BIGUM, 1995) na presente configuração social. É nessa configuração que emerge a figura de um sujeito-estudante pós-moderno (ibid, p. 209) os estudantes que acorrem cotidianamente às nossas salas de aula, tantas vezes configurada como alienígena, como indicam os mesmos autores, por não se enquadrar no modelo de jovem/aluno definido a partir dos padrões da modernidade. Perguntamos, então: em que instâncias e processos tais sujeitos/ crianças/adolescentes/escolares se instituem como ciborgues, tal como HARAWAY (op.cit) indicou? Uma das respostas possíveis nos leva a indicar que as muitas histórias que contamos sobre eles em muitas e diferenciadas instâncias sociais os produzem ou fabricam discursivamente, sendo importante considerar, mais uma vez, ainda, que tais efeitos produtivos não se restringem apenas, a uma figura 220 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

221 de retórica e que, neste texto, estaremos nos ocupando, apenas, de uma dessas instâncias. As análises conduzidas nos Estudos Culturais acerca das formas de compreenderem-se os saberes/conhecimentos colocam em destaque como esses são produções da cultura. Como destacou HALL (1997), os significados se instauram nos diferentes momentos e práticas que compõem o que ele denomina circuito da cultura no qual se dá: a construção das identidades, a delimitação das diferenças e a sua produção, o consumo, bem como a regulação das condutas sociais. A literatura infanto-juvenil integra esse circuito nele atuando como uma importante pedagogia cultural, ao lado da televisão, dos videogames, dos filmes, dos jornais, das revistas, todos eles vistos como locais pedagógicos nos quais o poder se organiza e exercita. Nossas análises voltaram-se, então, à indicação dos significados instituídos para as identidades juvenis nos textos nessa literatura vendo-as como articuladas e imbricadas na configuração da trama na qual nela também se articulam ciência, tecnologia e magia. Nosso estudo envolveu a análise dos cinco livros de Rowling sobre as aventuras de Harry Potter traduzidos para o português: Harry Potter e a Pedra Filosofal (2000); Harry Potter e a Câmara Secreta (2000); Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2000); Harry Potter e o Cálice de Fogo (2001); e Harry Potter e a Ordem da Fênix (2003). Cabe destacar que em um primeiro momento, procedemos a uma leitura seqüencial desses livros, buscando alcançar uma compreensão geral das histórias, bem como dos personagens e das situações nelas envolvidas para logo começarmos a destacar idéias, atributos, imagens, formas de falar, posições e condutas atribuídas aos personagens e às situações narradas nas histórias. Enfim, fomos colocando em destaque alguns discursos e representações de temas e sujeitos que nos mobilizaram para a condução do estudo. Buscamos destacar, ao mesmo tempo, como foram sendo marcadas nessas histórias posições e comportamentos para os sujeitos que delas participam ora como adequados, ou não, ora como úteis, ou não etc. Cabe destacar, ainda, que tais livros falam de muitos temas, além de magia, que é certamente o foco mais destacado dessas histórias, estando entre esses, ciência, tecnologia, racismo, diferenças sociais, morte, amor, segregação dos diferentes, emancipação de trabalhadores escravizados, retomando, ampliando e reconfigurando o modo como tais temas são destacados em outras histórias infanto-juvenis e em outras produções culturais. AS ANÁLISES ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS TEXTOS E PERSONAGENS O primeiro livro, editado em 1997 na Grã- Bretanha, foi Harry Potter e a Pedra Filosofal. Nele a autora narra como Harry descobriu suas origens ao completar onze anos e como ele, logo após descobrir sua condição de bruxo, foi estudar na escola de Hogwarts, uma escola de magia e bruxaria. É também neste primeiro livro, que Harry se defronta pela primeira vez com seu inimigo Lord Voldemort. O segundo livro, Harry Potter e a Câmara Secreta (1 a ed. 1998), trata da origem da escola Hogwarts e de seus fundadores e, também, das diferenças existentes entre os Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

222 estudantes admitidos em Hogwarts alguns são bruxos puros, outros são híbridos e outros são trouxas para aprenderem a ser bruxos. No terceiro livro, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (1 a ed, 1999), o foco é a violência do cotidiano e as possíveis formas de sua contenção. O quarto livro, Harry Potter e o Cálice de Fogo (1 a ed. 2000), dá ênfase ao esporte como meio de desenvolver disciplina, concentração, estratégia e criatividade, ensinando os jovens a competirem e a lidarem com perdas, ao praticarem um dos esportes favoritos desses bruxos - o quadribol. O quinto livro, Harry Potter e a Ordem da Fênix (1 a ed. 2003), narra o 5 o ano de permanência de Harry em Hogwarts, focalizando, especialmente, a lealdade e algumas formas autoritárias de poder. Ainda é importante destacar algumas características dos personagens principais destas histórias. Harry Potter é um mestiço de bruxo e trouxa 6 (pai sangue-puro, mãe trouxa ), cujas características físicas diferem das que usualmente representam um super herói ele é um menino franzino que usa óculos e não tem amigos e que, além disso, é desajeitado e não possui uma inteligência acima da média. É um menino bruxo que herdou alguns poderes geneticamente e outros através do amor de sua mãe. Assumir a sua condição de bruxo é o grande desafio que as aventuras contadas no texto lhe destinam. Hermione é trouxa (filha de pais trouxas ), mas, apesar disso, ela é representada nas histórias como gênio. É uma amiga fiel de Harry, atuando como estrategista nos momentos de dificuldade vividos pelos amigos. Rony é um bruxo sangue-puro (filho de pais sangue-puro ) e o melhor amigo de Harry. 6 Esta é a forma como o texto refere todos os não-bruxos. Conhece bastante bem o mundo dos bruxos compartilhando com Harry todos os seus conhecimentos. Dumbledore é o diretor da escola Hogwarts, considerado o maior bruxo daquele momento, sendo amado e respeitado por todos. Minerva MacGonagall é uma das professoras da escola. Apesar de sua aparência rígida e fria é extremamente justa e também afetuosa. Severo Snape é o professor de poções mágicas; ele é carismático e misterioso. Lord Voldemort é o grande inimigo de Harry. Ele já sucumbiu uma vez na sociedade dos bruxos por sua ganância de poder e, nos episódios narrados nos livros analisados, ele volta para destruir Harry Potter, tendo em vista que ambos não podem coexistir no mesmo mundo. É interessante apontar como estes livros lidam com a estruturação da sociedade. Tanto a sociedade dos bruxos, quanto a dos trouxas podem ser vistas como equivalentes. Assim, por exemplo, a sociedade dos bruxos compreende escolas nas quais os sujeitos aprendem magia, estando essas subordinadas a um Ministério da Magia o qual também legisla sobre o comportamento dos bruxos ; além disso, os ritos, as práticas, bem como a hierarquização procedida na Escola da Magia, repetem modelos assumidos em nossas escolas contemporaneamente. Há, por exemplo, listas de livros que devem ser adquiridos em livrarias autorizadas com títulos como Transfiguração para o Curso Médio e O livro padrão de feitiços, 3 a série para o acompanhamento das aulas. Pode-se pensar que esses modelos, ao serem colocados em destaque para caracterizar modos de viver de sujeitos diferentes, misteriosos e usualmente configurados como dotados de poderes inusitados, são, dessa forma, mais uma vez legitimados. Como indicamos, inicialmente, opera-se, nessa direção, a naturalização de tais procedimentos e 222 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

223 práticas a sociedade dos bruxos repete a sociedade dos trouxas, não apresentando peculiaridades estruturais, mas, apenas, focos específicos de ação diferenciados 7. De certo modo, poderia-se dizer que, a magia está para os bruxos dessas histórias como a ciência e a tecnologia estão para os trouxas : ambas lhes permitirem acessar e aprimorar condições, bem como criar possibilidades, que lhes permitem, de muitas formas, transcender às suas condições de bruxos ou de trouxas. 7 A sociedade dos bruxos também foi invadida pelo consumo. Os bruxos gostam de praticar quadribol e este esporte é disputado em uma copa Mundial tal como sucede com o futebol. Um outro aspecto a destacar é que Harry Potter está configurado nessas histórias como um outro, como diferente, como uma alienígena, ou, ainda como um ciborgue (neste caso um misto de homem e mago) e que, por conta disso, ele sente um profundo desconforto ao relacionar-se com seus tios e primo trouxas, que igualmente o configuram assim. Esta diferença, o ser bruxo, no entanto, não lhe é apenas conferida por sua herança genética; ela também está configurada no texto das histórias como decorrente das interações e das aprendizagens culturais que se dão, especialmente, na escola que freqüenta. Enfim, como as histórias marcam, mesmo que ele possua aptidões para se tornar um bruxo é necessário que ele aprenda a ser bruxo e, para tanto, ele precisa freqüentar a escola, que ganha, nesse sentido, a conotação de instituição necessária ao fornecimento, tanto de aprendizagens que habilitam e fornecem certificações para trouxas quanto para bruxos. Aprender magia, tal como aprender ciência e outros saberes é o que a escola (e instituições semelhantes a ela) oferece. Caso Harry não aprenda a ser bruxo, ele ficará condenado ao desconforto e à inquietude de nunca chegar a ser aquilo que poderia ter-se tornado, tal como se afirma suceder àqueles que abandonam ou não freqüentam a escola. E essa é uma das lições morais que essas histórias contêm. E é por conter marcações como essa, que consideramos tais histórias como implicadas na produção e na reprodução de identidades e de formas culturais estudantis. Um outro aspecto que nos interessou destacar refere-se a situações em que artefatos do mundo criado como sendo magia, nos textos de Rowling, aproximam-se de artefatos tecnológicos, sendo que, além disso, os textos os apresentam valendo-se de jargões bem próprios à publicidade. Entre esses artefatos estão, por exemplo, o firebolt e os onióculos. A firebolt é descrita como uma espécie de vassoura sofisticada, muito apropriada à prática do quadribol fabricada com tecnologia de ponta. Ela possui um cabo de freixo, superfino e aerodinâmico, acabamento com resistência de diamante e número de registro entalhado na madeira. As cerdas da cauda, em lascas de bétula selecionadas à mão, foram afiladas até atingirem a perfeição aerodinâmica, dotando-a de equilíbrio insuperável e precisão absoluta. A Firebolt atinge 240 km/h em dez segundos e possui um freio encantado de irrefreável ação. Cotação a pedido (Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, p.47 e 48). No texto a firebolt é descrita como um dos sonhos de consumo de Harry. Já os onióculos são poderosos binóculos de latão cheios de botões estranhos que permitem acompanhar o lance {nas partidas de quadribol}...passar ele em câmara lenta...e ver uma retrospectiva lance a lance, se precisar...(harry Potter e o cálice de fogo. p.78). Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

224 Enfim, também os bruxos se deliciam e se deixam encantar por novidades bem próprias e assemelhadas aos artefatos tecnológicos televisões digitais, celulares que permitem fotografar que vem mobilizando e encantando os cidadãos nas chamadas sociedades de consumo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como salientaram CARY NELSON et al. (1995), discutir as produções e os efeitos da cultura é central para o campo dos Estudos Culturais, campo no qual nos inspiramos para a organização deste texto que está centrado na análise de histórias infanto-juvenis de Jeanne K. Rowling. Destacamos que as considerações que aqui fazemos são de natureza introdutória, por não darem conta da riqueza de situações relacionadas aos temas que buscamos focalizar a partir das análises que realizamos sobre tais histórias. Cumpre, no entanto, que seja indicada a legitimação que essas conferem ao modo de funcionamento das sociedades contemporâneas, bem como às suas práticas, códigos e instituições a escola, os certames esportivos, os Ministérios, por exemplo, são algumas dessas instituições. Ou seja, o mundo da magia, não é tão diferente, assim, do mundo dos trouxas! Interessantes são também as representações de jovens nelas contidas e os modos como esses são hierarquizados a partir de suas origens genéticas, aspecto que não está nelas configurado, no entanto, como uma barreira intransponível no que tange às suas aprendizagens: Harry, apesar de híbrido pode se tornar um bruxo ; basta para tanto, que ele domine as habilidades que passarão a lhe permitir exercer seus poderes! E isso é matéria a ser ensinada nas diferentes escolas as quais os bruxos podem ter acesso. Os jovens bruxos podem ser vistos como os alienígenas referidos por GREEN & BIGUM (1995), ou como os ciborgues dos quais nos fala HARAWAY (2000), sujeitos esses que representam os jovens (e sob o ponto de vista de Haraway, 2000, a todos os humanos os trouxas dessas histórias). Seus poderes não usuais lhes são conferidos pelos aparatos (varinhas, cremes, poções etc) dos quais se valem para realizar suas magias. Mas, a partir do que considerou HARAWAY (2000), nós, humanos, somos todos ciborgues ao vivermos em um mundo de redes entrelaçadas, redes que são em parte humanas, em parte máquinas; complexos híbridos de carne e metal que jogam conceitos como natural e artificial para a lata do lixo. Enfim, como também destaca essa autora (op.cit), os ciborgues não se limitam a estar a nossa volta, eles nos incorporam. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GIROUX, Henry. Praticando estudos culturais nas Faculdades de Educação. In: SIL- VA, Tomaz Tadeu (Org.). Alienígenas na sala de aula. Petrópolis: Vozes, GREEN, Bill; BIGUM, Chris. Alienígenas na sala de aula. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, HALL, Stuart. The work of representation. IN: HALL, Stuart. Representation: cultural representations and signifying practices. London:Thousand Oaks; New Delhi: Sage/ The Open University, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

225 HALL, Stuart; DuGAY, Paul. (Eds.). Questions of cultural identity. London: Sage, KELLNER, Douglas. A cultura da mídia Estudos Culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, KELLNER, Douglas. Lendo imagens criticamente: em direção a uma pedagogia pós-moderna. IN: SILVA, Tomaz Tadeu (Org). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, KUNZRU, Hari. Genealogia do ciborgue. In: SILVA, Tomaz Tadeu.(Org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-moderno. Belo Horizonte: Autêntica, KUNZRU, Hari. Você é um ciborgue : um encontro com Donna Haraway. In: SILVA, Tomaz Tadeu.(Org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-moderno. Belo Horizonte: Autêntica, LARROSA, Jorge. Tecnologias do eu e educação. In: SILVA, Tomaz Tadeu(Org.). O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, HARAWAY, Donna Jeanne. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismosocialista no final do século XX. In: SILVA, Tomaz Tadeu.(Org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-moderno. Belo Horizonte: Autêntica, NELSON, Cary; TREICHLER, Paula A; FROSSBERG, Lawrence. Estudos Culturais: uma introdução. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Alienígenas na sala de aula. Petrópolis: Vozes, STEINBERG, Shirley. Kindercultura: a construção da infância pelas grandes corporações. In: SILVA, Luís Heron. Identidade social e a construção do conhecimento. Porto Alegre: PMPA/SMED, WORTMANN, Maria Lúcia Castagna. Uma leitura da ciência (e também da natureza) a partir da literatura infantil. In: I SEMINÁ- RIO PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO, SABERES E FORMAÇÃO DOCENTE, 1.; CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL (COLE), 14., 2003, Campinas. Texto apresentado em mesa-redonda... Campinas: UNICAMP, (No prelo). WORTMANN, Maria Lúcia Castagna. A natureza e a literatura infanto-juvenil. In: ANPED SUL - PESQUISA EM EDUCAÇÃO E COMPROMISSO SOCIAL, 5., 2004, Curitiba. Anais... Curitiba: PUC/Paraná, (CD-ROM). WORTMANN, Maria Lúcia Castagna. Análises Culturais: um modo de contar histórias que interessam a educação. In: COSTA, Marisa Cristina Vorraber. Caminhos investigativos II. Rio de janeiro: DP& A., ZOPPAS, Isabel Cristina; TODESCHINI, Caroline Roberta; WORTMANN, Maria Lúcia Castagna. Divulgação científica na literatura infanto-juvenil um exame das representações de natureza na obra de Angelo Machado. Revista de Iniciação Científica da ULBRA, Canoas: Ed.ULBRA, n.2, p , Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

226 LIVROS ANALISADOS ROWLING, J. K. Harry Potter e a pedra filosofal. Presença, p. (HPPF) ROWLING, J. K. Harry Potter e a câmara secreta. Presença, p. (HPCS). ROWLING, J. K. Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban p. (HPPA). ROWLING, J. K. Harry Potter e o cálice de fogo p. (HPCF). ROWLING, J. K. Harry Potter e a ordem da Fênix p. (HPOF). 226 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

227 Psicopatologia na infância: relações entre sintomatologia da criança e vínculo com cuidadores ROSELAINE LONDERO MOSSATTI1 MARTHA MARLENE WANKLER HOPPE 1 RESUMO Este estudo tem como objetivo analisar a psicopatologia na infância e as relações familiares tendo como objetivo avaliar a relação entre a sintomatologia da criança e a estrutura dos vínculos familiares. Foi utilizada uma metodologia de estudo de casos múltiplos com entrevistas clínicas e observação naturalística no ambiente familiar. O estudo analisou oito casos de crianças entre quatro e dez anos com sitomas psicopatológicos. A análise dos resultados revelou que os sintomas das crianças refletiam conflitos de seus pais ou cuidadores, numa repetição da experiência cuidador-cuidado, da história de vida dos pais. Concluímos que as funções parentais operam diretamente nas manifestações psicopatológicas das crianças, podendo incluir gerações anteriores. Palavras-chave: psicopatologia da infância, vínculos familiares, funções parentais. ABSTRACT This study s objective is to analyze the childhood psychopatology and the family relationships, looking for connections between the symptomathology of the child and the structure of their familiar links. It was used the 1 Acadêmica do Curso de Psicologia/ULBRA-GUAÍBA - Bolsista PROICT/ULBRA 1 Professora Orientadora do Curso de Psicologia ULBRA/ GUAÍBA (mwhoppe@terra.com.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

228 multiple-case design with clinical interview and naturalistic observation. The study analized the cases of eigth childreen between four and ten years old with psycholopatological symptoms. Analyzing the results showed that the symptoms of the children reflected the conflicts of their parents and responsibles, with the repetition of experiences of taking care of and beeing taken care of, of their parents life. We concluded that the parental functions operate directly on the psychological expressions of the children and can include earlier generations. Key words: childhood psychopatology, family relationships, parenthood. INTRODUÇÃO A relação família e psicopatologia vem sendo analisada através duas formas: de um lado a psicopatologia sendo associada aos vínculos primários estabelecidos com a criança desde seu nascimento; de outro, como resultado de um processo contínuo de interação e vinculação com a mãe, pai e irmãos. A teoria psicanalítica nos indica que a estruturação da personalidade ocorre atrevés da introjeção de modelos de identificação primários e de vinculação afetiva desenvolvidos nos três primeiros anos de vida da criança (BERENSTEIN, 1988; 1989). Por outro lado, a psicopatologia do desenvolvimento preconiza que a existência de vínculos primários negativos não é, por si só, determinante no surgimento de sintomas psicopatológicos na criança. A relação estabelecida em família, na forma como se constiutem os vínculos pais-filhos e entre irmãos, na atualidade, podem vir a favorecer situações de risco e de proteção para o surgimento de sintomas e trantornos psicopatológicos. Assim, a psicopatologia vem sendo investigada paralalelamente ao desenvolvimento normal de crianças, adolescentes e adultos com o objetivo de melhor compreender os diversos aspectos correlações e causalidades - que contribuem para o desenvolvimento das diversas psicopatologias. COWAN & COWAN (2002) apresentam um levantamento sobre os principais aspectos que relacionam a psicopatologia na infância e adolescência com as relações familiares. Apontam o resultado de correlações consistentes encontradas entre aspectos do comportamento dos pais e níveis de desenvolvimento dos filhos pequenos estágios cognitivos-, ou de adaptação depressão, agressão em filhos maiores e adolescentes. Quando os pais são calorosos, responsivos, estruturados, oferecem limites ambientais e garantem aos seus filhos uma autonomia apropriada à faixa etária (pais com autoridade), suas crianças ou adolescentes apresentam maior eficiência no desenvolvimento acadêmico e social, com menores indicadores de problemas de comportamento, em comparação com pais que apresentam-se permissivos (desligados) ou autoritários e punitivos (que oferecem limites sem um acolhida calorosa). Um segundo conjunto de aspectos associados a respostas desadaptadas dos filhos foi associado a conflitos conjugais não resolvidos, independente do casal ser separado ou manter uma relação marital estável. Um terceiro conjunto de condições apontam para uma conjunção dos primeiros dois, registrando que pais maritalmente angustiados, um ou ambos, apresentam maior probabilidade de lidarem com seus filhos com descaso ou autoritarismo. 228 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

229 Em relação às intervenções em famílias de baixa renda, COWAN & COWAN (2002) apontam estudos com mães de alto-risco, que participaram de programas envolvendo visistas regulares de técnicos da área da saúde durante os dois primeiros anos de vida dos bebês. Os resultados foram satisfatórios em relação ao grupo de controle (mães que não participaram do programa). A avaliação de seguimento (follow up) realizadas até quinze anos após registrou menor índice de comportamento criminal, de faltas à escola e de abuso de substâncias em crianças filhas das mães que participaram do programa. Constatou-se em outros programas semelhantes resultados menos satisfatóiros quando realizados por pára- profissionais, isto é, melhores resultados quando conduzidos por profissionais da área e estudantes de graduação. Os autores apontam que a separação conjugal eleva os riscos de externalização de problemas acadêmicos e de conduta em crianças por um período de dois anos. Estudos de intervenção com crianças, filhos de pais separados, apresentaram melhores resultados quando incluíam sessões com o pai que não permaneceu com a guarda do filho, além daquele com quem a criança vivia. Da mesma forma, intervenções com adolescentes que apresentavam conduta agressiva obtiveram melhores resultados quando incluíam orientação aos pais. Em contrapartida, pais deprimidos são mais suscetíveis de terem filhos com depressão por apresentarem cuidados paternais e maternais comprometidos. Assim, programas e intervenção para crianças deprimidas e agressivas devem incluir atendimento aos pais, que, em geral também apresentam algum tipo de psicopatologia. Com a constatação deste estudo acerca dos recentes achados sobre resultados de programas de intervenção com crianças e famílias na prevenção de transtornos psicopatológicos na infância e adolescência, buscamos situar esta pesquisa para proporcionar subsídios de intervenção às famílias cujos filhos apresentam problemas. A partir dos conceitos acima descritos, este estudo propôs-se à identificação de padrões estruturais e vínculos das famílias atendidas na Clínicaescola da ULBRA Campus Guaíba CESAP. Especificamente, foram analisados os aspectos estruturantes do grupo familiar que incluem a forma de comunicação entre os membros da família dos saberes, acontecimentos passados e presentes, atitudes frente a fatos novos e o exercício das funções maternas e paternas. A análise do discurso familiar partiu de seu valor sincrônico, como fenômeno determinado no momento, para a compreensão da transmissão de sua história, de seu valor diacrônico, considerado pela sua evolução no tempo. MATERIAL E MÉTODOS A metodologia de escolha foi a qualitativa, na forma de estudo de casos múltiplos (YIN, 1993). Cada caso foi tomado como replicação, ou seja, como um experimento a ser reconsiderado, e não como múltiplas respostas de uma mesma pesquisa. O caso de cada criança foi analisado através de procedimentos qualitativos de observação e registro de intervenções clínicas de avaliação e psicoterapia. Participaram deste estudo oito crianças entre 4 e 10 anos: quatro meninos e quatro meninas. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

230 Receberam atendimento na forma de avaliação ou tratamento psicoterápico na Clínica escola da ULBRA Campus de Guaíba. Os caso foram selecionados a partir de seu ingresso no serviço de psicologia, dentro da faixa etária prevista. Os dados foram coletados através de dois intrumentos: entrevistas clínicas com o conjunto familiar na clínica escola e observação da familia no lar (DESSEN & MURTA,1997; ROBSON, 1993). As famílias foram contatadas através da Clínica-escola da ULBRA Campus Guaíba e convidadas a participar do estudo através de uma comunicação verbal e, posteriormente, de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As observações foram realizadas dentro do procedimento de avaliação, através de uma visita à residência da família. As observações foram registradas pelo pesquisador no momento da visita. As entrevistas foram transcritas integralmente. As informações foram utilizadas para a análise da sintomatologia da criança e da relação com seus pais. A devolução dos dados ocorreu nas entrevistas de devolução aos pais, durante o atendimento. Os dados foram analisados através de um processo indutivo, isto é, após uma definição da situação ou do fenômeno de interesse e de uma explanação das expectativas iniciais procede a integração com a situação que ilustra a expectativa. As evidências ou provas foram apresentadas em premissas que fundamentaram os argumentos e suas justificativas. Os argumentos foram analisados por causalidade e por analogias. Neste procedimento de análise, os enunciados resultantes abrem a possibilidade de construção de novos argumentos, quando diante da ausência de relações justificáveis. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados foram agrupados pela identificação do caso, motivo do atendimento, sintomas sontomas observados, configuração familiar, situação atual e passada. Do registro das observações foram selecionadas categorias: quem eram os membros do grupo familiar - identificados pelo tipo de relação ou proximidade; como era espaço familiar de convivência entre estas pessoas; como se estabelecia a cotidianidade dos contatos; como se caracterizava a relação de cuidado com outro, inerente a esta relação de convivência familiar; de que forma se apresentavam as expressões de comunicação verbal e não-verbal, agressividade, sexualidade, ordem e limpeza, além das manifestações lúdicas da criança. Considerou-se as condutas observadas quanto a sua antecipação, ordenação e manifestação. A antecipação foi identificada através das preocupações dos pais ou cuidadores com as respostas das crianças ao oferecer a alimentação, realizar cuidados de limpeza, manifestar agressividade e sexualidade, desenvolver o brinquedo e estabelecer relações de cuidados e trocas verbais. Esta antecipação foi observada na forma como os pais direcionam as ações dos filhos para vivências que acabam sendo estimuladas. A ordenação compreendeu a forma como os pais ou cuidadores conduziam as respostas da criança e reforçavam suas manifestações. A manifestação foi considerada o conjunto de interações pais-cuidador-criança que se repetiam e reforçavam a antecipação. Os sintomas identificados nas crianças no momento do atendimento foram: agressividade, atra- 230 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

231 so no desenvolvimento da linguagem, dificuldades de interação, reações de passividade alternadas com reações agressivas, conduta agitada e agressividade, desatenção, pouca interação, apatia e depressão. As alterações na conduta e dificuldades de interação foram mais referidas pelos pais, sendo considerados sintomas menos tolerados. O caso apresentado a seguir refere-se à menina Ana (nome fictício), de 4 anos que foi encaminhada para ser acompanhada devido às frequentes crises de birra que apresentava. CASO 4: Ana, 4 anos Motivo do encaminhamento para atendimento: Crises de birra, brigas entre o casal após a separação e discordância na educação da filha. Sintomas observados na criança: Crises de agressividade, intolerância à frustração. Dificuldade de interação por ansiedade e agressividade. Configuração familiar: Avós paternos e pai em uma residência; Mãe, padrasto e uma irmã de um ano (do segundo casamento da mãe) em outra residência. Situação atual da criança: Mãe solicita a guarda pois não consegue adequar-se à guarda compartilhada, proposta inicialmente. Mora uma semana com o pai, que reside na família de origem (avós paternos de Ana) e uma semana com a mãe (que casou e tem uma filha de um ano e meio). Avós paternos tratam como bebê, alcançam tudo o que pede e nada exigem dela. Mãe é ansiosa e exigente, brigando e mostrando-se irritada com a filha. A interação é pobre, limitando-se ao atendimento de exigências (de Ana quando está na casa dos avós paternos, e da mãe, quando Ana está em sua casa). Dados significativos da história: Mãe engravidou durante o namoro, quando residiam na casa da família paterna. Pai não manifestou desejo de sair do lar e mãe decide morar com seus pais.desentendimentos durante a gravidez e separação. Ao nascer a menina começaram as brigas pela educação da mesma. Pai é controlado e cuidadoso, mãe é mais displicente. Famílias de origem influenciando fortemente a dupla. Não conseguem decidir sobre a educação da menina. Surgem as primeiras discussões, que levaos a procurar a justiça para tratar da questão. A menina passa a viver duas semanas com o pai e os avós paternos e duas semanas com a mãe e os avós maternos. A mãe casa-se novamente e engravida. Tia materna com dependente química em abstinência (cocaína). Grupo Espaço Cotidianidade Cuidado com o outro Comunicação verbal Alimentação Limpeza Agressividade Sexualidade Brinquedo OBSERVAÇÃO NATURALÍSTICA NA CASA MATERNA Padrasto, mãe biológica, filha do casal de 1 ano e meio e Ana, filha materna. Casa de alvenaria pequena: 2 quartos, sala e cozinha acopladas, 1 banheiro. A cada semana alternada, Ana convive com sua mãe, o padrasto e sua meia-irmã. Permanece todo o dia em casa com a mãe e irmã. A mãe ansiosa, fala bastante e preocupa-se em fazer tudo corretamente. Está mais voltada para as práticas de cuidado, não direcionando atenção individual para as filhas. Poucas trocas verbais mãe-filha. Mãe usa atitude impositiva para afirmar-se diante da filha. Menina permanece calada e acata as ordens maternas. Ana recebe alimentos a toda a hora. Consome guloseimas, com preferência para brincar sobre a sua cama. Há preocupação com a limpeza e asseio corporal. Não há limitação às manifestações da menina. Mãe critica e desqualifica o pai biológico dizendo que ele não desejava a filha. Mãe manifesta preocupação com a individualidade do quarto das filhas. Demonstra saber o que é adequado em relação à intimidade. Não foi observada atividade lúdica. A menina apenas manipulou objetos da casa e alimentos. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

232 Grupo Espaço Cotidianidade Cuidado com o outro Comunicação verbal Alimentação Limpeza Agressividade Sexualidade Brinquedo OBSERVAÇÃO NATURALÍSTICA NA CASA PATERNA Avó e avô paternos, pai e Ana. Casa alvenaria pequena: 2 quartos, sala e cozinha acoplados, 1 banheiro Permanece a maior parte dentro de casa com a avó paterna. Avô é segurança de trabalha tarde e noite. Pai trabalha durante todo o dia e sai à noite. Os cuidados e atenções giram em torno de Ana, que recebe atenção constante da avó e é atendida em todos os seus pedidos. Expressa-se mais verbalmente que na casa materna e a avó paterna a atende sem exigência alguma. Ana interagia com uma menina da vizinhança e reproduziu a comunciação unilateral de impor seus desejos, comandar a situação e deixar a companheira numa condição passiva. Consome bolachas e mamadeira com freqüência, preferindo brincar e comer sobre a cama dos avós. Preocupação com a limpeza: avó ensina a tomar mamadeira e limpar os utensílios. Observou-se que a menina vai ao banheiro e a avó puxa a descarga e não é orientada pela avó a lavar a as mãos. Não há limitações às imposições e exigências da menina. Avó paterna passa maior parte do tempo com ela, atendendo suas solicitações. Ana dorme no quarto dos avós, Foi observada interagindo com ua amiga da vizinhança. Manifestou pouca interação com amiga. Exibia seus brinquedos e deixava a amiga apenas olhando. Brincou sozinha com suas bonecas deixando a amiga de fora da brincadeira. Reproduzindo no brinquedo a forma unilateral de comunciação. Não escuta ordens, apenas determina. CASO 5 Luiz, 8 anos. Motivo do encaminhamento para atendimento: Desatenção em sala de aula, falta de ânimo, apatia. Sintomas observados na criança: psoríase, enurese noturna, crises de agressividade com reações de fúria, idéia de suicídio. Configuração familiar: Pai e mãe (ele com 36 e ela com 29 anos), filha de 1 ano e 8 meses, e Luiz de 8 anos. Avó paterna. Situação atual da criança: Frequenta a escola pela manhã e permanece em casa durante a tarde. Dados significativos da história: Ao nascer, mãe refere: ele gritava quando eu me distanciava... fumei toda a minha gravidez. Em casa, é descrito pela mãe da seguinte forma: Ele fica muito bravo com tudo. Chuta as paredes, os móveis. Tudo, tudo dentro de casa está estragado e com marcas devido às brabezas dele....é malvado com os primos. A psoríase aparece quando ele está brabo. Nascimento da irmã: mãe ficou depressiva antes do nascimento da filha e durante o puerpério: Eu fiquei esgotada. Na escola, as professoras comentam que ele é muito quieto, sem ânimo, não faz as tarefas e não tem energia. Grupo Espaço Cotidianidade Cuidado com o outro Comunicação verbal Alimentação Limpeza Agressividade Sexualidade Brinquedo OBSERVAÇÃO NATURALÍSTICA Mãe, pai, filho Luiz de 8 anos, filha de 1 ano 8 meses. Avó paterna reside em terreno conjugado. Casa de alvenaria pequena de 4 peças: sala, cozinha, quarto e banheiro. Pai trabalha durante o dia. Mãe passa o dia em casa com os filhos. Avó paterna é vizinha de fundos. Luiz cuida da irmã. Avó paterna cuida de Luiz e da irmã. Mãe fica envolvida com a casa. Nenhuma troca verbal observada entre mãe e filho. Avó paterna estimula aproximação e trocas verbais. Avó agrada com doces e prepara refeições. Mãe não demonstra preocupação com alimentação dos filhos. Não há manifestações diretas à limpeza. Preocupação da mãe com a agressividade do filho e com sua própria. Mãe espanca o filho. Menino falou no desejo de matar-se. Psoríase surgiu com o nascimento da irmã e após crises de fúria. Pais e filhos dormem no mesmo quarto. Mãe preocupa-se com as brincadeiras entre meninos. Corre com a bicicleta: o prazer está na velocidade. Preocupação em manter distância do observador. Pais não participam de brincadeiras. 232 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

233 Relação de casos pesquisados: Ricardo, de 4 anos, com conduta agressiva e família enfrentando separação conjugal; Carina de 5 anos, vítima de maus-tratos pela mãe e desenvolvimento deficitário; Maria de 4 anos, com ansiedade e conduta agitada, vivendo com uma guardiã após acusação de negligência por parte da mãe biológica; Pedro, de 10 anos, fuga de casa, conduta instável, apatia, depressão e dificuldades de interação e concentração, vivendo com a mãe após uma separação conjugal tumultua por brigas; João, de 7 anos, vítima de uma tentativa de filicídio e vivendo com a família da tia materna. A partir da sintomatologia da criança foram realizadas relações entre a estrutura psicopatológica da criança e a estrutura dos vínculos familiares e funções parentais. A relação sintoma da criança função parental exige a formulação de argumentos que evidenciem a causalidade e permitam novas formulações a partir destas constatações: PROBLEMAS DE CONDUTA E AGRESSIVIDADE Os casos analisados com sintomas de fuga de casa, tendência à transgressão e baixa tolerância à frustração com crises de birra, foram observados em cuidadores pouco comunicativos, distantes ou com excessiva proteção sobre a criança. Casais em constante conflito revelavam abandono da função parental e queixas constantes dos filhos. Estes casais não conseguiam estabelecer um padrão de conduta acolhedor, tolerante e caloroso em relação ao filho ou filha. O pai ou mãe mostrava-se exigente em relação ao desempenho da criança: acadêmico e em relação à permanência junto a ele. Esta demanda paterna e materna revelava ser uma sobrecarga para as crianças que vinculavam-se a pessoas da rede de apoio: avós, babás ou irmãos mais velhos para compensar o distanciamento dos pais ou seu controle excessivo. Observou-se que estes pais mantinham os resquícios de relação fortemente narcísica estabelecida durante a união conjugal, que não permitia o investimento amoroso num terceiro, no caso, um filho. O filho desta união permanecia como um outro sem lugar próprio na relação familiar. Ao mesmo tempo o uso de mecanismos projetivos pelos pais, conforme aponta MARCELLI(1998), favorece uma modalidade de comportamento no filho denominada reação projetiva. Este comportamento é marcado por instabilidade, exteriorização do sofrimento acusando os outros, agressividade externa, além do estabelecimento de relações fundadas na chantagem e na manipulação. Observamos estas reações em quatro dos oito casos analisados, incluindo o caso de Ana, acima descrito. PROBLEMAS AFETIVOS E ANSIEDADE A depressão na criança foi observada no caso de Luiz, como um sintoma paralelo ao estado depressivo materno. Neste caso foi associado às seguintes condições: pobreza de contato com a mãe, reação à situação de indiferença da mãe ou como resultado do processo identificatório, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

234 diante do transtorno depressivo materno. MARCELLI (1998) aponta estes fatores encontrados neste caso: identificação com o genitor, sentimento de uma mãe inacessível, contato genitor-filho medíocre, pouca ou nenhuma estimulação afetiva. A ansiedade foi observada como uma forma de reação à condição depressiva materna, no caso de Luiz. A ansiedade associase a uma irritabilidade e agitação motora e acompanha as reações maternas de irritabilidade no trato com o filho, através de gritos ou espancamento. Neste caso, observou-se depressão e idéias de suicídio no menino associadas a explosões de agressividade no lar. A mãe refere episódios depressivos e crises de agressividade, como o espancamento dos filhos. A convivência com a mãe depressiva levou o menino a manter consigo o estado emocional que compartilhava com esta, apresentando apatia e desânimo na escola, além de reproduzir na relação com a mãe as agressões sofridas. Constatamos que Ana reproduz a estrutura vincular estabelecida com a mãe de dominação e obediência. Diante dos gritos e exigências da mãe, cala-se e obedece; diante da excessiva proteção da avó paterna exige e fala de dorma impositiva. A ansiedade foi observada em Ana, diante das crises de birra descritas pela mãe e consideradas pouco importantes pela avó paterna. Durante o processo de separação dos pais, as crises se intensificaram, revelando a falta de um consenso na determinação de limites à menina. Posteriormente, passou a manifestar maior controle, porém, foram observadas expressões de franca intolerância nas relações com iguais, como observou-se no brinquedo. Nos casos analisados, a figura paterna exercia uma função de equilíbrio que mostrava-se pouco evidente e até desqualificada. Pais que residiam na família de origem delegavam o cuidado de seus filhos para a mãe (avó paterna). Observou-se que o afeto direcionado por diversos cuidadores gerava confusão em crianças pequenas e era tolerado com sofrimento pelas crianças mais velhas. HIPERMATURIDADE No caso de Carolina, de 5 anos, atendida após ter sido afastada de sua mãe por sofrer maustratos físicos e psicológicos: era espancada e obrigada a mendigar. Observamos reações de extrema adaptação. A menina referia-se à mãe pelo nome, afirma que apanhava muito dela, mas recusava-se a seguir falando de seus sentimentos sobre o período em que esteve sob seus cuidados. Na observação, Carolina mostrou-se alegre, comunicativa com a família cuidadora (avó paterna) que estavam presentes e com o primo, com quem brincava. Chamou a atenção sua forma de brincar: manipulava as bonecas com extremo cuidado, reproduzindo no faz-de-conta uma relação mãe-filha de proteção (cuidados de saúde), carinho (aconchego das bonecas) e conselhos de não brigar com as irmãs (as duas bonecas com a qual brincavam). Estas reações refletem um esforço para controlar a experiência traumática encarregando-se de si (MARCELLI, 1998) e reinvestindo de modo maciço seu próprio Eu. Constatou-se que Carolina era cuidada pela irmã de sete anos que preocupava-se em protegê-la. O fato de receber atendimento psicoterápico logo após o afastamento da casa materna pode ter funcionado como um mecanismo de proteção e afrouxamento da reação de sobre-adaptação. 234 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

235 PROBLEMAS ATENCIONAIS As crianças que apresentavam dificuldades de atenção e concentração tinham associadas, alterações afetivas e de conduta, em famílias com depressão materna e conflitos entre os pais. No caso de Luiz, de 8 anos, foi associado, neste estudo à depressão e agressividade da mãe. Em outro caso, de Pedro, de 10 anos, a situação conflitiva dos pais durante e após a separação exacerbou a ansiedade e consequente distraibilidade. Em nenhum dos casos foi confirmado diagnóstico de transtorno por déficit de atenção. ATRASOS NA LINGUAGEM As crianças com atraso na linguagem, que participaram deste estudo, tinham passado por separação e abandono de seus cuidadores na primeira infância. No caso de Carina, de 4 anos, a inconstância do vínculo materno em conseqüência dos diversas vezes abandonos nos dois primeiros anos de sua vida da menina, associava-se ao contato paralelo, neste dois primeiros anos de vida, com uma mãe substituta que permitia os maus-tratos da mãe biológica e que mostrava-se ambivalente para assumi-la como filha. Esta alternância de cuidadores também foi observada no caso de Ana que residia uma semana na casa paterna e uma semana na casa materna. Mesmo tendo a presença constante dos cuidadores este se alternavam com freqüência. Crianças pequenas são mais vulneráveis a mudanças de cuidadores, o que justifica a maior dificuldade para estabelecer vínculos significativos que geram manifestações simbólicas verbais. Acrescenta-se que os adultos cuidadores estabeleciam poucas trocas verbais com estas crianças. SINTOMAS PSICOPATOLÓGICOS DA CRIANÇA: DIFERENÇAS NA ESCOLA E NA FAMÍLIA Os sintomas registrados pela escola e identificados pela professora, em nosso estudo, nem sempre corresponderam a percepção que a mãe tinha da criança no convívio no lar. O caso de Luiz, de 8 anos, revela que o motivo pelo qual a mãe levou-o para consulta brabeza e explosões de fúria - não coincidiu com a queixa da escola apatia, falta de ânimo, idéia de suicídio. No caso de Pedro, de 10 anos, a conduta de fuga de casa foi mais relevante e preocupante para a mãe que as dificuldades acadêmicas de desatenção e falta de concentração no estudo. Observa-se que os conflitos entre pais e filhos repercutem diretamente na adaptação social e educacional da criança. No caso de Pedro, a relação com a mãe era marcada por pobreza nas trocas afetivas e uma orientação voltada para o desempenho de tarefas. DISPUTA JUDICIAL POR FILHOS: UMA FORMA DE ABANDONO As crianças cuja guarda era disputada na justiça, como o caso de Ricardo, de 6 anos, Carina de 5 anos e Ana, de 4 anos, apresentavam manifestações regressivas, tais como, atraso na linguagem, dificuldade de interação no Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

236 jogo, reações de isolamento oscilando com manifestações de imposição e agressão no trato com terceiros. Estes sintomas também são associados a crianças negligenciadas e vítimas de abandono por seus cuidadores (MARCELLI, 1998). O caso de Carina mostra com mais evidência que a disputa pela filha é uma forma de vinculação ambivalente que marca um cuidado, enquanto abandono (HOPPE, 2002). Ricardo recebeu a acolhida do pai que precisou superar suas dificuldades de envolvimento e assumi-lo durante a avaliação no serviço de psicologia. O menino, apesar de seus 4 anos, pode solicitar a interação com o pai e manifestar a recusa de contato com a mãe (de quem era vítima de espancamento) de forma espontânea e sem coerção. CONCLUSÕES E NOVAS CONSIDERAÇÕES Não é possível estabelecer relações causais definitivas por simples associações, considerando a complexidade de fatores que intervém na constituição da personalidade do indivíduo, entretanto, as relações estabelecidas entre as intervenções no meio familiar e a redução dos sintomas das crianças apontam para a necessidade de melhores avaliações do ambiente familiar e sua relação a condição psicopatológica na infância. O trabalho de COWAN & COWAN (2002) enfatiza a modificação e manutenção da melhora dos sintomas de crianças cujas famílias foram acompanhadas em suas residências por técnicos especializados. As hipóteses resultantes deste estudo são importantes para direcionar intervenções que permitam o controle e superação de sintomas psicopatológicos da infância e que incluam a mobilização e participação ativa da família. Concluímos que os cuidados terapêuticos não devem ficar restritos à criança e devem incluir intervenções no ambiente familiar ou naqueles ambiente que oferecem algum tipo de cuidado à criança, como a casa de tios, avós, vizinhos, amigos, além de instituições educativas. O atendimento psicológico a crianças deve incluir uma avaliação do meio familiar em que esta vive, compartilha seu cotidiano e recebe direcionamentos por parte de adultos ou cuidadores. Sem esta percepectiva, a atenção à criança fica dimensionada às manifestações daqueles que a conduzem ao atendimento, extendendo o tempo de avaliação e limitando a compreensão da situação psicopatológica que apresenta. A intervenção na família por profissionais ou estudantes da graduação, através de observação participante ou não participante, favorece o diagnóstico e indicação terapêutica, e, consequentemente, permite uma resposta terapêutica mais eficaz. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERENSTEIN, Isidoro. Ampliaciones hacia la psicopatologia. In: Psicoanalizar una familia. Buenos Aires: Paidós, p BERENSTEIN, Isidoro. O grupo familiar é um sistema com uma estrutura inconsciente. In: Família e doença mental. São Paulo: Escuta, p COWAN, P. A.; COWAN, C. P. Interventions as tests of family systems theories: marital and family relationships in children s development 236 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

237 and psychopathology. Development and Psychopathology, v.14, p , DESSEN, Maria Auxiliadora; MURTA, Sheila Giardini. A metodologia observacional na pesquisa em psicologia: uma visão crítica. Cadernos de Psicologia, v.1, p.47-60,1997. HOPPE, Martha Wankler. A psicopatologia na disputa pela guarda de um filho Tese (Doutorado em Psicologia do Desencolvimento) Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, MARCELLI, D. Manual de Psicopatologia de Ajuriaguerra. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, ROBSON, Colin. Observational Methods. In: Real World Research. Oxford: Blackwell, YIN, R. K. Applications of case study research. Londres: Sage, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

238 238 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

239 Rindo de professores(as): um estudo do humor sobre a docência MICHELE CAROSSI 1 ROSA MARIA HESSEL SILVEIRA 2 RESUMO Considerando a escassez de estudos sobre a relação entre humor e escola, este trabalho apresenta e discute, a partir de teorização sobre as fontes do humor e do cômico, as principais tendências das representações de professores e professoras como objeto de riso. Para tanto, foram investigadas cerca de trezentas piadas retiradas de coletâneas impressas, sites, revista de atualidades e jornal. A partir de análises inspiradas nos estudos de Sírio Possenti (1998) e Regislene Almeida (2003), podem-se identificar as seguintes tendências predominantes de situações humorísticas: a) professores/as guardiões do conhecimento e das regras escolares, sujeitos a zombaria por parte dos alunos, que são apresentados como mais espertos; b) professores/as como incessantes perguntadores-avaliadores; c) professores/as como expert em sua área de conhecimento, diferenciado do cidadão comum; d) professores/as como interlocutores para piadas de fundo sexual. Palavras-chave: humor, representação docente, escola. ABSTRACT Considering the few studies of the relation between humour and school, from theorising humour and comic sources, this work provides a discussion of the main tendencies of representing teachers and female 1 Acadêmica do Curso de Pedagogia Empresarial Bolsista PROICT/ULBRA 2 Professora do Curso de Pedagogia e do Programa de Pósgraduação em Educação da ULBRA (rosamhs@terra.com.br) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

240 teachers as object of ridicule. To do that we have investigated around three hundred jokes from printed collections, sites, magazines and newspapers. From analyses whose inspiration was drawn from Sírio Possenti (1998) and Regislene Almeida (2003), one may identify the following common tendencies for humorous situations: a) teachers who are gatekeepers of knowledge and school rules, subject to mockery by students who are featured as smarter than the former; b) teachers as obstinate assessing-inquirers; c) teachers as experts in their particular area of knowledge, different from common people; d) teachers as subjects for sexual jokes. Key words: humour, teaching representation, school. INTRODUÇÃO De maneira geral, as pesquisas acadêmicas da área pedagógica não têm se interessado por questões do humor e é possível que esse fato, aparente ou efetivo, se origine da seriedade e gravidade com que se entende que deva ser analisada a instituição escolar. O fato de que a temática não seja quase abordada nas pesquisas pedagógicas está em desacordo com a expressiva ocorrência de material humorístico (piadas, charges, cartuns, quadros humorísticos da TV, filmes) que toma a instituição escolar como temática, como cenário e como inspiração. Qualquer cidadão dos séculos XX e XXI não terá dificuldade para se lembrar de alguma anedota sobre professor, de algum personagem cômico professor na TV (o professor Raimundo talvez seja o mais lembrado) e de filmes em que se ri escancaradamente da escola (O professor aloprado e A escola da desordem, por exemplo). Por outro lado, a questão do humor e do riso, vista de forma geral, chama a atenção das pessoas já há séculos, desde os gregos; ela está presente em diversos momentos históricos, como, por exemplo, está exposto no trabalho denominado O riso e o risível na história do pensamento, onde a pesquisadora Verena Alberti, que fez do assunto tema de sua tese de doutorado, recupera e discute as diversas formas com que o riso e, de forma relacionada, o humor e o cômico tem sido pensado desde Platão e Aristóteles, passando pelo pensamento de Hobbes e chegando aos mais conhecidos pensadores que o tematizaram nos séculos XVIII e XIX. Contrariamente ao que se poderia pensar em um primeiro momento, o humor está intimamente ligado ao contexto em que é produzido, a aspectos culturais e históricos. Em outras palavras, o humor muda em diferentes culturas, em diferentes épocas e grupos; não se ri sempre das mesmas coisas, em todos os lugares, grupos e épocas. A obra Uma história cultural do humor, organizada por Jan Bremmer e Herman Roodenburg, DRIESSEN (2000, p. 257), ao expor pontos importantes da relação entre humor, riso e estudos antropológicos, sintetiza uma concepção que move nosso interesse pelo humor relativo à docência: (...) os temas do humor revelam questões importantes das sociedades envolvidas: desde os interesses dominantes, as atitudes e valores relativos à identidade (por exemplo, gênero e etnia) até seus contrapontos, contradições e ambivalências. Dentro da ótica dos Estudos Culturais e do Pós-Estruturalismo, a realidade e a verdade são discursivamente construídas e esse entendimento enriquece a freqüente leitura de algumas 240 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

241 situações provocadoras de riso como situações de subversão da verdade. Nesse sentido, LARROSA (1998, p. 223) observa no capítulo Elogio do Riso, em Pedagogia Profana, que: O riso mostra a realidade a partir de outro ponto de vista. Pode-se dizer que o autor se insere na tendência verificada por Alberti no pensamento moderno sobre o risível, qual seria o de conferir ao riso um lugar-chave no esforço filosófico de alcançar o impensável (2000, p. 16). Assim como o humor, também são poucos os estudos relacionados aos docentes como indivíduos cômicos. Atores ou atrizes centrais dos cenários educativos, professores e professoras têm sido personagens relevantes nas vivências dos educandos no mundo contemporâneo, onde a escolarização se universalizou. O sujeito docente povoa histórias infantis (ex.: A professora maluquinha, de Ziraldo), anúncios publicitários, filmes dos mais diversos gêneros (ex.: Sociedade dos poetas mortos ), programas e novelas da televisão (ex.: Malhação, da Rede Globo), histórias em quadrinhos, charges, anedotas, piadas... e tantas piadas! Encontramos nesse universo a professora maternal, a mal-humorada, a exigente, a boazinha, a dedicada, a mal-amada, a gostosona ; encontramos também o professor maluco, o esquecido, o sedutor, o gênio, o atrapalhado, entre outras atribuições para ambos os personagens. Todos sabemos que um expressivo número de piadas trabalha com preconceitos de toda ordem, envolvendo, freqüentemente, estereótipos relativos a diversos grupos sociais (homossexuais, portugueses, nordestinos, mulheres, anões, feias, pouco dotados intelectualmente, etc.). Estamos acostumados a rir dessas piadas e, às vezes, até a contá-las, mesmo se nos sentimos constrangidos/as pela sua incorreção política. É incontestável, portanto, que o humor tem um componente cultural de importância, e tal constatação está na raiz de nossa dificuldade em rir ou, mesmo, aceitar algumas piadas de outras culturas. Daí também emergem as adaptações das traduções de anedotas, que procuram ressignificar, dentro de um novo contexto, as situações de humor. Para entendermos e rirmos das piadas, precisamos entender as situações e os cenários nelas apresentados, pois, uma vez que o humor trabalha com a quebra de expectativas, é necessário que as partilhemos. No presente trabalho, analisamos piadas, considerando que a piada constitui apenas um dos possíveis gêneros textuais voltados para a produção do humor. Ela é definida por HOUAISS (2001, p.2205) como história curta de final surpreendente, às vezes picante ou obscena, contada para provocar risos. Qualquer pessoa que se dispuser a estudar piadas, como refere POSSENTI (1998), em breve tempo observará o quanto elas se repetem, constituindo, na maioria das vezes, variantes de mesmos esquemas básicos. Dessa forma, ao selecionarmos nosso material empírico, desde o início da coleta de piadas nos primeiros livros consultados e sites humorísticos, sentimos a dificuldade de encontrarmos piadas novas, tal a sua repetição. Tomando como base tais considerações, realizamos uma investigação do humor sobre a docência, procurando trazer um outro olhar sobre os professores, que fugisse ao que a literatura pedagógica vem entendendo como mais digno de ser pesquisado. Sobre o professor e a professora, já foram realizados estudos especificamente tomando como material livros de literatura infantil (SILVEIRA, 1997 e 2002; RIPOLL, 2002; WORTMANN, 2002; DALLA ZEN, 2002; AMARO, 2002; PILOTTO, 2002), Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

242 em que algumas pistas para a análise da relação professor-humor podem ser encontradas. Esses trabalhos trazem imagens de professores e professoras cômicos, ora por seu descontrole (professoras em geral), ora pela sua esquisitice ou pela sua ignorância (imagens associadas, respectivamente, a professores de Ciências e de Educação Física). A dissertação de mestrado de SILVEIRA (2002), que realizou uma análise de quadrinhos e charges sobre o ensino de Matemática, nos traz personagens professoras rotuladas como bruxas ou seres maléficos, que provocam o nosso riso. Em análise efetuada da revista Nova Escola, COSTA & SILVEIRA (1998) fazem referência à professora dos cartuns de Negreiros, que, por breve tempo, apareceram nas páginas da revista. Já se consultarmos os variados estudos que trazem memórias e histórias de vida de professores/as, veremos que os episódios cômicos não são freqüentes, enfatizando-se, especialmente, as cenas que expressam seriedade, dedicação, amor, vocação, sacrifício do/da professor/a, por exemplo. Nesse sentido, pode-se dizer que as recordações da própria docência não privilegiam, neste olhar sobre o passado, o humor e a comicidade. Tais estudos, brevemente citados, nos servem de contraste para a análise que realizamos na pesquisa, da qual alguns resultados compõem o presente artigo. O objetivo da investigação, em seu âmbito mais geral, foi o de, a partir de teorização sobre as fontes do humor e do cômico, buscar as recorrências das representações de professores e de professoras como objeto e motor do riso, conectando-as com representações de escola, trabalho e identidade docente. É nela que se situa o presente estudo. MATERIAL E MÉTODOS COMO E O QUE ANALISAMOS Foram analisadas para o presente trabalho cerca de 300 piadas retiradas de coletâneas impressas e sites da Internet, selecionadas com base no critério de apresentarem o professor ou a professora como um dos seus personagens. A progressiva leitura das mesmas foi sugerindo às pesquisadoras a construção de categorias que correspondessem às principais tendências encontradas. O desenho metodológico deste trabalho inspirou-se na vertente das análises textuais dos Estudos Culturais e Estudos da Docência, buscando-se, através de tais análises, a sustentação para a apresentação dos resultados. RESULTADOS E DISCUSSÃO COMO PERSONAGENS PROFESSORES E PROFESSORAS SÃO REPRESENTADOS/AS NAS PIADAS? No estudo realizado, construímos agrupamentos de representações a partir da identificação de algumas tendências predominantes nas situações humorísticas. Essas tendências não são mutuamente excludentes e, por vezes, se superpõem, como é fácil perceber pela sua explanação. a) Professores e professoras podem ser apresentados como guardas zelosos do conhecimento e das regras escolares, e, neste papel, estão sujeitos a zombaria por parte dos alunos, que são apresentados como 242 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

243 mais espertos; freqüentemente os docentes, como interessados na transmissão e cobrança do conhecimento institucionalizado, questionam seus alunos sobre isso e esta situação abre a ocasião para o humor. É nesse caso que se contrapõem a professora (ou professor) e o sujeito-criança, personagem freqüentemente apresentado como rebelde, irreverente e, por vezes, engraçadinho. Tais piadas podem ser enquadradas no que Possenti classifica como humor de criança, em que freqüentemente os adultos estão sujeitos a zombarias por parte dos alunos estes apresentados como mais espertos. Juquinha, me dê um exemplo de fenômeno. O Brasil, professora: todos os habitantes falam a mesma língua. E daí? Qual é o fenômeno? Ora, professora, mesmo assim ninguém se entende. Nesta, como em muitas outras piadas, o aluno leva a melhor em relação ao professor. Como isso acontece? O mestre questiona o aluno tendo como referência um contexto do conhecimento escolarizado, enquanto Juquinha, o espertinho, a interpreta como se fosse uma pergunta corriqueira, coloquial, e responde fazendo referência a um tema freqüente em piadas: os defeitos e falhas do próprio país e do seu povo, numa espécie de auto-ironia. É importante observar que muitas piadas reproduzem a fórmula pergunta(professor) resposta(aluno) avaliação(professor), e, às vezes, incorporam uma nova resposta do estudante, que traz o fecho jocoso da piada. Nesse sentido, elas estão de acordo com esquemas tradicionais do discurso de sala de aula, em que tal seqüência é prontamente reconhecida como pertencente ao discurso pedagógico. Além de agentes cuidadosos da transferência de conhecimentos escolarizados, os mestres também são retratados como aplicando e zelando pelo cumprimento de todos as normas, obrigações e procedimentos que fazem parte dos ritos e do disciplinamento do qual o aparato pedagógico se incumbe: presença, comportamento adequado, resposta à chamada, realização de temas, cumprimento de requisitos de atenção e pontualidade, uso de uniforme, etc. É assim que... Joãozinho chega no meio da aula. Atrasado outra vez, Joãozinho reclama a professora. É a terceira vez esta semana. Desculpe, professora! O que você pretende ser no futuro, com este tipo de comportamento? Político, professora! Nessas poucas linhas, muito se pode ler sobre representação de escola e de professora. A mestra é disciplinadora e exigente a pontualidade é tradicionalmente vista como um requisito do disciplinamento escolar - e a escola é vista como o espaço que prepara os cidadãos para um desempenho social adequado no futuro. O caráter humorístico da piada, no caso, advém do inesperado da resposta, em que Joãozinho refere uma opinião generalizada sobre os políticos: eles não são gente cumpridora de suas obrigações (embora bem remunerados). Os alunos, geralmente crianças, constituem, como vimos, importantes antagonistas nas pia- Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

244 das escolares. Nesse sentido, ao abordar o papel que as crianças desempenham nas piadas, POSSENTI (2002,s/p) observa que uma das características das piadas de crianças em que elas são personagens, como os animais nas fábulas, embora até possa haver de fato respostas inteligentíssimas de crianças é que elas sabem muito mais do que se supõe. Encontram-se com freqüência crianças muito inteligentes nas piadas, sempre prontas a desconcertarem, com suas respostas, os adultos, que podem ser os mestres, os pais, os porteiros, os padres, os guardas de trânsito, etc. b) Os professores e professoras são também tratados, nas piadas, como profissionais que só sabem desempenhar suas tarefas através de uma incessante atividade de perguntar e avaliar sucessivamente. Vejamos as duas piadas abaixo. A professora pergunta: Quantos corações nós temos? O aluno: Dois, temos dois, professora! Dois? Está maluco? Não professora... um é o meu e o outro é o seu... dois corações. Joãozinho chega na escola e a professora pergunta: Numa árvore tinha três passarinhos... deram um tiro na árvore e ele acertou um passarinho. Quantos ficaram? Ficou apenas um passarinho. Por que um, Joãozinho? a professora pergunta. Só o que morreu... os outros fugiram, né! No primeiro caso, repete-se o esquema acima explicitado em que, à pergunta da professora, a qual usa um pronome nós genérico (nós a humanidade, as pessoas), o aluno espertinho responde de maneira graciosa, inesperada, atribuindo ao mesmo nós o significado de falante (ele) e interlocutora (a professora). Na segunda piada, Joãozinho, já ao chegar na escola, é inquirido nas piadas, como dissemos, os professores estão sempre perguntando... - com um problema matemático. Observe-se que os problemas matemáticos propostos na cultura escolar devem ser sempre entendidos como narrativas que simplificam uma situação pretensamente extra-escolar para propor uma pergunta que necessariamente deve ser respondida considerando-se apenas os dados numéricos do problema. Frente a essa expectativa dos leitores ou ouvintes da piada, o protagonista Joãozinho provoca uma reversão: ao fugir ao simples cálculo matemático (3 1 = 2) e oferecer um desfecho fatual à narrativa, provoca o riso pela justaposição de dois esquemas diferentes e, também, por, de certa forma, desnudar o artificialismo de alguns (muitos?) problemas escolares matemáticos. c) Os professores/as, em algumas piadas, são apresentados como especialistas em sua área de conhecimento, diferenciando-se, nesse sentido, do cidadão comum. Isto é: em outras anedotas, a imagem do/da mestre/a é ou de alguém que domina um conteúdo escolar, ou é especialmente inteligente, ou não se desliga jamais do contexto do conhecimento acadêmico. É interessante observar que, neste caso, são mais 244 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

245 encontradiços professores masculinos, o que não chega a surpreender, uma vez que, no mundo das piadas e do senso comum, são os homens os sujeitos mais intelectualmente desenvolvidos. Vejamos duas piadas que exemplificam essa representação. A professora pergunta para a Mariazinha: Mariazinha, me dê um exemplo de verbo: Bicicreta! respondeu a menina. Não se diz bicicreta e sim bicicleta. Além disso, bicicleta não é verbo. Pedro, me diga você um verbo. Prástico! disse o garoto. É plástico, não prástico. E também não é verbo. Laura, é a sua vez: me dê um exemplo de verbo correto pediu a professora. Hospedar! respondeu Laura. Muito bem! disse a professora. Agora, forme uma frase com este verbo. Os pedar da bicicreta é de prástico, professora. E o professor de matemática dá queixa na delegacia sobre o atropelamento que sofreu. Anotou a placa? Anotar não anotei, mas eu sei o número; se for duplicado e depois multiplicado por ele mesmo, a raiz quadrada do produto será a mesma do número original, só que invertida. Na primeira piada, em que mais uma vez se observa o permanente caráter inquiridor da professora, a mestra está preocupada com um conteúdo tipicamente escolar a identificação de palavras que se classifiquem como verbos - e parece não atentar para a distância entre tal nomenclatura e as evidentes marcas fonéticas de um linguajar popular de seus alunos. Já na segunda, é o professor de matemática e observe-se, com SILVEIRA (2002), que a matemática parece estar sempre circunscrita ao gênero masculino - que parece aprisionado em sua maneira matemática de ver, pensar e narrar o mundo, utilizando-a de forma excêntrica, em situações do cotidiano. d) Por vezes, os professores/as são apresentados como interlocutores para piadas de fundo sexual. Efetivamente, nas coletâneas e sites de piadas, são encontradas numerosas piadas em que ora se fazem alusões à sensualidade da professora, que perturba os alunos masculinos, ora são apresentadas alunas que representam a mulher sedutora em relação aos professores homens. POSSENTI (2002, s/p) nos fala no estereótipo da garota sedutora e pouco estudiosa (bonita e burra?), e é preciso registrar que, com alguma freqüência, tais piadas usam um vocabulário de baixo calão ou o sugerem, pela solicitação de rimas - e nem um pouco sutil. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Mesmo dentro dos limites desse estudo, em que apresentamos brevemente alguns comentários sobre tendências das imagens de professo- Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

246 res e professoras em piadas escolares e dos personagens que nele se movem, algumas tendências de sua análise já podem ser esboçadas. As formas de representação que nelas estão presentes não chegam a subverter via de regra - os clichês sobre escola, sobre ritos, práticas e normas escolares, sobre professor e professora, sobre gênero, etc. Ao contrário: as piadas escolares parecem se encaixar nos enquadres do gênero textual quando toma como temática o contexto escolar - as crianças-alunas são esboçadas freqüentemente como sujeitos espontâneos, desrespeitosos, espertinhos, sempre prontos para zombar dos professores; os alunos são representados dentro dos diferentes estereótipos de estudantes os pouco estudiosos, sempre prontos a usar métodos pouco elogiosos para obter sucesso na escola; os que elogiam professores com falsidade na expectativa de obter favores; os que só se interessam pela sensualidade da professora. Também os mestres são apresentados como perguntadores incessantes e preocupados essencialmente com o cumprimento dos ritos e tarefas tipicamente escolares, às vezes ingênuos, sempre enganados pelos alunos; às vezes mais espertos do que estes; às vezes encerrados em sua maneira científica de ver a realidade. Por fim, o conhecimento escolar é freqüentemente apresentado como distante do cotidiano de alunos, o que possibilita a estes respostas inesperadas e desconcertantes para o professor. POSSENTI (2002, s/p) assim sintetiza suas observações sobre piadas escolares: Nas piadas, a escola é um lugar para meninas, pois Juquinha representa o universo masculino, desinteressado dos estudos e interessado em sexo e na violação das regras básicas de educação. Observe-se que essas piadas estão de acordo com uma idéia geral segundo a qual (...) a escola é um lugar chato, no qual se fazem tarefas desinteressantes, às vezes sob o comando de professores pouco preparados. Certamente, o mundo escolar que aparece nas piadas correntes não é o mundo oficial da pedagogia, o que não significa que não seja um mundo que todos nós conhecemos. É, apenas, um mundo que não encontra espaço em textos mais sérios; como relembra ainda POSSENTI (1998, p. 26), as piadas são interessantes porque são quase sempre veículo de um discurso proibido, subterrâneo, não oficial, que não se manifestaria, talvez, através de outras formas de coletas de dados (...). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTI, Verena. O riso e o risível na história do pensamento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Fundação Getúlio Vargas, AMARO, Lúcia Elena. Lá vem a diretora: chiliques, broncas... mas até que ela é uma boa pessoa! Representações de diretores/as de escola na literatura infanto-juvenil. In: SILVEIRA, Rosa M. Hessel (Org.). Professoras que as histórias nos contam. Rio de Janeiro: DP&A, COSTA, Marisa Cristina Vorraber; Silveira, Rosa Maria Hessel. A revista Nova Escola e a constituição de identidades femininas. In: BRUSCHINI, Cristina; HOLANDA, Heloísa Buarque de (Orgs.). Horizontes plurais: novos estudos de gênero no Brasil. São Paulo: Editora 34, DALLA ZEN, Maria Isabel. Representações 246 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

247 da professora de Português na literatura infanto-juvenil elas têm o vírus da chatice? In: SILVEIRA, Rosa M. Hessel (Org.) Professoras que as histórias nos contam. Rio de Janeiro: DP&A, HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, DRIESSEN, Henk. Humor, riso e o campo: reflexões da antropologia. In: BREMMER, Jan; ROODENBURG, Herman (Orgs.). Uma história cultural do humor. Rio de Janeiro: Record, LARROSA, Jorge. Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. Porto Alegre: Contra*bando, PILOTTO, Fátima Maria. Marcando, driblando, bloqueando, cortando... representações de professores/as de Educação Física na literatura infanto-juvenil. In: SILVEIRA, Rosa Maria Hessel (Org.). Professoras que as histórias nos contam. Rio de Janeiro: DP&A, POSSENTI, Sírio. Os humores da língua. Campinas: Mercado de Letras, POSSENTI, Sírio. Os humores da língua: agenda estudantil Campinas: Mercado de Letras, RIPOLL, Daniela. Formosura parelhada na inteligência : a beleza que ensina nos livros infanto-juvenis. In: SILVEIRA, Rosa Maria Hessel (Org.). Professoras que as histórias nos contam. Rio de Janeiro: DP&A, ROSA, Zita de Paula. O TicoTico: meio século de ação recreativa e pedagógica. Bragança Paulista: EDUSF, SILVEIRA, Márcia Castiglio. A produção de significados sobre Matemática nos cartuns Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, SILVEIRA, Rosa Maria Hessel. Ela ensina com amor e carinho, mas toda enfezada, danada da vida : representações da professora na literatura infantil. Educação e Realidade. Porto Alegre, v.22, n.2, jul/dez SILVEIRA, Rosa Maria Hessel (Org.). Professoras que as histórias nos contam. Rio de Janeiro: DP&A, WORTMANN, Maria Lúcia. Sujeitos estranhos, distraídos, curiosos, inventivos, mas também éticos, confiáveis, desprendidos e abnegados: professores de ciências e cientistas na literatura infanto-juvenil. In: SILVEIRA, Rosa Maria Hessel (Org.). Professoras que as histórias nos contam. Rio de Janeiro: DP&A, FONTES DAS PIADAS ANALISADAS PINTO, Ziraldo Alves. 500 anos de anedotas de português. [s.l.], Pererê Editorial, v. POSSENTI, Sírio. Os humores da língua. Agenda estudantil Campinas: Mercado das Letras, SARRUMOR, Laer. Mil Piadas do Brasil. São Paulo: Nova Alexandria, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

248 SARRUMOR, Laer. Mais Mil Piadas do Brasil. São Paulo: Nova Alexandria, TARDELLI, Clésio R. Vale a pena rir de novo uma coletânea das melhores piadas de todos os tempos. Poços de Caldas, ZYLBERSZTAJN, Abram. As melhores piadas do humor judaico. Rio de Janeiro: Garamond, v. < piadas_de_escola.html> Acesso em abril/04. < Acesso em abril/04. < ult986u1.shl> Acesso em abril Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

249 Formas kantianas da sensibilidade em sua dupla perspectiva estética FABIO HILÁRIO BRAMBILLA 1 VALERIO ROHDEN 2 Nós nunca temos, nem um único dia, O puro espaço ante nós, para o qual as flores Se abrem infinitamente. (RILKE, 8ª Elegia de Duíno) RESUMO Aqui são inicialmente comparadas duas formas de sensibilidade estética: primeiro em sua forma cognitiva, como teoria da sensibilidade da Crítica da razão pura` (1781 = ed. A, 2ª. ed. 1787, = ed. B abrev. KrV), e, segundo, como forma estética reflexiva ou forma do gosto, da Crítica da faculdade do juízo` (1790, abrev. KdU). A primeira é dita forma objetiva e a segunda, subjetiva ou, melhor, intersubjetiva. A primeira tem diretamente em vista o conhecimento e a segunda o prazer estético, também chamado de sentimento de vida. Analogamente à indeterminação fenomênica ao nível da sensibilidade objetiva, há também uma indeterminação estética do gosto. Enquanto a primeira se completa na determinação conceitual, a segunda jamais se completa, mantém-se sempre aberta, em processo. Por isso a terceira crítica é considerada mais crítica que as demais. O artigo conclui com algumas considerações complementares e introdutórias à primeira forma de sensibilidade. Palavras-chave: sensibilidade, conhecimento, gosto, objeto, reflexão. 1 Acadêmico do Curso de Filosofia Bolsista da FAPERGS 2 Professor do Curso de Filosofia / ULBRA. (rohden@via-rs.net) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

250 ABSTRACT The paper compares two forms of aesthetic sensibility: the cognitive form, as a theory of sensibility according to the Critique of Pure Reason` (1781= ed. A. 2a. ed. 1787= ed. B, abbrev. KrV), and the aesthetic reflexive form or form of the taste, according to the Critique of Judgment` (1790, abbrev. KdU). The first is said to be objective and the second subjective, or better, inter-subjective. The first relates directly to knowledge, and the second relates to aesthetic pleasure, also called feeling of life. Analogously to the phenomenic indetermination of the objective sensibility, there is also a aesthetic indetermination of the taste. Inasmuch as the firs completes itself in the conceptual determination, the second never completes itself, it keeps itself always open, in process. For this reason, the Third Critique is more critical than the other two. The article concludes with some complementary and introductory considerations on the first form of sensibility. Key words: sensibility, knowledge, taste, object, reflexion. OS DOIS SENTIDOS DO ESTÉTICO A teoria da sensibilidade em Kant envolve duas perspectivas diversas. Uma, que é a perspectiva chamada objetiva ou do conhecimento, estuda a sensibilidade em sua matéria, mas principalmente em sua forma. As formas da sensibilidade são o espaço e o tempo. Como formas, elas são condições ou modos gerais de ver, ouvir, perceber e sentir. Ou seja, espaço e tempo não se encontram fora de nós, como coisas ou momentos delas, mas se encontram em nós como a forma de nosso relacionamento com todos os objetos capazes de afetar os nossos sentidos. Esta perspectiva tomou o estético em seu sentido literal grego, como ligado à sensação, o que não deixou de ser curioso, já que na época de Kant prevalecia, pelas mãos do seu mestre Baumgarten, um novo sentido de estético como ligado a uma teoria do belo e do gosto. Esta outra perspectiva desde a qual Kant determina a sensibilidade, mas sem o uso do termo em causa, é a que estamos acostumados a entender como sensibilidade estética, ou seja como uma forma de gosto, um modo de percepção do belo ou do feio. Esta é uma perspectiva que se elabora a partir de sua teoria do juízo reflexivo, voltado, não propriamente para uma mera subjetividade, em contraposição à objetividade, mas antes para uma intersubjetividade. Pois o gosto é um prazer virtual que reivindica sua concretização pela universal comunicabilidade estética. Até a 2 ª ed. da Crítica da razão pura (1787), Kant elevara-se a uma perspectiva apriorística apenas em relação à forma objetiva da sensibilidade, ou seja, do espaço e do tempo como formas de percepção fenomênica. A posterior descoberta de um a priori estético em relação ao gosto, tematizado na Crítica da faculdade do juízo (1790), foi uma descoberta de Kant do fim dos anos 1787, documentada numa carta a Reinhold. 3 Esta forma concerne a uma percepção de que, apreciando um objeto estético, como a natureza ou arte bela, eu reconheço a sua forma como universalmente comunicável entre todos os sujeitos capazes de ter gosto. 3. Cf. KANT, I. Briefwechsel. Hamburg: Felix Meiner, 1986, p.335 (carta de 28 e 31 dez. 1787). Na 2ª. ed. da Crífica da razão pura, de poucos meses antes (abril de 1787), Kant ainda mantinha a concepção empirista do juízo estético. Cf. KrV, A 22 B 36, trad. p Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

251 A filosofia de Kant é marcada pelo estudo do a priori, tanto em relação ao conhecimento, quanto em relação à ação e em relação ao gosto. A perspectiva de consideração do a priori como fonte do que se pode conhecer, fazer ou sentir, é chamada de perspectiva transcendental. O transcendental é o estudo do a priori como condição de possibilidade de atuação humana nessas três esferas. Ou seja, as faculdades através das quais se opera essa perspectiva transcendental são a do conhecimento (razão, entendimento, imaginação, sensibilidade), a da ação (faculdade de apetição ou de desejar) e a do sentimento estético (sentimento de prazer e desprazer). Há uma faculdade que engloba todas essas faculdades e as articula entre si; ela chama-se de ânimo. Tanto no domínio do conhecimento há uma articulação de faculdades entre si, principalmente entre entendimento e sensibilidade, quanto há essa articulação nos demais domínios. Ou seja, o ânimo é o todo das faculdades humanas, dinamicamente articuladas entre si por uma faculdade chamada juízo. O juízo é um talento de articulação do geral (conceito) e do particular (intuição) entre si. Se ele como talento tem algum lugar, é antes na faculdade estética, do sentimento de prazer e desprazer. Kant desenvolve na terceira Crítica, principalmente em suas duas Introduções, toda uma teoria da função articuladora do juízo entre teoria e prática ou entre as faculdades. O juízo é, do ponto de vista estético e a nível reflexivo, a identificação a priori da possibilidade de uma determinada harmonia ou acordo entre as faculdades. A percepção desta possibilidade de acordo gera prazer. Por isso a Estética no sentido de teoria do gosto assume um lugar privilegiado na concepção filosófica kantiana, expressa eminentemente nas três Críticas. E sentir prazer, a um nível reflexivo da sensibilidade, é experimentar o prenúncio de um possível acordo qualquer entre os homens. Na experiência primordial do originamento de um conhecimento, ainda se tem consciência da vinculação entre conhecimento e prazer. Com o desenvolvimento do conhecimento, essa experiência vital se perde. Mas a um alto preço: a atividade cognitiva torna-se mecânica e deixa de reconhecer-se como criativa. Não devia, pois, causar estranheza aos matemáticos e geômetras, nem deveria significar que se tira sua ciência do sério o fato de relacioná-la com a arte e, talvez, até com a mais criativa das artes, que é a poesia. Porque, segundo Kant, a poesia é que envolve a máxima articulação entre s faculdades. 4 Voltemo-nos para a nossa epígrafe, os versos de Rilke: Nós nunca temos, nem um único dia, o puro espaço ante nós, para o qual as flores se abrem infinitamente. 5 Esta frase permite-nos o tratamento específico do nosso tema: a sensibilidade, em sua dupla forma: sensorial-cognitiva e sensível-estética (ou apreciativa). ESPAÇO E TEMPO COMO FORMAS COGNITIVAS DA SENSIBILIDADE Nós jamais podemos ter o puro espaço, e tampouco o puro tempo, diante de nós. Porque, se assim fosse, nós diríamos que vemos o ver, ouvimos o ouvir, sentimos o sentir. Nós não vemos o espaço e o tempo, porque são eles que 4 Cf. KANT, I. Crítica da faculdade do juízo. Rio de Janeiro: Forense, 1993, p.171, B RILKE, Rainer Maria. Poemas. As elegias de Duíno. Prefácio, seleção e tradução de Paulo Quintela, nova ed. Porto: O Oiro do Dia, 1983, p Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

252 vêem, é a partir deles que nós vemos as flores como matéria. Espaço e tempo, como formas de ver ou sentir, são forma e não matéria de nossa sensibilidade. Podemos dizer popular e empiricamente que sentimos o tempo passar, que percebemos a distância de nosso caminho a percorrer-se de um ponto a outro. Isto é tão real como o sol levantar-se diante de nós e percorrer em um dia a abóbada celeste. A ciência está repleta de desmentidos das verdades do senso comum. Do mesmo modo, se a forma da nossa sensibilidade não fosse nem tempo nem espaço, não teríamos condições para ver aqueles mencionados fenômenos empíricos. Quem detecta as ilusões ao nível da sensibilidade? É uma faculdade mais alta: é o julgar ao nível do entendimento. Mas não é a sensibilidade que se engana, e sim o entendimento ao assumir a perspectiva das aparências. Portanto, Kant entende a sensibilidade como dotada de formas a priori, mediante as quais podemos perceber os fenômenos (aquilo que se mostra). Tudo se vê, se percebe, a partir das formas espaço-temporais da sensibilidade. Sem estes elementos apriorísticos nela, isto é, sem estas formas que não provêm da experiência, nenhuma matéria se mostraria e nenhuma flor apareceria no espaço, e com uma duração determinada ou determinável. O espaço é a forma da percepção de todos os fenômenos externos, e o tempo é a forma da percepção de todos os fenômenos internos, ou seja dos estados da consciência, como consciência de sua duração. Mas como a representação espacial é também uma representação, portanto um fenômeno interno, o tempo, segundo Kant, funda a representação espacial. Todas as representações espaciais são em última análise temporais. Mas tampouco o tempo se contenta com representações enganosas, ou seja, com estados subjetivos desvinculados do mundo exterior. Como forma da sensibilidade, ele une-se intimamente ao espaço. E é, portanto, dentro de um mundo objetivo em que objetos se dão ainda indeterminadamente que tempo e espaço são formas fenomênicas. Nós não conhecemos apenas mediante as formas da sensibilidade. Sem a união de sensibilidade e entendimento, ou de intuição e conceito, a nossa percepção é cega e o nosso conceito é vazio. O que conhecemos através das formas da sensibilidade. são, no entanto, apenas fenômenos (modos de dar-se das coisas), mas jamais as coisas em si, independentes desse modo de dar-se. Que seriam as coisas fora de uma relação de conhecimento? A pergunta é absurda: não se pode perguntar ou saber o que é algo fora da pergunta ou do saber. AS FORMAS DA SENSIBILIDADE ESTÉTICA Os objetos estéticos resumem-se eminentemente ao belo, ao feio, ao agradável e desagradável, ao sublime. Mas como se dão? Dão-se a uma sensibilidade reflexiva chamada gosto. Trata-se de uma sensibilidade reflexiva, que é um ir em direção ao entendimento, mas sem determinação de seu término. A reflexão sobre as formas é um processo de pôr-se a caminho do conhecimento, sem chegar lá. Porque o estético distingue-se da determinação cognitiva por ser ele uma forma de sentir, com certo grau de elaboração. O grau de elaboração é o gosto, que requer uma certa cultura do ânimo. 6 6 Cf. KANT, I. KdU B262, trad. bras. p Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

253 Mas vejamos: a relação entre sujeito e objeto é, no caso estético, o contrário da relação cognitiva. Quando vejo um objeto, por exemplo, uma rosa e digo que é bela, significa que sinto prazer em contemplá-la. Sentir prazer diante de um objeto significa relacioná-lo com o estado do sujeito. Este estado do sujeito é o sentimento de vida. A experiência estética de um objeto como belo significa uma promoção do sentimento de vida. Por isso, interessantemente em Kant, o prazer estético é o sentimento de promoção da vida. Logo, a experiência estética é uma experiência primordial, sem a qual perdemos o gosto de viver. E, sem ela, também deixamos de contemplar as estrelas e investigá-las. Houve um tempo em que conhecimento e prazer estavam unidos, observei antes. Se quisermos manter a criatividade do conhecimento, temos de recuperar essa experiência de união. Sem prazer não vivemos, sem beleza não nos achamos em casa no mundo, sem admiração não investigamos. A admiração reflexiva põe em movimento o conhecimento, mas quem o conclui é essa outra esfera objetiva, denominada matemática ou geometria, em relação ao tempo e espaço. Não vemos o espaço e o tempo diante de nós. Mas nós os sentimos em nós. E sentindo-os, vemos as flores que crescem neles. Sem o prazer estético, só vemos neles plantas mortas, logo falsificamos os objetos que queremos conhecer. Enfim, assim como não conhecemos apenas com as formas da sensibilidade, mas só mediante a sua união com as formas do entendimento (as categorias), assim também não percebemos a beleza mediante o simplesmente agradável, que em seu sentido sensorial mais elementar, como o prazer de comer uma fruta ou de beber um vinho. O belo vem um pouco depois, no refinamento do comer e beber, portanto, pela abertura da sensibilidade estética à reflexão. COMPLEMENTOS Detenhamo-nos em mais alguns aspectos da dimensão cognitiva da teoria kantiana da sensibilidade. A Estética em seu sentido cognitivo objetivo é estudada do ponto de vista de uma teoria transcendental da sensibilidade. O termo transcendental tem um sentido novo em Kant Ele significa aqui o estudo das condições a priori do conhecimento. Condições a priori são condições de possibilidade. As condições a priori formais são relações dentro das quais a matéria aparece e se dá a conhecer sensivelmente. A forma constitui-se de relações. Kant escreve: A forma pura de intuições sensíveis em geral na qual todo o múltiplo dos fenômenos é intuído em certas relações, será encontrada a priori na mente (KrV B 34). Comentemos essa frase. Intuições são as representações da sensibilidade. São o ver, o ouvir, o tato etc. Estas são representações empíricas. Existem também intuições não empíricas, intuições puras, que se identificam com as formas do espaço e do tempo. A forma pura dessas ações intuitivas são aquelas condições da sensibilidade que as possibilitam. São condições formais, como formas da sensibilidade, portanto não externas a ela, não dadas como conteúdo, mas como formas nas quais o conteúdo do conhecimento sensível é dado. Essa forma é pura, porque não é dada na experiência, empiricamente. Uma forma é pura porque não contém sensação. Sensação é o modo como somos afetados por objetos. Estes objetos, chamados fenômenos, são dados em certas relações. A frase citada diz que o Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

254 múltiplo dos fenômenos é dado em certas relações. Quer dizer, os fenômenos contêm uma pluralidade de aspectos, que são ordenados formalmente. Estas relações ordenadoras são chamadas espaço e tempo. Logo, espaço e tempo são formas da sensibilidade, dentro das quais os fenômenos em sua matéria são ordenados. Mas os fenômenos se dão ao nível da sensibilidade, são ordenados espacial e temporalmente, o que contudo não basta para serem conhecidos. A ordenação sensível é apenas uma parte do conhecimento, insuficiente para a identificação do objeto, a qual é operada por uma determinação conceitual. O fenômeno, enquanto ordenado sensivelmente, define-se como objeto indeterminado de uma intuição empírica (KrV B 34). A sua indeterminação significa que ao nível sensível não sabemos o que um objeto seja. O conceito é o pensamento do objeto, dado na intuição sensível. Só quando unimos intuição e conceito sabemos o que um objeto é. Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios. Intuições sem conceitos são cegas (KrV B 75). Essa famosa frase diz que um ver ou ouvir não bastam para a identificação de um objeto. A teoria do espaço e do tempo como formas gerais da sensibilidade é apenas uma primeira parte de uma teoria do conhecimento. Esta teoria envolve outros a priori, como as categorias ou formas puras, equivalentes e complementares, ao nível do entendimento, às formas puras do espaço e do tempo, da sensibilidade. A essas determinações transcendentais das condições do conhecimento segue-se uma dedução, como demonstração da necessidade dessas formas puras para o conhecimento. E segue-se um estudo dos princípios supremos do conhecimento, como uma teoria do juízo em que o conhecimento do objeto se completa. CONCLUSÕES A aventura da primeira Crítica, como se sabe, vai mais longe. Por enquanto bastam estas considerações introdutórias. Quem quiser saber mais sobre isso, convém que se invista de coragem, e ouse ler as três Críticas de Kant. O que queríamos dizer, com estas considerações introdutórias, é que se a sensibilidade recuperar sua unidade objetiva e intersubjetiva, se a partir daí formos capazes de vislumbrar uma possível harmonia de faculdades, então a vida e o conhecimento se salvam, como flores que crescem num espaço e tempo que as comportam, sem que os vejamos, mas que conhecemos ou em sua objetivação, ou transcendentalmente, como as condições primeiras do conhecimento e do gosto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DOMINGUES, Fabian S. O guia empírico e a matematização da percepção. Uma análise da doutrina das sensações na Crítica da razão pura Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Porto Alegre, Porto Alegre, HÖFFE, Ottfried. Immanuel Kant. Tradução de Christian Hamm e Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes, KANT, Immanuel. Briefwechsel. Hamburg: Felix Meiner, KANT, Immanuel. Crítica da razão pura (abrev. KrV). Tradução de Valerio Rohden e Udo B. Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, KANT, Immanuel. Crítica da razão prática (abrev. KpV). Edição bilíngüe com repro- 254 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

255 dução do texto da 1ª. ed. original alemã, com tradução, introdução e notas de Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes, KANT, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo (abrev. KdU). Tradução e notas de Valerio Rohden e António Marques. Rio de Janeiro: Forense, RILKE, Rainer Maria. Poemas: As Elegias de Duíno. Prefácio, seleção e tradução de Paulo Quintela. Porto: O Oiro do Dia, Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

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257 Lingüistica, Letras e Artes

258 258 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

259 Estudos surdos: uma abordagem lingüística 1 FABIANO SOUTO ROSA 2 ALEXANDRE MORAND GOES 3 LODENIR BECKER KARNOPP 4 RESUMO Linguagem e sociedade estão ligadas entre si e formam a base da constituição do ser humano. Por isso, ao estudarmos o fenômeno lingüístico e as línguas de sinais, estamos tratando também das relações entre linguagem e sociedade. A lingüística, ao estudar qualquer comunidade que usa uma língua, constata, de imediato, a existência de diversidade ou de variação, ou seja, toda comunidade - no caso aqui investigado, a comunidade de surdos - se caracteriza pelo emprego de diferentes modos de usar a língua de sinais. A essas diferentes maneiras de fazer sinais, a sociolingüística utiliza a denominação de variedades lingüísticas. O presente trabalho objetiva discutir a relação entre língua de sinais e variedades lingüísticas e para isso analisa essas variedades na língua de sinais brasileira (LIBRAS) e as diferenças observadas na realização dos sinais em algumas regiões do Brasil ou mesmo em diferentes sinalizadores. A análise inclui textos produzidos em sinais e posteriormente traduzidos para o português de diálogos entre surdos de diferentes regiões brasileiras, em que os interlocutores referem mudanças observadas nos sinais realizados por eles ou por seus interlocutores surdos. Palavras-chave: surdos, Língua de Sinais Brasileira, lingüística. 1 Pesquisa realizada com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS - Processo 03/0052.3) 2 Acadêmico do Curso de Pedagogia/ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA 3 Acadêmico do Curso de Letras/ULBRA 4 Professora Orientadora do Curso de Letras e PPG Educação/ULBRA (lodenir.karnopp@ulbra.br) 5 Trechos traduzidos da LIBRAS para a Língua Portuguesa. Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

260 ABSTRACT Language and society are linked to each other and form the basis of the constitution of the human being. Because of this, when studying the linguistic phenomena and sign languages, we are also dealing with the relationships between language and society. Linguistics, when studying any community which makes use of a language, immediately reports the existence of diversity or variation, that is, every community, in this case the deaf community, characterizes itself by the use of different ways of using the sign language. For these different ways of making signs sociolinguistics uses the denomination linguistic varieties. The present work aims at discussing the relationship between sign language and linguistic varieties. Therefore, in order to do so it analyses these varieties in the Brazilian Sign Language (LIBRAS) and the differences observed in the making of signs in some regions of Brazil as well as the different signers.the analysis was composed of texts produced in signs and later translated to Portuguese of dialogues between deaf people from different regions of the country in which the signers refer to changes observed in the signs made by them or by their deaf partners. Key words: deaf, Brazilian Sign Language, linguistcs. As línguas de sinais existem de forma natural em comunidades lingüísticas de pessoas surdas. No entanto, não há uma única língua de sinais para todos os surdos, pois eles se organizam em grupos e formam comunidades lingüísticas diferentes. Além disso, não estão geograficamente em uma mesma localidade, mas espalhados em várias partes do mundo. Os usuários da língua de sinais brasileira (LIBRAS) conseguem se comunicar uns com os outros e entendem-se bastante bem, apesar de não haver sequer dois que façam sinais da mesma maneira. Algumas diferenças devem-se à idade, escolaridade, maior ou menor contato com a comunidade surda, sexo, classe social, personalidade, estado emocio- nal. O fato de sermos capazes de identificar pessoas conhecidas pela forma como falam (nas línguas orais) ou pela forma como fazem sinais (nas línguas de sinais) mostra que cada pessoa tem uma maneira característica de usar a língua, diferente das outras. Denominamse idioletos as maneiras únicas do modo de falar ou sinalizar de cada indivíduo. Para ilustrar a definição de idioleto transcrevo um diálogo entre surdos 5 : Eva (E) (31:44) Eu percebo no teu jeito de fazer o sinal vermelho, uma forma peculiar. A tua orientação de mão é diferente, o pulso está mais para o lado. Esse é um jeito só teu ou é um jeito dos surdos de Pernambuco? 5 Trechos traduzidos da LIBRAS para a Língua Portuguesa. 260 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

261 VERMELHO Pedro (P) (32:01) É verdade! É um jeito só meu, mas não faz diferença, o sinal continua sendo o mesmo, apesar de a forma ser um pouco diferente. E (32:05) Outro detalhe interessante é que algumas pessoas quando fazem o sinal branco, fazem questão de encostar o dedo nos dentes [risos]... P (32:09) Verdade! Verdade! E ainda abrem bem a boca para mostrar os dentes! BRANCO E (32:13) Isso não é necessário. Veja só: para o sinal branco não é necessário nem abrir a boca, nem encostar o dedo no dente! Imagine se eu estou comendo e sinalizando, ficaria um horror abrir a boca! Vejo que aí é culpa de alguns professores [ao ensinar sinais]! P (32:38) Sim, embora o sinal branco tenha tido a motivação da cor do dente, ele não precisa ter esse contato, ele vai se desprendendo...! E (32:44) O sinal branco deve ser sinalizado de forma natural, assim como as palavras no português têm um ritmo, os sinais também têm um ritmo... (KARNOPP, 2004) Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

262 Além dessas diferenças individuais (idioletos), a língua utilizada por diferentes grupos de pessoas pode apresentar variações regulares, variações em determinados grupos, conforme a proximidade entre as pessoas. Quando a língua de sinais usada por surdos de regiões geográficas ou grupos sociais diferentes apresenta diferenças sistemáticas, diz-se que esses grupos usam sinais diferentes, ou seja, dialetos da mesma língua. Os dialetos nas línguas de sinais podem ser definidos como formas mutuamente compreensíveis dessa língua e com diferenças sistemáticas. No entanto, nem sempre é fácil decidir se essas diferenças sistemáticas entre duas comunidades lingüísticas representam dois dialetos ou duas línguas distintas. A definição mais simples, que tem sido utilizada é: Quando dois dialetos se tornam mutuamente ininteligíveis, ou seja, quando os usuários de um dialeto já não conseguem compreender os usuários de outro, esses dialetos tornam-se línguas diferentes. Claro que a dificuldade está em definir o que é inteligibilidade mútua, pois considerar o uso lingüístico de duas comunidades como dialetos ou como línguas diferentes transcende questões lingüísticas, já que há questões políticas e de identidade cultural. Dado que a lingüística por si só não consegue estabelecer uma distinção clara entre língua e dialetos, consideraremos dialetos da mesma língua as versões mutuamente compreensíveis da mesma gramática básica que se distinguem de forma regular. Todas as comunidades lingüísticas apresentam, de fato, variações sistemáticas no uso da língua de sinais. Essas variações podem se apresentar no vocabulário, na gramática, enfim, na forma como o surdo usa os sinais. A diversidade de dialetos tende a aumentar conforme o isolamento comunicativo (ou geográfico) entre os grupos. Esse isolamento comunicativo existe em grupos de pessoas surdas e aumenta, portanto, as diferenças entre um dialeto e outro. As mudanças que ocorrem em uma determinada região não se estendem necessariamente a outras regiões. Se alguma barreira de comunicação separa grupos de surdos quer se trate de uma barreira física, geográfica, social, política, racial, social ou religiosa as alterações lingüísticas não se divulgam facilmente e as diferenças dialetais aumentam. As alterações dialetais não se dão todas ao mesmo tempo; dão-se gradualmente, tendo muitas vezes origem numa região e espalhandose lentamente a outras, por vezes ao longo de várias gerações de usuários da língua. Uma mudança que ocorra numa região, mas que não se estenda a outras regiões, dá-se o nome de dialeto regional (FROMKIN & RODMAN, 1993, p. 269). No diálogo entre os surdos, um do Nordeste e o outro do Sul, eles descrevem algumas diferenças visíveis na língua, os dialetos regionais. E (39:15) Minha pergunta agora é sobre as diferenças entre os sinais produzidos em Pernambuco e no Nordeste comparados com os sinais do Sul, de Porto Alegre. Percebes algumas diferenças? P (39:22) Sim, percebo que há muitas diferenças! Talvez em torno de 15% do total dos sinais sejam diferentes! Em Porto Alegre há um jeito diferente de fazer sinais! E (39:21) Eu observo que aqui no sul [Porto Alegre] se utiliza muito o alfabeto manual e toda a palavra é digitada manualmente. Em São Paulo percebo que um grupo de surdos oralizados utiliza somente a pri- 262 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

263 meira letra, por exemplo, F na mão, enquanto oraliza toda a palavra Fabiano, necessitando que o surdo faça leitura labial para entender toda a palavra. P (39:49) Eu percebo que em Porto Alegre há muitos sinais diferentes, por exemplo, PESSOA, TIO/ TIA, SHOPPING... enfim, todos esses sinais utilizam como configuração de mão a primeira letra da palavra do português, p para pessoa, t para tio/tia, etc... (KARNOPP, 2004) Apesar de todas as línguas serem conjuntos de dialetos, muita gente pensa e se refere a uma língua considerando unicamente a forma padrão. Assim, surge uma pergunta: O que é um dialeto padrão? Em primeiro lugar, é preciso estabelecer um princípio lingüístico: todos os dialetos são iguais. Não existe um dialeto melhor do que o outro, mais correto ou certo. Os gramáticos normativos consideram geralmente que as formas corretas da língua são os dialetos usados na literatura, em documentos impressos, dialetos ensinados nas escolas e difundidos pelos órgãos de comunicação social e/ou os dialetos usados pelos dirigentes políticos, pelos empresários... Um dialeto padrão não é nem mais expressivo, nem mais lógico, nem mais complexo, nem mais regular do que qualquer outro dialeto. Assim, todo e qualquer juízo sobre a superioridade ou inferioridade de certo dialeto será um juízo de ordem social desprovido de caráter lingüístico ou científico. O que queremos dizer quando afirmamos que alguém usa a forma padrão é que o dialeto que essa pessoa usa em situações formais é mais ou menos idêntico, em gramática e vocabulário, ao padrão utilizado por líderes surdos na comunidade de surdos, geralmente aqueles mais escolarizados, ou pelos instrutores de LIBRAS. Como é que um dialeto torna-se o dialeto padrão? Assim que um dialeto começa a impor-se, ganha, na maior parte dos casos, uma certa dinâmica. Quanto mais importante se torna, mais usado é; e quanto mais usado é, mais importante se torna. Pode ser o dialeto usado nos centros culturais (ou educacionais) de um país e pode estender-se a outras regiões. (FROMKIN & RODMAN, 1993, p. 273) Variação lingüística: estilo, calão e gíria BAGNO (1999), ao discutir a questão da variação lingüística, afirma que uma das comparações que os estudiosos gostam de utilizar é a da língua como vestimenta. As roupas, como sabemos, são variadas, indo da mais formal (vestidos longos, terno e gravata) à mais informal (biquíni, pijamas). A idéia dos que fazem essa comparação é que não existem, em geral, formas lingüísticas erradas, existem formas lingüísticas inadequadas. A língua assim pode ser comparada com as roupas: assim como ninguém vai à praia de terno e gravata, também ninguém vai a um casamento de biquíni ou de pijama (ao menos, convencionalmente!). De igual modo, ninguém diz me dá esse troço aí num jantar formal nem faça-me o obséquio de passar-me o sal numa situação de convívio familiar. Na nossa própria língua podemos usar dois ou mais dialetos. Quando estamos com os amigos nos expressamos de uma maneira; quando Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

264 vamos a uma entrevista para um emprego, a tendência é sermos mais formais. Esses dialetos de situação denominam-se estilos. Conforme a situação, as pessoas utilizam um estilo informal (interlocutor familiar) ou um estilo formal (interlocutor cerimonioso). Nas línguas de sinais, observamos que o estilo varia conforme o interlocutor: quando um surdo se comunica com um ouvinte, em geral, tende a fazer sinais de forma mais lenta, utilizando alguma vocalização; quando se comunica com outro surdo, tende a sinalizar de forma natural, sem vocalização. Uma característica do estilo informal é a ocorrência freqüente de calão. O calão, ou linguagem coloquial, introduz muitas palavras novas na língua combinando palavras antigas com novos significados. Exemplos de termos depreciativos na língua portuguesa: pé de porco (polícia), perua (mulher enfeitada). Quase todas as profissões, comércios e ocupações têm um conjunto de vocábulos; alguns são considerados calão, outros termos técnicos, consoante o status social da pessoa que usa esses termos da moda. Esses vocábulos são muitas vezes chamados de gíria. Muitos termos de gíria passam para a língua padrão. A gíria, tal como o calão, começa por um grupo reduzido até ser compreendido e usado por uma grande parte da população. Por fim, pode até perder o status especial de gíria ou calão e entrar no círculo respeitável do uso formal. Na língua de sinais temos muitas gírias, conforme o relato a seguir. E (43:10) Lembrei do sinal de droga, que é este aqui e um outro que não tem o mesmo sentido do primeiro, pois é uma forma de cumprimento, é uma gíria... mas percebo que há confusão no entendimento do sentido de cada um, aplicados aos contextos de uso. (KARNOPP, 2004) DROGA DROGA (Tchau!) 264 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

265 Além da gíria, em todas as sociedades existem palavras consideradas tabu - palavras que não devem ser usadas ou, pelo menos, que não devem ser usadas num meio educado. A palavra tabu teve a sua origem em tonga, uma língua polinésia, e nessa sociedade refere atos que são proibidos ou devem ser evitados. Quando um ato é tabu, a referência a esse ato pode também se tornar tabu. Isto é, alguns atos devem ser evitados e definitivamente silenciados. Por exemplo: palavras com conotações religiosas, palavras que dizem respeito ao sexo, órgãos sexuais e funções naturais do corpo, palavras relacionadas a algumas doenças... (FROMKIN & RODMAN, 1993) Na língua de sinais há uma configuração de mão que não aparece no alfabeto manual, nem na formação dos sinais, por ser considerada uma forma tabu. A configuração de mão em que o dedo médio está levantado contém um significado depreciativo, sendo também um gesto indecente utilizado pelos ouvintes. A existência de palavras ou idéias tabu estimula a formação de eufemismos. Um eufemismo é uma palavra ou expressão que substitui uma palavra tabu ou que é usada numa tentativa de evitar assuntos delicados ou desagradáveis. Temos, por exemplo, vários eufemismos para fazer referência à morte (falecimento, descanso eterno, entrada nos céus...). Comunidades de surdos e variação lingüística: um estudo de caso Na década de 80, um amplo estudo realizado por KYLE & ALLSOP (1982) elencou as características da população surda. O objetivo desse estudo foi elaborar uma descrição dessa população, a partir da visão de surdos sobre os aspectos centrais da comunidade surda. Na pesquisa, todos os entrevistados eram surdos, usavam a língua de sinais e muitos deles conviviam com pessoas ouvintes em casa ou no trabalho. Entre as conclusões apresentadas por KYLE & ALLSOP (op. cit.) está o fato de que pessoas surdas convivem com ouvintes, em seu ambiente de trabalho ou com a família, e que se apropriam de meios visuais para entender o mundo ouvinte. Essa experiência visual para acessar a informação implica criar negociações para o estabelecimento de trocas lingüísticas entre línguas de sinais e línguas orais e esse contato com ouvintes torna-se uma experiência cotidiana na vida de pessoas surdas. Freqüentemente trabalham e vivem em locais em que a forma de comunicação com pessoas ouvintes é rudimentar e o acesso aos meios de comunicação é (quase) inexistente. Em alguns centros urbanos, eles encontram seus pares surdos somente duas ou três vezes por semana. Apesar disso, são extremamente próximos uns dos outros, havendo a tendência entre os membros da comunidade surda de casarem entre si ou de residirem próximos uns dos outros. Essa característica social faz com que pessoas surdas mantenham suas vidas na comunidade surda: participando da associação de surdos, realizando atividades conjuntas, estudando em uma mesma escola, empreendendo lutas e reivindicações conjuntas. A participação em associações, federações, clubes de surdos e a interação com pares surdos, mesmo que seja eventual - duas ou três vezes por semana evidencia, nos termos de BAKER & COKELY (1980) uma atitude e expressão de escolha por uma comunidade, ou necessidade Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

266 de compartilhar informação e comunicação. Não significa Eu quero ser surdo, mas antes Eu sou uma pessoa surda e desejo estar em contato com outras pessoas que compartilham minha língua (KYLE & WOLL, 1985, p. 21). Essas características são importantes para entendermos algumas singularidades da comunidade surda. No estudo realizado por KYLE & ALLSOP (1982), os autores concluíram que não é somente o domínio da língua de sinais ou a surdez que são os elementos essenciais na definição dos membros da comunidade surda; mas também uma atitude surda, ou seja, a participação, o estar junto compartilhando informação e idéias. Neste sentido, há dois planos que interagem quanto à identificação dos membros da comunidade surda: a descrição mais típica (ser surdo e usar a língua de sinais) e outra mais relacionada a atitude surda. Obviamente há uma cultura surda em diferentes partes do mundo, embora isso não seja tão visível para as pessoas ouvintes. Nos termos de KYLE & WOLL (1985), pessoas surdas trabalham com pessoas ouvintes, mas relaxam com pessoas surdas. Eles não rejeitam a sociedade ouvinte, mas se consideram diferentes. O desejo de estar juntos é a força da vida em comunidade e a força de sua língua, de sua diferença. Um estudo semelhante ao de KYLE & ALLSOP (op.cit.) foi realizado por Alexandre Goes durante o ano de 2004, pesquisador surdo integrado ao projeto Estudos Culturais Surdos: uma abordagem lingüística. Com o objetivo de investigar a relação entre língua de sinais, cultura e identidade surda, o pesquisador traz evidências da importância dos sinais, mesmo em contextos de uso de sinais por surdos que não convivem com outros surdos. GOES (2004) encontrou exemplos de um alfabeto manual, em que a datilologia foi criada para alfabetizar uma criança surda, filha de pais ouvintes que moravam no interior do estado do Rio Grande do Sul. O alfabeto manual utilizado por essa criança apresenta diferenças em relação ao alfabeto manual de surdos brasileiros que utilizam a LI- BRAS, conforme as ilustrações a seguir. A datilologia evidencia a presença de idioletos, de sinais caseiros, criados em situações de não contato de surdos com a comunidade surda. Um fato interessante registrado pelo pesquisador, é que essa criança surda entrou em contato com surdos que utilizavam a LIBRAS no momento em que a família passou a residir em outra localidade. Ao estabelecer contato com surdos, usuários da LIBRAS, essa criança adquiriu a LI- BRAS e passou também a utilizar o alfabeto manual convencional, ficando restrita a utilização daqueles sinais caseiros e daquela datilologia somente com a família. Segundo depoimentos da família, o objetivo era facilitar e desenvolver a comunicação com a filha surda e, por outro lado, essa família não tinha informações sobre a existência da LIBRAS e de sua importância no desenvolvimento lingüístico de surdos. 266 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

267 Quadro 1 - As 46 CMs da LIBRAS (FERREIRA BRITO, 1995). Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

268 Figura 1 - Alfabeto manual produzido por uma surda. 268 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n

REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA ULBRA 2004

REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA ULBRA 2004 REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA ULBRA 2004 Reitor Ruben Eugen Becker Vice-Reitor Leandro Eugênio Becker Pró-Reitor de Administração Pedro Menegat Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Nestor Luiz

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